Você está na página 1de 4

ocidentais quanto dos orientais, é estruturada colo-

Vivemos em uma sociedade considerada cando a figura do homem/pai em uma posição de


machista. Isso se manifesta em diversos problemas superioridade e atribuindo a ele o papel de sus-
como a desigualdade de direitos entre homens e mu- tentar a casa, enquanto que a mulher é submissa
lheres, altos índices de violência, assédio e estupro, à vontade masculina. Por mais que esse cenário
objetificação da mulher, diferença salarial e muitos esteja mudando e muitas famílias já não partilham
outros efeitos. Mas, afinal, você sabe o que é ma- desses pressupostos, a sociedade ainda é, em gran-
chismo? O que caracteriza uma pessoa machista? de parte, patriarcal, ou seja, voltada para a figura
Como esse conceito afeta mulheres e homens? do homem. Sabe-se que o machismo privilegia os
homens em relação às mulheres, colocando-os em
uma posição hierárquica superior. Porém, atitudes
O machismo é um preconceito, expresso
machistas nem sempre transparecem essa noção
por opiniões e atitudes, que se opõe à igualdade
de hierarquia, especialmente quando são justifi-
de direitos entre os gêneros, favorecendo o gêne-
cadas pela ideia de que as funções distintas entre
ro masculino em detrimento ao feminino. Ou seja,
mulheres e homens é algo natural, alegando que
é uma opressão, nas suas mais diversas formas,
“diferente não significa pior”.
das mulheres feita pelos homens. Na prática, uma
pessoa machista é aquela que acredita que homens
e mulheres têm papéis distintos na sociedade, que
a mulher não pode ou não deve se portar e ter os
mesmo direitos de um homem ou que julga a mulher
como inferior ao homem em aspectos físicos, intelec-
tuais e sociais.
O pensamento machista é cultural e ineren-
te aos diversos aspectos de uma sociedade, como a
economia, a política, a religião, a família, a mídia, as
artes, etc…Tendo sido normalizado por muito tempo,
há apenas algumas décadas esse comportamento
é problematizado, especialmente pelos movimentos
feministas, que lutam pela igualdade de gênero, isto Por exemplo, uma ideia considerada machis-
é, pela extinção da cultura machista nos diversos ta em relação ao funcionamento de uma família é
âmbitos da sociedade. Mas não é todo mundo que a de que a função inerente ao homem é consertar
concorda que o machismo deve ser combatido, o que os problemas físicos de uma casa, já a da mulher
faz com que, apesar dos esforços feministas, ele ain- é limpá-la e mantê-la organizada. Mesmo que lim-
da esteja presente em tantos ambientes. par e organizar a casa não seja uma tarefa “pior” do
que consertar algo quebrado, o fato de designar uma
função para cada gênero, não dando a possibilidade
de que a mulher opte por não ficar responsável pela
limpeza – ou o homem opte por não ser responsável
pelos consertos – é uma forma de limitar a liberdade
de escolha desses indivíduos.

Além disso, a divisão de tarefas domésticas


Dentre os vários setores da sociedade em é desigual: para além de cuidar da casa, as mães
que o pensamento machista se faz presente, a famí- geralmente são as responsáveis por cuidar dos filhos
lia é um dos mais debatidos atualmente. Isso porque e educá-los. Tais responsabilidades – conhecidas
a maioria dos núcleos familiares, tanto dos países como a dupla jornada de trabalho feminina – dificul-
tam que as mulheres tenham o mesmo progresso
que os homens dentro do ambiente profissional, pois sas comunidades ao longo da história. Um exemplo
não possuem a mesma disponibilidade de tempo é a cultura dos Vikings, da região da atual Escandi-
para se dedicar à carreira. návia, em que o valor das mulheres era dado base-
Dados do IBGE mostram que, no Brasil, as ando-se na quantidade de filhos do sexo masculino.
mulheres dedicam em média quase 10 horas a mais Isso mostra que, além do enaltecimento da figura
por semana do que os homens no desempenho dos masculina, o papel materno era central nas vidas das
afazeres domésticos. A consequência dessa realida- mulheres.
de é mais homens em posições de chefia dentro
das empresas e com maiores salários, contri-
buindo com a desigualdade de gênero.

