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APOSTILA ESPECÍFICA

PSICOLOGIA
TRIBUNAL DE
JUSTIÇA/MG - 2010

- REPRODUÇÃO PROIBIDA –
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ÍNDICE:

1. Diagnóstico psicológico: conceituação e objetivos; tipos de processo diagnóstico;


avaliação psicológica; entrevista psicológica; elaboração de laudos. Página 04
2. Aconselhamento psicológico: métodos e técnicas. Página 45
3. Técnicas de intervenção psicológica: psicoterapia breve e emergencial; as entrevistas
preliminares e seus efeitos imediatos. Página 49
4. Psicopatologia: semiologia e nosologia dos transtornos mentais. Página 59
5. A criança e o adolescente: desenvolvimento emocional e social. Página 95
6. Meninos e meninas com trajetória de rua: características contemporâneas do fenômeno
e de sua abordagem. Página 115
7. Crianças sob risco pessoal e social: violência familiar, abuso sexual, abrigamento e
adoção. Página 117
8. Adolescência e criminalidade: ato infracional e medidas socioeducativas; tráfico de
drogas e projetos de intervenção; adolescência e rede de saúde. Página 128
9. Família: família e desenvolvimento da personalidade; as transformações modernas e
contemporâneas da família. Página 154
10. Teorias psicológicas e abordagem clínica da família: teoria sistêmica e teoria
psicanalítica. Página 158
11. A família no discurso jurídico: tipos de processo; perícia; orientação,
acompanhamento e intervenção nos conflitos. Página 180
12. Violência doméstica. Página 194
13. Paciente portador de sofrimento psíquico e a Justiça: Interdição civil; psicopatologia e
criminalidade; os princípios da luta anti-manicomial e o acompanhamento dos pacientes
em medida de segurança. Página 194
14. O psicólogo judicial e a Execução Penal. Página 209
15. Mediação e conciliação: técnicas e objetivos. Página 217
16. Psicologia e Justiça: compromisso social, ética e direitos humanos. Página 219
17. ANEXOS: LEGISLAÇÃO. Página 231
1. Lei Federal nº 2.848, de 07 de dezembro de 1940 (Código Penal) Título V - Seção I e
Seção II do Capítulo I, Capítulo IV e Capítulo V.

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2. Lei Federal nº 5.869 de 11 de janeiro de 1973 (Código do Processo Civil) Título VIII,
Capítulo I, Capítulo II e Seção VII do Capítulo VI.
3. Lei Federal nº 7.210 de 11 de julho de 1984 (Execução Criminal) especialmente o Título
II e o Título IV.
4. Lei Federal nº 8.069 de 13 de julho de 1990 (Estatuto da Criança e do Adolescente).
5. Lei Federal nº 9.099 de 26 de setembro de 1995 (Juizados Especiais) especialmente o
Capítulo III.
6. Lei Federal nº 10.406 de 10 de janeiro de 2002 (Código Civil) Livro IV, Título I, Título III
e Título IV.
7.Lei Federal nº 10.741 de 1º de outubro de 2003 (Estatuto do Idoso).

18. Referências Bibliográficas. Página 396

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1. Diagnóstico psicológico: conceituação e objetivos; tipos de processo
diagnóstico; avaliação psicológica; entrevista psicológica; elaboração de laudos.
Definição e Caracterização:
De acordo com o Dicionário Aurélio (1999), Avaliação refere-se à: “sf. 1. Ato ou
efeito de avaliar (-se). 2. Apreciação, análise. 3. Valor determinado pelos avaliadores”. O
termo avaliação é abrangente e nos remete a diferentes conceitos, desta forma, para o
Conselho Federal de Psicologia a Avaliação Psicológica, é um processo técnico e
científico realizado com pessoas ou grupos de pessoas que, de acordo com cada área do
conhecimento, requer metodologias específicas. Suas estratégias aplicam-se a diversas
abordagens e recursos disponíveis para o processo de avaliação (CUNHA, 2000). Ela é
dinâmica e constitui-se em fonte de informações de caráter explicativo sobre os
fenômenos psicológicos, com a finalidade de subsidiar os trabalhos nos diferentes
campos de atuação do psicólogo. Trata-se de um estudo que requer um planejamento
prévio e cuidadoso, de acordo com a demanda e os fins aos quais a avaliação destina-se.
Avaliação Psicológica para Alchieri e Noronha (2004) é:
“um exame de caráter compreensivo efetuado para responder
questões específicas quanto ao funcionamento psíquico adaptado ou
não de uma pessoa durante um período específico de tempo ou para
predizer o funcionamento psicológico da pessoa no futuro. A
avaliação deve fornecer informações cientificamente fundamentadas
tais que orientem, sugiram, sustentem o processo de tomada de
decisão em algum contexto específico no qual a decisão precisa levar
em consideração informações sobre o funcionamento psicológico” (p.
44).

Segundo Cunha (2000), o conceito de avaliação psicológica é muito amplo,


englobando em si o psicodiagnóstico. Este seria uma avaliação psicológica de finalidade
clínica, e não abarcaria todos os modelos possíveis de avaliação psicológica.
Para a autora, o psicodiagnóstico é definido como “um processo científico, limitado
no tempo, que utiliza técnicas e testes psicológicos, em nível individual ou não, seja para
entender problemas à luz de pressupostos teóricos, identificar e avaliar aspectos
específicos, seja para classificar o caso e prever seu curso possível, comunicando os

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resultados, na base dos quais são propostas soluções, se for o caso”. Visa, assim,
identificar forças e fraquezas no funcionamento psicológico (CUNHA, 2000).
A fim de caracterizar este processo, tem-se que o mesmo se dá em uma situação
bipessoal, com papéis bastante definidos e com um contrato, havendo uma pessoa que
pede ajuda (paciente) e uma que recebe o pedido e se compromete em solucioná-lo, na
medida do possível, o psicólogo. Sua duração é limitada e seu objetivo é conseguir,
através de técnicas, investigar, descrever e compreender, de forma mais completa
possível, a personalidade total do paciente ou grupo familiar, abrangendo aspectos
passados, presentes e futuros desta personalidade (OCAMPO & ARZENO, 2001).
Mostra-se assim, como um processo científico, uma vez que parte do
levantamento prévio de hipóteses que serão confirmadas ou refutadas por meio de um
plano de avaliação, com passos e técnicas predeterminadas e objetivos específicos
(CUNHA, 2000).
Com os dados obtidos, faz-se uma inter-relação destes com as informações
obtidas a partir das hipóteses iniciais, e uma seleção e integração com os objetivos do
psicodiagnóstico, assim, os resultados são comunicados, a quem de direito,
determinando-se quais dados devem ser apresentados para que seja possível a oferta de
subsídios para recomendações e/ou decisões (CUNHA, 2000).
É importante ainda salientar a qual público o psicólogo que realiza
psicodiagnóstico atende. Este, geralmente, é formado por profissionais médicos
(psiquiatras, pediatras, neurologistas, etc.), advogados, juízes e pela comunidade escolar,
que encaminham seus clientes. Há também, mas com menor freqüência, casos de
procura espontânea do paciente ou familiar, principalmente quando recomendado por
amigo ou outro membro da família (CUNHA, 200).
O profissional psicólogo deve, por fim, atentar-se para a finalidade da investigação,
para que as necessidades da fonte de solicitação sejam atendidas e seu trabalho tenha o
impacto e crédito merecidos. Para tanto, ao se observar a dificuldade que o solicitante do
encaminhamento pode apresentar ao requerer uma avaliação psicológica, é de sua
responsabilidade encontrar meios de manter contato e uma boa comunicação com os
diferentes profissionais com quem trabalha, para conhecer melhor suas necessidades e, o

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mais importante, esclarecer e determinar, em conjunto, o que se espera dele (CUNHA,
2000).
Breve Histórico:
“Ao longo da história, por um lado temos que o papel do psicólogo foi se
estabelecendo a partir do uso dos testes psicológicos, como um psicometrista ou um
avaliador da inteligência, da personalidade, criando um espaço ou um mercado de
trabalho próprio, tentando desvincular-se do modelo médico, mas, com o passar do
tempo, o psicólogo clínico vai-se influenciando e aproximando-se do modelo do
psicanalista (e/ou psicoterapeuta), chegando a “negar” aquilo que é sua constituição, ou
seja, utilizar os testes psicológicos na sua pratica clínica, principalmente no diagnóstico
clínico”. Este texto é de autoria de Isabel Cristina Gomes, Profa. Dra. da USP. Para dar
continuidade e maior esclarecimento ao assunto, a seguir um breve histórico dos
momentos mais marcantes da avaliação psicológica e consequentemente do
psicodiagnóstico.
A história da avaliação psicológica começou no fim do século XIX e início do
século XX e está muito ligada ao surgimento da Psicologia Experimental no séc. XIX.
A fundação do primeiro laboratório de Psicologia Experimental pelo psicólogo
alemão Wundt, em 1879, marcou o início das experiências científicas, visando
principalmente investigar as sensações auditivas e visuais, a psicofísica, tempos de
reação e outros. Época que marcou o início do uso de testes psicológicos, e propiciou a
imagem de “aplicador de testes” que muitos têm do profissional psicólogo.
Segundo Cunha (2000), o psicodiagnóstico derivou da psicologia clínica, em 1896,
introduzida por Lighter Witmer, sob a tradição da psicologia acadêmica e da tradição
médica. Esta última teria efeitos marcantes na identidade profissional do psicólogo clínico.
Ao final deste século e início do seguinte, a psicologia sofreu influência da
Biologia, com os trabalhos realizados por Galton, na década de 1880, que tentou aplicar
os princípios do evolucionismo de Darwin à seleção, adaptação e ao estudo do ser
humano. Galton elaborou alguns testes a fim de identificar diferenças individuais e
determinar o grau de semelhança entre parentes em um estudo sobre hereditariedade e
genialidade (CUNHA, 2000; GEOCITES, 2008).

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Influenciado por Galton, Cattel (psicólogo americano) fez seus estudos dando
ênfase às medidas sensoriais, afirmando que elas permitiam uma maior exatidão.
Elaborou também uma tese sobre diferenças no Tempo de Reação, que consistia em
registrar os minutos decorridos entre a apresentação de um estímulo ou ordem para
começar a tarefa, e a primeira resposta emitida pelo examinando. E desenvolveu medidas
das diferenças individuais, o que resultou na criação da terminologia Mental Test (teste
mental) (PASQUALLI, 2001 apud SILVA, 2008).
Stern, em 1900, estudava as diferenças raciais, culturais, sociais, profissionais,
etc, e incluiu nestes o conceito de “quociente intelectual” (Q.I.), sendo conhecido como
seu idealizador (GEOCITES, 2008).
O primeiro a fazer realmente testes de nível mental foi A. Binet, que fazia várias
críticas aos testes utilizados até então, por acreditar que as medidas exclusivamente
sensoriais, apesar de permitirem maior precisão, não tinham relação importante com as
funções intelectuais (SILVA, 2008).
Binet tinha seus interesses voltados para avaliação das aptidões mais nas áreas
acadêmica e da saúde. Em 1905, ele e Simon desenvolveram o primeiro teste
psicológico, com o objetivo de avaliar e detectar, através de medidas intelectuais como
julgamento, compreensão e raciocínio, o nível de inteligência ou retardo mental de adultos
e crianças das escolas de Paris. Estes testes de conteúdo cognitivo foram bem aceitos,
principalmente nos EUA, a partir da sua tradução por Terman (1916), nascendo, assim, a
era dos testes com base no Q.I. ( CUNHA, 2000; SILVA, 2008).
A tradição em psicometria passou a ser melhor sedimentada então pelas escalas
de Binet, os quais foram aperfeiçoados por Terman, e pela criação dos testes do exército
americano (CUNHA, 2000 e geocites).
Os primeiros testes de inteligência em forma coletiva surgiram por ocasião da
Primeira Guerra Mundial, em 1914. Eles foram elaborados para classificar
intelectualmente soldados do exército norte-americano, e receberam os nomes de “Army
Alpha” e “Army Beta” (CUNHA, 2000 e geocites).
Deste modo, tem-se que os testes psicológicos surgiram a partir de diferentes
fatores, porém, alguns merecem destaque: a necessidade de identificação de deficientes

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mentais; os problemas de aprendizagem; a seleção rápida e eficiente de contingente para
as forças armadas; seleção e classificação de empregados; e a adoção de crianças
(GEOCITES, 2008).
No Brasil, em 1924, na Bahia, foi realizada por Isaias Alvez a adaptação da escala
Binet-Simon, sendo considerada um dos primeiros estudos de adaptação de instrumentos
psicométricos no país (NORONHA & ALCHIERI, 2005 apud SILVA, 2008).
Com a revolução e aperfeiçoamento de técnicas, surgiram diversos tipos de testes,
entre eles os de aptidão (criados para aconselhamento vocacional, seleção e
classificação de pessoal), os psicológicos (medida objetiva e padronizada sobre uma
amostra de comportamento) e os de Q.I. (com a finalidade de medir o quociente de
inteligência entre pessoas de uma mesma faixa etária) (GEOCITES, 2008). Atualmente, o
progresso na elaboração dos testes psicológicos tem sido constante, disponibilizando ao
profissional psicólogo cada vez um número maior de possibilidades a serem usadas.
É importante recordar que a contribuição da psicometria foi e é essencial para
garantir a cientificidade dos instrumentos do psicólogo, mas também, que existem
diferenças entre o psicometrista e o psicólogo clínico. O primeiro valoriza mais os
aspectos técnicos da testagem, já no psicodiagnóstico, o psicólogo utiliza testes e outras
estratégias para avaliar um sujeito de forma sistemática, científica e norteada para a
resolução de um problema, relacionando-os com o contexto total da pessoa (CUNHA,
2000).
Mesmo no período entre as duas grandes guerras, a classificação das doenças
mentais ainda pressupunha uma hierarquia, herança de um modelo médico, que
evidenciava alterações nas condições orgânicas, e quando isto ocorria, qualquer outro
diagnóstico era subjugado (CUNHA, 2000, SILVA, 2008).
É neste cenário que as obras de Freud e Kraepelin aparecem, e dão novo
significado às antigas classificações, desvendando as diferenças entre estados neuróticos
e psicóticos, dentre os transtornos classificados na época como funcionais (não-
orgânicos) (CUNHA, 2000).
Assim, segundo Cunha (2000), Freud representou o primeiro elo de uma corrente
de conteúdo dinâmico, seguido pelo surgimento de Jung, com seu teste de associação de

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palavras em 1906, e fornecendo forças para o lançamento posterior das técnicas
projetivas.
Começa o período áureo dos testes de personalidade e técnicas projetivas. Em
1921, é lançado o Rorschach, com grande sucesso, em seguida o TAT, e desde então a
multiplicação das técnicas projetivas.
Cunha (2000), fazendo referência a Groth-Marnat, (1999), aponta que isto ocorreu
devido a dois fatores: o primeiro seria o de que os testes até então consagrados, como os
utilizados na área militar e industrial, não mais atendiam as necessidades da população,
na avaliação de problemas da vida, como neuroses, etc; e o segundo, seria pela grande
valorização do entendimento dinâmico por parte da comunidade psiquiátrica.
Porém, logo em seguida, as técnicas projetivas entraram em um certo declínio, por
estarem muito associadas a uma perspectiva teórica (a psicanálise), por apresentarem
problemas metodológicos, e por dar certa ênfase à interpretação intuitiva (CUNHA, 2000).
Atualmente há uma busca por instrumentos mais objetivos e estruturados, por isto
o maior rigor na aprovação e validação dos testes, pela necessidade de manter
embasamento científico para oferecer respostas adequadas e compatíveis com outros
ramos da ciência, e em termos de questões diagnósticas. Porém, isto não significa que as
técnicas projetivas não tenham seu valor e não sejam utilizadas até hoje, somente aponta
para a necessidade de constantes reavaliações, para que haja um reconhecimento da
qualidade do proposto por um psicodiagnóstico (CUNHA, 2000).
Objetivos:
O principal objetivo do processo psicodiagnóstico é conseguir uma descrição e
compreensão da personalidade do paciente, de forma a explicar a dinâmica do caso como
aparece no material, integrando-o, posteriormente, num quadro global, sem esquecer-se
de incluir tanto aspectos patológicos quanto adaptativos. (OCAMPO & ARZENO, 2001).
É de suma importância que o psicólogo tenha ciência sobre qual a finalidade, ou
finalidades, do psicodiagnóstico a ser realizado, que depende do motivo do
encaminhamento. Isto confere ao profissional maiores condições de fazer escolhas mais
acertadas quanto às técnicas e materiais a serem utilizados (ARZENO, 1995) (CUNHA,
2000).

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Dentre os motivos que levam a este tipo de consulta tem que se distinguir
basicamente dois tipos: o motivo latente e o motivo manifesto. O primeiro, caracterizado
por ser o mais oculto, inconsciente, que às vezes nem o cliente tem muita certeza, e, o
último, o mais consciente, geralmente o motivo que aparece num primeiro momento,
quando o cliente é perguntado sobre o porquê da consulta (ARZENO, 1995).
Cunha (2000) aponta que existem um ou vários objetivos em um processo
psicodiagnóstico, e que os mais comuns seriam os seguintes:
• Classificação simples: quando há a comparação da amostra do
comportamento do examinado com os resultados obtidos por outros sujeitos de
uma população com condições semelhantes à dele (idade, escolaridade,
sexo); os dados são fornecidos de modo quantitativo, e são classificados de
maneira resumida e simplificada, como p.ex. em uma avaliação intelectual.
• Descrição: vai além da anterior, uma vez que interpreta diferenças de escores,
identifica potencialidades e fracassos, além de descrever o desempenho do
paciente, p.ex. avaliações de déficit neurológico.
• Classificação nosológica: as hipóteses iniciais são testadas tendo como
referência critérios diagnósticos. Uma avaliação com este objetivo pode ser
realizada em diferentes situações. Uma refere-se ao paciente não testável,
sendo assim, o profissional deverá fazer um julgamento clínico acerca da
presença ou não de sintomas significativos, para verificar através da
comparação com outros pacientes da mesma categoria diagnóstica o que este
tem em comum com ela. A outra situação é quando o paciente é passível de
teste, assim, a possibilidade da realização de um psicodiagnóstico se faz
possível, e as hipóteses iniciais podem ser testadas cientificamente, através da
bateria de testes – nesta situação não caberia somente conferir quais critérios
diagnósticos são preenchidos pelo paciente. A classificação nosológica auxilia
na comunicação entre profissionais e contribui para o levantamento de dados
epidemiológicos de uma comunidade.
• Diagnóstico diferencial: são investigadas irregularidades e inconsistências dos
resultados dos testes e/ou do quadro sintomático para diferenciar categorias

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nosológicas, níveis de funcionamento, alternativas diagnósticas ou natureza da
patologia. Para tanto, o psicólogo de ter um vasto conhecimento em
psicopatologia e sobre técnicas sofisticadas de diagnóstico.
• Avaliação compreensiva: considera o caso num sentido mais global. Tenta-se
determinar o nível de funcionamento da personalidade, examinam-se funções
do ego (insight) e condições do sistema de defesas para que a indicação
terapêutica e/ou a previsão das possíveis respostas aos mesmos possam ser
facilitadas. Não há uma necessidade explícita do uso de testes, porém estes
permitem evidências mais precisas e objetivas, que podem contribuir na
avaliação dos resultados terapêuticos, por um reteste futuro.
• Entendimento dinâmico: similar à avaliação compreensiva, uma vez que
enfoca a personalidade de modo global, mas a ultrapassa por pressupor um
nível mais elevado de inferência clínica, utilizando uma dimensão mais
aprofundada, na direção histórica do desenvolvimento, investigando conflitos,
psicodinamismos e chegando a uma compreensão do caso com base num
referencial teórico. Requer uma condução diferenciada das entrevistas e dos
materiais de testagem.
• Prevenção: propõe identificar problemas precocemente, avaliar riscos, estimar
forças e fraquezas do ego, de sua capacidade para enfrentar situações novas,
conflitivas, ansiogênicas ou difíceis. Geralmente utiliza-se recursos de triagem,
para atingir uma maior população em um menor número de tempo, mas
também é de grande utilidade numa avaliação individual, mais aprofundada.
• Prognóstico: pode avaliar condições que possam influenciar, de algum modo,
no curso de um caso. Ressalta-se que esta área ainda exige maior estudo para
aprimorar tanto a adequação da testagem utilizada, como sua coleta de dados
estatísticos.
• Perícia forense: contribui na resolução de questões relacionadas com
“insanidade”, competência para o exercício de funções de cidadão, avaliação
de incapacidade ou de comprometimentos psicopatológicos que possam se
associar com infrações de leis, etc. geralmente o psicólogo deve responder

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uma série de quesitos pra instruir em decisões importantíssimas do processo,
portanto, isto deve ser feito de forma clara, precisa e objetiva.
Etapas do processo:
Os passos do psicodiagnóstico não apresentam muitas diferenças de autor para
autor, aqui será utilizado um modelo baseado em Cunha (2000) e Arzeno (1995), sendo
que a única diferença entre estes está no fato de que Arzeno considera uma etapa
anterior às apresentadas a seguir, sendo esta referente ao momento em que o
consultante faz a solicitação de avaliação até o encontro com o profissional.
As etapas são as seguintes:
• 1º momento: realização da(s) primeira(s) entrevista(s) para levantamento e
esclarecimento dos motivos (manifesto e latente) da consulta, as ansiedades,
defesas, fantasias, e a construção da história do indivíduo e da família em
questão. Nesta etapa ocorre a definição das hipóteses iniciais e dos objetivos
do exame.
• 2º momento: reflexão sobre material coletado na etapa anterior e sobre as
hipóteses iniciais a fim de planejar e selecionar os instrumentos a serem
utilizados na avaliação. Em alguns casos se mostra de suma importância as
entrevistas incluindo os membros mais implicados na patologia do paciente
e/ou grupo familiar.
• 3º momento: realização da estratégia diagnóstica planejada. Ocorre o
levantamento quantitativo e qualitativo dos dados. É relevante salientar que
não deve haver um modelo rígido de psicodiagnóstico, uma vez que cada caso
é único, demonstrando necessidades únicas, sendo estas sanadas com
instrumentos próprios para elas.
• 4º momento: estudo do material coletado. Nesta etapa faz-se a integração dos
dados e informações, buscando recorrências e convergências dentro do
material, encontrar o significado de pontos obscuros, correlacionar os
instrumentos entre si e com as histórias obtidas no primeiro momento,
formulando inferências por estas relações tendo como ponto de partida as
hipóteses iniciais e os objetivos da avaliação.

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• 5º momento: entrevista de devolução. Nela ocorre a comunicação dos
resultados obtidos, as orientações a respeito do caso e o encerramento do
processo. Ela pode ocorrer somente uma vez, ou diversas vezes, uma vez
que, geralmente, faz-se uma devolutiva de forma separada para o paciente
(em primeiro lugar) e outra para os pais e o restante da família. Quando o
paciente é um grupo familiar, a devolutiva e as conclusões são transmitidas a
todos.
O psicólogo deve se lembrar de que o processo psicodiagnóstico não é agradável
para o paciente, portanto é importante ter bastante cuidado para não torná-lo
persecutório. Isto é possível quando o profissional explica como se dá o processo já num
primeiro encontro; evita que a(s) entrevista(s) inicial(is) se torne(m) um inquérito sem fim,
causando muita ansiedade; explicita em linguagem acessível e compreensível o que é
esperado do paciente em cada etapa do processo (principalmente quando são utilizados
testes); procura evitar que a entrevista de devolução seja uma mera transmissão de
conclusões, sem que haja a oportunidade do paciente ou familiares expressarem suas
reações, e sim, que neste momento, ocorra um espaço para que uma conversa se
instaure, para que possíveis dúvidas possam ser sanadas e encaminhamentos realizados
com maior esclarecimento.
Ao final do processo psicodiagnóstico, dependendo da fonte solicitante, é
necessário que o psicólogo forneça um documento contendo as observações e
conclusões a que chegou, o chamado laudo psicológico.
Trata-se de um parecer técnico que visa subsidiar o profissional a tomar decisões
e é um dos principais recursos para comunicar resultados de uma avaliação psicológica.
Seu objetivo é apresentar materialmente um resultado conclusivo de acordo com a
finalidade proposta de consulta, estudo ou prova e deve restringir as informações
fornecidas às estritamente necessárias à solicitação (objetivo da avaliação), com a
intenção de preservar a privacidade do paciente (SILVA, 2008).
NOTA: cada etapa do processo psicodiagnóstico está descrita de maneira mais
detalhada no capítulo 11 de Cunha (2000).
Plano de Avaliação e Bateria de Testes

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Relembrando que o processo psicodiagnóstico parte do levantamento prévio de
hipóteses que serão confirmadas ou refutadas por meio de um plano de avaliação, com
passos e técnicas predeterminadas e objetivos específicos, é importante explorarmos um
pouco o que seriam este plano de avaliação e as técnicas subjacentes a este.
Através do plano de avaliação, o qual se caracteriza por ser um processo, procura-
se identificar quais recursos auxiliariam o investigador (neste caso o psicólogo) a
estabelecer uma relação entre suas hipóteses iniciais e suas possíveis respostas
(CUNHA, 2000).
Um dos fatores que podem colaborar com a escolha do material mais adequado
para a investigação é o encaminhamento feito por outro profissional, uma vez que este
sugere um objetivo para o exame psicológico. Porém, esta informação não é suficiente, o
psicólogo deve complementá-la e confrontá-la com os dados objetivos e subjetivos do
caso. Por isto, na maioria das vezes, este plano só é estabelecido após entrevistas com o
sujeito e/ou responsável (CUNHA, 2000).
O plano de avaliação consiste então em traduzir as perguntas sugeridas
inicialmente em testes e técnicas, programando a administração de alguns instrumentos
que sejam adequados e especialmente selecionados para fornecer subsídios para se
chegar às respostas das perguntas iniciais. O que irá confirmar ou refutar as hipóteses de
modo mais seguro (CUNHA, 2000).
É importante ressaltar que a testagem de uma hipótese pode ser feita por
diferentes instrumentos, e que a opção por um específico deve levar em consideração os
seguintes itens: características demográficas do sujeito (idade, sexo, nível sociocultural,
etc.); suas condições específicas (comprometimentos sensoriais, motores, cognitivos –
permanentes ou temporários); fatores situacionais (ex: medicação, internação, etc.)
(ARZENO, 1995; CUNHA, 2000).
Como pode ser observado então, o plano de avaliação envolve a organização de
uma “bateria de testes”.
Segundo Cunha (2000), esta é uma expressão usada para designar “um conjunto
de testes ou de técnicas, que podem variar entre dois e cinco ou mais instrumentos, que

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são incluídos no processo psicodiagnóstico para fornecer subsídios que permitam
confirmar ou infirmar as hipóteses iniciais, atendendo o objetivo da avaliação”.
A bateria de testes é utilizada principalmente por duas razões:
1. por se considerar que nenhum teste sozinho conseguiria fazer uma avaliação
abrangente da pessoa como um todo.

2. por se acreditar que o uso de diferentes testes envolve a tentativa de uma


validação intertestes dos dados obtidos, diminuindo assim a margem de erro e provendo
um fundamento mais embasado para se chegar a inferências clínicas (Exner, 1980 apud
CUNHA, 2000).

Porém, é importante ressaltar, para o segundo ponto, que embora isto garanta
maior segurança nas conclusões, não se deve utilizar um número extensivo de testes,
para não aumentar, desnecessariamente, o número de sessões do psicodiagnóstico e,
conseqüentemente, seu valor persecutório.
Cunha (2000) apresenta dois tipos de principais de baterias de testes:
- as padronizadas: para avaliações mais específicas - nestas a organização da
bateria provém de vários estudos, que auxiliam a realização de exames bastante
específicos, como alguns exames neuropsicológicos, mas o psicólogo pode incluir alguns
testes, se necessário;
- e as não-padronizadas: mais comuns na prática clínica - a bateria de testes é
selecionada de acordo com o objetivo da consulta e características do paciente, e,
baseando-se nisto, durante o plano de avaliação, determina-se o número e tipos de
testes, de acordo com sua natureza, tipo, propriedades psicométricas, tempo de
administração, grau de dificuldade, e qualidade ansiogênica.
Devido à grande variedade de questões iniciais e aos objetivos do
psicodiagnóstico, constantemente a bateria de testes é composta por testes psicométricos
e técnicas projetivas. E sua distribuição e seqüência devem ser consideradas levando-se
em conta o tempo de aplicação, grau de dificuldade, o quanto de ansiedade pode gerar, e
as características individuais do paciente (ARZENO, 1995; CUNHA, 2000).

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Quanto a isto, Cunha (2000) propõe que à medida que são apresentadas as
técnicas projetivas, maior a mobilização de ansiedade, por oferecer estímulos pouco
estruturados e o paciente ter que se responsabilizar pela situação e respostas dadas
(uma vez que não há certo e errado). Sendo assim, coloca-se que o conveniente seria
que houvesse uma alternância entre técnicas projetivas e psicométricas, iniciando e
terminando o processo com testes pouco ou não-ansiogênicos para o paciente.
Complementando, ao se organizar a bateria de testes, deve-se revisar quem é o
cliente, e quais as características e particularidades tanto do teste em si como de sua
aplicação. Lembrando-se que o mais importante, o foco da investigação, é o sujeito e não
o teste.
Testes Psicométricos
Os testes psicométricos têm um caráter científico, se baseiam na teoria da medida
e, mais especificamente, na psicometria, usam números para descrever os fenômenos
psicológicos, assim, são considerados objetivos (SILVA, 2008; FORMIGA, MELLO, 2000).
Tem-se denominado método psicométrico o procedimento estatístico sobre o qual
se baseia a construção dos testes, assim como a elaboração dos dados da investigação.
Entretanto, quando se trata da metodologia utilizada para a obtenção de dados, diz-se
que um teste psicométrico é aquele cujas normas gerais utilizadas são quantitativas, o
que quer dizer que o resultado é um número ou medida (ESTÁCIO, 2008).
Os itens do teste são objetivos e podem ser computados de forma independente
uns dos outros, seguindo uma tabela (ex.: testes de inteligência). A técnica se caracteriza
por ser de escolha forçada, escalas em que o sujeito deve simplesmente marcar suas
respostas. Primam pela objetividade, que é traduzida em tarefas padronizadas. A
correção ou apuração é mecânica, portanto, sem ambigüidade por parte do avaliador
(ESTÁCIO, 2008; SILVA, 2008).
Para Alchieri e Cruz (2003, p.59 apud SILVA, 2008), os instrumentos
psicométricos estão basicamente fundamentados em valores estatísticos que indicam sua
sensibilidade (ou adaptabilidade do teste ao grupo examinado), sua precisão
(fidedignidade nos valores quanto à confiabilidade e estabilidade dos resultados) e
validade (segurança de que o teste mede o que se deseja medir).

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A seguir serão apresentados alguns destes testes.
I)Testes das Matrizes Progressivas de Raven
Criada pelo psicólogo J. C. Raven, em 1938, a escala das Matrizes Progressivas,
se constitui num teste que revela a capacidade que um indivíduo possui, no momento de
fazer a prova, para apreender figuras sem significado/abstratas que se submetem a sua
observação, descobrir as relações que existem entre elas, imaginar a natureza da figura
que completaria o sistema de relações implícito e, ao fazê-lo, desenvolver um método
sistemático de raciocínio (RAVEN, 1997; CUNHA, 2000).
Atualmente existem três séries das Matrizes Progressivas, as quais são ordenadas
por dificuldade crescente e podem ser aplicadas de forma individual ou coletiva. A Escala
Geral, compreende cinco séries – A, B, C, D e E -, a Escala Especial (Matrizes
Progressivas Coloridas), três séries – A, Ab e B -, e a Avançada, duas – I e II (incluída
somente para os sujeitos que resolvem mais da metade da série I) (CUNHA, 2000).
Todas as séries são apresentadas na forma de caderno, contendo desenhos
impressos na parte superior de cada página, entre os quais falta um, que completa o
conjunto. Na parte inferior, há de seis a oito figuras como alternativas para o sujeito
escolher para completar a figura superior. Existe ainda a versão tabuleiro do teste, na qual
o sujeito deve encaixar a prancha que completa corretamente a figura (CUNHA, 2000).
A escala consta de 60 problemas divididos em cinco séries com 12 problemas
cada uma. Em cada série, o primeiro problema tem uma solução óbvia, enquanto
possível. Os problemas seguintes aumentam gradualmente sua dificuldade. A ordem dos
itens facilita um treinamento uniforme no método de trabalho. As cinco séries fornecem
cinco oportunidades para compreender o método e cinco apreciações progressivas da
capacidade de um indivíduo para a atividade intelectual (RAVEN, 1997).
A escala propõe-se abranger toda a gama do desenvolvimento intelectual a partir
do momento em que uma criança é capaz de compreender a idéia de complementar uma
figura ou peça que lhes falte; é também suficientemente longa para avaliar a capacidade
máxima de uma pessoa para estabelecer comparações e raciocinar por analogia sem,
todavia, ser indevidamente cansativa ou extremamente difícil (RAVEN, 1997).
Considera-se a escala como um teste de observação e de clareza do pensamento.

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Na série geral, crianças pequenas, deficientes mentais e pessoas muito idosas
costumam resolver apenas os problemas das séries A e B, e os mais fáceis da série C e
D, nos quais o raciocínio por analogia não é essencial (RAVEN, 1997).
As Matrizes Progressivas Coloridas, Séries A, Ab e B, nos dão um valioso teste
para crianças e pessoas idosas. Podem ser usados satisfatoriamente com os que, por
algum motivo, não compreendem ou falam o idioma nacional, sofrem defeitos físicos, são
intelectualmente subnormais ou estão em processo de deterioração mental. Desta forma,
as Matrizes Progressivas são um instrumento válido para apurar a capacidade atual de
uma pessoa para pensar claramente e realizar um trabalho intelectual preciso (RAVEN,
1997).
Ao se pensar em desenvolvimento intelectual, esse parece ocorrer, entre as
idades de 8 a 11 anos, ocorrendo uma transformação quase que completa nos processos
de raciocínio da criança. Antes dessa transformação, uma criança é incapaz de
compreender muito mais do que problema do tipo que apresentam as séries A e B da
Escala Geral das Matrizes Progressivas. Seu vocabulário tende a ser limitado e a sua
educação depende amplamente do trabalho prático e de ajuda visuais. Posteriormente a
criança é capaz não só de estabelecer comparações e de raciocinar por analogia, como
adotar esse tipo de pensamento como método consistente de raciocínio. Progride sem
dificuldade desde os problemas das séries A e B até os problemas que aparecem nas
séries C, D e E; sabe apreender os significados das palavras abstratas (RAVEN, 1997).
Essa etapa, aparentemente decisiva, de amadurecimento intelectual diferencia as
pessoas intelectualmente imaturas daquelas cuja inteligência é normal ou superior a
média. Nesse sentido, as Matrizes Progressivas Coloridas, tanto na forma impressa como
na de peças móveis, foram preparadas para o exame psicológico do desenvolvimento
mental anterior à fase de amadurecimento intelectual. São também especialmente úteis
para avaliar o desenvolvimento intelectual na ocorrência de defeitos físicos (RAVEN,
1997).
II) Escala Colúmbia de Maturidade Intelectual
A Escala Colúmbia de Maturidade Intelectual – Colúmbia (CMMS – Columbia
Mental Maturity Scale) é de autoria de Burgemeister, Blum e Lorge. Foi criada em 1947 e,

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inicialmente, visava a avaliação de sujeitos com paralisia cerebral. Hoje, é muito útil para
a avaliação da capacidade de raciocínio geral de crianças normais e também de crianças
que tenham qualquer problema de comunicação, audição, linguagem ou motor. É
considerada, atualmente, um dos melhores instrumentos para avaliar crianças em idade
pré-escolar (CUNHA, 2000).
O teste se caracteriza por ser individual, rápido, de fácil aplicação, que fornece
uma estimativa da aptidão geral de raciocínio de crianças, a partir da idade de 3 anos e 6
meses até 9 anos e 11 meses. Possui 92 itens de classificação de figuras e desenhos que
são dispostos em uma série de 8 escalas ou níveis que se hiperpõem. Aplica-se à criança
o nível indicado para sua idade cronológica. São apresentados, de fato, entre 51 e 65
itens dependendo do nível aplicado. Cada item consiste em uma série com 3 a 5
desenhos, impressos sobre uma lamina de 15x48 cm. São usadas cores diferentes para
alguns dos itens, a fim de tornar as figuras mais atraentes para as crianças
(RODRIGUES, 1994).
Os objetos desenhados estão, de um modo geral, dentro do campo de
experiência da maioria das crianças americanas, mesmo daquelas cujo ambiente tenha
sido limitado. Na tradução, foi verificada sua adaptabilidade à cultura brasileira
(RODRIGUES, 1994).
Para cada item, a criança é solicitada a olhar para todas as figuras da lamina,
escolher uma que seja diferente das outras, ou não relacionada com elas, e em seguida,
indicar a figura escolhida apontando para ela. Para tanto, ela deve descobrir um princípio
de organização das figuras, que só permita excluir uma delas (RODRIGUES, 1994).
O teste Colúmbia foi preparado com vistas a assegurar que os estímulos
apresentados sejam familiares a todas as crianças. O fato de a maioria das crianças,
mesmo as pertencentes a famílias muito pobres, terem sido expostas à televisão desde o
nascimento, significa que elas têm visto objetos com os quais elas poderiam não ter tido
realmente um contato direto no seu dia a dia (RODRIGUES, 1994).
O Colúmbia não mede a capacidade inata da criança. Na realidade, não há um
teste de aptidão mental que suporte tal proposição. O desempenho de uma criança é o
resultado de fatores complexos e em interação, que afetam o desenvolvimento de sua

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habilidade de compreender os tipos de material apresentados no teste. O Colúmbia mede
habilidade de raciocínio que são particularmente importantes para o sucesso na escola,
onde a habilidade de discernir relações entre vários tipos de símbolos é enfatizada e, o
desempenho numa tarefa medindo essas habilidades reflete, de alguma maneira, a
experiência que ela possui em lidar com tais relações (RODRIGUES, 1994).
Observação importante: embora considerado uma medida de raciocínio geral ou
de maturidade mental, por suas autoras, ele tem sido mais indicado como teste de
triagem intelectual, para selecionar crianças a serem submetidas a uma avaliação
intelectual completa (CUNHA, 2000).
Testes/Técnicas Projetivos (as)
Os testes projetivos requerem respostas livres; sua apuração é ambígua, sujeita
aos vieses de interpretação do avaliador. O psicólogo trabalha com tarefas pouco ou nada
estruturadas, a apuração das respostas deixa margem para interpretações subjetivas do
próprio avaliador, e os resultados são totalmente dependentes da sua percepção, dos
seus critérios de entendimento e bom senso (SILVA, 2008).
Os testes cuja metodologia é projetiva são aqueles cujas normas são qualitativas,
ou seja, são testes menos objetivos. O resultado se expressa através de uma tipologia.
Por terem uma avaliação qualitativa, seus elementos (itens de teste) não podem ser
medidos em separado. A constância de certas características avaliadas no teste, como
um todo, que dará a relativa certeza de um diagnóstico (ex.: testes de personalidade em
geral) (ESTÁCIO, 2008)
Os testes de personalidade, como integrantes dos projetivos, medem as
características de personalidade propriamente ditas, que não se referem aos aspectos
cognitivos da conduta. Ex.: estabilidade emocional, atitude, interesse, sociabilidade, etc.
Porém, sabe-se que a personalidade de um indivíduo muda constantemente, portanto, o
que realmente é medido são as características mais ou menos constantes da
personalidade, mas mesmo assim, em determinado momento (ESTÁCIO, 2008).
A seguir, alguns exemplares destes testes.
I) O Teste das Fábulas

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O Teste das Fábulas, conhecido popularmente no meio acadêmico como Fábulas
de Düss, foi criado por Louisa Düss em 1940, com o intuito de investigar conflitos
inconscientes, com uma base teórica essencialmente freudiana (CUNHA, 2000).
É indicado para realização de psicodiagnóstico de crianças; avaliação dinâmica de
adolescentes e adultos, inclusive de terceira idade; avaliação dinâmica em casos clínicos
(auxiliando na detecção rápida do complexo ou do conflito presente no paciente); além de
possibilitar a triagem de conflitos emocionais em crianças, adolescentes e adultos por
meio de administração coletiva (CUNHA, 2000; TARDIVO; PINTO; SANTOS, 2005).
Por meio das fábulas, as crianças podem expressar seus desejos, seus temores,
suas necessidades e seus pensamentos como se na realidade não lhes pertencessem,
podendo atribuir certos sentimentos ou pensamentos não aceitáveis aos personagens das
fábulas (TARDIVO; PINTO; SANTOS, 2005).
Assim, o teste das Fábulas de Düss, por se tratar de uma técnica projetiva,
propicia uma investigação profunda sobre os conflitos vivenciados pela criança e da forma
como avalia a relação intrafamiliar.
Nesse sentido, sua inclusão no processo psicodiagnóstico de crianças revela-se
extremamente rica para o conhecimento e entendimento do funcionamento mental dos
sujeitos (TARDIVO; PINTO; SANTOS, 2005).
O teste é composto de dez fábulas, pequenas, de fácil compreensão às crianças,
cada uma delas referindo-se a um complexo específico. Ele propõe, na administração,
que seja feita a apresentação da forma verbal e pictória concomitantemente; sendo que
na forma pictória, existem 12 pranchas, uma vez que existem duas alternativas possíveis
para a fábula 4 (conforme a idade) e para a fábula 8 (de acordo com o sexo) (CUNHA,
2000).
Para análise do teste, é utilizado um sistema de categorização de respostas, o
qual identifica respostas populares e fenômenos específicos, e faz suas interpretações
fundamentadas num referencial teórico completo e complexo (essencialmente freudiano)
(CUNHA, 2000).
Cada fábula apresenta uma situação-problema, para a qual deve ser encontrada
uma solução. Fornece determinadas informações que devem ser elaboradas por meio de

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operações cognitivas, com base nas quais o sujeito pode produzir uma resposta lógica,
derivada da esfera do ego livre de conflitos. Tanto as respostas populares quando as
respostas ‘normais’ são isentas de simbolismo personalizado e não envolvem indícios de
conflito. Isso pode ocorrer por duas razões: a) o conteúdo da fábula não produziu uma
mobilização afetiva ou b) o sujeito é capaz de controle de sua expressão afetiva,
produzindo uma resposta que está em concordância com a expectativa social. (CUNHA;
WERLANG; ARGIMON, 2000).
Uma das formas mais utilizadas para a avaliação do teste, é a proposta por
Tardivo (1998, citado em TARDIVO; PINTO; SANTOS, 2005). A autora propõe algumas
categorias de análise para cada fábula, procurando abranger o significado mais latente
das respostas do sujeito. As categorias para cada fábula são as seguintes:
Fábula 1 – Pássaro

1. Relação com a Figura Materna; 1 a) dependência e passividade; 1 b) independência e


atividade.

2. Relação com a Figura Paterna; 2 a) dependência e passividade; 2 b) independência e


atividade.

3. Independência e Autonomia; 3 a) realista; 3 b) onipotente

4. Total impotência – Morte

Fábula 2 – Aniversário de casamento

5. Relação de agressividade e hostilidade diante da cena primária; 5 a) hostilidade


manifesta; 5 b) hostilidade latente.

6. Relação de aceitação e mais realista diante da cena primária.

7. Total impossibilidade de lidar com a situação de cena primária; 7 a) rejeição completa


da fábula; 7 b) respostas ilógicas.

Fábula 3 – Carneirinho

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8. Desmame vivido de forma esquizoparanóide.

9. Desmame vivido de forma depressiva.

10. Rivalidade fraterna; 10 a) agressividade e hostilidade manifestas; 10 b) agressividade


e hostilidade latentes.

11. Aceitação em relação à figura fraterna.

12. Total impossibilidade de lidar com a situação de desmame ou morte.

Fábula 4 – Enterro

13. Relação com a figura paterna – desejos destrutivos.

14. Relação com a figura materna – desejos destrutivos.

15. Respostas adequadas à realidade.

16. Outros não significativos.

17. Autodestruição.

18. Velhice.

19. Doença; 19 a) coração; 19 b) outras.

20. Provocadas por outros.

21. Acidental.

Fábula 5 – Medo

22. Medo de Objetos Internos; 22 a) masculinos; 22 b) femininos; 22 c) sem definição


clara de sexo.

23. Medo de objetos externos reais.

24. Medo de autodestruição.

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Fábula 6 – Elefante

25. Presença de angústia ligada ao complexo de castração;

25 a) transformações causadas pela própria criança; 25 b) transformações provocadas


por outros.

26. Superação do complexo de castração.

27. Total impossibilidade de lidar com o complexo de castração.

Fábula 7 – Objeto fabricado

28. Presença do caráter possessivo na relação com a figura materna.

29. Ausência do caráter possessivo na relação com a figura materna; 29 a) espontâneo;


29 b) por imposição.

Fábula 8 – Passeio com o pai ou com a mãe

30. Complexo de Édipo vivido de forma angustiante;

30 a) figura paterna do mesmo sexo da criança com sentimentos de raiva e inveja; 30 b)


figura

paterna do mesmo sexo da criança com sentimentos

depressivos; 30 c) presença de angústia persecutória na criança; 30 d) presença de culpa

depressiva na criança.

31. Complexo de Édipo superado.

Fábula 9 – Notícia

32. Desejos – notícias agradáveis.

33. Temores – notícias desagradáveis.

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Fábula 10 – Sonho mau

34. Relação com circunstância difícil.

35. Relação com figuras fantásticas.

36. Relação com pessoas reais.

37. Relação com autodestruição.

II) Teste do Desenho da Figura Humana (DFH)


Ao final do século XIX, já se acreditava que o desenho de crianças podia ser
avaliado como indicador do desenvolvimento psicológico. Goodenough foi pioneira; em
1926 desenvolveu a primeira escala com critérios de análise do Desenho da Figura
Humana (DFH), como medida de desenvolvimento intelectual de crianças.
Posteriormente, Harris, em 1963, revisou a escala e a expandiu, sendo esta passando a
ser considerada como medida de maturidade (HUTZ; BANDEIRA, 2000).
Após duas décadas, Manchover, após análise de diversas observações clínicas
sobre a representação gráfica de figuras humanas desenhadas por crianças e adultos que
apresentavam problemas psicológicos, publicou tais resultados em 1949, e assim surgiu
um novo caráter dado ao DFH, o projetivo. Este tipo de análise se popularizou, hoje é um
dos mais utilizados como método de avaliação da personalidade (HUTZ; BANDEIRA,
2000).
DFH: Avaliação do desenvolvimento infantil
Ao revisar e ampliar a escala de Goodenough, Harris (1963) já questionava o uso
do DFH como teste de inteligência, entendendo-o como medida de maturidade conceitual,
ou seja, como a criança compreende o corpo humano, introduzindo o enfoque do
desenvolvimento infantil no desenho, amplamente estudado por Koppitz (HUTZ,
BANDEIRA, 2000).
O instrumento, após a colaboração de Koppitz, passou a ser um sistema de
avaliação objetivo utilizado internacionalmente. Para a aplicação dessa técnica, pede-se à
criança que faça o desenho de uma pessoa inteira em uma folha branca, tamanho ofício,
colocando a sua disposição um lápis preto número dois e uma borracha. A avaliação é

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feita com um único desenho, inclui 30 itens evolutivos, pontuados como ausentes ou
presentes, que somados, gerando um escore global. A análise também pode ser realizada
na avaliação pela presença de itens esperados, comuns, incomuns e excepcionais
conforme a idade da criança. (HUTZ, BANDEIRA, 2000).
Esta forma de aplicação do DFH mede o desenvolvimento cognitivo.
Atualmente, é considerado pelo CFP, para avaliação do desenvolvimento
cognitivo, a forma de correção proposta por Sisto, ainda tendo como referencia os
estudos de Goodenough, baseado no modelo de Rasch, criado em 1960, o qual supõe
que ao responder um item do teste, a pessoa manifesta alguma quantidade de
determinada habilidade. Assim, em cada nível de habilidade, existe a probabilidade das
pessoas desse nível fornecerem resposta correta para aquele item. Os itens se
apresentam então de forma hierárquica de acordo com sua dificuldade e da habilidade do
sujeito, de tal modo que as pessoas mais habilidosas desenharão os itens mais difíceis e
as menos, não (RUEDA, 2005).
A escala solicita o desenho de uma pessoa e reduziu os itens a 30 diferentemente
de Kopitz, que foram selecionados com vistas a se constituírem em uma escala e não em
um simples inventário de itens (VETOR – EDITORA, 2009).
O DFH – Escala Sisto é uma medida de inteligência e está relacionada ao fator g,
a operatoriedade (conceito de Piaget referente ao desenvolvimento cognitivo em crianças)
e aprendizagem escolar (VETOR-EDITORA, 2009).
Algumas vantagens apresentadas por este sistema de correção: menor número de
itens (30); itens predominantemente masculinos e femininos (o sistema de correção é o
mesmo, mudam-se as normas); existência de uma classificação hierárquica de itens de
acordo com o sexo e a idade da criança; solicitação de apenas um desenho, não levando
em consideração se a figura desenhada é feminina ou masculina; esta forma de correção
possibilita uma escala unidimensional (RUEDA, 2005).
Além destas, o sistema proposto por Sisto fornece as seguintes contribuições
(VETOR – EDITORA, 2009):
1) Estudo dos itens quanto ao funcionamento diferencial e a análise de sua influência.
São técnicas de análises não disponíveis à época para Goodenough;

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2) A manutenção do caráter evolutivo da proposta original, procurando selecionar os itens
em relação às idades cronológicas;
3) Além de fornecer evidências de validade em termos de desenvolvimento cronológico e
inteligência como fez Goodenough fornece evidências de validade em termos de
desenvolvimento cognitivo na perspectiva de Piaget, ficando claro sua relação com a
operatoriedade.
DFH: Avaliação da Personalidade e Ajustamento Emocional
Koppitz em 1968, propôs outra forma de avaliação descrita para a interpretação do
DFH, quando passou a avaliar os aspectos emocionais em crianças pelo DFH, baseada
nos estudos de Machover e Hammer. Estabelecendo uma escala de 30 indicadores
emocionais que seriam suficientes para diferenciar crianças com e sem problemas
emocionais (HUTZ; BANDEIRA, 2000).
O DFH pode também ter uma avaliação que aborde a personalidade e seus
aspectos estruturais e dinâmicos. Esta forma de avaliação teve origem com as pesquisas
de Machover, em 1949, e mostra-se como um dos mais ricos instrumentos para a
investigação da personalidade e de características psicológicas. Na aplicação, é solicitado
também que se faça o desenho DFH do sexo oposto à primeira figura desenhada (em
folhas separadas). Há outra possibilidade, pedindo que se desenhe a pessoa na chuva, o
que permitiria investigar as reações do examinando a situações de tensão. Recomenda-
se ainda, a realização de um inquérito ou a construção de uma história sobre a figura
(HUTZ; BANDEIRA, 2000).
Machover (1967) afirma que, quando um sujeito realiza o Desenho da Figura
Humana, refere-se necessariamente às imagens internalizadas que tem de si próprio e
dos outros, e dessa forma ocorre à projeção de sua imagem corporal. Ao se desenhar
uma pessoa, o indivíduo projeta a sua imagem corporal no papel, ou seja, é como a
figuração de nosso corpo formada em nossa mente, um modo pelo qual o corpo se
apresenta para nós (Schilder, 1981, citado em HUTZ; BANDEIRA, 2000).
Para Van Kolker (1984, citado em HUTZ; BANDEIRA, 2000), o desenho pode
também ser a representação de outros aspectos do indivíduo, como aspirações,
preferências, pessoas vinculadas a ele, imagem ideal, padrões de hábitos, atitudes para

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com o examinador e a situação de testagem. Trinca, 1987, corrobora estes fatos citando
Levy, 1959, ao dizer que o desenho “além de veículo de projeção da imagem corporal,
pode ser uma projeção de autoconceito, uma projeção de atitudes para com alguém do
ambiente, uma projeção da imagem ideal do eu, um resultado de circunstâncias externas,
uma expressão de padrões de hábitos, uma expressão de tonalidade emocional, uma
projeção de atitudes do sujeito para com o examinador e a situação, uma expressão de
suas atitudes para com a vida e a sociedade em geral”, sendo uma combinação de tudo
isso. Além do mais, o desenho pode ser uma expressão consciente ou pode incluir
símbolos profundamente disfarçados, expressivos de fenômenos inconscientes.
DFH e a Ansiedade
O DFH pode ser utilizado também para a avaliação de aspectos específicos, tais
com a ansiedade. Handler, em 1967, propôs uma escala para avaliação da ansiedade de
adolescente e adultos, com 20 itens de ansiedade, estabelecendo critérios de escore para
análise de maneira formal, que abrangem tanto a ansiedade causada por situações
externas estressantes como causas intrapsíquicas. Foram descritos vinte índices,
atribuindo-se escores de acordo com as características do desenho de cada um deles, em
escalas de quatro ou dois pontos, onde, nesta última, a presença é um indicador de
ansiedade. Porém recomenda-se cautela na utilização deste material com tal finalidade
(HUTZ; BANDEIRA, 2000).
O Sexo da Figura
Sendo o DFH considerado uma expressão da auto-imagem de crianças que
projetam suas identificações e conflitos nos desenhos, seria esperado que os mesmos
fossem correspondentes ao sexo da criança que o desenhou. Machover (1949) afirmou
que crianças que desenham figuras do sexo oposto provavelmente apresentam um
problema no desenvolvimento de sua identidade sexual. Vários estudos mostraram que
há uma tendência geral das pessoas desenharem figuras do mesmo sexo, contudo, não
há confirmação da hipótese lançada por Machover. Desta forma, o DFH não pode ser
utilizado como indicador de patologia (HUTZ; BANDEIRA, 2000).
III) Teste Desenho da Família (DF)

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Este teste, apesar de bastante conhecido e utilizado, atualmente não consta na
lista de testes aprovados pelo Conselho Federal de Psicologia.
Corman, em 1961, lançou o desenho da família com a intenção de desvelar os
conteúdos e processos emocionais inconscientes e conscientes referentes às relações
dos participantes com seus objetos internos e externos pertinentes ao mundo familiar.
Trata-se de um instrumento gráfico projetivo indicado como recurso auxiliar na
investigação clínica da personalidade de crianças e adolescentes (CUNHA, 2000;
OLIVEIRA, et. al, 2007).
Parte-se do pressuposto de que o sujeito projeta, em sua representação gráfica da
família, o modo como vivencia a relação com seus pais e demais membros familiares que
constituíram figuras significativas em suas vidas (objetos internos) bem como as fantasias
inconscientes, conflitos, ansiedades e impulsos ligados à satisfação de suas
necessidades básicas (OLIVEIRA, et. al, 2007).
Obtém-se, assim, uma apreciação do modo como se deu o processo de
interiorização dos objetos e das relações objetais bem como da qualidade desses
relacionamentos primários, fundamentais na estruturação da personalidade e na relação
estabelecida como o ambiente social (OLIVEIRA, et. al, 2007).
Na aplicação do DF, segundo os critérios propostos por Corman, solicita-se ao
sujeito a realização de um desenho, mediante a instrução verbal “desenhe uma família”;
após o término da tarefa gráfica, inicia-se um inquérito, no qual o aplicador obtém
esclarecimentos acerca da produção do participante. (OLIVEIRA, et. al, 2007)
A análise, leva em conta, aspectos formais e estruturais de cada figura, em
especial, da que representa o próprio indivíduo, integrando dados relativos ao grupo
familiar com hipóteses interpretativas de desenho da figura humana.
Segundo Cunha e Freitas (2003) há três formas de interpretação do desenho da
família: o nível gráfico – que leva em conta a amplitude, a força e o ritmo do traçado, a
localização na página e o movimento do traçado – o nível das estruturas formais –
representação da figura humana como esquema corporal do sujeito – nível de conteúdo –
onde podem ser encontrados os principais aspectos projetivos do desenho.
A entrevista psicológica.

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A entrevista é um dos recursos técnicos de que dispõe o psicólogo para obter
informações, com o objetivo de pesquisa, avaliação, orientação e/ou aconselhamento,
seja em contexto escolar, clínico, organizacional ou em outros. Historicamente, as
técnicas de entrevista têm origem na medicina e, já no campo da psicologia, foram
elaboradas no contexto da psicoterapia e da psicometria. Segundo Winicott (1983) a
psicanálise, ao se preocupar com a etiologia das doenças psiquiátricas, passou a exigir
do clínico o interesse pelos processos de desenvolvimento psíquico e não apenas pelos
sintomas; assim “os psicanalistas se tornaram pioneiros em tomar a história do paciente”
(p. 115).
Na visão de Bleger (1991) pode ser considerado uma entrevista uma relação
humana na qual um dos integrantes devem procurar entender o que está acontecendo e
atuar segundo esse conhecimento. A realização dos objetivos possíveis da entrevista da
atuação de acordo com esse saber. O psicólogo utiliza uma técnica psicológica e
concomitantemente lança mão de recursos advindos da psicologia para configurar a
própria situação da entrevista.
Merece destaque a tão debatida questão da (ilusão da) neutralidade científica.
Nesse sentido, Thiollent (1987) expõe que a idéia de neutralidade não é verdadeira visto
que à medida que qualquer procedimento de investigação envolve pressupostos teóricos,
práticos e variáveis segundo os interesses sociopolíticos que estão em pauta no ato de
conhecer. O referido autor apresenta uma visão sociológica da questão referente ao
posicionamento do entrevistador. A esse aspecto acrescentam-se os psicológicos, como
os valores, pensamentos e sentimentos, que não apenas perpassam mas constituem todo
e qualquer encontro entre pessoas. Sendo assim, o entrevistador não está isento de
comprometer os resultados de seu trabalho em função de suas limitações pessoais e
profissionais. Entretanto, isso não significa descuido com os aspectos éticos, norteadores
da atuação do psicólogo. Elementos mais minuciosos em relação à entrevista psicológica
de maneira geral podem ser encontrados em Bleger (1991) e Pain (1992).
Aspectos Técnicos
Em uma entrevista, espera-se que surjam elementos referentes àquilo que o
entrevistado conhece, ouviu falar e que também imagina, relacionados à psicologia e ao

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trabalho do psicólogo, de maneira geral. Considerando-se tais elementos, torna-se mais
fácil compreender determinados comportamentos e verbalizações por parte de nosso
sujeito. Na entrevista faz-se necessária uma efetiva interação interpessoal, com o
profissional apresentando seus questionamentos, observando e ouvindo a pessoa
entrevistada. A condução do processo precisa ser respaldada tanto pelos pressupostos
da teoria adotada pelo profissional quanto pelas condições subjetivas deste, ou seja,
requer possibilidades efetivas de escutar, acolher e elaborar hipóteses diagnósticas a
respeito do caso.
Durante a entrevista é importante o psicólogo observar a postura corporal, os
gestos, o tom de voz, a aparência, a posição na cadeira, enfim, aspectos não verbais que
fornecem dados fundamentais a respeito do entrevistado e seu posicionamento na
circunstância de entrevista. Estar atento, também, aos sentimentos despertados em si
durante a entrevista é fundamental para o psicólogo, pois fenômenos como a
transferência e a contratransferência fazem parte de todo relacionamento interpessoal e
seguramente vão configurar o processo de entrevista. O entrevistado atribui papéis ao
entrevistador e se comporta em função destes.
A respeito disso, Bleger (1991) afirma que com a observação desses fenômenos é
possível colocar-se frente aos aspectos da conduta e da personalidade do entrevistado.
Esses aspectos acrescentam uma dimensão importante do conhecimento da estrutura de
sua personalidade e ao caráter de seus conflitos. A contratransferência nesse contexto,
abrange as respostas do entrevistador às manifestações do entrevistado. Envolve a
história pessoal daquele e esses sentimentos precisam ser considerados para um bom
manejo e eficácia da entrevista.
Tipos de Entrevistas
A entrevista pode ser utilizada dentro de um processo avaliativo, seja de
indivíduos, seja da instituição como um todo. Também pode ser empregada com fins
investigativos, no caso de uma pesquisa. E há pesquisas que também comportam
processos avaliativos. Os tipos de entrevistas estão diretamente relacionados aos
objetivos com que são empregadas. Existe a entrevista dirigida, composta de questões
fechadas; a semidirigida, em que o sujeito orienta-se a partir de perguntas abertas; a

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centrada, que focaliza um tema específico; a não diretiva, que gira em torno de um tema
geral, e a clínica.
De acordo com a situação, seja uma avaliação de uma criança com dificuldades
escolares, seja uma pesquisa, por exemplo, cabe ao profissional decidir o tipo de
entrevista mais pertinente. Em algumas circunstâncias, é comum iniciarmos a entrevista
de maneira mais livre e depois apresentarmos algumas perguntas abertas, para o
aprofundamento de temas não abordados pelo entrevistado.
Com base em pesquisas na área das ciências sociais, Thiollent (1987) mostra que
entrevistas e questionários (assim como testes) que, de maneira geral, favorecem
pessoas de mesmo nível sociocultural de quem elaborou os instrumentos. Esse dado
leva-nos a pensar que alguns questionamentos apresentados ao indivíduo entrevistado
não necessariamente fazem parte de seu universo cotidiano e que por isso sua resposta
pode refletir apenas nossa inabilidade em compreender a sua realidade.
É preciso um particular cuidado com perguntas que apenas conduzem à
confirmação daquilo que esperamos. O entrevistado deve falar por si. De maneira geral, a
primeira entrevista caracteriza-se por um momento inicial mais livre, acompanhado,
posteriormente e de acordo com a configuração da situação, de um direcionamento para
o preenchimento de lacunas percebidas pelo profissional. A obtenção de determinadas
informações é imprescindível para a compreensão do contexto, que nos permite formular
hipóteses que vão compondo o mosaico.
Assim como outras técnicas adotadas no trabalho do psicólogo, a entrevista
merece uma atenção especial na formação profissional, sendo aqui compreendida como
um momento privilegiado de escuta do outro, no qual o entrevistado busca um espaço de
acolhimento (Bleger, 1991). Assim, além da função avaliativa, a entrevista também pode
apresentar-se como um momento terapêutico, para o qual o psicólogo precisa estar
atento.
Entrevista Clínica
De acordo com TAVARES (2000) “A entrevista clínica é um conjunto de processos
de técnicas de investigação, de tempo delimitado, dirigido por um entrevistador treinado,
que utiliza conhecimentos psicológicos, em uma relação profissional, com o objetivo de

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descrever e avaliar aspectos pessoais, relacionais ou sistêmicos (indivíduo, casal, família,
rede social), em um processo que visa a fazer recomendações, encaminhamentos ou
propor algum tipo de intervenção em benefício das pessoas entrevistadas.”
A entrevista clínica é dirigida, ou seja, tem objetivos definidos e é através dela que
o entrevistador estrutura sua intervenção. Todos os tipos de entrevista têm alguma forma
de estruturação na medida em que a atividade do entrevistador direciona a entrevista no
sentido de alcançar seus objetivos. (TAVARES, 2000)
Papel do entrevistador
É necessário habilidades do entrevistador para que ele esteja preparado para lidar
com o direcionamento que o sujeito parecer querer dar a entrevista, de forma a otimizar o
encontro entre a demanda do sujeito e os objetivos da tarefa. Quando o entrevistador
confronta uma defesa, ele empaticamente reconhece ou pede esclarecimentos, está
facilitando ou dificultando o processo. Portando é necessário que o entrevistador domine
as especificações da técnica.
Segundo TAVARES (2000) para realizar uma entrevista de modo adequado o
entrevistador deve ser capaz de:
1. Estar presente, no sentido de estar inteiramente disponível para o outro
naquele momento sem a interferência de outras pessoas;

2. Auxiliar o paciente para que ele se sinta a vontade e construa a possibilidade


de uma aliança terapêutica;

3. Facilitar a expressão dos motivos que levaram a pessoa até a consulta;

4. Buscar esclarecimentos para colocações vagas ou incompletas;

5. Confrontar esquivas e contradições de maneira gentil;

6. Tolerar a ansiedade relacionada aos temas evocados na entrevista;

7. Reconhecer defesas e modos de estruturação do paciente;

8. Identificar e compreender seus processos transferenciais;

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9. Assumir a iniciativa em momentos de impasse;

10. Dominas as técnicas que utiliza no seu trabalho;

Outro ponto importante significa reconhecer a desigualdade intrínseca na relação,


que dá uma posição privilegiada ao entrevistador. Essa posição lhe confere poder e,
portanto, a responsabilidade de zelar pelo interesse e bem-estar do outro. Também é do
entrevistador a responsabilidade de reconhecer a necessidade de treinamento
especializado e atualizações constantes ou periódicas.
Papel do entrevistado
O papel principal da pessoa entrevistada é o de prestar informações. Nos casos
em que parece haver dificuldades de levantar a informação, é bem provável que o
entrevistador tenha que centrar sua atenção na relação com a pessoa entrevistada, para
compreender os motivos de sua atitude. Distorções relacionadas a pessoas ou
instituições interessadas na avaliação, a idéias preconcebidas em relação à psicologia ou
à saúde mental e a fantasias inconscientes vinculadas a ansiedades pessoais acerca do
processo.
O resultado de uma entrevista depende largamente da experiência e da habilidade
do entrevistador, além do domínio da técnica. Criar um clima que facilite a interação
nesse contexto e a abertura para o exame de questões íntimas e pessoais talvez seja o
desafio maior da entrevista clínica.
Nas entrevistas clínicas deseja-se conhecer em profundidade o sujeito, com o
objetivo de entender qual a situação que o levou à entrevista. Nessa situação o
entrevistado é porta-voz de uma demanda e espera um retorno que o auxilie. Nesses
casos é preciso que se crie um espaço as manifestações individuais e requer habilidades
e conhecimentos específicos que permitam ao entrevistador conduzir adequadamente o
processo. Essa especificidade clinica favorece que sejam utilizadas as entrevistas semi-
estruturas e de estruturação.
De acordo com TAVARES (2000), as entrevistas podem ser classificadas em
relação ao aspecto formal em:

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Estruturadas: Tem pouca utilidade na área clinica. Ela é mais utilizada em
pesquisas onde se destinam basicamente no levantamento de informações. É utilizada
praticamente como um questionário.
Semi-estruturadas: Tem um roteiro com tópicos pré-estabelecidos. São assim
denominadas porque o entrevistador tem clareza de seus objetivos, de que tipo de
informação é necessária para atingi-los, de como essa informação deve ser obtida,
quando ou em que seqüência, em que condições deve ser investigadas e como deve ser
considerada. São de grande utilidade em settings onde é necessária ou desejável a
padronização de procedimentos e registro de dados, como nas clínicas sociais, na saúde
pública, na psicologia hospitalar.
Livre de estruturação: Não tem o roteiro pré-estabelecido, no entanto tem certa
estruturação, pois tem suas metas, o papel de quem a conduz e os procedimentos pelos
quais é possível atingir seus objetivos.
Segundo TAVARES (2000) todas as entrevistas requerem uma etapa de
apresentação da demanda, de reconhecimento da natureza da natureza do problema e da
formulação de alternativas de solução e de encaminhamento. Elas podem ser
classificadas em relação aos seus objetivos:
Entrevista de triagem: O objetivo principal é avaliar a demanda do sujeito e fazer
encaminhamento. É fundamental para avaliar a gravidade da crise, pois nesses casos,
torna-se necessário ou imprescindível o encaminhamento para um apoio medicamentoso.
Entrevista de Anamnese: O objetivo principal é o levantamento detalhado da
história de desenvolvimento da pessoa, principalmente na infância.
Entrevista Diagnóstica (que podem ser sindrômicas ou dinâmicas): De certo modo,
toda entrevista clínica comporta elementos diagnósticos. Em outro sentido, empregamos
o termo diagnóstico de modo mais específico, definindo-o como o exame e a análise
explícitos ou cuidadosos de uma condição na tentativa de compreendê-la, explicá-la e
possivelmente modificá-la. Implica descrever, avaliar, relaciona e inferir, tendo em vista a
modificação daquela condição. A entrevista diagnóstica pode priorizar aspectos
sindrômicos ou psicodinâmicos. O primeiro visa á descrição de sinais (como por exemplo:
baixa auto-estima, sentimentos de culpa) e sintomas (humor deprimido, ideação suicida)

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para a classificação de um quadro ou síndrome (Transtorno Depressivo Maior). O
diagnóstico psicodinâmico visa á descrição e à compreensão da experiência ou do modo
particular de funcionamento do sujeito, tendo em vista uma abordagem teórica.
Entrevistas sistêmicas: Geralmente são utilizadas para avaliar casais e famílias e
podem focalizar a avaliação da estrutura ou da estória familiar. Essas técnicas são muito
variadas e fortemente influenciadas pela orientação teórica do entrevistador.
Entrevistas de devolutiva: Tem por finalidade comunicar ao sujeito o resultado da
avaliação. É importante, pois permite ao sujeito expressar pensamentos e sentimentos em
relação às conclusões e recomendações do entrevistador.
Informe Psicodiagnóstico
O informe, como dito anteriormente, refere-se ao resumo das conclusões
diagnósticas e prognosticas, e deve fazer parte de cada conjunto dos documentos
relativos às avaliações realizadas, seja num trabalho particular (como consultório), seja
em instituições; devendo ser guardados por um período de cinco anos (ARZENO, 1995;
CFP, 2006).
No trabalho institucional, a realização do informe é imprescindível, uma vez que
diversos profissionais poderão ter acesso a este, como resposta a um pedido de
avaliação, e até mesmo um outro profissional da área de psicologia, seja devido à
rotatividade encontrada em tais estabelecimentos, ou pelo falto de este poder dar
seguimento ao caso num trabalho terapêutico, por exemplo (ARZENO, 1995).
Por vezes pode ocorrer também um novo pedido de avaliação após algum tempo,
como no caso de alguma intervenção terapêutica ou cirúrgica, o que permite uma
comparação entre o informe atual e o anterior (ARZENO, 1995).
Pelo fato de poder ser outro o profissional a realizar, ou a ter realizado, a
avaliação, e por geralmente estes informes serem encaminhados de modo escrito, em
forma de documento, a outros profissionais, não só da área da saúde, mas também
educacional e judicial, a maneira de redigi-los é bastante relevante, uma vez que qualquer
informação colocada poderá ser utilizada a favor, ou não, do paciente avaliado.
A linguagem técnica é geralmente utilizada ao se enviar o documento a um outro
profissional da mesma área. Referindo-se a testes, termos comuns à psicopatologia,

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psicoterapia, etc. Uma linguagem menos técnica e mais concisa é utilizada ao se emitir o
informe a profissionais da área da educação, tomando maiores precauções para não
transparecer intimidades do caso que não se relacionem com campo pedagógico, ou
deixar brechas para a utilização de rótulos desnecessários, sendo importante evidenciar
potencialidades. Para médicos, geralmente interessados em receber informações sobre a
presença ou ausência de transtornos, o informe pode ser conciso, com respostas claras
aos objetivos da avaliação. No campo judicial, o informe deve ser expresso em termos
bastante inequívocos, afirmações que não sejam dúbias, definições e conclusões claras e
elucidativas, fazendo uso de alguns pontos do material utilizado e termos comuns ao
âmbito forense, para que as informações passadas não sejam utilizadas como convier à
causa. Já no informe para fins trabalhistas, este deve, preferencialmente, informar se os
traços de personalidade requeridos para a função, são presentes, adequados, aceitáveis
ou ausentes no aspirante ao cargo, lembrando-se de apresentar as potencialidades do
sujeito, e até mesmo qual seria o cargo para o qual estas seriam mais aproveitadas
(ARZENO, 1995).
Algumas vezes, por insegurança, inexperiência, ou com a finalidade de fazer muito
bem seu trabalho, o profissional psicólogo pode vir a colocar no documento de informe
tudo o que foi observado durante a avaliação, porém, não se deve dizer absolutamente
tudo, e sim o que foi solicitado e servirá para esclarecer as conclusões obtidas. Ou seja, é
importante dizer o necessário e de uma forma que sempre possa ser interpretado com
objetividade e não possa ser usado em prejuízo do sujeito avaliado (ARZENO, 1995;
CFP, 2006).
Documentos Emitidos pelos profissionais Psicólogos
Dando continuidade às questões referentes à maneira de se redigir os documentos
de informe, o Conselho Federal de Psicologia, pela resolução nº 007/2003, instituiu um
Manual de Elaboração de Documentos Decorrentes de Avaliações Psicológicas. Este será
utilizado nos tópicos a seguir a fim de elucidar, baseado nos preceitos do CFP, as
definições, formas de apresentação, etc. dos documentos.
Princípios para redação dos documentos

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Para a redação dos documentos, o psicólogo deverá adotar técnicas de linguagem
escrita e os princípios éticos, técnicos e científicos de sua profissão.
Quanto à linguagem escrita, o documento deve apresentar uma redação bem
estruturada, concisa, harmônica e clara, possibilitando a expressão do que realmente se
quer comunicar. Desta forma, deve se restringir pontualmente às informações que se
fizerem necessárias, recusando qualquer tipo de consideração que não tenha relação
com a finalidade do documento específico.
A clareza se revela na estrutura frasal, pela seqüência/ordenamento adequado
dos conteúdos. A concisão se verifica no emprego da linguagem adequada, da palavra
exata e necessária. Essa “economia verbal” requer do psicólogo a atenção para o
equilíbrio que evite uma redação muito sucinta ou o exagero de uma redação prolixa. Por
fim, a harmonia está presente na correlação adequada das frases, no aspecto sonoro e
na ausência de vícios de linguagem e/ou cacofonias (sons desagradáveis formados pela
união de palavras que podem dar a estas, sentido pejorativo, obsceno ou engraçado).
A ordenação do documento deve possibilitar sua compreensão por quem o lê, o
que é permitido pela coerência gramatical, estrutura e composição de parágrafos ou
frases.
Frases e termos devem ser utilizados de forma compatível com as expressões
próprias da linguagem profissional, garantindo a precisão da comunicação, evitando a
diversidade de significações da linguagem popular, considerando a quem o documento
será destinado. O que não significa que a linguagem deva ser sempre técnica, como dito
no tópico anterior, e sim que quando há necessidade de termos mais simples, estes
devem corresponder aos seus reais significados.
Com relação aos princípios técnicos, o documento deve considerar a natureza
dinâmica, não definitiva e não cristalizada do seu objeto de estudo.
O profissional psicólogo, ao produzir documentos escritos, deve se basear
exclusivamente nos instrumentais técnicos (entrevistas, testes, observações, dinâmicas
de grupo, escuta, intervenções verbais) que se caracterizam como métodos e técnicas
psicológicas para a coleta de dados, estudos e interpretações de informações a respeito
do sujeito atendido, bem como sobre outros materiais e grupo atendidos e sobre outros

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materiais e documentos produzidos anteriormente e pertinentes à matéria em questão.
Esses instrumentais técnicos devem obedecer às condições mínimas requeridas de
qualidade e de uso, devendo ser adequados à investigação em questão.
Outro fato importante de ser lembrado é que todas as laudas, desde a primeira até
a penúltima, devem ser rubricadas, considerando que a última estará assinada, em toda e
qualquer modalidade de documento.
Por fim, fazendo referência aos princípios éticos, ao elaborar um documento, o
psicólogo deverá sempre basear suas informações nos princípios e dispositivos do
Código de Ética Profissional do Psicólogo. Dentre estes, os cuidados em relação aos
deveres do psicólogo nas suas relações com a pessoa atendida, ao sigilo profissional, às
relações com a justiça e ao alcance das informações – identificando riscos e
compromissos em relação à utilização das informações presentes nos documentos em
sua dimensão de relações de poder.
Seria expressamente proibido realizar, sob toda e qualquer condição, do uso dos
instrumentos, técnicas psicológicas e da experiência profissional da Psicologia na
sustentação de modelos institucionais e ideológicos que perpetuem qualquer forma de
segregação.
Deve-se realizar uma prestação de serviço responsável pela execução de um
trabalho de qualidade cujos princípios éticos sustentam o compromisso social da
Psicologia.
Tipos de documentos
Neste tópico serão apresentados conceito, finalidade e estrutura de cada tipo de
documento que pode ser emitido pelo profissional psicólogo, a saber: declaração,
atestado psicológico, relatório/laudo psicológico e parecer psicológico.
I. Declaração
Documento que visa informar a ocorrência de fatos ou situações objetivas
relacionados ao atendimento psicológico. Nele não devem ser feitos registros de
sintomas, situações ou estados psicológicos.

