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Perícia sobre a personalidade

1-Introdução à Perícia à Personalidade: O que é uma perícia à personalidade e por


que é relevante no contexto do Direito Penal. Explicar o papel da perícia na
avaliação do estado mental e emocional de um arguido

A estreita relação entre a psicologia e o direito baseia-se no facto de a psicologia visar a


compreensão do comportamento humano, enquanto o direito procura definir o conjunto
de regras que procura regular esse comportamento, prescrevendo condutas e
comportamentos de acordo com os quais se deve plasmar o contrato social em que se
sustenta a vida em sociedade (Arce te al. 1994). reescrever!

O CPP não apresenta uma definição concreta do que seja perícia, mas acaba por se
definir como um meio de prova, que permite percecionar e/ou apreciar factos, tendo
como condição de recurso a necessidade de um especial conhecimento técnico,
científico ou artístico, na definição do art. 151.º”

Existem diversos tipos de perícias, dentro das quais se encontram as perícias em geral
(art. 152.º), as perícias médico-legais (art. 159.º, n.º 1), nas quais se integram as perícias
psiquiátricas (art. 159.º, n.º 2) e as perícias sobre a personalidade (art. 160.º, n.º 2), às
quais iremos dar mais ênfase no decorrer do trabalho.

Dentro das perícias médico-legais, destacamos as perícias psiquiátricas, que têm como
objetivo a avaliação psicopatológica, avaliando questões como a inimputabilidade e
perigosidade em virtude de anomalia psíquica e, se o agente, à data dos factos, era capaz
de avaliar a ilicitude dos mesmos. (por definição).
No entanto, sem presença de anomalias psíquicas, destaca-se a necessidade de avaliação
da personalidade e da perigosidade do arguido que supõe, entre outros parâmetros de
análise, uma tomada de posição sobre o seu grau de socialização e, esta avaliação será
por meio da perícia à personalidade, que tem como objetivo “descodificar um ato,
situado num contexto sociocultural e civilizacional e numa história de vida”(Silva,
1993, p.30), ou seja, perceber as motivações para a alegada conduta com base na
compreensão do funcionamento do sujeito, avaliando as suas intenções, capacidade de
controlo face às situações, características psíquicas independentes de causas
patológicas, o seu grau de socialização e a sua interiorização de normas sociais e valores
da cultura onde se insere (Doron & Parot, 2001).
A perícia sobre a personalidade, constitui um instrumento de natureza psico-sócio-
jurídica, uma vez que, “o conhecimento da personalidade do arguido passou a ser,
assim, um dos vetores indispensáveis à aplicação do sistema penal, quer para a
criminalização, quer quanto à graduação das penas, quer quanto à definição dos índices
de perigosidade do agente” (Barreiros, 1992, p.52 citado por Agulhas, & Anciães, 2015,
p.41). “

Esta perícia está prevista e regulada no artigo 160º do Código Penal de 1987 devido às
alterações do Código Penal de 1982, onde se passa a ter interesse pela personalidade do
infrator para a medida de aplicação da pena e do seu cumprimento (Gonçalves, 1998,
citado por Rua ,nd,). , “1 - Para efeito de avaliação da personalidade e da
perigosidade do arguido pode haver lugar a perícia sobre as suas características
psíquicas independentes de causas patológicas, bem como sobre o seu grau de
socialização. A perícia pode relevar, nomeadamente para a decisão sobre a
revogação da prisão preventiva, a culpa do agente e a determinação da sanção. 2 - A
perícia deve ser deferida a serviços especializados, incluindo os serviços de
reinserção social, ou, quando isso não for possível ou conveniente, a especialistas em
criminologia, em psicologia, em sociologia ou em psiquiatria. 3 - Os peritos podem
requerer informações sobre os antecedentes criminais do arguido, se delas tiverem
necessidade.”

