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Texto 1
Em Defesa do PATRIARCADO
Texto 2
Entendo que a cultura por si só não explica algo que é muito maior, que é estrutural. O
sistema patriarcal. Dentro desse sistema, podemos ter, aí sim, a cultura, os valores e,
dentro disso, a reprodução da violência. No meu entender, a violência contra as mulheres e
o feminicídio só podem ser compreendidos a partir do entendimento da estrutura societal da
qual fazemos parte, ou seja, esta que é patriarcal, racista e capitalista.
No artigo supracitado, eu menciono uma autora, Heleieth Saffioti, para falar da força
do patriarcado e de como ele se mantém, inclusive com a ajuda das próprias mulheres.
Antes de correr o risco de ser mal interpretada, quero aprofundar um pouco mais os
argumentos aqui com o auxílio desta socióloga que tem importância fundamental para o
entendimento do problema da violência contra a mulher no Brasil.
Também gosto de utilizar um termo cunhado, até onde eu sei, por uma autora do
feminismo negro estadunidense, bell hooks**, “violência patriarcal”, porque parece explicar
melhor a ideia de que a violência cometida contra mulheres, assim como o feminicídio, são
frutos de uma sociedade patriarcal, já que as mulheres são agredidas e/ou assassinadas
pelo simples fato de serem mulheres.
Ao trazer a ideia desenvolvida e defendida por Saffioti de que o patriarcado é um
sistema que se mantém inclusive com o apoio das mulheres, não quero entender aqui que
as mulheres devem ser culpadas por reproduzir o patriarcado. Estas apenas reproduzem os
valores de uma sociedade, do mesmo modo que os homens. Como afirma a pesquisadora
brasileira Mirla Cisne, “as mulheres são sínteses das relações que estabelecem, mediadas
por uma sociedade alienante e alienadora”.
Para explicar o poder dessa instituição que é o patriarcado, Saffioti utiliza-se do filme
Lanternas Vermelhas (1991). Durante toda a película, segundo ela, praticamente não se vê
o rosto do patriarca, revelando este fato que Zhang Yimou captou corretamente esta
estrutura hierárquica, ou seja, entendo eu, o sistema patriarcal, que confere aos homens o
direito de dominar as mulheres, independentemente da figura humana singular investida de
poder. “Quer se trate de Pedro, João ou Zé Ninguém, a máquina funciona até mesmo
acionada por mulheres” (SAFFIOTI, 2009: 7).
Há uma ideologia que alimenta a estrutura patriarcal. Da qual, fazem parte ideias
como a de que “mulher nasce para apanhar”, “em briga de marido e mulher não se mete a
colher”, de que os homens têm poder e direito sobre o corpo e a até mesmo sobre a vida
das mulheres, de que a mulher é o sexo frágil, de que “se apanhou é porque mereceu”, “se
usou minissaia, é porque queria ser estuprada”. Assim, muitos homens entendem que as
mulheres são sua propriedade e não têm direito a terminar um relacionamento. A famosa
frase: “Se não vai ser minha, não será de mais ninguém” está por trás da maioria dos casos
de feminicídios, que, em sua imensa maioria, são cometidos dentro de casa, pelos maridos,
ou ex-maridos, noivos, namorados, ou ex.
Assim, as mulheres não passam de objetos, brinquedos dos homens, ou ainda,
animais de estimação, que servem para brincar quando eles bem quiserem, e estar a sua
disposição, sempre que eles assim o desejarem.
No momento em que a mulher não tem direito a pôr fim a um relacionamento, isso
significa que ela é destituída de sua humanidade, já que não pode ter desejos, não pode ser
dona de suas vontades e senhora de suas ações. Não possui assim, algo que é próprio do
ser humano: a liberdade.
Todas essas ideias, instituições sociais como a família, a escola, a igreja, a mídia e,
até mesmo, a ciência, ajudam na reprodução, auxiliando assim na manutenção da estrutura
patriarcal da sociedade.
Por muito tempo se entendeu (e ainda se entende) que as mulheres devem ser
submissas aos seus maridos com base na religião.
Em Efésios, Capítulo V, versículos 22, 23 e 24, lemos: “Que as mulheres sejam
submissas aos seus maridos, como ao Senhor; com efeito, o marido é o chefe de sua
mulher, como Cristo é o chefe da Igreja. Ele o Salvador do corpo. Ora, a Igreja se submete
a Cristo, as mulheres devem, portanto, da mesma maneira, submeterem-se, em tudo, a
seus maridos”.
Também na ciência, teorias foram construídas para legitimar “cientificamente” e assim,
justificar a violência contra as mulheres, comparando-as a animais. Conforme Patrícia
Santos (2001), dois dos grandes momentos históricos de lutas políticas das mulheres irão
coincidir com estudos que tentam, especificamente, provar que a mulher é inferior ao
homem, da Craniometria, no final do século XIX, e da Sociobiologia, que ressurgem com
muita força nos anos de 1970.
Neste sentido, o patriarcado é uma estrutura que funciona com base em uma
superestrutura, que é sua base ideológica. Muitas ideias alicerçadas à natureza servem de
apoio para a manutenção da estrutura patriarcal.
Segundo Saffioti, o patriarcado constitui ao mesmo tempo uma ideologia e uma
estrutura, uma ideologia “forjada especialmente para dar cobertura a uma estrutura de
poder que situa as mulheres muito abaixo dos homens em todas as áreas da convivência
humana. E é a esta estrutura de poder, e não apenas à ideologia que a acoberta, que o
conceito de patriarcado diz respeito” (Saffioti, 2009: 35).
2 – Qual é a posição do autor do texto 1? Cite pelo menos dois argumentos utilizados
pelo autor para defendê-la.
Quais dos elementos acima é possível identificar no texto 2? Numere essas partes no
texto mencionado.