Tem a finalidade de declarar:

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• Comparecimentos do atendido e/ou do seu acompanhante, quando
necessário;
• Acompanhamento psicológico do atendido;
• Informações sobre as condições do atendimento (tempo de
acompanhamento, dias ou horários).
Quanto à estrutura, a declaração deve expor:

• Registro do nome e sobrenome do solicitante;


• Finalidade do documento (por exemplo, para fins de comprovação);
• Registro de informações solicitadas em relação ao atendimento (por
exemplo: se faz acompanhamento psicológico, em quais dias, qual
horário);
• Registro do local e data da expedição da declaração;
• Registro do nome completo do psicólogo, sua inscrição no CRP e/ou
carimbo com as mesmas informações.
• Assinatura do psicólogo acima de sua identificação ou do carimbo.
A declaração deve ser emitida em papel timbrado ou apresentar na subscrição do
documento o carimbo, em que constem nome e sobrenome do psicólogo, acrescido de
sua inscrição profissional (“Nome do psicólogo / N.º da inscrição”).

II. Atestado Psicológico


Este documento é utilizado para certificar uma determinada situação ou estado
psicológico, e tem como finalidade afirmar sobre as condições psicológicas de quem o
solicita, por requerimento, com fins de:

• Justificar faltas e/ou impedimentos do solicitante;


• Justificar estar apto ou não para atividades específicas, após realização de
um processo de avaliação psicológica, dentro do rigor técnico e ético;
• Solicitar afastamento e/ou dispensa do solicitante, subsidiado na afirmação
atestada do fato, em acordo com o disposto na Resolução CFP nº. 015/96.

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Ao se formular o atestado, as informações devem restringir-se às solicitadas,
contendo somente o fato constatado. Embora seja um documento simples, deve cumprir
algumas formalidades.

O atestado deve ser emitido em papel timbrado ou apresentar na subscrição do


documento o carimbo, em que conste o nome e sobrenome do psicólogo, acrescido de
sua inscrição profissional (“Nome do psicólogo / N.º da inscrição”).

Ele deve expor:

• Registro do nome e sobrenome do cliente;


• Finalidade do documento;
• Registro da informação do sintoma, situação ou condições psicológicas
que justifiquem o atendimento, afastamento ou falta – podendo ser
registrado sob o indicativo do código da Classificação Internacional de
Doenças em vigor;
• Registro do local e data da expedição do atestado;
• Registro do nome completo do psicólogo, sua inscrição no CRP e/ou
carimbo com as mesmas informações;
• Assinatura do psicólogo acima de sua identificação ou do carimbo.
Para evitar adulterações no documento, os registros devem estar transcritos de
forma corrida, ou seja, separados apenas pela pontuação, sem parágrafos. Caso haja
necessidade da utilização de parágrafos, o psicólogo deve preencher esses espaços com
traços.

É importante ressaltar que o atestado emitido para justificar aptidão ou não para
determinada atividade, através do uso do psicodiagnóstico, deve ter seu relatório
correspondente guardado nos arquivos profissionais do psicólogo, pelo prazo mínimo de
cinco anos, ou o prazo previsto por lei.
III. Relatório ou Laudo Psicológico
Referem-se a uma apresentação descritiva acerca de situações e/ou condições
psicológicas e suas determinações históricas, sociais, políticas e culturais, pesquisadas
no processo de avaliação psicológica. Como todo documento, deve ser subsidiado nos
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dados colhidos e analisados, à luz de um instrumental técnico baseado em referencial
técnico-filosófico e científico adotado pelo psicólogo.

Finalidade do relatório ou laudo psicológico: apresentar os procedimentos e


conclusões geradas pelo processo da avaliação psicológica, relatando sobre o motivo do
encaminhamento, as intervenções, o diagnóstico, o prognóstico e evolução do caso,
orientação e sugestão de projeto terapêutico, bem como, caso necessário, solicitação de
acompanhamento psicológico, limitando-se a fornecer somente as informações
necessárias relacionadas à demanda, solicitação ou petição.

O relatório psicológico é uma peça escrita de natureza e valor científicos. Sendo


assim, deve conter narrativa detalhada e didática, com clareza, precisão e harmonia,
tornando-se acessível e compreensível ao destinatário. Os termos técnicos devem,
portanto, estar acompanhados das explicações e/ou conceituação retiradas dos
fundamentos teórico-filosóficos que os sustentam.

Quanto à sua estrutura, o relatório psicológico deve conter no mínimo cinco itens:
identificação, descrição da demanda, procedimento, análise e conclusão.

Identificação

Constitui-se da parte superior do primeiro tópico do documento com a finalidade de


identificar:

• AUTOR/relator – quem elabora - nome(s) do(s) psicólogo(s) que realizará(ão) a


avaliação, com a(s) respectiva(s) inscrição(ões) no Conselho Regional.;
• INTERESSADO – quem solicita - nome do autor do pedido (se a solicitação foi da
Justiça, se foi de empresas, entidades ou do cliente);
• ASSUNTO/finalidade – o psicólogo indicará a razão, o motivo do pedido (se para
acompanhamento psicológico, prorrogação de prazo para acompanhamento ou
outras razões pertinentes a uma avaliação psicológica).
Descrição da demanda

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Esta parte destina-se à descrição das informações referentes à problemática
apresentada e dos motivos, razões e expectativas que produziram o pedido do
documento. Nesta parte, deve-se apresentar a análise que se faz da demanda,
justificando o procedimento adotado.
Procedimento
Nesta parte serão apresentados os recursos e instrumentos técnicos utilizados para
coletar as informações (número de encontros, pessoas ouvidas etc) à luz do referencial
teórico-filosófico que os embasa.
O procedimento adotado deve ser pertinente para avaliar a complexidade do que está
sendo demandado.
Análise
Na análise, o psicólogo faz uma exposição descritiva de forma metódica, objetiva e fiel
dos dados colhidos e das situações vividas relacionados à demanda.
Como apresentado anteriormente, nos princípios técnicos, “O processo de avaliação
psicológica deve considerar que os objetos deste procedimento (as questões de ordem
psicológica) têm determinações históricas, sociais, econômicas e políticas, sendo as
mesmas, elementos constitutivos no processo de subjetivação. O documento, portanto,
deve considerar a natureza dinâmica, não definitiva e não cristalizada do seu objeto de
estudo”.
Nessa exposição, deve-se respeitar a fundamentação teórica que sustenta o
instrumental técnico utilizado, bem como princípios éticos e as questões relativas ao sigilo
das informações. Somente deve ser relatado o que for necessário para o esclarecimento
do encaminhamento, conforme explicita o Código de Ética Profissional do Psicólogo.
O psicólogo, ainda nesta parte, não deve fazer afirmações sem sustentação em fatos
e/ou teorias, devendo ter linguagem precisa, especialmente quando se referir a dados
subjetivos.
Conclusão
Na conclusão do relatório, serão expostos o resultado e/ou considerações a respeito
de sua investigação. As considerações geradas pelo processo de avaliação psicológica

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devem transmitir ao solicitante tanto a análise da demanda como do processo de
avaliação psicológica como um todo.
Vale ressaltar a importância de sugestões e projetos de trabalho que contemplem as
variáveis envolvidas durante todo o processo.
Após isto, o documento é encerrado, com indicação do local, data de emissão,
assinatura do psicólogo e o seu número de inscrição no CRP.
IV. Parecer Psicológico
O parecer é um documento fundamentado e resumido sobre uma questão focal do
campo psicológico cujo resultado pode ser indicativo ou conclusivo.
Ele tem como finalidade apresentar uma resposta esclarecedora no campo do
conhecimento psicológico, através de uma avaliação especializada, de uma “questão-
problema”, visando diminuir dúvidas que estão interferindo na decisão, sendo, portanto,
uma resposta a uma consulta, que exige de quem responde competência no assunto.
O psicólogo parecerista deve fazer a análise do problema apresentado,
destacando os aspectos relevantes e opinar a respeito, considerando os quesitos
apontados e com fundamento em referencial teórico-científico.
Havendo quesitos, o psicólogo deve respondê-los de forma sintética e
convincente, não deixando nenhum sem resposta. Quando não houver dados para a
resposta ou quando o psicólogo não puder ser categórico, deve-se utilizar a expressão
“sem elementos de convicção”. Se o quesito estiver mal formulado, pode-se afirmar
“prejudicado”, “sem elementos” ou “aguarda evolução”.
Quanto à estrutura, tem-se que o parecer é composto de quatro itens:
identificação, exposição de motivos, análise e conclusão.
Identificação
Identifica o nome do parecerista e sua titulação, o nome do autor da solicitação e
sua titulação.
Exposição de Motivos
Nesta parte o parecerista transcreve o objetivo da consulta e dos quesitos ou
apresenta as dúvidas levantadas pelo solicitante. Deve-se apresentar a questão em tese,

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não sendo necessária, portanto, a descrição detalhada dos procedimentos, como os
dados colhidos ou o nome dos envolvidos.
Análise
A discussão do Parecer Psicológico se constitui na análise minuciosa da questão
explanada e argumentada com base nos fundamentos necessários existentes, seja na
ética, na técnica ou no corpo conceitual da ciência psicológica. Nesta parte, deve
respeitar as normas de referências de trabalhos científicos para suas citações e
informações.
Conclusão
Parte final do parecer. O psicólogo deve apresentar seu posicionamento,
respondendo à questão levantada. Em seguida, deve informar o local e data em que foi
elaborado o documento e assiná-lo.

2. Aconselhamento psicológico: métodos e técnicas.


O Aconselhamento constitui, atualmente, uma área especifica da Psicologia,
abrangendo um importante setor de especialização da ciência psicológica. É uma prática
que se desenvolveu nos campos da: orientação educacional, higiene mental, orientação
profissional, psicometria, serviço social de caso e psicoterapia.
Desenvolvimento Histórico
Segundo Ruth Scheeffer (1964), o desenvolvimento histórico do Aconselhamento
surge ligado a alguns movimentos psicológicos renovadores, tais como: 1) O
aparecimento da orientação profissional, mais especificamente, quando Parsons fundou
seu Serviço de Orientação Profissional em Boston, em 1909, que limitava-se a fornecer
aos clientes informações relativas ao mundo profissional, sem se preocupar com as
técnicas de relacionamento entre orientador e orientando, com uma atuação de caráter
estático. Mais tarde, em 1924, iria se definir a orientação profissional como o
fortalecimento de informações e conselhos sobre a escolha da profissão, pautado na
experiência do orientador. Já em 1937, a orientação profissional adquire maior
dinamismo, neste momento, Meyer a define como o processo no qual o indivíduo é
assistido com o objetivo de este encontrar, de acordo com as suas características

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pessoais, a profissão mais adequada. Nesta época, predominava a ênfase na aplicação
de testes psicológicos, porém, já se admitia que a orientação fosse um processo que visa
ajudar o orientando a fazer algo para si. Após o auge dos testes psicológicos, de 1940 à
1950, foi dada maior importância à relação orientador e orientando na situação de
aconselhamento do processo de orientação profissional. Sem dúvidas, o maior
influenciador desta mudança foi Carl Rogers, com suas teorias de orientação não-diretiva
no aconselhamento psicológico. 2) A criação de Serviços de Higiene Mental para adultos,
inclusive de Centro de Aconselhamento Pré-Matrimonial e Matrimonial, nos E.U.A.,
favorece a criação de campo de atuação para o aconselhamento. 3) As instituições de
Assistência Social que precisavam dar aos clientes, além de assistência médica e
financeira, oportunidades de expressão e alívio de suas cargas emocionais constituíram
um outro campo de atuação para desenvolvimento do aconselhamento psicológico. 4)
Uma outra oportunidade de aplicação do aconselhamento foi desenvolvimento dos
serviços de assistência psicológica nas empresas.
Definição
Ainda segundo Scheeffer (1964), o termo aconselhamento já foi tradicionalmente
associado a várias situações, tais como: fornecer informações, dar conselhos, criticar,
elogiar, encorajar, apresentar sugestões e interpretar ao cliente o significado de seu
comportamento. Mas, suas definições sofreram mudanças no decorrer de sua história.
Suas primeiras definições eram concisas e estáticas, Scheeffer (1964) cita Garrett
(1942) que definia aconselhamento com uma conversa profissional.
Mais tarde o aconselhamento passou a ser definido em termos mais dinâmicos e
operacionais. Scheeffer (1964) atribui a Carl Rogers (1941) este tipo de conceituação
quando o definiu como um processo de contatos diretos com o indivíduo, no qual a
principal meta é lhe oferecer assistência na modificação de suas atitudes e
comportamentos.
Scheeffer (1964) aponta outras definições que têm sido dadas ao aconselhamento.
Como, por exemplo, a de Mac Kinney (1958) que diz que o aconselhamento é uma
relação interpessoal na qual o conselheiro deve perceber o indivíduo em sua totalidade
psíquica, com o objetivo de lhe ajudar a se ajustar mais efetivamente a si próprio e ao seu

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ambiente. Nesta concepção, nota-se que o planejamento do aconselhamento dá ênfase
ao ajustamento do indivíduo ao ambiente em que está inserido. Outro exemplo, de
definição dado pelo autor, é a elaborada por Tolberg (1959), nela o aconselhamento é
delimitado enquanto uma relação entre duas pessoas na qual o aconselhador, mediante a
situação estabelecida e a sua competência especial, proporciona uma situação de
aprendizagem, na qual o indivíduo, uma pessoa normal, é ajudado a conhecer a si
próprio, e as suas possibilidades e potencialidades, a fim de fazer o uso adequado de
suas características. Percebe-se nesta definição que o aconselhamento é visto como uma
situação de aprendizagem e aplicável a pessoas normais.
Considerando e sintetizando as definições apresentadas, Scheeffer (1964), define
aconselhamento “como uma relação face a face de duas pessoas, na qual uma delas é
ajudada a resolver dificuldades de ordem educacional, profissional, vital e utilizar melhor
seus recursos pessoais” (p.14), ele completa destacando a importância de se tomar o
indivíduo em sua totalidade no processo de aconselhamento.
Métodos de Aconselhamento
Os métodos de aconselhamento vêm sofrendo alterações no decorrer de sua
história, modificando suas técnicas, os princípios que o norteiam e sua dinâmica.
Scheeffer (1964) faz um apanhado histórico dos principais métodos de aconselhamento,
dividindo-os em:
Método Autoritário:
Os primeiros métodos desenvolvidos para o aconselhamento se caracterizam pelo
elevado nível de autoritarismo. Basicamente, suas ações consistiam na repreensão e na
ameaça dos orientados. Este tipo de método está, hoje, praticamente abandonado, pela
falta de sentido humanitário, por serem pouco duradouras e por conseguirem
modificações muito superficiais. São ações que seguem mais no sentido de reprimir do
que de modificar.
Método Exortativo
O orientador trabalha com o objetivo de conseguir que o orientado faça uma
promessa: deixar de beber, de jogar, de bater na esposa, etc. Ou seja, o trabalho
caracteriza-se pela obtenção de um termo de compromisso ou uma promessa formal do

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orientando, de acordo com o que o orientador acha ser melhor para ele. Até
recentemente, este método vem sendo usado em vários contextos orientacionais, apesar
de seus inconvenientes: o fato de ser baseado numa exigência externa e que, muitas
vezes, não pode ser, por motivos internos, atendida, gera, além do problema existente,
um sentimento de culpa pelo não cumprimento da promessa.
Método Sugestivo
Caracteriza-se fundamentalmente pelo emprego de técnicas sugestivas, na qual,
procura-se provocar uma modificação no comportamento e nas atitudes do sujeito,
através de sugestões sobre o progresso obtido, como, por exemplo, o encorajamento:
“você está mais calmo”; “mais corajoso”; etc. É ainda bastante usado atualmente.
Consiste na supressão do problema e através do encorajamento e suporte, o indivíduo, se
convence que o problema não existe. Ressurgiu, com mais ênfase, com o hipnotismo.
Catarse
Foi utilizada pela Igreja Católica, onde era baseada na confissão. Consiste em
expressar problemas para outra pessoa que irá proporcionar orientação. Este método foi
trazido para a terapêutica por Freud, que o utilizou na Psicanálise de maneira sistemática
e profunda com o objetivo de liberar o individuo de recalques, angústias, etc. Aplicada de
maneira continua pode mobilizar o inconsciente. É um método bastante utilizado por
quem faz aconselhamento.
Método Diretivo
É o método que conta com o maior numero de seguidores dentro da área do
aconselhamento. Nele o orientador age como dirigente, seleciona os tópicos que serão
discutidos, define os problemas, descobre as causa e sugere soluções ou propõe planos
de ação. Baseia-se na orientação médica, pois dá bastante importância para o histórico
do caso e procura realizar um diagnóstico e um prognóstico. Este tipo de orientação pode
gerar um efeito iatrogênico, a dependência do orientando, visto que a responsabilidade
das soluções está a cargo do orientador. Não deixa de ser um aconselhamento do tipo
autoritário, embora não em caráter rígido.
Método Interpretativo

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Na orientação diretiva, além da persuasão e conselhos, também se utiliza as
técnicas interpretativas. É baseado no estudo da dinâmica da personalidade, o que
permite uma melhor compreensão do comportamento e a possível descoberta das causa
que o motivam. Pode ser considerada uma tentativa de mudar o comportamento através
de uma explicação e interpretação intelectual.
Método Não-Diretivo
Método iniciado por Carl Rogers apresenta as seguintes características: dá maior
responsabilidade da direção da entrevista ao orientando, isto é, a entrevista é centralizada
na pessoa do orientando; visa à pessoa, mais do que o problema apresentado;
proporciona a oportunidade de um amadurecimento pessoal; não se dá grande
importância ao conteúdo fatual e intelectual, mas ao emocional. O papel do orientador
consiste em clarificar os conteúdos emocionais do trazidos pelo orientando, não há a
preocupação de se elaborar um diagnóstico, como na orientação diretiva.
Método Eclético
Consiste na aplicação de conceitos e técnicas dos diversos métodos apresentados
acima. Caracteriza-se pela utilização das técnicas, consideradas pelo orientador, mais
satisfatórias e eficientes para a situação apresentada pelo cliente. É dada grande ênfase
a habilidade do orientador em selecionar, manejar e aplicar a técnica mais adequada às
exigências do cliente.

3. Técnicas de intervenção psicológica: psicoterapia breve e emergencial; as


entrevistas preliminares e seus efeitos imediatos.
Antecedentes Históricos da Psicoterapia Psicodinâmica Breve, final do sec. XIX até
1950
Sigmund Freud
Segundo Yoshida (1990) vários autores como Malan (1963), Marmor (1979), Braier
(1984), Sifneos (1984), Gilliéron (1983a) consideram Freud como o principal precursor
das Psicoterapias Psicodinâmicas Breves. Eles afirmam isto baseado nos primeiros casos
atendidos por ele, que variaram de uma sessão, como aconteceu no atendimento a

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Catarina em 1895, até onze meses, tempo que durou o caso do Homem dos Ratos, de
1909.
A autora diz ainda que estes exemplos, como alguns outros encontrados na
biografia de Freud, podem ser considerados hoje como intervenções de caráter breve. O
que se observa, é que Freud visava, sobretudo, a análise e compreensão da etiologia do
sintoma, buscando sua remissão. Eram tratamentos com fins específicos, para ambas as
partes, e uma vez alcançados estes objetivos decidia-se pela interrupção do processo. No
entanto, o maior interesse de Freud era de compreender a natureza do inconsciente e da
personalidade, em decorrência disso, conforme seus conhecimentos foram se ampliando,
seus objetivos foram se modificando, levando a processos terapêuticos cada vez mais
longos.
Para Hegenberg (2004), Freud, em 1920, com 64 anos, recém saído da Primeira
Guerra Mundial, doente de câncer, via-se compelido a defender a psicanálise diante das
inúmeras críticas que vinha sofrendo. Ele queria que seu arcabouço teórico fosse
reconhecido como cientifico. Mas, nessa época a questão mais preocupante era a reação
terapêutica negativa, ou seja, o agravamento dos sintomas ao invés da melhora
esperada. Então, Freud cunha seu conceito de pulsão de morte e introduz a noção de
compulsão a repetição. O conflito se dava então entre a pulsão de vida e de morte, sendo
esta responsável pelo prolongamento dos tratamentos.
Sandor Ferenczi
Enquanto Freud, ao enfrentar dificuldades com os pacientes, propunha um
aprofundamento da metapsicologia 1, Ferenczi preocupava-se com a práxis clínica.
Então, de acordo Yoshida (1990), ele, em 1916, começa a fazer algumas
modificações na técnica, atuando com mais iniciativa no processo terapêutico, o que ele
mesmo chamou de técnica ativa, ou seja, injunções feitas ao paciente no intuito de
acelerar o processo terapêutico e vencer a reação terapêutica negativa, as resistências. O
analista, através da observação atenta, deveria identificar para onde se deslocara a libido,

1
Segundo Roudinesco & Plon (1998), metapsicologia é o termo criado por Freud, 1896, para qualificar o
conjunto de sua concepção teórica e distingui-la da psicologia clássica. A abordagem metapsicologica
consiste na elaboração de modelos teóricos que não estão diretamente ligados a uma experiência prática ou a
uma observação clínica; ela se define pela consideração simultânea dos pontos de vista dinâmico, tópico e
econômico.
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que anteriormente estava investida na relação transferencial, e então, intervir, no intuito
de produzir uma tensão ótima, capaz de remover as barreiras e retomar o processo
terapêutico. Vale a pena destacar que o sentido que se dá à ação do analista é a
interpretação e o estabelecimento ocasional de “tarefas” ao paciente.
Yoshida (1990) continua e diz que estas injunções, consistiam em induzir maior
atividade no paciente, ora levando-o a enfrentar situações ansiógenas, ora proibindo-o de
certas atividades que lhe garantem algum tipo de gratificação e que por isso funcionam
como obstáculo ao trabalho. Mas, ele mesmo reconheceu mais tarde, que o sucesso
destas injunções dependeria de um bom vínculo terapêutico.
De acordo com Hegenberg (2004), Ferenczi considerou que no processo
terapêutico dois elementos são de essencial importância: o paciente e o terapeuta. Para
ele a presença do analista no processo de análise é indispensável, e entendia também
que o problema atual do indivíduo está integrado com sua história pessoal. Ele procurou
observar como o sujeito se comporta no presente em função de seu passado.
Segundo Lemgruber (1984), Ferenczi afirmou que o terapeuta em psicoterapia
breve pode fazer uso de analogias, dramatização, ironia, sarcasmo, humor,
agressividade, palavras de baixo calão, anedotas, ditos populares e parodias. Além disto,
no decorrer de sua obra, ele discorre sobre: introjeção, contratransferência, transferência,
importância do analista na terapia, o papel do mundo real e o enquadre.
Otto Rank
O psicanalista e psicólogo austríaco, Otto Rank, já em sua juventude conheceu
Freud, que o levou a freqüentar seu circulo de discussão e, em 1906, se tornar secretário
da Sociedade Psicanalítica de Viena. Yoshida (1990) destaca que dentre as principais
contribuições de Rank, talvez a que mais se destaque, é a noção de trauma de
nascimento. Entendida como a situação em que o feto perde a condição “paradisíaca”
vivida no útero materno e que acarretaria uma primeira e determinante situação de
ansiedade, constituindo-se no protótipo de todas as outras situações traumáticas. Esta
experiência foi designada de “ansiedade primordial”. A “perda do paraíso” marcaria todas
as ações humanas motivadas pelo desejo de recuperá-lo.

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Porém, segundo Marmor (1979), citado por Yoshida (1990), o próprio Rank
abandona esta idéia e se dedica a questão da separação-individuação, que limitando o
tempo de análise, pretendia favorecer a elaboração dos conflitos e ansiedades relativos a
situações de separação. Ainda de acordo com Marmor (1979), Rank, em 1947, fala sobre
o conceito de will-therapy ou terapia da vontade, na qual o terapeuta deveria mobilizar a
vontade do paciente no processo terapêutico, com o objetivo de acelerá-lo.
Franz Alexander e Thomas M. French:
Logo depois de se formar em medicina, Alexander inicia sua formação
psicanalítica que de acordo com Yoshida (1990), foi bastante ortodoxa, e anos depois, foi
para os Estados Unidos fundar, em 1931, o Instituto de Psicanálise de Chicago. E ali,
juntamente com French, buscou desenvolver os princípios básicos que tornariam possível
técnicas específicas de tratamentos psicoterápicos mais breves e mais eficazes.
Ainda segundo esta autora, os estudos desenvolvidos em Chicago entre 1938 e
1945 resultaram no livro “Terapêutica Psicanalítica” (1946), considerado um marco na
história das psicoterapias psicodinâmicas breves.
Eles realizaram vários experimentos que buscavam por à prova certos
pressupostos da técnica psicanalítica tradicional, tais como: a questão da profundidade da
terapia, relacionada à duração e à freqüência das sessões semanais; a pressuposição de
que o prolongamento da análise se justifica pela necessidade de superar as resistências,
e a noção de que um número reduzido de sessões necessariamente implica resultados
superficiais e temporários.
Alexander e French entendiam como finalidade do processo terapêutico a
readaptação emocional, pois consideravam a doença mental como conseqüência do
fracasso do ego em sua tarefa de assegurar a gratificação das necessidades do indivíduo.
Com relação à postura do analista dentro do processo terapêutico, Yoshida (1990)
coloca que eles propunham o princípio da flexibilidade, ou seja, o terapeuta deve
encontrar o procedimento terapêutico mais adequado para cada caso. Em relação à
técnica psicanalítica tradicional, outra grande diferença proposta é a atitude mais ativa do
analista, porém com certa diferença do que Ferenczi disse, pois Alexander e French
indicavam alterações na freqüência das sessões, relacionadas às necessidades

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específicas de cada etapa do tratamento, assim também como o controle das relações
transferenciais, com o objetivo de se evitar regressões excessivas, levando a um
prolongamento desnecessário do tratamento.
Porém, Lemgruber (1984) diz que dentre as inúmeras contribuições que estes
autores produziram às teorias e técnicas psicoterápicas, talvez a mais conhecida seja a
noção de Experiência Emocional Corretiva (EEC). Proposta esta pensada
especificamente por Alexander, em 1946, que consiste em expor o paciente a situações
emocionais que não pôde resolver no passado. Ou seja, a EEC acontece na relação
terapêutica, mas pode ocorrer em qualquer outra relação cotidiana, é um insight cognitivo,
um “estalo interno”, que desencadeia um processo de mudança. É uma experiência
completa, pois compreende aspectos emocionais, volitivos, motores e cognitivos.
Lemgruber (1984) afirma que para eles o terapeuta deve tentar aumentar o
número de “estalos” de forma ativa, buscando dar condições para que o maior número
possível de insights aconteça. E isso só irá ocorrer num contexto relacional de segurança,
aceitação e ausência de censura. Além de tentar produzir EEC dentro da clínica, o
terapeuta deve procurar dar condições para que eles aconteçam também na vida
cotidiana, pois sendo assim eles ganham um efeito potencializador, já que podem ser
comentados dentro da sessão gerando outros, e assim por diante.
Para Yoshida (1990), Alexander propõe um planejamento do tratamento baseado
na avaliação diagnóstica e psicodinâmica da personalidade do paciente e nos problemas
reais que este tem que enfrentar em sua vida, para daí decidir qual tipo de tratamento
será empregado.
Psicoterapia Psicodinâmica Breve após 1950
David H. Malan
De acordo com Yoshida (1990), a partir de 1950, o movimento de psicoterapia
breve ganha força com vários grupos de pesquisadores que buscavam definir critérios de
seleção, alterações de técnicas e os efeitos que poderia se esperar a partir delas. Neste
contexto, destacam-se dois grupos que trabalhavam independentemente: um na Clínica
Tavistock, em Londres, dirigido por David Malan, e o outro no Hospital Geral de
Massachusetts, em Boston, dirigido por Peter E. Sifneos.

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Para esta autora, o grupo da Tavistock, com o objetivo de resgatar o método
original de Freud, desenvolveu uma técnica de psicoterapia que inclui vários tipos de
recursos técnicos disponíveis na psicanálise: análise da resistência, interpretação
transferencial, interpretação de sonhos e fantasias. O procedimento adotado por eles
consistia em fazer uma avaliação psicodiagnóstica, composta de entrevistas clínicas e
utilização de testes, para daí se estabelecer uma hipótese psicodinâmica básica. Esta
hipótese busca identificar o conflito primário do paciente, no qual sua problemática atual
constitui uma reedição. Com base nesta hipótese se estabelece um objetivo específico e
limitado, que consiste no foco ou tema especifico para interpretação. Com isso em mãos,
se defini o procedimento terapêutico mais estratégico a ser adotado.
Lemgruber (1984) diz que para Malan o objetivo ou o foco deve ser formulado
idealmente em termos de uma interpretação essencial, na qual se baseia o processo
terapêutico.
De forma mais especifica, Lemgruber (1984) destaca que segundo Malan os três
recursos técnicos que o terapeuta pode usar para buscar o foco são:
• Interpretação seletiva: onde se busca interpretar sempre o material do paciente em
relação ao conflito focal.
• Atenção seletiva: através da qual se busca todas as relações possíveis do material
que o paciente traz com o conflito focal (é diferente da atenção flutuante da
psicanálise clássica).
• Negligência seletiva: leva o terapeuta a evitar qualquer material que possa desviá-
lo do foco.
Yoshida (1990) ressalta que a atitude do terapeuta para Malan é ativa, utilizando-
se de interpretações seletivas, atenção seletiva e negligência seletiva. Ele deve procurar
manter a focalização sobre os elementos da hipótese psicodinâmica básica. Esta técnica
é conhecida com o nome de Psicoterapia Focal.
Peter E. Sifneos
Yoshida (1990) coloca que Sifneos propôs uma técnica de psicoterapia
denominada Psicoterapia Breve Provocadora de ansiedade (Short-Term Anxiety-
Provoking Psychotherapy, STAPP) indicada para casos em que os sintomas neuróticos

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são claramente identificáveis e onde a problemática edipiana está em primeiro plano,
como por exemplo, na fobia e nas formas brandas de neuroses obsessivas. O
procedimento proposto consiste em pedir para o paciente escolher qual dificuldade
emocional considera prioritária. Em seguida o terapeuta faz um levantamento detalhado
da história de vida do paciente, com o objetivo de se formular uma hipótese psicodinâmica
que dê conta de explicar os conflitos emocionais subjacentes às dificuldades vividas por
ele.
Desempenhando o papel de “avaliador” e “professor”, o terapeuta formula
questões provocadoras de ansiedade, que estimulem o paciente a enfrentar e examinar
áreas do conflito emocional que numa outra situação evitaria. As sessões ocorrem na
posição de face a face e desde o início é dito para o paciente que o tratamento terá uma
duração de doze a dezoito sessões.
Hector Fiorini
Fiorini (1995) propõe a “Psicoterapia de esclarecimento”, que consiste em um
trabalho egóico com base teórica psicanalista. Para ele o estudo das funções egóicas é
importante para a compreensão da dinâmica do comportamento e também para entender
os mecanismos de ação das influências sobre este comportamento. Este estudo também
se faz importante para a eficácia terapêutica, já que o êxito ou o fracasso de uma
psicoterapia dependem da evolução adequada ou do descaso pelos recursos egóicos do
paciente.
Uma das principais razões que fazem Fiorini priorizar o ego, além do descaso
teórico que se deu a ele até então, é que este é potencialmente plástico e tem bastante
mobilidade se comparado com a inércia atribuída ao superego e ao id. O que permite uma
base para a compreensão da ação terapêutica e de uma diversidade de recursos
corretivos. O ego é uma dimensão de especial interesse para todo o enfoque diagnóstico,
prognóstico e terapêutico.
De acordo com Hegenberg (2004), para Fiorini o papel do terapeuta é semelhante
ao de um “docente”, ou seja, ele assume uma postura pedagógica, colocando-se no lugar
do saber. Na Psicoterapia Breve de Fiorini, o terapeuta realiza o manejo das sessões, a
indicação de livros e filmes, a sugestão de condutas, como por exemplo, propor viagens,

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falar com alguém sobre algum assunto fundamental para o problema do paciente. O
terapeuta busca dar condições para a criação de um contexto de discriminação e
esclarecimento, em que o insight abre espaço para a experiência emocional corretiva.
O trabalho proposto por Fiorini (1995) é predominantemente cognitivo, com
duração de 3 a 6 meses, voltado para o futuro e para a realidade factual (social) do
cliente. O terapeuta é mais ativo, com atenção voltada para o foco, usando interpretações
transferenciais apenas para diluir os obstáculos, com o objetivo de fortalecer áreas livres
de conflitos.
Fiorini (1995) destacou alguns tipos de intervenções verbais de um terapeuta em
psicoterapia breve, são elas:
 Interrogar o paciente, solicitando dados precisos, com o objetivo de
ampliar e esclarecer o relato;
 Propiciar informação;
 Confirmar ou retificar os conceitos do paciente sobre sua situação;
 Clarificar, ou seja, reformular o relato do paciente para que certos
conteúdos adquiram mais relevo;
 Recapitular, resumir o processo de cada sessão e do conjunto do
tratamento;
 Assinalar relações entre dados;
 Interpretar o significado de comportamentos do paciente;
 Sugerir atitudes determinadas, mudanças a titulo de experiência;
 Indicar especificamente a adoção de certos comportamentos com
caráter de prescrição, intervenções de cunho diretivo;
 Dar enquadramento à tarefa;
 Meta-intervenção, ou seja, comentar ou avaliar o porquê de ter usado
determinada intervenção;
 Outras intervenções: cumprimentar, anunciar interrupções, variações
ocasionais de horários, etc.

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Ele também aponta a necessidade de diferentes tipos de intervenções, tais como:
intervenções corporais (gestos, postura corporal e olhares) e intervenções para-corporais
(tom de voz, intensidade e ritmo da fala).

Intervenções em crise.

Erick Erikson, nos anos 50, explanou sua teoria sobre as oito fases do
desenvolvimento psicológico do ser humano e em 1959 conceituou as chamadas crises
vitais e as crises acidentais, reações emocionais a acontecimentos percebidos como
ameaçadores.
Segundo Aguiar (1998) a teoria psicanalítica já propunha que a formação da
personalidade ocorreria ao longo de uma sucessão de etapas. Erikson detalhou e
valorizou os momentos de crise, inclusive destacando seu potencial de superação e de
amadurecimento. Além disso, ele não se restringiu ao detalhamento das fases infantis do
desenvolvimento da personalidade, mas ampliou o estudo evolutivo, detendo-se nos
conflitos básicos das fases mais adultas e de envelhecimento do ciclo vital.
Para Caplan (1980, apud AGUIAR, 1998) o fator essencial que influi na ocorrência
de uma crise é um desequilíbrio entre a dificuldade e a importância do problema, por um
lado, e os recursos imediatamente disponíveis para resolvê-los, por outro.
Quando a pessoa consegue redimensionar sua psicodinâmica interior e de
relacionamento com as pessoas do ambiente, a resolução da crise, neste caso, pode
representar um momento de amadurecimento e de crescimento emocional. Portanto, esta
situação é um momento de perturbação que pode ser de crescimento e não apenas um
fator desencadeante de desequilíbrios crônicos (AGUIAR, 1998).
A maioria das pessoas procura ajuda especializada somente quando em crise. A
responsabilidade do terapeuta é oferecer ajuda tão eficientemente quanto possível dentro
dos limites das motivações e das disponibilidades das pessoas que dela necessitam
(AGUIAR, 1998).
Muitos dos autores que desenvolveram técnicas psicoterápicas breves são
psicanalistas que trabalhavam em ambulatórios de hospitais ou em serviços comunitários.
Eles partiram da constatação de que a maioria das pessoas comparecia quatro ou pouco
mais sessões psicoterápicas e depois se desinteressava.
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Tipos de intervenção em crise e técnicas
Sifneos (1976, apud AGUIAR, 1998) postulou dois tipos de psicoterapia breve: as
supressoras de ansiedade (ou de apoio) e as provocadoras de ansiedade (ou dinâmicas).
As supressoras de ansiedade têm por objetivo diminuir ou eliminar a ansiedade
através do uso de técnicas de apoio, tais como reasseguramento, técnicas de
relaxamento e manipulação do ambiente e, se necessário, uso de medicação e
internação.
As provocadoras de ansiedade têm por objetivo proporcionar algum nível de
insight, utilizando clarificação, confrontação e algumas perguntas que estimulem a pessoa
a se questionar. As interpretações também são utilizadas e há a identificação de um foco.
Identificada a crise, o objetivo genérico é a sua superação. Um instrumento clínico
que pode ser utilizado é estabelecer uma lista de problemas, na qual são colocadas as
questões que parecem estar sendo enfrentadas com dificuldade, se possível com
hierarquia, isto é, com ordem de importância.
Na intervenção em crise supressora de ansiedade o terapeuta utiliza o
reasseguramento, clarificação, mais do que a confrontação, exame detalhado das
tentativas de solução para cada um dos itens da lista de problemas, encorajamento,
técnicas de relaxamento, apoio de familiares do paciente, hospitalização breve e
medicamentos, se necessário (AGUIAR, 1998).
Na intervenção em crise provocadora de ansiedade a confrontação e a
interpretação são mais utilizadas. Depois da lista de problemas, tenta-se não só identificar
os conflitos inconscientes associados à crise, mas alcançar algum insight. Tenta-se ajudar
a pessoa a entender um pouco mais sobre seus sintomas e as suas dificuldades
(AGUIAR, 1998).
Para uma intervenção de apoio em crise, selecionam-se pessoas com longa
história de relações interpessoais confusas, com poucos recursos psicológicos para
manejar os problemas do cotidiano, com quadros psicóticos graves, em situações clínicas
que desaconselhem intervenções ansiogênicas, quando a ambientação é imprópria para a
abordagem, enfim, quando razões internas ou externas à pessoa em crise favorecem o
apoio e não as intervenções mais psicodinâmicas (AGUIAR, 1998).

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Para uma intervenção provocadora de ansiedade em crise selecionam-se pessoas
que entraram em crise, mas que apresentavam anteriormente condições psicológicas
mais favoráveis, com coesão maior de suas estruturas psíquicas (AGUIAR, 1998).
Indicações
As pessoas em situação de crise em geral podem beneficiar-se. No hospital geral,
há indicações como: crises depressivas reacionais, ansiedade pré e pós operatória,
adaptação a situações clínicas novas, reações emocionais frente à própria hospitalização,
familiares de pacientes, luto, etc. as intervenções neste momento são aliviadoras e
preventivas, pois podem impedir reações mais disruptivas (AGUIAR, 1998).
Concluindo
As intervenções em crise são aplicações originalmente derivadas das
psicoterapias breves, as quais se derivam da psicanálise enquanto técnica. Elas exigem
rapidez, flexibilidade, empatia e tolerância para situações de risco por parte do terapeuta
(AGUIAR, 1998).
Aguiar (1993 apud AGUIAR, 1998) afirma que é necessário ser flexível para
adaptarmos as técnicas aos pacientes e não ao contrário. Entretanto, a flexibilização é
mais efetiva quando dispomos do conhecimento dos parâmetros pelos quais nos
guiamos.

4. Psicopatologia: semiologia e nosologia dos transtornos mentais.


Assim como as demais doenças, podemos dizer que para se desenvolver uma
Doença Mental há necessidade, no mínimo, de 2 fatores: a disposição pessoal para a
doença e dos agentes ocasionais.
A disposição pessoal do indivíduo diz respeito a seus Traços de Personalidade,
suas características constitucionais. Por constituição devemos entender a configuração
permanente do indivíduo, tal como seu fenótipo, ou seja, uma somatória dos elementos
genéticos com os elementos acoplados à sua pessoa durante seu desenvolvimento.
Fenótipo = Genótipo + Ambiente.
A constituição vai além do genético, como se entende no exemplo de uma pessoa
nascida com malformações decorrentes da toxoplasmose congênita. Tais manifestações,

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embora constitucionais, não podem ser consideradas genéticas, não aparecem nos genes
dos ancestrais mas, serão constitucionais.
A disposição psíquica pessoal básica tem lugar nos momentos mais precoces da
vida, constituindo a marca característica e perene do relacionamento da pessoa com o
ambiente e consigo própria, constituindo a maneira do indivíduo contactar e reagir ao
mundo objectual. A este ser, dotado geneticamente de um conjunto de Traços pessoais e
de uma série de outras características psíquicas adquiridas durante seu desenvolvimento
precoce através da complacência de seus genes, podemos atribuir uma certa Disposição
Pessoal Originária, a qual, favorecerá ou não, o desenvolvimento da Doença Mental.
Entram na Disposição Pessoal Original também, todos os perfis constitucionais,
tais como suas características metabólicas, endócrinas, neurológicas, etc.
Agentes Ocasionais aqui entram os fatores psicogênicos que a existência oferece
para o indivíduo, ou conforme diz o DSM-IV, tratam-se dos estressores psicossociais.
Estes agentes ocasionais são as vivências mais significativas que colocam em risco a
adaptação do indivíduo ao mundo e consigo próprio. São as ameaças ao desequilíbrio de
relacionamento da pessoa com sua existência, ameaças capazes de comprometer a
relação de ajustamento do sujeito com seu mundo objectual.
O fato de uma experiência ocasionar um conflito psicotraumático relaciona-se com
a Personalidade global, a qual, em virtude de suas peculiaridades pode vir a ser
perturbada por um determinado traumatismo psíquico. As vivências, em si, não podem ser
consideradas traumáticas de maneira absoluta, pois, como sabemos hoje em dia, o
conceito de trauma é relativo, dependendo mais de certas sensibilidades constitucionais,
do que das experiências vividas, propriamente ditas. As vivências são mais traumáticas
para determainados indivíduos mais vulneráveis à superação de conflitos e são, nestes
indivíduos, os Agentes Ocasionais produtores das reações neuróticas.
O sistema multiaxial foi elaborado a fim de organizar o diagnóstico e para que o
profissional de saúde mental possa averiguar as perturbações mentais presentes,
diferenciando-as e verificando a presença ou não de comorbidades.

O Manual de Saúde Mental coloca alguns cuidados para que seja feito o
diagnóstico diferencial. Deve ser verificada etiologia relacionada com substâncias (por

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exemplo, abuso de droga, medicação ou exposição a toxinas) e etiologia relacionada com
um estado físico geral. Alerta também para que seja determinada a perturbação primária
específica que está presente e excluir a possibilidade de simulação do paciente.

Alguns diagnósticos são estruturais, isto é, primários e não podendo coexistir com
outro que também seja estrutural. Outros diagnósticos podem ser associados aos
estruturais. Quando o paciente tem mais de um diagnóstico em Saúde Mental, diz-se que
ele apresenta comorbidade. Veja abaixo:

• Estruturais: Transtornos Mentais (Psicoses); Transtornos de Ansiedade (Neurose);


Transtornos de Personalidade.
• Não estruturais: Transtornos de comportamento; Transtornos de Humor (afetivos).
Características Psicodinâmicas dos Diagnósticos Estruturais

Transtorno Transtorno de Psicoses


Neurótico Personalidade
Transtornos
Mentais

INTEGRAÇÃO DA Integrada Difusa Desintegrada

IDENTIDADE

Separação clara do Aspectos contraditórios Representação do


“eu” e do “outro”. do “eu” e do “outro” “eu” e do “outro”
Imagens pobremente integrados. pouco delimitados;
contraditórias são misturado.
Separado
integradas, formando
conceitos “ Tudo é bom” ou “
compreensíveis. “Tudo é mau”

MECANISMOS DE Repressão Cisão Regressão


DEFESA *

ALTO NÍVEL MAIS PRIMITIVOS Projeção dos


conflitos internos

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Isolamento Idealização Primitiva através das
alucinações.
Anulamento Identificação Projetiva

Racionalização Negação

Intelectualização Onipotência

Desvalorização

CONTATO COM A Preservado Alterado Rompido


REALIDADE

Quanto menos Devido a difusão da Perde o contato


neurótico, maior a identidade, avalia a com a realidade
capacidade de realidade de maneira
avaliar a si mesmo e distorcida.
ao outro
realisticamente e
com profundidade.

EIXO I - Transtornos clínicos e outras condições que podem ser um foco de atenção
clínica

Critérios Diagnósticos extraídos do DSM- IV e CID-10:

• Delirium, demência, transtornos amnésticos e outros transtornos cognitivos


DELIRIUM

Os transtornos da seção "Delirium" compartilham uma apresentação sintomática comum,


envolvendo uma perturbação na consciência e cognição, mas são diferenciados com base
em sua etiologia.
Características Diagnósticas:
A característica essencial de um delirium consiste de uma perturbação da
consciência acompanhada por uma alteração na cognição que não pode ser melhor
explicada por uma Demência preexistente ou em evolução. A perturbação desenvolve-se

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em um curto período de tempo, geralmente de horas a dias, tendendo a flutuar no
decorrer do dia.
A perturbação na consciência manifesta-se por uma redução da clareza da
consciência em relação ao ambiente. A capacidade para focalizar, manter ou deslocar a
atenção está prejudicada. As perguntas precisam ser repetidas porque a atenção do
indivíduo se dispersa, ou o indivíduo pode perseverar na resposta a uma pergunta
anterior, ao invés de deslocar adequadamente o foco de sua atenção.
A pessoa se distrai facilmente com estímulos irrelevantes. Em vista desses
problemas, pode ser difícil (ou impossível) engajá-la em uma conversa.
Há uma alteração concomitante na cognição (que pode incluir comprometimento da
memória, desorientação ou perturbação da linguagem) ou desenvolvimento de uma
perturbação da percepção.
O comprometimento da memória é evidente, acomete com maior freqüência a
memória recente. A desorientação é habitualmente manifestada por desorientação
temporal (por ex., pensa ser de manhã no meio da noite) ou espacial (por ex., pensa estar
em casa, não em um hospital). No delirium leve, a desorientação temporal pode ser o
primeiro sintoma a aparecer.
A perturbação na linguagem pode se evidenciar como disnomia (isto é, prejuízo na
capacidade de nomear objetos) ou disgrafia (isto é, prejuízo na capacidade de escrever).
DEMÊNCIA
Os transtornos na seção "Demência" caracterizam-se pelo desenvolvimento de
múltiplos déficits cognitivos (incluindo comprometimento da memória) devido aos efeitos
fisiológicos diretos de uma condição médica geral, aos efeitos persistentes de uma
substância ou a múltiplas etiologias (por ex., os efeitos combinados de doença
cerebrovascular e doença de Alzheimer). Os transtornos nesta seção compartilham uma
apresentação sintomática comum, mas são diferenciados com base em sua etiologia.
A demência é incomum em crianças e adolescentes, mas pode ocorrer em
decorrência de condições médicas gerais (por ex., traumatismo craniano, tumores
cerebrais, infecção com HIV, acidentes cerebrovasculares, entre outros).
A demência em crianças pode apresentar-se como uma deterioração do

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funcionamento (como em adultos) ou como um atraso ou desvio significativo em relação
ao desenvolvimento normal. Uma deterioração do desempenho escolar também pode ser
um sinal precoce da condição.
Características Diagnósticas
A característica essencial de uma demência é o desenvolvimento de múltiplos
déficits cognitivos, que incluem comprometimento da memória e pelo menos uma das
seguintes perturbações cognitivas: afasia, apraxia, agnosia ou uma perturbação do
funcionamento executivo. Esses comprometimentos devem ser suficientemente severos
para causar prejuízo significativo no funcionamento social ou ocupacional (por ex.,
freqüentar a escola, trabalhar, fazer compras, vestir-se, tomar banho, tratar de assuntos
financeiros e outras atividades da vida diária) e devem representar um declínio em um
nível anteriormente superior de funcionamento.
A demência não é diagnosticada se esses sintomas ocorrem exclusivamente
durante o curso de um delirium. Entretanto, um delirium pode estar sobreposto a uma
demência preexistente e, neste caso, aplicam-se ambos os diagnósticos.
SINAIS E SINTOMAS:
Comprometimento da memória: os indivíduos com demência ficam comprometidos em
sua capacidade de aprender coisas novas, ou esquecem de coisas que anteriormente
sabiam. Podem tornar-se incapazes de reconhecer membros de sua família ou até
mesmo sua própria imagem no espelho. Similarmente, podem ter sensações táteis
normais, mas ser incapazes de identificar objetos colocados em suas mãos apenas pelo
tato (por ex., uma moeda ou chaves).
Afasia: dificuldade na evocação de nomes de pessoas e objetos. O discurso dos
indivíduos com afasia pode tornar-se digressivo ou vazio, com longos circunlóquios e uso
excessivo de termos indefinidos de referência tais como "coisa" e "aquilo".
Ecolalia: fazer eco ao que é ouvido.
Palilalia: repetir os próprios sons ou palavras indefinidamente.
Apraxia: prejuízo na capacidade de executar atividades motoras, apesar de as
capacidades motoras, função sensorial e compreensão estarem intactas para a tarefa
exigida.(por ex., pentear os cabelos, acenar dizendo adeus).

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Agnosia: fracasso em reconhecer ou identificar objetos, apesar da função sensorial
intacta. Por exemplo, o indivíduo perde a capacidade de reconhecer objetos tais como
cadeiras ou lápis.
Funcionamento executivo: envolve a capacidade de pensar abstratamente e planejar,
iniciar, seqüenciar, monitorar e cessar um comportamento complexo.
TRANSTORNOS AMNÉSTICOS
Os transtornos da seção "Transtornos Amnésticos" caracterizam-se por uma
perturbação da memória devido aos efeitos fisiológicos diretos de uma condição médica
geral ou devido a efeitos persistentes de uma substância (isto é, droga de abuso,
medicamento ou exposição a toxinas). Os transtornos desta seção compartilham a
apresentação sintomática comum de comprometimento da memória, mas são
diferenciados com base em sua etiologia.

Características Diagnósticas:

Os indivíduos com um transtorno amnéstico apresentam comprometimento em sua


capacidade de aprender novas informações ou são incapazes de recordar informações
aprendidas anteriormente ou eventos passados.
O déficit de memória é mais perceptível em tarefas que exigem a recordação
espontânea e pode também ser evidenciado quando o examinador oferece estímulos que
devem ser recordados pela pessoa, em um momento posterior.
Dependendo da área cerebral específica afetada, os déficits podem estar
relacionados, predominantemente, a estímulos verbais ou visuais. Em algumas formas de
transtorno amnéstico, o indivíduo pode recordar coisas de um passado muito remoto
melhor do que eventos mais recentes (por ex., pode recordar em detalhes vividos um
período de hospitalização que ocorreu há dez anos, mas pode não ter idéia de estar em
um hospital no momento).
O diagnóstico não é feito se o comprometimento da memória ocorre exclusivamente
durante o curso de um delirium (isto é, ocorre apenas no contexto de uma capacidade
reduzida de manter e deslocar a atenção).

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A capacidade de repetir imediatamente uma cadeia seqüencial de informações (por
ex., memória para números) tipicamente não se mostra comprometida em um transtorno
amnéstico. Quando este prejuízo é evidente, ele sugere a presença de uma perturbação
da atenção que pode indicar um delirium.
O diagnóstico também não é feito na presença de outros déficits cognitivos (por ex.,
afasia, apraxia, agnosia, perturbação no funcionamento executivo) característicos de uma
demência.
Os indivíduos com um transtorno amnéstico podem experimentar prejuízos
importantes em seu funcionamento social e ocupacional em conseqüência de seus
déficits de memória, que, em seu extremo, podem exigir supervisão, para a garantia de
alimentação e cuidados apropriados.
• Transtornos relacionados a substâncias
Os Transtornos Relacionados a Substâncias incluem desde transtornos
relacionados ao consumo de uma droga de abuso (inclusive álcool), aos efeitos colaterais
de um medicamento e à exposição a toxinas. No DSM IV, o termo substância pode referir-
se a uma droga de abuso, um medicamento ou uma toxina. As substâncias discutidas
nesta seção são agrupadas em 11 classes: álcool, anfetamina ou simpaticomiméticos
de ação similar cafeína, canabinóides, cocaína, alucinógenos, inalantes, nicotina,
opióides, fenciclidina (PCP) ou arilciclo-hexilaminas de ação similar e sedativos,
hipnóticos ou ansiolíticos
As seguintes classes compartilham aspectos similares, embora sejam apresentadas
em separado: o álcool compartilha características dos sedativos, hipnóticos e ansiolíticos,
e a cocaína compartilha características das anfetaminas ou simpaticomiméticos de ação
similar.
O DSM-IV também inclui Dependência de Múltiplas Substâncias e Transtornos
Relacionados a Outras Substâncias ou Substâncias Desconhecidas (incluindo a maior
parte dos transtornos relacionados a medicamentos ou toxinas).
Muitos medicamentos vendidos com ou sem prescrição médica também podem
causar Transtornos Relacionados a Substâncias. Os sintomas com freqüência estão

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relacionados à dosagem do medicamento e habitualmente desaparecem com a redução
da dosagem ou suspensão do medicamento.
Os sintomas em geral desaparecem quando o indivíduo deixa de expor-se à
substância, mas sua resolução pode levar de semanas a meses e exigir tratamento.
Os Transtornos Relacionados a Substâncias são divididos em dois grupos:
• Transtorno por uso de substância
DEPENDÊNCIA DE SUBSTÂNCIA:
Características
A característica essencial da Dependência de Substância é a presença de um
agrupamento de sintomas cognitivos, comportamentais e fisiológicos indicando que o
indivíduo continua utilizando uma substância, apesar de problemas significativos
relacionados a ela.
Existe um padrão de auto-administração repetida que geralmente resulta em
tolerância, abstinência e comportamento compulsivo de consumo da droga. Um
diagnóstico de Dependência de Substância pode ser aplicado a qualquer classe de
substâncias, exceto cafeína.
Embora não seja especificamente relacionada como um critério, a "fissura" (um
forte impulso subjetivo para usar a substância) tende a ser experimentada pela maioria
dos indivíduos com Dependência de Substância (se não por todos). A Dependência é
definida como um agrupamento de três ou mais dos sintomas relacionados adiante,
ocorrendo a qualquer momento, no mesmo período de 12 meses.
Abuso de Substância:
Diferentemente dos critérios para Dependência de Substância os critérios para Abuso
de Substância não incluem tolerância, abstinência ou um padrão de uso compulsivo,
incluindo, ao invés disso, apenas as conseqüências prejudiciais do uso repetido.
• Transtorno induzido por substância
Os sintomas não se devem a uma condição médica geral nem são melhor explicados
por um outro transtorno mental.

Intoxicação com Substância, Abstinência de Substância, Delirium Induzido por


Substância, Demência Persistente Induzida por Substância, Transtorno Amnéstico

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Persistente Induzido por Substânci, Transtorno Psicótico Induzido por Substância,
Transtorno do Humor Induzido por Substância, Transtorno de Ansiedade Induzido por
Substância e Disfunção Sexual Induzida por Substância
Transtorno do Sono Induzido por Substância.

• Esquizofrenia e outros transtornos psicóticos


ESQUIZOFRENIA:

O início da Esquizofrenia é antes da adolescência (embora haja relatos de casos


com início aos 5 ou 6 anos). Os aspectos essenciais da condição são os mesmos em
crianças, mas pode ser particularmente difícil fazer o diagnóstico neste grupo etário. Em
crianças, os delírios e alucinações podem ser menos elaborados do que aqueles
observados em adultos, e as alucinações visuais podem ser mais comuns.
A Esquizofrenia também pode começar mais tarde (por ex., após os 45 anos). Os
casos de aparecimento tardio tendem a ser similares à Esquizofrenia de início mais
precoce, exceto por uma proporção maior de mulheres, uma melhor história ocupacional e
maior freqüência de casamentos. A apresentação clínica tende mais a incluir delírios e
alucinações paranóides, sendo menos propensa a incluir sintomas desorganizados e
negativos. O curso geralmente é crônico, embora os indivíduos freqüentemente
respondam bastante bem aos medicamentos antipsicóticos em doses menores.
A Esquizofrenia envolve disfunção em uma ou mais áreas importantes do
funcionamento (por ex., relações interpessoais, trabalho, educação ou higiene).
SINAIS E SINTOMAS:
Os aspectos essenciais da Esquizofrenia são um misto de sinais e sintomas
característicos (tanto positivos quanto negativos) que estiveram presentes por um período
de tempo significativo durante 1 mês (ou por um tempo menor, se tratados com sucesso),
com alguns sinais do transtorno persistindo por pelo menos 6 meses.
Esses sinais e sintomas estão associados com acentuada disfunção social ou
ocupacional. A perturbação não é melhor explicada por um Transtorno Esquizoafetivo ou
Transtorno do Humor com Características Psicóticas nem se deve aos efeitos fisiológicos
diretos de uma substância ou de uma condição médica geral.

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Em indivíduos com um diagnóstico prévio de Transtorno Autista (ou outro
Transtorno Invasivo do Desenvolvimento), o diagnóstico adicional de Esquizofrenia aplica-
se apenas se delírios ou alucinações proeminentes estão presentes por pelo menos 1
mês.
Os sintomas característicos de Esquizofrenia envolvem uma faixa de disfunções
cognitivas e emocionais que acometem a percepção, o pensamento inferencial, a
linguagem e a comunicação, o monitoramento comportamental, o afeto, a fluência e
produtividade do pensamento e do discurso, a capacidade hedônica, a volição, o impulso
e a atenção. O diagnóstico envolve o reconhecimento de uma constelação de sinais e
sintomas associados com prejuízo no funcionamento ocupacional ou social.
Os sintomas característicos podem ser conceitualizados como enquadrando-se em
duas amplas categorias — positivos e negativos. Os sintomas positivos parecem refletir
um excesso ou distorção de funções normais, enquanto os sintomas negativos parecem
refletir uma diminuição ou perda de funções normais.
• Os sintomas positivos incluem distorções ou exageros do pensamento inferencial
(delírios), da percepção (alucinações), da linguagem e comunicação (discurso
desorganizado) e do monitoramento comportamental (comportamento amplamente
desorganizado ou catatônico). Esses sintomas positivos podem compreender duas
dimensões distintas, que, por sua vez, podem estar relacionadas a diferentes
mecanismos neurais e correlações clínicas subjacentes: a "dimensão psicótica" inclui
delírios e alucinações, enquanto a "dimensão da desorganização" inclui o discurso e
comportamento desorganizados.
• Os sintomas negativos incluem restrições na amplitude e intensidade da expressão
emocional (embotamento do afeto), na fluência e produtividade do pensamento
(alogia) e na iniciação de comportamentos dirigidos a um objetivo (avolição).
OBS: Os medicamentos neurolépticos freqüentemente produzem efeitos colaterais
extrapiramidais que se assemelham muito ao embotamento afetivo ou à avolição. A
distinção entre os verdadeiros sintomas negativos e os efeitos colaterais de
medicamentos depende de um discernimento clínico envolvendo a gravidade dos

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sintomas negativos, a natureza e tipo de medicamento neuroléptico, os efeitos de um
ajuste da dosagem e os efeitos de medicamentos anticolinérgicos.

Delírios:
Os delírios são crenças errôneas, habitualmente envolvendo a interpretação falsa
de percepções ou experiências. Seu conteúdo pode incluir uma variedade de temas (por
ex., persecutórios, referenciais, somáticos, religiosos, ou grandiosos). Os delírios
persecutórios são os mais comuns; neles a pessoa acredita estar sendo atormentada,
seguida, enganada, espionada ou ridicularizada.
Os delírios de referência também são comuns; neles a pessoa crê que certos
gestos, comentários, passagens de livros, um delírio e uma idéia vigorosamente mantida.
Embora os delírios bizarros sejam considerados especialmente característicos da
Esquizofrenia, pode ser difícil avaliar o grau de "bizarria", especialmente entre diferentes
culturas. Os delírios são considerados bizarros se são claramente implausíveis e
incompreensíveis e não derivam de experiências comuns da vida. Um exemplo de delírio
bizarro é a crença de uma pessoa de que um estranho retirou seus órgãos internos e os
substituiu pelos de outra, sem deixar quaisquer cicatrizes ou ferimentos. Um exemplo de
delírio não-bizarro é a falsa crença de estar sob vigilância policial.
Alucinações:
As alucinações podem ocorrer em qualquer modalidade sensorial (por ex., auditivas,
visuais, olfativas, gustativas e táteis), mas as alucinações auditivas são, de longe, as mais
comuns e características da Esquizofrenia, sendo geralmente experimentadas como
vozes conhecidas ou estranhas, que são percebidas como distintas dos pensamentos da
própria pessoa. O conteúdo pode ser bastante variável, embora as vozes pejorativas ou
ameaçadoras sejam especialmente comuns.

As alucinações devem ocorrer no contexto de um sensório claro; aquelas que ocorrem


enquanto o indivíduo adormece (hipnagógicas) ou desperta (hipnopômpicas) são
consideradas parte da faixa de experiências normais. Experiências isoladas de ouvir o
próprio nome sendo chamado ou experiências que não possuem a qualidade de uma

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percepção externa (por ex., zumbidos na própria cabeça) também não são consideradas
alucinações características da Esquizofrenia.

OBS: As alucinações podem ser também um componente normal de uma experiência


religiosa, em certos contextos culturais.

Desorganização do pensamento:

A desorganização do pensamento ("transtorno do pensamento formal",


"afrouxamento de associações") é defendida por alguns autores como o aspecto mais
importante da Esquizofrenia.
O discurso dos indivíduos com Esquizofrenia pode ser desorganizado de variadas
maneiras. A pessoa pode "sair dos trilhos", saltando de um assunto para outro
("descarrilamento" ou "associações frouxas"); as respostas podem estar obliquamente
relacionadas ou não ter relação alguma com as perguntas ("tangencialidade"); raramente,
o discurso pode estar desorganizado de forma tão severa, que é praticamente
incompreensível e se assemelha à afasia receptiva em sua desorganização lingüística
("incoerência", "salada de palavras").
Um comportamento amplamente desorganizado pode manifestar-se de variadas
maneiras, indo desde o comportamento tolo e pueril até a agitação imprevisível. Podem
ser notados problemas em qualquer forma de comportamento dirigido a um objetivo,
acarretando dificuldades no desempenho de atividades da vida diária, tais como
organizar as refeições ou manter a higiene.
A pessoa pode parecer mostrar-se acentuadamente desleixada, vestir-se de modo
incomum (por ex., usar casacos sobrepostos, cachecóis e luvas em um dia quente), pode
exibir um comportamento sexual nitidamente inadequado (por ex., masturbar-se em
público) ou uma agitação imprevisível e sem um desencadeante (por ex., gritar ou
praguejar).
O comportamento muito desorganizado deve ser diferenciado de um
comportamento meramente desprovido de objetivos e do comportamento organizado
motivado por crenças delirantes. Similarmente, alguns casos de comportamento inquieto,

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irado ou agitado não devem ser considerados evidência de Esquizofrenia, especialmente
se a motivação for compreensível.
Comportamentos motores catatônicos:
Os comportamentos motores catatônicos incluem uma diminuição acentuada na
reatividade ao ambiente, às vezes alcançando um grau extremo de completa falta de
consciência (estupor catatônico), manutenção de uma postura rígida e resistência aos
esforços de mobilização (rigidez catatônica), resistência ativa a instruções ou tentativas
de mobilização (negativismo catatônico), adoção de posturas inadequadas ou bizarras
(postura catatônica), ou excessiva atividade motora sem propósito e não estimulada
(excitação catatônica).
Embora a catatonia tenha sido historicamente associada à Esquizofrenia, o clínico
não deve esquecer que os sintomas catatônicos são inespecíficos e podem ocorrer em
outros transtornos mentais (ver Transtornos do Humor com Características Catatônicas),
em condições médicas gerais (ver Transtorno Catatônico Devido a uma Condição Médica
Geral) e Transtornos do Movimento Induzidos por Medicamentos (ver Parkinsonismo
Induzido por Neurolépticos).
Subtipos
O diagnóstico de um determinado subtipo está baseado no quadro clínico que
ocasionou a avaliação ou admissão mais recente para cuidados clínicos, podendo,
portanto, mudar com o tempo. Critérios específicos são oferecidos para cada um dos
seguintes subtipos:
Tipo Paranóide: há a preocupação com um ou mais delírios ou alucinações auditivas
freqüentes. Nenhum dos seguintes sintomas é proeminente: discurso desorganizado,
comportamento desorganizado ou catatônico, ou afeto embotado ou inadequado.
Tipo Desorganizado: todos os seguintes sintomas são proeminentes: discurso
desorganizado, comportamento desorganizado e afeto embotado ou inadequado.
Tipo Catatônico: há imobilidade motora evidenciada por cataplexia (incluindo
flexibilidade cérea ou estupor), atividade motora excessiva (aparentemente desprovida de
propósito e não influenciada por estímulos externos), extremo negativismo (uma
resistência aparentemente sem motivo a toda e qualquer instrução, ou manutenção de

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uma postura rígida contra tentativas de mobilização) ou mutismo, peculiaridades do
movimento voluntário evidenciadas por posturas (adoção voluntária de posturas
inadequadas ou bizarras, movimentos estereotipados, maneirismos proeminentes ou
trejeitos faciais proeminentes), ecolalia ou ecopraxia.

( Critérios Diagnósticos extraídos do DSM- IV e CID-10):

Transtornos do humor - Eixo I

EPISÓDIOS DE HUMOR:

Critérios para Episódio Depressivo Maior


A. Cinco (ou mais) dos seguintes sintomas estiveram presentes durante o mesmo período
de 2 semanas e representam uma alteração a partir do funcionamento anterior; pelo
menos um dos sintomas é (1) humor deprimido ou (2) perda do interesse ou prazer.
Nota: Não incluir sintomas nitidamente devidos a uma condição médica geral ou
alucinações ou delírios incongruentes com o humor.
(1) humor deprimido na maior parte do dia, quase todos os dias, indicado por relato
subjetivo (por ex., sente-se triste ou vazio) ou observação feita por outros (por ex., chora
muito).
Nota: Em crianças e adolescentes, pode ser humor irritável
(2) interesse ou prazer acentuadamente diminuídos por todas ou quase todas as
atividades na maior parte do dia, quase todos os dias (indicado por relato subjetivo ou
observação feita por outros)
(3) perda ou ganho significativo de peso sem estar em dieta (por ex., mais de 5% do peso
corporal em 1 mês), ou diminuição ou aumento do apetite quase todos os dias.
Nota: Em crianças, considerar falha em apresentar os ganhos de peso esperados
(4) insônia ou hipersonia quase todos os dias
(5) agitação ou retardo psicomotor quase todos os dias (observáveis por outros, não
meramente sensações subjetivas de inquietação ou de estar mais lento)
(6) fadiga ou perda de energia quase todos os dias
(7) sentimento de inutilidade ou culpa excessiva ou inadequada (que pode ser delirante),

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quase todos os dias (não meramente auto-recriminação ou culpa por estar doente)
(8) capacidade diminuída de pensar ou concentrar-se, ou indecisão, quase todos os dias
(por relato subjetivo ou observação feita por outros)
(9) pensamentos de morte recorrentes (não apenas medo de morrer), ideação suicida
recorrente sem um plano específico, tentativa de suicídio ou plano específico para
cometer suicídio
B. Os sintomas não satisfazem os critérios para um Episódio Misto
C. Os sintomas causam sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo no
funcionamento social ou ocupacional ou em outras áreas importantes da vida do
indivíduo.
D. Os sintomas não se devem aos efeitos fisiológicos diretos de uma substância (por ex.,
droga de abuso ou medicamento) ou de uma condição médica geral (por ex.,
hipotiroidismo).
E. Os sintomas não são melhor explicados por Luto, ou seja, após a perda de um ente
querido, os sintomas persistem por mais de 2 meses ou são caracterizados por acentuado
prejuízo funcional, preocupação mórbida com desvalia, ideação suicida, sintomas
psicóticos ou retardo psicomotor.