Apesar da estrutura da família ter evoluído


desde então, prevalece na sociedade atual – dentro
e fora do ambiente familiar – o patriarcado contem-
porâneo, em que a relação do homem e da mulher
continua desigual, mas em menor evidência do que
nos períodos históricos anteriores.

Um dos pilares de sustentação do machismo


é a estereotipização do que é feminino e do que é
masculino, ou seja, o que mulheres e homens devem
ser e como devem agir de acordo com o seu gênero.
A essa questão, acrescenta-se a estereotipi- Para entender esse conceito, é preciso antes distin-
zação de que homens são melhores líderes e a in- guir gênero de sexo.
feriorização das mulheres no ambiente de trabalho, Enquanto o termo sexo está ligado à com-
o que também contribui para que as mulheres ainda posição cromossômica do indivíduo e ao tipo de
representem apenas 2,8% dos cargos mais altos no aparelho reprodutor do indivíduo, o gênero abrange
Brasil, e 74,5% do salário dos homens ocupando os aspectos psicológicos e comportamentais, isto é, ca-
mesmos cargos. racterísticas psicossociais relativas a cada sexo. Isso
significa que a identidade de gênero é a expectativa
O conceito de família se consolidou enquanto social que se tem do que o sexo masculino e femini-
instituição na Roma Antiga, se tornando a base da no devem ser, por isso é uma distinção social e não
formação de toda estrutura social da humanidade. A biológica, como o sexo.
família romana tinha o homem como líder e autorida-
de máxima sobre os membros da família, além dos
escravos e vassalos. O poder era tanto que o patriar-
ca tinha o direito até mesmo sobre a vida e a morte
de sua esposa e filhos. A historiadora norte ameri-
cana Joan Scott, que estuda a história das mulhe-
res a partir da perspectiva de gênero, explica que o
patriarcado é uma forma de organização social – que
se estende para além da família -, em que as mulhe-
res são subordinadas aos homens, e os jovens são
subordinados aos homens mais velhos, os patriarcas
da comunidade.
Esse patriarcalismo, caracterizado pela su-
É nesse sentido que surgem os estereótipos
premacia masculina, desvalorização da identidade
de gênero, um conjunto de crenças acerca dos atri-
feminina e atribuição da procriação como a principal
butos pessoais considerados adequados ao gênero
função da mulher, tem raízes na Grécia Antiga, pas-
feminino e masculino. Por exemplo, há um senso
sando pela Idade Média e se perpetuando em diver-
comum de que as mulheres naturalmente apresen-
tam características emocionais como serem gentis, pois não os subjulgam, não os oprimem e não os ex-
emotivas, compreensivas, indecisas e dedicadas; já cluem socialmente. Não é comum, por exemplo, ver
os homens são considerados competitivos, indepen- homens sendo vítima de assédio, de objetificação ou
dentes, decididos e agressivos. mesmo perdendo uma oportunidade de emprego por
Esses são os estereótipos de cada gênero, conta de seu gênero, como acontece com as mulhe-
que não correspondem a uma predisposição biológi- res.
ca e natural, mas a um condicionamento social. Inclu- Contudo, esse comportamento pode prejudi-
sive, não é raro que esse estereótipos não represen- car eles também, devido a um conceito conhecido po-
tem a realidade de muitos indivíduos, uma vez que a pularmente como “masculinidade tóxica“. O termo
personalidade e as atitudes de cada pessoa não são crítico remete ao senso comum de que os homens
determinadas apenas pelo seu sexo ou gênero, mas precisam ser caracterizados pela virilidade, força, po-
também por vontades pessoais e pressões sociais. der, agressividade e sexualidade, excluindo qualquer

Ser machista, isto é, compartilhar do pres-


suposto de que homens devem possuir privilé-
gios em relação às mulheres, não é um pensamen-
to exclusivamente masculino. Por se tratar de uma
crença enraizada na cultura da sociedade, crianças
são ensinadas desde cedo os diferentes papéis que
homens e mulheres podem desempenhar, fazendo
com que, ao crescerem, ambos os sexos perpetuem
essa ideia. Dessa forma, as mulheres não estão imu-
nes a reproduzir e perpetuar um machismo estrutu-
ral.