Deste modo, os testes projetivos constituem-se como um método bastante apropriado


para se obter dados a respeito das características de personalidade de um periciando,
pois as possibilidades de simulação ou dissimulação de características apresentam-se
mais reduzidas quando comparadas às entrevistas ou aos testes de personalidades
objetivos. Serão as coerências ou incoerências entre os fatos relatados nos autos do
processo, nas entrevistas, no comportamento não verbal do examinando e nos resultados
dos testes psicológicos que nortearão o psicólogo na análise de questões relacionadas à
simulação ou dissimulação.

2-Teorias e Abordagens da Avaliação de Personalidade: Apresentar diferentes


teorias e métodos usados na avaliação da personalidade, como a psicologia forense,
a psiquiatria forense e a criminologia. Explorar as diferenças entre abordagens
qualitativas e quantitativas.

A personalidade é definida como uma combinação complexa de traços psicológicos


enraizados, contendo dimensões não conscientes, que se manifestam em muitos
aspectos da vida do indivíduo (Millon & Davis, 1996) . E, de acordo com o DSM-5 os
traços de personalidade são conceptualizados como padrões de perceção,
relacionamento e pensamento acerca do ambiente e de si mesmo, como resultado de um
conjunto de disposições biológicas adquiridas (Millon & Davis, 1996). Apenas quando
estes traços se revelam inflexíveis e desadaptativos, causando um prejuízo funcional
significativo, é que devem ser considerados como perturbações de personalidade.
Milton e Everly (1994) consideram que as perturbações de personalidade emergem dos
padrões de personalidade normal e são o resultado de interações complexas de
disposições biológicas, aprendizagens desadaptativas e mudanças ambientais
estressantes, dessa forma as perturbações da personalidade não são consideradas
doenças mentais, em sentido estrito, mas sim anomalias do desenvolvimento
psicológico (Morana & Mendes-Filho, 2001).
As perturbações de personalidade diferenciam-se das perturbações mentais pela sua
natureza duradoura, com manifestações clínicas e comportamentais constantes.
Os critérios gerais de diagnóstico de perturbação de personalidade, segundo o DSM-5,
são:
A. Padrão duradouro de experiência interna e comportamento que se desvia
marcadamente das expectativas da cultura do indivíduo. Este padrão é
manifestado em duas( ou mais) das seguintes áreas: (a) cognição (formas de
perceção e interpretação de si próprio, dos outros e dos acontecimentos); (b)
afetividade (variedade, intensidade, labilidade e adequação da resposta
emocional); (c) funcionamento interpessoal, e (d) controlo dos impulsos.
B. O padrão duradouro é inflexível e global numa grande variedade de situações
pessoais e sociais.
C. O padrão origina sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo na vida
social, ocupacional ou noutras áreas importantes do funcionamento.
D. O padrão é estável, de longa duração e o seu começo ocorreu o mais tardar na
adolescência ou no início da idade adulta.
E. O padrão persistente não é melhor explicado como manifestação ou
consequência de outra perturbação mental.
F. O padrão não é devido aos efeitos fisiológicos diretos de uma substância (ex:
abuso de drogas, medicamentos) ou a um estado físico geral (ex: traumatismo
craniano)

3-Considerações Práticas: Falar sobre como as perícias à personalidade são


conduzidas na prática

-Função de Perito

O artigo 154 do CPP veio consagrar que a determinação da perícia ocorre por despacho
da autoridade judiciária, seja de forma oficiosa ou mediante solicitação formal. Esse
despacho inclui informações como a especificação do objeto da perícia, os
questionamentos que os peritos devem abordar e a identificação da entidade, laboratório
ou dos peritos designados para conduzir o exame. Assim e segundo o nº2 do mesmo
artigo, a autoridade judiciária tem de fornecer toda a informação necessária para a
realização da perícia, sendo que caso existam mudanças no decorrer do processo estas
devem ser transmitidas aos responsáveis. Desta forma, se o objeto de perícia for alvo de
dúvidas o perito deverá esclarecê-las junto da entidade solicitadora da perícia, não
devendo iniciar a avaliação sem que o esclarecimento seja feito (Agulhas & Anciães,
2015). pg

Tendo em vista a realização da perícia e segundo o artº 2 nº 1 da Lei nº45/2004, de 19


de agosto, estas são realizadas nas delegações e nos gabinetes médico-legais e forenses
do Instituto Nacional de Medicina Legal e Ciências Forenses, I. P. (INMLCF, I. P.), nos
termos dos respetivos estatutos, porém e segundo o nº2 do mesmo artigo nessa
impossibilidade podem ser realizadas por outras entidades, sejam elas públicas ou
privadas, desde que sejam contratadas ou indicadas para o efeito pelo INMLCF, I. P.