Critérios para Episódio Maníaco


A. Um período distinto de humor anormal e persistentemente elevado, expansivo ou
irritável, durando pelo menos 1 semana (ou qualquer duração, se a hospitalização é
necessária).
B. Durante o período de perturbação do humor, três (ou mais) dos seguintes sintomas
persistiram (quatro, se o humor é apenas irritável) e estiveram presentes em um grau
significativo:
(1) auto-estima inflada ou grandiosidade
(2) necessidade de sono diminuída (por ex., sente-se repousado depois de apenas 3
horas de sono)
(3) mais loquaz do que o habitual ou pressão por falar
(4) fuga de idéias ou experiência subjetiva de que os pensamentos estão correndo
(5) distratibilidade (isto é, a atenção é desviada com excessiva facilidade para estímulos

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externos insignificantes ou irrelevantes)
(6) aumento da atividade dirigida a objetivos (socialmente, no trabalho, na escola ou
sexualmente) ou agitação psicomotora
(7) envolvimento excessivo em atividades prazerosas com um alto potencial para
conseqüências dolorosas (por ex., envolvimento em surtos incontidos de compras,
indiscrições sexuais ou investimentos financeiros tolos)
C. Os sintomas não satisfazem os critérios para Episódio Misto
D. A perturbação do humor é suficientemente severa para causar prejuízo acentuado no
funcionamento ocupacional, nas atividades sociais ou relacionamentos costumeiros com
outros, ou para exigir a hospitalização, como um meio de evitar danos a si mesmo e a
outros, ou existem aspectos psicóticos.
E. Os sintomas não se devem aos efeitos fisiológicos diretos de uma substância (por ex.,
uma droga de abuso, um medicamento ou outro tratamento) ou de uma condição médica
geral (por ex., hipertiroidismo).
Nota: Episódios tipo maníacos nitidamente causados por um tratamento antidepressivo
somático (por ex., medicamentos, terapia eletroconvulsiva, fototerapia) não devem contar
para um diagnóstico de Transtorno Bipolar I.

Critérios para Episódio Misto


A. Satisfazem-se os critérios tanto para Episódio Maníaco quanto para Episódio
Depressivo Maior(exceto pela duração), quase todos os dias, durante um período mínimo
de 1 semana.
B. A perturbação do humor é suficientemente severa para causar acentuado prejuízo no
funcionamento ocupacional, em atividades sociais costumeiras ou relacionamentos com
outros, ou para exigir a hospitalização para prevenir danos ao indivíduo e a outros, ou
existem aspectos psicóticos.
C. Os sintomas não se devem aos efeitos fisiológicos diretos de uma substância (por ex.,
droga de abuso, medicamento ou outro tratamento) ou de uma condição médica geral
(por ex., hipertiroidismo).
Nota: Episódios tipo mistos causados por um tratamento antidepressivo somático (por ex.,

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Psicóloga CRP: 84326/06 75
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medicamento, terapia eletroconvulsiva, fototerapia) não devem contar para um
diagnóstico de Transtorno Bipolar I.

Critérios para Episódio Hipomaníaco


A. Um período distinto de humor persistentemente elevado, expansivo ou irritável,
durando todo o tempo ao longo de pelo menos 4 dias, nitidamente diferente do humor
habitual não-deprimido.
B. Durante o período da perturbação do humor, três (ou mais) dos seguintes sintomas
persistiram (quatro se o humor é apenas irritável) e estiveram presentes em um grau
significativo:
(1) auto-estima inflada ou grandiosidade
(2) necessidade de sono diminuída (por ex., sente-se repousado depois de apenas 3
horas de sono)
(3) mais loquaz do que o habitual ou pressão por falar
(4) fuga de idéias ou experiência subjetiva de que os pensamentos estão correndo
(5) distratibilidade (isto é, a atenção é desviada com demasiada facilidade para estímulos
externos insignificantes ou irrelevantes)
(6) aumento da atividade dirigida a objetivos (socialmente, no trabalho, na escola ou
sexualmente) ou agitação psicomotora
(7) envolvimento excessivo em atividades prazerosas com alto potencial para
conseqüências dolorosas (por ex., envolver-se em surtos desenfreados de compras,
indiscrições sexuais ou investimentos financeiros tolos)
C. O episódio está associado com uma inequívoca alteração no funcionamento, que não é
característica da pessoa quando assintomática.
D. A perturbação do humor e a alteração no funcionamento são observáveis por outros.
E. O episódio não é suficientemente severo para causar prejuízo acentuado no
funcionamento social ou ocupacional, ou para exigir a hospitalização, nem existem
aspectos psicóticos.
F. Os sintomas não se devem aos efeitos fisiológicos diretos de uma substância (por ex.,
droga de abuso, medicamento, ou outro tratamento) ou de uma condição médica geral
(por ex., hipertiroidismo).

Karina de O. Lima
Psicóloga CRP: 84326/06 76
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Nota: Os episódios tipo hipomaníacos nitidamente causados por um tratamento
antidepressivo somático (por ex., medicamentos, terapia eletroconvulsiva e fototerapia)
não devem contar para um diagnóstico de Transtorno Bipolar II.

TRANSTORNOS DEPRESSIVOS
O Transtorno Depressivo Maior se caracteriza por um ou mais Episódios
Depressivos Maiores (isto é, pelo menos 2 semanas de humor deprimido ou perda de
interesse, acompanhados por pelo menos quatro sintomas adicionais de depressão).

Critérios Diagnósticos para Transtorno Depressivo Maior, Episódio Único


A. Presença de um único Episódio Depressivo Maior
B. O Episódio Depressivo Maior não é melhor explicado por um Transtorno Esquizoafetivo
nem está sobreposto a Esquizofrenia, Transtorno Esquizofreniforme, Transtorno Delirante
ou Transtorno Psicótico Sem Outra Especificação.
C. Jamais houve um Episódio Maníaco , um Episódio Misto ou um Episódio Hipomaníaco
Critérios Diagnósticos para Transtorno Depressivo Maior, Recorrente
A. Presença de dois ou mais Episódios Depressivos Maiores

Nota: Para serem considerados episódios distintos, deve haver um intervalo de pelo
menos 2 meses consecutivos durante os quais não são satisfeitos os critérios para
Episódio Depressivo Maior.

B. Os Episódios Depressivos Maiores não são melhor explicados por Transtorno


Esquizoafetivo nem estão sobrepostos a Esquizofrenia, Transtorno Esquizofreniforme,
Transtorno Delirante ou Transtorno Psicótico Sem Outra Especificação.
C. Jamais houve um Episódio Maníaco, um Episódio Misto ou um Episódio Hipomaníaco.
Nota: Esta exclusão não se aplica se todos os episódios tipo maníaco, tipo misto ou tipo
hipomaníaco são induzidos por substância ou tratamento ou se devem aos efeitos
fisiológicos diretos de uma condição médica geral.
TRANSTORNOS DISTÍMICO

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Psicóloga CRP: 84326/06 77
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O Transtorno Distímico caracteriza-se por pelo menos 2 anos de humor
deprimido na maior parte do tempo, acompanhado por sintomas depressivos adicionais
que não satisfazem os critérios para um Episódio Depressivo Maior.

Critérios Diagnósticos para Transtorno Distímico


A. Humor deprimido na maior parte do dia, na maioria dos dias, indicado por relato
subjetivo ou observação feita por outros, por pelo menos 2 anos. Nota: Em crianças e
adolescentes, o humor pode ser irritável, e a duração deve ser de no mínimo 1 ano.
B. Presença, enquanto deprimido, de duas (ou mais) das seguintes características:
(1) apetite diminuído ou hiperfagia
(2) insônia ou hipersonia
(3) baixa energia ou fadiga
(4) baixa auto-estima
(5) fraca concentração ou dificuldade em tomar decisões
C. Durante o período de 2 anos (1 ano, para crianças ou adolescentes) de perturbação,
jamais a pessoa esteve sem os sintomas dos Critérios A e B por mais de 2 meses a cada
vez.
D. Ausência de Episódio Depressivo Maior (p. 312) durante os primeiros 2 anos de
perturbação (1 ano para crianças e adolescentes); isto é, a perturbação não é melhor
explicada por um Transtorno Depressivo Maior crônico ou Transtorno Depressivo Maior,
Em Remissão Parcial.
Nota: Pode ter ocorrido um Episódio Depressivo Maior anterior, desde que tenha havido
remissão completa (ausência de sinais ou sintomas significativos por 2 meses) antes do
desenvolvimento do Transtorno Distímico. Além disso, após os 2 anos iniciais (1 ano para
crianças e adolescentes) de Transtorno Distímico, pode haver episódios sobrepostos de
Transtorno Depressivo Maior e, neste caso, ambos os diagnósticos podem ser dados
quando são satisfeitos os critérios para um Episódio Depressivo Maior.
E. Jamais houve um Episódio Maníaco, um Episódio Misto ou um Episódio Hipomaníaco
e jamais foram satisfeitos os critérios para Transtorno Ciclotímico.
F. A perturbação não ocorre exclusivamente durante o curso de um Transtorno Psicótico
crônico, como Esquizofrenia ou Transtorno Delirante.

Karina de O. Lima
Psicóloga CRP: 84326/06 78
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G. Os sintomas não se devem aos efeitos fisiológicos diretos de uma substância (por ex.,
droga de abuso, medicamento) ou de uma condição médica geral (por ex., hipotiroidismo).
H. Os sintomas causam sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo no
funcionamento social ou ocupacional ou em outras áreas importantes da vida do
indivíduo.

TRANSTORNO DEPRESSIVO SEM OUTRA ESPECIFICAÇÃO

O Transtorno Depressivo Sem Outra Especificação é incluído para a


codificação de transtornos com características depressivas que não satisfazem os
critérios para Transtorno Depressivo Maior, Transtorno Distímico, Transtorno de
Ajustamento com Humor Deprimido ou Transtorno de Ajustamento Misto de Ansiedade e
Depressão (ou sintomas depressivos acerca dos quais existem informações inadequadas
ou contraditórias).

TRANSTORNO BIPOLAR I

O Transtorno Bipolar I é caracterizado por um ou mais Episódios Maníacos ou


Mistos, geralmente acompanhados por Episódios Depressivos Maiores.

Critérios Diagnósticos para Transtorno Bipolar I, Episódio Maníaco Único


A. Presença de apenas um Episódio Maníaco e ausência de qualquer Episódio
Depressivo Maior no passado.
Nota: A recorrência é definida como uma mudança na polaridade a partir da depressão ou
um intervalo de pelo menos 2 meses sem sintomas maníacos.
B. O Episódio Maníaco não é melhor explicado por Transtorno Esquizoafetivo nem está
sobreposto a Esquizofrenia, Transtorno Esquizofreniforme, Transtorno Delirante ou
Transtorno Psicótico Sem Outra Especificação.
Especificar se:
Misto: se os sintomas satisfazem os critérios para um Episódio Misto

Karina de O. Lima
Psicóloga CRP: 84326/06 79
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Critérios Diagnósticos para Transtorno Bipolar I, Episódio Mais Recente
Hipomaníaco
A. Atualmente (ou mais recentemente) em um Episódio Hipomaníaco
B. Houve, anteriormente, pelo menos um Episódio Maníaco ou Episódio Misto
C. Os sintomas de humor causam sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo no
funcionamento social ou ocupacional ou em outras áreas importantes da vida do
indivíduo.
D. Os episódios de humor nos Critérios A e B não são melhor explicados por Transtorno
Esquizoafetivo nem estão sobrepostos a Esquizofrenia, Transtorno Esquizofreniforme,
Transtorno Delirante ou Transtorno Psicótico Sem Outra Especificação.

Critérios Diagnósticos para Transtorno Bipolar I, Episódio Mais Recente Maníaco


A. Atualmente (ou mais recentemente) em Episódio Maníaco
B. Houve, anteriormente, pelo menos um Episódio Depressivo Maior, Episódio Maníaco
ou Episódio Misto
C. Os episódios de humor nos Critérios A e B não são melhor explicados por Transtorno
Esquizoafetivo nem estão sobrepostos a Esquizofrenia, Transtorno Esquizofreniforme,
Transtorno Delirante ou Transtorno Psicótico Sem Outra Especificação.
Critérios Diagnósticos para Transtorno Bipolar I, Episódio Mais Recente Misto
A. Atualmente (ou mais recentemente) em um Episódio Misto
B. Houve, anteriormente, pelo menos um Episódio Depressivo Maior, Episódio Maníaco
ou Episódio Misto
C. Os episódios de humor nos Critérios A e B não são melhor explicados por Transtorno
Esquizoafetivo nem estão sobrepostos a Esquizofrenia, Transtorno Esquizofreniforme,
Transtorno Delirante ou Transtorno Psicótico Sem Outra Especificação.
Critérios Diagnósticos para Transtorno Bipolar I, Episódio Mais Recente Depressivo
A. Atualmente (ou mais recentemente) em um Episódio Depressivo Maior
B. Houve, anteriormente, pelo menos um Episódio Maníaco ou Episódio Misto
C. Os episódios de humor nos Critérios A e B não são melhor explicados por Transtorno
Esquizoafetivo nem estão sobrepostos a Esquizofrenia, Transtorno Esquizofreniforme,
Transtorno Delirante ou Transtorno Psicótico Sem Outra Especificação.

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Psicóloga CRP: 84326/06 80
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Critérios Diagnósticos para Transtorno Bipolar I, Episódio Inespecificado
A. Os critérios, exceto pela duração, são atualmente (ou foram mais recentemente)
satisfeitos para um Episódio Maníaco, Episódio Hipomaníaco, Episódio Misto ou Episódio
Depressivo Maior.
B. Houve, anteriormente, pelo menos um Episódio Maníaco ou Episódio Misto.
C. Os sintomas de humor causam sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo no
funcionamento social ou ocupacional ou outras áreas importantes da vida do indivíduo.
D. Os sintomas de humor nos Critérios A e B não são melhor explicados por um
Transtorno Esquizoafetivo nem estão sobrepostos a Esquizofrenia, Transtorno
Esquizofreniforme, Transtorno Delirante ou Transtorno Psicótico Sem Outra
Especificação.
E. Os sintomas de humor nos Critérios A e B não se devem aos efeitos fisiológicos diretos
de uma substância (por ex., droga de abuso, medicamento ou outro tratamento), ou de
uma condição médica geral (por ex., hipertiroidismo).
TRANSTORNO BIPOLAR II

O Transtorno Bipolar II caracteriza-se por um ou mais Episódios Depressivos


Maiores, acompanhado por pelo menos um Episódio Hipomaníaco.

Critérios Diagnósticos para Transtorno Bipolar II


A. Presença (ou história) de um ou mais Episódios Depressivos Maiores
B. Presença (ou história) de pelo menos um Episódio Hipomaníaco
C. Jamais houve um Episódio Maníaco ou um Episódio Misto
D. Os sintomas de humor nos Critérios A e B não são melhor explicados por Transtorno
Esquizoafetivo nem estão sobrepostos a Esquizofrenia, Transtorno Esquizofreniforme,
Transtorno Delirante ou Transtorno Psicótico Sem Outra Especificação.
E. Os sintomas causam sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo no
funcionamento social ou ocupacional ou em outras áreas importantes da vida do
indivíduo.
Especificar episódio atual ou mais recente:
Hipomaníaco: se atualmente (ou mais recentemente) em um Episódio Hipomaníaco.

Karina de O. Lima
Psicóloga CRP: 84326/06 81
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Depressivo: se atualmente (ou mais recentemente) em um Episódio Depressivo Maior
Especificar (para Episódio Depressivo Maior atual ou mais recente apenas se este for o
tipo mais recente de episódio de humor):
Especificadores de Gravidade/Psicótico/de Remissão
Nota: Os códigos do quinto dígito especificados em Critérios para Especificadores de
Gravidade / Psicótico / de Remissão para Episódio Depressivo Maior atual não podem ser
usados aqui, pois o código para o Transtorno Bipolar II já usa o quinto dígito.
Crônico.
Com Características Catatônicas.
Com Características Melancólicas.
Com Características Atípicas.
Com Início no Pós-Parto

TRANSTORNO CICLOTÍMICO

O Transtorno Ciclotímico é caracterizado por pelo menos 2 anos com


numerosos períodos de sintomas hipomaníacos que não satisfazem os critérios para um
Episódio Maníaco e numerosos períodos de sintomas depressivos que não satisfazem os
critérios para um Episódio Depressivo Maior.

Critérios Diagnósticos para Transtorno Ciclotímico


A. Por 2 anos, pelo menos, presença de numerosos períodos com sintomas
hipomaníacos e numerosos períodos com sintomas depressivos que não satisfazem os
critérios para um Episódio Depressivo Maior.
Nota: Em crianças e adolescentes, a duração deve ser de pelo menos 1 ano.
B. Durante o período de 2 anos estipulado acima (1 ano para crianças e adolescentes), a
pessoa não ficou sem os sintomas do Critério A por mais de 2 meses consecutivos.
C. Nenhum Episódio Depressivo Maior, Episódio Maníaco ou Episódio Misto esteve
presente durante os 2 primeiros anos da perturbação.
Nota: Após os 2 anos iniciais (1 ano para crianças e adolescentes) do Transtorno
Ciclotímico, pode haver sobreposição de Episódios Maníacos ou Mistos (sendo que neste
caso Transtorno Bipolar I e Transtorno Ciclotímico podem ser diagnosticados
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Psicóloga CRP: 84326/06 82
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concomitantemente) ou de Episódios Depressivos Maiores (podendo-se, neste caso,
diagnosticar tanto Transtorno Bipolar II quanto Transtorno Ciclotímico)
D. Os sintomas no Critério A não são melhor explicados por Transtorno Esquizoafetivo
nem estão sobrepostos a Esquizofrenia, Transtorno Esquizofreniforme, Transtorno
Delirante ou Transtorno Psicótico Sem Outra Especificação.
E. Os sintomas não se devem aos efeitos fisiológicos diretos de uma substância (por ex.,
droga de abuso, medicamento) ou de uma condição médica geral (por ex.,
hipertiroidismo).
F. Os sintomas causam sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo no
funcionamento social ou ocupacional ou em outras áreas importantes da vida do
indivíduo.

TRANSTORNO BIPOLAR SEM OUTRA ESPECIFICAÇÃO


O Transtorno Bipolar Sem Outra Especificação é incluído para a codificação de
transtornos com aspectos bipolares que não satisfazem os critérios para qualquer dos
Transtornos Bipolares específicos definidos nesta seção (ou sintomas bipolares acerca
dos quais há informações inadequadas ou contraditórias).
TRANSTORNO DO HUMOR DEVIDO A UMA CONDIÇÃO MÉDICA GERAL
Um Transtorno do Humor Devido a uma Condição Médica Geral é
caracterizado por uma perturbação proeminente e persistente do humor, considerada uma
conseqüência fisiológica direta de uma condição médica geral.
TRANSTORNO DO HUMOR INDUZIDO POR SUBSTÂNCIA
Um Transtorno do Humor Induzido por Substância caracteriza-se por uma
perturbação proeminente e persistente do humor, considerada uma conseqüência
fisiológica direta de uma droga de abuso, um medicamento, outro tratamento somático
para a depressão ou exposição a uma toxina. O Transtorno do Humor Sem Outra
Especificação é incluído para a codificação de transtornos com sintomas de humor que
não satisfazem os critérios para qualquer Transtorno do Humor específico, e nos quais é
difícil escolher entre Transtorno Depressivo Sem Outra Especificação e Transtorno
Bipolar Sem Outra Especificação (por ex., agitação aguda).

Karina de O. Lima
Psicóloga CRP: 84326/06 83
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Diagnóstico Diferencial Esquizofrenia e Transtorno do Humor com Aspectos
Psicóticos e Transtorno Esquizoafetivo:
A distinção entre Esquizofrenia e Transtorno do Humor com Aspectos Psicóticos e
Transtorno Esquizoafetivo é dificultada pelo fato de que uma perturbação do humor é
comum durante as fases prodrômica, ativa e residual da Esquizofrenia. Se os sintomas
psicóticos ocorrem exclusivamente durante períodos de perturbação do humor, o
diagnóstico é de Transtorno do Humor com Aspectos Psicóticos.
No Transtorno Esquizoafetivo, deve haver um episódio de humor concomitante
com os sintomas da fase ativa da Esquizofrenia, os sintomas de humor devem estar
presentes durante uma parcela substancial da duração total da perturbação e os delírios
ou alucinações devem estar presentes por pelo menos 2 semanas na ausência de
sintomas proeminentes de humor. Em comparação, os sintomas de humor na
Esquizofrenia têm uma duração breve em relação à duração total da perturbação,
ocorrem apenas durante as fases prodrômica ou residual, ou não satisfazem os critérios
plenos para um episódio de humor.
Por definição, a Esquizofrenia difere do Transtorno Esquizofreniforme com base em
sua duração. A Esquizofrenia envolve a presença de sintomas (incluindo prodrômicos e
residuais) por pelo menos 6 meses, enquanto a duração total dos sintomas no Transtorno
Esquizofreniforme deve ser de pelo menos 1 mês, porém inferior a 6 meses.
• Transtornos de ansiedade
Um Ataque de Pânico é representado por um período distinto no qual há o início
súbito de intensa apreensão, temor ou terror, freqüentemente associados com
sentimentos de catástrofe iminente. Durante esses ataques, estão presentes sintomas tais
como falta de ar, palpitações, dor ou desconforto torácico, sensação de sufocamento e
medo de "ficar louco" ou de perder o controle.
A Agorafobia é a ansiedade ou esquiva a locais ou situações das quais poderia
ser difícil (ou embaraçoso) escapar ou nas quais o auxílio poderia não estar disponível, no
caso de ter um Ataque de Pânico ou sintomas tipo pânico.

Karina de O. Lima
Psicóloga CRP: 84326/06 84
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O Transtorno de Pânico Sem Agorafobia é caracterizado por Ataques de Pânico
inesperados e recorrentes acerca dos quais o indivíduo se sente persistentemente
preocupado.
O Transtorno de Pânico Com Agorafobia caracteriza-se por Ataques de Pânico
recorrentes e inesperados e Agorafobia.
A Agorafobia Sem História de Transtorno de Pânico caracteriza-se pela
presença de Agorafobia e sintomas característicos de ataques de pânico sem uma
história de Ataques de Pânico inesperados.
A Fobia Específica caracteriza-se por ansiedade clinicamente significativa
provocada pela exposição a um objeto ou situação específicos e temidos, freqüentemente
levando ao comportamento de esquiva.
A Fobia Social caracteriza-se por ansiedade clinicamente significativa provocada
pela exposição a certos tipos de situações sociais ou de desempenho, freqüentemente
levando ao comportamento de esquiva.
O Transtorno Obsessivo-Compulsivo: As características essenciais do
Transtorno Obsessivo-Compulsivo são obsessões ou compulsões recorrentes
suficientemente severas para consumirem tempo (isto é, consomem mais de uma hora
por dia) ou causar sofrimento acentuado ou prejuízo significativo.
Em algum ponto durante o curso do transtorno, o indivíduo reconheceu que as
obsessões ou compulsões são excessivas ou irracionais. Em presença de outro
transtorno do Eixo I, o conteúdo das obsessões ou compulsões não se restringe a ele. A
perturbação não se deve aos efeitos fisiológicos diretos de uma substância (por ex., droga
de abuso, medicamento) ou de uma condição médica geral.
As obsessões são idéias, pensamentos, impulsos ou imagens persistentes, que são
vivenciados como intrusivos e inadequados e causam acentuada ansiedade ou
sofrimento. A qualidade intrusiva e inadequada das obsessões é chamada de "ego-
distônica".*
O termo refere-se ao sentimento do indivíduo de que o conteúdo da obsessão é
estranho, não está dentro de seu próprio controle nem é a espécie de pensamento que

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Psicóloga CRP: 84326/06 85
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ele esperaria ter. Entretanto, ele é capaz de reconhecer que as obsessões são produto de
sua própria mente e não impostas a partir do exterior (como na inserção de pensamento).
As obsessões mais comuns são pensamentos repetidos acerca de contaminação (por
ex., ser contaminado em apertos de mãos), dúvidas repetidas (por ex., imaginar se foram
executados certos atos, tais como ter machucado alguém em um acidente de trânsito ou
ter deixado uma porta destrancada), uma necessidade de organizar as coisas em
determinada ordem (por ex., intenso sofrimento quando os objetos estão desordenados
ou assimétricos), impulsos agressivos ou horrorizantes (por ex., de machucar o próprio
filho ou gritar uma obscenidade na igreja) e imagens sexuais (por ex., uma imagem
pornográfica recorrente).
Os pensamentos, impulsos ou imagens não são meras preocupações excessivas
acerca de problemas da vida real (por ex., preocupação com dificuldades atuais, como
problemas financeiros, profissionais ou escolares) e não tendem a estar relacionados a
um problema da vida real.
O indivíduo com obsessões em geral tenta ignorar ou suprimir esses pensamentos ou
impulsos ou neutralizá-los com algum outro pensamento ou ação (isto é, uma compulsão).
Um indivíduo assaltado por dúvidas acerca de ter desligado o gás do fogão, por exemplo,
procura neutralizá-las verificando repetidamente para assegurar-se de que o fogão está
desligado.
As compulsões são comportamentos repetitivos (por ex., lavar as mãos, ordenar,
verificar) ou atos mentais (por ex., orar, contar, repetir palavras em silêncio) cujo objetivo
é prevenir ou reduzir a ansiedade ou sofrimento, ao invés de oferecer prazer ou
gratificação. As apresentações do Transtorno Obsessivo-Compulsivo em crianças
geralmente são similares àquelas da idade adulta. Lavagens, verificação e rituais de
organização são particularmente comuns em crianças. As crianças em geral não solicitam
ajuda, e os sintomas podem não ser ego-distônicos.*
* Pensamentos ego-distônicos são aqueles percebidos como intrusivos, como algo
que não é próprio.

Karina de O. Lima
Psicóloga CRP: 84326/06 86
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O Transtorno de Estresse Pós-Traumático caracteriza-se pela revivência de um
evento extremamente traumático, acompanhada por sintomas de excitação aumentada e
esquiva de estímulos associados com o trauma. P.ex. Um determinado sujeito não
conseguir chegar perto de piscinas e lagos, mar, uma vez que no passado presenciou um
afogamento fatal de um familiar.
O Transtorno de Estresse Agudo caracteriza-se por sintomas similares àqueles do
Transtorno de Estresse Pós-Traumático, ocorrendo logo após um evento extremamente
traumático.
O Transtorno de Ansiedade Generalizada caracteriza-se por pelo menos 6 meses
de ansiedade e preocupação excessivas e persistentes.
Transtornos somatoformes
A característica comum dos Transtornos Somatoformes é a presença de sintomas
físicos que sugerem uma condição médica geral (daí o termo somatoforme), porém não
são completamente explicados por uma condição médica geral, pelos efeitos diretos de
uma substância ou por um outro transtorno mental (por ex., Transtorno de Pânico).
O Transtorno de Somatização (historicamente chamado de histeria ou síndrome
de Briquet) é um transtorno polissintomático que inicia antes dos 30 anos, estende-se por
um período de anos e é caracterizado por uma combinação de dor, sintomas
gastrintestinais, sexuais e pseudoneurológicos.
O Transtorno Somatoforme Indiferenciado caracteriza-se por queixas físicas
inexplicáveis, com duração mínima de 6 meses, abaixo do limiar para um diagnóstico de
Transtorno de Somatização.
O Transtorno Conversivo envolve sintomas ou déficits inexplicáveis que afetam a
função motora ou sensorial voluntária, sugerindo uma condição neurológica ou outra
condição médica geral. Presume-se uma associação de fatores psicológicos com os
sintomas e déficits.
O Transtorno Doloroso caracteriza-se por dor como foco predominante de atenção
clínica. Além disso, presume-se que fatores psicológicos têm um importante papel em seu
início, gravidade, exacerbação ou manutenção.

Karina de O. Lima
Psicóloga CRP: 84326/06 87
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A Hipocondria é preocupação com o medo ou a idéia de ter uma doença grave, com
base em uma interpretação errônea de sintomas ou funções corporais.

O Transtorno Dismórfico Corporal é a preocupação com um defeito imaginado ou


exagerado na aparência física.
O Transtorno de Somatização Sem Outra Especificação é incluído para a
codificação de transtornos com sintomas somatoformes que não satisfazem os critérios
para qualquer um dos Transtornos Somatoformes.
• Transtornos factícios
No Transtorno Factício Com Sinais e Sintomas Predominantemente Físicos e na
Simulação, os sintomas somáticos podem ser intencionalmente produzidos,
respectivamente, para a adoção do papel de doente ou para angariar vantagens. Os
sintomas intencionalmente produzidos não devem contar para um diagnóstico de
Transtorno de Somatização.
No Transtorno Factício, a motivação consiste em assumir o papel de enfermo para
obter avaliação e tratamento médicos, ao passo que objetivos mais óbvios, tais como
compensação financeira, esquiva de deveres, evasão de processos criminais ou obtenção
de drogas, são perceptíveis na Simulação. Esses objetivos podem assemelhar-se aos
"ganhos secundários" nos sintomas conversivos, distinguindo-se estes últimos pela falta
de intenção consciente na sua produção. Entretanto, a presença de alguns sintomas
factícios ou simulados, mesclados a outros sintomas não-intencionais, não é incomum.
Nesses casos mistos, tanto Transtorno de Somatização quanto Transtorno Factício ou
Simulação devem ser diagnosticados.
• Transtornos dissociativos – CID-10
Os transtornos dissociativos ou de conversão se caracterizam por uma perda parcial
ou completa das funções normais de integração das lembranças, da consciência, da
identidade e das sensações imediatas, e do controle dos movimentos corporais.
Os diferentes tipos de transtornos dissociativos tendem a desaparecer após algumas
semanas ou meses, em particular quando sua ocorrência se associou a um
acontecimento traumático. A evolução pode igualmente se fazer para transtornos mais

Karina de O. Lima
Psicóloga CRP: 84326/06 88
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crônicos, em particular paralisias e anestesias, quando a ocorrência do transtorno está
ligada a problemas ou dificuldades interpessoais insolúveis. No passado, estes
transtornos eram classificados entre diversos tipos de "histeria de conversão".
Admite-se que sejam psicogênicos*, dado que ocorrem em relação temporal
estreita com eventos traumáticos, problemas insolúveis e insuportáveis, ou relações
interpessoais difíceis. Os sintomas traduzem freqüentemente a idéia que o sujeito se faz
de uma doença física.
O exame médico e os exames complementares não permitem colocar em
evidência um transtorno físico (em particular neurológico) conhecido. Por outro lado,
dispõe-se de argumentos para pensar que a perda de uma função é, neste transtorno, a
expressão de um conflito ou de uma necessidade psíquica.
Os sintomas podem ocorrer em relação temporal estreita com um "stress"
psicológico e ocorrer freqüentemente de modo brusco. O transtorno concerne
unicamente, quer a uma perturbação das funções físicas que estão normalmente sob o
controle da vontade, quer a uma perda das sensações.
Os transtornos que implicam manifestações dolorosas ou outras sensações físicas
complexas que fazem intervir o sistema nervoso autônomo, são classificados entre os
transtornos somatoformes (F45.0). Há sempre a possibilidade de ocorrência numa data
ulterior de um transtorno físico ou psiquiátrico grave.

Inclui-se nessa classificação: Histeria, Histeria de conversão, Reação histérica e


Psicose histérica

Exclui: simulador [simulação consciente]

* Psicogênico: de origem psíquica e não somática.

• Transtornos alimentares
Os Transtornos Alimentares caracterizam-se por severas perturbações no
comportamento alimentar. Esta seção inclui dois diagnósticos específicos, Anorexia
Nervosa e Bulimia Nervosa.

Karina de O. Lima
Psicóloga CRP: 84326/06 89
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A Anorexia Nervosa caracteriza-se por uma recusa a manter o peso corporal em
uma faixa normal mínima. Além disso, as mulheres pós-menarca com este transtorno são
amenorréicas* (o termo anorexia é uma designação incorreta, uma vez que a perda do
apetite é rara). A perda de peso em geral é obtida, principalmente, através da redução do
consumo alimentar total. Embora os indivíduos possam começar excluindo de sua dieta
aquilo que percebem como sendo alimentos altamente calóricos, a maioria termina com
uma dieta muito restrita, por vezes limitada a apenas alguns alimentos. Métodos
adicionais de perda de peso incluem purgação (isto é, auto-indução de vômito ou uso
indevido de laxantes ou diuréticos) e exercícios intensos ou excessivos.
Os indivíduos com este transtorno têm muito medo de ganhar peso ou ficar gordos
. Este medo intenso de engordar geralmente não é aliviado pela perda de peso. Na
verdade, a preocupação com o ganho ponderal freqüentemente aumenta à medida que o
peso real diminui.
A vivência e a importância do peso e da forma corporal são distorcidas nesses
indivíduos. Alguns indivíduos acham que têm um excesso de peso global. Outros
percebem que estão magros, mas ainda assim se preocupam com o fato de certas partes
de seu corpo, particularmente abdômen, nádegas e coxas, estarem "muito gordas". Eles
podem empregar uma ampla variedade de técnicas para estimar seu peso, incluindo
pesagens excessivas, medições obsessivas de partes do corpo e uso persistente de um
espelho para a verificação das áreas percebidas como "gordas".
A auto-estima dos indivíduos com Anorexia Nervosa depende em alto grau de sua
forma e peso corporais. A perda de peso é vista como uma conquista notável e como um
sinal de extraordinária autodisciplina, ao passo que o ganho de peso é percebido como
um inaceitável fracasso do autocontrole. Embora alguns indivíduos com este transtorno
possam reconhecer que estão magros, eles tipicamente negam as sérias implicações de
seu estado de desnutrição.
Em mulheres pós-menarca, a amenorréia* (devido a níveis anormalmente baixos
de secreção de estrógenos que, por sua vez, devem-se a uma redução da secreção de
hormônio folículo-estimulante [FSH] e hormônio luteinizante [LH] pela pituitária) é um
indicador de disfunção fisiológica na Anorexia Nervosa.

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A amenorréia em geral é uma conseqüência da perda de peso, mas, em uma
minoria dos indivíduos, pode na verdade precedê-la. Em mulheres pré-púberes, a
menarca pode ser retardada pela doença.
O indivíduo freqüentemente é levado à atenção profissional por membros da
família, após a ocorrência de uma acentuada perda de peso (ou fracasso em fazer os
ganhos de peso esperados). Quando o indivíduo busca auxílio por conta própria, isto
geralmente ocorre em razão do sofrimento subjetivo acerca das seqüelas somáticas e
psicológicas da inanição.
Raramente um indivíduo com Anorexia Nervosa se queixa da perda de peso em si.
Essas pessoas freqüentemente não possuem insight para o problema ou apresentam
uma considerável negação quanto a este, podendo não ser boas fontes de sua história.
Portanto, com freqüência se torna necessário obter informações a partir dos pais ou
outras fontes externas, para determinar o grau de perda de peso e outros aspectos da
doença.
Subtipos
Os seguintes subtipos podem ser usados para a especificação da presença ou
ausência de compulsões periódicas ou purgações regulares durante o episódio atual de
Anorexia Nervosa.
Tipo Restritivo. Este subtipo descreve apresentações nas quais a perda de peso
é conseguida principalmente através de dietas, jejuns ou exercícios excessivos. Durante o
episódio atual, esses indivíduos não se envolveram com regularidades em compulsões
periódicas ou purgações.
Tipo Compulsão Periódica/Purgativo. Este subtipo é usado quando o indivíduo
se envolveu regularmente em compulsões periódicas ou purgações (ou ambas) durante o
episódio atual. A maioria dos indivíduos com Anorexia Nervosa que comem
compulsivamente também fazem purgações mediante vômitos auto-induzidos ou uso
indevido de laxantes, diuréticos ou enemas.
Alguns indivíduos incluídos neste subtipo não comem de forma compulsiva, mas
fazem purgações regularmente após o consumo de pequenas quantidades de alimentos.
Aparentemente, a maior parte dos indivíduos com o Tipo Compulsão Periódica/Purgativo

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dedica-se a esses comportamentos pelo menos uma vez por semana, mas não há
informações suficientes que justifiquem a especificação de uma freqüência mínima.
A Bulimia Nervosa é caracterizada por episódios repetidos de compulsões
alimentares seguidas de comportamentos compensatórios inadequados, tais como
vômitos auto-induzidos; mau uso de laxantes, diuréticos ou outros medicamentos; jejuns
ou exercícios excessivos.
Entretanto, diferentemente dos indivíduos com Anorexia Nervosa, Tipo Compulsão
Periódica/Purgativo, os indivíduos com Bulimia Nervosa são capazes de manter um peso
corporal no nível normal mínimo ou acima deste.
Uma perturbação na percepção da forma e do peso corporal é a característica
essencial tanto da Anorexia Nervosa quanto da Bulimia Nervosa.
* Amenorréicas: que não menstruam.

* Amenorréia: ausência de menstruação por pelo menos 3 meses.

• Transtornos do controle dos impulsos


A característica essencial dos Transtornos de Controle dos Impulsos é o fracasso em
resistir a um impulso ou tentação de executar um ato perigoso para a própria pessoa ou
para outros. Na maioria dos transtornos descritos nesta seção, o indivíduo sente uma
crescente tensão ou excitação antes de cometer o ato. Após cometê-lo, pode ou não
haver arrependimento, auto-recriminação ou culpa. Os seguintes transtornos são
incluídos nesta seção:
O Transtorno Explosivo Intermitente é caracterizado por episódios distintos de
fracasso em resistir a impulsos agressivos, resultando em sérias agressões ou destruição
de propriedades.
A Cleptomania caracteriza-se por um fracasso recorrente em resistir a impulsos
de roubar objetos desnecessários para o uso pessoal ou em termos de valor monetário.
A Piromania é caracterizada por um padrão de comportamento incendiário por
prazer, gratificação ou alívio de tensão.
O Jogo Patológico caracteriza-se por um comportamento mal-adaptativo,
recorrente e persistente, relacionado a jogos de azar e apostas.

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A Tricotilomania caracteriza-se pelo ato de puxar de forma recorrente os próprios
cabelos por prazer, gratificação ou alívio de tensão, acarretando uma perda capilar
perceptível.
TRANSTORNOS DE PERSONALIDADE – Eixo II - DSM-IV
Um Transtorno da Personalidade é um padrão persistente de vivência íntima ou
comportamento que se desvia acentuadamente das expectativas da cultura do indivíduo,
é invasivo e inflexível, tem seu início na adolescência ou começo da idade adulta, é
estável ao longo do tempo e provoca sofrimento ou prejuízo. Muitos dos critérios
específicos para os Transtornos da Personalidade descrevem aspectos (por ex.,
desconfiança, dependência ou insensibilidade) que também caracterizam episódios de
transtornos mentais do Eixo I. Um Transtorno da Personalidade deve ser diagnosticado
apenas quando as características definidoras apareceram antes do início da idade adulta,
são típicas do funcionamento do indivíduo a longo prazo e não ocorrem exclusivamente
durante um episódio de um transtorno do Eixo I.
Transtorno da Personalidade Paranóide é um padrão de desconfiança e
suspeitas, de modo que os motivos dos outros são interpretados como malévolos.
Transtorno da Personalidade Esquizóide é um padrão de distanciamento dos
relacionamentos sociais, com uma faixa restrita de expressão emocional.
Transtorno da Personalidade Esquizotípica é um padrão de desconforto agudo
em relacionamentos íntimos, distorções cognitivas ou da percepção de comportamento
excêntrico.
Transtorno da Personalidade Anti-Social há a desconsideração e violação dos
direitos dos outros.
Transtorno da Personalidade Borderline é um padrão de instabilidade nos
relacionamentos interpessoais, auto-imagem e afetos, bem como de acentuada
impulsividade.
Transtorno da Personalidade Histriônica é um padrão de excessiva emotividade
e busca de atenção.
Transtorno da Personalidade Narcisista é um padrão de grandiosidade,
necessidade por admiração e falta de empatia.

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Transtorno da Personalidade Esquiva é um padrão de inibição social,
sentimentos de inadequação e hipersensibilidade a avaliações negativas.
Transtorno da Personalidade Dependente é um padrão de comportamento
submisso e aderente, relacionado a uma necessidade excessiva de proteção e cuidados.
Transtorno da Personalidade Obsessivo-Compulsiva é um padrão de
preocupação com organização, perfeccionismo e controle.
Os Transtornos da Personalidade são reunidos em três agrupamentos, com base
em similaridades descritivas.
1 - Agrupamento A: Os indivíduos com esses transtornos freqüentemente parecem
"esquisitos" ou excêntricos.
Transtornos da Personalidade Paranóide
Esquizóide
Esquizotípica

2 - Agrupamento B: Os indivíduos com esses transtornos freqüentemente parecem


dramáticos, emotivos ou erráticos.

Transtornos da Personalidade Anti-Social


Borderline
Histriônica
Narcisista.

3 - Agrupamento C: Os indivíduos com esses transtornos freqüentemente parecem


ansiosos ou medrosos.
Transtornos da Personalidade Esquiva
Dependente
Obsessivo-Compulsiva

Cabe notar que este sistema de agrupamento, embora útil em algumas situações
de ensino e pesquisa, apresenta sérias limitações e não foi consistentemente validado.

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Além disso, os indivíduos freqüentemente apresentam Transtornos da Personalidade
concomitantes de diferentes agrupamentos.
As categorias de Transtorno da Personalidade podem ser aplicadas a crianças ou
adolescentes nos casos relativamente raros em que os traços particularmente mal-
adaptativos do indivíduo parecem ser invasivos, persistentes e improvavelmente limitados
a um determinado estágio evolutivo ou a um episódio de um transtorno do Eixo I.
Cabe reconhecer que os traços de um Transtorno da Personalidade que aparecem
na infância freqüentemente não persistem inalterados até a vida adulta. Para o
diagnóstico de Transtorno da Personalidade em um indivíduo com menos de 18 anos, as
características devem ter estado presentes por no mínimo um ano. A única exceção é
representada pelo Transtorno da Personalidade Anti-Social, que não pode ser
diagnosticado em indivíduos com menos de 18 anos.
Embora, por definição, um Transtorno da Personalidade não deva ter início após
os primórdios da idade adulta, os indivíduos podem não chegar à atenção clínica até uma
fase relativamente tardia de suas vidas. Um Transtorno da Personalidade pode ser
exacerbado após a perda de pessoas de apoio significativas (por ex., cônjuge) ou
situações sociais anteriormente estabilizantes (por ex., um emprego).
Certos Transtornos da Personalidade (por ex., Transtorno da Personalidade Anti-
Social) são diagnosticados com maior freqüência em homens.Outros (por ex., Transtorno
da Personalidade Borderline, Histriônica e Dependente) são diagnosticados com maior
freqüência em mulheres.

5. A criança e o adolescente: desenvolvimento emocional e social.


Psicologia do Desenvolvimento: histórico e diferentes concepções
De acordo com Rappaport (1981), a Psicologia do Desenvolvimento pretende
observar, descrever e explicar as mudanças mais significativas no decorrer do
desenvolvimento da criança, entendendo-o como um processo que se inicia na gestação
e termina com a morte do indivíduo. Assim, as teorias do desenvolvimento lançam mão de
pesquisas e teorizações como subsídios ao entendimento do processo de

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desenvolvimento em determinada cultura, bem como os possíveis desvios e distúrbios
que podem decorrer em problemas emocionais, sociais, escolares, profissionais, etc.
Em linhas gerais, esta ciência é voltada ao estudo do desenvolvimento humano
em todos os seus aspectos: físico-motor, cognitivo, afetivo-emocional e social. O aspecto
físico-motor refere-se ao crescimento orgânico e à maturação neurofisiológica. A cognição
integra a capacidade de pensar, raciocinar, abstrair. A afetividade indica o modo particular
de o indivíduo integrar e reagir às suas vivências. O aspecto social nos mostra como o
desenvolvimento do indivíduo se dá em sua relação com os outros e com o mundo em
que vive. É importante salientar que todos estes aspectos se inter-relacionam
mutuamente ao longo do desenvolvimento (SANTANA, 2008).
Os limites ainda encontrados nesta área de conhecimento remetem muitas vezes
a seu recente surgimento, datado do século XIX, início do século XX, momento em que
começa a despontar uma preocupação mais ampla e sistemática em relação à condição
da criança na sociedade, a partir do estudo da criança e da necessidade de uma
educação formal (RAPPAPORT, 1981).
Em tempos precedentes, as crianças eram vistas e tratadas como pequenos
adultos: a partir dos 3 a 4 anos já exerciam as atividades dos adultos, trabalhando,
participando de orgias, enforcamento públicos, sendo alvo de atrocidades pelos mais
velhos. Somente em meados do século XVII há a tentativa da Igreja em afastar as
crianças de assuntos ligados ao sexo, preocupada com a formação moral dos indivíduos.
Esta iniciativa, contudo, apresentou limites em seus intuitos educativos, métodos
utilizados, no escasso número de crianças atendidas. Ainda assim, despertou de alguma
forma uma reflexão inicial a respeito da especificidade do mundo infantil, que se
expressou no pensamento de grandes filósofos dos séculos XVII e XVIII (ibid).
Mas é somente no século XXI que se evidencia uma mudança na atitude a partir
do estudo científico da infância, cujo reconhecimento enfrentou a duras penas a longa
história de desconhecimento total acerca da criança. Dessa forma, a então recente
ciência do comportamento infantil passou a descrever os comportamentos típicos de cada
faixa etária e organizar extensas escalas de desenvolvimento, fundamentadas no que era
considerado “normal” na conduta do indivíduo. As posteriores contribuições de Freud, a

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partir da análise psicanalítica de adultos, constataram a existência da sexualidade infantil
e de processos inconscientes em todas as fases da vida, ampliando ainda mais o alcance
científico da Psicologia do Desenvolvimento. Destaca-se também a perspectiva etológica,
que considera a conduta de outras espécies para a compreensão do desenvolvimento
humano. Outras abordagens, como a de Piaget e sua proposição de estágios de
desenvolvimento, bem como a de Vigotski e outros autores russos, preocupados com a
consolidação de uma psicologia mais objetiva e concreta, também contribuíram para a
compreensão da infância em suas peculiaridades (ibid).
É importante ressaltar a necessária consideração de outras variáveis
intervenientes no desenvolvimento além das especificamente psicológicas, como os
fatores externos à própria criança e à dinâmica familiar estabelecida, numa busca de não
fragmentação da conduta humana, sob pena de uma visão inadequada do processo como
um todo, dos encadeamentos e influências biológicas e sociais que ocorrem a todo
momento (ibid).
Sabe-se hoje que o desenvolvimento humano transcorre na base de condições
tanto biológicas quanto sociais, caracterizando-se assim uma compreensão interacionista
entre ambos os aspectos. Contudo, ao longo da história, estiveram também presentes
modelos teóricos que ora privilegiaram as condições biológicas, indicando uma
concepção inatista do desenvolvimento, ora as condições sociais, representando as
concepções ditas ambientalistas (MARTINS; CAVALVANTI, 2005).
As concepções inatistas pressupõem que as propriedades básicas do ser humano
já se encontram garantidas no nascimento, dependendo de fatores hereditários e
maturacionais. Dessa forma, o processo de aquisição dos conhecimentos encontra-se na
dependência da prontidão espontaneamente alcançada pela criança, de onde se entende
que o desenvolvimento seria então pré-requisito para a aprendizagem (MARTINS;
CAVALVANTI, 2005). Ou seja, nesta visão, o desenvolvimento cria possibilidades que
serão realizadas no processo de aprendizagem, a qual se edifica então sobre a
maturação. Entende-se assim que há uma dependência puramente externa e unilateral da
aprendizagem sobre o desenvolvimento, pois este não se modifica sob influência do

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ensino, e portanto, não há interpenetração, entrelaçamento interno entre ambos os
processos (VIGOTSKI, 2001).
Já em relação às concepções ambientalistas, a constituição das características
humanas depende, prioritariamente, do ambiente. As experiências pelas quais o indivíduo
passa seriam as únicas fontes de seu desenvolvimento, então condicionado pelos
elementos que constituem o universo social, dentre eles a família e o contexto sócio-
econômico do indivíduo (MARTINS; CAVALVANTI, 2005). Pode-se dizer que a partir
desta compreensão, propõe-se uma fusão entre desenvolvimento e aprendizagem, na
medida em que a formação de associações e habilidades é a base única e essencial de
ambos os processos. A acumulação gradual de reflexos condicionados é o que define
desenvolvimento, bem como a aprendizagem. Assim, conclui-se que desenvolvimento e
aprendizagem são sinônimos, não havendo mais fundamentos para continuar distinguindo
um do outro, ou relacionar um ao outro. A criança se desenvolve na medida em que
aprende, em que é ilustrada. Desenvolvimento é aprendizagem, aprendizagem é
desenvolvimento (VIGOTSKI, 2001).
Em contraposição às concepções que privilegiam ao extremo ora os aspectos
inatos, ora os ambientais, as teorias de Piaget e Vigotski são consideradas em seu
caráter interacionista, pois seus pressupostos indicam que a construção do conhecimento
e das características pessoais dos indivíduos se dá através da interação com outras
pessoas e das suas ações sobre o mundo. Suas teorias influenciam fortemente grande
parte dos educadores de nosso tempo, entretanto é importante salientar que os referidos
autores partem de matrizes distintas, posto que os pressupostos biológicos preponderam
na Psicologia Genética de Piaget (e por isso muitos entendem que para ele o
desenvolvimento é pré-requisito para a aprendizagem) e os aspectos sociais
preponderam na Psicologia Histórico-Cultural (ou Sócio-Histórica) de Vigotski (MARTINS;
CAVALVANTI, 2005).

A Psicologia Histórico Cultural de Lev Semenovich Vigotski


Vigotski (1896-1934) preocupou-se em investigar o processo de construção das
funções psíquicas superiores (como a atenção voluntária, a memória mediada, o
pensamento, etc.) a partir do princípio do desenvolvimento histórico da sociedade como

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eixo norteador da Psicologia. Considerado como principal referência na construção de
uma psicologia de bases objetivas, ele introduz a idéia de historicidade da natureza do
psiquismo humano, fundamentando-se nos preceitos filosóficos do materialismo histórico-
dialético, como proposto por Marx e Engels. Assim, todos os fenômenos humanos,
incluindo aí o próprio homem e suas capacidades, são produzidos pela atividade humana,
a partir de condições objetivas (materiais) existentes. Entende-se, portanto, que a
existência humana é histórica e social enquanto produto dessas ações coletivas ao longo
dos tempos (MARTINS; CAVALVANTI, 2005).
Em contraposição à psicologia tradicional de sua época, Vigotski defende uma
análise psicológica explicativa, e não meramente descritiva, buscando revelar os nexos
dinâmico-causais que determinam os fenômenos. Este pressuposto se evidencia em sua
postura em relação à periodização das idades no desenvolvimento infantil. O autor afirma
que os fundamentos para tal periodização não devem ser buscados em seus indícios
externos, como procedem diversos investigadores. Pelo contrário, propõe-se ater à
essência do processo do desenvolvimento psicológico, procurando o que se oculta sob os
aspectos externos, isto é, focando o que os condiciona: as próprias leis internas do
desenvolvimento infantil (PASQUALINI, 2006).
Vigotski considera que a multiplicidade de aspectos parciais da personalidade da
criança constitui um todo único, com determinada estrutura que se modifica ao longo do
processo de desenvolvimento. Assim, não se verificam mudanças isoladas nos diferentes
aspectos da personalidade, mas há a modificação interna dessa estrutura em sua
totalidade. Os aspectos parciais não são compreendidos em si, mas como parte da
estrutura psicológica que caracteriza cada momento do desenvolvimento infantil. Neste
sentido, o autor procura estabelecer uma análise não atomística dos fenômenos
psíquicos, substituindo o estudo de objetos/partes pelo estudo de processos, na
reconstrução dos momentos fundamentais de seu desenvolvimento (PASQUALINI, 2006).
A partir de suas investigações acerca de como os processos cognitivos superiores
(tipicamente humanos) são constituídos nas condições histórico - sociais e nas interações
humanas, postulou que tais processos são estabelecidos, inicialmente, no plano social –
na interação com pessoas mais experientes – e posteriormente são internalizadas no

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plano psicológico, possibilitando à criança a regulação de seus pensamentos e ações
(MARTINS; CAVALVANTI, 2005). O conceito de internalização pressupõe assim que a
criança impõe a si própria as mesmas formas de comportamento que outros impunham a
ela a princípio, dessa maneira assimilando formas sociais de conduta. Neste sentido,
todas as funções psíquicas superiores aparecem primeiramente no plano social, nas
interrelações entre os homens (interpsiquicamente), e posteriormente no plano
psicológico, como categoria intrapsíquica (VYGOTSKY, 1998).
Dessa forma, a internalização de formas culturais de conduta consiste numa série
de transformações: uma operação inicialmente dada de forma externa é reconstruída e
passa a ocorrer internamente; um processo interpessoal transforma-se em um processo
intrapessoal, como resultado de uma série de eventos transcorridos ao longo do
desenvolvimento (MARTINS; CAVALVANTI, 2005). Por exemplo: quando a criança
descobre não ser capaz de resolver um problema por si mesma e, verbalmente, pede a
ajuda de um adulto, ela descreve o procedimento que sozinha não pôde colocar em ação.
Posteriormente em seu desenvolvimento, ao invés de apelar para o adulto, ela apela a si
mesma, de forma que a linguagem passa a adquirir uma função intrapessoal além do seu
uso interpessoal. Ao desenvolver um método de comportamento para guiar a si mesma, o
qual tinha sido antes usado em relação a outra pessoa, a criança passa a organizar a
própria atividade de acordo com uma forma social de comportamento: a fala socializada é
então internalizada (VYGOTSKY, 1998).
Vygotsky (1998) afirma que as funções psíquicas superiores como produtos do
desenvolvimento social da conduta, requerem a introdução de estímulos-meios artificiais
que passam a mediar a relação do homem com o que o cerca, através de sua
internalização. Os signos, como estímulos artificiais introduzidos pelo homem na situação
psicológica, cumprem a função de auto-estimulação como meio para o controle e domínio
da conduta própria e alheia. Sendo assim, a conduta humana passa então a ser regida
pelo princípio regulador da significação (criação e utilização de signos). Este princípio é
traço característico da operação psíquica superior, e marca distintivamente o agir humano
por presumir a relação essencialmente ativa do homem para com o meio, através do qual

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estabelece o domínio sobre seu próprio comportamento, regulando sua atividade interna,
reestruturando a operação psíquica.
Considerando então que o processo de formação do pensamento é construído a
partir das interações sociais e da internalização de signos, a linguagem é de fundamental
importância na compreensão do desenvolvimento humano. Vigotski observou a
importância da fala externa como condição para o planejamento e execução da ação,
identificando modificações nas relações entre a fala externa (falar para si em voz alta) e o
pensamento, ao longo do desenvolvimento. Em um primeiro momento (até
aproximadamente os três anos de idade) a fala acompanha a ação, de forma dispersa e
caótica. Em seguida (de 3 a 6 anos) a fala precede a ação e auxilia o planejamento da
ação. Surge assim a função planejadora da fala, em que esta domina o curso da ação,
além das funções já existentes da linguagem, de refletir o mundo exterior. Por fim (6 anos
em diante), a fala vai se tornando constitutiva do pensamento, ou seja, interna (MARTINS;
CAVALVANTI, 2005).
No que se refere à relação entre a aprendizagem e o desenvolvimento, Vigotski
afirma que todo planejamento da aprendizagem deve considerar (deve ser combinada
com) o nível de desenvolvimento da criança. Para a avaliação das relações entre o
processo de desenvolvimento e as possibilidades de aprendizagem, o autor propõe que
se devem determinar dois níveis de desenvolvimento: o nível de desenvolvimento real,
que constitui as capacidades mentais da criança de solucionar problemas sem ajuda do
outro, e o nível de desenvolvimento potencial, o qual inclui capacidades mentais da
criança de solucionar problemas com a ajuda de outras crianças ou do educador. A
diferença existente entre estes dois níveis de desenvolvimento (o real e o potencial) foi
chamada de zona de desenvolvimento proximal porque inclui funções que se encontram
em processo de desenvolvimento (MARTINS; CAVALVANTI, 2005).
Vigotski (1998), ao apresentar este conceito, exemplifica com a seguinte situação:
duas crianças apresentam a idade mental de 8 anos, o que corresponde dizer que se
encontram no mesmo nível de desenvolvimento real, isto é, em relação ao que sabem
fazer por si mesmas, sem ajuda. No entanto, no que se refere aos problemas resolvidos
com a ajuda de um adulto, uma das crianças conseguia resolver problemas que atingiam

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a idade mental de 9 anos, enquanto que a outra conseguia resolver problemas até a idade
mental de 12 anos. Essa divergência entre a idade mental ou desenvolvimento real, e o
nível que alcança a criança ao resolver as tarefas em colaboração, é o que determina a
zona de desenvolvimento próximo. No caso considerado, esta zona se expressa para
uma criança com a cifra 1 e para outra, com a cifra 4. Portanto, não se pode considerar
que ambas as crianças se encontram no mesmo estado de desenvolvimento, ou que
tenham o mesmo nível de desenvolvimento mental.
Em sendo assim, a ação educativa deve incidir na zona de desenvolvimento
proximal (também denominada zona de desenvolvimento próximo, potencial, ou imediato)
(MARTINS; CAVALVANTI, 2005). Nas palavras de Vigotski (2001):
(...) a aprendizagem se apóia em processos psíquicos imaturos, que
apenas estão iniciando o seu círculo primeiro e básico de desenvolvimento. (...)
a imaturidade das funções no momento em que se inicia o aprendizado é a lei
geral e fundamental a que levam unanimemente as investigações em todos os
campos do ensino escolar. (p.318-9, grifo nosso).

Mais adiante:

Descobrimos que a aprendizagem está sempre adiante do


desenvolvimento (...). Um resumo geral da segunda série das nossas
investigações pode ser formulado da seguinte maneira: no momento da
assimilação de alguma operação aritmética, de algum conceito científico, o
desenvolvimento dessa operação e desse conceito não termina mas apenas
começa, a curva do desenvolvimento não coincide com a curva do aprendizado
do programa escolar; no fundamental a aprendizagem está a frente do
desenvolvimento. (ibid, p.322; 324, grifo nosso).

Para Vigotski (2003), a correta organização da aprendizagem da criança orienta e


estimula processos internos de desenvolvimento que não poderiam ser produzidos sem a
aprendizagem, de forma que esta se faz essencialmente necessária e universal para que
haja o desenvolvimento das características humanas não naturais, mas formadas
histórica e socialmente.
O estabelecimento da zona de desenvolvimento potencial nos mostra que o que a
criança é capaz de fazer hoje em colaboração, conseguirá fazer amanhã sozinha. A
questão da necessidade de que haja certas funções já amadurecidas para que ocorra a
aprendizagem permanece em vigor. Trata-se de definir o limiar inferior da aprendizagem,

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em que esta se oriente nos ciclos já percorridos do desenvolvimento. Entretanto, o
problema não termina aí, pois a aprendizagem não se apóia na maturação, mas sempre
começa daquilo que ainda não está maduro na criança. Assim, deve-se também definir o
limiar superior da aprendizagem. É somente entre seus limiares inferior e superior é que
se pode estabelecer o período ótimo de ensino de determinada matéria (VIGOTSKI,
2001).
Para Vigotski, os fatores biológicos e sociais exercem influências mútuas, sendo
que as características biológicas sustentam a interação da criança com seu mundo físico
e social, modificando-o, e por sua vez, esta relação também influencia a construção de
suas características biológicas próprias, num processo de inter-relação progressiva e
contínua. O desenvolvimento pressupõe então um vínculo ativo entre a criança e o mundo
social, caracterizado por seu caráter prático e objetivo no contato com a realidade, por
meio da atividade da criança (MARTINS; CAVALVANTI, 2005).
Em síntese, a explicitação da dimensão histórica do psiquismo humano por
Vigotski refuta explicações universais e naturalizantes a respeito do desenvolvimento,
situando a apropriação da cultura (um processo eminentemente educativo), como fator
determinante do desenvolvimento psicológico dos indivíduos (PASQUALINI, 2006).
A Psicologia Genética de Jean Piaget
Jean Piaget (1896-1980), biólogo de formação, buscou investigar o processo de
construção de conhecimento pela criança, compreendendo-o através da interação entre o
sujeito cognoscente e o objeto a ser conhecido (MARTINS; CAVALVANTI, 2005). Para
ele, a adaptação à realidade externa depende do conhecimento, que se dá pela interação
ente o mundo material e exercício da razão, e desse modo constrói sua teoria sobre as
bases do interacionismo (BARDUCHI, 2004).
Seus pressupostos teóricos integram a investigação da estrutura e gênese do
conhecimento, daí a denominação “Psicogênese”, ou mesmo “epistemologia genética”,
marcando o estudo da passagem de formas inferiores do conhecimento a formas mais
complexas (MARTINS; CAVALVANTI, 2005; BARDUCHI, 2004).
De acordo com a teoria da Psicogênese, o desenvolvimento da inteligência se dá
de forma organizada, tendo como base a estrutura mental. Tal estrutura é constituída pela

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inter-relação entre diversos esquemas, estes definidos como a organização das ações de
modo que seja possível sua generalização quando a ação se repete em condições
semelhantes. Os esquemas, quando modificados, promovem a transformação da
estrutura mental, permitindo que ocorra a complexificação do pensamento (BARDUCHI,
2004).
Os fatores que determinam o processo de construção do
conhecimento/desenvolvimento são: a maturação biológica do organismo, estimulada pelo
meio ambiente e necessária ao surgimento de estruturas mentais; a interação social e a
experiência física com os objetos; e o processo de equilibração.
Sendo assim, o desenvolvimento é visto como um processo de contínua
equilibração com o meio, processo este direcionado à conquista de um pensamento
lógico mais avançado que o anterior. Para Piaget, a inteligência (capacidade para
conhecer) é adaptação. Assim, todo organismo tende à adaptação ao meio, isto é, a um
estado de equilíbrio constante que, no entanto, é rompido continuamente por
desequilíbrios provocados pelos meios social e físico, em que modificações no ambiente
ou mesmo novas possibilidades orgânicas produzem desafios que alteram o processo de
adaptação. E deste estado de desequilíbrio surge conseqüentemente um estado superior
de equilíbrio com o meio, isto é, novas formas mais eficientes de resolução de problemas
(MARTINS; CAVALVANTI, 2005; BARDUCHI, 2004).
Em decorrência desse novo processo adaptativo iniciado pelos desequilíbrios, o
organismo busca meios necessários à adaptação intelectual à nova realidade, acionando
os mecanismos de assimilação e acomodação. A assimilação ocorre quando o sujeito se
utiliza de estruturas mentais já formadas, para solução de determinada situação. Ou seja,
o novo elemento circunstancial é incorporado a um sistema já pronto. Em outras palavras,
a assimilação constitui a:
(...) integração de elementos novos em estruturas ou esquemas já
existentes. A noção de assimilação, por um lado, implica a noção de
significação e por outro expressa o fato fundamental de que todo conhecimento
está ligado a uma ação e de que conhecer um objeto ou um acontecimento é

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assimilá-lo a esquemas de ação. (PIAGET 2, 1983 apud MARTINS;
CAVACANTI, 2005).

Já o mecanismo de acomodação pressupõe estruturas antigas inadequadas ou


insuficientes para solucionar a nova situação, e assim as estruturas então existentes
devem ser modificadas para a integração de elementos novos (MARTINS; CAVALVANTI,
2005). Tanto o processo de assimilação quanto o de acomodação se complementam e
estão presentes ao longo da vida do sujeito.
Consideremos como exemplo uma criança que está aprendendo a reconhecer
animais, sendo o cachorro o único animal que ela conhece. Ela tem, portanto, em sua
estrutura cognitiva, um esquema de cachorro. Se apresentarmos a esta criança outro
animal semelhante, como o cavalo, ela o terá como um cachorro (marrom, quadrúpede,
com rabo, etc.). Apesar das diferenças, a similaridade entre o cachorro e o cavalo
prevalece em função da proximidade dos estímulos e da pouca variedade e qualidade dos
esquemas acumulados pela criança até o momento. Mas quando o adulto intervém e
corrige a criança, dizendo tratar-se de um cavalo, provocando assim um desequilíbrio, ela
acomodará aquele estímulo a uma nova estrutura cognitiva, criando assim um novo
esquema. Assim, a diferenciação entre os dois estímulos ocorre pelo processo de
acomodação, e a criança passa a ter um esquema para o conceito de cachorro e outro
para o conceito de cavalo (TAFNER, 2008).
Em suas investigações Piaget observou então diferentes formas de interação com
o ambiente em cada etapa do desenvolvimento. Estabeleceu assim alguns estágios ou
períodos do desenvolvimento humano, que correspondem a uma seqüência universal, em
diferentes faixas etárias. Hoje se entende que estas faixas etárias podem variar nos
diferentes estágios, em dependência das interações ambientais disponibilizadas à
criança. Essa noção de estágio foi utilizada para a descrição da organização da atividade
mental (inteligência) do nascimento até a adolescência, momento este em que a ação
lógica conquistada respaldará a ação adulta na resolução de problemas (BARDUCHI,
2004).

