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CAUSAS DO DESRESPEITO AOS

VALORES DOS DIREITOS DAS


MULHERES – VIOLÊNCIA
BASEADA NO GÊNERO

MÔNICA DE MELO
monicademel@gmail.com
ALGUMAS REFLEXÕES INICIAIS

- Raízes, origens e causas das violências baseadas nas


relações de gênero que incidem desigualmente sobre
os corpos e vida das mulheres;
- FEMININO v. MASCULINO
- Causas de maior incidência de violência contra as
mulheres negras
- VIOLÊNCIA INTRAGÊNERO
- Pensamento das autoras: Heleieth Saffioti, Gerda Lerner,
Frances Olsen, Alda Facio, Lorena Fries e Dina Alves
Heleieth Saffioti “O Poder do Macho” p. 41-
67, São Paulo: Moderna,1987

A SUPREMACIA
MASCULINA
NA SOCIEDADE
CAPITALISTA
TRÊS ESQUEMAS BÁSICOS DE DOMINAÇÃO-EXPLORAÇÃO

Existentes em todas as sociedades e até nas socialistas (em


certo grau):

Em ordem cronológica de aparecimento:

PATRIARCADO

PRECONCEITO RACIAL

CLASSES SOCIAIS
PATRIARCADO

Calcula-se que o homem haja estabelecido seu domínio sobre a


mulher ha cerca de seis milênios. São múltiplos os pIanos da
existência cotidiana em que se observa esta dominação. Um
niveI extremamente significativo deste fenômeno diz respeito ao
poder politico. Em termos muito simples, isto quer dizer que os
homens tomam as grandes decisões que afetam a vida de um
povo.
Subordinação nos campos políticos, econômico (trabalhos de
cuidado, precarizados)

Necessidade de participação política das mulheres:


REPRESENTATIVIDADE
PRECONCEITO RACIAL

Diz-se, a boca miúda, que no Brasil ha democracia racial. Nada seria mais
inverídico do que esta afirmação. Basta examinar as estatísticas para se
verificar que os negros estão nas ocupações menos prestigiadas e mais mal
remuneradas, que apresentam graus baixos de escolaridade, que não
participam do poder político.
CLASSES SOCIAIS

A população brasileira, assim como todas as que vivem sob o regime


capitalista, esta dividida em classes sociais. Os que dominam econômica e
politicamente constituem as classes dominantes. Usa-se, aqui, a expressão no
plural, porque as classes dominantes compõem-se de diferentes segmentos
sociais. Embora estes distintos setores costumem unir-se na defesa de seus
interesses, ha, em muitas situações históricas, conflitos de interesses entre a
burguesia industrial e a burguesia financeira, por exemplo. Os conflitos
podem existir entre os interesses da burguesia agraria e os da burguesia
industrial. Interesses imediatos da burguesia agraria podem conflitar com
interesses da burguesia financeira.
SIMBIOSE

Patriarcado, Racismo e Capitalismo

0 patriarcado é o mais antigo sistema de dominação-exploração.


Posteriormente, aparece o racismo, quando certos povos se lançam na
conquista de outros, menos preparados para a guerra. Em muitas destas
conquistas, o sistema de dominação-exploração do homem sobre a mulher foi
estendido aos povos vencidos. Com frequência, mulheres de povos vencidos
eram transformadas em parceiras sexuais de guerreiros vitoriosos ou por estes
violentadas. Ainda na época atual isto ocorre. Quando um país é ocupado
militarmente por tropas de outra nação, os soldados servem-se sexualmente de
mulheres do povo que combatem. Este fenômeno aconteceu durante a
Segunda Guerra Mundial, dele resultando muitos filhos de soldados norte-
americanos com mulheres japonesas. O mesmo se passou durante a guerra do
Vietnã, havendo lá deixado os soldados norte-americanos muitos frutos destas
uniões sexuais esporádicas e sem compromisso.
SIMBIOSE

Patriarcado, Racismo e Capitalismo

Desta sorte, não foi o capitalismo, sistema de dominação-exploração


muitíssimo mais jovem que os outros dois, que "inventou" o patriarcado e
o racismo. Para não recuar demasiadamente na historia, estes já
existiam na Grécia e na Roma antigas, sociedades nas quais se
fundiram com o sistema escravocrata. Da mesma maneira, também se
fundiram com o sistema feudal. Com a emergência do capitalismo,
houve a simbiose, a fusão, entre os três sistemas de dominação-
exploração, acima analisados separadamente. Só mesmo para tentar
tornar mais faciI a compreensão deste fenômeno, podem-se separar
estes três sistemas. Na realidade concreta, eles são inseparáveis, pois se
transformaram, através deste processo simbiótico, em um único sistema
de dominação-exploração, aqui denominado patriarcado-
racismo-capitalismo.
Gerda Lerner
“A criação do patriarcado: história da
opressão das mulheres pelos homens”, São
Paulo: Cultrix, 2019
Gerda Lerner
“A criação do patriarcado: história da opressão das
mulheres pelos homens”

 História como ordenação e interpretação do passado da humanidade.