Assim a perícia é realizada por um perito designado para o tipo de perícia em questão,
tendo em conta a área territorial. Caso a delegação não apresente meios suficientes estes
exames serão deferidos, preferencialmente, para os serviços de Psiquiatria e Psicologia
que integram o Serviço Nacional de Saúde, tendo em consideração a área de residência
dos examinandos, estando isto previsto no artº 24 da mesma lei (Lei nº45/2004, de 19 de
agosto).

No exercício das suas funções os peritos têm autonomia técnico-científica, sendo


responsáveis pelas perícias, pareceres e relatórios por eles realizados. Para além disso
deverá respeitar as normas, modelos e metodologias periciais em vigor no INMLCF,
I.P, bem como as recomendações da uma supervisão técnico-científica, como consta no
artº 5 da Lei nº 45/2004, de 19 de agosto. Desta forma, segundo Magalhães, Corte-Real
& Vieira (2008), o perito está assim a cumprir o princípio da equidade. ver ref

 Processo de Avaliação
Segundo Simões (1999) citado por Agulha e Ansiães (2015), pg “avaliação da
personalidade é uma estratégia orientada para o estudo da pessoa como entidade
única”, ou seja, irão ser avaliadas características individuais e também características
compartilhadas pela maioria das pessoas.
No decorrer do processo avaliativo o perito tem acesso a vários tipos de informação,
porém aqui destaca-se a informação judicial, principalmente acerca da natureza do
crime praticado e todas as circunstâncias envolvidas . Esta consulta deve ser feita,
preferencialmente, antes do processo de avaliação, de forma a permitir uma melhor
compreensão do funcionamento do sujeito aquando da prática do alegado crime (Miller,
2013).

Relativamente às metodologias utilizadas destacam-se a entrevista clínico-forense, os


instrumentos de avaliação de cariz psicométrico e projetivo, a avaliação do risco e a
informação colateral (Agulhas & Anciães, 2015). De um ponto de vista ideográfico, a
entrevista clínico-forense fornece elementos importantes relativos à biografia do sujeito,
permitindo contextualizar todo o ocorrido (Simões, 1999), e a grande vantagem é o
facto de se conseguir fazer a distinção entre traços e estados (Echeburúa, 2003). Com a
entrevista o perito conseguirá ter uma imagem mais inclusiva do sujeito, uma vez que
tem acesso aos seus antecedentes, relações interpessoais, motivações, mecanismos de
defesa, entre outros. Segundo Agulha & Anciães (2015), as entrevistas devem ser feitas
de modo a que a pessoa perceba os atos praticados e a sua postura relativamente aos
mesmos.

Widiger & Samuel (2009), defendem que as entrevistas devem ser semi-estruturadas,
pois assim pode-se recolher e sistematizar informação, mas o indivíduo pode referir de
forma espontânea as suas motivações. Desta forma deve seguir guidelines específicas,
pois permitirá ao perito investigar acerca de temáticas que sejam relevantes para a
situação em questão.