2
PIAGET, J. A Epistemologia Genética. São Paulo: Abril Cultural. Os Pensadores, 1983.

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Essa seqüência de estágios do desenvolvimento pressupõe que ele ocorre em
sucessão constante; que as estruturas construídas em determinado estágio integrarão as
novas estruturas do estágio posterior; que cada estágio é constituído por “estruturas de
conjunto” e não por características justapostas; que em todo estágio há um nível de
preparação para um estágio posterior, e um nível de acabamento que o diferencia do
estágio anterior; e que o nível de acabamento deve diferenciar-se das aquisições
anteriores e ser preparatório para as aquisições futuras (MARTINS; CAVALVANTI, 2005).
Os estágios apresentados para a compreensão do processo de desenvolvimento
das estruturas da inteligência são: o estágio sensório-motor (até dois anos); o estágio de
operações mentais, que se divide nos sub-estágios pré-operatório (2 a 7 anos) e
operatório concreto (7 anos até a adolescência); e o estágio da lógica formal (a partir da
adolescência).
O estágio sensório-motor é marcado pela ausência da relação entre o sujeito e o
objeto de conhecimento, e assim o bebê ainda não manifesta reconhecimento da
existência de seu “eu”. Há o estabelecimento de relações entre as ações e as
modificações que elas provocam no ambiente físico, através da manipulação do mundo
por meio da ação. Neste momento inicial do desenvolvimento, o exercício dos reflexos
sensoriais e motores vão tornando-se cada vez mais complexos, sendo muito importante
oferecer um rico e diversificado mundo de experiências para a criança, para que ela
possa se inserir no meio social, com outras crianças e adultos, bem como interagir com os
objetos a sua volta. Assim, o trabalho educativo nesse sentido pode promover a
complexificação das estruturas mentais, contribuindo para a formação dos esquemas
sensório-motores e a inteligência prática (solução imediata de problemas práticos pela
criança), e também para a gradual diferenciação entre sujeito e objeto.
No estágio das operações mentais, a criança desenvolve a capacidade de
representar suas ações e algumas relações de seu meio social através da utilização de
símbolos, de imagens mentais e da linguagem. No entanto, no sub-estágio pré-operatório,
o pensamento ainda depende das ações externas, sendo que as representações
simbólicas são repetições idênticas da realidade, já que não há ainda a capacidade de
reelaborar, reorganizar os acontecimentos. Esta etapa é caracterizada pelo pensamento

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egocêntrico, em que a criança não é capaz de pensar a partir do ponto de vista de outra
pessoa. Além disso, é muito comum a criança conferir o caráter de animismo às coisas a
sua volta, isto é, há “a tendência a conceber as coisas como vivas e dotadas de intenção.”
(PIAGET3, 1989 apud MARTINS; CAVALVANTI, 2005), como quando ela atribui
comportamentos e sentimentos humanos à boneca, por exemplo. Outra característica
própria desse sub-estágio é o artificialismo, ou seja, “a crença que as coisas foram
construídas pelo homem ou por uma atividade divina operando do mesmo modo que a
fabricação humana.” (PIAGET, 1989 apud MARTINS; CAVALVANTI, 2005) Por exemplo,
a criança pode dizer que o homem fez o mar. A interação com outros adultos por meio de
processos educativos é de suma importância, pois é a partir de brincadeiras e de jogos
simbólicos que a criança poderá reorganizar/reelaborar suas experiências em família, na
escola, etc., para compreendê-las e assim desenvolver suas estruturas cognitivas.
No sub-estágio seguinte, o operatório-concreto, as operações mentais ainda se
restringem a objetos e situações da realidade concreta, mas já ocorre a diferenciação
entre sujeito e objeto, o que possibilita uma compreensão mais adequada da realidade.
Assim, já se inicia a capacidade de formação de conceitos, motivo pelo qual neste
momento há a preponderância do pensamento lógico e objetivo. O sujeito já é capaz de
entender e realizar operações com classes (inclusão); operações com relações (igualar
diferenças, reversibilidade); e operações de conservação de quantidade de substância,
peso e volume. A criança conserva inicialmente a substância, seguida da conservação do
peso, e por fim, do volume.
Por fim, o estágio da lógica formal é caracterizado pelo pensamento hipotético-
dedutivo (levantamento de hipóteses, realização de deduções), e pela formação plena da
capacidade de formar idéias e construções abstratas. Há, portanto, independência em
relação ao recurso concreto, constituindo assim o ápice do desenvolvimento intelectual da
vida do indivíduo (MARTINS; CAVALVANTI, 2005).
Para além destas questões, Piaget estudou também o desenvolvimento do juízo
moral nas crianças, apontando a existência de duas tendências nessa evolução: a

3
PIAGET, J. Seis Estudos de Psicologia. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1989.

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heteronomia e a autonomia. A heteronomia seria o seguimento de regras determinadas
externamente por uma autoridade (como pais, professores, etc.). Por outro lado, a
autonomia se caracteriza pelo princípio da reciprocidade, em que as regras deixam de ser
cumpridas por submissão a outrem e passam a ser elaboradas e seguidas para manter a
convivência grupal.
Podemos então concluir que para Piaget os processos e operações mentais são
os fatores determinantes da conduta individual. Embora seja construída a partir da
interação social, a estrutura cognitiva é considerada um elemento básico na constituição
do indivíduo para que ele possa responder às demandas sociais (MARTINS;
CAVALVANTI, 2005).
A Psicanálise Kleiniana
Melanie Klein (1882-1960) nasceu em Viena, em uma família judia pobre. Formou-
se em Arte e História, mas assim que iniciou sua incursão nas idéias de Freud, delegou
suas atividades à psicanálise de crianças. Protagonista das ditas Grandes Controvérsias
internas à Sociedade Britânica de Psicanálise, em que estabeleceu grande rivalidade em
relação às idéias de Anna Freud sobre a análise com crianças, organizou em torno de si
uma verdadeira escola de psicanálise, contribuindo para o surgimento de reconhecidos
autores pós e neo-kleinianos (ZIMERMAN, 2001).
Dentre os postulados advindos de um princípio próprio de psicanálise com
crianças, Klein afirma ser possível a transferência na análise infantil, tornando então
desnecessária qualquer atitude pedagógica em relação aos pais (FUNDAMENTOS,
2008). Essa questão foi o alvo do embate teórico travado entre Klein e Anna Freud.
Contudo, o reconhecimento do trabalho de Klein advém da criação da psicanálise da
criança por meio da técnica do brincar. Ela o considerou como processo equivalente à
associação livre do adulto, sendo o conteúdo emocional do brincar correspondente ao
sonho do adulto. É deste modo que a compreensão da estrutura emocional do bebê
possibilitou a investigação das atividades mentais primitivas de psicóticos e pacientes
regressivos. (ZIMERMAN, 1999; BARROS, E.M.R.; BARROS E.L.R.,2006).
Klein postula que as fantasias estão presentes desde muito cedo na vida do bebê
e se constituem enquanto representantes mentais das pulsões instintivas, tomando forma

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em representações figurativas que evocam estados e significados afetivos, os quais
organizam as emoções enquanto a vivemos. Todo impulso instintivo é dirigido a um objeto
interno (representação figurativa capaz de evocar afetos), que nada mais é que uma
imagem distorcida dos objetos reais, mas que se instalam não só no mundo externo,
como também internamente incorporando-se ao ego (BARROS, E.M.R.; BARROS
E.L.R.,2006).
O primeiro objeto interno do bebê é a mãe, ou sua representação parcial como
seio alimentador, e pode adquirir qualidades boas e más. A fome, por exemplo, é vivida
pelo bebê como a presença de um objeto que frustra, como fruto de uma ação de algo
existente dentro dele, e que provoca sentimentos bons quando alimentado, e sentimentos
maus quando não satisfeitos. Com a progressiva associação de moções pulsionais com
os objetos internos representantes do mundo externo, são gerados os significados para
as experiências vividas, dando sentido às ações, crenças e percepções, bem como uma
tonalidade afetiva às relações com o mundo externo e interno (expressos em fantasias
inconscientes) (ibid).
Concomitante ao nascimento, já se inicia o embate permanente entre o instinto de
vida e o de morte: “diante da pressão exercida no nível mental pelas necessidades físicas
ligadas à sobrevivência, o bebê é colocado diante de duas possibilidades: ou se organiza
para satisfazê-las (pulsão de vida) ou para negá-las (pulsão de morte).” (ibid).
A pulsão de morte expressa-se por meio de ataques invejosos (inveja primária) e
sádico-destrutivos contra o seio materno. Essas pulsões provocam internamente a
“angústia de aniquilamento” ou “ansiedade de morte”. É neste contexto que o ego
rudimentar do recém-nascido assume a posição de defesa contra a angústia através de
mecanismos primitivos, como a negação onipotente, a dissociação, a identificação
projetiva, a introjeção e a idealização (como veremos em alguns destes conceitos mais
adiante) (ZIMERMAN, 1999, 2001).
Inaugurando dessa forma um modo particular de conceber o desenvolvimento
humano, Klein considera não somente o passado histórico de repressões inconscientes
acumuladas como fatores intervenientes no desenvolvimento (normal ou patológico). Ela
amplia o conceito de instinto de morte como principal fonte de ansiedade, relacionando-o

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com o medo de não sobreviver, e esta ansiedade de morte se torna o motor do
desenvolvimento (BARROS, E.M.R.; BARROS E.L.R.,2006).
Essas pulsões provocam um intenso intercâmbio entre o mundo externo e interno,
através de um movimento permanente de projeção e introjeção de estados de espírito. É
neste cenário de processos projetivos e introjetivos, intrínsecos ao modo de operar da
mente humana, que são gerados os significados das experiências emocionais e os afetos
envolvidos nas relações humanas em geral (ibid). Assim, o ego se desenvolve mediante a
introjeção de objetos que são sentidos como pertencentes a ele. Simultaneamente, os
objetos externos se constituem por meio da projeção, no mundo externo, de objetos
provenientes da fantasia inconsciente e de experiências anteriores de objeto, o que indica
a combinação de aspectos do self com características reais dos objetos presentes e
passados (GEVERTS, 2006).
Estes mecanismos de projeção e introjeção possibilitam a defesa (contra a
ansiedade) do ego incipiente do bebê, de modo que as estruturas precursoras do ego
podem dividir-se ou excindir-se, e ser projetadas para fora. Deste modo, não são apenas
projetados os estados perturbadores, mas também partes do próprio self, da própria
personalidade. Dessa dinâmica decorre que podemos viver parte de nossas vidas
projetados (em fantasia) no mundo interno de outra pessoa, ou podemos ter parte de
nossas vidas vividas em identificação com aspectos da vida de outrem. Esse mecanismo
é denominado por Klein de introjeção projetiva, um de seus mais importantes legados
conceituais. Assim, o que é projetado para fora, isto é, para dentro de um objeto, não só é
perdido como também confere nova identidade a esse objeto (BARROS, E.M.R.;
BARROS E.L.R.,2006).
Esse mecanismo se faz presente desde o nascimento, e em síntese, se baseia na
fantasia de que certos aspectos do self estão situados fora dele, dentro do objeto, de
forma que tenha a sensação de controlar o objeto desde dentro e que o projetor vivencie
o objeto como parte dele mesmo (GEVERTS, 2006). Atribui-se ao conceito de introjeção
projetiva a profunda modificação da técnica psicanalítica, da concepção das relações
humanas e do desenvolvimento, indicando áreas ainda não consideradas pela psicanálise
em seu foco central (BARROS, E.M.R.; BARROS E.L.R.,2006).

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Por fim, para Klein, a qualidade da natureza da ansiedade pode ser paranóide ou
depressiva, determinando assim a natureza do conjunto de defesas estruturantes do ego.
Às integrações possíveis entre o tipo de ansiedade e os modos de defesa ativados pelo
ego, Klein dá o nome de posição, que caracteriza o modo de o individuo ver a si mesmo e
o mundo à sua volta. A ansiedade paranóide, ou posição esquizoparanóide, é vivida como
uma ameaça à integridade do ego, mas a sobrevivência do objeto não está em jogo, pois
é tido somente como fonte de ameaça e não de amor. Esse tipo de ansiedade mobiliza
uma defesa para sobrevivência do ego, principalmente pelo mecanismo de dissociação
(divisão do self ou do objeto) e a identificação projetiva (ibid). Há a necessidade de
preservar a experiência prazerosa e rechaçar a experiência dolorosa, o que leva à
primeira dissociação de forma que o psiquismo gira em torno do estruturante (“seio bom”),
e de um desestruturante (“seio mau”). Nos primeiros meses da vida do bebê, as defesas
características da posição esquizoparanóide são necessárias, mas a persistência
exagerada das mesmas a outros períodos da evolução psíquica pode determinar
condições para uma psicopatologia (ZIMERMAN, 1999).
Por outro lado, a posição depressiva é definida por uma ansiedade de perda do
objeto de seu amor e se organiza a fim de se proteger dessa experiência dolorosa,
mobilizando defesas de natureza diferente da de caráter paranóide (BARROS, E.M.R.;
BARROS E.L.R.,2006). Ao contrário da posição esquizoparanóide, caracterizada pela
dissociação do todo em partes, a posição depressiva consiste na integração das partes do
sujeito que estão dispersas. A criancinha pode então reconhecer e integrar os aspectos
clivados da mãe, agora como objeto total. Essa posição é fundamental para o
desenvolvimento psíquico da criança pequena, possibilitando a criação de núcleos
básicos de confiança pela introjeção do “seio bom”, e a progressiva aceitação de perdas
parciais, como um afastamento temporário da mãe (ZIMERMAN, 1999).
A partir do seu conceito de posição, Klein realizou uma mudança significativa na forma de
entender os movimentos evolutivos do psiquismo, a despeito da concepção de “fases”
como descrita por Freud, então vigente entre os psicanalistas (ibid).
O adolescente segundo Calligaris

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Doutor em psicologia clínica, psicanalista e colunista, Contardo Calligaris propõe
analisar a adolescência e suas implicações na sociedade atual, como um mito criado no
início do século XX e uma das formações culturais mais poderosas de nossa época.
Caberia então entender como os jovens chegam hoje à adolescência, num momento
evidente de culto a esse período da vida, e mais que isso, explicar como isso nos afeta a
todos (CALLIGARIS, 2000).
Sendo uma criação social relativamente recente, a adolescência se constituiria
enquanto um período de moratória, na qual uma pessoa fisicamente adulta é
deliberadamente impedida de entrar na sociedade dos adultos. De acordo com Calligaris
(2000):
Nossos adolescentes amam, estudam, brigam, trabalham. Batalham com
seus corpos, que se esticam e se transformam. Lidam com as dificuldades de
crescer no quadro complicado da família moderna. Como se diz hoje, eles se
procuram e eventualmente se acham. Mas, além disso, eles precisam lutar com
a adolescência, que é uma criatura um pouco monstruosa, sustentada pela
imaginação de todos, adolescentes e pais. (p. 8-9).

A adolescência seria então o prisma pelo qual os adultos olham os adolescentes e


pelo qual os próprios adolescentes se contemplam. Na cultura ocidental burguesa, ela
coloca pessoas potencialmente capazes de agir no mundo, submetidos a uma moratória:

(...) Erikson entende a crise da adolescência como efeito dos nossos


tempos. Para ele, a rapidez das mudanças na modernidade torna problemática a
transmissão de uma tradição de pais para filhos adolescentes. Estes devem
portanto se constituir, se inventar, sem referências estáveis. Erikson foi o primeiro
a usar o termo “moratória” para falar de adolescência. Também foi um dos raros a
perceber que a crise da adolescência se tornava muito difícil de administrar, já que
o mesmo tipo de crise começava a assolar os adultos modernos (CALLIGARIS,
2000, p.78).

Um dos fatores que inevitavelmente possibilitou a invenção da adolescência foi o


prolongamento da infância, considerada um momento preparatório para o alcance do
triunfo social, isto é, como possibilidade do impossível sucesso que faltou aos adultos.
Assim, a adolescência é entendida como um derivativo da infância moderna: a promessa
da infância como uma imagem para os sonhos adultos, estende-se agora à procura desta
imagem na adolescência.

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O paradoxo em que o adulto se encontra ao perceber “as crianças” tornando-se
“um pouco mais crescidas”, se expressa nas atitudes em relação a essas pessoas jovens,
os “adolescentes”. Há a insistência em mantê-los protegidos e felizes, desprovidos de
obrigações e responsabilidades, num mundo infantil. No entanto, estes jovens se
aproximam cada vez mais dos adultos, pela maturação corpórea, pelas próprias
manifestações de gostos, vontades e prazeres, diferentes da infância: o sexo, dinheiro,
bens de consumo, etc.
Ainda assim, a imagem da infância funciona para os adultos como um consolo,
uma promessa, que se desloca para uma imagem da adolescência feliz, que dessa forma
oferece ao adulto “um espelho para contemplar a satisfação de nossos ávidos desejos, se
por algum milagre pudéssemos deixar de lado os deveres e as obrigações básicas que
nos constrangem.” (CALLIGARIS, 2000, p. 68).
Em outras palavras, a infância acaba sendo um ideal comparativo, pelo qual os
adultos podem acionar seus desejos de ser ou vir a ser felizes, inocentes,
despreocupados, como crianças. Contudo, a adolescência, que hoje toma o lugar da
infância no imaginário ocidental, é mais que um ideal comparativo: é principalmente um
ideal de identificação. Os adultos desejam ser adolescentes; estes, aos poucos, tornaram-
se o ideal dos adultos (CARDOZO, 2002).
Calligaris (2000) constata que nas últimas décadas as crianças perderam sua
especificidade estética, vestindo-se à imagem dos adolescentes, ou melhor, do
adolescente ideal dos adultos que as vestem. Por sua vez, os adultos comumente se
fantasiam do mesmo jeito. Esse predomínio da estética adolescente perpassa então todas
as idades e atravessa continentes. “(...) É o ideal coletivo que espreita qualquer cultura
que recusa a tradição e idealiza liberdade, independência, insubordinação etc.”
(CALLIGARIS, 2000, p. 73).
Neste sentido, segundo Calligaris (2000),
A adolescência (...) não precisa acabar. Crescer, se tornar adulto, não
significaria nenhuma promoção. Consistiria em sair do ideal de todos para se
tornar um adulto que só sonha com a adolescência (p.74).

Ao compreender a adolescência a partir desse ideal global dentro da sociedade


moderna, Calligaris afirma que o adolescente torna-se um ideal para si mesmo, como

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uma cópia de seu próprio estereótipo, e tende a marginalizar-se, ser rebelde, e assim
seguir ocupando o centro de nossa cultura, isto é, o lugar do sonho dos adultos. Neste
sentido, não há lugar para a necessidade de crescer e se tornar adulto, uma vez que os
próprios adultos querem ser adolescentes. A maturidade não traria para este adolescente
nenhum sentido de emancipação.
Em nossa cultura, a passagem para a vida adulta torna-se um enigma, pois a
adolescência, além de se constituir como uma moratória imposta que contradiz valores
sociais cruciais como o “ideal de autonomia”, é também uma sofrida privação de
reconhecimento e independência pelo adolescente, numa transição cuja duração é
indefinida.
Nesse tempo indefinido, os adolescentes questionam as expectativas adultas, e
como bons intérpretes do desejo adulto, compreendem que este corresponde a coisas
contraditórias, e o adolescente se vê numa encruzilhada.
Querem que ele seja autônomo e lhe recusam essa autonomia. Querem
que persiga o sucesso social e amoroso e lhe pedem que postergue esses
esforços para ‘se preparar’ melhor. É legítimo que o adolescente se pergunte:
“Mas o que eles querem de mim, então? Querem (segundo eles dizem) que eu
aceite esta moratória, ou preferem, na verdade, que eu desobedeça e afirme
minha independência, realizando assim seus ideais?’. (CALLIGARIS, 2000, p.
26).

O autor afirma que:

O fato é que a adolescência é uma interpretação de sonhos adultos,


produzida por uma moratória que força o adolescente a tentar descobrir o que
os adultos querem dele. O adolescente pode encontrar e construir respostas
muito diferentes a essa investigação. As condutas adolescentes, em suma, são
tão variadas quanto os sonhos e os desejos reprimidos dos adultos. Por isso
elas parecem (e talvez sejam) todas transgressoras. No mínimo, transgridem a
vontade explícita dos adultos. (ibid, p. 33).

O adolescente, ao descobrir que a nova imagem projetada por seu corpo não lhe
vale “naturalmente” o estatuto de adulto, é impelido a agir em resposta à falta de
reconhecimento que ele esperava dos adultos. Deste modo, procura novas formas de ser
no mundo, manifestando comportamentos que, segundo Calligaris (2000), são a chave de
acesso ao estatuto que lhe é atribuído: ser adolescente. Tais comportamentos “são ao

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mesmo tempo concreções da rebeldia extrema dos adolescentes e sonhos, pesadelos ou
espantalhos dos adultos.” (p. 35).
Nestas circunstâncias,
(...) a adolescência é uma imagem ou uma série de imagens que muito
pesa sobre a vida dos próprios adolescentes. Eles transgridem para serem
reconhecidos, e os adultos, para reconhecê-los, constroem visões da
adolescência. Elas podem estar entre o sonho (afinal, o adolescente é a
atuação de desejos dos adultos), o pesadelo (são desejos que estariam melhor
esquecidos) e o espantalho (são desejos que talvez voltem para se vingar de
quem os reprimiu). (CALLIGARIS, 2000, p.35).

Sendo assim, o adolescente se vê em permanente embate, colocando-se na


busca do reconhecimento de sua identidade, e assim transita por uma linha temporal
cheia de interrupções: o passado (infância, que perdeu), presente (o que vive), futuro (o
que vai definir; o desconhecido) (CARDOZO, 2002).

6. Meninos e meninas com trajetória de rua: características contemporâneas do


fenômeno e de sua abordagem.
Para algumas crianças e adolescentes o viver na rua pode apresentar-se como
uma rota alternativa na trajetória de desenvolvimento, exigindo-lhes estratégias de
adaptação e sobrevivência para viver sob vulnerabilidade e risco (SANTOS, BASTOS,
2002).

Segundo Santos e Bastos (2002) a experiência de rua pode iniciar-se com um


passo para a busca de sobrevivência, caracterizando-se por diversos níveis de inserção:
desde despender horas para suprir a renda familiar (crianças na rua) a um maior
engajamento, quando a rua passa a ser utilizada como local de moradia (crianças de rua).

A criança de rua estão expostas a diversos fatores de risco e geralmente, sua


história de vida inclui experiências de abandono e exploração (SANTOS, BASTOS, 2002).
Para estas crianças e adolescentes o viver na rua pode apresentar-se como uma
rota alternativa na trajetória de desenvolvimento, exigindo-lhes estratégias de adaptação e
sobrevivência para viver sob vulnerabilidade e risco (SANTOS, BASTOS, 2002).

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Podem-se considerar como fatores de risco, então, a condições de pobreza e
empobrecimento, rupturas na família, vivência de algum tipo de violência. Diante destes
fatores deve-se levar em consideração a questão da resiliência, bem como dos fatores de
proteção (AMPARO et al, 2008).
SAIBA MAIS...RESILIÊNCIA.

De acordo com Werner (1993, apud AMPARO et al, 2008), além dos aspectos
protetores decorrentes das relações parentais e da rede social de apoio, o sentimento de
confiança que o indivíduo apresenta na superação dos obstáculos confirma a ênfase dos
aspectos psicológicos e dos recursos internos, no esforço de lidar com as situações
adversas.
De Antoni e Koller (2004, apud AMPARO et al, 2008) confirmam esta idéia, ao
declararem que a pessoa resiliente possui autoconfiança, acreditando que terá
oportunidades na vida. Branden (1998, apud AMPARO et al, 2008) cita outro fator pessoal
importante na superação dos problemas: a auto-estima.
Segundo Amparo et al. (2008) a definição de resiliência teve sua origem nas
ciências exatas, mais precisamente, na física e na engenharia, com o cientista inglês
Thomas Young, ao buscar, por meio de experimentos, a relação entre a força aplicada
num corpo e a deformação que esta produzia.
Sendo assim, a resiliência é entendida nessas áreas como a propriedade de um
determinado corpo restituir o seu formato original após ser submetido a uma força
externa. Dessa forma, define-se resiliência como a capacidade que um ser humano, uma
família, um grupo social, tem de se recuperar psicologicamente quando são submetidos a
adversidades, violências, enfrentando-as, sendo transformados por elas, e no fim,
superando-as (PINHEIRO, 2004, apud AMPARO et al, 2008).
Em síntese, a resiliência é entendida como a possibilidade de superação por meio
da ressignificação do problema, isto é, lidar com as adversidades sem submeter-se às
mesmas (JUNQIUEIRA, DESLANDES, 2003 , apud AMPARO et al, 2008).
De acordo com a literatura podem ser identificadas três dimensões de resiliência:
acadêmica, social e emocional. Em cada uma destas dimensões há fatores e mecanismos
de proteção (AMPARO et al, 2008).

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A resiliência acadêmica caracteriza-se pela construção do conteúdo acadêmico de
forma saudável e funcional, podendo ser observada pelo bom desempenho escolar, pelo
interesse da escola e do estudante em construir e implementar novas estratégias de
ensino-aprendizagem e de resoluções de problemas relacionados à aprendizagem, além
da formação continuada de seus funcionários (AMPARO et al, 2008).
A resiliência social caracteriza-se pela construção saudável de aspectos interativos
como amizades, aspectos morais pró-socias e competência social e pode ser identificada
no bom relacionamento interpessoal, na capacidade de empatia e no senso de
pertencimento dos indivíduos, por exemplo (AMPARO et al, 2008).
Já a resiliência emocional caracteriza-se pelo sentimento de auto-eficácia,
autonomia, auto-estima, confiança em suas potencialidades e o conhecimento de suas
limitações, estando presente na resolução de situações de conflito íntimo ou social, como
por exemplo, no término de um relacionamento, na perda de pessoas importantes, na
situação de demissão de emprego, entre outras (LUTHAR, 1993, apud AMPARO et al,
2008).
Essas diferentes dimensões da resiliência remetem à definição de ambiente
ecológico: estruturas que sustentam as atividades, os papéis e as relações interpessoais
que cada indivíduo poderá estabelecer. Família, escola, grupo de pares, trabalho, lazer
são ambientes nos quais o indivíduo se movimenta e se relaciona com outros, podendo
estar vulnerável a situações adversas, exercitando, assim, sua capacidade de resiliência
(AMPARO et al, 2008).
Ainda, não há consenso quanto ao número de eventos de vida negativos
necessários para afetar a capacidade de resiliência do indivíduo. Considerando que as
experiências de vida negativas são inevitáveis para qualquer indivíduo, sobressai a
questão dos níveis de exposição e dos limites individuais de cada um. Uma situação
poderá ser enfrentada como perigo para um e apenas como um desafio para outro
(AMPARO et al, 2008).

7. Crianças sob risco pessoal e social: violência familiar, abuso sexual,


abrigamento e adoção.

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Infância e Violência Doméstica

O século XX é caracterizado pela veiculação de políticas públicas voltadas para o


bem-estar dos indivíduos. Recentemente difundiu-se a idéia de que as crianças também
deveriam ser alvos dessas políticas, com base na concepção de que a criança é um
“sujeito a ser protegido” pela família, sociedade e Estado.

De acordo com o art. 227 da Constituição Federal brasileira, de 1988:

(...) os pais são os responsáveis pela formação e proteção dos filhos, não só pela
detenção do pátrio poder, mas pelo dever de garantir-lhes os direitos fundamentais
assegurados pela constituição, tais como a vida, a saúde, a alimentação e a
educação.
(Brasil, 1988)

Mas, em algumas circunstâncias as crianças devem ser protegidas inclusive da


própria família. Com isso começa a ser desenhado um modelo que justifica e sugere a
intervenção sobre a família em nome da proteção para a criança.

De acordo com Gonçalves (1999), para os especialistas em violência doméstica –


psicólogos, médicos, assistentes sociais, advogados – intervir na família para proteger a
criança representa um dilema: qual é o limite entre a proteção dos direitos da criança e o
respeito à convivência familiar? Que nível de violência justifica a intervenção? Em que
circunstâncias afastar uma criança de seus pais biológicos pode representar um
benefício?

Koller e De Antoni (2004, apud ALMEIDA, SANTOS e ROSSI, 2006) apresentam


os fatores de risco relevantes para a avaliação de casos de violência intrafamiliar,
segundo os diferentes contextos ecológicos nos quais a pessoa está inserida. Destacam,
entre tantos, alguns fatores de risco: a história anterior tanto da vítima quanto do
abusador, bem como a ausência de recursos terapêuticos e de conhecimento do Estatuto
da Criança e do Adolescente; o sentimento de solidão e de insegurança no ambiente
familiar somado aos segredos de família, problemas como estresse por saúde e questões
financeiras, o desemprego e o empobrecimento; baixa auto-estima, comunicação

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ineficiente na família somada a práticas disciplinares punitivas com a naturalização e a
banalização da violência e a aceitação da punição corporal pela sociedade; e, ainda,
fatores relativos à cognição e à educação, tais como: quociente intelectual baixo
associado a baixo nível de escolaridade e capacidade verbal limitada, família com baixo
nível de escolaridade e professores sem capacitação e desconhecedores das políticas
públicas.

As formas agressivas de adultos contra crianças no interior da família são


observadas em um quadro de abusos que proporcionam as condições para a repetição de
condutas. Nesse quadro, os abusos podem ser classificados em violência doméstica e
violência intrafamiliar.

Ravazzola (1997, apud ALMEIDA, SANTOS e ROSSI, 2006) não faz diferença
entre as duas expressões; ambas significam a violência sofrida por um membro da família
que recebe reiterados maus tratos por parte de outro.

Na literatura norte-americana existe uma posição assumida de que o termo


violência doméstica deve ser usado para referir-se aos atos cometidos pelos homens
contra as mulheres. Também se inclui nesse rol, a violência cometida entre casais de
adultos ou de adolescentes, como ainda aquela que acontece entre pessoas que co-
habitam o mesmo espaço físico e de casais de namorados heterossexuais ou
homossexuais (KOLLER, DE ANTONI , 2004 apud ALMEIDA, SANTOS e ROSSI, 2006).

No Brasil, o termo violência doméstica é utilizado comumente para referir-se à


agressão física ocorrida em qualquer relação de parentesco. Como uma alteração
conceitual, propõe-se a utilização do termo violência intrafamiliar para descortinar o
rompimento do paradigma de que a violência possui um caráter privado e íntimo. Assim
sendo, a expressão violência intrafamiliar compreende todas as formas de violência
(abuso sexual, físico e emocional, abandono e negligência) e todas as configurações
familiares possíveis (entre pais e filhos, casal, irmãos e filhos para com pais) (KOLLER,
DE ANTONI , 2004 apud ALMEIDA, SANTOS e ROSSI, 2006).

Vista nesta perspectiva, a violência no contexto familiar passa a ser encarada


como um fenômeno de domínio público e não privado.

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Guerra (2001, apud ALMEIDA, SANTOS e ROSSI, 2006) esclarece que os pais
podem exercer vários tipos de violência contra os filhos com fins pretensamente
disciplinares ou com outros objetivos, sendo a violência caracterizada como: violência
física, violência sexual, violência psicológica e por negligência.

A violência física é de difícil conceituação, na atualidade, tendo em vista as


mudanças de enfoque que ocorreram nos últimos 30 anos e que levaram a definições que
envolvem desde os maus tratos com danos físicos (como fraturas, queimaduras, lesões
diversas, entre outras) até o ato não intencional. Ainda assim, esse tipo de violência
corresponde ao uso da força física no relacionamento com a criança ou com o
adolescente por parte de seus pais, em uma relação pautada no poder disciplinador do
adulto e na desigualdade adulto-criança.

A violência sexual é configurada como todo ato ou jogo sexual, relação hetero ou
homossexual entre adulto e criança, tendo por finalidade estimular sexualmente a criança
para que o adulto obtenha algum grau de satisfação sexual.

A violência por negligência é representada por uma omissão do adulto, no sentido


de falhas que não resultem da condição de vida. Também é considerada como a omissão
da família em prover a criança ou adolescente em suas necessidades físicas e
emocionais podendo ser consideradas faltas graves se incompatíveis com os recursos
socioeconômicos da família.

A violência psicológica é também chamada de tortura psicológica e pode ser


observada mediante depreciações à criança, atos que causem sofrimento mental,
bloqueio à auto-aceitação, ameaças e outros. Esse tipo de violência é evidenciado
quando da interferência negativa de um adulto sobre a criança e sua competência social.
Costuma estar associada a outros tipos de violência.

O Ministério da Saúde (2001) destaca outras formas: o ato de rejeitar, quando o


adulto não aceita a criança, não reconhece seu valor nem tampouco a legitimidade de
suas necessidades; o ato de solar, quando o adulto afasta a criança ou o adolescente de
experiências sociais próprias a sua idade; o ato de aterrorizar, quando o agressor instaura
clima de medo, com agressões verbais, atemorizando-a a ponto de fazê-la crer que o

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mundo é hostil; o ato de ignorar, quando o adulto não estimula o crescimento emocional e
intelectual da criança ou do adolescente.

Quando a família não garante a proteção necessária a seus membros, por motivos
os mais diversos, o Estado cria instituições com o intuito de re-orientar o curso de sua
sociedade. Surge, então, o Conselho Tutelar, criado pelo Conselho Nacional dos Direitos
da Criança e do Adolescente (CONANDA), a fim de regulamentar o artigo 227 da
Constituição Federal, como órgão permanente e autônomo, não jurisdicional, encarregado
pela sociedade de zelar pelo cumprimento dos direitos da criança e do adolescente.

O Conselho Tutelar tem como atribuições previstas em lei – Estatuto da Criança e


do Adolescente - ECA, atender às crianças e aos adolescentes; atender e aconselhar aos
pais ou responsáveis; determinar, dentre outras, as seguintes medidas: de orientação, de
apoio e acompanhamento; de inclusão em programa comunitário, à família, à criança e ao

adolescente (BRASIL, 1990).

Observa-se, de acordo com Koller e Amazarray (1998, apud ALMEIDA, SANTOS e


ROSSI, 2006), que os maus tratos contra crianças e adolescentes têm recebido maior
atenção nos dias de hoje, em contraposição ao que antes – década de 50 do século
passado – era tido como tabu. Assim, as autoras sugerem que a freqüência de abusos
permanece regularmente constante e o que pode ter mudado é a atenção dada
atualmente ao problema.

Analisam, ainda, que uma tomada maior de consciência por parte dos profissionais
acerca de abuso sexual contra crianças pode ter sua origem em dois aspectos: o primeiro
deles evidencia um crescente movimento em prol dos direitos da criança e o segundo
aponta maior conhecimento e preocupação com a saúde tanto mental como física das
mesmas.

Construção Histórica: a Violência Contra a Criança

O que é classificado como violência contra a criança nos dias atuais, têm lugar na
história desde os primórdios da humanidade. Livros como a Bíblia citam a matança de

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crianças ordenada pelo rei Herodes, na Grécia e Roma antigas era comum o infanticídio
(GONÇALVES, 1999).

Práticas desse teor são registradas tanto em documentos históricos quanto em


pesquisas contemporâneas, e os registros passam a ser repetidos por todo o mundo,
como demonstração cabal de que a violência contra a criança é fenômeno onipresente
com o qual se convive desde tempos imemoriais.

Mas é preciso cuidado ao tomar esses fatos como semelhantes, cada um deles se
refere a períodos e lugares distintos, a culturas diversas. Por exemplo, a cultura grega,
guerreira por natureza, valorizava o indivíduo forte, saudável e corajoso, portanto o
assassinato contra seus próprios filhos portadores de deficiências não falava do desejo
dos pais, mas antes de um desejo social fundado na ciência e na tradição que se
sobrepõe a vontade pessoal (GONÇALVES, 1999).

Pode-se afirmar que atos gratuitos aos olhos da moderna cultura ocidental
ganham sentido na inscrição cultural. Ao se compreender cada ato na cultura que o
sustenta e o produz, vê-se que o fenômeno da violência torna-se mais complexo e fica
demonstrada a ineficácia em tentar fazê-lo linear. Além disso, a mesma cultura que
sustenta a violência pode desencorajá-la ou puni-la , por exemplo, a tradição egípcia não
punia o infanticídio, mas os pais que matassem uma criança tinham por dever ninar seu
corpo morto durante 72 horas, pois se acreditava que com isso desencorajaria a repetição
do ato. Há o registro da punição com a morte de um pai que abusou da própria filha, já no
ano de 1305.

Nos dias de hoje, a violência persiste, apesar de sancionada moralmente e punida


legalmente.

Um artigo publicado por Kempe, Silverman e Eteele, em 1962, nos Estados Unidos
(apud, GONÇALVES, 1999), marcou o uso do modelo médico , enfatizando a patologia
dos pais abusivos. Tipificados como imaturos, sexualmente promíscuos, usuários de
drogas e psicopatas, os pais eram tomados como responsáveis isolados pelas lesões e
ferimentos identificados nas crianças.

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Pesquisadores da área social em geral, e da Sociologia em particular, trabalharam
sobre o tema da violência contra crianças colocando ênfase na questão do estresse, e
não de doenças psicopatológicas ou desvios de personalidade, esses estudos mostraram
que a má qualidade de vida (pobreza, desemprego) são fatores geradores de estresse, o
que não implica estabelecer associação mecânica entre pobreza e abuso, mas estabelece
o vinculo entre abuso e fatores sociais mais amplos (GONÇALVES, 1999).

Essas pesquisas mostraram que, embora o abuso estivesse presente em todas as


classes, era mais comum entre operários e famílias com menor grau de instrução, sujeitos
a condições de vida mais precárias e expostos a riscos mais agudos de estresse
(BELSKY, 1993, apud GONÇALVES, 1999).

A psicologia contribuiu para o estudo da violência contra a criança colocando


ênfase na dinâmica do relacionamento familiar, a família abusiva começa a ser estudada
do ponto de vista de sua dinâmica interna e externa.

O isolamento social da família é um importante fator causador de eventos


violentos. O distanciamento da vida comunitária, sujeita a família a condições de estresse
na medida e que torna escassa as atividades de lazer, bem como reduz a possibilidade
de auxílio e apoio em momentos difíceis do convívio familiar (BELSKY, 1993, apud
GONÇALVES, 1999).

O abuso é hoje amplamente reconhecido como produto de múltiplas


determinações, efeito de forças que atuam em conexão no indivíduo, na família, na
comunidade e na cultura. Segundo Brofenbrenner (BELSKY, 1993, apud GONÇALVES,
1999), o que determina se o abuso vai ocorrer é o balanço entre os fatores de estresse
(ou de risco) e suporte (ou protetivos). Esse modelo é conhecido como modelo ecológico.

A partir desta nova visão, alguns fatores foram reinterpretados. Já se sabia que
alguns traços de personalidade dos pais (depressão e ansiedade) precipitavam a
violência, e que algumas características das crianças (temperamento difícil, retardo
mental e hiperatividade) tornavam-nas vítimas preferenciais de abuso. No modelo
ecológico, esses fatores não podem ser tomados como determinantes do abuso, mas

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antes como fatores que precipitam a violência nas famílias expostas a outras condições
de risco (GONÇALVES, 1999).

Decorre daí que a intervenção que vise reduzir a ocorrência e os efeitos da


violência é sempre promissora visto que, não havendo uma causa única, não há uma
solução única. Atuando em qualquer das esferas é possível realizar modificações.

É importante ressaltar desse modelo, que a família está imersa na cultura e é a


cultura que estabelece as bases que permitem diferenciar o que é aceito como não
violento e o que é condenado como violento (GONÇALVES, 1999).

O abuso, antes concebido como produto da personalidade doentia dos pais, passa
a ser relacionado às condições gerais de vida da família, à dinâmica das relações intra e
extrafamiliares e às concepções globais da sociedade sobre a infância e práticas de
educação. A violência para a ser contextualizada.

Valores culturais têm influência importante sobre as formas e a incidência da


violência contra a criança. Em culturas onde a punição física é rara, o abuso de crianças é
também incomum. A tolerância social para altos níveis de violência pavimenta o terreno
para a violência familiar. Na prática é impossível chegar a uma definição universal de
abuso, se a violência ocorre no interior da cultura, só deve ser definida com base nos
seus parâmetros específicos, ou seja, um ato só se torna abusivo e só traz prejuízos para
a criança se a cultura específica lhe confere significação negativa (KORBIN, 1991 apud
GONÇALVES, 1999).

Embora seja reconhecido o peso dos determinantes culturais e sociais na


ocorrência do abuso, é certo que a violência doméstica tem lugar no interior da família.
São transcritas algumas definições adotadas na literatura nacional:

Maus-tratos físicos é o uso da força física de forma intencional, não acidental, ou os


atos de omissão intencionais, não acidentais, praticados por parte dos pais ou
responsáveis pela criança ou adolescente, com o objetivo de ferir, danificar ou destruir
essa criança ou adolescente, deixando ou não marcas evidentes (MONTEIRO FILHO e
PHEBO, 1997 apud GONÇALVES, 1999: 146).

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Os maus-tratos na infância são geralmente impostos pelos próprios pais ou
responsáveis, presentes indistintamente em todas as categorias sócio-econômicas,
não respeitando credo, raça ou cor (SANTOS, 1987, apud GONÇALVES, 1999: 146).

Apenas na segunda metade do século XX a violência foi qualificada como o mal do


século, e apontada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como um fenômeno
endêmico, responsável por significativo percentual dos gastos do sistema internacional de
saúde. despertou-se a atenção sobre as várias formas pelas quais se manifesta, entre
elas a violência que atinge crianças no interior dos lares. Embora denunciada por Tardieu
na França em 1860, foi apenas a partir dos anos 60 que a violência doméstica contra a
criança foi eleita como objeto de estudo da ciência.

Segundo Noel e Yam (1992, apud GONÇALVES, 1999):

“a visibilidade da violência doméstica na sociedade está relacionada às reformas que


fizeram as mulheres ultrapassarem a esfera doméstica, alcançando o espaço público.
O Movimento pelos Direitos das Mulheres no século dezenove e seu ressurgimento no
final dos anos 60 revelaram preocupações com relação à violência familiar, e
especificamente denunciaram o abuso de crianças e o espancamento de mulheres
como problemas relevantes” (p. 152).

ADOÇÃO
O HISTÓRICO DA FAMÍLIA
A adoção é um instituto jurídico que procura imitar a filiação natural. Ela pode ter
sua base na pluralidade de vontades, como no caso da adoção pelo sistema do Código
Civil, quanto pode ter sua base na sentença judicial que pressupõe o devido processo
legal, como no caso da adoção do Estatuto da Criança e do Adolescente.
Nosso sistema jurídico conhece dois tipos de adoção: a plena, prevista no ECA
para os menores de dezoito anos de idade, e a do CC/02 para os maiores de dezoito
anos. A primeira confere ao adotado a mesma posição da filiação biológica, pois insere o
adotado definitiva e exclusivamente na nova família.
A natureza jurídica da adoção mudou de finalidade que anteriormente era de
atender a interesses religiosos dos adotantes, e passou a ser de atender aos interesses

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do adotado, objetivando dar-lhe um lar, uma família. Por outro lado, vale lembrar que a
adoção só será deferida quando apresentar reais vantagens para o adotando e fundar-se
em motivos legítimos. (art.43, ECA)
O processo de adoção no Brasil tem relação em primeira instancia com o
abandono de crianças devido às desigualdades sociais. FONSECA (1995, p.15-16) afirma
que: “Vivemos numa sociedade de classes onde as desigualdades sociais econômicas e
políticas ultrapassam os limites da imaginação. Essas desigualdades são responsáveis
pela situação de ‘apartação’ reinante, em que, muitas vezes, ‘rico’ e ‘pobre’ só se
encontram em situação de faxina ou assalto. De um lado, condomínios de luxo, rodeados
de grades de ferro, de outro, favelas que se estendem até os quatro horizontes, levando à
justaposição, na mesma sociedade. De modos de vida radicalmente diferentes um do
outro. É responsabilidade de todo cidadão zelar pela erradicação desta desigualdade,
resultado de estruturas políticas e econômicas perversas.”
A família natural é construída por laços de consangüinidade e a substituta vem em
segundo plano substituindo a primeira. A família substituta, por sua vez, não é inferior à
natural, mas se o menor puder ser criado e educado por parentes de sangue, a lei acatará
e não será favorável à inserção da criança na família substituta.
Então, depois de toda formalidade no momento da adoção que consiste num
compromisso prestado nos próprios autos e que se materializa por meio de assinatura de
termo pelo qual o juiz mediante ‘termo nos autos’ dará deferimento para que o
responsável tenha a guarda da criança. Entretanto, quando o cidadão adota um menor,
ele também tem as pretensões referentes ao filho adotado.
Como afirma FONSECA (1995) “Certamente as pessoas esperam que os filhos
adotivos lhes dêem a mesma satisfação que seus próprios rebentos pela vida afora –
talvez até mais, pois se acredita que as crianças adotadas ‘devam mais’ a essas pessoas
que cuidam delas por caridade e não por obrigação. Não há dúvida de que esperam que
essas crianças lhes sirvam de amparo na velhice – uma responsabilidade filial
extremamente importante em um país que não lhes oferece nem aposentadoria eficaz
nem seguro para idosos.”
O COMPROMISSO DA FAMÍLIA SUBSTITUTA

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A adoção é uma das modalidades de colocação em família substituta que
desponta no ordenamento jurídico como a mais importante quer pela sua natureza, quer
finalmente pelos seus inevitáveis efeitos jurídicos e fáticos.
A colocação do menor em família substituta será feita mediante guarda, tutela ou
adoção. Segundo o art.32 do Código Civil, ao assumir a guarda ou a tutela, o responsável
prestará compromisso de bem e fielmente desempenhar o encargo mediante termo nos
autos. Deve-se lembrar que a adoção é uma modalidade de colocação em família
substituta extremamente distinta da guarda e da tutela, pois aquela é detentora de um
perfil legal próprio que, por essa razão, faz situa-la em grau de importância das demais.
O adotante, uma vez deferida à adoção, passará a figurar como verdadeiro pai ou
mãe do adotado, recebendo, por conta do ordenamento jurídico, a missão de criá-lo e
educá-lo adequadamente, além de ministrar-lhe toda a assistência moral e material
exigida pelo Estatuto.
A GUARDA E A TUTELA NO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
A Guarda é um instituto destinado à proteção dos menores de vinte e um anos de
idade, sendo ela um dos componentes do pátrio poder, podendo, em casos excepcionais,
ela ser dissociada e entregue a terceiro ou a apenas um dos pais o direito de ter consigo
o filho menor e, conseqüentemente, o encargo de prestar-lhe assistência material, moral e
educacional. Segundo Guimarães (2000, p.16): “se, em um determinado caso concreto
levado à apreciação judicial, em que se discute a guarda de uma criança ou adolescente,
as questões levantadas forem relativas ao exercício do pátrio poder sem, contudo,
significarem violação aos direitos contidos no Estatuto da Criança e do Adolescente, o
caso deve ser tratado pelo juízo de família.” É como afirma o ECA no art. 39: “A adoção
de criança e de adolescente reger-se-á segundo o disposto nesta Lei”.
No entanto, as questões levadas ao conhecimento do judiciário se traduzam em
violação ou ameaça aos referidos direitos, o caso deverá ser examinado pelo Juízo da
infância e da juventude. Como diz Guimarães, “o fato de haver disputa entre os pais pela
Guarda do filho, que determinará a competência do Juízo da Família para tratar do caso;
contudo, se houver discussão de questões que importem violação dos referidos direitos
fundamentais, a competência será da justiça da Infância e da Juventude.”

Karina de O. Lima
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A tutela para RODRIGUES apud GUIMARAES (2000) “é o conjunto de poderes e
encargos conferidos pela lei a um terceiro, para que zele pela pessoa de um menor que
se encontra fora do pátrio poder, e lhe administre os bens, tratando-se de um instituto de
nítido caráter assistencial, com o objetivo de substituir o pátrio poder”.

8. Adolescência e criminalidade: ato infracional e medidas socioeducativas; tráfico


de drogas e projetos de intervenção; adolescência e rede de saúde.
Adolescente em Conflito com a Lei
O reconhecimento pela sociedade moderna de que crianças são detentores de
direitos inalienáveis, inerentes à pessoa humana é conseqüência do amadurecimento
qualitativo da humanidade e fruto de um processo de lutas que a história registra desde
seus primórdios (XAUD, 1999).
A incorporação desta visão na dimensão legal provocou mudanças significativas,
deslocando o eixo do pensar e do fazer de duas outras dimensões: a institucional e a
pessoal. A dimensão institucional exigiu inicialmente a reestruturação do sistema de
administração da Justiça para a infância e juventude, criando órgãos próprios e
especializados: Delegacias, Promotorias, Juizados, Centros Sócio-Educativos. Cada um
desses órgãos precisou adequar sua estrutura e funcionamento para promover a
cidadania destes novos sujeitos (XAUD, 1999). Esta organização incorporou nos Juizados
da Infância e Juventude um funcionamento interdisciplinar, buscando uma abordagem
mais dinâmica e integrada do jovem em conflito com a lei.
Na dimensão institucional exige-se um novo processo de atendimento, com parte
necessária desta estrutura que divide o que é demanda social do que é demanda judicial.
As demandas sociais devem ser encaminhadas aos Conselhos Tutelares, a quem
compete garantir o cumprimento dos direitos assegurados no Estatuto da Criança e do
Adolescente (ECA), especialmente aqueles cuja cobertura é universal, implementando as
medidas protetivas previstas.
Os Conselhos Tutelares focalizam sua intervenção também nas crianças que com
seus atos infringem a lei, uma vez que crianças que cometem ato infracional, além de

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inimputáveis, não serão responsabilizadas por esses atos, sendo clientela desses
Conselhos (XAUD, 1999).
No Sistema de Justiça ingressam as demandas de adolescentes em conflito com a
lei, que obedecendo ao devido processo legal serão responsabilizados por sua conduta e
inseridos no sistema sócio-educativo.
Na dimensão pessoal, este ordenamento jurídico exigiu novos paradigmas para o
pensar e o agir individual dos profissionais que atuam na área infanto-juvenil. É nesta
dimensão em que a intervenção psicológica tem maiores possibilidades de atuar.
Segundo Xaud (1999), a intervenção psicológica, como parte da equipe
interdisciplinar, tem um importante papel a desempenhar na promoção de uma nova
cultura de atendimento.
Medidas Socioeducativas
As medidas sócio-educativas são uma espécie de proteção voltadas para as
situações onde se verifica um comportamento do adolescente (a partir dos doze anos de
idade) subsumível em uma tipologia de crime ou contravenção, nos termos do artigo 103
do ECA (MEZZOMO, S/D).
Para MEZZOMO (S/D), crime ou contravenção, neste contexto, compreende todas as
figuras típicas delituosas.
O mesmo autor enfatiza que as medidas sócio-educativas não são tratadas como
“penas” ou punição, não estando, assim, embasada a sua aplicação na noção de
culpabilidade.
Seguindo o mesmo raciocínio, o autor complementa “Quais as implicações deste
fato? Inicialmente, é de se apontar que não estando em pauta o interesse da parte
lesada, mas sim a proteção do infrator, não se há falar no âmbito dos atos infracionais
de aplicação do instituto da representação criminal. Uma vez que a autoridade tome
ciência de pratica de ato infracional, deverá agir de ofício, independentemente de outra
condição. Da mesma forma, se o lesado efetuar comunicação de ocorrência, não
obstante na lei penal esteja prevista a necessidade de representação (ação penal
pública condicionada a representação) será irrelevante posterior retratação, pois não há
representação no registro da ocorrência (...)Se não há ação privada ou representação

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nos casos de atos infracionais, não se há de cogitar de decadência do direito de ação,
figura prevista no artigo 103 do CP (...) Também não há prescrição conforme os prazos
aventados no artigo 109 do CP, e nos termos do artigo 107, inc. IV, do mesmo Estatuto
Repressivo. Não se pode invocar prescrição da pretensão punitiva se não está em voga
punição” (MEZZOMO, S/D).
Da mesma forma em que não se compreende a culpabilidade penal, as medidas
sócio-educativas também não podem ser deixadas de ser aplicadas mediante pedido de
afastamento da mesma possibilidade por motivos de insanidade mental.
Assim, quando ocorrer do adolescente infrator ser portador de alguma enfermidade
psíquica, entende-se que o mesmo, assim como aquele adolescente infrator que não
possui tal síndrome, necessita de proteção que se realizará pela aplicação de medica
sócio-educativa (MEZZOMO, S/D).
O ECA, em seu artigo 112, tem elencadas as medidas sócio-educativas, são elas:

- Advertência:
Sobre a advertência MEZZOMO (S/D) diz que é uma medida comum que deve
ser relegada aos casos de menor gravidade (entendem-se aqui aqueles casos
cometidos sem violência contra a pessoa ou grave ameaça, e envolvendo
adolescente sem antecedentes). “A advertência é uma admoestação que faz o
adolescente ver o equívoco do seu ato e as conseqüências negativas que poderão
advir da reiteração de práticas semelhantes. Para infratores renitentes ou violentos, é
uma medida normalmente inócua”.
- Obrigação de reparar o dano:
“A hipótese de reparação como medida sócio-educativa deve ser aplicada,
preferencialmente, quando possa o infrator, por seu trabalho, efetuá-la, sob pena de
recair, na prática, sobre os responsáveis pelo adolescente” (MEZZOMO, S/D).
- Prestação de serviços à comunidade:
É uma das medidas mais eficazes, sendo que, o período e a quantidade de horas
semanais, devem levar em conta a condição do infrator e a gravidade da infração.

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Segundo MAZZOMO, o período máximo para a realização da prestação de
serviços à comunidade é de seis meses, em regime de oito horas semanais, sendo
que o cumprimento da medida não pode causar prejuízo a outros direitos do infrator,
como a educação.
- Liberdade assistida:
A liberdade assistida é a medida mais apropriada quando o infrator não se revela
perigoso, necessitando de uma internação, mas, ao mesmo tempo uma medida mais
branda não surtiria efeito. Assim, como cita MAZZOMO “trata-se de uma medida que
pode ter excelentes resultados nestes casos intermediários”.
O período mínimo de aplicação da liberdade assistida é de seis meses e sua
execução se faz por meio de um orientador escolhido (profissionais ou agentes de
serviços estatais de assistência social ou conselheiros tutelares). Este orientador tem
por atribuição legal, segundo o artigo 119 do ECA:
I - promover socialmente o adolescente e sua família, fornecendo-lhes orientação e
inserindo-os, se necessário, em programa oficial ou comunitário de auxílio e
assistência social;
II - supervisionar a freqüência e o aproveitamento escolar do adolescente,
promovendo, inclusive, sua matrícula;
III - diligenciar no sentido da profissionalização do adolescente e de sua inserção no
mercado de trabalho;
IV - apresentar relatório do caso.
- Inserção em regime de semi-liberdade:
“A semiliberdade pode ser aplicada como regime de transição posteriormente a
uma internação ou como medida autônoma. São obrigatórias a escolarização e
profissionalização do infrator (...) Na verdade, a aplicação desta medida é difícil. Não
há locais adequados para sua execução que acaba sendo procedida em
estabelecimentos destinados à internação. O reduzido número destes, de seu turno,
torna prioritárias a execução das medidas de internação” (MAZZOMO, S/D) .
- Internação em estabelecimento educacional:

Karina de O. Lima
Psicóloga CRP: 84326/06 131
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“A internação é uma medida cuja aplicação se orienta pela excepcionalidade e
brevidade, conforme preconiza o artigo 227, inc. V, da CF/88, o que é repetido pelo
artigo 121 do ECA. Esta medida é reservada para os casos mais graves, não basta o
comprometimento de infrações reiteradamente. É preciso que sejam infrações graves
(homicídio, extorsão mediante seqüestro, roubo, latrocínio, etc..)” (MAZZOMO, S/D).
A medida de internação comporta hipóteses legais de aplicação, quais sejam as
previstas no artigo 122:
Art. 122- A medida de internação só poderá ser aplicada quando:
I - tratar-se de ato infracional cometido mediante grave ameaça ou
violência a pessoa;
II - por reiteração no cometimento de outras infrações graves;
III - por descumprimento reiterado e injustificável da medida
anteriormente imposta.
- Qualquer uma (medidas) das previstas no Art. 101, de I a VI:
As medidas citadas no Artigo 101 (de I a VI) são:
I - encaminhamento aos pais ou responsável, mediante termo de responsabilidade:
II - orientação, apoio e acompanhamento temporários:
III - matrícula e freqüência obrigatórias em estabelecimento oficial de ensino
fundamental:
IV - inclusão em programa comunitário ou oficial de auxílio à família, à criança e ao
adolescente:
V - requisição de tratamento médico, psicológico ou psiquiátrico, em regime hospitalar
ou ambulatorial:
VI - inclusão em programa oficial ou comunitário de auxílio, orientação e tratamento a
alcoólatras e toxicômanos:
Segundo MAZZOMO (S/D), “a aplicação de medidas, sejam as especificas do
artigo 112 (próprias), ou as do artigo 101 (impróprias) podem ser feita de forma
cumulativa e combinada, não havendo um número máximo de medidas a serem
aplicadas para cada caso”.

Karina de O. Lima
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O mesmo autor ainda ressalta que a aplicação das medidas sócio-educativas
não está condicionada a maioridade penal, ou seja, a aplicação da medida pode se
estender até os vinte e um anos de idade e pode ter inicio após os dezoito anos de
idade do infrator, apesar do ato infracional passível de aplicação de medida sócio-
educativa somente existir se cometido por pessoa entre os 12 e os 18 anos de idade
(a partir dos dezoito anos, há crime ou contravenção, sujeita à disciplina penal). Isto
ocorre devido ao fato do estatuto não ter sua aplicação condicionada pela
maioridade, mas sim aos vinte e um anos de idade, conforme consta do parágrafo
único do artigo 2º da Lei nº 8.069/90.
Já em caso de ato infracional cometido por criança, sendo o ato subsumível a um
tipo de crime ou contravenção, são aplicáveis somente as medidas do artigo 101, e
não há procedimento para aplicação de medida sócio-educativa, mas sim de medida
de proteção stricto sensu, conforme afirma MAZZOMO (S/D).
Quando o ato infracional cometido pelo adolescente não é grave e não gerou
repercussão social e os pais do mesmo se apresentam, seja por vontade própria ou
porque informados pela autoridade policial, esta (autoridade) deve proceder à entrega
do menor aos pais ou responsáveis mediante compromisso de sua apresentação ao
agente do Ministério Público. Sendo que esta apresentação deverá ser realizada
imediatamente, se possível, ou no dia seguinte, se impossível. No entanto, quando os
pais ou responsável pelo adolescente não se apresentam ou a infração é grave e
gerou repercussão social. O adolescente deve ser encaminhado à entidade de abrigo
ou à internação provisória (MAZZOMO).
Para que haja internação provisória, segundo o Artigo 108 parágrafo único do
ECA, deve haver indícios suficientes de autoria e materialidade, ou, por outras
palavras, deve haver indícios da existência da infração e de sua autoria. É, ainda,
necessário que se demonstre a necessidade imperiosa da medida. A medida caduca
em 45 dias (artigo 108, caput, do ECA). Mas este é um prazo máximo, que pode ser
reduzido diante das peculiaridades do caso.
“A aplicação de medidas sócio-educativas pressupõe aferição da existência de
um ato tipificado como crime ou contravenção e a individualização do seu autor.

Karina de O. Lima
Psicóloga CRP: 84326/06 133
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Desta forma, se desde logo se afigura a conduta atípica ou se uma excludente que
torne desnecessária a proteção do infrator (como já referido, a excludente por si só
não implica afastamento da possibilidade de aplicação de medida sócio-educativa),
não há sentido algum em prosseguir-se com o feito, de modo que deve ser requerido
o arquivamento em pedido fundamentado (...) Não sendo o caso de arquivamento,
havendo admissão da autoria da infração, e atentando-se às conseqüências e
circunstâncias do fato, ao contexto social, à personalidade do agente e a sua
participação no fato, poderá ser concedida remissão” (MAZZOMO, S/D).
Mazzomo descreve remissão como sendo: “A remissão é um instituto que obsta a
propositura ou o prosseguimento de processo judicial de aplicação de medida sócio-
educativa, ou que implica em sua extinção. Pode ser concedida com aplicação conjunta
de qualquer das medidas dos artigos 101 ou 112, exceto semi-liberdade e internação”
Por fim, cabe ressaltar que a aplicação de medidas sócio-educativas se trata de um
ato composto, pois o órgão do Ministério Público concede a remissão, ajustando com o
adolescente a medida sócio-educativa eventualmente aplicável, submetendo a
promoção de remissão ao juiz que a homologará para que surta os efeitos jurídicos
próprios, inclusive para que seja formado do PEM (processo de execução de medida),
se for o caso (MAZZOMO, S/D).
Delinqüência e Criminalidade

A instabilidade, imprevisibilidade e incerteza do mundo atual colocam a


problemática da Delinqüência Juvenil no centro de debates das sociedades modernas.

A sua centralidade é indissociável da sensação de vulnerabilidade das sociedades


a um conjunto de ameaças e riscos que agudizam o sentimento de insegurança dos
cidadãos. É usual e cada vez mais unânime, o discurso que confirma o fato de haver um
crescente número de transgressões cometidas por jovens, classificadas como
Delinqüência Juvenil e que constituem um problema social grave com tendência a
aumentar drasticamente de freqüência e intensidade (STEINBERG, 2000 apud
LARANJEIRA, 2007).

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Convém afirmar que a chamada "delinqüência juvenil", a prática de crimes ou
contravenções penais por indivíduos menores que 18 anos de idade, é atualmente
classificada pela legislação brasileira como ato infracional (Brasil, 1990).

Segundo Laranjeira (2007) a delinqüência juvenil tem sido considerada como um


transtorno psicossocial, do desenvolvimento, que deve ser entendido pela sua
complexidade, já que a sua manifestação ocorre a partir de variáveis biológicas,
comportamentais e cognitivas do indivíduo; e contextuais, como características familiares,
sociais e experiências de vida negativas. A delinqüência juvenil, associada a complexas
conseqüências sociais, tem merecido aprofundados estudos e investigações que se
estendem pelos diversos domínios das ciências sociais e humanas como a psicologia, a
sociologia e o direito.

A compreensão dos conceitos de vulnerabilidade e de fatores de risco é


fundamental para a determinação das inúmeras variáveis presentes na etiologia deste
comportamento. Surgem, em primeiro plano, dúvidas acerca da veracidade destas
informações, tantas vezes especuladas pela mídia e dotadas de pouco rigor científico.

Na estreita ligação que existe entre o estrato da realidade que constitui o aparelho
conceptual da Delinquência Juvenil, estamos na presença de um fenômeno dialético que
deve ser compreendido numa óptica psicossocial e interdisciplinar dado que a sua análise
liga-se a questões da patologia mental e social (KERNBERG, 1995 apud LARANJEIRA,
2007).

A Delinquência Juvenil surge numa dupla polaridade que abrange duas realidades
que se unem: a primeira interrelaciona-se com o âmbito da Psicopatologia do
Desenvolvimento, ou seja, a vida psicológica onde o foco de atenção é o indivíduo
autônomo da realidade envolvente; a segunda refere-se ao Outro, isto é, ao grupo social,
entendendo este como uma realidade independente dos sujeitos que o formam e que
estabelecem normas (STEINBERG, 2000 apud LARANJEIRA, 2007).

Psicanálise: a Adolescência e sua Relação com a Violência

Karina de O. Lima
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“Assim, a violência traz a marca de uma subjetividade arrebentada, esmagada,
frustrada. O ator que não pode existir enquanto tal é a voz do sujeito não-reconhecido,
prisioneiro da massa. Nessa perspectiva, ‘‘a violência é suscetível de emergir na
interação ou no choque das subjetividades negadas ou destruídas’’

(WIEVIORKA, 1997 apud GUARESCHI et al., 2006)

É muito freqüente que a violência esteja relacionada com a adolescência. É certo


que a adolescência é violenta, mas a violência não é exclusivamente adolescente
(MARTY, 2006).

É importante distinguir a violência “comum”, que pertence propriamente ao


processo da adolescência e a violência “de expressão patológica” que não concerne à
maioria dos adolescentes. Trata-se também de distinguir a violência atuada da violência
sofrida, a violência auto-agressiva e a violência hetero-agressiva, aquela que se exerce
no ambiente (parental, educativo, social) do adolescente (MARTY, 2006).

Segundo Marty (2006) a violência é o exercício da força sem levar em


consideração alguém ou alguma coisa. Esta definição dá de imediato a idéia de submeter
alguém, mas também a de abrir um caminho para si mesmo. Este autor traz como
contribuição a psicanálise da adolescência e sua relação com os fenômenos da violência.

O processo da adolescência é antes de tudo o acontecimento pubertário; é um


arrombamento que ameaça o eu, submetendo o adolescente a um bombardeio psíquico
que se revela traumático, como, durante a guerra, o bombardeio pode ser para o soldado
traumatizado. Esse bombardeio pubertário é uma violência contra a criança que agora é
púbere, e desencadeia nela uma reação neurótica de um tipo semelhante à neurose de
guerra que o soldado pode conhecer. Para o adolescente, trata-se de uma neurose
traumática na qual a violência é compreendida como sendo a da genitalização do
psiquismo e do corpo, que abala o corpo da criança. O processo da adolescência terá por
função em seguida elaborar esse traumatismo, neurotizando-o (MARTY, 2006).

Este acontecimento pubertário ameaça o eu de um perigo vivido como advindo


tanto de fora como de dentro. A ameaça exterior - ou vivida desse modo - é a do corpo

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púbere vivido como “exterior”, eventualmente persecutório. Um corpo vivido num
sentimento de estranheza como objeto externo e não como um eu-corpo unificado. Não-
representado, não-integrado num sentimento de continuidade da existência, esse corpo
ameaça a unidade narcísica do sujeito pelas excitações que a puberdade traz, e ante as
quais o sujeito se sente desarmado, transbordado, relegando a um “não-lugar psíquico”
essa fonte de excitações não mentalizadas (MARTY, 2006).

A ameaça interior se origina na libido pubertária que potencialmente põe em perigo


o equilíbrio narcísico-objetal, correndo o risco de uma realização das fantasias edipianas
pubertárias. A revivescência do roteiro edipiano infantil relido e reescrito à luz da
genitalização potencializa os riscos de passagem ao ato, os riscos do recurso ao agir que
encontram sua origem na potência, talvez mesmo na violência dos remanejamentos
pubertários (MARTY, 2006).

A ação violenta sobrevém, portanto, na adolescência, em reação à ameaça gerada


pelo arrombamento pubertário, uma vez que o processo da adolescência não pode
neurotizar o afluxo de excitações pubertárias.

De acordo com Marty (2006), uma vez que atua por reações violentas, o que falta
ao adolescente é a possibilidade de pôr em ação o trabalho da ligação, esse trabalho
psíquico que tece permanentemente o fio do sentimento de continuidade da existência, a
partir dos primeiros tempos da infância - em que é possível observá-lo como que
balbuciando nas alternâncias de presença/ausência e na interiorização, na simbolização
da presença e da ausência (em especial do objeto materno) - até essa ocasião do
acontecimento pubertário, que fundamentalmente funciona num registro de
descontinuidade e também, no entanto, de continuidade (mas não de permanência).

Na adolescência, uma vez que o trabalho de ligação está faltando, está em


sofrimento, e se a atividade representativa em ação nas fantasias pubertárias não está
contida e as experiências pubertárias permanecem sem interpretação, o processo da
adolescência enguiça quanto à sua função de elaboração da “violência” pubertária.
Porquanto o pubertário é violento: é violento de uma violência que lhe é inerente
como a própria violência é inerente a toda vida, a tudo aquilo que é vida e está vivo. O

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pubertário é violento por aquilo que traz de novidade, a princípio insana e ameaçadora, às
vezes capaz de provocar tamanho desequilíbrio, uma ruptura tão grande na estabilidade
da organização da vida psíquica, que o sujeito luta por sua sobrevivência e reage a isso
com violência (MARTY, 2006).

A violência atuada não é fruto de um conflito, é uma reação instintiva de


sobrevivência. Quando o conflito se trava no encontro de forças antagônicas, a violência é
expressão de uma resposta ante uma ameaça vital, resposta que visa proteger a
integridade narcísica de um sujeito que está se sentindo ameaçado, desamparado
(MARTY, 2006).

Marty (2006) afirma que o recurso à ação é ao mesmo tempo uma defesa contra a
angústia e uma via potencial de elaboração do pensamento por meio do mecanismo de
colocar para fora de si os objetos destrutivos. Por um lado, uma vez que o ato parece
tomar o lugar da palavra, o recurso à ação traduziria uma impossibilidade de pensar, de
simbolizar - o agir percebido então como operando uma espécie de abertura no aparelho
psíquico que não permitiria nenhuma elaboração.

Entretanto, o estudo da psicopatologia da adolescência permite situar melhor o


agir como tentativa de simbolização (ROUSSILLON, 2000 apud MARTY, 2006) que, para
se efetuar, deveria passar por sua realização, e não pelo recalcamento. O outro, objeto da
projeção, torna-se então também objeto involuntário de apoio de uma subjetividade que
não se interioriza ou que ainda não se interioriza. Por outro lado, o adolescente pode ser
compreendido como alguém que busca o prazer essencialmente narcísico para poupar o
aparelho psíquico das exigências do trabalho de ligação e de representação, porque os
efeitos de traumatismos primários continuariam a fazer-se sentir no atual (MARTY, 2006).

Isso leva a considerar o recurso ao agir destruidor do objeto como uma defesa
contra esses efeitos do traumatismo - agir para lutar contra a ameaça de
desmoronamento - ao mesmo tempo permitindo que o sujeito prossiga numa vida de
relação, sob determinadas condições. A violência na adolescência traduz, portanto, um
desamparo e uma dificuldade no processo de subjetivação; uma dificuldade cuja

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passagem pelo ato constituiria uma tentativa de solução, uma busca de tranqüilização
(MARTY, 2006).

No que concerne a adolescência, a falta de apoio parental pode ter diversas


conseqüências.

Em determinados casos, o desamparo adolescente - o estado de desamparo no


qual um adolescente pode se encontrar no momento de enfrentar a violência do
arrombamento pubertário - lembra aquele experienciado na infância, especialmente em
circunstâncias de privação. O adolescente que entra em puberdade se vê outra vez
defrontado com a ausência da mãe que, se ele não conseguiu interiorizar sua função, lhe
fará então muita falta. Esse desamparo adolescente ressurgido da infância pode impeli-lo
a comportamentos violentos para encontrar a reparação para aquilo que considera uma
injustiça, talvez mesmo um preconceito que ele sofreria. Ele procura conseguir, por todos
os meios, aquilo que não recebeu de sua mãe e a que acredita ter direito (MARTY, 2006).

Em outros casos, uma vez que os acontecimentos traumáticos vividos na infância


entram em ressonância com o arrombamento pubertário, o adolescente é precipitado em
atuações violentas. Nesses casos o pubertário repete o traumatismo infantil e a
adolescência não constitui um tempo de elaboração desse trauma que vamos chamar de
‘traumatismo por sedução’. As carências do início da vida no nível dos processos de
simbolização não permitem conter essas excitações e dão lugar a agonias primitivas, a
um desamparo inominável, impensável, com reações de invasão ligadas à falta do
ambiente materno (WINNICOTT, 1974 apud MARTY, 2006). Neste caso, trata-se de
traumatismo por carência. É a acumulação desses dois tipos de traumas (trauma
cumulativo) que pode levar o adolescente a recorrer ao ato, considerado como modo de
tratamento do traumatismo e da angústia que a ele está ligada.

Goudal et al. (1998 apud MARTY, 2006) revela que em homicídios cometidos por
meninas adolescentes, o desamparo e o ato violento que o acompanha vêm revelar os
vestígios que as violências sofridas durante a infância tinham deixado nelas. Outras
vezes, o desamparo adolescente é o de adolescentes inibidos, antes passivos, que vivem
no temor exatamente de um apassivamento que produziria confusão demais no plano da

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distinção entre realidade e fantasia, entre o eu e o outro e que, num dado momento, num
contexto de fechamento narcísico, tornaria necessário um ato que viesse cortar,
diferenciar, conclamar o outro a existir. Daí a importância da resposta do ambiente,
porquanto são adolescentes que correm o risco de ficar ainda mais desamparados se o
ambiente não responder da maneira adequada a essa busca de encontro e/ou de
confrontação com adultos que os contenham.

Ter podido experienciar a cólera parental, a função de limite e de pára-excitações


que ela pode representar, oferece à criança (e ao adolescente) a melhor oportunidade de,
por sua vez, poder conter sua própria violência. O que é chocante em determinados casos
é o desamparo dos pais ante a violência de seu adolescente, é sua incapacidade de
resistir à destrutividade e à ameaça que aquela violência faz pesar sobre eles. Estão
despreparados, como se esse tipo de situação lhes fosse desconhecida até então, como
se não tivessem a mínima idéia da conduta que devam adotar, como se não tivessem
nenhuma experiência no assunto, como se não tivessem experiência íntima disso, como
se ainda estivessem numa espécie de experiência inacabada de sua própria adolescência
(MARTY, 2006).

Esses pais podem estar tanto mais despreparados quanto estejam eles próprios
abandonados pelo corpo social, maltratados e marginalizados, sem outras referências
senão o desespero que os anima a encarnar, para seus próprios filhos, o símbolo de um
fracasso da integração. Quando são atacados por seus adolescentes, se sentem
ameaçados e impotentes, os pais induzem o sentimento de que esses ataques são
irreparáveis, o que intensifica sensivelmente a culpabilidade inconsciente dos
adolescentes e os impele a atuar (MARTY, 2006).

Observa-se esse fenômeno em pais que foram espancados - por exemplo - que
não conseguem conter a destrutividade de seus filhos e que, por seu desmoronamento,
estimulam isso. Aquilo que parece um comportamento masoquista nos pais de fato
mascara a impossibilidade que esses adultos têm para identificar-se numa função
parental. A violência do adolescente exprime nesse caso a violência que os pais não
puderam manifestar em relação aos seus próprios pais. Visa os avós, como se a

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operação simbólica do assassinato do pai não tivesse tido lugar na geração precedente,
como se a violência pubertária dos pais não tivesse podido expressar-se nem ser
elaborada. Atuando, tornando-a manifesta, a violência do adolescente comemora a
violência que os pais não conseguiram viver em relação aos seus próprios pais. Dá
testemunho também do desespero vivido por esses pais que perderam, eles próprios, as
referências de sua cultura (MARTY, 2006).

Marty (2006) afirma, portanto, que o desamparo adolescente faz pensar no estado
de desamparo parental, aquele que quase sempre os próprios pais vivem, em especial
quando são confrontados com a violência atuada de seu adolescente. Essa coincidência
das incapacidades dos pais e dos adolescentes quanto a se ajudar a si mesmos e a
ajudar o outro cria um efeito de reforço. Do mesmo modo como o desamparo adolescente
e o desamparo parental agem um sobre o outro, a violência do arrombamento pubertário
propriamente dito e a violência do “contexto” adolescente, aquela que diz respeito aos
circunstantes, ao ambiente do adolescente, com freqüência agem uma sobre a outra.
Estas violências, não elaboradas, reforçam-se de modo mútuo, correndo o risco de
aumentar seus respectivos efeitos destrutivos.