Historiadores homens, registrando e interpretando o que os homens
haviam feito, vivenciado e considerado significativo – UNIVERSAL.

 História sem a experiência histórica real das mulheres e com sua exclusão
da interpretação dessa experiência. NÃO SÃO OBJETO, NÃO SÃO SUJEITAS,
NEM FAZEM A HISTÓRIA.

 A subordinação das mulheres aos homens causa essas exclusões e isso se


deve ao sistema histórico denominado de PATRIARCADO, que não é
natural, não está determinado biologicamente.
Gerda Lerner
“A criação do patriarcado: história da opressão das
mulheres pelos homens”

 PATRIARCADO
 O patriarcado não é um evento, mas foi
estabelecido por um longo processo histórico que
se desenvolveu por pelo menos 2.500 anos, de
3.100 a 600 a.C. Aconteceu em ritmo e momentos
diferentes em sociedades distintas.
 Há um foco central no patriarcado de CONTROLE
SEXUAL E REPRODUTIVO DAS MULHERES.
Gerda Lerner
“A criação do patriarcado: história da opressão das
mulheres pelos homens”

PATRIARCADO
 O patriarcado como SISTEMA:
 Vertente mais limitada e tradicional: derivado do direito greco e romano, em que o homem
chefe de família, tinha total poder legal e econômico sobre seus familiares dependentes,
mulheres e homens; Por essa perspectiva o patriarcado começou na Antiguidade clássica e
terminou no século XIX, com a outorga de direitos civis para as mulheres, em particular as
casadas;
 Vertente mais ampla: a dominância patriarcal de chefes de família homens sobre seus parentes
é muito mais antiga que a Antiguidade clássica; ela começa no terceiro milênio a.C. e
encontra-se bem estabelecida na época em que foi escrita a Bíblia Hebraica. Dominância que
vai tomando novas formas, sem ter conhecido seu fim até os dias de hoje.
 DEFINIÇÃO DE GERDA LERNER: Manifestação e institucionalização da dominância masculina
sobre as mulheres e crianças na família e a EXTENSÃO da dominância masculina sobre as
mulheres na sociedade em geral. Os homens tem o poder em todas as instituições importantes
da sociedade e que mulheres são privadas de acesso a esse poder. Mas não significa que as
mulheres sejam totalmente impotentes ou privadas de direitos, influência e recursos.
Gerda Lerner
“A criação do patriarcado: história da opressão das
mulheres pelos homens”

PATERNALISMO OU DOMINAÇÃO PATERNALISTA


 Relação de um grupo dominante, considerado superior, com um grupo subordinado,
considerado inferior, na qual a dominância é MITIGADA POR OBRIGAÇÕES MÚTUAS E DIREITOS
RECÍPROCOS.

 O grupo dominado troca submissão por proteção, trabalho não remunerado por sustento. Em
suas origens históricas, o conceito vem das relações familiares conforme se desenvolveram sob o
patriarcado, nas quais o pai tinha total poder sobre todos os membros da família. Em troca,
tinha a obrigação de prover sustento econômico e proteção. Como se aplica às relações
familiares observa-se que as responsabilidades e obrigações não são distribuídas igualmente
entre o grupo protegido: a subordinação dos filhos meninos à dominância do pai é temporária,
dura ate que eles mesmos se tornem chefes de família. A subordinação das filhas meninas e das
esposas dura a vida inteira. As filhas só podem escapar tornando-se esposas sob a
dominância/proteção de outro homem. A base do paternalismo é um contrato verbal de troca;
sustento econômico e proteção do homem em troca de subordinação em todos os aspectos,
servidão sexual e trabalho doméstico não remunerado da mulher.
Gerda Lerner
“A criação do patriarcado: história da opressão das
mulheres pelos homens”

MACHISMO
 IDEOLOGIA DA SUPREMACIA MASCULINA, de superioridade masculina e de
crenças que a apoiem e sustentem. Machismo e patriarcado se reforçam
de forma mútua. O machismo pode existir em sociedades onde o
patriarcado institucionalizado tenha sido abolido. Enquanto existir
machismo como ideologia, as relações patriarcais podem ser
restabelecidas com facilidade, mesmo que tenham ocorrido mudanças
legais que os proscreveram. Legislação de direitos civis é ineficaz
enquanto existirem crenças racistas. O mesmo vale para o machismo.
 Código Civil Brasileiro de 1916 v. Código Civil Brasileiro de 2002
 Art. 2. Todo homem é capaz de direitos e obrigações na ordem civil.
 Art. 1º Toda pessoa é capaz de direitos e deveres na ordem civil.
O sexo do Direito
Frances Olsen

 Pensamento se estrutura através de dualismos ou pares opostos:

RACIONAL/IRRACIONAL; ATIVO/PASSIVO; PENSAMENTO/SENTIMENTO;

RAZÃO/EMOÇÃO; CULTURA/NATUREZA; PODER/SENSIBILIDADE;

OBJETIVO/SUBJETIVO; ABSTRATO/CONCRETO; UNIVERSAL/PARTICULAR.