Johnny Bravo representa, esteticamente, um


padrão de masculinidade acentuado: o topete loiro, a ca-
miseta preta colada ao corpo musculoso, a calça jeans
e o sapatênis, o óculos escuro… não há uma linha se-
quer do design de Johnny que não remeta a expressão,
um heterotop de marca maior.
Mas o que evidencia a ideia de “macho alfa” dos
criadores do desenho é a personalidade de Johnny. Pra
começo de conversa, ele é uma porta, narcisita, infantil
e retratado como socialmente inepto.
O que Johnny vive de fazer, em todo santo epi-
sódio, é cantar mulheres. Ele seria capaz de largar a
apresentação da sua tese de mestrado pra assoviar para
uma mulher atraente na rua. Como de se imaginar, sua
abordagem é invasiva, agressiva, desrespeitosa e até,
em um caso ou outro, criminosa. Não só Johnny faz zero
esforço para esconder o quanto ele vê aquela mulher
como um item de colecionador, ele também não oferece
Um exemplo disso é quando mães ensinam muito espaço para conversar com ela, preferindo entrar
suas filhas a ficarem em casa e ajudarem a arru- em monólogos sobre seu bíceps e topete loiro enquanto
mar a casa, enquanto deixam seus filhos nas ruas espera que a pobre coitada vá automaticamente cair na
brincando, ou quando mulheres criticam outras dele.
mulheres por terem uma liberdade sexual, mas “Surpreendentemente”, Johnny nunca obtém
naturalizam esse mesmo comportamento nos ho- sucesso em suas investidas. Aliás, um ponto forte desse
mens. Percebe-se então uma desigualdade de trata- show é o fato de que as mulheres que o recusam, quase
mento e de direitos entre os gêneros, característica sempre, estão armadas (objetos contundentes, tasers,
fundamental do machismo. armas brancas, que seja) ou dominam alguma forma de
luta. O desenho, desde sempre, promoveu a ideia de
O patriarcalismo e o machismo não afetam os que as mulheres precisam desenvolver táticas de auto-
homens da mesma forma que o faz com as mulheres, defesa para combater o assédio.
possibilidade de demonstração de vulnerabilidade ou
outras características do estereótipo feminino.
Isso acontece porque condutas tidas como
femininas são atacadas em qualquer uma de suas
expressões, mesmo quando vêm de homens. Por
isso, a maioria dos meninos é criada de forma a não
apresentar características do ideal feminino, como
brincar de bonecas, ser sensível, chorar, se cuidar e
ser vaidoso.
Indo além, o machismo se estende de tal for-
ma que influencia condutas homofóbicas, sendo co-
mum ouvir termos como “mulherzinha” ou “mocinha”
em referência pejorativa à homens homossexuais ou
até à heterossexuais que se aproximam, mesmo que
de forma sutil, a estereótipos femininos, considera-
dos inferiores em relação aos masculinos. Ou seja, o
raciocínio implícito na homofobia contra homens se
deve, em partes, por uma questão oriunda do ma-
chismo.

O machismo é uma forma de sexismo, isto é,


uma atitude de descriminação baseada no sexo ou
gênero de uma pessoa. Isso significa que o sexismo
pode afetar qualquer gênero e sexo, mas, historica-
mente, não se tem documentação de que já tenham
existido sociedades sexistas com opressão do sexo
masculino.
Já a diferença entre machismo e misoginia é
mais sutil. Este último refere-se a um sentimento de
ódio e desprezo à mulher. Se distingue do machis-
mo por envolver um forte conteúdo emocional à base
de repulsa e aversão e se manifesta nas sociedades
patriarcais por meio diferentes formas de violência
contra as mulheres, como o assédio (moral, verbal
e sexual), a violência sexual e doméstica e o femini-
cídio. Para a neurocientista e filósofa Berit Brogaard,
misoginia não é simplesmente odiar mulheres, mas
odiar mulheres que não se comportam da maneira
esperada pela pessoa que a descrimina.

Por ter como objetivo o combate ao machismo


na sociedade, muitas pessoas têm a ideia errônea de
que feminismo é o oposto do machismo no sentido
de que feministas almejam uma sociedade onde as
mulheres oprimem os homens. Na realidade, porém,
o feminismo é um movimento social, político e ide-
ológico que visa uma sociedade com igualdade de
direitos entre os gêneros. Por isso, entende-se que
o objetivo feminista, acabar com o machismo e pro-
mover a igualdade de gênero, é benéfico tanto para
mulher quanto para homens.

Texto: retirado site https://www.politize.com.br/o-


-que-e-machismo/

Você também pode gostar