As Drogas
Até este ponto, foi afirmado que determinadas práticas cotidianas são
consideradas fatores estressantes que podem levar ao ato de violência, por exemplo, a
ausência de diálogo, a noção de justiça e a falta de controle. Esta última aparece
associada, principalmente, a situações que os jovens consideram injustas e ao uso de
drogas (maconha e bebidas alcoólicas).
A respeito disso, há a preocupação com o uso de drogas dentro da família, em
função de suas conseqüências como o afastamento nas relações familiares, ou prejuízos
no trabalho. O fato de as drogas estarem socialmente associadas à idéia de fuga da
realidade ajuda a compor um quadro de uma ‘‘essencialidade artificial’’ percebida como
própria desses indivíduos; e não o de estarem se construindo em práticas discursivas
pelos significados dos discursos das conseqüências da droga ou das características de
quem faz uso dela, que os demarcam e os inscrevem numa territorialidade exclusiva,

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como própria deles, e excludente, porque os exclui da normalidade (GUARESCHI et al.,
2006).
Estabelece-se, assim, uma relação entre a violência e a impossibilidade de
controle em situações de abuso de drogas.
Segundo Kessler et al. (2003) o consumo de tabaco por adolescentes
escolarizados dobrou nos últimos quinze anos. O uso de maconha quadruplicou e o uso
de cocaína multiplicou-se por dez. Além da alta prevalência, a gravidade dos problemas
associados a esse consumo é preocupante.
A gravidade desses números fica potencializada pelo alto índice de comorbidade
psiquiátrica relacionado ao uso de drogas nessa faixa etária.
As conseqüências na vida dos adolescentes decorrentes do uso de drogas são
inúmeras e muito graves. O suicídio na adolescência, por exemplo, apresenta uma forte
relação com o uso de substâncias psicoativas (KESSLER et al., 2003).
A ingestão de drogas dá ao usuário a ilusão de superação de conflitos e da
depressão. Terminado o efeito, os conflitos e a depressão voltam a se manifestar,
renovando o anseio de utilizar drogas. Estabelece-se, então, um ciclo que desvaloriza o
ego e corrói a auto-estima. O usuário de drogas tem grande dificuldade de pensar; ele
substitui a reflexão pela ação, que surge como uma fuga de sua imagem desvalorizada.
Fatores de Risco
Sussman e col. (apud KESSLER et al., 2003) evidenciaram, como fatores de
risco, ser do sexo masculino, fumar, ter inabilidade de lidar com a raiva e apresentar
depressão. Outro achado desse estudo foi que o adolescente que não mora com um dos
pais tem mais risco de usar drogas. Kessler et al. (2003) relata também os seguintes
fatores de risco:
1) cultural e social: permissividade social, disponibilidade de droga, extrema privação
econômica e morar em favela;
2) interpessoal: a) na infância – família com conduta álcool e droga relacionadas, pobre e
inconsistente manejo familiar, personalidade dos pais e abuso físico b) na adolescência –
conflitos familiares e ou sexual, eventos estressantes (como mudança de casa e escola),

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rejeição dos seus pares na escola ou outros contextos, associação com amigos usuários.
3) Psicocomportamental: problemas de conduta precoces e persistentes, fracasso
escolar, vínculo frágil com a escola, comprometimento ocupacional, personalidade
antisocial, psicopatologia (Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade, depressão e
transtorno de conduta, ou ansiedade nas mulheres), atitudes favoráveis para drogas,
inabilidade de esperar gratificação;
4) Biogenético: genealogia positiva para dependência química e vulnerabilidade
psicofisiológica ao efeito de drogas.
Como fatores de proteção pode-se descrever: ambiente estável, alto grau de
motivação, forte vínculo pais-criança, supervisão parental e disciplina consistentes,
ligação com instituições pró-sociais e associação com amigos não usuários.
Psicodinâmica do Adolescente Envolvido com Drogas
Já se discutiu que, ao passar para a adolescência, o jovem experimenta uma
mudança tanto fisiológica quanto psicológica, passando assim, por um período de maior
fragilidade egóica. O resultado é uma volta narcísica para o seu mundo interno, com
questionamentos sobre os pais, as instituições e a sociedade.
Esta volta narcísica provoca uma série de ansiedades naturais do período, como
as da identidade pessoal, as depressivas, pela perda da identidade infantil, e até
paranóides, devido à luta interna que passa a travar em busca desse novo conhecimento
(KESSLER et al., 2003).
Concomitantemente, há a formação de novos grupos, mas é também um período
de isolamento, em que o jovem busca compreender as mudanças pelas quais está
passando.
Várias teorias psicodinâmicas sobre a gênese do envolvimento de jovens com as
drogas já foram desenvolvidas (KESSLER et al., 2003): teoria das gratificações
narcísicas, teoria da oralidade, teoria das relações maníacas e teoria das perversões.
Rosenfeld (1968 apud KESSLER et al., 2003) concluiu que havia um consenso
entre a maioria dos autores da época que em ambos (uso de drogas e alcoolismo) havia
“uma importância dos aspectos orais, mania, depressão, impulsos destrutivos e auto-
destrutivos e perversão, tais como a homossexualidade e o sadomasoquismo”.

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No entanto, desde então, os autores centraram-se em outros pontos que pensam
ser mais relevantes. Segundo Kessler et al. (2003) atualmente, a maioria dos autores
concorda que o envolvimento com substâncias psicoativas implica uma relação
narcisística (identificações primárias com a mãe, inveja primária do seio materno, etc.)
Os artigos que se referem a adolescentes e o uso de drogas surgiram a partir da
década de 70. São levantadas questões como: a falta de um objeto bom interiorizado, o
comprometimento das funções paterna e materna. A personalidade encontra-se privada
de coesão, como se faltasse a imagem idealizada do pai e a empatia da mãe. Nesse
contexto, as drogas transformariam a realidade ansiogênica em neutra, reforçando nos
usuários a sua onipotência. “É o triunfo da negação”.
Krystal (1978 apud KESSLER et al., 2003) também fez importantes contribuições
nesse campo. Ele descreve que a realidade psíquica do dependente de drogas é
dominada por uma forte experiência de ambivalência na relação com a imagem da mãe,
posteriormente estendida à droga e a outras pessoas do seu círculo de relações.
Ele diz: “ao mesmo tempo que o adicto clama pelo amor objetal da mãe, ele o
despreza” e relaciona isso ao fim do efeito da droga, uma vez que, além da garantia do
prazer (aproximação da mãe), o usuário também tem a garantia do pós-efeito
(distanciamento). Não deixa de ser um controle onipotente do objeto. Ele ainda
acrescenta que muitos usuários de drogas apresentam uma certa alexitimia (incapacidade
de expressar os seus sentimentos), como se houvesse uma economia dos afetos e de
sua não representação.
Uma completa união com o objeto parece ser ameaçadora, uma vez que o caráter
ambivalente da relação significa que ele está contaminado com intenso ódio, inveja e
medo de ser ferido. Como conseqüência da ambivalência, a criança não é capaz de
introjetar a imagem da mãe, o que leva a uma falta das funções de auto-cuidado, comum
nos adictos. Soma-se a isso um sentimento de insegurança e dependência (KESSLER et
al., 2003).
Khantzian (1985 apud KESSLER et al., 2003) postula que indivíduos dependentes
de drogas apresentam uma predisposição ao uso e a se tornarem dependentes,
principalmente devido a um severo prejuízo do ego e distúrbios do senso do self,

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envolvendo dificuldades com instintos, affect defense, autocuidados, dependência e
necessidade de satisfação.
As enormes e persistentes dificuldades dos dependentes de heroína chamaram,
desde muito cedo, a atenção do autor, principalmente no que diz respeito aos sentimentos
e impulsos associados à agressão. A maneira drástica como a heroína aliviava os
sentimentos disfóricos de raiva e desassossego foi um ponto comum encontrado nas
observações clínicas do pesquisador, levando-o a acreditar que o uso da droga poderia
ser visto como uma maneira de auto-medicação, sua hipótese mais conhecida.
Segundo essa teoria, os efeitos psicoativos específicos de cada droga interagem
com os transtornos psiquiátricos e estados afetivos dolorosos.
Olievenstein (1990 apud KESSLER et al., 2003) chama a atenção para o problema
da falta. Para esse autor, talvez mais importante do que o prazer narcísico propiciado
pelas drogas, estaria um sentimento de falta, geralmente aliviado por elas. As mães não
suficientemente boas (conceito proposto por Winnicott) gerariam um estado de crônica
falta. Desta ótica, o depender de drogas seria o resultado do deslocamento deste
sentimento de falta para uma “coisa”, com a notória vantagem de esta ser alcançável em
qualquer esquina do mundo.
David Rosenfeld, concordando com Khantzian (1996 apud KESSLER et al., 2003),
observa diversas estruturas psicopatológicas comuns na drogadição, com sua própria
dinâmica inconsciente e psicogênese infantil, em que cada indivíduo procura a droga por
um determinado motivo. Certos pacientes não têm noção de perigo, pelo
comprometimento dos processos de introjeção dos objetos parentais e sentem o seu
mundo interno esvaziado e sem vida. Constantes condutas de risco podem ser
entendidas, então, como fruto da necessidade de sentirem-se vivos.
Kessler et al. (2003) apresenta outra autora que fala sobre a relação da droga com
os estados afetivos (MC DOUGALL,1998). Ela coloca o comportamento adictivo como
uma solução à intolerância afetiva. O objeto de adição seria experimentado como
essencialmente bom, um objeto idealizado, com uma promessa de prazer e capaz de
resolver magicamente as angústias e os sentimentos de morte interna. A solução adictiva

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teria origem principalmente na relação mãe-bebê, quando a mãe sente-se fusionada ao
bebê e cria uma relação de dependência do bebê à sua presença.
Isso dificultaria que a criança constituísse em seu mundo interno as
representações maternas e, mais tarde, paterna cuidadoras, capazes de conter e manejar
seus estados de sofrimento psíquico. A falta de objetos internos de identificação para
aliviar por si mesmo seus estados de tensão psíquica ocasionaria mais tarde uma busca
no mundo externo de algo que substituísse a mãe, como a droga. O objeto adictivo seria
então um objeto transitório, como postula a autora, e não transicional, uma vez que
resolveria momentaneamente a tensão psíquica através de solução somática e não
psicológica.
Como conclusão pode-se afirmar que em relação às teorias psicanalíticas, o fato é
que, sejam por atributos maternos, por características do próprio indivíduo (constitucionais
ou não), ou sejam ainda por ambos, parece haver uma concordância, entre os autores, de
que existiria fundamentalmente uma relação narcísica objetal na qual a substância seria a
fonte de prazer narcísico (KESSLER et al., 2003).

Aspectos gerais do tratamento do adulto dependente de substâncias psicoativas


Tendo em vista a natureza complexa e interdisciplinar do fenômeno da
dependência de substâncias psicoativas, o respectivo tratamento constitui um processo
dinâmico caracterizado pelas interfaces entre as diversas áreas implicadas e que exige
pois, uma constante articulação e integração entre os profissionais.
Destacamos aqui uma particularidade inerente ao tratamento de dependentes de
drogas que constitui um desafio importante para toda a equipe: trata-se da ausência inicial
de demanda de tratamento por parte do próprio usuário que se faz, na maior parte das
vezes, representar por uma terceira pessoa, familiar ou amigo ou ainda, uma instituição
(escola, justiça, etc.).
Esta característica que se configura no decorrer do tratamento como uma
dificuldade de adesão ao mesmo, vem reforçar a necessidade de se trabalhar em equipe
interdisciplinar, a fim de cada paciente possa encontrar na equipe diversas opções de
pessoas para estabelecer um vínculo inicial do qual dependerá a superação de suas
resistências ao tratamento. Cabe destacar a importância do estabelecimento de um

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vínculo com um dos integrantes da equipe para que o processo terapêutico se inicie, e
possa deslanchar.

O tratamento de dependentes de drogas é um processo dinâmico e complexo que se


compõe de três etapas fundamentais. Em cada uma delas a equipe se coloca com uma
função específica a ser considerada, como veremos a seguir:
Fase de Acolhimento ou de Tratamento da Demanda
A equipe e a rede de apoio descobrem o potencial das redes sociais e
desenvolvem no cliente a motivação para mudar.
Coloca-se aqui toda a importância da primeira etapa do tratamento de
dependentes de drogas que se constitui no que denominamos de acolhimento ou
abordagem do paciente dependente ou fase de inserção ao tratamento.
O que é esta fase?
Esta fase inicial é de fundamental importância, cabendo à equipe realizar uma
intervenção a partir de quem toma a iniciativa de procurar a ajuda profissional,
procurando-se, através deste “porta-voz”, mobilizar a pessoa dependente e construir uma
rede de apoio ao seu tratamento. Faz-se necessário nesta fase, uma boa habilidade de
acolher e estabelecer vínculos, compartilhando entre toda a equipe a construção de
estratégias para mobilizar o paciente a comparecer e aceitar a ajuda dos profissionais e
de seus familiares. É precioso o momento inicial no qual alguém busca ajuda para a
pessoa dependente que, em geral, não está expressando desejo de se tratar.
Aprendemos com nossa experiência de atendimento a esta clientela que o fato de não
expressar desejo em mudar não quer dizer que a pessoa dependente não esteja sofrendo
ou não queira ser ajudada, ou ainda, que não queira mudar nada em sua vida, e em
especial, em sua relação com o consumo de drogas. Cada vez mais os familiares e as
pessoas em geral se mostram surpresas com a forma descarada e até provocativa de
consumir drogas, em especial pelos jovens que já não se escondem dos adultos e muitas
vezes se expõe aos policiais, aos pais, aos professores ou a outras autoridades. Numa
visão sistêmica, entendemos que o próprio comportamento de se drogar pode estar
representando uma comunicação, cujo significado poderá ser decodificado em cada

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contexto específico. Num trabalho conjunto que se inicia sempre através destes terceiros
que expressam o pedido, a equipe deve identificar a melhor forma de compreender esta
demanda que se expressa através do sintoma de consumir drogas. Partindo-se do
pressuposto de que a demanda é um desejo que pode evoluir e que desenvolver
motivação para mudanças é tarefa primordial do terapeuta, a equipe precisa investir de
forma integrada e complementar numa acolhida especial àqueles que a procuram para,
através destes, mobilizar o cliente. A implicação de todos numa ação integrada reunindo
as pessoas sensíveis, mobilizadas e dispostas a ajudar, constitui a tarefa primordial da
equipe neste primeiro momento do tratamento. Em estudos anteriores, consideramos
exatamente que este trabalho inicial buscando desenvolver a demanda de atendimento
pela pessoa dependente constitui a especificidade do tratamento de dependentes
químicos – é o que nos referimos como sendo o “tratamento da demanda”. Neste
processo revelam-se elementos importantes para o diagnóstico e avaliação tanto do
paciente como da família. Nesta perspectiva, a fase inicial do tratamento destina-se ao
diagnóstico do potencial da rede de apoio e dos recursos existentes no contexto, sendo
esta seguida do psicodiagnóstico do paciente e indicação terapêutica propriamente dita.
O Tratamento Propriamente Dito
A evolução dos modelos de tratamento para dependentes de drogas do regime de
internação para os regimes predominantemente ambulatoriais e de abordagem
comunitária está consolidada através da nova política de saúde mental (portaria 336/GM,
Ministério da Saúde, 19/02/02) que dispõe sobre a proteção e os direitos das pessoas
portadoras de transtornos mentais e o modelo assistencial em saúde mental. Esta nova
portaria atualiza as normas constantes na portaria anterior (MS/SAS nº. 224, de
29/01/1992) estabelecendo os Centros de Atenção Psicossocial como unidades de
serviço tanto no atendimento das pessoas com transtornos mentais como de pessoas
com transtornos decorrentes do uso prejudicial e dependência de substâncias
psicoativas.
Esta nova política de assistência na área da saúde mental define o contexto do
atendimento aos dependentes de drogas na rede pública de saúde, através dos CAPS ad
II – centros de atenção psicossocial para atendimento de pacientes com

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transtornos decorrentes do uso de substâncias psicoativas. As características
estabelecidas para os CAPS ad II deixam muito claro que a natureza do atendimento é
predominantemente ambulatorial de atenção diária, devendo-se o gestor local
responsabilizar-se pela organização da demanda e da rede de instituições de atenção a
usuários de álcool e drogas, no âmbito de seu território.
A assistência prestada ao paciente no CAPS ad II inclui as seguintes atividades:
1. atendimento individual (medicamentoso, psicoterápico, de orientação, entre outros);
2. atendimento em grupos (psicoterapia, grupo operativo, atividade de suporte social,
entre outras);
3. atendimento em oficinas terapêuticas, executadas por profissional de nível superior ou
de nível médio;
4. visitas e atendimentos domiciliares;
5. atendimento à família;
6. atividades comunitárias, enfocando a integração do dependente químico na
comunidade e sua inserção familiar e social;
7. os pacientes assistidos em um turno (04 horas) receberão uma refeição diária; os
assistidos em dois turnos (08 horas) receberão duas refeições diárias
8. atendimento de desintoxicação.

Como podemos constatar, a nova política implica em uma nova proposta técnica
que, por sua vez, exige uma considerável mudança no que diz respeito à formação da
equipe interdisciplinar. Na medida em que os clientes permanecem preferencialmente em
seus próprios espaços de convivência familiar e social, os profissionais precisam estar
dispostos a conhecerem estes ambientes para poder avaliar os aspectos de
favorecimento ou de entraves ao tratamento que urgem intervenção.
Cabe considerar que nem sempre os pacientes apresentam uma demanda para o
tratamento psicoterápico, mas se identificam com outras atividades de cunho terapêutico,
envolvendo outras atividades tais como o cuidado com o corpo, por exemplo, ou então
com sua espiritualidade. É muito variado o espectro de possibilidades de alternativas
terapêuticas que podem auxiliar no tratamento de um dependente de drogas.

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Neste sentido, cada equipe na condição ideal, deveria poder contar com
profissionais de diversas áreas para permitir aos clientes uma diversidade de opções de
ajuda condizente com a diversidade de demandas colocadas por esta clientela. A partir
destas diretrizes e quadro mínimo de pessoal especializado, cabe a cada equipe construir
seu projeto terapêutico de acordo com suas competências e recursos na rede de saúde e
na comunidade.
A implantação desta política de atendimento nos CAPS ad II está garantida a partir
de uma portaria recente do Ministério da Saúde (nº. 816/GM, de 30/04/2002, publicada no
DOU nº. 84, pág 29/30, secção 1, em 30/05/2002) que lança o programa nacional de
Atenção Comunitária integrada a Usuários de Álcool e outras Drogas, a ser desenvolvido
de forma articulada pelo Ministério da saúde e pelas Secretarias de Saúde dos estados,
Distrito Federal e municípios. Este programa inclui tanto o financiamento da assistência
como a capacitação das equipes interdisciplinares em nível de especialização e de
atualização, em parceria com as Universidades.
Fase final ou de reinserção social: o resgate do convívio familiar e comunitário e da
participação cidadã através do trabalho
Na fase final do tratamento há um processo de reinserção social do cliente que
exige um trabalho igualmente interdisciplinar, na medida em que são trabalhados
aspectos relativos ao trabalho, à escolaridade e formação profissional, ao relacionamento
social e familiar, ao lazer (sem o abuso de drogas). Cada equipe deverá planejar suas
ações para acompanhar seus clientes nesta fase final e de tamanha importância, visando
prevenir recaídas e garantir a melhoria da qualidade de vida, que é o objetivo maior do
tratamento.
Infância/Adolescência
A criança e o adolescente são pessoas em desenvolvimento, o que implica no
reconhecimento de características únicas destas faixas etárias que serão de grande
importância por ocasião do desenvolvimento do tratamento para esta população.
Os crianças e adolescentes, na maioria das vezes são forçados a se adaptarem a
programas pré-existentes. Quando é solicitado a eles que fiquem abstinentes de drogas

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no início do tratamento, eles encontram dificuldades porque não conseguem, e muitas
vezes não sabem, preencher seu tempo com atividades não relacionadas às drogas.
Diferentemente dos adultos, que já haviam desenvolvido seus papéis na
sociedade antes da disfunção causada pelo uso indevido de drogas e/ou álcool, o
adolescente e pré-adolescente sabe, instintiva e logicamente, que não pode retornar aos
seus 8 ou 10 anos de idade – situação anterior à experimentação destas substâncias.
É indiscutível a necessidade de programas de tratamento especialmente
desenvolvidos para faixas etárias mais jovens, uma vez que as necessidades desta
população são diferentes das dos adultos.
Os jovens parecem estar mais preocupados com fatos presentes como vida
familiar, na escola ou com os amigos do que com possíveis comprometimentos físicos ou
psíquicos que as drogas possam vir acarretar.
A análise dos fatores de risco para o uso de drogas na infância eadolescência e
seus desempenhos insatisfatórios nas áreas de desenvolvimento psicológico, habilidades
sociais, funcionamento familiar, desempenho escolar/acadêmico e a habilidade encontrar
e se engajar em atividades sociais, aponta para a necessidade de se abordar estas
deficiências como parte um tratamento mais abrangente.
No passado, o abuso de drogas e álcool era visto como o principal problema
causador de qualquer outra disfunção que a criança e adolescente apresentasse.
Atingindo a abstinência, todos os outros problemas estariam resolvidos, ainda que
pouca atenção direta e específica tivesse sido dada a estas questões.
Progressivamente, os objetivos no tratamento incluem a mudança global no estilo
de vida, desde a abstinência de qualquer substância psicoativa, desenvolvimento de
atitudes, valores e comportamentos sociabilizantes, até o desenvolvimento de aptidões
direcionadas a uma melhora das relações interpessoais e do desempenho acadêmico e
vocacional.
Uma das principais tarefas no tratamento de crianças e adolescentes dependentes
de drogas é a de ajudá-los a atingir a abstinência. Porém, a abstinência não é o objetivo
final – que é retomada do desenvolvimento normal

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A obtenção da abstinência pode ser vista como uma porta ou ponte para a
recuperação. Isto requer que haja uma reformulação da identidade, de alguém que
precisa de alguma droga para se divertir, aliviar o desânimo ou superar medos e
problemas, para uma pessoa que consiga se divertir com a vida e superar suas
dificuldades sem precisar de drogas. Em muitos casos, principalmente os adolescentes
encontram nas drogas a identidade que buscam neste período da vida.
Não é possível cobrar do adolescente a abstinência que, para ele, significa abrir
mão da única identidade que possui no momento, sem oferecer outra forma de
identificação. A dificuldade é que esta identidade é completamente nova. Ela não pode
ser relembrada, mas deve ser construída. Não se trata de reabilitação, mas sim de
habilitação
FONTE: www.obid.senad.gov.br

Instituição e Favelas: Um exemplo de atuação

Rodrigues et al (1992) trazem em seu livro o relato de uma experiência de Escolas


Comunitárias, realizado no Rio de Janeiro. Em meados de 1979, os canais de
participação popular abrem-se e multiplicam-se demonstrando abertura política. Neste
momento ocorre a discussão sobre a redemocratização do país.

Surge uma nova secretaria, a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social


(SMD). É a instância governamental fundada para as favelas, seu objetivo era levar
serviços à população. Em 1980, através da SMD a Prefeitura do Rio de Janeiro assina
convênio com o Unicef e é formulada a “Proposta de Ação para as Favelas Cariocas”.
Neste mesmo ano, o Unicef alocou recursos para Projetos de Saúde, Saneamento e
Escolas Comunitárias.

Estes projetos têm como eixo levar serviços à população e desenvolver uma
política de envolvimento do morador com as questões da comunidade.

Neste Projeto, três momentos foram significativos, todos marcados e diferenciados


pelas conjunturas políticas, pelo grau de expansão das áreas de atendimento, pelo nível
de questionamento e de organização das escolas.

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Desde o final dos anos 70 o movimento comunitário já lançava a palavra
autonomia. Havia, nesta época, uma intensa critica ao governo, considerado corrupto e
distanciado dos problemas das favelas (Chagas Freitas – 1978 a 1982) (RODRIGUES et
al, 1992).

Havia diversos grupos de moradores das comunidades que se organizavam em


associações, buscando proporcionar espaço educativo àquelas crianças, com muitas
dificuldades.

O primeiro projeto implantado foi na favela da Rocinha. O ponto de partida era o


apoio às iniciativas comunitárias já existentes em educação com crianças, assim os
moradores envolvidos com estas práticas foram incorporados no Projeto como
educadores.

Com o respaldo da população favelada, e com a prioridade de atendimento das


reivindicações populares, o governo Brizola imprime mudanças nas diretrizes da SMD,
trazendo uma nova dimensão ao papel dessa secretaria. No discurso agradavam a
clientela de sua Secretaria, mas na prática não eram tão bem recebidos. Suas visitas à
favela era encaradas como invasões e as orientações foram substituídas por avaliações
fundamentadas em valores pessoais e de classe, “reduzindo o produto das organizações
a chiqueiros” (p.95).

Neste momento, assistia-se a um crescimento político dos educadores, fruto de


sua organização, motivados pelas situações que ameaçavam sua relativa autonomia
(RODRIGUES et al, 1992).

Em 1985 a relação em a SMD e o Projeto Escolas Comunitárias passa por uma


profunda alteração. Tem início o atendimento de novas comunidades e incorpora em sua
estrutura o Projeto Creches Comunitárias.

A Secretaria passa a nomear o Projeto Escolas Comunitárias de Programas de


Atendimento à Criança.

Quanto a atuação do técnico, os autores afirmam:

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“(...) em seu trabalho nas instituições apresenta aspectos preexistentes à sua condição de
profissional. Estes aspectos, inscritos numa organização social que os legitimam
ideologicamente, se apresentam de certa forma institucionalizados. A consciência desse poder
técnico que lhe é atribuído e reconhecido... pode ser amplificada e redimensionada por seu
comprometimento, enquanto ser político e social, com abertura de novos canais de
transformação” (p. 118).

No trabalho em projetos comunitários, o técnico é o mediador das relações entre a


instituição e a própria comunidade, tendo um campo imenso em suas mãos. Ou seja, o
técnico é um elemento explicitador das relações contraditórias que as comunidades
faveladas mantêm com o poder público.

9. Família: família e desenvolvimento da personalidade; as transformações


modernas e contemporâneas da família.
Segundo site wikipédia:

“A família é unidade básica da sociedade formada por indivíduos com ancestrais em comum ou
ligados por laços afetivos. A família representa um grupo social primário que influencia e é
influenciado por outras pessoas e instituições. É um grupo de pessoas, ou um número de grupos
domésticos ligados por descendência (demonstrada ou estipulada) a partir de um ancestral
comum, matrimónio ou adoção. Nesse sentido o termo confunde-se com clã. Dentro de uma família
existe sempre algum grau de parentesco. Membros de uma família costumam compartilhar do
mesmo sobrenome, herdado dos ascendentes directos. A família é unida por múltiplos laços
capazes de manter os membros moralmente, materialmente e reciprocamente durante uma vida e
durante as gerações.”

O autor Alberto Eiguer, citado no site wikipédia, afirma que o núcleo do


inconsciente é constituído por objetos parentais. Dessa forma, haveriam três
organizadores familiares: 1) Escolha de objeto; 2) as vivências do “eu familiar” e que
culmina no sentimentos de pertença”; 3) o romance familiar, que é representado imagem
idealizada dos pais.

A família constituída por pai, mãe e filhos, que durante muito tempo foi o modelo
familiar dominante tem se modificado. Durante muito tempo a família que não era

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organizada nesses moldes era tida como desestruturada. Tal classificação era dada por
padrões moralistas de conduta (BOCK, FURTADO, TEIXEIRA, 2001).
Nessa configuração tradicional, a mulher cuidava dos filhos e o homem trabalhava
para prover a família. Esse quadro se alterou muito hoje em dia, já que muitas mulheres
deixaram o lar para trabalhar e muitos filhos são educados, na maioria do tempo, nas
escolas, pelos avós e cuidadores que não tem relação consangüínea com a criança.
Ao analisar estudos antropológicos verificamos que a configuração familiar acima
referida não é padrão para diferentes culturas e hoje tem se alterado bastante. Há casos
cada vez mais freqüentes de divórcios, nos quais o antigo casal se casa novamente e tem
novos filhos, famílias formadas por casais homossexuais (BOCK, FURTADO, TEIXEIRA,
2001).
Morgan apud Bock, Furtado, Teixeira (2001) afirma que desde que a humanidade
surgiu, houve, sucessivamente as seguintes famílias:
- família consangüínea: intercasamento de consangüíneos no interior de um grupo.
- família punaluana: um grupo de homens (irmãos) era casado casado com um grupo de
mulheres (irmãs)
- família sindiásmica: casamento entre casais, porém não havia a necessidade de
morarem juntos.
- família patriarcal; casamento de um homem com mais de uma mulher.
- família monogâmica: casamento de duas pessoas, com obrigatoriedade de fidelidade e
de morarem juntos.
Muitas outras classificações existem. O site wikipédia, por exemplo, traz a seguinte
classificação: (http://pt.wikipedia.org/wiki/Fam%C3%ADlia).
- Nuclear: família “tradicional” – pais e filhos.
- Monoparental: pais únicos. Ocorre por diversos motivos, a saber: divórico, morte de um
dos conjugues, entre outros.
- Família ampliada ou extensa (consangüínea): família nuclear mais parentes diretos ou
colaterais.

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- Família alternativa: caracterizam-se por famílias de pessoas homossexuais e também
por famílias comunitárias (todos os membros adultos da comunidade são responsáveis
pela educação das crianças).

A família tem papel de destaque na transmissão de valores e da cultura. Assim,


temo papel de contribuir para a manutenção da ordem social vigente. É a família que tem
a responsabilidade de cuidar das crianças, até que estas, tenham condições de se
manterem sozinhas. É claro, que hoje em dia, outras agências sociais contribuem para
essas funções, que antigamente pertenciam só a família, um exemplo dessas agências é
a escola (BOCK, FURTADO, TEIXEIRA, 2001).
Caso a família “natural” esteja impossibilitada de cuidar da criança ou mesmo seus
membros tenham morrido, há a necessidade de encaminhamento das crianças para
famílias substitutas (BOCK, FURTADO, TEIXEIRA, 2001).
As famílias possuem relação cheia de ambivalência, multifacetada, na qual há a
existência constante do amor e ódio (BOCK, FURTADO, TEIXEIRA, 2001).

O Grupo Familiar
“Estamos diante de um mundo em mutação. As novas formas de viver são mais do que
uma evolução ou uma transformação. (...) O homem pós-moderno tem fome do outro, mas não
consegue ser o outro para o outro.” (HURSTEL, 1999, p.13)

A psicanálise, principalmente os conceitos que se referem à estrutura familiar com


as respectivas funções dos componentes da família, pode ser de grande valia ao Direito
de Família para se garantir o desenvolvimento íntegro da personalidade do indivíduo
inserido nessa estrutura (SECOMANDI, 2006).
A vida do homem contemporâneo sofreu transformações significativas como:
novas formas de composição familiar, que atualmente é reduzida em número de filhos e
agregados, como parentes e vizinhança, aumento das separações entre os casais que
levam os filhos a morar com um dos pais ou com o novo parceiro de um de seus pais –,
aumento de mães solteiras, que, muitas vezes, encarregam-se do sustento da família e os
novos papéis atribuídos aos avós (MACIEL, ROSEMBURG, 2006).

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Portanto, adotar formas alternativas de convivência familiar torna-se, cada vez
mais, prática freqüente em nossa sociedade. Criam-se espaços para a manifestação
diferenciada da paternidade (Hurstel, 1999). Se, de um lado, exigências sociais operam
pulverizando a figura do provedor, de outro, as famílias buscam se organizar, formando
casais de dupla renda ou de dupla carreira. Emerge então nova figura paterna, não mais
ancorada no poder econômico.
O termo “grupo familiar” designa não unicamente a influência exercida pela mãe
sobre o indivíduo, mas também se refere às exercidas pelo pai, irmãos, sem deixar de
considerar aquelas provenientes das demais pessoas que se relacionam direta ou
indiretamente com o bebê e a criança.
É de extrema relevância ater-se na compreensão sobre a função materna, tomada
em seu sentido genérico, que tanto pode referir-se unicamente à mãe biológica, bem
como a qualquer outra pessoa que, de alguma forma, venha exercer essa função. O
mesmo ocorre com os outros membros da família, que representam papéis e funções.
David Zimerman (1999), referindo-se ao grupo familiar afirma:
“A família constitui como um campo dinâmico no qual agem tanto os fatores conscientes
quanto os inconscientes, sendo que a criança, desde o nascimento, não apenas sofre
passivamente a influência dos outros, mas, reciprocamente, é também um poderoso
agente ativo de modificações nos demais e na estrutura da totalidade da família” (p. 31).

A “função da mãe” representa o primeiro modelo de identificação para criatura


humana, favorecendo sobremaneira na formação do psiquismo da criança, de modo que
todos os aspectos do relacionamento estabelecido entre a mãe e o filho, vão influenciar
no desenvolvimento do ser humano (ZIMERMAN, 1999).
Quanto à figura paterna, esta ocupa papel importante na literatura psicanalítica,
sendo responsável pela segurança e estabilidade da criança. Além disso, as adequadas
frustrações impostas pela função paterna são responsáveis pelo reconhecimento das
limitações da criança, favorecendo a passagem do “princípio do prazer” para o da
realidade.

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Zimerman (1999) enfatiza o papel do pai como sendo o terceiro, interpondo-se
como uma cunha normatizadora e delimitadora entre a mãe e a criança, propiciando
elementos necessários à formação da personalidade desta última. Uma vez ultrapassada
a ligação simbiótica com a mãe, graças à necessária presença da função castradora
exercida pelo pai, a criança, mais segura em sua identidade, vai poder renunciar a mãe
como seu interesse exclusivo, abrindo-se para uma socialização com o pai, irmãos,
parentes, amigos; enfim, com a sociedade de um modo geral.
A formação emocional, bem como os conceitos e preconceitos individuais, são
constituídos a partir da interpretação pessoal do meio em que se vive, marcadamente no
ambiente familiar com a educação que cada um recebe

10. Teorias psicológicas e abordagem clínica da família: teoria sistêmica e teoria


psicanalítica.
Teoria Sistêmica
Um sistema pode ser definido como um complexo de elementos em interação
mútua. Esta definição pode ser aplicada para o indivíduo, para a família ou mesmo para a
sociedade. Cada sistema pode se constituir de sub-sistemas e estar inserido em outros
sistemas maiores (Hoffman, 1994).
Nesta perspectiva, a família pode ser vista como um sistema que é parte de um
outro maior e composto de muitos subsistemas. A família é composta de muitos sub
sistemas, como subsistema mãe e filho, o casal e os irmãos. Ao mesmo tempo, a família
é uma unidade que faz parte de um supra-sistema que é composto pelos vizinhos,
organizações, igreja, instituições de saúde, escola, etc. As fronteiras entre esses sistemas
são definidas arbitrariamente e ajudam estabelecer quem está dentro e fora do sistema
familiar e quais subsistemas e supra-sistemas são importantes para a família num
determinado momento (Hoffman, 1994).
A família é definida como um grupo de indivíduos vinculados por uma ligação
emotiva profunda e por um sentimento de pertença ao grupo, isto é que se identificam
como fazendo parte daquele grupo. Esta definição é flexível o suficiente para incluir as

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diferentes configurações e composições de famílias que estão presentes na sociedade
atual (Hoffman, 1994).
Uma analogia útil para compreender os conceitos da teoria de sistemas aplicados
à família é a comparação com o móbile. Observando-se um móbile suspenso no ar vemos
que ele é composto de várias peças se movem, umas mais rapidamente do que outras.
Colocando-se a mão em uma das peças imediatamente influenciamos os movimentos de
todas as outras e, após algum tempo, o móbile retoma seu movimento balanceado, mas
não necessariamente na mesma direção de antes de ser tocado Assim como o móbile, a
família é um todo composta de vários elementos ou membros. Uma mudança em um de
seus membros afeta todo o grupo (Hoffman, 1994).
Porém, a família tem habilidades para criar um balanceamento entre mudanças e
estabilidade. Por exemplo, a ocorrência de doença é reconhecida como uma sobrecarga,
um estresse para todos os membros, provoca uma desorganização no sistema familiar
(Hoffman, 1994).
A noção de saúde familiar depende do julgamento que um observador faz sobre a
eficácia da adaptação do grupo frente às mudanças ligadas aos ciclos da vida familiar, ao
seu ambiente ou a uma problemática de saúde física ou mental. O observador pode ser
um membro da família ou um profissional de saúde como o psicólogo (Hoffman, 1994).
Enfocaremos aqui o papel do profissional da saúde na terapia familiar. Para isto é
necessário compreender alguns princípios da teoria sistêmica com enfoque na família.
São eles:
• O princípio de circularidade
Os comportamentos dos membros da família são mais bem compreendidos a partir de
uma visão de causalidade circular do que linear. Causalidade linear é definida como um
evento (A) causando outro (B), sem que este tenha qualquer ação sobre A. Por exemplo,
quando o relógio toca às 6 horas da tarde, a família rotineiramente se reúne para o jantar.
O evento A (soar do relógio) causa o evento B (jantar em família), enquanto que B não
afeta o evento A (Hoffman, 1994)
No modelo de causalidade circular, o evento B pode afetar o evento A. Por exemplo,
se o marido se interessa pelos cuidados com a ostomia de sua esposa (evento A) e a

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esposa responde explicando-lhe os procedimentos diários (evento B), pode ser que o
marido continue se interessando e oferecendo suporte a ela. Neste caso, temos o evento
A causando B, que reforça A novamente.
Esta compreensão da circularidade é prevista dentro da teoria de sistemas, mas
foi com a cibernética de primeira e de segunda ordem que o conceito foi aprofundado. A
cibernética interessa-se pelos mecanismos reguladores dos sistemas e pelos processos
de retroalimentação. A diferença mais importante entre a cibernética de primeira e
segunda ordem é aquela relativa à observação dos sistemas. Na cibernética de primeira
ordem o observador considera-se separado do sistema observado, enquanto que na de
segunda o observador entra na descrição do que é observado. Na cibernética de segunda
ordem a unidade do tratamento contém ambos: o observador e o observado (Hoffman,
1994).
Se o observador entra naquilo que é observado, não há o que se poderia chamar
de sistema observado isolado. Finalmente, uma vez que qualquer observador
percebe o mundo através das lentes da cultura, da família e da linguagem, o produto
resultante representa não algo privado e autônomo, mas uma "observação
comunitária"(Hoffman, 1994).
Enfim, com o passar do tempo a Cibernética amplia seu olhar e começa a se
deslocar para o entendimento de sistemas que não são, e não podem ser organizados de
fora, colocando em cheque a possibilidade de se falar em uma observação objetiva de
uma realidade independente, livres das influências do observador.
A noção de auto-referência é fundamental, na Cibernética de Segunda Ordem,
surgindo à idéia de que o observador está inserido na observação que realiza, pois aquele
que descreve suas observações, descreve a respeito de si. Conceito não trazido pela
Primeira Cibernética, onde entende seus modelos como correspondentes a uma realidade
independente do observador. Então, quem traz esta idéia é a Cibernética de Segunda
Ordem e o Construtivismo e Construcionismo Social, que veio dar consistência ao
pensamento Cibernético.
Nesta perspectiva da cibernética de segunda ordem, a circularidade é definida
como a capacidade do terapeuta de conduzir sua investigação com base nas retroações

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da família, em resposta às informações que ele solicita sobre as relações, as diferenças e
as mudanças dentro das próprias relações (Hoffman, 1994).
O princípio de circularidade refere-se ao fenômeno da retroação entre os membros
da família e entre esses e a enfermeira. O psicólogo questiona os membros da família
sobre suas relações e as respostas da família a estas questões guiarão a entrevista.
Observa-se a circularidade na troca de informação entre o psicólogo e o sistema familiar e
entre os diferentes membros da família que influenciam cada uma das pessoas. Por
exemplo, logo depois que se pergunta à mãe que possui um filho portador de
necessidades especiais se os cuidados da criança tornaram-se muito exigentes para ela.
O pai, que participa da interação, recebe a informação e reage a
ela minimizando o fardo que os cuidados com o filho podem representar para ela. No seu
entendimento, os cuidados estão bem compartilhados entre ambos e não considera
plausível que a esposa se queixe da sobrecarga que isto lhe causa. A mãe reage
exprimindo sua raiva, afirmando que seu marido não contribui suficientemente nos
cuidados da criança. Esta interação que ocorre na presença do psicólogo informa-lhe
sobre a relação dos dois e guia suas questões e hipóteses sobre o funcionamento familiar
(Hoffman, 1994).
Desta maneira, a informação circula entre o profissional e os diferentes membros
da família, cada um influenciando o outro. Nesta perspectiva, o terapeuta não é um
agente e o cliente não é um sujeito. Ambos formam um campo mais extenso em que
terapeuta, família e um certo número de outros elementos atuam e reagem uns sobre os
outros das mais diversas maneiras, pois cada ação e reação mudam constantemente a
natureza do campo no qual residem os elementos deste novo sistema terapêutico
(Hoffman, 1994).
• Hipótese sistêmica
Um dos princípios da teoria de sistemas afirma que o todo é maior do que a soma de
suas partes. Assim, a família é um todo maior do que a soma de seus membros. Com
base neste princípio, a abordagem sistêmica se interessa pelas relações entre os
diferentes sistemas e sub-sistemas presentes no sistema familiar para compreender
melhor o funcionamento de cada um deles.

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As relações entre os membros do sistema familiar influenciam, de maneira
significativa, os comportamentos, crenças e sentimentos de cada membro de uma família.
Seguindo o princípio da circularidade, esses comportamentos, crenças e sentimentos
influenciam, por sua vez, as relações entre os diferentes membro. O profissional que
ajuda uma família a lidar com uma problemática formula hipóteses sobre as ligações entre
os comportamentos, as crenças e os sentimentos do grupo familiar de um lado e, de outro
a problemática apresentada. Este tipo de hipótese, chamado de hipótese circular ou
hipótese sistêmica. Para formular as hipóteses sistêmicas ou circulares, é necessário
estruturar a informação recolhida junto à família de maneira que ela possa espelhar a
coerência da organização circular dos elementos do sistema (Hoffman, 1994).
O exemplo a seguir ilustra uma hipótese sistêmica com enfoque sobre as crenças.
Uma esposa que acredita que seu marido deveria seguir as recomendações do
profissional de saúde para manter sua doença cardíaca em níveis mais equilibrados fala
freqüentemente ao marido sobre os comportamentos que ele deve adotar para atingir os
objetivos sugeridos pelo profissional de saúde. Apesar disso, seu marido continua
negligenciando os conselhos terapêuticos e sua saúde não para de se deteriorar e os
sintomas persistem. Dentro deste caso, poder-se-ia formular a seguinte hipótese circular:
as crenças da esposa em relação à saúde de seu marido e à recomendação do
profissional de saúde são mantidas pela persistência dos sintomas cardíacos do marido
("ele não segue a recomendação, por isso é muito doente"). Reciprocamente, é possível
que a crença da esposa seja de natureza a manter os sintomas do marido, caso as
tentativas dela de ajudá-lo sejam percebidas por ele como implicâncias. Neste caso, a
reação do marido é recusar-se a seguir as recomendações. Com esta hipótese sistêmica
ninguém é censurado e cada um, a sua maneira, contribui na manutenção da
problemática de saúde que é a deterioração da saúde do marido (Hoffman, 1994).
Seria possível formular hipóteses lineares, porém essas hipóteses tendem a não
dar conta do fenômeno da circularidade dentro do sistema, levando, consequentemente, a
uma postura de censura por parte de quem a propõe. Um exemplo de hipótese linear
seria: o comportamento da esposa piora os sintomas do marido. Esta hipótese tem um
caráter de censura em relação ao comportamento da esposa, cuja intenção seria a de

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ajudar o marido. Outra hipótese linear poderia ser: o marido não seguindo a
recomendação da esposa provoca a piora de seu estado de saúde, reforçando a idéia da
mesma (Hoffman, 1994).
Hipóteses lineares são, freqüentemente, aquelas que os familiares adotam para
explicar sua situação. Elas guiam seus comportamentos e influenciam suas interações,
resultando em frustrações que podem manter a tensão dentro das relações. As
profissionais que buscam a causa dos problemas estarão mais predispostas a censurar
um membro do sistema e adotar uma hipótese linear para explicar a problemática em
questão. Estes profissionais correm o risco de comprometer a relação de confiança
estabelecida com os membros da família. Entretanto os que procuram, desde o início,
ligações circulares entre os diferentes elementos do sistema, influenciam mais facilmente
a realidade dos membros da família, favorecendo um contexto propício à mudança
(Hoffman, 1994).
É importante ressaltar que, ao formular uma hipótese, o profissional deve utilizar
uma linguagem que vise descrever a atitude de um membro da família. Dizendo, por
exemplo, que a pessoa demonstra comportamentos que sugerem um estado depressivo,
indicando para a família que a pessoa não é sempre assim (Hoffman, 1994).
A abordagem sistêmica pode ser adotada mesmo que a entrevista seja somente
com um membro da família. Por exemplo, poder-se- ia perguntar a um paciente: caso sua
mãe estivesse aqui conosco o que ela responderia se eu Ihe perguntasse o que ela pensa
sobre sua maneira de cuidar de você? Porém, a abordagem familiar é preferível à
individual. A coleta de percepções de cada membro da família com relação à problemática
vivida favorece a elaboração de hipóteses sistêmicas com maior potencial de utilidade à
família do que as fundamentadas sobre a percepção de um só membro. É importante
recolher a percepção de cada membro quanto ao funcionamento da família, pois são elas
que influenciarão os comportamentos de cada um e o funcionamento de todo o sistema
familiar. A saúde familiar depende dessas percepções e deste funcionamento (Hoffman,
1994).
• Visão de mundo e de homem

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A visão de mundo é holística e/ou ecológica onde o universo é uma rede de
interrelações. Nada existe se não em relação. Desse modo, o homem é parte desta rede
que está em constante mudança. Nada é definitivo, tudo é relativo. Isso não inviabiliza a
construção de hipóteses, porém, essas hipóteses não são vistas como verdadeiras ou
falsas e podem sofrer transformações conforma mudanças na rede de interrelações
(Hoffman, 1994).
Então, a hipótese sistêmica engloba todos os elementos de uma situação
problema e a forma como eles se ligam. Como não há uma tentativa de ver a hipótese
como verdadeiras ou falsa, o que interessa é que ela possa ser útil no sentido de conduzir
a novas informações que levem o sistema à mudança Há sempre vários ângulos, várias
possibilidades (Hoffman, 1994)..
• Globalidade: todo e qualquer sistema comporta-se como um todo coeso.
Assim, uma mudança em uma parte do sistema provoca mudança em todas as outras
partes e no sistema como um todo (Hoffman, 1994).
• Não-somatividade: um sistema não pode ser considerado como a soma de
suas partes. Esse princípio definidor implica que se considere o todo, na sua complexidade
e organização, em detrimento de suas partes. A complexidade sistêmica não pode ser
explicada a partir da soma de seus elementos. Contudo, qualquer mudança nas relações
entre as partes constituintes de um sistema implica uma mudança no funcionamento do
todo (Hoffman, 1994).
• Objetividade entre parênteses: tudo que é visto, é visto através de
alguém. Então não existe uma verdade única. Ela pode ser construída e desconstruída
pelo grupo de observadores, pela família, pelo sistema terapêutico, criando-se espaços
consensuais de inter-subjetividade (Hoffman, 1994).
• Estar na relação: o terapeuta compartilha experiências de sua própria
vida, com o objetivo de desmistificar o processo e reduzir a distancia profissional, quando
perceber que isso é importante para o cliente no momento (Hoffman, 1994).
• Sintoma: a idéia central é ver o doente, o membro sintomático como um
representante circustancial, de alguma disfunção no sistema familiar (paciente referido). O
sintoma é a expressão de padrões inadequados de interação no interior da família. É um

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movimento de sair do mal-estar em direção ao bem-estar para os membros do sistema de
uma situação tida como problema (Hoffman, 1994)..
• Padrão de relação: forma de se relacionar, de interagir com as pessoas,
com o mundo, que se modifica permanentemente na medida em que suas idéias,
crenças, valores vão se transformando como resultado de intercâmbios dialógicos
(Hoffman, 1994).
• Perguntas circulares e reflexivas: interligam os fatos e os membros do
sistema, ampliando a capacidade de refletir sobre si, sobre os outros, sobre o presente, o
passado e o futuro. Por exemplo: o que significa essa palavra para cada um de vocês?
(Hoffman, 1994).
• Releitura ou redefinição: ver o problema de um jeito mais possível de
trabalhar. Contar a mesma história com marcações diferentes. (Hoffman, 1994).
• Conotação positiva: qualifica-se o esforço da família/cliente para alterar o
problema, estimulando-se sua capacidade auto-organizadora. (Hoffman, 1994).
• Responsabilidades do terapeuta: constante responsabilidade de o cliente
se responsabilizar pelo seu processo; estar em simetria não ingênua, o terapeuta está ali
para ajudar na solução do problema, mas isso não o coloca na posição de expert do
problema do outro; acreditar na capacidade auto-reguladora do sujeito; trabalho
estruturado no respeito e apreciação do outro, passando a sensação de possibilidade e
esperança. Há um respeito ético pela autonomia do cliente; questionamento freqüente
sobre seu próprio pensar terapêutico na aventura interminável do auto-conhecimento.
(Hoffman, 1994).

Não há uma família dada “lá fora” a ser conhecida, previsível e manipulada, mas
uma família ou um sistema, imprevisível, incerto, dependente de uma história, auto-
organizador e autônomo, regidos por suas próprias leis. Com base no conceito de
autonomia, questiona-se o valor e a pertinência de intervenções que pretendem dirigir o
sistema para determinado lugar. Questiona-se também a idéia de que tais intervenções
causam mudanças, já que o meio (terapeuta) não determina o que acontece no sistema
(família) (Hoffman, 1994).

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O interesse dos terapeutas desloca-se assim das seqüências de
comportamento a serem modificadas para os processos de construção da realidade e
identidade familiar, para os significados gerados no sistema. Não é o sistema que
determina o problema, mas o problema que determina o sistema (Hoffman, 1994)..
A terapia transforma-se em uma rede de conversações em torno do problema e
o terapeuta em um participante ativo da transformação do sistema. O terapeuta não é
mais um implementador de técnicas. Ele trata de tentar criar um espaço para a
conversação, busca compartilhar e acompanhar a visão de mundo trazida pela família,
para co-construir realidades alternativas, novas conotações, com as quais o sistema
terapêutico desenvolva novas perspectivas que não trazem em si o comportamento
sintomático (Hoffman, 1994).
Não se trata de solucionar problemas, mas de solucionar impasses na resolução
de problemas, através da mudança de perspectiva que permita um melhor agenciamento
do próprio sistema para tomada de decisões e mobilização de seu potencial auto-
organizativo. A terapia introduz complexidade nas narrativas, sugere ações, que não têm
caráter fundante, mas que dão lugar ao surgimento de alternativas possíveis de ação.

“A tarefa terapêutica é facilitar o diálogo entre


diferente vozes do sistema, operando com a ambigüidade,
fontes de mal-entendido e contradições, diferenças que
permitam gerar descrições mais abrangentes, menos
antagônicas do problema compartilhado. Neste sentido, a
terapia deve promover um canal de expressão”. (Rapizo,
Rozana.1998, p.75).

A intervenção é feita através de perguntas conversacionais, reflexivas,


circulares. Perguntas que procuram explorar a influência do problema na vida da família e
a influência da família na vida do problema. Investigam conexões, padrões, relações.
Perguntas conversacionais, são aquelas que abem espaço para novas perguntas e criam

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oportunidade para que novos significados do cliente emerjam e promovam a mudança de
visão e comportamento.
Rapizo (1998) divulga o primeiro modelo discursivo ou de conversação para a
terapia de família. Adotando estas premissas, o terapeuta, ou equipe terapêutica
questiona também suas próprias crenças a respeito da família e de seu trabalho. Temos
então, a valorização de um contexto terapêutico mais colaborativo e menos hierárquico.

Psicanálise
A Função Materna
Abandonar ou ser abandonado pela família, viver circulando entre sua família e
outros espaços, utilizar drogas, envolver-se com o crime, ou desenvolver uma estrutura
emocional frágil e imatura é algo que pode acontecer com qualquer sujeito, independente
de sua classe social, sua condição cultural, educacional ou religiosa (MACIEL,
ROSEMBURG, 2006).
A teoria psicanalítica propõe como base fundamental para a estruturação da
personalidade de um indivíduo principalmente a qualidade da interação entre o recém-
nascido e sua mãe. A ausência de pai, mãe, figuras cuidadoras constantes podem
promover dificuldades na formação da personalidade. Uma mãe suficientemente
equilibrada e amadurecida é essencial para atender as necessidades físicas e emocionais
de seu bebê e, auxiliá-lo na construção de sua personalidade (MACIEL, ROSEMBURG,
2006).
De acordo com Maciel e Rosemburg (2006) a condição de desamparo em que o
recém-nascido chega ao mundo estabelece uma necessária relação de dependência com
sua mãe. Devido a esse tipo de relação, necessária no início da vida, o bebê é
intensamente afetado na construção de sua personalidade pela natureza dos laços
maternos. A mãe, por sua vez, tem sua disponibilidade afetiva, ou seja, seu equilíbrio
emocional afetado, por uma extensa rede de influências internas e externas que
influenciam positiva ou negativamente suas condições de maternagem.
Sobre o comportamento social dos indivíduos, Klein (1971, apud MACIEL,
ROSEMBURG, 2006) escreve:

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“Ao considerar, do ponto de vista psicanalítico, o comportamento das pessoas no seu ambiente
social, é necessário investigar como o indivíduo se desenvolve desde a infância até a
maturidade. Um grupo – seja pequeno ou grande – consta de indivíduos num relacionamento
recíproco; e, portanto, a compreensão da personalidade é o fundamento para compreender a
vida social”.
Logo ao nascer, a criança precisa de cuidados intensos e, de proteção e
gratificação, devido à sua condição de desamparo, quase como um prolongamento do
estado anterior, porém fora do útero. A mãe que originalmente satisfez todas as
necessidades do feto através de seu corpo, continua a fazê-lo após o seu nascimento,
embora parcialmente por outros meios (BRENNER, 1975 apud MACIEL, ROSEMBURG,
2006).
Zimerman (1999), referindo-se a mãe suficientemente boa, afirma:

“Essa presença continuada da mãe que “entende e atende” essas necessidades básicas do
bebê vai propiciar para a criança um senso de continuidade, baseada na prazerosa sensação
de que ela “continua a existir.
Uma maternagem adequada também implica não só essa necessária presença da mãe, mas
também na sua condição de saber estar ausente, com isso, promover uma progressiva e
necessária “desilusão das ilusões” (p. 104).
Assim, a relação de apoio em um cuidador torna esse adulto o representante
externo da satisfação do bebê, fazendo com que o cuidador seja investido de energia
libidinal, isto é, de interesse, de importância, de amor. A sensação de grande tensão e
desconforto, provocada pela fome, por exemplo, que nos primeiros momentos de vida era
sentida como perigosa, gerando ansiedade, desloca-se agora para o medo da perda do
objeto de amor, isto é, daquele que supre prontamente às necessidades do recém-
nascido. Quem vê um bebê sendo amamentado percebe claramente a sensação de
prazer e relaxamento de que ele desfruta (MACIEL, ROSEMBURG, 2006).
O recém-nascido, que inicialmente está totalmente voltado para si mesmo, se
apóia no prazer que ele recebe de sua mãe, para começar a investir seu interesse em
uma outra pessoa, no caso a mãe (libido objetal). Essas experiências, de necessitar de
alguém e o medo de perdê-lo, vão acompanhar o indivíduo por toda a sua vida (FREUD,
1976 apud MACIEL, ROSEMBURG, 2006).
Melanie Klein (1982, apud MACIEL, ROSEMBURG, 2006), que nomeia este
vínculo de “Relações de Objeto”, aprofunda seus estudos e enfatiza sua importância para
a construção da personalidade: as relações entre o bebê e sua mãe, construídas

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principalmente no primeiro ano de vida, período de extrema plasticidade do recém-
nascido, acabam estabelecendo desde muito cedo o modelo básico de como ele se
relacionará consigo mesmo e com os outros, durante a sua vida.
Esse modelo básico o acompanhará sem grandes mudanças, na maioria dos
casos, até a vida adulta, embora ele possa viver experiências que tragam enriquecimento
e progresso pessoal (MACIEL, ROSEMBURG, 2006).
Segundo os autores, no princípio, a criança não tem noção da realidade exterior, o
mundo é ela própria, envolvida com suas sensações e emoções. Quando as experiências
de frustração e ansiedade vão sendo repetidamente aliviadas por alguém, elas permitem
à criança ter noção de uma realidade externa, inicialmente representada pelo seio de sua
mãe. Depois, ela vai progressivamente percebendo o outro de maneira parcial,
primeiramente o seio, o cheiro, a voz, até finalmente formar a noção de uma pessoa total.
Na relação de aleitamento, o bebê vai introjetando a disposição afetiva da mãe em
relação a ele, e, assim, vai criando internamente uma representação mental daquele
“objeto”. A mãe vai fornecendo maior ou menor quantidade de libido (afeto, desejo,
interesse, ansiedade, medo, rejeição) e este é um fator crucial no desenvolvimento do
indivíduo (MACIEL, ROSEMBURG, 2006).
O estresse provocado pelo estado de frustração pode gerar no bebê um intenso
sentimento de ódio, vivido como uma ameaça terrorífica à sobrevivência, sob a forma de
temor de aniquilamento. Quando a quantidade de frustração é demasiadamente intensa
para o bebê, entra em ação um mecanismo mental rudimentar, primitivo, mediante ao
qual a criança projeta para fora de si e “coloca” no seio da mãe todos aqueles conteúdos
agressivos, dos quais ela precisa se livrar, pois não consegue senti-los como algo próprio
(MACIEL, ROSEMBURG, 2006).
O ódio passa, então, a ser concebido como vindo de fora, tornando-se o seio
materno um objeto de perseguição que gera na criança um temor de ser destruída por um
seio mau e perseguidor. Caso a mãe se sinta muito angustiada com as reações do bebê e
não seja capaz de digerir internamente toda a angústia e raiva que o bebê projeta sobre
ela, acaba interagindo com a criança em um estado ansioso, carregado de sentimentos
ambivalentes, de insegurança e raiva, provocando no bebê a fantasia inconsciente de que

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ele é possuidor de elementos muito destrutivos e, aquele seio, objeto de tal ódio, torna-se
um objeto com conteúdos maléficos e poderes de destruição (MACIEL, ROSEMBURG,
2006).
Nessas condições, o ego do bebê não pode se desenvolver adequadamente e a
criança sentirá o mundo como um lugar hostil, que não tolera suas angústias, sua raiva
ou, ela mesma, como um todo (MACIEL, ROSEMBURG, 2006).
De acordo com Maciel e Rosemburg (2006) a experiência de ser alimentado,
acariciado, olhado nos olhos e de ouvir as palavras carinhosas da mãe gera no bebê a
vivência de um seio bom, gratificador, que faz com que ele tenha a experiência de algo
externo bom, assegurador, tranqüilizante.
Quando a mãe é capaz de perceber as angústias de seu filho, pode tolerá-las e
metabolizá-las emocionalmente, para, em seguida, aplacar seus medos, tranqüilizando-o;
assim, ela vai reafirmando para ele a confiança no mundo (interno e externo) como um
lugar em ele que se desenvolve (SOIFER, 1992 apud MACIEL, ROSEMBURG, 2006).
Quando o recém-nascido sente que seu ódio pode ser acolhido, compreendido, e
que sua mãe pode manter seu afeto e continuar cuidando dele, ele pode passar para um
outro modo de conceber o mundo e de se relacionar com ele. Nessa outra maneira de
atribuir significado à experiência, há o reconhecimento da destrutividade como própria e,
portanto, dos danos que ela pode causar ao objeto, havendo maior consciência da
separação entre sujeito e objeto. A consciência da destrutividade como parte do próprio
bebê desperta nele culpa e remorso, e a atitude predominante é a de procurar reparar os
danos causados, buscando dessa maneira evitar a perda ou destruição do objeto
concebido como satisfatório (MACIEL, ROSEMBURG, 2006).
Em uma família a interação afetiva é bastante operante (mesmo naquelas em que
há aparente frieza e distanciamento), tendo importantes reflexos sobre o mundo interno
de seus membros, principalmente no das crianças.
Circunstâncias adversas dentro da família podem estabelecer em um ou mais dos
seus membros desequilíbrios emocionais agudos e, dependendo da intensidade do
estímulo, do tempo de duração da adversidade e as características pessoais do indivíduo,
esses desequilíbrios podem vir a se tornar crônicos (MACIEL, ROSEMBURG, 2006).

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Em geral, as crianças e as personalidades mais frágeis são as que sofrem os
maiores agravos. Para uma criança pequena, que possui um aparelho psíquico ainda em
desenvolvimento, circunstâncias persistentes de extrema frustração e estresse podem
afetar marcadamente a constituição de sua personalidade.
É fundamental considerar a ressalva de Klein (1971, apud MACIEL,
ROSEMBURG, 2006) ao afirmar que:

“Mesmo o bom efeito da criação nos primeiros tempos pode ser, em certa medida, anulado
através de ulteriores experiências prejudiciais e maléficas, assim como as dificuldades
surgidas no começo da vida podem ser mitigadas através de subseqüentes experiências
benéficas. Ao mesmo tempo, convém recordar que algumas crianças parecem recordar
condições externas desfavoráveis sem grande dano para seu caráter e estabilidade mental, ao
passo que em outras, apesar de um ambiente favorável, manifestam (....) sérias dificuldades”.
Observa-se que a hipótese psicanalítica postula a importante vinculação entre o
desenvolvimento emocional de uma criança, e as circunstâncias em que se dá, tanto a
gestação como os primeiros anos de vida. A dificuldade em proporcionar um ambiente
positivo, para o desenvolvimento emocional da criança, pode ocorrer em qualquer nível
social, entretanto, as dificuldades socioeconômicas pelas quais passam algumas famílias
é um agravante, afetando negativamente a disponibilidade emocional dos pais.
SAIBA MAIS...
Spitz: efeitos nocivos da privação materna
Nascido em Viena em família húngara, René A. Spitz (1887-1974) passou parte de
sua vida em Budapeste, onde se formou em medicina e foi encaminhado por Ferenczi a
uma análise didática com Freud em 1911. Em 1938 emigrou para os Estados Unidos
onde exerceu atividades clínicas e pesquisas (ZIMERMAN, 2001).

Spitz comparou o desenvolvimento psicoafetivo de duas populações de crianças:


filhos de mães em uma instituição penitenciária onde recebiam cuidado materno durante o
dia com o auxílio de uma enfermeira; e crianças criadas em orfanatos em que apesar de
receberem cuidados de higiene e alimentação adequados, careciam de qualquer contato
humano caloroso durante grande parte do dia. No orfanato, organizado e limpo, as
crianças mostravam um sensível retardamento em seu desenvolvimento mental e
progressiva debilidade física, contrastando fortemente com o quadro do berçário da prisão
de mulheres, onde se via desenvolvimento acelerado e sadio (BÖING; CREPALDI, 2004;

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COBRA, 1998). Spitz concluiu que a falta de contato materno era o fator responsável do
prejuízo no desenvolvimento nas crianças do orfanato, sendo a relação entre mãe e filho
de fundamental importância durante o primeiro ano. “As privações em outras áreas como
no raio da percepção ou locomoção podem todas ser compensadas por relações mãe e
filho adequadas", diz Spitz (apud COBRA, 1998).

Dessa forma, Spitz afirma que crianças até 18 meses de idade, se submetidas a
alguma forma de abandono prolongado ou a uma longa hospitalização, privadas dos
cuidados maternos, apresentam uma profunda alteração física e psíquica denominada
hospitalismo, que se desenvolve progressivamente e se manifesta por sintomas clínicos
tais como: atraso do desenvolvimento corporal, prejuízo da motricidade fina, dificuldade
de adaptação, atraso da linguagem, menor resistência às doenças e, em casos mais
graves, entram num estado de apatia e de morte (ZIMERMAN, 2001).

Outro fenômeno também descrito por Spitz é a depressão anaclítica. Este termo
designa um estado depressivo da criança, uma apatia generalizada, decorrente do
afastamento súbito e prolongado da mãe, depois de ter-se estabelecido um bom vínculo.
Quando a mãe retorna, na maior parte das vezes a situação volta ao normal. Caso
contrário, a depressão pode se agravar, situação esta característica da depressão
anaclítica mais grave, isto é, o referido hospitalismo (ZIMERMAN, 2001).

Nestes casos de crianças que embora bem tratadas ficam por longo tempo
internadas em creches ou hospitais sem a presença física da mãe, podemos observar a
maior incidência de adoecimento e morte, pelo fato de que a depressão abala o sistema
imunológico, facilitando o aparecimento de doenças infecciosas (ZIMERMAN, 2001).

Além de olhar para as patologias ligadas a ausência da mãe, Spitz também busca
a compreensão dos fatores constitutivos do processo de maturação e desenvolvimento da
criança, e para isso formula o conceito de organizador. Na embriologia, o grupo de células
organizadoras se diferencia das outras por ser portador de uma informação genética
capaz de induzir um desenvolvimento especifico. Analogamente, o desenvolvimento da
criança passa por três organizadores, como pontos nodais das transformações: o sorriso

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espontâneo aproximadamente ao terceiro mês, a angústia do oitavo mês, e a capacidade
de dizer não, por volta dos dois anos de idade (ZIMERMAN, 2001).

Evoluindo de um estado passivo para um estado ativo, a criança, no momento em


que passa a efetuar ações dirigidas, torna-se capaz de utilizar o sorriso como resposta,
formando-se assim o protótipo de base de todas as relações sociais posteriores.
Constituindo-se como um esquema de comportamento, o sorriso surge a partir do
estabelecimento de uma comunicação e inter-relação entre mãe e bebê. Desse modo, a
comunicação se faz por meio de sinais cinestésicos no quadro do “clima afetivo” que se
constrói entre eles, no qual as experiências repetidas de situações de prazer e desprazer
irão possibilitar a manifestação dos primeiros afetos de prazer através do sorriso, ou
afetos de desprazer pelo choro. O fenômeno da resposta de sorriso é não somente o
indicador de um afeto (manifestação da atividade pulsional subjacente), mas também
como a modalidade de operar dos primeiros processos de pensamento, pois pressupõe
traços mnêmicos iniciais. Contudo, o afeto de prazer não deve prevalecer sobre o
desprazer, já que este último é também de suma importância como catalisador do
desenvolvimento da criança. É o entrecruzamento entre estas duas pulsões que leva a
criança a dirigir-se à pessoa mais fortemente investida de afeto, permite o progressivo
surgimento da autonomia, e possibilita também o início das verdadeiras relações de
objeto (DUQUE,2008).

No oitavo mês, a criança já possui uma capacidade de diferenciação perceptiva


diacrítica 4 bem desenvolvida, o que pode ser observado quando o bebê encontra-se
perante um desconhecido, compara seu rosto com os traços mnêmicos do rosto familiar
da mãe e reage por um comportamento de recusa e/ou choro. Essa situação caracteriza a
chamada “angústia do oitavo mês”, também conhecida como “medo do estranho”, uma
angústia da perda do objeto. Diante do contato eminente com um rosto estranho, a
criança sente que a mãe a abandonou. Tal angústia é um indicador do segundo
organizador psíquico, revelando o estabelecimento de uma verdadeira relação objetal,

4
Percepção circunscrita/localizada, dotada de intensidade, que posteriormente evolui por intermédio dos
órgãos sensoriais periféricos (córtex), que conduzem aos processos cognitivos/conscientes (DUQUE, 2008).

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pois a mãe já está interiorizada e se tornou-se um objeto libidinal, privilegiado em termos
visuais e afetivos. Este momento marca o surgimento de importantes transformações no
desenvolvimento: a criança progride nos setores perceptivo, motor e afetivo (DUQUE,
2008).

Por conseguinte, esquemas de ação, imitação e identificação denotam uma


crescente autonomia em relação à mãe, indicando a passagem para a abertura social. Da
mesma forma, a aquisição do não também marca tal passagem. A autonomia crescente
da criança no fim do primeiro ano exige que a mãe responda de forma diferente à conduta
do filho, com interdições pelo gesto e pela voz (aceno negativo da cabeça, o “não”, etc.).
A criança se vê então num conflito entre sua vinculação libidinal com a mãe e o medo de
lhe desagradar e perdê-la. Para resolver esta tensão, surge o mecanismo de identificação
com o frustrador (com o objeto libidinal), e assim a criança incorpora as interdições no
Ego já constituído e operante, e exprime sua agressividade em relação à mãe. A partir do
momento em que a criança torna-se capaz de atribuir ao gesto um conteúdo ideativo, um
significado compartilhado socialmente, este aceno negativo com a cabeça transforma-se
no indicador do terceiro organizador psíquico, marcando o funcionamento psíquico pelo
Princípio de Realidade. O “não” é dessa forma o primeiro abstrato adquirido pela criança e
sua primeira expressão simbólica intencional e dirigida, sendo o início da comunicação
verbal num período de nítida obstinação, no segundo ano de vida (DUQUE, 2008). O fato
de que a criança possa dizer não representa uma função estruturante necessária para
que inicie a construção da noção de direito à propriedade e uma abertura para o caminho
de sua emancipação (ZIMERMAN, 2001).

As investigações de Spitz permitiram-lhe descobertas fundamentais sobre os


fenômenos patológicos na infância, referentes a perturbações da relação mãe/filho,
quando esta mãe se mostra insuficiente quantitativa e qualitativamente. Tais perturbações
se manifestam por problemas diversos, como o coma do recém-nascido, cólica do terceiro
mês, eczema infantil, e são denominadas afecções psicotóxicas (DUQUE, 2008).

O papel do pai.

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A paternidade é uma condição estruturante das relações familiares e seu exercício
vem sendo desafiado por novos valores de vida em sociedade. Tornar-se pai é exercer o
ofício paterno diante da concepção e do nascimento de um filho. Entretanto, o pai só
poderá operar sua função paterna em conformidade com a função materna (HOPPE et al,
2004).

Esta condição decorre dos desejos da mãe investidos no filho, e o desejo de dar
um pai ao filho fará parte do processo de construção do vínculo mãe-bebê. Assim, a mãe
ao atribuir ao filho um lugar em sua vida levará consigo sua experiência de ser filha de um
pai, condição que irá compartilhar com seu bebê (HOPPE et al, 2004).

Ao afirmar que o pai necessita da mãe para exercer sua função paterna coloca-se
a relação mãe-pai-bebê como um eixo fundador do psiquismo da criança. Ainda que o pai
esteja ausente, sua condição de terceiro na relação mãe-filho permite à criança a
experiência de diferenciação, ruptura e reconhecimento da vida social.

O pai ou a função paterna corresponde a uma marca na formação da identidade


do filho, inicialmente como uma imagem antecipada pela mãe – a imagem de um pai - e,
posteriormente, como uma presença física – a presença de um pai (HOPPE et al, 2004).

O desejo masculino de ter um filho, segundo Brazelton (1992, apud HOPPE et al,
2004), é baseado no desejo do menino de ser igual à sua mãe. Também é encontrando
no homem o desejo narcisista de ser completo e onipotente, se identificando com o
próprio filho, bem como o desejo de reproduzir (espelhar) a própria imagem. Esta pode
ser umas das razões pelas quais os pais preferem filhos homens. O desejo masculino de
ter um filho também é influenciado pela rivalidade edipiana, onde a geração de um filho
representa um modo de o pai igualar-se ao próprio pai, apesar de que a criação do filho
possa vir a ser uma oportunidade de superá-lo.

Aberastury e Salas (1984, apud HOPPE et al, 2004) realizaram um estudo sobre a
paternidade através do resgate de sua referência no texto psicanalítico freudiano. O
percurso do conceito de paternidade em psicanálise parte da obra Psicologia das massas
e análise do Eu, de 1921, em que Freud conceitua quatro categorias que definem as

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posições do sujeito em relação ao seu semelhante: a de modelo, a de auxiliar, a de objeto
e a de adversário.

Na posição de modelo, o pai assume a referência de um terceiro semelhante que


se apresenta como vínculo de identificação. A posição de primeira força auxiliar garante
ao pai a outra posição, de objeto de satisfação e de hostilidade. Como o pai não responde
inicialmente às pulsões de autoconservação, a criança não experimenta a partir dele a
imposição da realidade. O pai encontra-se, inicialmente, na posição da libido narcisista de
escolha anaclítica de objeto. Como identificação o pai vem a ser o objeto que se deseja
ser, como objeto sexual, o que se deseja ter. Tal como o seio materno que é
experimentado pelo bebê como parte de si – ele é o seio, o pai é tomado pela criança
como objeto de identificação. A criança volta-se ao pai, inicialmente, como algo que se
deseja ser, como parte de si, para, posteriormente, desejar o pai como algo que almeja
ter, recuperar. A mudança de posição vai exigir da criança a superação da angústia de
castração (HOPPE et al, 2004).

Mais além da condição de objeto de desejo, o pai foi situado na obra de Lacan
como uma função central na realização do Édipo. Em seu texto inaugural, Lacan (1885)
refere a importância do pai nos complexos familiares. Aponta que a plenitude edípica dos
conflitos é exaltada nas neuroses familiares e que os processos neuróticos na família se
contrapõem aos psicóticos (HOPPE et al, 2004).

