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21/05/2021

Apresentação
O cuidado de meninas
e mulheres
em situação de
violência
A rie lle S a grillo S c arpa ti
Ma io/2021

Apresentação
Objetivo Geral
Formação
Psicóloga
Mestre em Psicologia Social Tratar dos efeitos, encaminhamentos e cuidados necessários para o
Doutora em Psicologia Forense
atendimento de casos de violência doméstica e sexual cometidas contra
Experiência meninas e mulheres.
Pesquisa, docência, assistência,
jurídico e clínica.

Atuação
Atendimento clínico, consultoria,
Pesquisa e treinamento.

Importante Overview
S O B R E O Q U E VA M O S F A L A R ?
Necessidade de que se reconheçam os impactos das mais variadas formas
• A mulher em situação de violência;
de violência na vida de meninas e mulheres, bem como na vida de
mulheres-mães. Pensando-se, especificamente, sobre a maneira pela qual a • Ciclo da violência;
exposição a essas violações compromete sua habilidade para maternar. • Meninas em situação de violência;
• PTSD e Trauma Complexo;
• Impactos do trauma na saúde;
Ponto a ser discutido: • Manejo de casos e intervenções possíveis;
Transmissão intergeracional da violência. • Cuidar de quem cuida;
• Dúvidas e troca de experiências;

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Contexto Gênero
Nosso Ponto de Partida • Mudança (significativa?) do papel social da mulher nas sociedades
ocidentais não tem se refletido, necessariamente, na redução de
desigualdades e proteção à ocorrência de violência contra meninas e
mulheres.

• Elementos culturais, políticos, sociais e econômicos que influenciam o


comportamento social permanecem presentes no cotidiano, mantendo
padrões específicos que legitimam o poder e a autoridade dos homens
sobre as mulheres.

Gênero Gênero
• Mãe: corre o risco de transmitir não apenas as crenças de sua cultura,
• Posição feminina frente à violência conjugal: fruto da absorção dos
interpretadas como adequadas à manutenção da união familiar, mas
protocolos de gênero, que lhe formatam como submissa, dependente e
também as formas de condutas que recebeu de gerações anteriores.
incapaz de se autogerir afetivamente sem a presença masculina, mesmo
que esta lhe seja nociva.
• Práticas discursivas repletas de estereótipos têm sido operadas por
agentes históricos e sustentam, via discurso social, a inferioridade
• Esta questão será verticalizada à luz do processo educativo advindo da
feminina.
relação primordial mãe-filha, cuja dependência e obediência irrestritas
são instigadas pela primeira, como recompensa pelo devotamento a um
• Mulher: responsável pelo sucesso ou fracasso da família;
outro, que é a própria filha.

VD e os papeis
de gênero
A submissão feminina pode ser um solo fértil para
os abusos masculinos e para a manutenção da
violência conjugal;

Posição feminina frente à violência conjugal como


resultado da absorção dos protocolos de gênero
(submissa, dependente e incapaz de se autogerir
afetivamente);

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Quem são essas De quem estamos


meninas e mulheres? falando?
•Ra ça
•Classe Social
•Faixa Etária
•Orientação Sexual
•Escolaridade
•Religião

E de que violências
estamos falando?

Violência Doméstica

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O que a gente pensa/espera


1. Basta prender o agressor.
2. A violência doméstica é exceção, não a regra.
3. Tem mulher que gosta de apanhar, é mulher de malandro.
4. Só acontece em famílias problemáticas, desestruturadas.
5. Se tivesse acontecido mesmo, ela denunciava. Só quer se promover.
6. Ela denunciou só para acabar com a vida dele.
7. Quem mandou ela levar o cara para casa?
8. O agressor sofre de alguma doença mental; psicopata; tem problemas
com álcool.

Por que elas ficam?


• Am o r ;
• M edo;
• Cul pa;
• V ergonha;
• F o c o n o s a s p e c t o s p o s i tivos do relacionamento;
• Comparação com relacionamentos “piores” – de outras pessoas ou
mesmo dela (anteriores);
• Distorção sobre os motivos q ue levaram o autor da violência à
agredi-la;
• Ciclo da violência;

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A permanência nas
relações violentas
Nas mulheres está muito arraigada a crença de que
a área dos afetos – e, portanto, dos vínculos – é sua
responsabilidade principal e exclusiva. Por isso, se
consideram responsáveis pela continuidade do
vínculo e pelo sucesso da relação (Castro, 2004).

Dedicação essa que faz com que a mulher se sinta


importante e valiosa, além de lhe conferir sentido à
existência.

Por que elas ficam? Violência Como Uma


Forma de Trauma
• "Ética da salvação“;
• Crenças religiosas e conservadorismo;
• Medo da repercussão (ex. boatos);
• Manutenção da estrutura familiar;
• Filhos;
• Ausência de uma rede de apoio;
• Dependência financeira e/ou emocional;
• Não reconhecimento da violência;
• Sensação de merecimento;
• Efeito do trauma;

Trauma Trauma
Não há consenso; Não há consenso;

Pode envolver uma única experiência ou eventos repetidos que Pode envolver uma única experiência ou eventos repetidos que
sobrecarregam completamente a capacidade do indivíduo de lidar ou sobrecarregam completamente a capacidade do indivíduo de lidar ou
integrar as ideias e emoções envolvidas na (s) experiência (s); integrar as ideias e emoções envolvidas na (s) experiência (s);

É o significado pessoal dado ao evento - e não o próprio evento em si -


que determina se algo é traumático ou não.

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TEPT

Abuso emocional crônico e


negligência podem ser tão ou mais
devastadores - psiquicamente - que
os abusos físico e sexual, por
exemplo.