A avaliação instrumental é uma forma de se ter acesso mais direto às características do


sujeito. Podem ser utilizados questionários e até mesmo técnicas projetivas, uma vez
que se revelam bastantes úteis para este tipo de avaliação (Miller, 2013, citado por
Agulhas & Anciães, 2015, pg 43). Dentro dos instrumentos destacam-se nesta área
forense: Psychopathy Checklist Revised (PCL-R), Psychopathy Checklist - Youth
Version (PLC:YV), que vão avaliar traços psicopáticos e a sua gravidade em adultos e
jovens, respetivamente. O Minnesota Multiphasic Personality Inventory (MMPI - II),
que vai avaliar a personalidade nos adultos, o Historical Clinical Risk Management-20
(HCR-20) e o Sexual Violence Risk-20 (SVR-20) (Agulhas & Anciães, 2015, pg 50),
são instrumentos que vão avaliar o risco de violência.
De realçar que o perito deve ter em conta que a pessoa pode simular as respostas tanto
dadas no momento da entrevista como dos testes, de forma a transmitir uma melhor
informação de si mesmo ou então de forma a ser mais aceite socialmente (Agulhas &
Anciães, 2015, p. 50).
Através das entrevistas colaterais (a familiares próximos ou amigos), o perito consegue
cruzar informação com aquela que lhe é dada pelo sujeito, assim permite-lhe criar uma
narração objetiva e que corresponde à realidade dos factos, uma vez que na narração das
histórias de vida é comum a existência de distorções, como anteriormente referido
(Miller, 2013, citado por Agulhas & Anciães, 2015, p. 50).

 Consultores e assessores técnicos


Após a ordem para a perícia, o Ministério Público, o arguido, o assistente, as partes
civis e também um consultor, caso seja possível, podem assistir à sua realização, tal
como está previsto no nº1 do artigo 155 do CPP. No número seguinte do mesmo artigo
é também permitido que o consultor possa propor a efetivação, observação e objeção de
certas providências, passando a constar do auto. Se a perícia já tiver ocorrido, o
consultor pode ter acesso ao relatório, excetuando situações em que a entidade judicial
defenda que isso possa afetar a finalidade do inquérito, como está consagrado no nº3 do
mesmo artigo (Agulhas & Anciães, 2015, p. 38).

Tem de ser realçado que os critérios presentes no artigo 155º do CPP, não são aplicáveis
às perícias efetuadas em delegações e gabinetes médico-legais do INMLCF, I.P., como
está previsto no artigo 3º da Lei nº45/2004, de 19 de agosto (Agulhas & Anciães, 2015,
p. 38).

O consultor técnico não apresenta um estatuto semelhante ao do perito, e as suas


observações ou pareceres não vão constituir um meio de prova. Este terá a função de,
num momento inicial, assistir à perícia podendo propor a realização de certas
diligências, porém caberá ao perito aceitá-las ou não. Posteriormente irá analisar a
análise ou parecer emitido, procurando por contradições, omissões ou erros técnicos
que considere relevantes. Como afirma Latas (2006) citado por Agulhas & Anciães
(2015), “a existência de estatutos diferentes entre perito e consultor técnico tem
implicações de uma maior relevância processual” (p. 39), isto porque o consultor
poderá ser ouvido como testemunha, o que leva a que o seu depoimento esteja sujeito à
livre apreciação da prova, o que não ocorre no caso do perito. No âmbito do processo
civil existe também a figura dos consultores, pelo que segundo o artigo 480º do CPC, os
elementos que podem assistir à perícia podem ser representadas por um consultor,
excetuando as situações em que possa estar em causa a quebra do sigilo ou quando
possa haver ofensa ao pudor. Desta forma, pode dizer-se que o consultor serve para
assegurar o contraditório (Agulhas & Anciães, 2015, p. 39), ou seja, irá ajudar quem o
contratou a questionar ou contestar os pareceres do perito da outra parte.

Existe também o assessor, que pode ser qualquer especialista numa dada área, que seja
nomeado pelo juiz para auxiliar na análise de certos casos ou na realização de atos
processuais, como por exemplo, inquirição de vítimas para memória futura (Agulhas &
Anciães, 2015, p. 39).