Os complexos que compõem as imagos representativas dos objetos primordiais


revelam tendências da sexualidade próprias da primeira infância que buscam satisfação
por via auto-erótica, através das sensações de prazer e desprazer. Propõe que o
momento crucial está localizado na curiosidade da criança pequena sobre sua origem,
sua vinculação à mãe e no reconhecimento da presença do pai, ao mesmo tempo, na
revelação do mistério da concepção e na representação do impedimento da efetivação
das pulsões sexuais dirigidas à mãe. Este momento, de constituição da família, foi
compreendido por Freud como nodal para o desenvolvimento das neuroses e fonte dos
subsídios para sua concepção sobre o complexo de Édipo (HOPPE et al, 2004).

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Ao voltar-se para o pai, a criança vai rompendo com as amarras que ainda a
mantêm presa à mãe. Através do pai a criança buscará segurança para afastar-se da
mãe, para tolerar sua ausência e a incompletude diante da vivência de autonomia. O pai
vem a ocupar um lugar de indicação da mãe. Isto significa que a mãe volta-se para este
homem que desejou como pai de seu filho (podendo ser o pai biológico ou outro) e levará
à criança este modelo de investimento libidinal necessário (HOPPE et al, 2004).

Permitindo ao filho que também possa voltar-se ao pai como objeto de desejo, a
mãe proporciona a possibilidade de sustentação de uma existência longe dela. Assim, a
criança poderá buscar neste outro o preenchimento de uma falta. O fracasso da função
paterna ou a impossibilidade da criança de poder referir-se ao pai simbólico é próprio da
psicose (HOPPE et al, 2004).

Nesta situação não há possibilidade para a criança de existir fora do discurso


materno, ficando ela presa em uma existência que não é sua – na dependência materna.
Na psicose, o sintoma se caracteriza através de uma imagem alucinada ou a
certeza de um delírio. Isto significa que o sujeito buscará o preenchimento da falta –
diante da angústia de castração - sem a possibilidade de voltar-se a um terceiro e
permanece criando uma realidade delirante, alucinada, construída na psicose (HOPPE et
al, 2004).

Quando a mãe não delimita para a criança, no seu discurso, qual o lugar do pai na
relação familiar, ou seja, qual o objeto de seu desejo, poderá conduzir a criança a um
equívoco na identificação do terceiro do investimento simbólico no pai. O lugar terceiro na
estrutura edipiana poderá permanecer fechado no impedimento de sua função de
representação de uma falta ou deslocado. Poderá ser assumido como uma falta não
simbolizável, ou seja, existente mas inacessível, própria da estrutura perversa e a criança
permanecerá na fronteira dialética do ser (objeto do desejo da mãe) e do ter (o objeto do
desejo da mãe, o pai) (HOPPE et al, 2004).

No caso da perversão, a passagem do registro do ser para o do ter, segundo Dor


(1991, apud HOPPE et al, 2004) se efetuará num âmbito psíquico específico, em que o
reconhecido permanece clandestino, na desmentida. Assim, a falta será representada

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enquanto não representação e a criança não apresentará a psicose, mas sintomas que
revelarão enganos, mentiras e outras formas de atuação. A experiência de separação da
mãe marcará o surgimento do Eu e será protótipo de separações posteriores na vida
sujeito.

Na posição de um outro em relação a uma alteridade a criança poderá situar,


também, o lugar simbólico do terceiro ou o lugar do pai. Portanto, ao situar o lugar de um
pai será situado o lugar de um filho libidinizado em um espaço psíquico diferenciado e
como conseqüência do projeto do casal. Os marcos que remetem à experiência de
separação da mãe serão tomados, por sua similaridade, a um perigo de castração e o
sintoma pode surgir, representando no sujeito um momento de sua experiência em que
ele não sabe se reconhecer, uma forma de divisão da personalidade (HOPPE et al, 2004).

Lacan (1985, apud HOPPE et al, 2004), ao assumir que o sujeito será condenado
a repetir indefinidamente o esforço de desligamento da mãe, apontava para o perigo da
estagnação psíquica manifesta no corolário social da família através das patologias
psíquicas que tomam a forma de psicoses, perversões e neuroses, além de sintomas
diversos.

“O desequilíbrio da função paterna gera os vários tipos de neurose, de perversões, de


homossexualidade, de transexualidade. A maneira como se vive o efeito da função paterna é
determinante do tipo da patologia de cada sujeito.” (HURSTEL, 1999, p. 12).
Do ponto de vista da ascensão da paternidade no homem, que enfrenta pela
primeira vez a condição de pai, Françoise Hurstel (1999, apud HOPPE et al, 2004)
enfatiza que não existe a questão do pai, existe a questão do pai e do filho:

“...ao tornar-se pai, o filho deve se reconhecer outro em relação ao seu pai. Deve trocar o
registro de identificação inconsciente, e, de alguma forma renunciar a sua condição de filho”
Ao ascender à condição de pai, o filho depara-se com sua posição entre seu
próprio pai, tomado como referência, e seu filho que está agora sob sua responsabilidade.
Nesta troca, operada dentro do meio familiar, do ponto de vista social e cultural,
cada pessoa só pode ocupar um lugar de cada vez, para que não haja nenhuma confusão
(HOPPE et al, 2004).

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Na verdade, não é o termo que importa (pai, mãe, filho, filha), mas a relação que
se estabelece entre eles. O filho que ascende à paternidade estará posicionado entre as
expectativas da cultura quanto ao seu papel de pai, e seus ideais calcados na relação
estabelecida com seu próprio pai.

Hurstel (1999, apud HOPPE et al, 2004) utiliza o conceito de permutação


simbólica, de Legendre presente na obra L’inestimable objet de la transmission (Fayard,
1985). Trata-se de uma referência a lugares simbólicos na relação de parentesco, em um
processo em que o pai continua sendo filho de seu pai, porém, ocupa a partir da sua
própria paternidade um lugar simbólico na cadeia de gerações, como elo transitório, não
mais como fim.

Hurstel acrescenta que o campo da paternidade deve incluir três termos: a função,
o papel e a pessoa. A função corresponde à ordem da linguagem, àquilo que afirma
simbolicamente a existência do pai. O papel do pai é definido pelos sociólogos e carrega
as ações esperadas, seja pela sociedade ou pela família para que o pai seja considerado
“um bom pai”. O papel do pai é da ordem do imaginário, que povoa os ideais sociais e
sustenta comportamentos e condutas consideradas paternas. A pessoa concreta do pai
vem a ser o homem designado a ter este papel na família, com reconhecimento legal das
leis sociais em vigor (HOPPE et al, 2004).

A filiação é um mecanismo inerente à permutação simbólica. A psicanálise aponta


que a inscrição do filho no meio familiar ocorre em dois tempos: o primeiro, no seu
nascimento, como princípio genealógico, e o segundo a partir do tempo familiar, com a
triangulação edipiana.

A ordem da filiação põe em questão o direito a uma identidade estável. Esta


condição caracteriza uma busca sobre a origem de cada sujeito, direcionada pela questão
do desejo daqueles que esperavam por este filho muito antes de seu nascimento (HOPPE
et al, 2004).

Uma vez condicionada a uma incidência subjetiva, esta identidade constitui-se na


busca do sujeito por aquilo que fundou, no reconhecimento por seus pais. O
reconhecimento pelos pais independe da condição de descendência consangüínea,

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podendo ser fundado mesmo diante de uma condição de adoção em decorrência de
fertilização, doação de esperma ou outro procedimento da ciência. A dimensão subjetiva
da paternidade é que permite o estabelecimento e manutenção do laço de filiação do pai
com seu filho (HOPPE et al, 2004).

Conclui-se que a paternidade é uma condição estabelecida pela cultura e


imprescindível para o desenvolvimento emocional da criança, menina ou menino. O pai
real é a pessoa que se coloca como alteridade diante da estreita relação do filho com a
mãe e, ao receber o olhar materno, estará sendo reconhecido como uma nova
possibilidade de vinculação a esta criança. Pode ser o companheiro amoroso, o avô, o tio
ou aquele a quem a mãe oferece como vínculo ao filho (HOPPE et al, 2004).

11. A família no discurso jurídico: tipos de processo; perícia; orientação,


acompanhamento e intervenção nos conflitos.
Atribuições do Psicólogo Judiciário nas Varas de Famílias e Sucessões
Os psicólogos judiciários contratados para as Varas de Infância e Juventude,
foram incorporados aos Juizados da Família, através de provimento do tribunal de Justiça
de São Paulo em 1985. Os profissionais atuam como peritos em processos contenciosos,
que envolvam decisões sobre o futuro dos filhos.
O trâmite judicial desses casos mantém uma estrutura bélica de contato, na qual a
fala das pessoas é muitas vezes é conduzida por seu representante, que trás para os
autos os argumentos lógicos que possam levá-los a ganhar a causa, e não,
necessariamente, oferecer às pessoas uma oportunidade de dirimir seus conflitos
conjugais e/ou familiares sem intervenção de terceiros qualificados (BERNARDI, 1999).
Bernardi (1999) cita trabalhos de pesquisa na área (BRITO, 1993; SAMPER, 1995)
que apontam para outras formas de intervenção diferenciada das perícias, em que as
partes assumem um papel mais diretivo e participativo nas deliberações sobre sua própria
vida, quando vistas e tratadas como sujeitos da ação, num diagnóstico compreensivo.
Neste sentido, os resultados são trabalhados principalmente com os indivíduos do

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caso e expresso ao magistrado com a anuência dos implicados, que podem assumir uma
ação mais responsável e menos reativa nas situações de audiência.
Para Brito (1999) o trabalho solicitado aos psicólogos que trabalham junto às
Varas de Família, é de que em caso de disputa de posse e guarda, ou em desavenças
sobre critérios de visitação, o profissional aponte o genitor mais apto à guarda da criança,
ou analise a existência de impedimentos para as visitas.
A designação para a atuação de uma equipe interdisciplinar, junto aos juízos de
família, para atendimento dos membros do núcleo familiar é uma necessidade.
Cabe a esta equipe, além do auxílio aos pais, o atendimento às crianças e jovens,
facilitando esclarecimentos, tirando dúvidas e trabalhando ansiedades, visualizando a
criança como um sujeito que tem direito à expressão e à informação (BRITO, 1999 apud
BRITO, 1999).
O trabalho desenvolvido por psicólogos visa oferecer subsídios para as
intervenções da Justiça, buscando contribuir para o decréscimo das conseqüências, por
vezes desastrosas, de um divórcio. A prioridade deve ser a compreensão de cada grupo
familiar, assim como dos anseios e dificuldades vivenciadas por seus membros.
Atenção especial deve ser dada quando da regulamentação de visitas, evitando-se
que modelos rígidos e fixos de relacionamento sejam tratados como os únicos padrões
possíveis e aceitáveis. É preciso tomar cuidado para que este encontro entre pais e filhos
não seja artificial, a criança tem direito a continuar a manter um estreito relacionamento
com os dois genitores, mesmo após a separação conjugal.
Atribuições do Psicólogo nas Varas da Infância e Juventude
A importância da atuação do psicólogo na instância judiciária repousa na
possibilidade desse profissional abordar as questões da subjetividade humana, as
particularidades dos sujeitos e das relações nos problemas psicossociais, expressos nas
Varas da Infância e Juventude, com o contexto social e político que as definem
(BERNARDI, 1999).
Assessorar o magistrado na distribuição da justiça é a tarefa capital do
profissional, que tem várias atribuições (BERNARDI, 1999):

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• Realizar estudos de casos, oferecendo elementos para se buscar alternativa mais
viável, no cumprimento do ECA, em defesa dos direitos das crianças e
adolescentes;

• Discutir medidas de proteção sócio-educativas mais coerentes à situação de


crianças e adolescentes, diagnosticada no estudo de caso, contextualizando o
problema e os recursos comunitários;

• Participar da audiência e apresentar o parecer técnico sobre o caso, esclarecendo-


o sempre que necessário, resguardando os princípios éticos da profissão;

• Proceder a orientações, acompanhamentos e encaminhamentos necessários à


família e à criança ou adolescente;

• Estimular e efetivar relações da instituição judiciária com as entidades e conselhos


do município, numa ação inter-institucional que promova o intercâmbio em uma
rede e uma política de atendimento eficaz;

• Verificar o cumprimento do ECA;

• Promover a politica de atendimento à criança e ao adolescente no município


enquanto os conselhos tutelares municipais não estão instalados;

• Participar e promover eventos relacionados à área (cursos, palestras,


supervisões), que permitam a reciclagem permanente;

• Promover estudos e debates visando a análise de fatores que predispõem ou


contribuem para a manutenção do fenômeno da menoridade, bem como as
problemáticas da família.
Para cumprir estas atribuições o psicólogo atua juntamente com o Serviço Social
Judiciário, o representante do Ministério Público e o Juiz da Infância e Juventude, todos
inseridos no contexto institucional.
Cabe ao psicólogo a análise das alternativas disponíveis para se buscar condições
capazes de satisfazerem as necessidades psicológicas das crianças e adolescentes, cujo
destino será decidido judicialmente. O universo de atuação envolve a criança, o

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adolescente, sua família ou responsáveis e colaterais, na busca da compreensão e seu
mundo relacional no contexto sócio-cultural onde vive (BERNARDI, 1999).
O serviço de psicologia reflete a demanda institucional e seu atendimento é
dividido por áreas (BERNARDI, 1999):

1. Colocação de crianças em família substituta e/ou de apoio, que pressupõe as


medidas judiciais correpospondentes: guarda, tutela, adoção, delegação e
destituição do pátrio poder, utilização de recursos como abrigos temporários,
cadastro de pessoas interessadas em adoção, cadastro de famílias de apoio,
cadastro de crianças e adolescentes disponíveis para adoção, cursos de
esclarecimento para pais substitutos.

2. Orientação, acompanhamento e apoio temporários à criança, ao adolescente e à


família, em situação de desajustes familiar e desvios de conduta como fuga do lar,
uso de tóxicos, pedidos de internação, consentimento para casamento, suprimento
de idade etc.

3. Atendimento de denúncias sobre negligência, maus tratos, abuso sexual, violência


psicológica intra e extra familiar.

4. Atendimento a jovens com prática de delitos, com estudo de caso, visando à


discussão e avaliação de medidas sócio-educativas e de proteção, tais como
advertência, liberdade assistida, prestação de serviços à comunidade, semi-
internação e internação.

5. Fiscalização das entidades de atendimento governamentais e não-


governamentais.

6. Apuração de irregularidades em entidade de atendimento.

7. Proteção judicial dos interesses individuais, difusos e coletivos (ações cíveis).


Atribuições do Psicólogo nas Questões de Violência Intrafamiliar
O campo da violência doméstica é um “terreno movediço”, como afirma Miranda
(1998, apud CESCA, 2003), em que se mesclam fantasia e realidade, cena que causa

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horror e curiosidade. Diante do número imenso de variáveis culturais e psíquicas, torna-se
muito complexa a tarefa de bem lidar com este problema.
No que se refere à Psicologia Jurídica seu surgimento é bastante recente. A
participação do psicólogo nas questões judiciais começou em 1980, no Tribunal de
Justiça do Estado de São Paulo, quando um grupo de psicólogos voluntários orientava
pessoas que lhes eram encaminhadas pelo Serviço Social, basicamente apoio a questões
familiares, tendo como objetivo principal sua reestruturação e manutenção da criança no
lar (CESCA, 2003).
Brito (1999, apud CESCA, 2003) afirma que a idéia de que todo o Direito, ou
grande parte dele, está impregnado de componentes psicológicos justifica a colaboração
da Psicologia com o propósito de obtenção de eficácia jurídica.
Em se tratando de violência perpetrada no lar adentra-se na Psicologia Jurídica
aplicada à área Civil. Dessa forma pode-se pensar que: A função do profissional psi
consiste em interpretar a comunicação inconsciente que ocorre na dinâmica familiar e
pessoal [...] Seu objetivo é destacar e analisar os aspectos psicológicos das pessoas
envolvidas, que digam respeito a questões afetivo-comportamentais da dinâmica familiar,
ocultas por trás das relações processuais, e que garantam os direitos e o bem-estar da
criança e/ou adolescente, a fim de auxiliar o juiz na tomada de uma decisão que melhor
atenda às necessidades dessas pessoas. (SILVA, 2003 apud CESCA, 2003).
O psicólogo deve ter um olhar amplo, que contemple, além das demandas
particulares de cada sujeito (tratamento do abusador e do abusado), um envolvimento
maior com o social, pois não se pode descolar a violência do contexto social em que ela
está inserida.
Benevides (2002, apud CESCA, 2003) fala sobre a articulação entre saúde mental,
direitos humanos e profissionais psi, mostrando que as situações sociais, aquelas em que
se compartilham deveres e direitos, são geralmente percebidas como pertinentes ao
campo das ciências jurídicas, das ciências sociais. Ressaltando que esta clara dicotomia -
de um lado o indivíduo, de outro a sociedade - não se instala sem conseqüências.
A política de prevenção deve atingir, sensibilizando e capacitando, todos os atores que
tenham contato com pessoas vítimas de violência nas diferentes etapas do processo. Isto

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inclui os profissionais de saúde, os agentes policiais, membros do Poder Judiciário,
psicólogos e assistentes sociais (CESCA, 2003).
A abordagem deve ser multidisciplinar, sendo que a assistência ambulatorial ou
hospitalar precisa ser criteriosamente decidida pela equipe, particularizando cada caso. O
trabalho junto à família é imprescindível e não deve ser apenas pontual.
Essa família dever ser acompanhada durante um período que permita avaliar suas
demandas, propondo-se a partir de então intervenções adequadas (CESCA, 2003).
Pensando no psicólogo como facilitador da promoção da saúde, ele deve procurar
garantir os direitos fundamentais dos indivíduos, visando sua saúde mental e a busca da
cidadania. Do contrário, será mais um agente repressor.
Destituição do poder familiar, definição de guarda e regulamentação de visitas

Segundo ROVINSKI (2007) existe um número significativo de casos relacionados


à disputa do poder familiar sobre os filhos. Uma análise da realidade atual mostra que
esse índice está diretamente relacionado à crise por que passa a instituição do
casamento.
O Novo Código Civil (2002) garante o poder familiar (anteriormente denominado
pátrio poder) de forma igual para ambos os progenitores, sem alterar as relações entre
pais e filhos com a dissolução da relação conjugal.
Espera-se que, nos casos de rompimento do vínculo conjugal, os pais sejam
capazes de estabelecer, de forma consensual, a quem deverá ser estabelecida a guarda.
Isto é, definir aquele progenitor que será o guardião da criança, com quem deverá residir
e que se tornará prioritariamente responsável pela sua criação e educação. Ao outro
genitor deverá ser garantida uma forma de manutenção do vínculo, através do
estabelecimento de visitas. A instancia do judiciário só interferirá à medida que esse
acordo não seja consumado ou em que haja evidências de que um ou ambos os pais
estejam colocando em risco a integridade física ou psíquica da criança. (ROVINSKI,
2007)
Segundo o autor é necessário chegar a um acordo quanto à definição das
responsabilidades em relação ao suporte emocional e financeiro do filho. No sentido de
preservar o poder familiar por meio de intervenções que valorizem o papel dos pais na

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tomada de decisão. Nem sempre os progenitores estão disponíveis, ou possuem
capacidade para chegar a um acordo sobre a definição da guarda. Nesses casos, tem-se
observado a solicitação da perícia psicológica por parte do juiz. A solicitação tem por
objetivo esclarecer os conflitos existentes.
Noção de competência nas funções parentais
Segundo ROVINSKI (2007) a avaliação da competência para a manutenção do
poder familiar está diretamente relacionada à capacidade dos pais em garantir o bem-
estar de seus filhos.
Código Civil (2002) no artigo 1.638, quando diz:
Perderá por ato judicial o poder familiar o pai ou mãe que:
1. Castigar imoderadamente o filho;
2. Deixar o filho em abandono;
3. Praticar atos contrários à moral e aos bons costumes;
4. Incidir, reiteradamente, nas faltas previstas mo artigo antecedente.
É preciso buscar mediante análise de padrões relacionais, a compatibilidade entre
as necessidades da criança e as potencialidades para o atendimento dessas por parte
dos pais. O conceito de competência requer que seja descrito o que um pai (ou mãe)
pensa, faz, conhece e acredita.
Segundo ROVINSKI (2007) os cuidados parentais devem atender a três grandes
áreas de necessidades da criança:
1. Necessidades de caráter físico-biológico: aqui se inserem os cuidados de
alimentação, temperatura, higiene, sono, atividade física, integridade física e proteção
frente a riscos reais.
2. Necessidades cognitivas: envolve a estimulação sensorial, exploração e
compreensão da realidade física e social, aquisição de um sistema de valores e normas.
3. Necessidades emocionais e sociais: compreendem as necessidades
sociais e relacionais com o seu contexto (segurança emocional, identidade pessoal e
auto-estima, rede de relações sociais, atividades lúdicas, estabelecimento de limites de
comportamento), necessidades sexuais (educação e informação sexual).

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COMO AVALIAR A COMPETÊNCIA PARENTAL
De acordo com ROVINSKI (2007) espera-se que o psicólogo perito realize
entrevistas individuais com cada progenitor para colher dados de história pessoal, da
relação matrimonial e de sua relação com o filho. A entrevista inicial deve começar com
um convite para que a pessoa fale sobre os motivos que provocaram aquela avaliação.
No decorrer das entrevistas de coleta de dados deverão ainda ser investigados aspectos
referentes à: informações de sua família de origem (relações familiares, história de
vínculos afetivos, etc), história educacional, história de trabalho e adaptação atual ao
trabalho, tratamento psiquiátrico ou psicológico prévio, outros problemas médicos, história
de problemas com a lei (na infância, adolescência ou na vida adulta), problemas com o
uso de drogas lícitas ou ilícitas, história de abuso sexual, história prévia da relação
conjugal (a atual que se rompeu e anteriores se houver), situações especiais de estresse
relacionado a si e a seus parentes mais próximos.
É necessário um número de uma hora a dez ou doze horas para as entrevistas. No
entanto, conseguem-se os dados mais importantes entre duas a 3 horas da entrevista.
Existe a necessidade de se colherem dados da relação com a criança. Dados da
vida escolar, como manejam situações-problema, sistema punitivo e de obediência,
hábitos de higiene, história médica, padrões de desenvolvimento desde o nascimento.

Avaliação da personalidade do progenitor.


Deve-se partir para uma avaliação de personalidade de cada progenitor. São
indicados a aplicação de testes de nível intelectual (WAIS) e de personalidade (MMPI),
TAT, CAT, MMPI, Rorschach, Inventário Fatorial de Personalidade.

Avaliação da criança
Após a avaliação dos pais, deve-se proceder a avaliação da criança. ROVINSKI
(2007) sugere que se deve-se colher dados com a criança sobre sua rotina com cada um
dos progenitores. Sugere que se façam perguntas do tipo: como você se sentiria se o juiz
determinasse que você fosse morar com a sua mãe... e se ele determinasse que você
fosse morar com o seu pai? Em hipótese alguma a pergunta deve ser feita no sentido de

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“Com quem você quer morar?” Questões sobre rotina, métodos de punição ou
recompensa podem ser feitas através de exemplos concretos do dia-a-dia.
Os testes utilizados mais utilizados na avaliação de disputas de guarda são os
testes gráficos (HTTP e Desenho da família), com o uso também da entrevista lúdica.

Pericia sobre a definição de guarda e visitas


A perícia sobre a definição de guarda e visitas valoriza fundamentalmente as
condutas relacionais entre pais e filhos, é indicado pelos autores que, além das
entrevistas individuais e aplicação de testes se façam entrevistas conjuntas. Estas ficam
apenas contra-indicadas quando há suspeita de abuso sexual ou quando existir nível
muito elevado de ansiedade por parte da criança de defrontar-se com a figura
paterna/materna.(ROVINSKI, 2007)
A autor sugere que devem ser feitas entrevistas com terceiros ou também
chamadas de “contatos colaterais”, procurando caracterizar as entrevistas com outros que
não fossem aqueles diretamente referidos como parte do processo judicial. Salienta que
essas pessoas são, muitas vezes, da família e sempre próximas à criança – porque senão
não teria sentidos entrevista-las. O importante é que essas pessoas, chamadas para
complementar a avaliação, estejam diretamente relacionadas ao problema e tenham
informações pertinentes para prestar. Após a avaliação é realizado um laudo com as
informações será encaminhado ao juiz, que decidirá sobre a regulamentação das visitas.
A PRESENÇA DE MAUS-TRATOS E ABUSO NA AVALIAÇÃO DA COMPETÊNCIA
PARENTAL

A avaliação deve ser funcional. A avaliação deve ultrapassar a díade e os próprios


conceitos psicológicos, atingindo o contexto social, com os recursos da família extensiva e
da própria comunidade. (ROVINSKI, 2007)
Uma das tarefas desse tipo de avaliação seria explicitar as relações causais da
conduta de incompetência parental, de forma a compreender o seu significado. Assim,
enquanto a verbalização do intenso desejo em permanecer com a criança, ou a descrição
de condutas esperadas no cuidado parental, pode ser interpretada apenas como um
esforço momentâneo ou condutas dissimuladoras, o déficit nas funções parentais pode

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ser decorrente de vários fatores que, em função de suas características, terão
repercussões diferenciadas na definição da perda do poder familiar.
ROVINSKI (2007) apresenta como exemplo de determinantes causais:

 Estresse relacionado a crises situacionais – condutas inadequadas manifestadas


em reação a circunstâncias situacionais (abandono do marido, crise econômica)
contrárias aos padrões que já vêm de longo período.
 Estresse da situação avaliativa – a conduta parental durante o período de
avaliação pode não ser expressiva da maneira habitual, uma vez que pessoas ao
se sentirem avaliadas podem reagir de forma incapacitante.
 Ambivalência – a ambivalência pode não ser verbalizada nem conscientizada
pelos periciados, sendo a manifestação de condutas incapacitantes a
demonstração condutual de tal fenômeno.
 A falta de informações – certos pais reagem pobremente frente a questões de
sensibilidade quando questionados sobre aspectos de criação de seus filhos.
Porém, essas falhas podem ser decorrentes muito mais da falta de informação do
que de uma incapacidade propriamente dita. Podem ser pais capazes de
apreender condutas mais adequadas.
 Incapacidade um doença mental – a incapacidade pode estar ligada a estilos
comportamentais, deficiências na capacidade intelectual, doenças mentais ou
transtornos de personalidade entre outros.
Essas relações causais devem servir para explicar a disfuncionalidade da relação
entre pais e filhos.
A REALIZAÇÃO DO LAUDO PSICOLÓGICO PERICIAL

De acordo com ROVINKI (2007) o laudo final apresentado pelo psicológico deve
descrever todos os dados levantados e relaciona-los com a questão da competência
parental, finalizando com sugestões quanto à matéria legal que deu origem ao pedido de
avaliação. O perito psicológico realiza um “julgamento” quanto ao grau de incongruência
entre as habilidades parentais e as necessidades da criança, pois, é a partir da
identificação de compatibilidades e de incompatibilidades que se realizarão as sugestões

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quanto às condições de exercer o poder familiar. Em alguns casos, pode-se chegar à
conclusão de que a criança não estará segura com nenhum de seus progenitores, sendo
necessário colocar junto às sugestões a falta de condições dos pais para o cuidado com a
criança.

Segundo ROVINSKI (2007) A decisão da retirada do poder familiar é uma decisão


em que o prejuízo que a criança possa sofrer justifica a intervenção estatal – frente a uma
relação considerada única, quanto á intimidade e privacidade. A tomada de decisão
quanto à retirada do poder familiar dos pais (ou de um deles), envolve um julgamento a
partir de inúmeros fatores.

Cabe ao perito psicólogo apresentar evidências empíricas do bem-estar da


criança, deixando o julgamento final para o juiz. É preciso considerar o momento atual do
nível de cuidados parentais frente à criança; e também, fazer previsões sobre o efeito da
retirada do poder familiar de seus pais em sua vida futura, quando então, essa relação já
estará irremediavelmente danificada.

De acordo com ROVINSKI (2007), no âmbito moral o psicólogo não deve ir além
de descrever essas relações entre pais e filhos, além de descrever ou oferecer sugestões
sobre a situação imediata, as conseqüências previsíveis da retirada ou manutenção do
poder familiar, evitando-se as especulações que os próprios dados não permitem.

SINDROME DA ALIENAÇÃO PARENTAL


Definição
A Alienação Parental é um processo que consiste em programar uma criança para
que odeie um de seus genitores sem justificativa. Quando a Síndrome está presente, a
criança dá sua própria contribuição na campanha para desmoralizar o genitor alienado.
Origens
Em caso de separação é natural preocupar-se quando os filhos vão visitar pelas
primeiras vezes o outro genitor. Se o genitor é psicologicamente frágil, a ansiedade pode
aumentar em vez de diminuir, e desencadear um processo de alienação. O genitor
alienador muitas vezes é uma pessoa super protetora. Pode ficar cego por sua raiva ou

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pode animar-se por um espírito de vingança provocado pela inveja ou pela cólera. Vê-se
como vítima, injustamente e cruelmente tratado pelo outro genitor, do qual procura se
vingar fazendo crer aos filhos que o outro genitor tem todos os defeitos.
Nas famílias que apresentam muitas disfunções, o fenômeno implica várias
gerações. O genitor alienador é muitas vezes é apoiado pelos familiares, o que reforça
seu sentimento de estar com a verdade.
A criança é levada a odiar e a rejeitar um genitor que a ama e do qual necessita. O
vínculo entre a criança e o genitor alienado será irremediavelmente destruído. Com efeito,
não se pode reconstruir o vínculo entre a criança e o genitor alienado, se houver uma
separação de alguns anos.O genitor alienado torna-se um desconhecido para a criança.
O modelo principal das crianças será o genitor patológico, mal adaptado e possuidor de
disfunção. As crianças muitas vezes desenvolvem sérios transtornos psiquiátricos.
Induzir uma Síndrome de Alienação Parental em uma criança é uma forma de
abuso. Em casos de abusos sexuais ou físicos, as vítimas chegam um dia a superar os
traumas e as humilhações que sofreram. Ao contrário, um abuso emocional irá
rapidamente repercutir em conseqüências psicológicas e pode provocar problemas
psiquiátricos para o resto da vida.
Os efeitos nas crianças vítimas da Síndrome de Alienação Parental podem ser
uma depressão crônica, incapacidade de adaptação em ambiente psico-social normal,
transtornos de identidade e de imagem, desespero, sentimento incontrolável de culpa,
sentimento de isolamento, comportamento hostil, falta de organização, dupla
personalidade e às vezes suicídio. Estudos têm mostrado que, quando adultas, as vítimas
da Alienação têm inclinação ao álcool e às drogas, e apresentam outros sintomas de
profundo mal estar.
O sentimento incontrolável de culpa se deve ao fato de que a criança, quando
adulta, constata que foi cúmplice inconsciente de uma grande injustiça ao genitor
alienado. O filho alienado tende a reproduzir a mesma patologia psicológica que o genitor
alienador.
Como identificar a síndrome

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O fenômeno, que consiste em um genitor usar seus filhos contra o outro genitor, é
uma idéia fácil de compreender. Todavia, historicamente, o processo foi de difícil
identificação. Foi seguido de intermináveis procedimentos, saturados de muitas queixas e
confusos em detalhes que, por vezes, ao final se evaporaram por eles mesmos. É
importante, antes de diagnosticar isto, estar seguro que o genitor alienado não mereça, de
forma nenhuma, ser rejeitado e odiado por comportamentos realmente depreciáveis.
Deve-se confiar à tarefa a um profissional da saúde mental que conheça ou que
tenha estudado este tipo de enfermidade. É preciso que os genitores passem por uma
série de testes psicológicos, e que se formulem recomendações.
Nos manuais para pais e profissionais, onde se mostra pioneiro, Gardner
apresentou uma descrição detalhada do fenômeno identificando uma gama de
comportamentos das crianças e dos genitores.
IDENTIFICAÇÃO DA CRIANÇA ALIENADA
O genitor alienador confidencia a seu filho, com riqueza de detalhes, seus
sentimentos negativos e as más experiências vividas com o genitor ausente. O filho
absorve a negatividade do genitor e chega a ser de alguma maneira seu terapeuta. Se
sente no dever de proteger o genitor alienador.
Os filhos alienados absorvem as mesmas ilusões que o genitor alienador no
procedimento psiquiátrico chamado “loucura a dois”
Alguns comportamentos podem ser observados na criança que desenvolve a
síndrome como: campanha de descrédito em relação ao outro genitor, justificativas fúteis,
ausência de ambivalência, fenômeno de independência, sustentação deliberada, ausência
de culpa, situações fingidas, generalização da animosidade à outros membros da família
do alienado.
A criança desenvolve a síndrome em três estágios:
Estágio I leve: Neste estágio normalmente as visitas se apresentam calmas, com
um pouco de dificuldades na hora da troca de genitor. Enquanto o filho está com o genitor
alienado, as manifestações da campanha de desmoralização desaparecem ou são
discretas e raras. A motivação principal do filho é conservar um laço sólido com o genitor
alienador

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Estágio II Médio O genitor alienador utiliza uma grande variedade de táticas para
excluir o outro genitor. No momento de troca de genitor, os filhos, que sabem o que
genitor alienador quer escutar, intensificam sua campanha de desmoralização. Os
argumentos utilizados são os mais numerosos, os mais frívolos e os mais absurdos. O
genitor alienado é completamente mau e o outro completamente bom. Apesar disto,
aceitam ir com o genitor alienado, e uma vez afastados do outro genitor tornam a ser mais
cooperativos
Estágio III Grave Os filhos em geral estão perturbados e freqüentemente fanáticos.
Compartilham os mesmos fantasmas paranóicos que o genitor alienador tem em relação
ao outro genitor. Podem ficar em pânico apenas com a idéia de ter que visitar o outro
genitor. Seus gritos, seu estado de pânico e suas explosões de violência podem ser tais
que ir visitar o outro genitor é impossível. Se, apesar disto vão com o genitor alienado,
podem fugir, paralisar-se por um medo mórbido, ou manter-se continuamente tão
provocadores e destruidores, que devem necessariamente retornar ao outro genitor.
Mesmo afastados do ambiente do genitor alienador durante um período significativo, é
impossível reduzir seus medos e suas cóleras. Todos estes sintomas ainda reforçam o
laço patológico que têm com o genitor alienador.
Como tratar a Síndrome de Alienação Parental
A intervenção psicoterapeuta deve ser sempre amparada em um procedimento
legal e deve contar com o apoio judicial.
Medidas legais e terapêuticas
No estágio I Leve não é necessário nenhuma medida.
No estágio II Médio as medidas legais devem ser: deixar a guarda principal com o
genitor alienador, nomear um terapeuta para servir de intermediário nas visitas e para
comunicar as falhas ao tribunal, estabelecer penalidades para a supressão de visitas,
uma penalidade financeira (redução da pensão alimentícia), o pagamento de uma multa
proporcional ao tempo das visitas suprimidas, uma breve reclusão ao cárcere, em caso de
desobediência constante e reincidência, além da prisão, passar a guarda para o outro
genitor. As medidas terapêuticas devem ser: o controle das visitas pelo terapeuta

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responsável, aplicação de um programa terapêutico preciso, relato de falhas diretamente
aos juízes para que o tribunal execute as sanções previstas.
No estágio III- Grave as medidas legais devem ser: transferência da guarda para o
genitor alienado, nomeação de um psicoterapeuta para um programa de transição da
guarda do filho e eleição de um local para a transição. As medidas terapêuticas devem as
mesmas que no estágio II médio.
O tratamento da enfermidade deve incluir: a criança alienada, o genitor alienador
e o genitor alienado.
Fonte: www.apase.com.br

12. Violência doméstica.


Ver item 7 dessa apostila.

13. Paciente portador de sofrimento psíquico e a Justiça: Interdição civil;


psicopatologia e criminalidade; os princípios da luta anti-manicomial e o
acompanhamento dos pacientes em medida de segurança.
Análise Psicológica da Delinqüência: morbidade psiquiátrica
As elevadas taxas de morbidade psiquiátrica do adolescente em conflito com a lei
são um fenômeno universal com singularidades demográficas, econômicas e
socioculturais.
De acordo com Kessler et al. (2003) o Methodos for the Epidemiology of Child and
Adolescent Mental Disorder (MECA) encontrou um risco 20 vezes maior de haver algum
Transtorno de Conduta (incluindo personalidade anti-social, déficit de atenção e
transtorno opositivo desafiante) entre os adolescentes com abuso ou dependência atual
de álcool, maconha ou outra droga ilícita. Dos adolescentes dependentes químicos, 76%
apresentaram outro diagnóstico, comparado com 24.5% dos que não utilizavam
substâncias psicoativas.
Clark e colaboradores (apud KESSLER et al., 2003) encontraram que
adolescentes com dependência de álcool têm 7.1 vezes mais chance de ter Transtorno de

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Conduta, 2 vezes mais Transtorno Opositivo Desafiante, 2.8 vezes mais Transtorno de
Déficit de Atenção e Hiperatividade e 3.1 vezes mais Depressão do que os controles.
Quanto ao diagnóstico associado aos comportamentos geralmente qualificados
como delinqüentes, recorre-se com frequência ao sistema de classificação da DSM-IV
(American Psychiatric Association). De acordo com este manual, o transtorno anti-social
de personalidade é o diagnóstico que melhor tipifica a caracterização dos indivíduos cujos
comportamentos são predominantemente “desviantes”.
Segundo Kernberg (1995 apud LARANJEIRA, 2007), este diagnóstico apresenta
múltiplas imperfeições, nomeadamente ao incluir delinqüentes com características de
personalidade diversas, obscurecendo a distinção entre determinantes sócio-
culturais/econômicos e a psicopatologia da personalidade. O mesmo autor acredita que
os critérios da DSM-IV descrevem um conjunto indiscriminado de comportamentos
delinqüentes, negligenciando o transtorno anti-social de personalidade de tipo não
agressivo/passivo (no qual predominam os tipos de comportamento cronicamente
parasitas e/ou espoliativos, e não os agressivos), ou seja, há neste tipo de diagnóstico
uma ausência de foco nos traços da personalidade (KERNBERG, 1995 apud
LARANJEIRA, 2007).
O comportamento anti-social indica a presença de mentiras, furtos, burlas,
prostituição, incluídos numa tipologia de predomínio passivo-parasita e os assaltos,
violações e assassínio, característicos do comportamento de tipo agressivo. A
divergência entre estes dois tipos de doenças, respectivamente, prende-se a capacidade
dos primeiros sentirem culpa ou remorso, inexistente no transtorno anti-social agressivo,
no qual existe a ausência de quaisquer valores morais.
Existe assim a necessidade do comportamento anti-social ser definido em termos
do seu significado psicológico e não tanto pelos seus aspectos comportamentais ou
legais, na medida em que todos os indivíduos com transtorno da personalidade
apresentam características típicas de transtorno narcisista de personalidade, acrescidas
de patologia específica dos seus sistemas internalizados de moralidade.
Na origem deste tipo de perturbações encontra-se, como afirmado anteriormente,
carências nas primeiras relações afetivas, corroboradas pelos estudos de Spitz e Bowlby,

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onde o sentimento de forte desvalorização vai refletir-se em um Eu desvalorizado e em
um ideal do Eu grandioso que vem compensar as lacunas existentes. Também existem
evidências substanciais que relacionam aspectos do desenvolvimento precoce
(depressão materna, maus-tratos infantis, hostilidade dos pais) com o desenvolvimento de
padrões de comportamento anti-social. Estas carências causariam grandes dificuldades
na organização de parte da personalidade, cujo corolário seriam os problemas de
comportamento e que submetidas a defesas maníacas, evitariam a depressão.
Existe nestes indivíduos grande angústia e risco de depressão, onde se cristaliza
um Super-Eu excessivamente severo. Há ainda, a noção de tendência anti-social
enquanto movimento compulsivo que permite à criança obter da sua mãe a reparação
pelo dano que lhe causou, ao não satisfazer totalmente as suas exigências iniciais. Estas
manifestações e a sua organização, vão depender das respostas dadas pelo ambiente e
das capacidades da família responder às exigências da frustração (LARANJEIRA, 2007).
Perícia psicológica na área forense: conceitos básicos.

A questão da resolução da justiça integra diversas áreas de interface com a prática


pericial em Psicologia: Direito, Medicina Legal, Criminologia, Psiquiatria Forense e
Ciências Sociais (a Sociologia Criminal e a antropologia Criminal).
De acordo com CAIRES (2003) cada uma dessas matérias tem sua linguagem
própria, sua metodologia e seus pressupostos teóricos específicos.
Segundo CAIRES (2003) as tarefas do psicólogo exercidas nas Instituições de
Direito são de grande valia, à medida que podem, com sistematização, não apenas somar
entendimentos e subsídios extraídos dos tantos anos nessas práticas, como também
promover, a partir de reflexões e debates, novas diretrizes do poder judiciário.
Segundo a autora compõem o elenco judicial:
O Réu (indiciado, acusado, autor, requerido), ele é o principal personagem do
elenco penal, ao contrário dos países regidos pelo sistema anglo-saxônico que prioriza a
vítima. O procedimento processual é iniciado com o Interrogatório Judicial (peça
importante do estudo no ato pericial), que, embora seja considerado fonte de prova, é ou
pode ser primordialmente um meio de defesa.

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O Ofendido – as suas declarações são meios de prova, que devem, contudo, ser
vistas com cautela, face ao demasiado interesse do ofendido.
A Testemunha - assim como o ofendido, suas declarações são meio de prova,
mas também, à semelhança deles, podem estar sendo movidas pelos meandres
peculiares a natureza humana. A análise que se faz de uma situação assistida é sempre
parcial, na medida em que se acentua um aspecto dela em detrimento de outros,
favorecendo a distorções na percepção.
O Perito – a testemunha falará a respeito do que percebeu no momento da
ocorrência do fato, e o perito falará sobre o fato ao estudá-lo, e sempre
retrospectivamente, portanto isento do impacto emocional.
O Advogado – é o defensor, e no nosso código todo individuo tem, por direito
constitucional, o direito a defesa. Somente ao defensor é dada a possibilidade de agir com
parcialidade, porque faz parte dos seus recursos de defesa o de deixar-se envolver pela
emoção/comoção.
O Ministério Público – a ele cabe a imparcialidade/impessoalidade na busca do
culpado e não de um culpado; ao contrário do advogado, ele estará inspirado pelo
interesse social e não atado à rede dos sentimentos de um indivíduo/família.
É o promotor, o advogado de acusação, que remete ao fato a julgamento quando
de posse de provas contundentes e sérias a favor da culpa, portanto, substanciado de
certeza jurídica. Cabe a ele também, entre suas diversas tarefas, analisar se o réu se
encontra sob defesa correta e pertinente; caso contrário, pode solicitar a substituição do
seu defensor.
Ao Juiz cabe ir formando com serenidade um juízo sobre o fato, a partir dos
elementos da acusação e da defesa, que o fundamentem de convicção jurídica para que
ele possa assimilar as diversas facetas legais do fato e formular uma síntese.
Os assistentes técnicos devem ser profissionais especializados na matéria a ser
peritada e em peritagem. São sempre indicados pelas partes legais (defensoria e
acusação), portanto da confiança delas e compromissados com a ética e tecnicamente
para o andamento legal dos fatos.
PERÍCIA: ALCANCE E LIMITES

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Psicóloga CRP: 84326/06 197
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Do ponto de vista jurídico, a perícia fica definida como “exame realizado por
técnicos (profissionais de diversas áreas) a serviço da justiça. Dada a complexidade dos
procedimentos legais essa prática compreende um conjunto de exames especializados,
realizados por profissionais nomeados pelo juiz. (CAIRES, 2003)
A função da perícia é proceder a um exame com a finalidade de subsidiar os
julgadores, no estrito esclarecimento dos elementos adstritos às suas profissões, que são
de interesse e relevância no procedimento judicial.
Em nosso meio, o papel do psicólogo como perito oficial já é legitimado, há
algumas décadas, na Vara do Menor e da Adolescência (antes como Juizado do Menor),
no Instituto de Medicina Social e Criminologia de São Paulo (IMESC), em diversas
Instituições do Sistema Penitenciário e, principalmente na Vara da Família e Sucessão.
Nesse caso o psicólogo realizará a perícia e emitirá o laudo.
Procedência e modalidades de perícia psiquiátrica-psicológica
Caires (2003) descreve de forma esquemática, a procedência dos examinados e a
questão jurídica (quesito) a ser respondido pelo perito, que em geral acompanha a cópia
dos autos do processo, e que são em última instância a meta a ser alcançada e
explicitada como procedimento pericial, pois nela repousa a dúvida que impeliu o
Judiciário a recorrer à pericia médico-legal:
Um exemplo:
a. Do direito penal: casos provenientes da Vara criminal e Vara de
Execução Penal;
Casos: Incidentes de insanidade mental (fase processual)
Incidência de farmacodependência (fase processual)
Questão: Verificação da capacidade de imputação
Verificação do grau e natureza da dependência química
Casos: Solicitação de progressão da pena (fase de execução)
Sentenciados à Medida de Segurança

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Questão: Verificação da eficácia do processo reeducativo, por meio do
“Exame Criminológico” (reinserção social/probabilidade de
reincidência)
Verificação da cessação de periculosidade (fase de execução
penal)
PERÍCIA PSICOLÓGICA
Segundo SHINE (2003) A palavra “perícia” vem do latim perior que quer dizer
experimentar, saber por experiência. Consiste num aporte especializado que pressupõe
um conhecimento técnico/científico específico que contribua no sentido de esclarecer
algum ponto considerado imprescindível para o procedimento processual. Na atuação da
Psicologia Forense na elaboração do laudo e na pericia psicológica devem ser
observadas algumas etapas necessárias para elaboração do processo:
Inicia-se com Estudo das partes do processo;
• Data do delito
• Data da notificação
• Versão do acusado
• Versão da vítima
• Versão das testemunhas
Na seqüência a importância da Entrevista Psicológica investigando-se:
• Peculiaridades
• Contrato
• Relato do ocorrido
• Dados de anamnese
Posteriormente ocorre a avaliação das funções cognitivas;
• Funcionamento global
• Peculiaridades (ex: cópia de desenho)
Levanta-se dados para uma avaliação de personalidade;
• Uso de técnicas psicológicas
Relaciona-se os resultados e faz-se análise dos dados apurados
• Descrição minuciosa da avaliação

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Etapa conclusiva:
• Relacionar todas as informações colhidas
• Elaboração do Laudo ou Parecer.

Interdição Civil
“A capacidade civil é a situação que permite a uma pessoa adquirir direitos e
contrair obrigações por conta própria, por si mesma, sem necessidade de representante
legal. Uma ação cível de interdição é promovida quando o indivíduo perde esta
capacidade de gerir seus bens e sua própria pessoa e representa uma das solicitações
judiciais mais comuns onde um Psiquiatra Perito é requisitado para atuar (VARGAS,
1990)”.
Veja alguns aspectos que servem de base para a que a interdição seja promovida.
CAPACIDADE CIVIL
"Art. 1º Toda pessoa é capaz de direitos e deveres na ordem civil.
Art. 2º A personalidade civil da pessoa começa do nascimento com vida; mas a lei põe a
salvo, desde a concepção, os direitos do nascituro.
Art. 6º A existência da pessoa natural termina com a morte; presume-se esta, quanto aos
ausentes, nos casos em que a lei autoriza a abertura de sucessão definitiva."
INCAPACIDADE ABSOLUTA
"Art. 3º São absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos da vida civil:
I - os menores de dezesseis anos;
II - os que, por enfermidade ou deficiência mental, não tiverem o necessário
discernimento para a prática desses atos;
III - os que, mesmo por causa transitória, não puderem exprimir sua vontade."
"Art. 5º. São absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos da vida civil:
I - Os menores de 16 anos.
II - Os loucos de todo o gênero.
III - Os surdos-mudos, que não puderem exprimir a sua vontade."
INCAPACIDADE RELATIVA

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"Art. 4º São incapazes, relativamente a certos atos, ou à maneira de os exercer:
I - os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos;
II - os ébrios habituais, os viciados em tóxicos, e os que, por deficiência mental, tenham o
discernimento reduzido;
III - os excepcionais, sem desenvolvimento mental completo;
IV - os pródigos.
Parágrafo único. A capacidade dos índios será regulada por legislação especial."
CURATELA
"I - aqueles que, por enfermidade ou deficiência mental, não tiverem o necessário
discernimento para os atos da vida civil;
II - aqueles que, por outra causa duradoura, não puderem exprimir a sua vontade;
III - os deficientes mentais, os ébrios habituais e os viciados em tóxicos;
IV - os excepcionais sem completo desenvolvimento mental;
V - os pródigos."
Resgatando o histórico da Doença Mental
O final do século XVIII e o início do século XIX, marcado pela Revolução
Francesa, é a época da ascensão da loucura a categoria de doença mental. Nesse
período, os loucos se disseminavam indiferentemente entre os Hospitais Gerais, as Casas
de Detenção, as Casas de Caridade, os depósitos de mendigos e as prisões familiares.
Enquanto na Europa a ruptura da ordem feudal e a emergência do capitalismo
mercantil trouxeram consigo a necessidade de um novo homem, introduzindo exigências
que não puderam ser feitas por muitos deles – entre os quais os loucos – e que deixados
à deriva, vieram a abarrotar as cidades e perturbar-lhes a ordem. No Brasil, o doente
mental faz sua aparição na cena das cidades, em plena vigência da sociedade pré-
capitalista, aqui, diferentemente da Europa, era permitido ao louco vagar pelas ruas. No
caso de exibirem comportamento violento eram recolhidos às cadeias. No Brasil a loucura
manteve-se silenciada por muito mais tempo, com suas manifestações diluídas na
vastidão do território brasileiro.
E quem eram os loucos?

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O louco era o indivíduo que não se adaptava aos padrões sociais vigentes,
tínhamos: mendigos, doentes, indigentes, velhos, moribundos, venéreos, criminosos e,
até mesmo os presos políticos. A função social da loucura era a exclusão do âmbito social
de indivíduos “improdutivos que infestavam as cidades” (Foucault).
A função social da loucura variava de acordo com as classes sociais: enquanto os
menos favorecidos eram submetidos à exclusão pública (vagavam pelos campos e
mercados da cidade, dependendo de caridade); os loucos de “boa família”, ou seja,
aquelas que tinham recursos suficientes, eram enclausurados em domicílio, não deixando
que a insanidade viesse a público.
Surgimento da Psiquiatria
A psiquiatria nasce como produto das reformas operadas nas instituições sociais
da França revolucionária. Com o crescente aumento do número de loucos surge a
necessidade de apropriação da loucura dentro de um paradigma científico. A loucura
passa a categoria de doença mental. Com o nascimento da psiquiatria, cabe a esta a
medicalização e tratamento dos doentes mentais. É importante salientar que a
classificação da doença mental não decorre da teoria, nem da prática experimental da
psiquiatria, mas da questão prática da inclusão social ou não do indivíduo inadaptado.
O conceito de doença mental era muito mais restrito do que é atualmente e
limitava-se aos aspectos eminentemente exteriores da loucura, ao comportamento
diretamente observável, quando este se constituía um estorvo para o ambiente familiar
imediato e para a comunidade.
Philippe Pinel
Philippe Pinel (1745-1826), médico francês, considerou as doenças mentais como
resultado de tensões sociais e psicológicas excessivas, de causa hereditária, ou ainda
originadas de acidentes físicos, desprezando a crendice entre o povo e mesmo entre os
médicos de que fossem resultado de possessão demoníaca. Vale citar alguns estudiosos
das doenças mentais,contemporâneos de Pinel, como Tuke, Chiarugi e Daquin. Tuke
(1732-1822) foi um comerciante de café e chá, e um filantropo, que fundou em 1792 um
hospício em York na Inglaterra para dar tratamento humanitário aos doentes mentais;
Chiarugi foi o médico diretor do Asilo Bonifácio, em Florença, onde em 1788 ele aboliu o

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tratamento desumano dos pacientes; e Joseph Daquin (1733-1815) o médico francês, de
Chambéry, que havia estudado em Turin, na Itália, e que em seu La philosophie de la folie
(A filosofia da Loucura), em 1787 propôs um "tratamento moral" para os doentes mentais.
Pinel, no entanto, foi o primeiro a distinguir vários tipos de psicose e a descrever
as alucinações, o absentismo, e uma série de outros sintomas. Para o seu tempo, sua
obra Nosographie Philosophique ou Méthode de l'analyse appliquée à la médecine
("Classificação Filosófica das Doenças ou Método de Análise aplicado à Medicina"), de
1798, continha descrições precisas e simples de várias doenças mentais, com o conceito
novo de que a cada doença era "um todo indivisível do começo ao fim, um conjunto
regular de sintomas característicos".
Pinel aboliu tratamentos como sangria, purgações, e vesicatórios, em favor de
uma terapia que incluía contato próximo e amigável com o paciente, discussão de
dificuldades pessoais e um programa de atividades dirigidas. Preocupava-se também que
a administração das instituições fosse competente e com treinamento adequado.
Psiquiatria Moderna - Kraepelin
Tem como principal representante Emil Kraepelin (1856-1926), psiquiatra alemão
que é comumente citado como o criador da moderna psiquiatria, psicofarmacologia e
genética psiquiátrica. Foi fundador de uma sistemática nosológica 5 que englobava vários
aspectos relativos à doença como: a etiologia, as condições de aparecimento da doença,
a tendência à predisposição, o curso da moléstia, a sintomatologia, a perspectiva
prognóstica, a idade, o sexo, hábitos, etc.
O trabalho de Kraeplin é importante, pois classificou em duas formas distintas de
psicoses o que antes era considerado um conceito unitário: Psicose maníaco-depressiva
e Demência precoce, hoje esquizofrenia.
As teorias de Kraeplin sobre a etiologia e diagnóstico de perturbações psiquiátricas
são a base dos maiores sistemas diagnósticos utilizados hoje, especificamente o DSM IV
da Associação Americana de Psiquiatria e o CID 10 da Organização Mundial de Saúde.
A Reforma Psiquiátrica

5
Nosologia é o agrupamento de doenças segundo características comuns, constitui uma classificação e tem
finalidades estatísticas de análises quanto à distribuição das doenças na população.
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O Movimento da Reforma Psiquiátrica no Brasil inicia-se na década de 70, com
denúncias de maus tratos e violências aos doentes, falta de recursos e más condições de
trabalho. Tem caráter autenticamente democrático e social, pois busca os direitos do
doente enquanto ser humano; defende sua cidadania e novas formas de tratamento. Luta
por mudanças de hábitos, por mudanças culturais, por tecnologias e por uma nova ética
na assistência ao doente mental. O Movimento muda a concepção da doença mental,
que junto com a institucionalização, contribuem para o estereótipo do doente mental;
assim, a reforma coloca um novo olhar à psiquiatria, o de saúde mental.
A desinstitucionalização define-se por uma estratégia do novo paradigma que o
movimento colocou em cena para modificar as relações de poder existentes na psiquiatria
clássica. Porém, nas propostas há uma preocupação em reduzir o mínimo de pacientes
internados e o tempo de internação dos mesmos; faz-se também referência à participação
da família e da comunidade no tratamento em saúde mental (AMARANTE 1995).
Duas referências anteriores, embora superadas pela reforma, mantêm relação
com o que aconteceria depois. São elas: o modelo das comunidades terapêuticas e o
movimento da psiquiatria comunitária e preventiva, que institui as idéias de saúde
mental (por oposição à doença mental) e de intervenção na comunidade, inclusive com
intenção preventiva.
De acordo com Teixeira (1993), a experiência das comunidades terapêuticas
(1960/70) foi "uma reação às estruturas tradicionais do aparato asilar psiquiátrico".
Tratava-se, grosso modo, da tentativa de construção, a partir da psicanálise, "de um novo
modelo discursivo/organizacional que comanda remodela as ações do cotidiano
hospitalar".
O segundo antecedente a ser mencionado é o movimento da psiquiatria
comunitária e preventiva. Como suposta alternativa à prevalência do asilo, tido como
segregador, propunha-se que a psiquiatria devia se organizar segundo um programa mais
amplo de intervenção na comunidade, visando a evitar o adoecimento mental. Tratava-se
não apenas de detectar precocemente as situações críticas, de modo a resolvê-las sem
que chegassem à internação, mas de organizar o espaço social de modo a prevenir o
adoecimento mental. Essa intenção preventivista traduzia-se na bandeira de promoção da

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saúde mental. Finalmente, ao se definir que o locus da intervenção deixa de ser a
instituição psiquiátrica e passa a ser a comunidade, produz-se a tendência de
psiquiatrização do social, em que o psiquiatra deve 'controlar' os agentes não-
profissionais, como vizinhos, líderes comunitários, agentes religiosos e etc.
As transformações na assistência psiquiátrica brasileira foram influenciadas,
dentre outras experiências, pelo movimento conhecido como Psiquiatria
Democrática_Italiana. Franco Basaglia (1924-1980), psiquiatra italiano e o principal
representante desse movimento, tinha como objetivo a desconstrução do paradigma
psiquiátrico que legitimava a tutela, a exclusão e a idéia de periculosidade do louco, para
reinventar o modelo de assistência. Mas a crítica do autor à instituição psiquiátrica
buscava ultrapassar a estrutura manicomial. Desinstitucionalizar, na tradição basagliana,
diz respeito à promoção de transformações que devem ultrapassar o aparato físico do
manicômio, levando às estratégias e ações transformadoras ao campo sócio-cultural. Não
se restringe e nem pode ser reduzida à desospitalização do louco. Desospitalizar
significa atuar apenas no sentido da extinção de organizações hospitalares ou
manicomiais. Já o termo desinstitucionalização requer, antes de tudo, o entendimento
do termo instituição no sentido da complexidade das práticas e saberes que produzem
formas de se perceber, de se entender e de se relacionar com fenômenos sociais e
históricos. Não é o doente mental que deve ser desinstitucionalizado, mas é a própria
loucura como instituição social que precisa ser transformada.
O ano de 1978 costuma ser identificado como o de início efetivo do movimento
social pelos direitos dos pacientes psiquiátricos em nosso país. O Movimento dos
Trabalhadores em Saúde Mental (MTSM), movimento plural formado por trabalhadores
integrantes do movimento sanitário, associações de familiares, sindicalistas, membros de
associações de profissionais e pessoas com longo histórico de internações psiquiátricas,
surge neste ano. É, sobretudo este Movimento, através de variados campos de luta, que
passa a protagonizar e a construir a partir deste período a denúncia da violência dos
manicômios, da mercantilização da loucura, da hegemonia de uma rede privada de
assistência e a construir coletivamente uma crítica ao chamado saber psiquiátrico e ao
modelo hospitalocêntrico na assistência às pessoas com transtornos mentais. A

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experiência italiana de desinstitucionalização em psiquiatria e sua crítica radical ao
manicômio é inspiradora, e revela a possibilidade de ruptura com os antigos paradigmas,
como, por exemplo, na Colônia Juliano Moreira, enorme asilo com mais de 2.000 internos
no início dos anos 80, no Rio de Janeiro. Passam a surgir as primeiras propostas e ações
para a reorientação da assistência. O II Congresso Nacional do MTSM (Bauru, SP), em
1987, adota o lema “Por uma sociedade sem manicômios”. Neste mesmo ano, é realizada
a I Conferência Nacional de Saúde Mental (Rio de Janeiro).
Nesse período, são de especial importância o surgimento do primeiro Centro de
Atenção Psicossocial (CAPS) no Brasil, na cidade de São Paulo, em 1987, e o início de
um processo de intervenção, em 1989, da Municipal de Saúde de Santos (SP) em um
hospital psiquiátrico, a Casa de Saúde Anchieta, local de maus-tratos e mortes de
pacientes. É esta intervenção, com repercussão nacional, que demonstrou de forma
inequívoca a possibilidade de construção Secretaria de uma rede de cuidados
efetivamente substitutiva ao hospital psiquiátrico. Neste período, são implantados no
município de Santos Núcleos de Atenção Psicossocial (NAPS) que funcionam 24 horas,
são criadas cooperativas, residências para os egressos do hospital e associações. A
experiência do município de Santos passa a ser um marco no processo de Reforma
Psiquiátrica brasileira. Trata-se da primeira demonstração, com grande repercussão, de
que a Reforma Psiquiátrica, era possível e exeqüível.
Com a Constituição de 1988, é criado o SUS – Sistema Único de Saúde, formado
pela articulação entre as gestões federal, estadual e municipal, sob o poder de controle
social, exercido através dos “Conselhos Comunitários de Saúde”.
A Reforma Psiquiátrica depois da Lei Nacional (2001-2005)
É somente no ano de 2001, após 12 anos de tramitação no Congresso Nacional,
que a Lei Paulo Delgado é sancionada no país. A aprovação, no entanto, é de um
substitutivo do Projeto de Lei original, que traz modificações importantes no texto
normativo. Assim, a Lei Federal 10.216 redireciona a assistência em saúde mental,
privilegiando o oferecimento de tratamento em serviços de base comunitária, dispõe sobre
a proteção e os direitos das pessoas com transtornos mentais, mas não institui
mecanismos claros para a progressiva extinção dos manicômios. Ainda assim, a

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promulgação da lei 10.216 impõe novo impulso e novo ritmo para o processo de Reforma
Psiquiátrica no Brasil.
NAPS e CAPS
A reorganização dos serviços e das ações de saúde mental fez surgir dois novos
dispositivos de atenção representados pelos Núcleos de Atenção Psicossocial (NAPS) e
pelos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS). A criação de Núcleos/Centros de
Atendimento de Atenção Psicossocial (NAPS/CAPS) através da Portaria Nº 224, de 29 de
janeiro de 1992, tem contribuído significativamente para a melhoria da assistência aos
indivíduos em sofrimento psíquico.
Os NAPS e CAPS são definidos como "unidades de saúde locais/regionais que
6
contam com população adscrita pelo nível local e que oferecem atendimento de
cuidados intermediários entre o regime ambulatorial e a internação hospitalar em um ou
dois turnos de quatro horas, por equipe multiprofissional". Pela regulamentação legal,
devem oferecer os seguintes atendimentos: 1) individual; 2) grupos (psicoterapia, grupo
operativo, oficina terapêutica, atividades socioterápicas, entre outras); 3) visitas
domiciliares; 4) atendimento à família e 5) "atividades comunitárias enfocando a
integração do doente mental na comunidade e sua inserção social" (Ministério da
Saúde/Brasil, 1994).
Da regulamentação ministerial, importa chamar a atenção para o seguinte: embora
pertençam ao grupo do atendimento ambulatorial, os CAPS e NAPS são estruturas
específicas, diferentes do ambulatório stricto sensu7; embora os hospitais-dia tenham sido
os precursores históricos dos CAPS, a expressão hospital-dia passa a designar uma
estrutura propriamente hospitalar, de semi-internação com duração máxima de 45 dias,
podendo-se deduzir que ela visa a oferecer atendimento intensivo em períodos mais
agudos, para evitar internação ou em saídas de internação, como estrutura de passagem.
Os NAPS são encarregados de responder de forma plena pela demanda de saúde
mental da região de referência. Por isso, de sua estrutura e funcionamento foi exigida

6
Adscrever a clientela significa responsabilizar a equipe da Unidade de Saúde (US) pelos sujeitos
que vivem na área geográfica definida para essa US, no processo de territorialização, permitindo o
efetivo acesso e vínculo dessa população ao serviço.
7
É uma expressão em latim que significa literalmente em sentido estrito.
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uma alta capacidade de resolução em termos de atendimentos externos, articulação com
outros dispositivos e atendimento à emergência. Assim, os NAPS têm inclusive
funcionamento de emergência durante 24 horas e uma estrutura mínima de leitos. Além
disso, não se trabalha com uma limitação numérica de clientela, já que se devem atender,
ou ao menos dar algum encaminhamento, virtualmente a todas as demandas em saúde
mental do território de referência.
Já os CAPS tendem a ser regionalizados em termos da adscrição da clientela,
embora eles sejam desobrigados a apresentar a mesma capacidade de resolução para as
emergências e a dar conta da totalidade da demanda de saúde mental – em geral
limitando o atendimento à clientela inscrita no serviço e às triagens, com funcionamento
diurno e restrito aos dias úteis e sem leitos de internação ou acolhimento-noite.
Existem seis tipos de CAPS. São eles:
- CAPS I – Para municípios com população entre 20 mil e 70 mil habitantes. Funciona
de segunda a sexta-feira, das 8h às 18h. É um CAPS para atendimento diário de
adultos com transtornos mentais severos e persistentes, hoje incluindo pessoas com
problemas com álcool e outras drogas.

- CAPS II – Para municípios com população entre 70 mil e 200 mil habitantes.
Funciona de segunda a sexta-feira, das 8h às 18 h. Pode ter um terceiro período,
funcionando até 21 h. É um CAPS para atendimento diário de adultos com
transtornos mentais severos e persistentes.

- CAPS III – Para municípios acima de 200 mil habitantes. Funciona 24 horas,
diariamente, também nos feriados e fins de semana. É um CAPS para atendimento
diário de adultos com transtornos mentais severos e persistentes

- CAPS i – Para municípios com população acima de 200 mil habitantes. Funciona de
segunda a sexta-feira, das 8 h às 18 h. Pode ter um terceiro período, funcionando
até 21 h. É um CAPS para atendimento de crianças e adolescentes com
transtornos mentais.

- CAPS ad – Para municípios com população acima de 100 mil habitantes. Funciona
de segunda a sexta-feira, das 8 h às 18 h. Pode ter um terceiro período,

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funcionando até 21 h. É um CAPS para usuários de álcool e drogas. Possui leitos
de repouso com a finalidade exclusiva de tratamento de desintoxicação.

Os Serviços Residenciais Terapêuticos ou Moradias Assistidas

Os Serviços Residenciais Terapêuticos (SRT), ou Moradias Assistidas (MA), são


“moradias ou casas inseridas na comunidade, destinados a cuidar dos portadores de
transtornos mentais, egressos de internações psiquiátricas de longa permanência que não
possuem suporte social e laços familiares que viabilizem a sua inserção social” (Portaria
SAS/MS nº 106, de 11 de fevereiro de 2000).

A SRT/MA é inclusiva, ou seja, toda pessoa que hoje se encontra internada em


hospitais psiquiátricos em regime de longa internação e que não possuem condições ou
laços familiares que permitam a sua reinserção social neste momento, são candidatos a
fazerem parte desta modalidade de cuidados, substituindo, assim, o modelo asilar. A
diferenciação dos cuidados em residências terapêuticas será dada pelo nível de
autonomia dos seus moradores: para moradores mais dependentes, maior o nível de
cuidados e vice-versa. Para o funcionamento das residências terapêuticas devem existir
uma unidade assistencial de referência: CAPS ou ambulatórios de Saúde Mental. A
capacidade máxima de lotação de uma residência será de oito pessoas, tendo como
característica principal a casa como lugar de moradia e de relações interpessoais.
Os SRT/MA estão dentro da política Nacional de Redução de Leitos em hospitais
psiquiátricos, sendo que para cada morador que deixa o hospital para morar em
Residência Terapêutica, será imediatamente fechado o leito hospitalar e a alocação do
recurso da SRT.
Vale salientar que a partir desse modelo das STR/MA começaram também a se
expandir pelos EUA e Inglaterra moradias para tratar pessoas com problemas com álcool.

14. O psicólogo judicial e a Execução Penal.


Direito e Psicanálise
Groeninga e Pereira (2003, apud BUCHER-MALUSCHKE, 2007) estabelecem um
paralelismo entre os campos da psicanálise e do direito e observam que tanto o advogado

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quanto o psicanalista têm em comum a escuta do seu cliente e sua demanda. Há para
esses pesquisadores, uma preocupação em analisar o sujeito, tanto o denominado sujeito
do Direito "que é aquele que age consciente de seus direitos e deveres, e segue leis
estabelecidas em um dado ordenamento jurídico", quanto o denominado sujeito da
Psicanálise ou "sujeito do desejo, aquele que está também assujeitado às leis do
inconsciente" (BUCHER-MALUSCHKE, 2007).
No Direito, a objetividade é o conceito mais visado. A sexualidade nesse contexto
é a genitalizada. A Psicanálise, visando a identificar conteúdos da subjetividade dos
sujeitos, expressa que a sexualidade é "da ordem do desejo". Tanto o Direito quanto a
Psicanálise procuram compreender o sujeito e suas relações. Um na perspectiva objetiva
dos fatos e a outra, mais subjetiva, tanto no nível do consciente como no inconsciente. De
qualquer forma, estamos diante de um único sujeito, mesmo se ele engloba duas
realidades distintas.
Quinet (2003, BUCHER-MALUSCHKE, 2007) analisa a lei na perspectiva
psicanalítica e na óptica do Direito. Para ele há a "Lei simbólica, que rege os homens na
condição de seres que habitam a linguagem, e as leis que os homens fazem para regular
as relações entre si" (p. 57). Ele considera a Lei simbólica como estrutural, que não
depende do lugar, do momento histórico ou da constituição social e que se expressa na
cultura mediante as leis, a Constituição, os estatutos e regimentos institucionais, com o
objetivo de enquadrar e limitar o gozo de um em relação aos demais.
A Lei simbólica, para a Psicanálise, é expressa no inconsciente por meio de suas
formações – sonho, sintoma, chistes – e equivale ao que Freud nomeou como a lei de
interdição do incesto. Essa lei é representada pelo pai que não é necessariamente o
genitor, mas o pai simbólico que foi mais tarde denominado por Lacan de Nome do Pai,
como instância legal, um puro significante.
Guyomard (2007, BUCHER-MALUSCHKE, 2007), ao analisar a procriação,
observa também que existem as "leis escritas e as leis não escritas". Compreende-se
como leis escritas as que fazem parte da legislação de cada lugar, e que proíbem o
sujeito de cometer alguns atos. Já as leis não escritas são aquelas em que o sujeito por si
só e sem que haja a interseção das leis escritas, as obedece. A Psicanálise trabalha com

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a lei no sentido de existir a lei do pai, a lei que proíbe o incesto e o parricídio. Trabalha
com o valor da Lei e das leis, com a lei escrita e as não escritas, percebendo assim as
diferenças entre a lei, as normas e a ética.
Não resta dúvida que a polissemia da palavra Lei percorre as inúmeras áreas da
ciência, desde lei como instituidora da ordem jurídica, da regra escrita, as leis da
natureza, leis físicas, biológicas, lei da gravidade, leis canônicas a leis sociais,
econômicas até lei para a psicanálise. Para Freud, lei básica, lei fundamental ou lei
primeira, e, para Lacan, a lei do pai/nome do pai. Na Psicanálise, a lei fundante é aquela
que estrutura o sujeito a partir da proibição do incesto e as conseqüências disso são a
estruturação da sociedade e o ordenamento jurídico (BUCHER-MALUSCHKE, 2007).
As transformações oriundas do avanço tecnológico concorrem para o
questionamento e a revisão de alguns conceitos, como o que vem a ser um pai e o que
vem a ser uma mãe, tendo em vista que, dimensões biológica, sociológica e psicológica
se cruzam. Pai e genitor têm funções diferentes, mas que podem estar juntas numa
mesma pessoa, como podem estar totalmente dissociadas. Em tempos de barriga de
aluguel, inseminação artificial, doador de esperma, fecundação in vitro, e outras
variações, o pai psicossocial pode não ser o pai genitor, o mesmo podendo se aplicar à
maternidade (BUCHER-MALUSCHKE, 2007). Isso nos leva a refletir sobre as habilidades
e conhecimentos necessários aos profissionais que atuam na junção destas duas áreas.

