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Leia os textos que se seguem, procurando identificar qual é a finalidade ou objetivo

dos autores ao escrevê-los

Texto 1

Em Defesa do PATRIARCADO

Por Marcus Valerio XR


[...]
PATRIARCADO é um conceito que ao menos num ponto é pacífico, trata-se de um
sistema social onde a função paterna é reconhecida e valorizada, e ao assumir a
Responsabilidade por uma família, se torna inevitável que sobre a mesma tenha alguma
Autoridade, pois esses valores jamais podem ser desassociados sem produzir terrível
injustiça. Hoje a autoridade do marido sobre a esposa não mais se justifica porque ele não é
mais legalmente responsabilizado pela segurança dela, nem por suas eventuais dívidas ou
crimes, mas vivendo num mundo muito mais perigoso que o atual, a sobrevivência era
preocupação prioritária, e suprir essa função sempre coube aos machos da espécie, não
somente por sua maior desenvoltura física, mas também pela sua dispensabilidade em
termos reprodutivos.
[...]
Assim, o Patriarcado é o modelo de sociedade onde os homens abrem mão de sua
liberdade e irresponsabilidade para trabalhar não somente para si próprios, mas em prol de
uma ou mais mulheres em especial, e das proles destas, e a principal coisa que pedem em
troca é a fidelidade sexual como forma de garantir sua patrilinearidade.
Que obrigações os homens selvagens teriam com uma comunidade? Eles poderiam
muito bem correr errantes com suas lanças, caçando e trabalhando em pequenos grupos
apenas para si mesmos, copulando com mulheres que encontrassem pelo caminho, sem se
preocupar em proteger indefesos e vivendo o presente. Mas não é o que ocorre, os homens
se associam com as mulheres, formam laços, protegem idosos e crianças, e durante muito
tempo isso foi feito de uma forma difusa, sem que soubessem exatamente quais eram os
seus descendentes.
Este fora um modelo social viável, mas em algum momento o apego aos próprios
descendentes, talvez identificados com traços de similaridade, tornaram a Paternidade
Difusa em Paternidade Específica, e muitos decidiram dar atenção especial àqueles que
eram sua própria prole, bem como às mães destes. Seguramente a Paternidade Difusa
conviveu com a Específica durante muito tempo, mas não demoraria a ficar evidente as
vantagens da última. Principalmente Para As Mulheres!
O que uma mulher prefere? Que todos os homens tratem indiscriminadamente todas
as mulheres como iguais, ou que algum lhe dê atenção especial? Ainda mais num contexto
de luta pela sobrevivência, ela tende a preferir que ele concentre esforço e engenho nela.
Não foram os homens que impuseram a fidelidade às mulheres, mas sim estas que não
demoraram a perceber as vantagens de ter um companheiro exclusivo, que sempre
colocaria ela e seus filhos em primeiro lugar. Até hoje ainda são as mulheres as mais
interessadas em compromisso!
Os rebentos de um pai responsável recebiam tratamento especial, mais dedicação,
proteção, melhor treinamento, e mesmo com sua morte, seus objetos pessoais eram
herdados por suas mulheres e descendentes, que ficavam mais abastados. Foi uma
delirante inversão achar que a propriedade privada deu origem ao Patriarcado! O contrário!
Foi o reconhecimento prévio da paternidade e a dedicação dos pais que com o tempo
resultou na propriedade privada acumulativa. Retroalimentando a necessidade de
confirmação da linhagem, e tornando mais rigorosa a necessidade de fidelidade.
E isso não significou uma imposição arbitrária, pois todas as sociedades sempre
tiveram a figura das mulheres sexualmente livres. A diferença é que estas não recebiam a
proteção especial que os homens forneciam às mulheres comprometidas, que ficando em
nítida vantagem, não por outro motivo prosperaram se tornando maioria. Eis o ”duplo
padrão”! Esse contrato social ao menos por um bom tempo foi livre e mutuamente benéfico,
exigindo sacrifícios de ambos os lados, e se tornou tão bem sucedido que com o tempo as
mães se tornaram as principais guardiãs da instituição, exigindo o mesmo comportamento
comprometido e responsável de suas filhas. Como não iriam querer para elas o que as
próprias desejaram?
Não a toa jamais houve civilização matriarcal, pois isto significa um estado
praticamente natural onde as partes não assumem compromissos e onde os homens ficam
livres para agir como bem quiserem, invés de se empenharem por suas famílias. Houve
tribos ou aldeias “matriarcais”, mas as primeiras sociedades patriarcais logo prosperaram e
as sobrepujaram, levando-as à extinção. Mesmo hoje há no máximo favelas ou guetos
“matriarcais”. Mas todas as grandes sociedades são patriarcais, e somente a ignorância
pode pensar que países desenvolvidos onde a instituição do casamento tenha desandado
aboliram o patriarcalismo, ainda que o tenham prejudicado, pois este apenas mudou da
figura direta para a figura indireta de um Estado Paternalista. Os homens continuam
realizando a maior parte dos serviços de infraestrutura e assumindo as funções mais
perigosas, além das ciências e tecnologias de ponta, e na maioria das vezes ao menos
pagando suas pensões.
Odiar o Patriarcado, apregoar-lhe a origem de todos os males e considerar que o
mesmo existe para oprimir mulheres concedendo privilégios a um gênero que até hoje vive
menos, morre 10 vezes mais em acidentes de trabalho e continua se sacrificando em
defesa do gênero feminino ao menor sinal de perigo, não é apenas uma profunda
ignorância. É um atestado insofismável de ódio contra a própria civilização e a toda espécie
humana.