Nosso corpo está preparado para


Por que? lidar com uma dose determinada de

Como?
estressores. Entretanto, quando
esses limites são ultrapassados, há
consequências.

Trauma Complexo

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C - Tept
•Diagnóstico recentemente (2018) incluído pela oms na classificação
internacional de doenças (cid-11).

•Necessidade de uma nova nomenclatura que abarcasse as sequelas de


traumas prolongados e repetidos, que geralmente ocorrem quando a
vítima é incapaz de fugir e se encontra sob controle de seu agressor
(herman, 1992)

•Trauma de desenvolvimento (crianças expostas à violência)

C - Tept
Porque este trauma é relacional, tende a produzir um vínculo de
identificação entre a vítima e o agressor, o que se chama de “ligação
traumática”.

**apego caótico

C - Tept C - Tept
Os sinais de alerta de CPTSD são semelhantes aos de PTSD, mas • Comprometimento grave e generalizado na regulação emocional
também incluem: • Crenças sobre si mesmo relacionadas a desvalor
• Sentimentos de culpa, vergonha ou de ter falhado em relação ao
• Sentimentos intensos de desconfiança evento traumático
• Sentimentos frequentes de desespero e desamparado • Dificuldades persistentes ao sustentar relações
• Dificuldade em controlar todas as emoções • Prejuízos significativos na vida pessoal, familiar, social e
• Sentimentos de não pertencimento ocupacional
• Dificuldade na criação de vínculos • Dissociação
• Sintomas de dissociação
• Pensamentos suicidas

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(Outros)
Impactos da(s)
Violência(s)

Impactos nas crianças Impactos nas crianças


• 66% dos casos de violência doméstica contra a mulher foram Crianças em cuja família ocorre violência têm:
presenciados pelos filhos (IBGE, 2012);
• probabilidade aumentada (2-4x) de serem vítimas de maus-tratos, quando
• 43% dos entrevistados (N= 2.046; 16 a 24 anos) já presenciaram a mãe ser comparadas com crianças cujas famílias não vivenciam esse fenômeno;
agredida verbal, moral, física e psicologicamente (Avon & Data Popular, • maior probabilidade de apresentarem problemas de comportamentos;
2014); • sintomas de transtorno de estresse pós-traumáticos;
• aumento de problemas no relacionamento com pares;
• 64% dos homens entrevistados presenciaram agressões contra a mãe e • piora de desempenho em atividades de memória explícita em crianças
admitiram, de modo estimulado, ter praticado alguma forma de violência pré-escolares.
contra a parceira (Avon & Data Popular, 2014);

Impactos nas crianças Impactos nas crianças


Fatores moderadores desses sintomas: Em razão da exposição à violência conjugal:

• qualidade da maternagem; • Comprometimento da qualidade da habilidade de ambos os pais em lidar


• gravidade da violência conjugal ocorrida. com as necessidades da criança em ambientes domésticos;

Mães que vivenciam agressões físicas e psicológicas do parceiro muitas • Risco aumentado de perpetração de maus-tratos quando comparadas
vezes não estão em condições de estabelecer um relacionamento com mães que não apresentaram esse histórico.
adequado com os filhos.

• Maior dificuldade no cuidado dos filhos, quando comparado as mães sem


esse histórico.

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Manejo da Violência e
do Trauma:
Intervenções Possíveis
E o que fazer com tudo isso?

Importante Acolhimento
1. Reconhecimento de que a vivência do outro é legítima e singular.
Falar de violência doméstica contra 2. Faz parte de todos os encontros do serviço.
a mulher implica, portanto, a 3. Não tem local nem hora certa para acontecer, nem profissional
consideração de que a ação violenta
específico para fazê-lo.
não recai apenas sobre a vítima
4. Envolve uma postura ética que implica na escuta do sujeito.
direta, mas interfere em toda a
dinâmica de vida daqueles em seu 5. Envolve o reconhecimento do protagonismo do sujeito na
entorno. resolução do problema.
6. Envolve a ativação das redes de compartilhamento de saberes.
RESPONSABILIDADE FEMININA?
CULPA MATERNA?

NÃO!

Fundamentos do Acolhimento Fundamentos do Acolhimento


• Postura • Sigilo
• Gentileza • Privacidade
• Olhar • Escuta empática e interessada
• Tom de voz • Consideração das necessidades e preocupações
• Disponibilidade • Validação da experiência do outro (compreender e acreditar)
• Respeito ao tempo e ao silêncio • Apoio através de informação, cuidado à saúde e segurança
• Validação da experiência • Autonomia e protagonismo
• Não julgamento • Treinamento e supervisão constantes - trabalho com a
• Encaminhamento própria emoção diante da violência e sentimentos (medo;
raiva; vingança)

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Cuidar de Quem Cuida Importante Considerar


• Motivação para trabalhar com o tema
• História pessoal
• Condição atual (saúde física e mental)
• A raiva do agressor
• O sentimento de frustração pela "estagnação"
• Frustração pelo “não engajamento” da paciente
• Cansaço (“histórias repetidas”)

Trauma vicário Autocuidado


• Condição psicossomática causada em pessoas que lidam/se
deparam com vítimas de traumas. Supervisão
• É o stress resultante de ajudar ou querer ajudar
um traumatizado ou pessoa em sofrimento (Figley, 1995). Terapia
Encaminhamento
• Também conhecido por “fadiga da compaixão”.

Arielle Sagrillo Scarpati


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Extras:
https://avongroup.vteximg.com.br/arquivos/violencia-domestica.pdf?v=637075242042800000
http://www.memoriasocial.pro.br/documentos/Teses/Tese23.pdf
https://www.scielo.br/pdf/psoc/v30/1807-0310-psoc-30-e179670.pdf
http://www.scielo.mec.pt/pdf/aeq/n18/n18a07.pdf
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