A Atuação do Psicólogo na Área Judicial

Segundo Fávero, Melão e Jorge (2005):

“A Psicologia Jurídica tem-se dedicado a estudar e trabalhar as questões psicológicas


relacionadas com a prática legal. Também denominada de Psicologia Forense, concentra-se
ao redor de assuntos legais, contribuindo, dentre outros, com o estabelecimento de critérios
para considerar se uma pessoa é ou não é imputável para efeitos da lei. Ao se levar em conta
os fatores psicológicos envolvidos em uma determinada situação, objeto de intervenção
judicial, torna-se possível contribuir para a prevenção de equívocos no julgamento de ações
humanas. É um ramo da psicologia aplicada, cujos conhecimentos ampliam cientificamente o
campo jurídico, buscando dar diagnóstico, prognóstico e tratamento aos sujeitos envolvidos,
particularizando cada caso” (p. 46).

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Historicamente, a Psicologia foi inserida na estrutura judiciária via o conceito de
loucura, nos manicômios Judiciários, e adentrou nos Tribunais via problemas de família
no trato com seus filhos, sendo ainda recente sua inserção nesse espaço institucional
(FÁVERO, MELÃO e JORGE, 2005).

A primeira aproximação entre Psicologia e Direito ocorreu no final do século XIX e


fez emergir a chamada “psicologia do testemunho”, que tinha como objetivo verificar,
através do estudo experimental dos processos psicológicos, a fidedignidade do relato do
sujeito envolvido em um processo jurídico.

Através da aplicação de testes buscava-se a compreensão dos comportamentos


passíveis de ação jurídica. Esta foi uma fase muito influenciada pelo ideário positivista,
que privilegiava o método científico empregado pelas ciências naturais.

Esta história inicial originou uma prática do profissional de psicologia voltada


quase que exclusivamente para a realização de perícia, exame criminológico e parecer
psicológico baseado no psicodiagnóstico, feitos a partir de algumas entrevistas e nos
resultados dos testes psicológicos aplicados (ALTOÉ, sem data).

O modelo inicial da psicologia jurídica corrobora, assim, com o enfoque pericial


estrito, entendido como aquele que visa a oferecer ao juiz subsídios para uma decisão
considerada justa, dentro do que impõe a lei.

É, portanto, através desse instrumento que a psicologia tem seu primeiro contato
com o direito, sem deslocar a psiquiatria. Não se trata da loucura, mas da fidedignidade
do testemunho, questão para a qual é importante o conhecimento da percepção, da
motivação e emoção, do funcionamento da memória, do mecanismo de aquisição de
hábitos, do papel da repressão (JACÓ-VILELA, 1999).

A “Psicologia do Testemunho”, primeira grande articulação entre direito e


psicologia, demonstra a psicologização que se encontra em curso: não só o criminoso
deve ser examinado, mas também aquele que vê e relata aquilo que viu – que processos
internos estarão facilitando ou dificultando a veracidade de seu relato (JACÓ-VILELA,
1999).

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Ela está documentada como um conjunto de pesquisas sobre a tradição jurídica
referente à validade do testemunho, que demonstrou a grande relatividade do valor
probatório dos métodos de inquisição da verdade em processos penais (BERNARDI,
1999).

Os métodos coercitivos de obtenção de confissões foram sendo substituídos e


aperfeiçoados por métodos de exploração psicológica, que objetivava conhecer a
“verdade” nos processos criminais. Nesse enfoque, o exame psicológico seria um
instrumento pericial para avaliações criminológicas vinculado ao modelo médico.

Estes instrumentos oferecidos pela psicologia tinham um uso que favorecia a


eficácia do controle social e reforçavam a natureza repressora que está inserida no
direito, ao invés de garantir as liberdades e os direitos fundamentais dos indivíduos.

A introdução das ciências “PSI” na estrutura judiciária apresenta semelhanças com


o ingresso dos médicos no âmbito da justiça penal (século XIX). Na década de 30, a
justiça penal adotou a medicina psiquiátrica como um saber necessário aos processos
judiciários, para a avaliação da responsabilidade, através da perícia psiquiátrica. A
doença mental já estava inserida, a esta época, na ordem do desvio do comportamento
(BERNARDI, 1999).

De acordo com Bernardi (1999) o conceito de periculosidade se originou desta


interseção de poderes e de conhecimento entre a Justiça e a Medicina psiquiátrica, ponto
de encontro entre Medicina e Direito.

A história da ciência psicológica mostra que seu entrecruzamento com o Direito


parece seguir os mesmos moldes da medicina psiquiátrica.

Os psicólogos, para atender as necessidades do poder judiciário, buscaram se


especializar nas técnicas de exame e diagnóstico. E foi a Universidade do Estado do Rio
de Janeiro (UERJ), em 1980, que atendeu a esta reivindicação criando uma área de
concentração, dentro do curso de especialização em psicologia clínica, denominada
“Psicodiagnóstico para Fins Jurídicos” (Brito, 1999).

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Em 1986 este curso foi reformulado, tornando-se um curso de especialização
independente do departamento de clínica, ficando ligado ao departamento de psicologia
social. Esta mudança favoreceu uma ênfase muito menor às preocupações da clínica (ao
psicodiagnóstico, em particular), voltando-se para questões pertinentes à psicologia social
(ALTOÉ, sem data).

Foi a partir da implantação do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), em


lugar do antigo Código de Menores, que ocorreram modificações na prática profissional
do psicólogo. Por força de lei o psicólogo teve que se adequar à essas mudanças, no
âmbito da Justiça na 1a. e 2a. Vara da Infância e Juventude, exercendo também forte
influência nas outras áreas de trabalho do psicólogo junto ao poder judiciário, ou seja, na
vara de família e junto ao sistema penal (ALTOÉ, sem data).

A partir dos anos 90, sua prática se diversificou e ampliou o seu campo de ação
junto ao sistema judiciário. Até a década de 90 o trabalho do psicólogo quase que se
restringia a fazer perícia e parecer. Atualmente, seu trabalho inclui ações como informar,
apoiar, acompanhar e dar orientação pertinente a cada caso atendido nos diversos
âmbitos do sistema judiciário. Há uma preocupação com a promoção de saúde mental
dos que estão envolvidos em causas junto à Justiça, como também de criar condições
que visem a eliminar a opressão e a marginalização (ALTOÉ, sem data).

Construir novas referências teóricas para um trabalho que na sua rotina cotidiana pode
ser muito intervencionista na vida dos sujeitos é um desafio onde a ética profissional se
impõe (ALTOÉ, sem data).

Do ponto de vista social, a atuação do psicólogo no judiciário contribui tanto para a


agilização processual quanto para o entendimento de singularidades a partir dos
atendimentos prestados. Por tratar-se de uma intervenção no âmbito institucional,
apresenta um longo alcance a uma demanda que necessita de atendimentos que possam
cuidar de transtornos emocionais e de sentimentos (ASSIS, 1999).

Considerando a crescente dor dos homens diante da descrença perante as


instituições, vislumbra-se uma psicologia judiciária capaz de contribuir para a execução de
políticas de cidadania e de direitos humanos (ASSIS, 1999).

Karina de O. Lima
Psicóloga CRP: 84326/06 214
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Considerações Teórico-Práticas

Segundo Assis (1999) desde a descoberta do inconsciente e seus efeitos por


Sigmund Freud, destaca-se a consideração entre a relação do discurso psicanalítico com
o discurso jurídico. A teoria psicanalítica freudiana é o cerne para a compreensão
psicodinâmica dos fenômenos psicológicos que norteiam os processos judiciais. As
teorias dos fenômenos inconscientes, da estruturação da personalidade e da constituição
dos impulsos, possibilitam uma leitura analítica dos fatores subjacentes ao ato infracional
ou criminoso, em que o foco de atenção é o individuo e não o delito.

Tal referencial permite que o psicólogo judiciário atue nos processos criminais,
atendendo a determinação do Juízo, conforme art. 8º da Lei de Execução Penal:

O condenado ao cumprimento da pena privativa de liberdade, em regime fechado, será


submetido a exame criminológico para a obtenção dos elementos necessários a uma
classificação adequada e com vistas à individualização da execução.

Algumas publicações de Ferenczi (apud ASSIS, 1999) sobre a Psicanálise e a


Criminologia (1913 a 1928) abordam aspectos necessários para uma compreensão dos
fenômenos criminosos. Ele vislumbrava um avanço da psicanálise no entendimento do
determinismo psíquico no crime, acreditando que através de pesquisas, o psicanalista
teria meios para criar uma ciência – Psicanálise Criminal ou Crimino-Psicologia – e que só
uma psicologia criminal autêntica possibilitaria meios de uma profilaxia pedagógica do
crime e um possível tratamento analítico de criminosos. Estas contribuições teóricas,
principalmente as especificas à etiologia e conseqüências do trauma, possibilitam a
compreensão de aspectos da organização psíquica de alguns indivíduos que recorrem à
Justiça, buscando uma solução para conflitos vinculados às experiências reais /
traumáticas.

A psicanalista Melanie Klein também é convidada a debater sobre o assunto, cujo


artigo é posteriormente publicado: “Sobre a criminalidade” (1981). Em 1927 ela já
demonstrava preocupação com o tema, quando escreveu “Tendências criminais em
crianças normais”. De acordo com Assis (1999) os referidos artigos expressam idéias
sobre os fatores subjacentes no desenvolvimento criminoso.

Karina de O. Lima
Psicóloga CRP: 84326/06 215
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Donald Winnicott (1987) apresentou relevantes contribuições sobre a “Natureza e
a origem da tendência anti-social” (1939 a 1966) para a compreensão dos fenômenos
psíquicos em jovens que estão envolvidos com práticas infratoras e que necessitam de
uma reeducação sócio-pedagógica, com acompanhamento psicoterapeutico e/ou
psiquiátrico (ASSIS, 1999).

O Professor Theon Spanudis, em 1953, coordenou o curso “Delinqüência e


Psicanálise”, em São Paulo, fundamentado teoricamente nas obras de Freud, Abraham,
Ferenczi e Reik. A obra resultante representa um marco nos estudos sobre a articulação
da Psicanálise com o Direito desenvolvidos no Brasil, relevantes para o psicólogo que
atua nas Varas Criminais e da Infância e Juventude (ASSIS, 1999).

Todas as publicações citadas apresentam-se como um referencial na


compreensão de dinâmicas psíquicas, cuja sintomatologia é o furto, o roubo, o uso de
drogas ou mesmo a pratica criminal homicida.

Contexto e Estrutura do Judiciário

O Poder Judiciário tornou-se uma instituição que tem de enfrentar o desafio de


alargar os limites de sua jurisdição, modernizar suas estruturas organizacionais e rever
seus padrões funcionais, para sobreviver como autônomo e independente (FARIA, 2002
apud FAVERO, MELÃO e JORGE, 2005).

Entende-se instituição como o locus de intermediação entre o Estado e a


população que a ela procura, espaço esse transversalizado por forças e interesses
criados no âmbito dos projetos da sociedade ocidental, para determinar e assegura a
aplicação das leis. Desde a sua constituição nos tempos antigos, a instituição judiciária
chega aos tempos modernos como básica aos Estado (FÁVERO, MELÃO e JORGE,
2005).

Com a reestruturação do capitalismo, o Poder Judiciário se vê em um cenário


incerto, no qual o Estado-Nação vai perdendo sua autonomia e o ordenamento jurídico vê
sua história comprometida. É esse espaço institucional que contrata e prevê ações para
as áreas do Serviço Social e da Psicologia (FÁVERO, MELÃO e JORGE, 2005).

Karina de O. Lima
Psicóloga CRP: 84326/06 216
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A organização do Poder Judiciário brasileiro compreende as Justiças Federal e
Estadual, as quais são normatizadas a partir de dispositivos constitucionais, sendo a
administração da Justiça, no âmbito dos Estados, de competência dos Tribunais
Estaduais de Justiça.

A expressão espacial da ação do tribunal de Justiça, em cada estado, é feita por


meio de instâncias denominadas Circunscrições Judiciárias.

Nas duas últimas décadas, o trabalho do psicólogo na área jurídica tem se desenvolvido
nos mais variados âmbitos dos setores da Justiça, tanto no campo das intervenções
quanto no terreno dos estudos e das pesquisas. Na seara da família, quando em
interação com os procedimentos legais em função de alguma demanda, os psicólogos
têm atuado em varas de família (adoção, investigação de paternidade, guarda dos filhos,
divórcio, casamentos, mediação de conflitos etc), criminais e da infância e juventude
(BUCHER-MALUSCHKE, 2007).

15. Mediação e conciliação: técnicas e objetivos.


“Mediação, conciliação e arbitragem são instrumentos utilizados para a pacificação de
conflitos de natureza civil, comercial e trabalhista, fora da espera do poder judiciário, de
forma rápida, amigável e informal. (...) A necessidade de respostas rápidas e a solução
adequada para cada conflito, tornam esses instrumentos indispensáveis à sociedade
moderna, pessoas físicas e jurídicas” (http://www.laudum.com.br/).
Segundo Bulgarelli (S/D), “a mediação, conciliação e arbitragem são métodos
extrajudiciais de solução de controvérsias como alternativas frente à morosidade da
justiça estatal brasileira”.
Para o mesmo autor, os principais Métodos Extrajudiciais de Solução de
Controvérsias – MESCs – são a Mediação, a Conciliação e a Arbitragem. Encontram-se
previsões de suas utilizações no Brasil já no Código Comercial brasileiro de 1850, além
do Código Civil de 1817. Mais recentemente o instrumento legal existente que norteia os
procedimentos e regras para os meios alternativos de solução de conflitos é a Lei
9.307/1996, que veremos mais adiante (Bulgarelli, S/D).

Karina de O. Lima
Psicóloga CRP: 84326/06 217
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A Mediação nada mais é que “uma forma de autocomposição dos conflitos, com o
auxílio de um terceiro imparcial, que nada decide, mas apenas auxilia as partes na busca
de uma solução. (Buitoni, 2006.) um método de condução de conflitos, aplicado por um
terceiro neutro e especialmente treinado, cujo objetivo é restabelecer a comunicação
produtiva e colaborativa entre as pessoas que se encontram em um impasse, ajudando-
as a chegar a um acordo (Nazareth, 1998.) (Bulgarelli, S/D).
Já a Conciliação, é descrita como sendo “um esforço das partes para a resolução
de controvérsias, utilizando-se do auxilio de um terceiro conciliador de forma imparcial na
condução de uma solução ao conflito, opinando soluções quando as partes não
conseguirem um entendimento” (Bulgarelli, S/D).
Dessa forma, vemos que a principal diferença entre a Mediação e a Conciliação
reside no fato da intervenção de um terceiro, ou seja, a intervenção do conciliador existe
apenas na Conciliação e não na Mediação.
Por fim, a Arbitragem diz respeito a um “processo onde as partes em conflito
atribuem poderes a outra pessoa, ou pessoas, para decidirem por elas o objeto do conflito
existente, desde que estas sejam imparciais e normalmente especialistas na matéria a ser
disputada (...). Segundo Moore (1998, p. 23):
Processo voluntário em que as pessoas em conflito delegam poderes a
uma terceira pessoa, de preferência especialista na matéria, imparcial e
neutra, para decidir por elas o litígio” (Bulgarelli, S/D).
Bulgarelli (S/D) enfatiza algumas vantagens dos métodos de Mediação,
Conciliação e Arbitragem, são elas:
Vantagens da Mediação
- preservação das relações, por se traduzir em benefícios mútuos que momentaneamente
foi abalado por questões diversas;
- enorme rapidez e agilidade na conclusão do processo (em média de dois a três meses);
- custo reduzido em comparação à forma judicial.
- forma mais justa, pois, o acordo firmado advém da vontade das partes, e não pela
decisão impositiva de um terceiro;

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Psicóloga CRP: 84326/06 218
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obs: “A Mediação tem indicação quando existe a necessidade de se manter sigilo sobre a
questão controversa, o que não é possível no judiciário, quando existem problemas de
comunicação entre as partes, quando há um relacionamento tenso, mas que precisa ter
continuidade e, sobretudo, quando as partes estão dispostas a buscar uma solução para
a questão” (Bulgarelli, S/D).
Vantagens da Conciliação
As vantagens da Conciliação são todas aquelas descritas pela Mediação, ou seja,
redução do custo financeiro e emocional, sigilo, agilidade e rapidez na lidez, etc..
obs: “é mais eficaz em conflitos que chamamos de pontuais e novos, isto é, de pouca
idade; A relação entre as partes é transitória e sem maiores que as unam; Acidentes de
trânsito e algumas relações de consumo seriam alguns exemplos” (Bulgarelli, S/D).
Vantagens da Arbitragem
- o árbitro normalmente é um especialista no assunto discutido, podendo ser mais justo
em sua decisão;
- maior rapidez na conclusão do processo;
- economia de recursos à medida em que as partes já sabem antecipadamente a duração
do processo;
- procedimento corre em sigilo absoluto;
- a decisão do árbitro, denominada de sentença arbitral, tem efeitos de sentença judicial,
revestindo-se como coisa julgada.

16. Psicologia e Justiça: compromisso social, ética e direitos humanos.


As questões que envolvem a relação entre ética e direitos humanos são amplas e
complexas e tal relação não está imune a controvérsias.
O conteúdo e a extensão dos direitos humanos não estão definitivamente fixados
na consciência moral da humanidade. Não é absolutamente evidente para os indivíduos
que eles são portadores de direitos, nem, que estes devem ser respeitados.
Falar em direitos fundamentais da pessoa humana, é saber em que consistem tais
direitos, por que são fundamentais e quem é essa pessoa que goza de um estatuto
humano.

Karina de O. Lima
Psicóloga CRP: 84326/06 219
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A idéia moderna de moral está alicerçada na subjetividade, enquanto os direitos
humanos nascem como um conceito que assume uma dimensão coletiva. Mas, direitos
coletivos implicam também obrigações coletivas. Nesse caso, não se pode pensar os
direitos dissociando-os da noção de obrigação. Assim, o primado moral do conceito de
direito não pode substituir o de obrigação moral. Pode haver direitos sem obrigações (no
caso das crianças, por exemplo) e obrigações sem direitos (a exigência moral de não
maltratar os animais, que, por sua vez, são destituídos de direitos formais), porém o que
interessa destacar é a relação íntima de correspondência entre direitos humanos e
obrigações morais.
Parece evidente que, do ponto de vista axiológico, o discurso sobre o direito ficaria
desamparado sem a correlação com o discurso da obrigação. Com efeito, o conceito de
direito somente teria sentido se fosse elaborada uma pergunta prévia sobre as obrigações
que lhe são correspondentes.
Tais dificuldades revelam o quanto o universo dos direitos humanos se afigura
inexpugnável às abordagens simplistas, aos discursos do senso comum, às meras
declarações de princípios. Aliás, há algo que permanece obscuro na idéia iluminista de
direitos humanos. Existe um paradoxo entre o entusiasmo da razão emancipadora que
funda tais direitos e a dúvida sobre a sua real efetivação.
A experiência histórica comprova que a democracia não tem sido capaz de
assegurar o exercício da liberdade e a prática da justiça, ou seja, não tem se mostrado
apta a garantir a efetivação dos direitos humanos. A democracia pode ser uma condição
necessária à efetivação dos direitos humanos, mas não é a condição suficiente e
definitiva para a sua realização. Até porque a democracia como já havia mostrado Platão
e Aristóteles, não está imune à tentação totalitária, podendo, por isso, tornar-se uma
variante do direito do mais forte, uma espécie de tirania da maioria.
Como pode ser visto, os problemas ligados à efetivação dos direitos humanos são
numerosos, complexos e de natureza diversa. As dificuldades inerentes à plena
realização de tais direitos impõem o desafio de repensar os fundamentos, a razão de ser
e a amplitude de tais postulados.

Karina de O. Lima
Psicóloga CRP: 84326/06 220
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Os direitos humanos estão enredados, ainda, em dificuldades concernentes à
legitimidade de alguns dos princípios normativos que os constituem. Diante dessa
evidência, poder-se-ia perguntar: qual a origem dos valores e normas que fundam tais
direitos?
Uma genealogia da idéia de direitos humanos se impõe como condição prévia de
sua elucidação. Além disso, para saber se tais direitos podem ser justificados, é preciso
buscar uma definição adequada do termo. Em outras palavras, deve-se elucidá-los a
partir do seu conceito. Todavia, não se pode falar em conceito sem se reportar aos seus
fundamentos. Eis que surge o problema acerca do fundamento dos direitos humanos.
A filosofia, historicamente, tem elaborado princípios destinados a garantir que tais
direitos sejam erigidos, proclamados e utilizados como idéias regulativas da vida em
sociedade. É certo que o problema filosófico dos direitos humanos não pode ser
dissociado do estudo dos problemas históricos, sociais, econômicos, jurídicos inerentes à
sua realização.
O problema grave da sociedade atual, com relação aos direitos humanos, é o de
protegê-los e não fundamentá-los. Mas, protegê-los implica em aceitar a noção de que já
foi possível implantá-los.
Talvez seja correto pensar, em meio à crise do fundamento que assola a
sociedade, que a grande questão não é de caráter filosófico, histórico ou jurídico, mas sim
político. Trata-se de garantir que, não obstante as inúmeras Declarações, tais direitos não
sejam violados.
Do ponto de vista pragmático, o que importa é analisar as condições, as vias e as
situações mediante as quais este ou aquele direito pode ser realizado. Pois, parece claro
que a exigência do respeito aos direitos humanos pressupõe, como condição sine qua
non para a sua existência e realização, a certeza de que eles são fundamentados.
Convém demonstrar como a questão da fundamentação de tais direitos se oferece
ao olhar da filosofia, visto que é dever de ofício da mesma se ocupar das questões que
antecedem toda e qualquer tentativa de solução do problema.
Ao longo da história da filosofia muitas foram as tentativas de fundamentar os
direitos humanos. De maneira mais significativa tal intento se anuncia nitidamente a partir

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Psicóloga CRP: 84326/06 221
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do século XVII com o jusnaturalismo de Locke, para quem o homem naturalmente tem
direito à vida e à igualdade de oportunidades. Este preceito é seguido por Rousseau ao
anunciar que todos os homens nascem livres e iguais por natureza. Kant afirma que os
homens têm direito à liberdade, a qual deveria ser exercida de forma autônoma e racional.
Os teóricos do direito natural recorriam freqüentemente à idéia de evidência para
afirmar que tais direitos eram inelutáveis e, portanto, inquestionáveis.
Entretanto, aquilo que era considerado evidente numa dada época deixou de sê-lo
posteriormente (direito irrestrito à propriedade, direito de torturar prisioneiros, direito ao
uso da violência, etc.). Aliás, uma breve digressão à filosofia política do passado pode
atestar esse caráter de variabilidade que o acompanha. Assim, por exemplo, ao direito à
propriedade propugnado por Hobbes e Locke foram acrescentados o direito à liberdade
(Kant), os direitos políticos (Hegel), os direitos sociais (Marx).
Os direitos humanos têm hoje se alicerçado no valor intrínseco do princípio da
dignidade. Ao elaborar a segunda fórmula do imperativo categórico, Kant anuncia “ age de
tal forma que tu trates a humanidade, tanto na tua pessoa quanto na pessoa de qualquer
outro, sempre como um fim e nunca como um meio” (Kant, 1785). Para ele, todo ser
humano é dotado de dignidade em virtude de sua natureza racional, ou seja, cada ser
humano tem um valor primordial independentemente de seu caráter individual ou de sua
posição social. O homem é tomado como um fim em si mesmo. A idéia de dignidade
deve, pois, instaurar uma nova forma de vida capaz de garantir a liberdade e a autonomia
do sujeito.
A dignidade se impõe como um valor incondicional, incomensurável, insubstituível,
que não admite equivalente. Trata-se de algo que possui uma dimensão qualitativa,
jamais quantitativa. Por isso, uma pessoa não pode gozar de mais dignidade do que
outra. Mas, é evidente que tal princípio não pode servir como um imperativo aplicável em
todos os casos, porém é em função dessa idéia volátil, e às vezes imprecisa, de
dignidade que se pode identificar quando ela é negada, negligenciada, esquecida.
Ainda não há uma definição ampla, satisfatória e inquestionável acerca do que
vem a ser dignidade humana. Porém, não é preciso definir dignidade humana para
reconhecer que ela existe como prerrogativa inalienável do sujeito.

Karina de O. Lima
Psicóloga CRP: 84326/06 222
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Tanto quanto a noção de direitos humanos a idéia de cidadania possui um sentido
cada vez mais amplo. Os direitos do cidadão implicam a existência de uma ordem
jurídico-política garantida pelo Estado. Tais direitos, portanto, não têm amplitude
universal. São prerrogativas dos cidadãos que participam dos destinos da pólis. Os
direitos de cidadania precisam, pois, ser garantidos por dispositivos constitucionais. Em
muitos casos, os direitos dos cidadãos coincidem com os direitos humanos fundamentais.
Porém, estes se caracterizam pela amplitude e abrangência em relação aos
primeiros. Assim, por exemplo, uma criança tem direitos humanos, mas não tem direitos
ou deveres ligados à cidadania. O mesmo acontece com os doentes mentais e, em certo
sentido, com os povos indígenas, que ainda sofrem a tutela do Estado.
Do ponto de vista da variabilidade, os direitos de cidadania são mais sujeitos a
modificações, pois podem ser ampliados, restringidos ou simplesmente abolidos pelos
governos ou pelos poderes constituídos.
Os direitos humanos surgem como direitos fundamentais inatos a todos os
homens. Constituem, por isso, uma prerrogativa inalienável. Enquanto tais, eles devem
ser protegidos pela ordem jurídica dos Estados. Eles valem, pois, como direitos
positivamente estabelecidos, já que, na realidade, estão fundados em critérios
normativos. Direito à liberdade individual, à vida, à propriedade, à busca da felicidade, à
segurança, à participação na vida sócio-política do país, são os primeiros direitos
reconhecidos como fundamentais. Nesse caso, eles são fundamentais não porque têm
um fundamento, mas porque são imprescindíveis à existência do homem em sociedade.
Atualmente tenta-se justificar o valor desses direitos recorrendo-se à idéia de que
há um consenso, um entendimento ou uma aceitação tácita dos mesmos por parte dos
diversos membros da comunidade de nações. A Declaração Universal dos Direitos do
Homem (1948) se propõe a demonstrar que um determinado sistema de valores é
factível, que ele pode ser instaurado e compartilhado pela maioria dos homens do
planeta. A universalização desses princípios regulativos da conduta humana revelaria que
a humanidade partilha alguns valores comuns, cujo conteúdo seria subjetivamente aceito
e acolhido por todos os homens do planeta.

Karina de O. Lima
Psicóloga CRP: 84326/06 223
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A Declaração de 1948 traduz os direitos do homem contemporâneo que vive sob a
égide dos valores determinados em sua época pelos contornos da história. A estes devem
somar-se as exigências mais atuais que demandam novos direitos, como: o progresso da
técnica, a degradação do meio-ambiente e o papel que nele ocupa o indivíduo, a
ampliação dos canais de informação, o direito à verdade, etc. É isto que credencia a
substituição da noção de direitos humanos pela idéia de direitos fundamentais e,
sobretudo, a atualização dos princípios norteadores das Declarações e Convenções
existentes no mundo atual.
Se os direitos humanos traduzem um ideal da razão humana, o desafio que se
impõe ao homem contemporâneo é de outra ordem : ele consiste na dificuldade d se
encontrar as vias concretas para a sua realização.
Acerca dos obstáculos que envolvem a proteção e a efetivação dos direitos
proclamados, o drama que se desenha sob o horizonte histórico da nossa época
relaciona-se com a conquista de tais direitos e o problema de como realizá-los. Além do
mais, o fato de o senso moral comum aceitar o conteúdo de tais direitos não significa que
seu exercício seja simples. Embora aspirem à universalidade, tais direitos não são jamais
absolutos. Aliás, o fato de desejar que os mesmos alcancem uma amplitude universal e
de exigir um fundamento absoluto que lhes dê sustentação não garante sua realização
prática.
O homem dos direitos humanos é designado sob a categoria de universalidade
que supõe uma definição baseada num ponto de vista moral imparcial, independente de
toda determinação particular. Trata-se de um homem situado fora do tempo e do espaço.
Este homem não tem face nem história.
O homem real, como demonstrou Kant, é também portador de inclinações. O
caráter passional dos homens é, para ele, um fator positivo no que se refere ao já
afirmado desenvolvimento da espécie humana, pois tais inclinações levam ao
aperfeiçoamento das relações sociais entre os indivíduos. A razão, que define no plano
prático as relações universais dos homens entre si, determina, no mesmo nível, a
possibilidade deste desenvolvimento. A razão liberta o homem do impulso instintivo,
inserindo-o na sociedade.

Karina de O. Lima
Psicóloga CRP: 84326/06 224
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Nessa direção, o direito natural passa a ser reconhecido pela razão humana na
forma de sistema de leis racionais a priori. Isso indica que a idéia de uma comunidade de
indivíduos deve se assentar no direito natural dos homens de exercer sua liberdade e
autonomia. Segundo Kant, a noção de que aqueles que obedecem devem, também,
reunidos, legislar, se encontra na base de todas as formas de Estado.
Aristóteles descreve o homem como um “animal político” dotado de logos, de
discurso e razão. Palavra e pensamento fundam a possibilidade da existência plural dos
homens em sociedade. Entre os seres vivos, o homem enquanto animal político, se
destaca como o único apto a discernir sobre os valores, a definir o justo e o injusto, a
escolher entre o bem e o mal. A política confere ao homem uma disposição para viver em
sociedade, como animal social, mas quando separado da lei e da justiça ele pode
transformar-se num ser inumano. O homem preso às instituições é o melhor de todos,
mas quando ele delas se afasta torna-se o pior dos demônios. Sendo assim, em que se
funda a obrigação de respeitarmos os direitos humanos ?
No fato de que tais direitos constituem-se como um atributo próprio a todos os
seres racionais. Ou ainda, na exigência que o imperativo da lei moral impõe à nossa
vontade. Assim, viver sob a égide dos direitos humanos implica em cumprir as obrigações
que a liberdade determina a todo ser responsável. Trata-se aqui primeiramente de uma
obrigação imposta à moralidade do sujeito pela razão. Todavia, sabe-se que não basta
praticar determinado ato segundo a norma ou regra que o disciplina. É preciso também
examinar as condições concretas nas quais ele se realiza. Afinal, para que seja possível
imputar a alguém uma responsabilidade moral por determinado ato, é necessário que o
sujeito não ignore as circunstâncias nem, tampouco, as conseqüências de sua ação, e
que a causa de seus atos esteja nele próprio, ou seja, que sua conduta seja livre.
Conhecimento da lei e liberdade prática são prerrogativas que remetem ao princípio da
responsabilidade. Assim, para que o indivíduo possa escapar das possíveis sanções, ele
precisará justificar o desconhecimento de tais normais ou então o fato de que não é
obrigado a seguí-las. Somente assim a ignorância o isentaria de responsabilidade. A
ignorância, porém, não exime de responsabilidade aquele que é responsável por sua
própria ignorância.

Karina de O. Lima
Psicóloga CRP: 84326/06 225
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O problema acerca da constituição de instrumentos eficazes que possam garantir
universalmente o respeito e o cumprimento dos direitos humanos permanece irresolúvel.
Em muitos casos, pode-se apelar à ordem moral vigente como forma de garantir o seu
respeito. Mas que força pode assumir tal apelo num mundo marcado pelo egoísmo e pela
intolerância ?
Vê-se que o impasse se mantém, pois não há como instituir um direito legal ou
moral sobre algo, sem que se pense em constituir paralelamente uma instância legal ou
moral de cobrança. É mais fácil imaginar a existência de tal instância no âmbito de Direito
do que no âmbito da moral. Parece evidente que, se existe um direito, a ninguém é
permitido violá-lo. Neste caso, todos seriam os destinatários da exigência de cobrança
que se vincula ao direito.
O discurso dos direitos humanos se baseia numa crença iluminista, na atração
natural do bem, numa idealidade das relações humanas. Essa busca exacerbada do bem
implica no desejo de minimalização do mal, numa espécie de profilaxia da violência, de
extinção da força indomável que domina a natureza humana. Tentar fugir ao espectro do
mal tão-somente conduz tais direitos para fora do universo humano. Esta idéia indica que
resta sempre algo de insondável na maneira humana de ser. Há coisas que somente a
razão pode procurar, mas ela jamais as encontrará; há coisas que só o instinto poderia
encontrar, mas ele é, às vezes, cego para procurá-las.
Para Kant, o antagonismo da espécie se refere à sua insociável sociabilidade já
que o desejo de se associar convive, ao mesmo tempo, como a relutância em realizá-lo.
O instinto de sociabilidade conduz os indivíduos a uma vida associativa. Contudo,
interesses egoístas e inclinações o levam a negar as normas regulativas da vida em
sociedade.
Todavia, esta tendência ambígua não é algo em si mesmo deletério, isto porque
este movimento desperta a capacidade criativa do indivíduo, resgatando-o da indolência e
da letargia. A insociabilidade tende a fomentar o desenvolvimento da espécie ao
despertar a avidez dos homens incentivando-os à concorrência, à luta pela sobrevivência.
Assim, ou os homens optam racionalmente por um fim histórico ou a natureza
conduzi-los-á forçosamente, mediante guerras, conflitos e outras desgraças, à sua

Karina de O. Lima
Psicóloga CRP: 84326/06 226
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consecução. Desse modo, aquilo que se afigura nebuloso e disperso nos indivíduos pode
representar no conjunto da espécie um desenvolvimento contínuo e progressivo. Somente
na espécie é que se pode vislumbrar o sentido das disposições naturais do homem, isto
porque, ao contrário dos outros animais, os homens possuem a capacidade de transmitir
às futuras gerações seus feitos e conquistas.
Assim, enquanto as tendências anti-sociais conduzem os homens à vida privada e
passiva, as disposições racionais os levam a se libertar das limitações impostas pelas
inclinações passionais. Kant não confunde a história da humanidade com a história de
homens singulares. Assim, já que o indivíduo racional é mortal, confiou-se à espécie
humana a realização do seu destino racional. A filosofia da história de Kant demonstra a
existência de evidências que podem atestar o progresso moral da humanidade.
Kant considerava que a maneira entusiasmada com que o indivíduo concebia um
fato histórico relevante (a Revolução Francesa, por exemplo) refletia as motivações da
espécie humana para o melhor. O tropismo libertário seria concebido como uma
destinação natural do homem. Ora, a modernidade nos legou a idéia de progresso, mas
também a realidade de certos males. Suas fronteiras delimitam, por um lado, a idéia de
liberdade advinda da Revolução Francesa e, por outro, o terror que nela vem expresso
sob forma de guilhotina e intolerância.
De fato, a Revolução Francesa representa o signo histórico que revela a
disposição moral da humanidade, porém não podemos dissociá-la desse crime que é o
regicídio. Eis o exemplo do enigma insondável que define os rumos de um poder
originário que pode se conduzir para bem ou para o mal. O terror pode ser considerado
como um dos marcos históricos da radicalidade do mal. Contudo, a assepsia do mal não
mata o bacilo da maldade. A sociedade sonha em acabar com a contradição, a
negatividade, a morte, o mal. Todavia, ela é muitas vezes incapaz de distinguir uma
guerra justa de uma paz injusta.
A postulação do direito indica uma falta, uma carência, uma lacuna. Ademais, se
uma coisa é evidente, o direito torna-se supérfluo. Quando a reivindicação de direito
começa a recair sobre algo que sempre se mostrou necessário e inelutável, então há a
necessidade de preocupar-se. Assim, quando os indivíduos passarem a exigir o direito à

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água, ao ar, ao espaço, é sinal de que tais elementos estão se extinguido
progressivamente. O direito de resposta, antes de expressar uma conquista da
democracia, indica a ausência de diálogo. Assim também acontece em todas as situações
nas quais o direito se transforma em dogma. Se tudo pode remontar ao direito, nada mais
é direito.
Os direitos do indivíduo perdem sentido quando ele deixa de ser um ente alienado,
privado do próprio ser, estranho a si mesmo. O sistema de direitos humanos torna-se
complemente inadequado e ilusório numa conjuntura em que o indivíduo torna-se um
promotor da própria existência.
Todos estão prontos a aceitar que as vítimas, enquanto vítimas têm direitos. Mas
quem a rigor é vítima e do quê? Trata-se de um ato de justiça exercer uma discriminação
positiva (ação afirmativa) em favor de membros de certos grupos oprimidos ou de
minorias sub-representadas socialmente?
O problema é que o humanitário transformou-se numa grande medicina sem
fronteiras cuja função não é mais coibir os assassinos, mas apenas “socorrer as vítimas”.
Em lugar de conferir uma imagem nobre do homem, de pensá-lo como um ser dotado de
pensamento e linguagem, ele o reduz a um princípio de vida que tem algo em comum
com os animais. É como animais que os tiranos também tratam suas vítimas. A ajuda
humanitária trata os seres que padecem da tirania como corpos que merecem atenção
depois de terem sido reduzidos a coisas pelos seus algozes.
Há, pois, algo de infame na ideologia humanitária. Ela olha para as grandes
tragédias humanas, mas não consegue ver que é preciso salvar os homens.
A prática cruel e insana do racismo mostra o quanto os homens são incipientes na
arte de aceitar e respeitar o outro.
O racismo expressa uma forma alucinada de negação da diferença. Ele começa a
existir quando o outro torna-se diferente. Hoje se fala em termos de alteridade, ou seja, da
existência factual do outro, mas a alteridade não é a diferença. A diferença mata a
alteridade. O outro começa a ser rechaçado no momento em que se torna diferente. A
crítica política e ideológica do racismo é uma crítica formal, já que só ataca a obsessão
racista, sem atacar o seu núcleo principal : a própria idéia de diferença. Com isso, deixa-

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Psicóloga CRP: 84326/06 228
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se de demonstrar que a idéia de diferença, da qual se nutre o racismo, é uma ilusão. Tal
crítica acaba tornando-se uma ilusão crítica, já que a nada se refere. Eis porque o racismo
tem sobrevivido à critica racional que se lança contra ele, tão grave quanto a fragilidade
da crítica anti-racista e a ingenuidade dos que suspeitam que a cultura racista pode
sucumbir ao tempero da miscigenação.
A questão racial (ou étnica) permanece tão mal resolvida no Brasil quanto em
outros países. O racismo ideológico, todavia, tem sido aparentemente menos cultuado,
em virtude da confusão étnica e da multiplicação da mestiçagem. A discriminação racial
parece diluída no cruzamento das linhas de diversas etnias. Essa forma de
desqualificação do racismo por dispersão do objeto é mais sutil e eficaz do que a luta
ideológica. Todavia, ela não é suficiente para afugentar a sombra da insensatez que o
racismo representa.
A prática voluntária da violação dos direitos humanos, seja ela de caráter racista,
sexista, regionalista, coloca os homens em face da fraqueza da vontade ou da escolha do
pior.
Aqui, torna-se importante refletir sobre a ética e sua relação com a violência.
Rouanet (2001) afirma, sobre ética e direitos humanos, que em um contexto de
violência generalizada, tanto no plano internacional quanto no plano das sociedades
locais, a busca de uma solução para esse problema passa necessariamente pelas esferas
da ética e das relações entre as pessoas, para o que o instrumento do direito é um
importante ponto de referência.
Nesse sentido, há a necessidade de se tomar, provisoriamente, o direito como
padrão de referência externo nas relações entre as pessoas, dada a ausência de uma
visão mais unificada do que signifique um comportamento ético.
Em segundo lugar, é preciso refletir sobre o que significa esse comportamento
ético, pois sem este também a obediência às leis carece de fundamentação, uma vez que
se ignora o motivo de fazê-lo.
Em nossa sociedade, com graves deficiências de formação escolar e com tantos
problemas sociais, como falta de moradia, desnutrição, acesso a atendimento médico
etc., não se pode esperar um comportamento ético, ou moral, por parte da população, já

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que esta está preocupada sobretudo com a subsistência mais elementar. Antes, pelo
contrário, resolver esse problema da grande desigualdade entre nós é o principal
problema ético. Assim, o vetor da moralidade aponta de cima para baixo (ROUANET,
2001).
Kant mostrou que nenhum Estado de direito poderia subsistir se não houvesse por
parte dos cidadãos uma adesão a esse sistema, e não uma mera obediência em virtude
da coerção (KANT, 1977 apud ROUANET, 2001). No mesmo sentido vem a citação de
Rousseau:
"Colocar a lei acima do homem é um problema em política que comparo ao da quadratura
do círculo em geometria. Resolvei bem esse problema e o governo fundado sobre essa solução
será bom e sem abuso. Mas até lá onde acreditarem fazer reinar as leis serão os homens que
reinarão." (Rousseau, Considerações sobre o governo da Polônia, apud ROUANET, 2001).
Segundo Rouanet (2001), dessa forma, é preciso desenvolver o ethos da nação.
Em primeiro lugar, é preciso criar os cidadãos, pois estes só se tornam efetivamente
cidadãos quando têm seus direitos respeitados, e quando, em contrapartida, observam
seus deveres. O homem não nasce cidadão, mas se torna tal através da educação.
O cidadão só é despertado para a necessidade de seu comportamento ético
quando, percebe que é a ética que torna possível sua convivência em sociedade. Mas
para isso é preciso que valorize essa convivência, que a sociedade lhe mostre que essa
convivência pacífica vale a pena, é para sua vantagem também e não apenas para a
vantagem de uns poucos que não ele (ROUANET, 2001).
De certo modo, é o motivo que, segundo Hobbes e os demais contratualistas, o
leva a abrir mão de sua liberdade em nome da liberdade de todos, ou da preservação da
vida, de seus bens etc. Enquanto o ser humano não tiver acesso a essas garantias,
continuará vivendo em estado de natureza, pois este lhe parecerá como mais vantajoso, e
em muitos casos efetivamente o é (ROUANET, 2001).
O autor caracteriza o comportamento ético, definindo-o pela universalização do
próprio comportamento. É a situação em que o indivíduo se pergunta se pode ou não
universalizar, isto é, estender a todos, a máxima do comportamento que presentemente
está adotando. Se puder fazê-lo sem cair em contradição com sua própria máxima, então
este é comportamento é ético, ou justo (ROUANET, 2001).

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Esse tipo de raciocínio, exige uma certa formação ou mesmo, segundo Piaget, um
certo grau de abstração a que nem todos têm acesso, pelos mais diversos motivos
(ROUANET, 2001).
Rouanet (2001) afirma que se são necessárias certas condições de infra-estrutura
para se atingir um raciocínio ético, universalista, como alimentação adequada na idade de
formação, condições de vida decentes em geral, é obrigação da sociedade, e do Estado,
prover a essa situação. De outra forma, jamais se poderá esperar por parte da população
em geral um comportamento ético.
É claro que isso não justifica os casos individuais de pessoas que optam pela
transgressão às leis, mas ajuda a explicar. Ressalve-se, também, que a incapacidade
eventual de uma pessoa de atingir esse ou outros estágios no desenvolvimento cognitivo
não devem e não podem servir de base para qualquer discriminação. Para todos os fins,
são cidadãos integrais com todos os direitos garantidos (ROUANET, 2001).
Segundo este autor, uma sociedade justa depende do direito, na medida em que
não há uma solução única e unilateral para os problemas sociais. O direito é capaz de
fornecer os instrumentos para se lidar concretamente com uma sociedade que é
necessariamente plural.
A ética não é uma exigência abstrata, pois senão seria mero moralismo. É preciso,
como dizia Kant, uma política moral, e não um moralismo político (ROUANET, 2001).

17. LEGISLAÇÃO
1. Lei Federal nº 2.848, de 07 de dezembro de 1940 (Código Penal) Título V - Seção I
e Seção II do Capítulo I, Capítulo IV e Capítulo V.

TÍTULO V

Das penas

CAPÍTULO I

DAS PENAS PRINCIPAIS

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Penas principais

Art. 28. As penas principais são:

I - reclusão;

II - detenção;

III - multa.

SECÇÃO I

DA RECLUSÃO E DA DETENÇÃO

Regras comuns às penas privativas de liberdade

Art. 29. A pena de reclusão e a de detenção devem ser cumpridas em penitenciária, ou, à
falta, em secção especial de prisão comum.

§ 1° O sentenciado fica sujeito a trabalho, que deve ser remunerado, e a isolamento


durante o repouso noturno.

§ 2° As mulheres cumprem pena em estabelecimento especial, ou, à falta, em secção


adequada de penitenciária ou prisão comum, ficando sujeitas a trabalho interno.

§ 3° As penas de reclusão e de detenção impostas pela justiça de um Estado podem ser


cumpridas em estabelecimento de outro Estado ou da União.

Reclusão

Art. 30. No período inicial do cumprimento da pena de reclusão, se o permitem as suas


condições pessoais, fica o recluso também sujeito a isolamento durante o dia, por tempo
não superior a três meses.

§ 1° O recluso passará, posteriormente, a trabalhar em comum, dentro do


estabelecimento, ou, em obras ou serviços públicos, fora dele.

§ 2º O recluso de bom procedimento pode ser transferido para colônia penal ou


estabelecimento similar:

I - se já cumpriu metade da pena, quando esta não é superior a três anos;

II - se já cumpriu um terço da pena, quando esta é superior a três anos.

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§ 3° A pena de reclusão não admite suspensão condicional, salvo quando o condenado é
menor de vinte e um anos ou maior de setenta, e a condenação não é por tempo superior
a dois anos.

Detenção

Art. 31. O condenado a pena de detenção fica sempre separado dos condenados a pena
de reclusão e não está sujeito ao período inicial de isolamento diurno.

Parágrafo único. O trabalho, desde que tenha carater educativo, pode ser escolhido pelo
detento, na conformidade de suas aptidões ou de suas ocupações anteriores.

Regulamentos das prisões

Art. 32. Os regulamentos das prisões devem estabelecer a natureza, as condições e a


extensão dos favores gradativos, bem como as restrições ou os castigos disciplinares,
que mereça o condenado, mas, em hipótese alguma, podem autorizar medidas que
exponham a perigo a saúde ou ofendam a dignidade humana.

Parágrafo único. Salvo o disposto no art. 30, ou quando o exija interesse relevante da
disciplina, o isolamento não é permitido fora das horas de repouso noturno.

Superveniência de doença mental

Art. 33. O sentenciado a que sobrevem doença mental deve ser recolhido a manicômio
judiciário ou, à falta, a outro estabelecimento adequado, onde lhe seja assegurada a
custódia.

Tempo de prisão preventiva ou provisória ou de internação em hospital.

Art. 34. Computam-se na pena privativa de liberdade o tempo de prisão preventiva ou


provisória, no Brasil ou no estrangeiro, e o de internação em hospital ou manicômio.

SECÇÃO II

DA MULTA

Pena de multa

Art. 35. A pena de multa consiste no pagamento, em selo penitenciário, da quantia fixada
na sentença.

Pagamento da multa

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Art. 36. A multa deve ser paga dentro de dez dias, depois de transitar em julgado a
sentença; todavia, a requerimento do condenado, e conforme as circunstâncias, o juiz
pode prorrogar esse prazo até três meses.

Parágrafo único. Excedendo a quinhentos mil réis a importância da multa, o juiz pode
permitir que o pagamento se realize em quotas mensais, dentro no prazo de um ano,
prorrogável por seis meses, desde que metade da quantia tenha sido paga ou o
condenado ofereça garantia de pagamento.

Insolvência do condenado

Art. 37. Em caso de insolvência, a multa, imposta cumulativamente com pena privativa de
liberdade, é cobrada mediante desconto de quarta parte da remuneração do condenado
(art. 29, § 1°).

Desconto em vencimento ou em salário

§ 1° Se o condenado cumpre a pena privativa de liberdade ou obtem livramento


condicional, sem haver resgatado a multa, faz-se a cobrança mediante desconto em seu
vencimento ou salário.

§ 2° Aplica-se também o disposto no parágrafo anterior, se concedida a suspensão


condicional da pena privativa de liberdade, ou imposta exclusivamente a pena de multa.

Limite do desconto

§ 3° O desconto não deve incidir sobre os recursos indispensaveis à manutenção do


condenado e de sua família (art. 39).

Conversão em detenção

Art. 38. A multa converte-se em detenção, quando o condenado reincidente deixa de


pagá-la ou o condenado solvente frustra a sua cobrança.

Modo de conversão

Parágrafo único. A conversão da multa em detenção é feita à razão de dez mil réis por
dia, até o máximo de um ano, não podendo, porem, ser ultrapassado o mínimo da pena
privativa de liberdade, cumulativa ou alternativamente cominada ao crime.

Insolvência absoluta

Art. 39. Não se executa a pena de multa se o condenado é absolutamente insolvente;


procede-se, porem, à execução logo que sua situação econômica venha a permití-lo.
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Parágrafo único. Se entretanto, o condenado é reincidente, aplica-se o disposto no artigo
anterior.

Revogação da conversão

Art. 40. A conversão fica sem efeito se, a qualquer tempo, o condenado paga a multa ou
lhe assegura o pagamento mediante caução real ou fidejussória.

Suspensão da execução da multa

Art. 41. É suspensa a execução da pena de multa, se sobrevém ao condenado doença


mental.

CAPÍTULO IV

DO LIVRAMENTO CONDICIONAL

Requisitos do livramento condicional

Art. 60. O juiz pode conceder livramento condicional ao condenado a pena de reclusão ou
de detenção superior a três anos, desde que:

I - cumprida mais de metade da pena, se o criminoso é primário, e mais de três quartos,


se reincidente;

II - verificada a ausência ou a cessação da prericulosidade, e provados bom


comportamento durante a vida carcerária e aptidão para prover à própria subsistência
mediante trabalho honesto;

III - satisfeitas as obrigações civis resultantes do crime, salvo quando provada a


insolvência do condenado.

Parágrafo único. As penas que correspondem a crimes autônomos podem somar-se, para
o efeito do livramento, quando qualquer delas é superior a três anos.

Especificação das condições

Art. 61. A sentença deve especificar as condições a que fica subordinado o livramento.

Preliminares da concessão

Art. 62. O livramento somente se concede mediante parecer do Conselho Penitenciário,


ouvido o diretor do estabelecimento em que está ou tenha estado o liberando e, se
imposta medida de segurança detentiva, após o exame a que se refere o art. 81.
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Vigilância do liberado

Art. 63. O liberado, onde não exista patronato oficial subordinado ao Conselho
Penitenciário, fica sob a vigilância da autoridade policial.

Revogação do livramento

Art. 64. Revoga-se o livramento, se o liberado vem a ser condenado, em sentença


irrecorrível:

I - por crime cometido durante a vigência do benefício;

II - por crime anterior, sem prejuizo, entretanto, do disposto no parágrafo único do art. 60;

III - por motivo de contravenção, desde que imposta pena privativa de liberdade.

Parágrafo único. O juiz pode também revogar o livramento, se o liberado deixa de cumprir
qualquer das obrigações constantes da sentença ou é irrecorrivelmente condenado, por
motivo de contravenção, a pena que não seja privativa de liberdade.

Efeitos da revogação

Art. 65. Revogado o livramento, não pode ser novamente concedido, e, salvo quando a
revogação resulta de condenação por outro crime ou contravenção anterior àquele
benefício, não se desconta na pena o tempo em que esteve solto o condenado.

Cumprimento das condições

Art. 66. Se até o seu termo o livramento não é revogado, considera-se extinta a pena
privativa de liberdade e ficam sem efeito as medidas de segurança pessoais.

Parágrafo único. O juiz não pode declarar extinta a pena, enquanto não passar em
julgado a sentença em processo a que responde o liberado, por crime ou contravenção
cometido na vigência do livramento.

CAPÍTULO V

DAS PENAS ACESSÓRIAS

Penas acessórias

Art. 67. São penas acessórias:

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I - a perda de função pública, eletiva ou de nomeação;

II - as interdições de direitos;

III - a publicação da sentença.

Perda de função pública

Art. 68. Incorre na perda de função pública:

I - O condenado a pena privativa de liberdade por crime cometido com abuso de poder ou
violação de dever inerente a função pública;

II - o condenado por outro crime a pena de reclusão por mais de dois anos ou de
detenção por mais de quatro.

Interdições de direitos

Art. 69. São interdições de direitos:

I - a incapacidade temporária para investidura em função pública;

II - a incapacidade, permanente ou temporária, para o exercício da autoridade marital ou


do pátrio poder;

III - a incapacidade, permanente ou temporária, para o exercício de tutela ou curatela;

IV - a incapacidade temporária para profissão ou atividade cujo exercício depende de


habilitação especial ou de licença ou autorização do poder público:

V - a suspensão dos direito politicos.

Incidência em interdição de direito

Parágrafo único. Incorrem:

I - na interdição sob o n. I:

a) de cinco a vinte anos, o condenado a reclusão por tempo não inferior a quatro anos ou
o condenado por crime doloso cometido no exercício de função pública, em prejuizo da
Fazenda Pública, ou de patrimônio de entidade paraestatal, qualquer que seja o tempo da
pena:

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b) de dois a oito anos, o condenado a reclusão por tempo superior a dois anos e inferior a
quatro, ou o condenado por crime cometido com abuso de poder ou violação de dever
inerente a função pública, excetuado o caso previsto na letra a, parte final;

II - na interdição sob o n. II:

a) permanentemente, o condenado por crime de que resulte manifesta incompatibilidade


com o exercício da autoridade marital ou do pátrio poder;

b) de dois a oito anos, o condenado por crime cometido com abuso da autoridade marital
ou do pátrio poder, se não incide na sanção anterior;

c) nos demais casos, até o termo da execução da pena ou da medida de segurança


detentiva, o condenado a reclusão por tempo superior a dois anos;

III - na interdição sob o n. III:

a) permanentemente, o condenado por crime de que resulte manifesta incompatibilidade


com o exercício da tutela ou curatela;

b) de cinco a vinte anos, o condenado a reclusão por tempo não inferior a quatro anos;

c) de dois a oito anos, o condenado a reclusão superior a dois anos e inferior a quatro, ou
por crime cometido com abuso de poder ou infração de dever inerente à tutela ou
curatela, se não ocorre o caso da letra a;

IV - na interdição sob o n. IV, de dois a dez anos, o condenado por crime cometido com
abuso de profissão ou atividade, ou com infração de dever a ela inerente;

V - na interdição sob o n. V, o condenado a pena privativa de liberdade, enquanto dure a


execução da pena, a aplicação da medida de segurança detentiva ou a interdição sob n. I.

Art. 70. A sentença deve declarar:

I - a perda da função pública, nos casos do n. I do art. 68;

II - as interdições, nos casos do n. I, letras a e b, n. II, letras a e b, n. III, letras a, b e c, e


n. IV, do parágrafo único do artigo anterior, fixando-lhes a duração, quando temporárias.

Parágrafo único. Nos demais casos, a perda de função pública e as interdições resultam
da simples imposição da pena principal.

Interdição provisória

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Psicóloga CRP: 84326/06 238
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Art. 71. Durante o processo, é facultado ao juiz decretar a suspensão provisória do
exercício do pátrio poder, da autoridade marital, da tutela, da curatela e da profissão ou
atividade, desde que a interdição correspondente possa resultar da condenação.

Termo inicial das interdições

Art. 72. As interdições, permanentes ou temporárias, tornam-se efetivas logo que passa
em julgado a sentença, mas o prazo das interdições temporárias começa a correr do dia
em que:

a) termina a execução da pena privativa de liberdade ou esta se extingue pela prescrição;

b) finda a execução da medida de segurança detentiva.

Parágrafo único. Computam-se no prazo:

I - o tempo da suspensão provisória;

II - o tempo de liberdade resultante da suspensão condicional da pena ou do livramento


condicional, se não sobrevem revogação.

Publicação da sentença

Art. 73. A publicação da sentença é decretada de ofício pelo juiz, sempre que o exija o
interesse público.

§ 1º A publicação é feita em jornal de ampla circulação, à custa do condenado, ou se este


é insolvente, em jornal oficial.

§ 2° A sentença é publicada em resumo, salvo razões especiais que justifiquem a


publicação na íntegra.

2. Lei Federal nº 5.869 de 11 de janeiro de 1973 (Código do Processo Civil) Título


VIII, Capítulo I, Capítulo II e Seção VII do Capítulo VI.

TÍTULO VIII
DO PROCEDIMENTO ORDINÁRIO

CAPÍTULO I
DA PETIÇÃO INICIAL

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Seção I
Dos Requisitos da Petição Inicial

Art. 282. A petição inicial indicará:

I - o juiz ou tribunal, a que é dirigida;

II - os nomes, prenomes, estado civil, profissão, domicílio e residência do autor e do réu;

III - o fato e os fundamentos jurídicos do pedido;

IV - o pedido, com as suas especificações;

V - o valor da causa;

VI - as provas com que o autor pretende demonstrar a verdade dos fatos alegados;

VII - o requerimento para a citação do réu.

Art. 283. A petição inicial será instruída com os documentos indispensáveis à propositura da
ação.

Art. 284. Verificando o juiz que a petição inicial não preenche os requisitos exigidos nos arts.
282 e 283, ou que apresenta defeitos e irregularidades capazes de dificultar o julgamento de
mérito, determinará que o autor a emende, ou a complete, no prazo de 10 (dez) dias.

Parágrafo único. Se o autor não cumprir a diligência, o juiz indeferirá a petição inicial.

Art. 285. Estando em termos a petição inicial, o juiz a despachará, ordenando a citação do réu,
para contestar a ação; do mandado constará que, não sendo contestada a ação, se presumirão
aceitos pelo réu, como verdadeiros, os fatos articulados pelo autor.

Art. 285. Estando em termos a petição inicial, o juiz a despachará, ordenando a citação do réu,
para responder; do mandado constará que, não sendo contestada a ação, se presumirão aceitos
pelo réu, como verdadeiros, os fatos articulados pelo autor. (Redação dada pela Lei nº 5.925, de
1º.10.1973)

Art. 285-A. Quando a matéria controvertida for unicamente de direito e no juízo já houver sido
proferida sentença de total improcedência em outros casos idênticos, poderá ser dispensada a
citação e proferida sentença, reproduzindo-se o teor da anteriormente prolatada. (Incluído pela Lei
nº 11.277, de 2006)

§ 1o Se o autor apelar, é facultado ao juiz decidir, no prazo de 5 (cinco) dias, não manter a
sentença e determinar o prosseguimento da ação. (Incluído pela Lei nº 11.277, de 2006)

Karina de O. Lima
Psicóloga CRP: 84326/06 240
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§ 2o Caso seja mantida a sentença, será ordenada a citação do réu para responder ao recurso.
(Incluído pela Lei nº 11.277, de 2006)

Seção II
Do Pedido

Art. 286. O pedido deve ser certo ou determinado. É lícito, porém, formular pedido genérico:
I - nas ações em que a pretensão recai, sobre uma universalidade, se não puder o autor
individuar na petição os bens demandados;
II - quando não for possível determinar, de modo definitivo, as conseqüências do ato ou do
fato ilícito;
III - quando a determinação do valor da condenação depender de ato que deva ser praticado
pelo réu.

Art. 286. O pedido deve ser certo ou determinado. É lícito, porém, formular pedido genérico:
(Redação dada pela Lei nº 5.925, de 1º.10.1973)

I - nas ações universais, se não puder o autor individuar na petição os bens demandados;
(Redação dada pela Lei nº 5.925, de 1º.10.1973)

II - quando não for possível determinar, de modo definitivo, as conseqüências do ato ou do fato
ilícito; (Redação dada pela Lei nº 5.925, de 1º.10.1973)

III - quando a determinação do valor da condenação depender de ato que deva ser praticado
pelo réu. (Redação dada pela Lei nº 5.925, de 1º.10.1973)

Art. 287. Se o autor pedir a condenação do réu a abster-se da prática de algum ato, a tolerar
alguma atividade, ou a prestar fato que não possa ser realizado por terceiro, constará da petição
inicial a cominação da pena pecuniária para o caso de descumprimento da sentença (arts. 644 e
645).

Art. 287. Se o autor pedir que seja imposta ao réu a abstenção da prática de algum ato, tolerar
alguma atividade, prestar ato ou entregar coisa, poderá requerer cominação de pena pecuniária
para o caso de descumprimento da sentença ou da decisão antecipatória de tutela (arts. 461, § 4o,
e 461-A).(Redação dada pela Lei nº 10.444, de 7.5.2002)

Art. 288. O pedido será alternativo, quando, pela natureza da obrigação, o devedor puder
cumprir a prestação de mais de um modo.

Parágrafo único. Quando, pela lei ou pelo contrato, a escolha couber ao devedor, o juiz Ihe
assegurará o direito de cumprir a prestação de um ou de outro modo, ainda que o autor não tenha
formulado pedido alternativo.

Art. 289. É lícito formular mais de um pedido em ordem sucessiva, a fim de que o juiz conheça
do posterior, em não podendo acolher o anterior.

Karina de O. Lima
Psicóloga CRP: 84326/06 241
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Art. 290. Quando a obrigação consistir em prestações periódicas, considerar-se-ão elas
incluídas no pedido, independentemente de declaração expressa do autor; se o devedor, no curso
do processo, deixar de pagá-las ou de consigná-las, a sentença as incluirá na condenação,
enquanto durar a obrigação.

Art. 291. Na obrigação indivisível com pluralidade de credores, aquele que não participou do
processo receberá a sua parte, deduzidas as despesas na proporção de seu crédito.

Art. 292. É permitida a cumulação, num único processo, contra o mesmo réu, de vários
pedidos, ainda que entre eles não haja conexão.

§ 1o São requisitos de admissibilidade da cumulação:

I - que os pedidos sejam compatíveis entre si;

II - que seja competente para conhecer deles o mesmo juízo;

III - que seja adequado para todos os pedidos o tipo de procedimento.

§ 2o Quando, para cada pedido, corresponder tipo diverso de procedimento, admitir-se-á a


cumulação, se o autor empregar o procedimento ordinário.

Art. 293. Os pedidos são interpretados restritivamente, compreendendo-se, entretanto, no


principal os juros legais.

Art. 294. Quando o autor houver omitido, na petição inicial, pedido que lhe era lícito fazer, só
por ação distinta poderá formulá-lo.

Art. 294. Antes da citação, o autor poderá aditar o pedido, correndo à sua conta as custas
acrescidas em razão dessa iniciativa. (Redação dada pela Lei nº 8.718, de 14.10.1993)

Seção III
Do Indeferimento da Petição Inicial

Art. 295. A petição inicial será indeferida:


I - quando for inepta;
II - quando a parte for manifestamente ilegítima;
III - quando o autor carecer de interesse processual;
IV - quando o juiz verificar, desde logo, a decadência ou a prescrição;
V - quando o tipo de procedimento, escolhido pelo autor, não corresponder à natureza da
causa, ou ao valor da ação; caso em que só não será indeferida, se puder adaptar-se ao tipo de
procedimento legal;
VI - quando não atendidas as prescrições dos arts. 39, parágrafo único, primeira parte, e 284.
Parágrafo único. Considera-se inepta a petição inicial quando:
I - lhe faltar pedido ou causa de pedir;
II - da narração dos fatos não decorrer logicamente a conclusão;

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III - o pedido for juridicamente impossível;
IV - contiver pedidos incompatíveis entre si.

Art. 295. A petição inicial será indeferida: (Redação dada pela Lei nº 5.925, de 1º.10.1973)

I - quando for inepta; (Redação dada pela Lei nº 5.925, de 1º.10.1973)

II - quando a parte for manifestamente ilegítima; (Redação dada pela Lei nº 5.925, de
1º.10.1973)

III - quando o autor carecer de interesse processual; (Redação dada pela Lei nº 5.925, de
1º.10.1973)

IV - quando o juiz verificar, desde logo, a decadência ou a prescrição (art. 219, § 5o);
(Redação dada pela Lei nº 5.925, de 1º.10.1973)

V - quando o tipo de procedimento, escolhido pelo autor, não corresponder à natureza da


causa, ou ao valor da ação; caso em que só não será indeferida, se puder adaptar-se ao tipo de
procedimento legal; (Redação dada pela Lei nº 5.925, de 1º.10.1973)

Vl - quando não atendidas as prescrições dos arts. 39, parágrafo único, primeira parte, e 284.
(Redação dada pela Lei nº 5.925, de 1º.10.1973)

Parágrafo único. Considera-se inepta a petição inicial quando: (Redação dada pela Lei nº
5.925, de 1º.10.1973)

I - Ihe faltar pedido ou causa de pedir; (Redação dada pela Lei nº 5.925, de 1º.10.1973)

II - da narração dos fatos não decorrer logicamente a conclusão; (Redação dada pela Lei nº
5.925, de 1º.10.1973)

III - o pedido for juridicamente impossível; (Redação dada pela Lei nº 5.925, de 1º.10.1973)

IV - contiver pedidos incompatíveis entre si. (Redação dada pela Lei nº 5.925, de 1º.10.1973)

Art. 296. Se o autor apelar da decisão de indeferimento da petição inicial, o despacho, que
receber a apelação, mandará citar o réu para acompanhá-la.
§ 1º A citação valerá para todos os termos ulteriores do processo.
§ 2º Sendo provido o recurso, o réu será intimado, na pessoa de seu procurador, para
oferecer contestação.
§ 3º Se o réu não tiver procurador constituído nos autos, o processo correrá à sua revelia.
Art. 296. Se o autor apelar da sentença de indeferimento da petição inicial, o despacho, que
receber o recurso, mandará citar o réu para acompanhá-lo. (Redação dada pela Lei nº 5.925, de
1º.10.1973)
§ 1º A citação valerá para todos os termos ulteriores do processo. (Redação dada pela Lei nº
5.925, de 1º.10.1973)
§ 2º Sendo provido o recurso, o réu será intimado, na pessoa de seu procurador, para

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responder. (Redação dada pela Lei nº 5.925, de 1º.10.1973)
§ 3º Se o réu não tiver procurador constituído nos autos, o processo correrá à sua revelia.
(Redação dada pela Lei nº 5.925, de 1º.10.1973)

Art. 296. Indeferida a petição inicial, o autor poderá apelar, facultado ao juiz, no prazo de 48
(quarenta e oito) horas, reformar sua decisão. (Redação dada pela Lei nº 8.952, de 13.12.1994)

Parágrafo único. Não sendo reformada a decisão, os autos serão imediatamente


encaminhados ao tribunal competente. (Redação dada pela Lei nº 8.952, de 13.12.1994)

CAPÍTULO II
DA RESPOSTA DO RÉU

Seção I
Das Disposições Gerais

Art. 297. O réu poderá oferecer, no prazo de 15 (quinze) dias, em petição escrita, dirigida ao
juiz da causa, contestação, exceção e reconvenção.

Art. 298. Quando forem citados para a ação vários réus, o prazo para responder ser-lhes-á
comum, salvo o disposto no art. 191.

Parágrafo único. Se o autor desistir da ação quanto a algum réu ainda não citado, o prazo para
a resposta correrá da intimação do despacho que deferir a desistência.

Art. 299. A contestação e a reconvenção serão oferecidas simultaneamente, em peças


autônomas; a exceção será processada em apenso aos autos principais.

Seção II
Da Contestação

Art. 300. Compete ao réu alegar, na contestação, toda a matéria de defesa, expondo as razões
de fato e de direito, com que impugna o pedido do autor e especificando as provas que pretende
produzir.

Art. 301. Compete-lhe, porém, antes de discutir o mérito, alegar:


I - inexistência ou nulidade da citação;
II - incompetência absoluta;
III - inépcia da petição inicial;
IV - litispendência;
V - coisa julgada;
VI - conexão;
VII - incapacidade da parte, defeito de representação ou falta de autorização;
VIII - compromisso arbitral;
IX - carência de ação;
X - falta de caução ou de outra prestação, que a lei exige como preliminar.
§ 1º Verifica-se a litispendência ou a coisa julgada, quando se reproduz ação anteriormente

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ajuizada.
§ 2º É idêntica a outra, ação que tem as mesmas partes, a mesma causa de pedir e o mesmo
pedido.
§ 3º Há litispendência, quando se repete ação, que está em curso; há coisa julgada, quando
se repete ação que já foi decidida por sentença, de que não caiba recurso.
§ 4º Com exceção do compromisso arbitral, o juiz conhecerá de oficio da matéria enumerada
neste artigo.

Art. 301. Compete-lhe, porém, antes de discutir o mérito, alegar: (Redação dada pela Lei nº
5.925, de 1º.10.1973)

I - inexistência ou nulidade da citação; (Redação dada pela Lei nº 5.925, de 1º.10.1973)

II - incompetência absoluta; (Redação dada pela Lei nº 5.925, de 1º.10.1973)

III - inépcia da petição inicial; (Redação dada pela Lei nº 5.925, de 1º.10.1973)

IV - perempção; (Redação dada pela Lei nº 5.925, de 1º.10.1973)

V - litispendência; (Redação dada pela Lei nº 5.925, de 1º.10.1973)

Vl - coisa julgada; (Redação dada pela Lei nº 5.925, de 1º.10.1973)

VII - conexão; (Redação dada pela Lei nº 5.925, de 1º.10.1973)

Vlll - incapacidade da parte, defeito de representação ou falta de autorização; (Redação dada


pela Lei nº 5.925, de 1º.10.1973)

IX - compromisso arbitral; (Redação dada pela Lei nº 5.925, de 1º.10.1973)

IX - convenção de arbitragem; (Redação dada pela Lei nº 9.307, de 23.9.1996)

X - carência de ação; (Redação dada pela Lei nº 5.925, de 1º.10.1973)

Xl - falta de caução ou de outra prestação, que a lei exige como preliminar. (Incluído pela Lei nº
5.925, de 1º.10.1973)

§ 1o Verifica-se a litispendência ou a coisa julgada, quando se reproduz ação anteriormente


ajuizada. (Redação dada pela Lei nº 5.925, de 1º.10.1973)

§ 2o Uma ação é idêntica à outra quando tem as mesmas partes, a mesma causa de pedir e o
mesmo pedido. (Redação dada pela Lei nº 5.925, de 1º.10.1973)

§ 3o Há litispendência, quando se repete ação, que está em curso; há coisa julgada, quando se
repete ação que já foi decidida por sentença, de que não caiba recurso. (Redação dada pela Lei nº
5.925, de 1º.10.1973)

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§ 4o Com exceção do compromisso arbitral, o juiz conhecerá de ofício da matéria enumerada
neste artigo. (Redação dada pela Lei nº 5.925, de 1º.10.1973)

Art. 302. Cabe também ao réu manifestar-se precisamente sobre os fatos narrados na petição
inicial. Presumem-se verdadeiros os fatos não impugnados, salvo:

I - se não for admissível, a seu respeito, a confissão;

II - se a petição inicial não estiver acompanhada do instrumento público que a lei considerar da
substância do ato;

III - se estiverem em contradição com a defesa, considerada em seu conjunto.

Parágrafo único. Esta regra, quanto ao ônus da impugnação especificada dos fatos, não se
aplica ao advogado dativo, ao curador especial e ao órgão do Ministério Público.

Art. 303. Depois da contestação, só é lícito deduzir novas alegações quando:

I - relativas a direito superveniente;

II - competir ao juiz conhecer delas de ofício;

III - por expressa autorização legal, puderem ser formuladas em qualquer tempo e juízo.

Seção III
Das Exceções

Art. 304. É lícito a qualquer das partes argüir, por meio de exceção, a incompetência (art. 112),
o impedimento (art. 134) ou a suspeição (art. 135).

Art. 305. Este direito pode ser exercido em qualquer tempo, ou grau de jurisdição, cabendo à
parte oferecer exceção, no prazo de 15 (quinze) dias, contado do fato que ocasionou a
incompetência, o impedimento ou a suspeição.