 Valor da perícia

É especialmente importante no âmbito penal, uma vez que o juízo técnico, científico ou
artístico da perícia, é considerado em relação à livre apreciação do julgador,
constituindo uma exceção ao princípio da livre apreciação da prova, que “implica,
contrariamente ao sistema de prova legal, que o juiz não se encontre sujeito a regras,
prévias e legalmente fixadas sobre o modo como devem valorar a prova, pelo que, por
exemplo, pode reputar mais convincentes as declarações do arguido ou o depoimento de
uma única testemunha que todos os restantes depoimentos” (Latas, 2006, citado por
Agulhas, & Anciães, 2015, p.34).
Atualmente, prevalece a compreensão de que diante de um parecer cientificamente
comprovado, em conformidade com as exigências legais, o tribunal desfruta de total
liberdade para analisar a base fática em questão. No entanto, essa avaliação também
deve ser conduzida de maneira científica, o que pode implicar a necessidade de uma
nova perícia para fundamentar a discordância manifestada pelo juiz. Sempre que houver
incertezas em relação ao parecer pericial, mesmo após todos os esclarecimentos
fornecidos, se necessário, o tribunal deve ordenar a realização de uma segunda perícia.
A legislação reconhece a necessidade de confiar no julgamento técnico, científico ou
artístico dos peritos, presumindo que esses elementos estão fora da livre apreciação
subjetiva do julgador, como uma forma de assegurar a imparcialidade e a expertise
técnica na avaliação das provas , nesse sentido, a credibilidade do que o perito afirma
em seu relatório pericial é determinante. (encontrar ref)

Sublinha-se, porém, que, apesar do valor das perícias, o juiz é o perito dos peritos, o
perito peritorum, tendo margem para se desvincular, fundadamente, das conclusões
periciais, atenta a sua visão holística e prudente do processo com vista à boa decisão da
causa.

Por fim, não deverá o advogado ou advogada, em momento algum, conscientemente,


fornecer ao perito informação falsa ou suscetível de o induzir em erro, isto sob a égide
das disposições do Código de Deontologia dos Advogados Europeus, objeto da
Deliberação n.º 2511/2007, da Ordem dos Advogados.

 Relatório Pericial (esclarecimentos e nova perícia)


Após o fim da perícia e, segundo o nº 1 do artigo 157º do CPP, é feito um relatório no
qual o perito descreve as conclusões a que chegou. Este pode ser chamado para
esclarecimentos adicionais quando as suas conclusões não se encontram fundamentadas
ou então existem contradições ou erros, quer por quem requereu a perícia mas também
pelas outras entidades envolvidas no processo. Quando são notificados a prestar
esclarecimentos, os peritos não deverão ser testemunhas uma vez que não têm
conhecimentos diretos relativamente dos factos que são objetivo de perícia (nº1 do
artigo 128º do CPP), mas também porque se encontram impedidos de o fazer em relação
às perícias por eles realizadas, como está previsto no nº1, alínea d) do artigo 133º do
CPP.

Caso os peritos exerçam funções em laboratórios, estabelecimentos ou serviços oficiais,


estes podem ser ouvidos através de teleconferência (nº3 do artigo 350º do CPP).
Quando se prestam esclarecimentos adicionais, caso estes sejam importantes, permite a
concretização do princípio do contraditório, que está previsto no nº5 do artigo 32º da
CRP. Tendo em conta o nº1 do artigo 350º do CPP, as declarações são presididas pelo
juiz, mas qualquer uma das partes pode sugerir questões ou pedir esclarecimentos.
Em caso de necessidade, a autoridade judiciária pode sugerir uma nova perícia,
elaborada por um outro perito, como é consagrado no artigo 158º do CPP.

No entanto, é importante frisar que, se o responsável pela perícia à personalidade


suspeitar de alguma anomalia psíquica, pode informar o tribunal de modo a ser
requerida uma perícia psiquiátrica complementar/ se detetar alguma anomalia psíquica
deve avaliá-la e, caso necessário, requerer uma perícia psiquiátrica complementar.

Quanto à elaboração do relatório pericial, os peritos fundamentam as respostas e as


suas conclusões, podendo ser-lhes pedidos esclarecimentos, pela autoridade judiciária,
por exemplo(Oliveira, 2016)e, além disso poderão também determinar a realização de
uma nova perícia, que visa avaliar uma componente diferente ou uma perícia com a
mesma componente avaliativa, (perícia renovada), caso se revele necessário para a
descoberta da verdade material (Rua, 2006), conforme regulado no artigo 158º.