Texto 2

O patriarcado e a violência contra a mulher


Razões estruturais do problema na sociedade

Por Vera Simone Schaefer Kalsing Publicado em 31 de janeiro de 2021 | 02h00

Escrevi anteriormente um artigo abordando a retratação das mulheres nas novelas e a


questão da violência. Desejo continuar a reflexão tratando da reprodução do patriarcado.
Trago isso em razão de estarmos acompanhando um recrudescimento de casos de
violência contra a mulher e de feminicídios. Entendo que precisamos ir a fundo para
entender o porquê de esse tipo de violência se manter em nossa sociedade.
Ouço muito as pessoas falarem a respeito da existência de uma “cultura da violência”
ou de uma “cultura machista” que impera em nossa sociedade e que por isso, os homens
são educados para entenderem que as mulheres são seus objetos de consumo. A ideia de
que as mulheres são compreendidas como “objetos” não está errada. O que não concordo é
com a ideia de explicação da violência a partir da cultura.

Entendo que a cultura por si só não explica algo que é muito maior, que é estrutural. O
sistema patriarcal. Dentro desse sistema, podemos ter, aí sim, a cultura, os valores e,
dentro disso, a reprodução da violência. No meu entender, a violência contra as mulheres e
o feminicídio só podem ser compreendidos a partir do entendimento da estrutura societal da
qual fazemos parte, ou seja, esta que é patriarcal, racista e capitalista.
No artigo supracitado, eu menciono uma autora, Heleieth Saffioti, para falar da força
do patriarcado e de como ele se mantém, inclusive com a ajuda das próprias mulheres.
Antes de correr o risco de ser mal interpretada, quero aprofundar um pouco mais os
argumentos aqui com o auxílio desta socióloga que tem importância fundamental para o
entendimento do problema da violência contra a mulher no Brasil.
Também gosto de utilizar um termo cunhado, até onde eu sei, por uma autora do
feminismo negro estadunidense, bell hooks**, “violência patriarcal”, porque parece explicar
melhor a ideia de que a violência cometida contra mulheres, assim como o feminicídio, são
frutos de uma sociedade patriarcal, já que as mulheres são agredidas e/ou assassinadas
pelo simples fato de serem mulheres.
Ao trazer a ideia desenvolvida e defendida por Saffioti de que o patriarcado é um
sistema que se mantém inclusive com o apoio das mulheres, não quero entender aqui que
as mulheres devem ser culpadas por reproduzir o patriarcado. Estas apenas reproduzem os
valores de uma sociedade, do mesmo modo que os homens. Como afirma a pesquisadora
brasileira Mirla Cisne, “as mulheres são sínteses das relações que estabelecem, mediadas
por uma sociedade alienante e alienadora”.
Para explicar o poder dessa instituição que é o patriarcado, Saffioti utiliza-se do filme
Lanternas Vermelhas (1991). Durante toda a película, segundo ela, praticamente não se vê
o rosto do patriarca, revelando este fato que Zhang Yimou captou corretamente esta
estrutura hierárquica, ou seja, entendo eu, o sistema patriarcal, que confere aos homens o
direito de dominar as mulheres, independentemente da figura humana singular investida de
poder. “Quer se trate de Pedro, João ou Zé Ninguém, a máquina funciona até mesmo
acionada por mulheres” (SAFFIOTI, 2009: 7).
Há uma ideologia que alimenta a estrutura patriarcal. Da qual, fazem parte ideias
como a de que “mulher nasce para apanhar”, “em briga de marido e mulher não se mete a
colher”, de que os homens têm poder e direito sobre o corpo e a até mesmo sobre a vida
das mulheres, de que a mulher é o sexo frágil, de que “se apanhou é porque mereceu”, “se
usou minissaia, é porque queria ser estuprada”. Assim, muitos homens entendem que as
mulheres são sua propriedade e não têm direito a terminar um relacionamento. A famosa
frase: “Se não vai ser minha, não será de mais ninguém” está por trás da maioria dos casos
de feminicídios, que, em sua imensa maioria, são cometidos dentro de casa, pelos maridos,
ou ex-maridos, noivos, namorados, ou ex.
Assim, as mulheres não passam de objetos, brinquedos dos homens, ou ainda,
animais de estimação, que servem para brincar quando eles bem quiserem, e estar a sua
disposição, sempre que eles assim o desejarem.
No momento em que a mulher não tem direito a pôr fim a um relacionamento, isso
significa que ela é destituída de sua humanidade, já que não pode ter desejos, não pode ser
dona de suas vontades e senhora de suas ações. Não possui assim, algo que é próprio do
ser humano: a liberdade.
Todas essas ideias, instituições sociais como a família, a escola, a igreja, a mídia e,
até mesmo, a ciência, ajudam na reprodução, auxiliando assim na manutenção da estrutura
patriarcal da sociedade.