 QUE SÃO: SEXUALIZADOS, HIERARQUIZADOS (MASCULINO SUPERIOR) E O

DIREITO SE IDENTIFICA COM O LADO MASCULINO


O sexo do Direito
Frances Olsen

 O Direito Segundo a ideologia dominante é MASCULINO

 O Direito é RACIONAL, OBJETIVO ABSTRATO E UNIVERSAL como os homens


se consideram a si mesmos.
O sexo do Direito
Frances Olsen

ESTRATÉGIAS FEMINISTAS DE ENFRENTAMENTO AO


SISTEMA DUAL DOMINANTE

1) Oposição à sexualização dos dualismos e luta por identificar as mulheres


com o lado favorecido (mulher – racional);
2) Oposição à hierarquização que os homens estabeleceram em relação a
um dos lados dos dualismos (mulher – irracional, mas tem o mesmo valor
do racional ou até melhor);
3) Oposição à sexualização e à hierarquização – ruptura com as diferenças
estabelecidas entre homens e mulheres – não divisão do mundo em
esferas contrastantes
O sexo do Direito
Frances Olsen

Críticas feministas ao Direito


1) O Direito não é racional, objetivo, abstrato e universal, mas deveria ser
para beneficiar as mulheres. Feministas nesta categoria lutam para que o
Direito reconheça suas reivindicações;
2) O Direito é racional, objetivo, abstrato e universal. Feministas nesta
categoria rechaçam a hierarquização dos dualismos e sustentam que o
Direito é masculino, patriarcal e opressivo em relação às mulheres;
3) A terceira categoria rechaça a caracterização do Direito como racional,
objetivo, abstrato e universal e a hierarquização (Teoria Jurídica Crítica
Feminista)
Feminismo, gênero e patriarcado
Alda Facio e Lorena Fries
HOMEM COMO MODELO DO HUMANO: diferença sexual significa
desigualdade legal em prejuízo das mulheres.

O Direito parte do ponto de vista masculino: dá respostas aos interesses dos


homens e trata referidas necessidades como se fossem universais do ser
humano. As necessidades relativas às mulheres são tratadas como
específicas ainda que de metade da humanidade.

O Direito é ANDROCÊNTRICO, ou seja, NÃO É OBJETIVO NEM NEUTRO.


Feminismo, gênero e patriarcado
Alda Facio e Lorena Fries

PRINCÍPIOS COMUNS FEMINISTAS EM RELAÇÃO COM O


DIREITO

 Crença de que todas as pessoas – homens e mulheres valem o mesmo


enquanto seres humanos;

 Todas as formas de discriminação e opressão são odiosas;

 A harmonia e felicidade são mais importantes que a acumulação de


riqueza através da produção, do poder e da propriedade
PRINCÍPIOS COMUNS FEMINISTAS EM RELAÇÃO COM O DIREITO

➢ O pessoal é político: as discriminações, opressões e violência que sofrem as


mulheres não são um problema individual, mas faz parte de uma estrutura
de poder e a um sistema;
➢ A subordinação das mulheres tem como um de seus objetivos o
disciplinamento e controle de seus corpos. Controlar a sexualidade e
capacidade reprodutiva expressão da diferença sexual.
➢ O gênero é uma categoria social que atravessa e é atravessada por todas
as outras categorias sociais
DINA ALVES
Rés negras, juízes brancos: Uma análise da interseccionalidade de gênero,
raça e classe na produção da punição em uma prisão paulistana
http://www.scielo.org.co/pdf/recs/n21/2011-0324-recs-21-00097.pdf
2017

➢ Perspectiva da pesquisa é em relação à mulher negra ré e não vítima.


➢ Regime de dominação racial presente no Sistema de Justiça Penal no
Brasil, que não operaria somente para os homens;
➢ Feminização da pobreza e da punição: vulnerabilidades sociais, a
criminalização e a punição fazem parte do mesmo processo de
subordinação racial das mulheres negras;
➢ Encarceramento desproporcional e ascendente de mulheres negras;
➢ Diminuição do Estado Social: Estado se ausenta das políticas públicas
sociais e passa a governar por meio de políticas de controle da
criminalidade;

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