4-Problemas Éticos e Controvérsias: Abordar questões éticas relacionadas à


realização de perícias à personalidade, como o consentimento do acusado, a
confidencialidade e a imparcialidade do perito. já falei da confidencialidade na
parte do perito

A avaliação psicológica é uma tarefa profissional própria da Psicologia, mas que nos
últimos anos tem sido cada vez mais requisitada para fins forenses. No entanto, a
relação profissional que se estabelece não se baseia numa relação terapêutica, na
avaliação psicológica forense são o tribunal e o sistema judicial os “sujeitos” a ser
acompanhados (Machado & Gonçalves, 2005; Mezquita, 2005; Shapiro, 1999), dessa
forma espera-se uma atitude mais imparcial e objetiva (Cordeiro, 2008; Fonseca, 2006;
Heltzel, 2007).
Sendo uma resposta a um pedido feito pelo sistema judicial, a avaliação psicológica
feita ao sujeito, e as suas implicações, são para uso do sistema judicial, ou seja, não só
os resultados da avaliação não são confidenciais como o psicólogo forense não terá
possibilidades de os reformular, tornando-se, deste modo, num juízo definitivo sobre o
qual poderá ter que prestar esclarecimentos (Machado & Gonçalves, 2005). Além disso,
o psicólogo forense não pode assumir, a priori a veracidade de qualquer informação,
devendo incluir na sua avaliação múltiplas fontes de informação e utilizar diversos
métodos, de modo e encontrar “a verdade histórica dos factos” (Greenberg & Shuman,
1997; Greenberg & Shuman, 2007).
Segundo Agulhas & Anciães (2015) pg o desenvolvimento da perícia deve decorrer com
zelo e respeitando os deveres éticos e deontológicos que regem o estatuto e a profissão,
sendo este desempenho feito por meio de um compromisso de honra perante a
autoridade que é competente. Caso o perito não atue tendo isso em vista ele poderá ser
destituído e substituído e poderá ter de pagar uma multa, tal como consta no nº 3 e nº4
do artigo 153º do CPP, e no artº 469º do CPC. Uma situação mais gravosa diz respeito
ao depoimento ou apresentação de um relatório falso, onde o perito pode ser punido
criminalmente com pena de prisão de 6 meses a 3 anos ou com pena de multa não
inferior 60 dias, sendo estas situação mais agravadas após o depoimento ter sido
prestado, sendo consagrado no artº 360º do CP.

Um outro aspeto que deve ser tido em conta prende-se com a confidencialidade, onde o
perito deverá salvaguardar os factos que não apresentem qualquer relação com o objeto
de perícia e que não sejam essenciais à avaliação, sendo ele um interveniente direto num
processo penal, tal como nos indica o artº 86º do CPP. Desta forma, o perito pode pedir
a escusa quando as condições indispensáveis para a realização da perícia não estejam
reunidas, podendo ser de cariz pessoal ou profissional, podendo esta ser recusada (artº
153º nº2 do CPP e artigo 470º do CPC). O psicólogo também deve seguir o princípio da
intervenção mínima, tentando obter apenas a informação essencial conforme os
objetivos da avaliação (Agulhas, 2012b).

Segundo o artigo 2 da lei 45/2004 de 19 de Agosto, lei estipula que ninguém se pode
eximir de ser submetido a um exame médico-legal quando este se mostrar necessário ao
inquérito ou instrução de qualquer processo, sendo requerido pelas entidades
competentes.
É necessário, no início da avaliação o examinando prestar consentimento informado
(Knapp & VandeCreek, 2001), que também poderá ser verbal, como estipulado no
artigo 38 do CP. Caso o examinando for menor de idade, o consentimento deverá ser
dado pelo seu representante legal.
O processo de consentimento informado e esclarecido é essencial para estabelecer um
clima de confiança e, dessa forma, excluir uma postura resistente por parte do
examinando, diminuir a sua probabilidade em simular ou manipular respostas,
encorajando a sua adesão ao processo, uma vez que está informado sobre tudo o que vai
ser avaliado.