Por muito tempo se entendeu (e ainda se entende) que as mulheres devem ser
submissas aos seus maridos com base na religião.
Em Efésios, Capítulo V, versículos 22, 23 e 24, lemos: “Que as mulheres sejam
submissas aos seus maridos, como ao Senhor; com efeito, o marido é o chefe de sua
mulher, como Cristo é o chefe da Igreja. Ele o Salvador do corpo. Ora, a Igreja se submete
a Cristo, as mulheres devem, portanto, da mesma maneira, submeterem-se, em tudo, a
seus maridos”.
Também na ciência, teorias foram construídas para legitimar “cientificamente” e assim,
justificar a violência contra as mulheres, comparando-as a animais. Conforme Patrícia
Santos (2001), dois dos grandes momentos históricos de lutas políticas das mulheres irão
coincidir com estudos que tentam, especificamente, provar que a mulher é inferior ao
homem, da Craniometria, no final do século XIX, e da Sociobiologia, que ressurgem com
muita força nos anos de 1970.
Neste sentido, o patriarcado é uma estrutura que funciona com base em uma
superestrutura, que é sua base ideológica. Muitas ideias alicerçadas à natureza servem de
apoio para a manutenção da estrutura patriarcal.
Segundo Saffioti, o patriarcado constitui ao mesmo tempo uma ideologia e uma
estrutura, uma ideologia “forjada especialmente para dar cobertura a uma estrutura de
poder que situa as mulheres muito abaixo dos homens em todas as áreas da convivência
humana. E é a esta estrutura de poder, e não apenas à ideologia que a acoberta, que o
conceito de patriarcado diz respeito” (Saffioti, 2009: 35).

** A autora escreve propositalmente com letras minúsculas com o intuito de chamar a


atenção para o que ela escreve e não para o próprio nome.

1 - Qual tema está discutido nos dois artigos?

2 – Qual é a posição do autor do texto 1? Cite pelo menos dois argumentos utilizados
pelo autor para defendê-la.

3 – Qual é a posição da autora do texto 2? Cite pelo menos dois argumentos


utilizados para defendê-la.

4 - Existem várias possibilidades de organizar a estrutura de um artigo de opinião,


porém, de maneira geral, todos possuem os seguintes elementos (não existe uma
ordem específica para esses elementos e nem todos precisam aparecer num mesmo
artigo de opinião).

1. Contextualização e/ou apresentação da questão que está sendo discutida.


2. Explicitação do posicionamento assumido.
3. Utilização de argumentos para sustentar a posição assumida.
4. Consideração de posição contrária e antecipação de possíveis argumentos
contrários à posição assumida.
5. Utilização de argumentos que refutam a posição contrária.
6. Retomada da posição assumida.
7. Possibilidades de negociação.
8. Conclusão (ênfase ou retomada da tese ou posicionamento defendido).

Quais dos elementos acima é possível identificar no texto 2? Numere essas partes no
texto mencionado.

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