Mesmo com a aprovação de um despacho judicial, a execução coerciva dessas perícias


não é permitida. Esse argumento fundamenta-se na clareza da lei, especialmente no
artigo 156.º, parágrafo 4, que proíbe atividades que possam colocar em risco a saúde da
pessoa sujeita à perícia.

É importante destacar que, a perícia sobre a personalidade é obrigatória quando se prevê


a possibilidade de aplicação de uma medida de internamento em regime fechado e deve
ser apresentada no prazo máximo de 60 dias. (desenvolver)?

5-Relação entre Perícia à Personalidade e Responsabilidade Penal (- Mudar para


processo penal?)

As perícias à personalidade são importantes para avaliação da capacidade de


autodeterminação, que se supõe preservada nas perturbações de personalidade, uma vez
que não existem perturbações cognitivas significativas (Checa, 2010), e, da
perigosidade do agente. A perigosidade é um conceito jurídico que se refere à
probabilidade de repetição de factos típicos graves.
Sobre a capacidade de autodeterminação, Checa (2010), afirma que a impulsividade é
um traço/característica nas perturbações de personalidade e não deve ser confundida
com uma perturbação do controlo dos impulsos (Morana & Mendes-Filho, 2001), onde
impulsividade é um sintoma em si, caracterizador da perturbação. Assim sendo, em
graves perturbações da personalidade, em que a impulsividade leva a um défice no
controlo dos impulsos, a capacidade de autodeterminação para o acto praticado pode ser
posta em causa, dependendo do nexo de causalidade entre a perturbação e o delito
(Almeida, 2000).
Os agentes semi-imputáveis ou de imputabilidade reduzida ou diminuída são aqueles
que não têm a plenitude da capacidade intelectiva (capacidade de compreender a
ilicitude do fato) e volitiva ou determinação da vontade.
Por outro lado, podemos verificar que a inimputabilidade aproxima-se da semi –
imputabilidade, ambas afetam a capacidade de autodeterminação, no entanto, as suas
diferenças consistem na completa incapacidade de autodeterminação, enquanto, que, na
semi-imputabilidade, a capacidade de autodeterminação encontra-se apenas diminuída.
A expressão “imputabilidade diminuída”, não indica ausência de responsabilidade
penal, o agente é penalmente responsável, no entanto, pode ser aplicada uma pena
reduzida ou medida de segurança, conforme a necessidade do agente (Constantino,
2006).

No direito processual penal, o relatório social é definido como "informação sobre a


inserção familiar e sócio-profissional do arguido e, eventualmente, da vítima, elaborada
pelos serviços de reinserção social, como objectivo de auxiliar o tribunal ou o juiz no
conhecimento da personalidade do arguido"; e a informação dos serviços de reinserção
social como "resposta a solicitações concretas sobre a situação pessoal, familiar,
escolar, laboral ou social do arguido e, eventualmente, da vítima" . Relevam,
nomeadamente, para efeitos de manutenção, substituição ou revogação da prisão
preventiva ou da obrigação de permanência na habitação , de utilização da vigilância
electrónica e de determinação da sanção em caso de condenação. Os relatórios e
inquéritos sociais, embora exijam conhecimentos técnicos específicos para a sua
elaboração e constituam um meio de recolha de informação relevante, levado a cabo
através de métodos próprios, não integram o conceito de prova pericial.

O relatório social com avaliação psicológica pode ser solicitado pelo Ministério Público,
na fase de inquérito, ou pelo Juiz na fase jurisdicional previamente à tomada de decisão
judiciária, sendo obrigatório quando se prevê a possibilidade de aplicação de uma
medida tutelar de internamento em regime aberto ou semiaberto e, deverá ser
apresentado no prazo máximo de 30 dias.

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