Parágrafo único. Na exceção de incompetência (art. 112 desta Lei), a petição pode ser
protocolizada no juízo de domicílio do réu, com requerimento de sua imediata remessa ao juízo
que determinou a citação. (Incluído pela Lei nº 11.280, de 2006)

Art. 306. Recebida a exceção, o processo ficará suspenso (art. 265, III), até que seja
definitivamente julgada.

Subseção I
Da Incompetência

Art. 307. O excipiente argüirá a incompetência em petição fundamentada e devidamente


instruída, indicando o juízo para o qual declina.

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Art. 308. Conclusos os autos, o juiz mandará processar a exceção, ouvindo o excepto dentro
em 10 (dez) dias e decidindo em igual prazo.

Art. 309. Havendo necessidade de prova testemunhal, o juiz designará audiência de instrução,
proferindo sentença dentro de dez (10) dias.

Art. 310. O juiz indeferirá a exceção em despacho liminar, quando manifestamente


improcedente.

Art. 309. Havendo necessidade de prova testemunhal, o juiz designará audiência de instrução,
decidindo dentro de 10 (dez) dias. (Redação dada pela Lei nº 5.925, de 1º.10.1973)

Art. 310. O juiz indeferirá a petição inicial da exceção, quando manifestamente improcedente.
(Redação dada pela Lei nº 5.925, de 1º.10.1973)

Art. 311. Julgada procedente a exceção, os autos serão remetidos ao juiz competente.

Subseção II
Do Impedimento e da Suspeição

Art. 312. A parte oferecerá a exceção de impedimento ou de suspeição, especificando o motivo


da recusa (arts. 134 e 135). A petição, dirigida ao juiz da causa, poderá ser instruída com
documentos em que o excipiente fundar a alegação e conterá o rol de testemunhas.

Art. 313. Despachando a petição, o juiz, se reconhecer o impedimento ou a suspeição,


ordenará a remessa dos autos ao seu substituto legal; em caso contrário, dentro de 10 (dez) dias,
dará as suas razões, acompanhadas de documentos e de rol de testemunhas, se houver,
ordenando a remessa dos autos ao tribunal.

Art. 314. Verificando que a exceção não tem fundamento legal, o tribunal determinará o seu
arquivamento; no caso contrário condenará o juiz nas custas, mandando remeter os autos ao seu
substituto legal.

Seção IV
Da Reconvenção

Art. 315. O réu pode reconvir ao autor no mesmo processo, toda vez que a reconvenção seja
conexa com a ação principal ou com o fundamento da defesa.

Parágrafo único. Não pode o réu, em seu próprio nome, reconvir ao autor, quando este
demandar em nome de outrem. (§ 1º renumerado pela Lei nº 9.245, de 26.12.1995)

§ 2º Não se admitirá reconvenção nas causas de procedimento sumaríssimo. (Revogado pela


Lei nº 9.245, de 26.12.1995)

Art. 316. Oferecida a reconvenção, o autor reconvindo será intimado, na pessoa do seu
procurador, para contestá-la no prazo de 15 (quinze) dias.

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Art. 317. A desistência da ação, ou a existência de qualquer causa que a extinga, não obsta ao
prosseguimento da reconvenção.

Art. 318. Julgar-se-ão na mesma sentença a ação e a reconvenção.

CAPÍTULO VI
DAS PROVAS

Seção VII
Da Prova Pericial

Art. 420. A prova pericial consiste em exame, vistoria ou avaliação.

Parágrafo único. O juiz indeferirá a perícia quando:

I - a prova do fato não depender do conhecimento especial de técnico;

II - for desnecessária em vista de outras provas produzidas;

III - a verificação for impraticável.

Art. 421. O juiz nomeará o perito.

Art. 421. O juiz nomeará o perito, fixando de imediato o prazo para a entrega do laudo.
(Redação dada pela Lei nº 8.455, de 24.8.1992)

§ 1o Incumbe às partes, dentro em 5 (cinco) dias, contados da intimação do despacho de


nomeação do perito:

I - indicar o assistente técnico;

II - apresentar quesitos.

§ 2º Havendo pluralidade de autores ou de réus, far-se-á a escolha pelo voto da maioria de


cada grupo; ocorrendo empate, decidirá a sorte.

§ 2o Quando a natureza do fato o permitir, a perícia poderá consistir apenas na inquirição pelo
juiz do perito e dos assistentes, por ocasião da audiência de instrução e julgamento a respeito das
coisas que houverem informalmente examinado ou avaliado. (Redação dada pela Lei nº 8.455, de
24.8.1992)

Art. 422. O perito e os assistentes técnicos serão intimados a prestar, em dia, hora e lugar
designados pelo juiz, o compromisso de cumprir conscienciosamente o encargo que lhes for
cometido.

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Art. 422. O perito cumprirá escrupulosamente o encargo que Ihe foi cometido,
independentemente de termo de compromisso. Os assistentes técnicos são de confiança da parte,
não sujeitos a impedimento ou suspeição. (Redação dada pela Lei nº 8.455, de 24.8.1992)

Art. 423. O perito ou o assistente técnico pode escusar-se (art. 146), ou ser recusado por
impedimento ou suspeição (art. 138, III); ao aceitar a escusa ou ao julgar procedente a
impugnação, o juiz nomeará novo perito e a parte poderá indicar outro assistente técnico.

Art. 423. O perito pode escusar-se (art. 146), ou ser recusado por impedimento ou suspeição
(art. 138, III); ao aceitar a escusa ou julgar procedente a impugnação, o juiz nomeará novo perito.
(Redação dada pela Lei nº 8.455, de 24.8.1992)

Art. 424. O perito ou o assistente pode ser substituído quando:

Art. 424. O perito pode ser substituído quando: (Redação dada pela Lei nº 8.455, de 24.8.1992)

I - carecer de conhecimento técnico ou científico;

II - sem motivo legítimo, deixar de prestar compromisso.


Parágrafo único. No caso previsto no número II, o juiz impor-lhe-á multa de valor não superior
a um (1) salário-mínimo vigente na sede do juízo.

II - sem motivo legítimo, deixar de cumprir o encargo no prazo que Ihe foi assinado. (Redação
dada pela Lei nº 8.455, de 24.8.1992)

Parágrafo único. No caso previsto no inciso II, o juiz comunicará a ocorrência à corporação
profissional respectiva, podendo, ainda, impor multa ao perito, fixada tendo em vista o valor da
causa e o possível prejuízo decorrente do atraso no processo. (Redação dada pela Lei nº 8.455, de
24.8.1992)

Art. 425. Poderão as partes apresentar, durante a diligência, quesitos suplementares. Da


juntada dos quesitos aos autos dará o escrivão ciência à parte contrária.

Art. 426. Compete ao juiz:

I - indeferir quesitos impertinentes;

II - formular os que entender necessários ao esclarecimento da causa.

Art. 427. O juiz, sob cuja direção e autoridade se realizará a perícia, fixará por despacho:
I - o dia, hora e lugar em que terá início a diligência;
II - o prazo para a entrega do laudo.

Art. 427. O juiz poderá dispensar prova pericial quando as partes, na inicial e na contestação,
apresentarem sobre as questões de fato pareceres técnicos ou documentos elucidativos que
considerar suficientes. (Redação dada pela Lei nº 8.455, de 24.8.1992)

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Art. 428. Quando a prova tiver de realizar-se por carta, poderá proceder-se à nomeação de
perito e indicação de assistentes técnicos no juízo, ao qual se requisitar a perícia.

Art. 429. Para o desempenho de sua função, podem o perito e os assistentes técnicos utilizar-
se de todos os meios necessários, ouvindo testemunhas, obtendo informações, solicitando
documentos que estejam em poder de parte ou em repartições públicas, bem como instruir o laudo
com plantas, desenhos, fotografias e outras quaisquer peças.

Art. 430. O perito e os assistentes técnicos, depois de averiguação individual ou em conjunto,


conferenciarão reservadamente e, havendo acordo, lavrarão laudo unânime.
Parágrafo único. O laudo será escrito pelo perito e assinado por ele e pelos assistentes
técnicos . (Revogado pela Lei nº 8.455, de 24.8.1992)
Art. 431. Se houver divergência entre o perito e os assistentes técnicos, cada qual escreverá
o laudo em separado, dando as razões em que se fundar. (Revogado pela Lei nº 8.455, de
24.8.1992))

Art. 431-A. As partes terão ciência da data e local designados pelo juiz ou indicados pelo perito
para ter início a produção da prova. (Incluído pela Lei nº 10.358, de 27.12.2001)

Art. 431-B. Tratando-se de perícia complexa, que abranja mais de uma área de conhecimento
especializado, o juiz poderá nomear mais de um perito e a parte indicar mais de um assistente
técnico. (Incluído pela Lei nº 10.358, de 27.12.2001)

Art. 432. Se o perito, por motivo justificado, não puder apresentar o laudo dentro do prazo, o
juiz conceder-lhe-á, por uma vez, prorrogação, segundo o seu prudente arbítrio.

Parágrafo único. O prazo para os assistentes técnicos será o mesmo do perito. (Revogado pela
Lei nº 8.455, de 24.8.1992)

Art. 433. O perito e os assistentes técnicos apresentarão o laudo em cartório pelo menos dez
(10) dias antes da audiência de instrução e julgamento.
Parágrafo único. Se o assistente técnico deixar de apresentar o laudo dentro do prazo
assinado pelo juiz ou até dez (10) dias antes da audiência, esta realizar-se-á independentemente
dele. Se remisso for o perito nomeado pelo juiz, este o substituirá, impondo-lhe multa, que não
excederá dez (10) vezes o salário-mínimo vigente na sede do juízo.

Art. 433. O perito apresentará o laudo em cartório, no prazo fixado pelo juiz, pelo menos 20
(vinte) dias antes da audiência de instrução e julgamento. (Redação dada pela Lei nº 8.455, de
24.8.1992)

Parágrafo único. Os assistentes técnicos oferecerão seus pareceres no prazo comum de 10


(dez) dias, após intimadas as partes da apresentação do laudo.(Redação dada pela Lei nº 10.358,
de 27.12.2001)

Art. 434. Quando o exame tiver por objeto a autenticidade ou a falsidade de documento, ou for
de natureza médico-legal, o perito será escolhido, de preferência, entre os técnicos dos
estabelecimentos oficiais especializados. O juiz autorizará a remessa dos autos, bem como do
material sujeito a exame, ao estabelecimento, perante cujo diretor o perito prestará o compromisso.

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Art. 434. Quando o exame tiver por objeto a autenticidade ou a falsidade de documento, ou for
de natureza médico-legal, o perito será escolhido, de preferência, entre os técnicos dos
estabelecimentos oficiais especializados. O juiz autorizará a remessa dos autos, bem como do
material sujeito a exame, ao diretor do estabelecimento. (Redação dada pela Lei nº 8.952, de
13.12.1994)

Parágrafo único. Quando o exame tiver por objeto a autenticidade da letra e firma, o perito
poderá requisitar, para efeito de comparação, documentos existentes em repartições públicas; na
falta destes, poderá requerer ao juiz que a pessoa, a quem se atribuir a autoria do documento,
lance em folha de papel, por cópia, ou sob ditado, dizeres diferentes, para fins de comparação.

Art. 435. A parte, que desejar esclarecimento do perito e do assistente técnico, requererá ao
juiz que mande intimá-lo a comparecer à audiência, formulando desde logo as perguntas, sob
forma de quesitos.

Parágrafo único. O perito e o assistente técnico só estarão obrigados a prestar os


esclarecimentos a que se refere este artigo, quando intimados 5 (cinco) dias antes da audiência.

Art. 436. O juiz não está adstrito ao laudo pericial, podendo formar a sua convicção com outros
elementos ou fatos provados nos autos.

Art. 437. O juiz poderá determinar, de ofício ou a requerimento da parte, a realização de nova
perícia, quando a matéria não Ihe parecer suficientemente esclarecida.

Art. 438. A segunda perícia tem por objeto os mesmos fatos sobre que recaiu a primeira e
destina-se a corrigir eventual omissão ou inexatidão dos resultados a que esta conduziu.

Art. 439. A segunda perícia rege-se pelas disposições estabelecidas para a primeira.

Parágrafo único. A segunda perícia não substitui a primeira, cabendo ao juiz apreciar
livremente o valor de uma e outra.

3. Lei Federal nº 7.210 de 11 de julho de 1984 (Execução Criminal) especialmente o


Título II e o Título IV.

TÍTULO II

Do Condenado e do Internado

CAPÍTULO I

Da Classificação

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Art. 5º Os condenados serão classificados, segundo os seus antecedentes e
personalidade, para orientar a individualização da execução penal.

Art. 6º A classificação será feita por Comissão Técnica de Classificação que


elaborará o programa individualizador e acompanhará a execução das penas privativas
de liberdade e restritivas de direitos, devendo propor, à autoridade competente, as
progressões e regressões dos regimes, bem como as conversões.

Art. 6o A classificação será feita por Comissão Técnica de Classificação que


elaborará o programa individualizador da pena privativa de liberdade adequada ao
condenado ou preso provisório. (Redação dada pela Lei nº 10.792, de 1º.12.2003)

Art. 7º A Comissão Técnica de Classificação, existente em cada estabelecimento,


será presidida pelo diretor e composta, no mínimo, por 2 (dois) chefes de serviço, 1 (um)
psiquiatra, 1 (um) psicólogo e 1 (um) assistente social, quando se tratar de condenado à
pena privativa de liberdade.

Parágrafo único. Nos demais casos a Comissão atuará junto ao Juízo da Execução e
será integrada por fiscais do serviço social.

Art. 8º O condenado ao cumprimento de pena privativa de liberdade, em regime


fechado, será submetido a exame criminológico para a obtenção dos elementos
necessários a uma adequada classificação e com vistas à individualização da execução.

Parágrafo único. Ao exame de que trata este artigo poderá ser submetido o
condenado ao cumprimento da pena privativa de liberdade em regime semi-aberto.

Art. 9º A Comissão, no exame para a obtenção de dados reveladores da


personalidade, observando a ética profissional e tendo sempre presentes peças ou
informações do processo, poderá:

I - entrevistar pessoas;

II - requisitar, de repartições ou estabelecimentos privados, dados e informações a


respeito do condenado;

III - realizar outras diligências e exames necessários.

CAPÍTULO II

Da Assistência

SEÇÃO I

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Disposições Gerais

Art. 10. A assistência ao preso e ao internado é dever do Estado, objetivando


prevenir o crime e orientar o retorno à convivência em sociedade.

Parágrafo único. A assistência estende-se ao egresso.

Art. 11. A assistência será:

I - material;

II - à saúde;

III -jurídica;

IV - educacional;

V - social;

VI - religiosa.

SEÇÃO II

Da Assistência Material

Art. 12. A assistência material ao preso e ao internado consistirá no fornecimento de


alimentação, vestuário e instalações higiênicas.

Art. 13. O estabelecimento disporá de instalações e serviços que atendam aos


presos nas suas necessidades pessoais, além de locais destinados à venda de produtos
e objetos permitidos e não fornecidos pela Administração.

SEÇÃO III

Da Assistência à Saúde

Art. 14. A assistência à saúde do preso e do internado de caráter preventivo e


curativo, compreenderá atendimento médico, farmacêutico e odontológico.

§ 1º (Vetado).

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§ 2º Quando o estabelecimento penal não estiver aparelhado para prover a
assistência médica necessária, esta será prestada em outro local, mediante autorização
da direção do estabelecimento.

§ 3o Será assegurado acompanhamento médico à mulher, principalmente no pré-


natal e no pós-parto, extensivo ao recém-nascido. (Incluído pela Lei nº 11.942, de 2009)

SEÇÃO IV

Da Assistência Jurídica

Art. 15. A assistência jurídica é destinada aos presos e aos internados sem recursos
financeiros para constituir advogado.

Art. 16. As Unidades da Federação deverão ter serviços de assistência jurídica nos
estabelecimentos penais.

SEÇÃO V

Da Assistência Educacional

Art. 17. A assistência educacional compreenderá a instrução escolar e a formação


profissional do preso e do internado.

Art. 18. O ensino de 1º grau será obrigatório, integrando-se no sistema escolar da


Unidade Federativa.

Art. 19. O ensino profissional será ministrado em nível de iniciação ou de


aperfeiçoamento técnico.

Parágrafo único. A mulher condenada terá ensino profissional adequado à sua


condição.

Art. 20. As atividades educacionais podem ser objeto de convênio com entidades
públicas ou particulares, que instalem escolas ou ofereçam cursos especializados.

Art. 21. Em atendimento às condições locais, dotar-se-á cada estabelecimento de


uma biblioteca, para uso de todas as categorias de reclusos, provida de livros instrutivos,
recreativos e didáticos.

SEÇÃO VI

Da Assistência Social

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Art. 22. A assistência social tem por finalidade amparar o preso e o internado e
prepará-los para o retorno à liberdade.

Art. 23. Incumbe ao serviço de assistência social:

I - conhecer os resultados dos diagnósticos ou exames;

II - relatar, por escrito, ao Diretor do estabelecimento, os problemas e as dificuldades


enfrentadas pelo assistido;

III - acompanhar o resultado das permissões de saídas e das saídas temporárias;

IV - promover, no estabelecimento, pelos meios disponíveis, a recreação;

V - promover a orientação do assistido, na fase final do cumprimento da pena, e do


liberando, de modo a facilitar o seu retorno à liberdade;

VI - providenciar a obtenção de documentos, dos benefícios da Previdência Social e


do seguro por acidente no trabalho;

VII - orientar e amparar, quando necessário, a família do preso, do internado e da


vítima.

SEÇÃO VII

Da Assistência Religiosa

Art. 24. A assistência religiosa, com liberdade de culto, será prestada aos presos e
aos internados, permitindo-se-lhes a participação nos serviços organizados no
estabelecimento penal, bem como a posse de livros de instrução religiosa.

§ 1º No estabelecimento haverá local apropriado para os cultos religiosos.

§ 2º Nenhum preso ou internado poderá ser obrigado a participar de atividade


religiosa.

SEÇÃO VIII

Da Assistência ao Egresso

Art. 25. A assistência ao egresso consiste:

I - na orientação e apoio para reintegrá-lo à vida em liberdade;

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II - na concessão, se necessário, de alojamento e alimentação, em estabelecimento
adequado, pelo prazo de 2 (dois) meses.

Parágrafo único. O prazo estabelecido no inciso II poderá ser prorrogado uma única
vez, comprovado, por declaração do assistente social, o empenho na obtenção de
emprego.

Art. 26. Considera-se egresso para os efeitos desta Lei:

I - o liberado definitivo, pelo prazo de 1 (um) ano a contar da saída do


estabelecimento;

II - o liberado condicional, durante o período de prova.

Art. 27.O serviço de assistência social colaborará com o egresso para a obtenção de
trabalho.

CAPÍTULO III

Do Trabalho

SEÇÃO I

Disposições Gerais

Art. 28. O trabalho do condenado, como dever social e condição de dignidade


humana, terá finalidade educativa e produtiva.

§ 1º Aplicam-se à organização e aos métodos de trabalho as precauções relativas à


segurança e à higiene.

§ 2º O trabalho do preso não está sujeito ao regime da Consolidação das Leis do


Trabalho.

Art. 29. O trabalho do preso será remunerado, mediante prévia tabela, não podendo
ser inferior a 3/4 (três quartos) do salário mínimo.

§ 1° O produto da remuneração pelo trabalho deverá atender:

a) à indenização dos danos causados pelo crime, desde que determinados


judicialmente e não reparados por outros meios;

b) à assistência à família;

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c) a pequenas despesas pessoais;

d) ao ressarcimento ao Estado das despesas realizadas com a manutenção do


condenado, em proporção a ser fixada e sem prejuízo da destinação prevista nas letras
anteriores.

§ 2º Ressalvadas outras aplicações legais, será depositada a parte restante para


constituição do pecúlio, em Caderneta de Poupança, que será entregue ao condenado
quando posto em liberdade.

Art. 30. As tarefas executadas como prestação de serviço à comunidade não serão
remuneradas.

SEÇÃO II

Do Trabalho Interno

Art. 31. O condenado à pena privativa de liberdade está obrigado ao trabalho na


medida de suas aptidões e capacidade.

Parágrafo único. Para o preso provisório, o trabalho não é obrigatório e só poderá


ser executado no interior do estabelecimento.

Art. 32. Na atribuição do trabalho deverão ser levadas em conta a habilitação, a


condição pessoal e as necessidades futuras do preso, bem como as oportunidades
oferecidas pelo mercado.

§ 1º Deverá ser limitado, tanto quanto possível, o artesanato sem expressão


econômica, salvo nas regiões de turismo.

§ 2º Os maiores de 60 (sessenta) anos poderão solicitar ocupação adequada à sua


idade.

§ 3º Os doentes ou deficientes físicos somente exercerão atividades apropriadas ao


seu estado.

Art. 33. A jornada normal de trabalho não será inferior a 6 (seis) nem superior a 8
(oito) horas, com descanso nos domingos e feriados.

Parágrafo único. Poderá ser atribuído horário especial de trabalho aos presos
designados para os serviços de conservação e manutenção do estabelecimento penal.

Art. 34. O trabalho poderá ser gerenciado por fundação, ou empresa pública, com
autonomia administrativa, e terá por objetivo a formação profissional do condenado.
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§ 1o. Nessa hipótese, incumbirá à entidade gerenciadora promover e supervisionar a
produção, com critérios e métodos empresariais, encarregar-se de sua comercialização,
bem como suportar despesas, inclusive pagamento de remuneração adequada.
(Renumerado pela Lei nº 10.792, de 1º.12.2003)

§ 2o Os governos federal, estadual e municipal poderão celebrar convênio com a


iniciativa privada, para implantação de oficinas de trabalho referentes a setores de apoio
dos presídios. (Incluído pela Lei nº 10.792, de 1º.12.2003)

Art. 35. Os órgãos da Administração Direta ou Indireta da União, Estados, Territórios,


Distrito Federal e dos Municípios adquirirão, com dispensa de concorrência pública, os
bens ou produtos do trabalho prisional, sempre que não for possível ou recomendável
realizar-se a venda a particulares.

Parágrafo único. Todas as importâncias arrecadadas com as vendas reverterão em


favor da fundação ou empresa pública a que alude o artigo anterior ou, na sua falta, do
estabelecimento penal.

SEÇÃO III

Do Trabalho Externo

Art. 36. O trabalho externo será admissível para os presos em regime fechado
somente em serviço ou obras públicas realizadas por órgãos da Administração Direta ou
Indireta, ou entidades privadas, desde que tomadas as cautelas contra a fuga e em favor
da disciplina.

§ 1º O limite máximo do número de presos será de 10% (dez por cento) do total de
empregados na obra.

§ 2º Caberá ao órgão da administração, à entidade ou à empresa empreiteira a


remuneração desse trabalho.

§ 3º A prestação de trabalho à entidade privada depende do consentimento expresso


do preso.

Art. 37. A prestação de trabalho externo, a ser autorizada pela direção do


estabelecimento, dependerá de aptidão, disciplina e responsabilidade, além do
cumprimento mínimo de 1/6 (um sexto) da pena.

Parágrafo único. Revogar-se-á a autorização de trabalho externo ao preso que vier a


praticar fato definido como crime, for punido por falta grave, ou tiver comportamento
contrário aos requisitos estabelecidos neste artigo.

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CAPÍTULO IV

Dos Deveres, dos Direitos e da Disciplina

SEÇÃO I

Dos Deveres

Art. 38. Cumpre ao condenado, além das obrigações legais inerentes ao seu estado,
submeter-se às normas de execução da pena.

Art. 39. Constituem deveres do condenado:

I - comportamento disciplinado e cumprimento fiel da sentença;

II - obediência ao servidor e respeito a qualquer pessoa com quem deva relacionar-


se;

III - urbanidade e respeito no trato com os demais condenados;

IV - conduta oposta aos movimentos individuais ou coletivos de fuga ou de


subversão à ordem ou à disciplina;

V - execução do trabalho, das tarefas e das ordens recebidas;

VI - submissão à sanção disciplinar imposta;

VII - indenização à vitima ou aos seus sucessores;

VIII - indenização ao Estado, quando possível, das despesas realizadas com a sua
manutenção, mediante desconto proporcional da remuneração do trabalho;

IX - higiene pessoal e asseio da cela ou alojamento;

X - conservação dos objetos de uso pessoal.

Parágrafo único. Aplica-se ao preso provisório, no que couber, o disposto neste


artigo.

SEÇÃO II

Dos Direitos

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Art. 40 - Impõe-se a todas as autoridades o respeito à integridade física e moral dos
condenados e dos presos provisórios.

Art. 41 - Constituem direitos do preso:

I - alimentação suficiente e vestuário;

II - atribuição de trabalho e sua remuneração;

III - Previdência Social;

IV - constituição de pecúlio;

V - proporcionalidade na distribuição do tempo para o trabalho, o descanso e a


recreação;

VI - exercício das atividades profissionais, intelectuais, artísticas e desportivas


anteriores, desde que compatíveis com a execução da pena;

VII - assistência material, à saúde, jurídica, educacional, social e religiosa;

VIII - proteção contra qualquer forma de sensacionalismo;

IX - entrevista pessoal e reservada com o advogado;

X - visita do cônjuge, da companheira, de parentes e amigos em dias determinados;

XI - chamamento nominal;

XII - igualdade de tratamento salvo quanto às exigências da individualização da


pena;

XIII - audiência especial com o diretor do estabelecimento;

XIV - representação e petição a qualquer autoridade, em defesa de direito;

XV - contato com o mundo exterior por meio de correspondência escrita, da leitura e


de outros meios de informação que não comprometam a moral e os bons costumes.

XVI – atestado de pena a cumprir, emitido anualmente, sob pena da responsabilidade


da autoridade judiciária competente. (Incluído pela Lei nº 10.713, de 13.8.2003)

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Parágrafo único. Os direitos previstos nos incisos V, X e XV poderão ser suspensos
ou restringidos mediante ato motivado do diretor do estabelecimento.

Art. 42 - Aplica-se ao preso provisório e ao submetido à medida de segurança, no


que couber, o disposto nesta Seção.

Art. 43 - É garantida a liberdade de contratar médico de confiança pessoal do


internado ou do submetido a tratamento ambulatorial, por seus familiares ou dependentes,
a fim de orientar e acompanhar o tratamento.

Parágrafo único. As divergências entre o médico oficial e o particular serão


resolvidas pelo Juiz da execução.

SEÇÃO III

Da Disciplina

SUBSEÇÃO I

Disposições Gerais

Art. 44. A disciplina consiste na colaboração com a ordem, na obediência às


determinações das autoridades e seus agentes e no desempenho do trabalho.

Parágrafo único. Estão sujeitos à disciplina o condenado à pena privativa de


liberdade ou restritiva de direitos e o preso provisório.

Art. 45. Não haverá falta nem sanção disciplinar sem expressa e anterior previsão
legal ou regulamentar.

§ 1º As sanções não poderão colocar em perigo a integridade física e moral do


condenado.

§ 2º É vedado o emprego de cela escura.

§ 3º São vedadas as sanções coletivas.

Art. 46. O condenado ou denunciado, no início da execução da pena ou da prisão,


será cientificado das normas disciplinares.

Art. 47. O poder disciplinar, na execução da pena privativa de liberdade, será


exercido pela autoridade administrativa conforme as disposições regulamentares.

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Art. 48. Na execução das penas restritivas de direitos, o poder disciplinar será
exercido pela autoridade administrativa a que estiver sujeito o condenado.

Parágrafo único. Nas faltas graves, a autoridade representará ao Juiz da execução


para os fins dos artigos 118, inciso I, 125, 127, 181, §§ 1º, letra d, e 2º desta Lei.

SUBSEÇÃO II

Das Faltas Disciplinares

Art. 49. As faltas disciplinares classificam-se em leves, médias e graves. A legislação


local especificará as leves e médias, bem assim as respectivas sanções.

Parágrafo único. Pune-se a tentativa com a sanção correspondente à falta


consumada.

Art. 50. Comete falta grave o condenado à pena privativa de liberdade que:

I - incitar ou participar de movimento para subverter a ordem ou a disciplina;

II - fugir;

III - possuir, indevidamente, instrumento capaz de ofender a integridade física de


outrem;

IV - provocar acidente de trabalho;

V - descumprir, no regime aberto, as condições impostas;

VI - inobservar os deveres previstos nos incisos II e V, do artigo 39, desta Lei.

VII – tiver em sua posse, utilizar ou fornecer aparelho telefônico, de rádio ou similar,
que permita a comunicação com outros presos ou com o ambiente externo. (Incluído pela
Lei nº 11.466, de 2007)

Parágrafo único. O disposto neste artigo aplica-se, no que couber, ao preso


provisório.

Art. 51. Comete falta grave o condenado à pena restritiva de direitos que:

I - descumprir, injustificadamente, a restrição imposta;

II - retardar, injustificadamente, o cumprimento da obrigação imposta;

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III - inobservar os deveres previstos nos incisos II e V, do artigo 39, desta Lei.

Art. 52. A prática de fato previsto como crime doloso constitui falta grave e sujeita o
preso, ou condenado, à sanção disciplinar, sem prejuízo da sanção penal.

Art. 52. A prática de fato previsto como crime doloso constitui falta grave e, quando
ocasione subversão da ordem ou disciplina internas, sujeita o preso provisório, ou
condenado, sem prejuízo da sanção penal, ao regime disciplinar diferenciado, com as
seguintes características: (Redação dada pela Lei nº 10.792, de 1º.12.2003)

I - duração máxima de trezentos e sessenta dias, sem prejuízo de repetição da


sanção por nova falta grave de mesma espécie, até o limite de um sexto da pena
aplicada; (Incluído pela Lei nº 10.792, de 1º.12.2003)

II - recolhimento em cela individual; (Incluído pela Lei nº 10.792, de 1º.12.2003)

III - visitas semanais de duas pessoas, sem contar as crianças, com duração de duas
horas; (Incluído pela Lei nº 10.792, de 1º.12.2003)

IV - o preso terá direito à saída da cela por 2 horas diárias para banho de sol.
(Incluído pela Lei nº 10.792, de 1º.12.2003)

§ 1o O regime disciplinar diferenciado também poderá abrigar presos provisórios ou


condenados, nacionais ou estrangeiros, que apresentem alto risco para a ordem e a
segurança do estabelecimento penal ou da sociedade. (Incluído pela Lei nº 10.792, de
1º.12.2003)

§ 2o Estará igualmente sujeito ao regime disciplinar diferenciado o preso provisório


ou o condenado sob o qual recaiam fundadas suspeitas de envolvimento ou participação,
a qualquer título, em organizações criminosas, quadrilha ou bando. (Incluído pela Lei nº
10.792, de 1º.12.2003)

SUBSEÇÃO III

Das Sanções e das Recompensas

Art. 53. Constituem sanções disciplinares:

I - advertência verbal;

II - repreensão;

III - suspensão ou restrição de direitos (artigo 41, parágrafo único);

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IV - isolamento na própria cela, ou em local adequado, nos estabelecimentos que
possuam alojamento coletivo, observado o disposto no artigo 88 desta Lei.

V - inclusão no regime disciplinar diferenciado. (Incluído pela Lei nº 10.792, de


1º.12.2003)

Art. 54. As sanções dos incisos I a III do artigo anterior serão aplicadas pelo diretor
do estabelecimento; a do inciso IV, por Conselho Disciplinar, conforme dispuser o
regulamento.

Art. 54. As sanções dos incisos I a IV do art. 53 serão aplicadas por ato motivado do
diretor do estabelecimento e a do inciso V, por prévio e fundamentado despacho do juiz
competente. (Redação dada pela Lei nº 10.792, de 1º.12.2003)

§ 1o A autorização para a inclusão do preso em regime disciplinar dependerá de


requerimento circunstanciado elaborado pelo diretor do estabelecimento ou outra
autoridade administrativa. (Incluído pela Lei nº 10.792, de 1º.12.2003)

§ 2o A decisão judicial sobre inclusão de preso em regime disciplinar será precedida


de manifestação do Ministério Público e da defesa e prolatada no prazo máximo de
quinze dias. (Incluído pela Lei nº 10.792, de 1º.12.2003)

Art. 55. As recompensas têm em vista o bom comportamento reconhecido em favor


do condenado, de sua colaboração com a disciplina e de sua dedicação ao trabalho.

Art. 56. São recompensas:

I - o elogio;

II - a concessão de regalias.

Parágrafo único. A legislação local e os regulamentos estabelecerão a natureza e a


forma de concessão de regalias.

SUBSEÇÃO IV

Da Aplicação das Sanções

Art. 57. Na aplicação das sanções disciplinares levar-se-á em conta a pessoa do


faltoso, a natureza e as circunstâncias do fato, bem como as suas conseqüências.
Parágrafo único. Nas faltas graves, aplicam-se as sanções previstas nos incisos III e
IV, do artigo 53, desta Lei.

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Art. 57. Na aplicação das sanções disciplinares, levar-se-ão em conta a natureza, os
motivos, as circunstâncias e as conseqüências do fato, bem como a pessoa do faltoso e
seu tempo de prisão. (Redação dada pela Lei nº 10.792, de 1º.12.2003)

Parágrafo único. Nas faltas graves, aplicam-se as sanções previstas nos incisos III a
V do art. 53 desta Lei. (Redação dada pela Lei nº 10.792, de 1º.12.2003)

Art. 58. O isolamento, a suspensão e a restrição de direitos não poderão exceder a


30 (trinta) dias.

Art. 58. O isolamento, a suspensão e a restrição de direitos não poderão exceder a


trinta dias, ressalvada a hipótese do regime disciplinar diferenciado. (Redação dada pela
Lei nº 10.792, de 1º.12.2003)

Parágrafo único. O isolamento será sempre comunicado ao Juiz da execução.

SUBSEÇÃO V

Do Procedimento Disciplinar

Art. 59. Praticada a falta disciplinar, deverá ser instaurado o procedimento para sua
apuração, conforme regulamento, assegurado o direito de defesa.

Parágrafo único. A decisão será motivada.

Art. 60. A autoridade administrativa poderá decretar o isolamento preventivo do


faltoso, pelo prazo máximo de 10 (dez) dias, no interesse da disciplina e da averiguação
do fato.
Parágrafo único. O tempo de isolamento preventivo será computado no período de
cumprimento da sanção disciplinar.

Art. 60. A autoridade administrativa poderá decretar o isolamento preventivo do


faltoso pelo prazo de até dez dias. A inclusão do preso no regime disciplinar diferenciado,
no interesse da disciplina e da averiguação do fato, dependerá de despacho do juiz
competente. (Redação dada pela Lei nº 10.792, de 1º.12.2003)

Parágrafo único. O tempo de isolamento ou inclusão preventiva no regime disciplinar


diferenciado será computado no período de cumprimento da sanção disciplinar. (Redação
dada pela Lei nº 10.792, de 1º.12.2003)

TÍTULO IV

Dos Estabelecimentos Penais

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CAPÍTULO I

Disposições Gerais

Art. 82. Os estabelecimentos penais destinam-se ao condenado, ao submetido à


medida de segurança, ao preso provisório e ao egresso.

§ 1º - A mulher será recolhida a estabelecimento próprio e adequando à sua


condição pessoal.

§ 1° A mulher e o maior de sessenta anos, separadamente, serão recolhidos a


estabelecimento próprio e adequado à sua condição pessoal. (Redação dada pela Lei nº
9.460, de 04/06/97)

§ 2º - O mesmo conjunto arquitetônico poderá abrigar estabelecimentos de


destinação diversa desde que devidamente isolados.

Art. 83. O estabelecimento penal, conforme a sua natureza, deverá contar em suas
dependências com áreas e serviços destinados a dar assistência, educação, trabalho,
recreação e prática esportiva.

§ 1º Haverá instalação destinada a estágio de estudantes universitários.


(Renumerado pela Lei nº 9.046, de 18/05/95)

§ 2º Os estabelecimentos penais destinados a mulheres serão dotados de berçário,


onde as condenadas possam amamentar seus filhos. (Incluído pela Lei nº 9.046, de
18/05/95)

§ 2o Os estabelecimentos penais destinados a mulheres serão dotados de berçário,


onde as condenadas possam cuidar de seus filhos, inclusive amamentá-los, no mínimo,
até 6 (seis) meses de idade. (Redação dada pela Lei nº 11.942, de 2009)

§ 3o Os estabelecimentos de que trata o § 2o deste artigo deverão possuir,


exclusivamente, agentes do sexo feminino na segurança de suas dependências internas.
(Incluído pela Lei nº 12.121, de 2009).

Art. 84. O preso provisório ficará separado do condenado por sentença transitada em
julgado.

§ 1° O preso primário cumprirá pena em seção distinta daquela reservada para os


reincidentes.

§ 2° O preso que, ao tempo do fato, era funcionário da Administração da Justiça


Criminal ficará em dependência separada.

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Art. 85. O estabelecimento penal deverá ter lotação compatível com a sua estrutura e
finalidade.

Parágrafo único. O Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária


determinará o limite máximo de capacidade do estabelecimento, atendendo a sua
natureza e peculiaridades.

Art. 86. As penas privativas de liberdade aplicadas pela Justiça de uma Unidade
Federativa podem ser executadas em outra unidade, em estabelecimento local ou da
União.

§ 1° A União Federal poderá construir estabelecimento penal em local distante da


condenação para recolher, mediante decisão judicial, os condenados à pena superior a 15
(quinze) anos, quando a medida se justifique no interesse da segurança pública ou do
próprio condenado.

§ 1o A União Federal poderá construir estabelecimento penal em local distante da


condenação para recolher os condenados, quando a medida se justifique no interesse da
segurança pública ou do próprio condenado. (Redação dada pela Lei nº 10.792, de
1º.12.2003)

§ 2° Conforme a natureza do estabelecimento, nele poderão trabalhar os liberados


ou egressos que se dediquem a obras públicas ou ao aproveitamento de terras ociosas.

§ 3o Caberá ao juiz competente, a requerimento da autoridade administrativa definir o


estabelecimento prisional adequado para abrigar o preso provisório ou condenado, em
atenção ao regime e aos requisitos estabelecidos. (Incluído pela Lei nº 10.792, de
1º.12.2003)

CAPÍTULO II

Da Penitenciária

Art. 87. A penitenciária destina-se ao condenado à pena de reclusão, em regime


fechado.

Parágrafo único. A União Federal, os Estados, o Distrito Federal e os Territórios


poderão construir Penitenciárias destinadas, exclusivamente, aos presos provisórios e
condenados que estejam em regime fechado, sujeitos ao regime disciplinar diferenciado,
nos termos do art. 52 desta Lei. (Incluído pela Lei nº 10.792, de 1º.12.2003)

Art. 88. O condenado será alojado em cela individual que conterá dormitório,
aparelho sanitário e lavatório.

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Parágrafo único. São requisitos básicos da unidade celular:

a) salubridade do ambiente pela concorrência dos fatores de aeração, insolação e


condicionamento térmico adequado à existência humana;

b) área mínima de 6,00m2 (seis metros quadrados).

Art. 89. Além dos requisitos referidos no artigo anterior, a penitenciária de mulheres
poderá ser dotada de seção para gestante e parturiente e de creche com a finalidade de
assistir ao menor desamparado cuja responsável esteja presa.

Art. 89. Além dos requisitos referidos no art. 88, a penitenciária de mulheres será
dotada de seção para gestante e parturiente e de creche para abrigar crianças maiores de
6 (seis) meses e menores de 7 (sete) anos, com a finalidade de assistir a criança
desamparada cuja responsável estiver presa. (Redação dada pela Lei nº 11.942, de 2009)

Parágrafo único. São requisitos básicos da seção e da creche referidas neste artigo:
(Incluído pela Lei nº 11.942, de 2009)

I – atendimento por pessoal qualificado, de acordo com as diretrizes adotadas pela


legislação educacional e em unidades autônomas; e (Incluído pela Lei nº 11.942, de 2009)

II – horário de funcionamento que garanta a melhor assistência à criança e à sua


responsável. (Incluído pela Lei nº 11.942, de 2009)

Art. 90. A penitenciária de homens será construída, em local afastado do centro


urbano, à distância que não restrinja a visitação.

CAPÍTULO III

Da Colônia Agrícola, Industrial ou Similar

Art. 91. A Colônia Agrícola, Industrial ou Similar destina-se ao cumprimento da pena


em regime semi-aberto.

Art. 92. O condenado poderá ser alojado em compartimento coletivo, observados os


requisitos da letra a, do parágrafo único, do artigo 88, desta Lei.

Parágrafo único. São também requisitos básicos das dependências coletivas:

a) a seleção adequada dos presos;

b) o limite de capacidade máxima que atenda os objetivos de individualização da


pena.
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CAPÍTULO IV

Da Casa do Albergado

Art. 93. A Casa do Albergado destina-se ao cumprimento de pena privativa de


liberdade, em regime aberto, e da pena de limitação de fim de semana.

Art. 94. O prédio deverá situar-se em centro urbano, separado dos demais
estabelecimentos, e caracterizar-se pela ausência de obstáculos físicos contra a fuga.

Art. 95. Em cada região haverá, pelo menos, uma Casa do Albergado, a qual deverá
conter, além dos aposentos para acomodar os presos, local adequado para cursos e
palestras.

Parágrafo único. O estabelecimento terá instalações para os serviços de fiscalização


e orientação dos condenados.

CAPÍTULO V

Do Centro de Observação

Art. 96. No Centro de Observação realizar-se-ão os exames gerais e o criminológico,


cujos resultados serão encaminhados à Comissão Técnica de Classificação.

Parágrafo único. No Centro poderão ser realizadas pesquisas criminológicas.

Art. 97. O Centro de Observação será instalado em unidade autônoma ou em anexo


a estabelecimento penal.

Art. 98. Os exames poderão ser realizados pela Comissão Técnica de Classificação,
na falta do Centro de Observação.

CAPÍTULO VI

Do Hospital de Custódia e Tratamento Psiquiátrico

Art. 99. O Hospital de Custódia e Tratamento Psiquiátrico destina-se aos


inimputáveis e semi-imputáveis referidos no artigo 26 e seu parágrafo único do Código
Penal.

Parágrafo único. Aplica-se ao hospital, no que couber, o disposto no parágrafo único,


do artigo 88, desta Lei.

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Art. 100. O exame psiquiátrico e os demais exames necessários ao tratamento são
obrigatórios para todos os internados.

Art. 101. O tratamento ambulatorial, previsto no artigo 97, segunda parte, do Código
Penal, será realizado no Hospital de Custódia e Tratamento Psiquiátrico ou em outro local
com dependência médica adequada.

CAPÍTULO VII

Da Cadeia Pública

Art. 102. A cadeia pública destina-se ao recolhimento de presos provisórios.

Art. 103. Cada comarca terá, pelo menos 1 (uma) cadeia pública a fim de resguardar
o interesse da Administração da Justiça Criminal e a permanência do preso em local
próximo ao seu meio social e familiar.

Art. 104. O estabelecimento de que trata este Capítulo será instalado próximo de
centro urbano, observando-se na construção as exigências mínimas referidas no artigo 88
e seu parágrafo único desta Lei.

4. Lei Federal nº 8.069 de 13 de julho de 1990 (Estatuto da Criança e do


Adolescente).
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA: Faço saber que o Congresso Nacional decreta e
eu sanciono a seguinte Lei:
Título I
Das Disposições Preliminares
Art. 1º Esta Lei dispõe sobre a proteção integral à criança e ao adolescente.
Art. 2º Considera-se criança, para os efeitos desta Lei, a pessoa até doze anos de
idade incompletos, e adolescente aquela entre doze e dezoito anos de idade.
Parágrafo único. Nos casos expressos em lei, aplica-se excepcionalmente este
Estatuto às pessoas entre dezoito e vinte e um anos de idade.
Art. 3º A criança e o adolescente gozam de todos os direitos fundamentais inerentes
à pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral de que trata esta Lei, assegurando-
se-lhes, por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e facilidades, a fim de lhes

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facultar o desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social, em condições de
liberdade e de dignidade.
Art. 4º É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público
assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à
alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à
dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária.
Parágrafo único. A garantia de prioridade compreende:
a) primazia de receber proteção e socorro em quaisquer circunstâncias;
b) precedência de atendimento nos serviços públicos ou de relevância pública;
c) preferência na formulação e na execução das políticas sociais públicas;
d) destinação privilegiada de recursos públicos nas áreas relacionadas com a
proteção à infância e à juventude.
Art. 5º Nenhuma criança ou adolescente será objeto de qualquer forma de
negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão, punido na forma
da lei qualquer atentado, por ação ou omissão, aos seus direitos fundamentais.
Art. 6º Na interpretação desta Lei levar-se-ão em conta os fins sociais a que ela se
dirige, as exigências do bem comum, os direitos e deveres individuais e coletivos, e a
condição peculiar da criança e do adolescente como pessoas em desenvolvimento.
Título II
Dos Direitos Fundamentais
Capítulo I
Do Direito à Vida e à Saúde
Art. 7º A criança e o adolescente têm direito a proteção à vida e à saúde, mediante a
efetivação de políticas sociais públicas que permitam o nascimento e o desenvolvimento
sadio e harmonioso, em condições dignas de existência.
Art. 8º É assegurado à gestante, através do Sistema Único de Saúde, o atendimento
pré e perinatal.
§ 1º A gestante será encaminhada aos diferentes níveis de atendimento, segundo
critérios médicos específicos, obedecendo-se aos princípios de regionalização e
hierarquização do Sistema.

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§ 2º A parturiente será atendida preferencialmente pelo mesmo médico que a
acompanhou na fase pré-natal.
§ 3º Incumbe ao poder público propiciar apoio alimentar à gestante e à nutriz que
dele necessitem.
Art. 9º O poder público, as instituições e os empregadores propiciarão condições
adequadas ao aleitamento materno, inclusive aos filhos de mães submetidas a medida
privativa de liberdade.
Art. 10. Os hospitais e demais estabelecimentos de atenção à saúde de gestantes,
públicos e particulares, são obrigados a:
I - manter registro das atividades desenvolvidas, através de prontuários individuais,
pelo prazo de dezoito anos;
II - identificar o recém-nascido mediante o registro de sua impressão plantar e digital
e da impressão digital da mãe, sem prejuízo de outras formas normatizadas pela
autoridade administrativa competente;
III - proceder a exames visando ao diagnóstico e terapêutica de anormalidades no
metabolismo do recém-nascido, bem como prestar orientação aos pais;
IV - fornecer declaração de nascimento onde constem necessariamente as
intercorrências do parto e do desenvolvimento do neonato;
V - manter alojamento conjunto, possibilitando ao neonato a permanência junto à
mãe.
Art. 11. É assegurado atendimento integral à saúde da criança e do adolescente, por
intermédio do Sistema Único de Saúde, garantido o acesso universal e igualitário às
ações e serviços para promoção, proteção e recuperação da saúde. (Redação dada pela
Lei nº 11.185, de 2005)
§ 1º A criança e o adolescente portadores de deficiência receberão atendimento
especializado.
§ 2º Incumbe ao poder público fornecer gratuitamente àqueles que necessitarem os
medicamentos, próteses e outros recursos relativos ao tratamento, habilitação ou
reabilitação.

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Art. 12. Os estabelecimentos de atendimento à saúde deverão proporcionar
condições para a permanência em tempo integral de um dos pais ou responsável, nos
casos de internação de criança ou adolescente.
Art. 13. Os casos de suspeita ou confirmação de maus-tratos contra criança ou
adolescente serão obrigatoriamente comunicados ao Conselho Tutelar da respectiva
localidade, sem prejuízo de outras providências legais.
Art. 14. O Sistema Único de Saúde promoverá programas de assistência médica e
odontológica para a prevenção das enfermidades que ordinariamente afetam a população
infantil, e campanhas de educação sanitária para pais, educadores e alunos.
Parágrafo único. É obrigatória a vacinação das crianças nos casos recomendados
pelas autoridades sanitárias.
Capítulo II
Do Direito à Liberdade, ao Respeito e à Dignidade
Art. 15. A criança e o adolescente têm direito à liberdade, ao respeito e à dignidade
como pessoas humanas em processo de desenvolvimento e como sujeitos de direitos
civis, humanos e sociais garantidos na Constituição e nas leis.
Art. 16. O direito à liberdade compreende os seguintes aspectos:
I - ir, vir e estar nos logradouros públicos e espaços comunitários, ressalvadas as
restrições legais;
II - opinião e expressão;
III - crença e culto religioso;
IV - brincar, praticar esportes e divertir-se;
V - participar da vida familiar e comunitária, sem discriminação;
VI - participar da vida política, na forma da lei;
VII - buscar refúgio, auxílio e orientação.
Art. 17. O direito ao respeito consiste na inviolabilidade da integridade física, psíquica
e moral da criança e do adolescente, abrangendo a preservação da imagem, da
identidade, da autonomia, dos valores, idéias e crenças, dos espaços e objetos pessoais.

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Art. 18. É dever de todos velar pela dignidade da criança e do adolescente, pondo-os
a salvo de qualquer tratamento desumano, violento, aterrorizante, vexatório ou
constrangedor.
Capítulo III
Do Direito à Convivência Familiar e Comunitária
Seção I
Disposições Gerais
Art. 19. Toda criança ou adolescente tem direito a ser criado e educado no seio da
sua família e, excepcionalmente, em família substituta, assegurada a convivência familiar
e comunitária, em ambiente livre da presença de pessoas dependentes de substâncias
entorpecentes.
Art. 20. Os filhos, havidos ou não da relação do casamento, ou por adoção, terão os
mesmos direitos e qualificações, proibidas quaisquer designações discriminatórias
relativas à filiação.
Art. 21. O pátrio poder será exercido, em igualdade de condições, pelo pai e pela
mãe, na forma do que dispuser a legislação civil, assegurado a qualquer deles o direito
de, em caso de discordância, recorrer à autoridade judiciária competente para a solução
da divergência.
Art. 22. Aos pais incumbe o dever de sustento, guarda e educação dos filhos
menores, cabendo-lhes ainda, no interesse destes, a obrigação de cumprir e fazer cumprir
as determinações judiciais.
Art. 23. A falta ou a carência de recursos materiais não constitui motivo suficiente
para a perda ou a suspensão do pátrio poder.
Parágrafo único. Não existindo outro motivo que por si só autorize a decretação da
medida, a criança ou o adolescente será mantido em sua família de origem, a qual deverá
obrigatoriamente ser incluída em programas oficiais de auxílio.
Art. 24. A perda e a suspensão do pátrio poder serão decretadas judicialmente, em
procedimento contraditório, nos casos previstos na legislação civil, bem como na hipótese
de descumprimento injustificado dos deveres e obrigações a que alude o art. 22.
Seção II

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Da Família Natural
Art. 25. Entende-se por família natural a comunidade formada pelos pais ou qualquer
deles e seus descendentes.
Art. 26. Os filhos havidos fora do casamento poderão ser reconhecidos pelos pais,
conjunta ou separadamente, no próprio termo de nascimento, por testamento, mediante
escritura ou outro documento público, qualquer que seja a origem da filiação.
Parágrafo único. O reconhecimento pode preceder o nascimento do filho ou suceder-
lhe ao falecimento, se deixar descendentes.
Art. 27. O reconhecimento do estado de filiação é direito personalíssimo, indisponível
e imprescritível, podendo ser exercitado contra os pais ou seus herdeiros, sem qualquer
restrição, observado o segredo de Justiça.
Seção III
Da Família Substituta
Subseção I
Disposições Gerais
Art. 28. A colocação em família substituta far-se-á mediante guarda, tutela ou
adoção, independentemente da situação jurídica da criança ou adolescente, nos termos
desta Lei.
§ 1º Sempre que possível, a criança ou adolescente deverá ser previamente ouvido e
a sua opinião devidamente considerada.
§ 2º Na apreciação do pedido levar-se-á em conta o grau de parentesco e a relação
de afinidade ou de afetividade, a fim de evitar ou minorar as conseqüências decorrentes
da medida.
Art. 29. Não se deferirá colocação em família substituta a pessoa que revele, por
qualquer modo, incompatibilidade com a natureza da medida ou não ofereça ambiente
familiar adequado.
Art. 30. A colocação em família substituta não admitirá transferência da criança ou
adolescente a terceiros ou a entidades governamentais ou não-governamentais, sem
autorização judicial.

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Art. 31. A colocação em família substituta estrangeira constitui medida excepcional,
somente admissível na modalidade de adoção.
Art. 32. Ao assumir a guarda ou a tutela, o responsável prestará compromisso de
bem e fielmente desempenhar o encargo, mediante termo nos autos.
Subseção II
Da Guarda
Art. 33. A guarda obriga a prestação de assistência material, moral e educacional à
criança ou adolescente, conferindo a seu detentor o direito de opor-se a terceiros,
inclusive aos pais.
§ 1º A guarda destina-se a regularizar a posse de fato, podendo ser deferida, liminar
ou incidentalmente, nos procedimentos de tutela e adoção, exceto no de adoção por
estrangeiros.
§ 2º Excepcionalmente, deferir-se-á a guarda, fora dos casos de tutela e adoção,
para atender a situações peculiares ou suprir a falta eventual dos pais ou responsável,
podendo ser deferido o direito de representação para a prática de atos determinados.
§ 3º A guarda confere à criança ou adolescente a condição de dependente, para
todos os fins e efeitos de direito, inclusive previdenciários.
Art. 34. O poder público estimulará, através de assistência jurídica, incentivos fiscais
e subsídios, o acolhimento, sob a forma de guarda, de criança ou adolescente órfão ou
abandonado.
Art. 35. A guarda poderá ser revogada a qualquer tempo, mediante ato judicial
fundamentado, ouvido o Ministério Público.
Subseção III
Da Tutela
Art. 36. A tutela será deferida, nos termos da lei civil, a pessoa de até vinte e um
anos incompletos.
Parágrafo único. O deferimento da tutela pressupõe a prévia decretação da perda ou
suspensão do pátrio poder e implica necessariamente o dever de guarda.
Art. 37. A especialização de hipoteca legal será dispensada, sempre que o tutelado
não possuir bens ou rendimentos ou por qualquer outro motivo relevante.

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Parágrafo único. A especialização de hipoteca legal será também dispensada se os
bens, porventura existentes em nome do tutelado, constarem de instrumento público,
devidamente registrado no registro de imóveis, ou se os rendimentos forem suficientes
apenas para a mantença do tutelado, não havendo sobra significativa ou provável.
Art. 38. Aplica-se à destituição da tutela o disposto no art. 24.
Subseção IV
Da Adoção
Art. 39. A adoção de criança e de adolescente reger-se-á segundo o disposto nesta
Lei.
Parágrafo único. É vedada a adoção por procuração.
Art. 40. O adotando deve contar com, no máximo, dezoito anos à data do pedido,
salvo se já estiver sob a guarda ou tutela dos adotantes.
Art. 41. A adoção atribui a condição de filho ao adotado, com os mesmos direitos e
deveres, inclusive sucessórios, desligando-o de qualquer vínculo com pais e parentes,
salvo os impedimentos matrimoniais.
§ 1º Se um dos cônjuges ou concubinos adota o filho do outro, mantêm-se os
vínculos de filiação entre o adotado e o cônjuge ou concubino do adotante e os
respectivos parentes.
§ 2º É recíproco o direito sucessório entre o adotado, seus descendentes, o
adotante, seus ascendentes, descendentes e colaterais até o 4º grau, observada a ordem
de vocação hereditária.
Art. 42. Podem adotar os maiores de vinte e um anos, independentemente de estado
civil.
§ 1º Não podem adotar os ascendentes e os irmãos do adotando.
§ 2º A adoção por ambos os cônjuges ou concubinos poderá ser formalizada, desde
que um deles tenha completado vinte e um anos de idade, comprovada a estabilidade da
família.
§ 3º O adotante há de ser, pelo menos, dezesseis anos mais velho do que o
adotando.

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§ 4º Os divorciados e os judicialmente separados poderão adotar conjuntamente,
contanto que acordem sobre a guarda e o regime de visitas, e desde que o estágio de
convivência tenha sido iniciado na constância da sociedade conjugal.
§ 5º A adoção poderá ser deferida ao adotante que, após inequívoca manifestação
de vontade, vier a falecer no curso do procedimento, antes de prolatada a sentença.
Art. 43. A adoção será deferida quando apresentar reais vantagens para o adotando
e fundar-se em motivos legítimos.
Art. 44. Enquanto não der conta de sua administração e saldar o seu alcance, não
pode o tutor ou o curador adotar o pupilo ou o curatelado.
Art. 45. A adoção depende do consentimento dos pais ou do representante legal do
adotando.
§ 1º. O consentimento será dispensado em relação à criança ou adolescente cujos
pais sejam desconhecidos ou tenham sido destituídos do pátrio poder.
§ 2º. Em se tratando de adotando maior de doze anos de idade, será também
necessário o seu consentimento.
Art. 46. A adoção será precedida de estágio de convivência com a criança ou
adolescente, pelo prazo que a autoridade judiciária fixar, observadas as peculiaridades do
caso.
§ 1º O estágio de convivência poderá ser dispensado se o adotando não tiver mais
de um ano de idade ou se, qualquer que seja a sua idade, já estiver na companhia do
adotante durante tempo suficiente para se poder avaliar a conveniência da constituição do
vínculo.
§ 2º Em caso de adoção por estrangeiro residente ou domiciliado fora do País, o
estágio de convivência, cumprido no território nacional, será de no mínimo quinze dias
para crianças de até dois anos de idade, e de no mínimo trinta dias quando se tratar de
adotando acima de dois anos de idade.
Art. 47. O vínculo da adoção constitui-se por sentença judicial, que será inscrita no
registro civil mediante mandado do qual não se fornecerá certidão.
§ 1º A inscrição consignará o nome dos adotantes como pais, bem como o nome de
seus ascendentes.

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§ 2º O mandado judicial, que será arquivado, cancelará o registro original do
adotado.
§ 3º Nenhuma observação sobre a origem do ato poderá constar nas certidões do
registro.
§ 4º A critério da autoridade judiciária, poderá ser fornecida certidão para a
salvaguarda de direitos.
§ 5º A sentença conferirá ao adotado o nome do adotante e, a pedido deste, poderá
determinar a modificação do prenome.
§ 6º A adoção produz seus efeitos a partir do trânsito em julgado da sentença, exceto
na hipótese prevista no art. 42, § 5º, caso em que terá força retroativa à data do óbito.
Art. 48. A adoção é irrevogável.
Art. 49. A morte dos adotantes não restabelece o pátrio poder dos pais naturais.
Art. 50. A autoridade judiciária manterá, em cada comarca ou foro regional, um
registro de crianças e adolescentes em condições de serem adotados e outro de pessoas
interessadas na adoção.
§ 1º O deferimento da inscrição dar-se-á após prévia consulta aos órgãos técnicos
do juizado, ouvido o Ministério Público.
§ 2º Não será deferida a inscrição se o interessado não satisfazer os requisitos
legais, ou verificada qualquer das hipóteses previstas no art. 29.
Art. 51 Cuidando-se de pedido de adoção formulado por estrangeiro residente ou
domiciliado fora do País, observar-se-á o disposto no art. 31.
§ 1º O candidato deverá comprovar, mediante documento expedido pela autoridade
competente do respectivo domicílio, estar devidamente habilitado à adoção, consoante as
leis do seu país, bem como apresentar estudo psicossocial elaborado por agência
especializada e credenciada no país de origem.
§ 2º A autoridade judiciária, de ofício ou a requerimento do Ministério Público, poderá
determinar a apresentação do texto pertinente à legislação estrangeira, acompanhado de
prova da respectiva vigência.

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§ 3º Os documentos em língua estrangeira serão juntados aos autos, devidamente
autenticados pela autoridade consular, observados os tratados e convenções
internacionais, e acompanhados da respectiva tradução, por tradutor público juramentado.
§ 4º Antes de consumada a adoção não será permitida a saída do adotando do
território nacional.
Art. 52. A adoção internacional poderá ser condicionada a estudo prévio e análise de
uma comissão estadual judiciária de adoção, que fornecerá o respectivo laudo de
habilitação para instruir o processo competente.
Parágrafo único. Competirá à comissão manter registro centralizado de interessados
estrangeiros em adoção.
Capítulo IV
Do Direito à Educação, à Cultura, ao Esporte e ao Lazer
Art. 53. A criança e o adolescente têm direito à educação, visando ao pleno
desenvolvimento de sua pessoa, preparo para o exercício da cidadania e qualificação
para o trabalho, assegurando-se-lhes:
I - igualdade de condições para o acesso e permanência na escola;
II - direito de ser respeitado por seus educadores;
III - direito de contestar critérios avaliativos, podendo recorrer às instâncias escolares
superiores;
IV - direito de organização e participação em entidades estudantis;
V - acesso à escola pública e gratuita próxima de sua residência.
Parágrafo único. É direito dos pais ou responsáveis ter ciência do processo
pedagógico, bem como participar da definição das propostas educacionais.
Art. 54. É dever do Estado assegurar à criança e ao adolescente:
I - ensino fundamental, obrigatório e gratuito, inclusive para os que a ele não tiveram
acesso na idade própria;
II - progressiva extensão da obrigatoriedade e gratuidade ao ensino médio;
III - atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência,
preferencialmente na rede regular de ensino;
IV - atendimento em creche e pré-escola às crianças de zero a seis anos de idade;

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Psicóloga CRP: 84326/06 280
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V - acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da criação artística,
segundo a capacidade de cada um;
VI - oferta de ensino noturno regular, adequado às condições do adolescente
trabalhador;
VII - atendimento no ensino fundamental, através de programas suplementares de
material didático-escolar, transporte, alimentação e assistência à saúde.
§ 1º O acesso ao ensino obrigatório e gratuito é direito público subjetivo.
§ 2º O não oferecimento do ensino obrigatório pelo poder público ou sua oferta
irregular importa responsabilidade da autoridade competente.
§ 3º Compete ao poder público recensear os educandos no ensino fundamental,
fazer-lhes a chamada e zelar, junto aos pais ou responsável, pela freqüência à escola.
Art. 55. Os pais ou responsável têm a obrigação de matricular seus filhos ou pupilos
na rede regular de ensino.
Art. 56. Os dirigentes de estabelecimentos de ensino fundamental comunicarão ao
Conselho Tutelar os casos de:
I - maus-tratos envolvendo seus alunos;
II - reiteração de faltas injustificadas e de evasão escolar, esgotados os recursos
escolares;
III - elevados níveis de repetência.
Art. 57. O poder público estimulará pesquisas, experiências e novas propostas
relativas a calendário, seriação, currículo, metodologia, didática e avaliação, com vistas à
inserção de crianças e adolescentes excluídos do ensino fundamental obrigatório.
Art. 58. No processo educacional respeitar-se-ão os valores culturais, artísticos e
históricos próprios do contexto social da criança e do adolescente, garantindo-se a estes
a liberdade da criação e o acesso às fontes de cultura.
Art. 59. Os municípios, com apoio dos estados e da União, estimularão e facilitarão a
destinação de recursos e espaços para programações culturais, esportivas e de lazer
voltadas para a infância e a juventude.
Capítulo V
Do Direito à Profissionalização e à Proteção no Trabalho

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Psicóloga CRP: 84326/06 281
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Art. 60. É proibido qualquer trabalho a menores de quatorze anos de idade, salvo na
condição de aprendiz. (Vide Constituição Federal)
Art. 61. A proteção ao trabalho dos adolescentes é regulada por legislação especial,
sem prejuízo do disposto nesta Lei.
Art. 62. Considera-se aprendizagem a formação técnico-profissional ministrada
segundo as diretrizes e bases da legislação de educação em vigor.
Art. 63. A formação técnico-profissional obedecerá aos seguintes princípios:
I - garantia de acesso e freqüência obrigatória ao ensino regular;
II - atividade compatível com o desenvolvimento do adolescente;
III - horário especial para o exercício das atividades.
Art. 64. Ao adolescente até quatorze anos de idade é assegurada bolsa de
aprendizagem.
Art. 65. Ao adolescente aprendiz, maior de quatorze anos, são assegurados os
direitos trabalhistas e previdenciários.
Art. 66. Ao adolescente portador de deficiência é assegurado trabalho protegido.
Art. 67. Ao adolescente empregado, aprendiz, em regime familiar de trabalho, aluno
de escola técnica, assistido em entidade governamental ou não-governamental, é vedado
trabalho:
I - noturno, realizado entre as vinte e duas horas de um dia e as cinco horas do dia
seguinte;
II - perigoso, insalubre ou penoso;
III - realizado em locais prejudiciais à sua formação e ao seu desenvolvimento físico,
psíquico, moral e social;
IV - realizado em horários e locais que não permitam a freqüência à escola.
Art. 68. O programa social que tenha por base o trabalho educativo, sob
responsabilidade de entidade governamental ou não-governamental sem fins lucrativos,
deverá assegurar ao adolescente que dele participe condições de capacitação para o
exercício de atividade regular remunerada.

Karina de O. Lima
Psicóloga CRP: 84326/06 282
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§ 1º Entende-se por trabalho educativo a atividade laboral em que as exigências
pedagógicas relativas ao desenvolvimento pessoal e social do educando prevalecem
sobre o aspecto produtivo.
§ 2º A remuneração que o adolescente recebe pelo trabalho efetuado ou a
participação na venda dos produtos de seu trabalho não desfigura o caráter educativo.
Art. 69. O adolescente tem direito à profissionalização e à proteção no trabalho,
observados os seguintes aspectos, entre outros:
I - respeito à condição peculiar de pessoa em desenvolvimento;
II - capacitação profissional adequada ao mercado de trabalho.
Título III
Da Prevenção
Capítulo I
Disposições Gerais
Art. 70. É dever de todos prevenir a ocorrência de ameaça ou violação dos direitos
da criança e do adolescente.
Art. 71. A criança e o adolescente têm direito a informação, cultura, lazer, esportes,
diversões, espetáculos e produtos e serviços que respeitem sua condição peculiar de
pessoa em desenvolvimento.
Art. 72. As obrigações previstas nesta Lei não excluem da prevenção especial outras
decorrentes dos princípios por ela adotados.
Art. 73. A inobservância das normas de prevenção importará em responsabilidade da
pessoa física ou jurídica, nos termos desta Lei.
Capítulo II
Da Prevenção Especial
Seção I
Da informação, Cultura, Lazer, Esportes, Diversões e Espetáculos
Art. 74. O poder público, através do órgão competente, regulará as diversões e
espetáculos públicos, informando sobre a natureza deles, as faixas etárias a que não se
recomendem, locais e horários em que sua apresentação se mostre inadequada.

Karina de O. Lima
Psicóloga CRP: 84326/06 283
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Parágrafo único. Os responsáveis pelas diversões e espetáculos públicos deverão
afixar, em lugar visível e de fácil acesso, à entrada do local de exibição, informação
destacada sobre a natureza do espetáculo e a faixa etária especificada no certificado de
classificação.
Art. 75. Toda criança ou adolescente terá acesso às diversões e espetáculos
públicos classificados como adequados à sua faixa etária.
Parágrafo único. As crianças menores de dez anos somente poderão ingressar e
permanecer nos locais de apresentação ou exibição quando acompanhadas dos pais ou
responsável.
Art. 76. As emissoras de rádio e televisão somente exibirão, no horário recomendado
para o público infanto juvenil, programas com finalidades educativas, artísticas, culturais e
informativas.
Parágrafo único. Nenhum espetáculo será apresentado ou anunciado sem aviso de
sua classificação, antes de sua transmissão, apresentação ou exibição.
Art. 77. Os proprietários, diretores, gerentes e funcionários de empresas que
explorem a venda ou aluguel de fitas de programação em vídeo cuidarão para que não
haja venda ou locação em desacordo com a classificação atribuída pelo órgão
competente.
Parágrafo único. As fitas a que alude este artigo deverão exibir, no invólucro,
informação sobre a natureza da obra e a faixa etária a que se destinam.
Art. 78. As revistas e publicações contendo material impróprio ou inadequado a
crianças e adolescentes deverão ser comercializadas em embalagem lacrada, com a
advertência de seu conteúdo.
Parágrafo único. As editoras cuidarão para que as capas que contenham mensagens
pornográficas ou obscenas sejam protegidas com embalagem opaca.
Art. 79. As revistas e publicações destinadas ao público infanto-juvenil não poderão
conter ilustrações, fotografias, legendas, crônicas ou anúncios de bebidas alcoólicas,
tabaco, armas e munições, e deverão respeitar os valores éticos e sociais da pessoa e da
família.

Karina de O. Lima
Psicóloga CRP: 84326/06 284
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Art. 80. Os responsáveis por estabelecimentos que explorem comercialmente bilhar,
sinuca ou congênere ou por casas de jogos, assim entendidas as que realize apostas,
ainda que eventualmente, cuidarão para que não seja permitida a entrada e a
permanência de crianças e adolescentes no local, afixando aviso para orientação do
público.
Seção II
Dos Produtos e Serviços
Art. 81. É proibida a venda à criança ou ao adolescente de:
I - armas, munições e explosivos;
II - bebidas alcoólicas;
III - produtos cujos componentes possam causar dependência física ou psíquica
ainda que por utilização indevida;
IV - fogos de estampido e de artifício, exceto aqueles que pelo seu reduzido
potencial sejam incapazes de provocar qualquer dano físico em caso de utilização
indevida;
V - revistas e publicações a que alude o art. 78;
VI - bilhetes lotéricos e equivalentes.
Art. 82. É proibida a hospedagem de criança ou adolescente em hotel, motel, pensão
ou estabelecimento congênere, salvo se autorizado ou acompanhado pelos pais ou
responsável.
Seção III
Da Autorização para Viajar
Art. 83. Nenhuma criança poderá viajar para fora da comarca onde reside,
desacompanhada dos pais ou responsável, sem expressa autorização judicial.
§ 1º A autorização não será exigida quando:
a) tratar-se de comarca contígua à da residência da criança, se na mesma unidade
da Federação, ou incluída na mesma região metropolitana;
b) a criança estiver acompanhada:
1) de ascendente ou colateral maior, até o terceiro grau, comprovado
documentalmente o parentesco;

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2) de pessoa maior, expressamente autorizada pelo pai, mãe ou responsável.
§ 2º A autoridade judiciária poderá, a pedido dos pais ou responsável, conceder
autorização válida por dois anos.
Art. 84. Quando se tratar de viagem ao exterior, a autorização é dispensável, se a
criança ou adolescente:
I - estiver acompanhado de ambos os pais ou responsável;
II - viajar na companhia de um dos pais, autorizado expressamente pelo outro
através de documento com firma reconhecida.
Art. 85. Sem prévia e expressa autorização judicial, nenhuma criança ou adolescente
nascido em território nacional poderá sair do País em companhia de estrangeiro residente
ou domiciliado no exterior.
Parte Especial
Título I
Da Política de Atendimento
Capítulo I
Disposições Gerais
Art. 86. A política de atendimento dos direitos da criança e do adolescente far-se-á
através de um conjunto articulado de ações governamentais e não-governamentais, da
União, dos estados, do Distrito Federal e dos municípios.
Art. 87. São linhas de ação da política de atendimento:
I - políticas sociais básicas;
II - políticas e programas de assistência social, em caráter supletivo, para aqueles
que deles necessitem;
III - serviços especiais de prevenção e atendimento médico e psicossocial às vítimas
de negligência, maus-tratos, exploração, abuso, crueldade e opressão;
IV - serviço de identificação e localização de pais, responsável, crianças e
adolescentes desaparecidos;
V - proteção jurídico-social por entidades de defesa dos direitos da criança e do
adolescente.
Art. 88. São diretrizes da política de atendimento:

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I - municipalização do atendimento;
II - criação de conselhos municipais, estaduais e nacional dos direitos da criança e
do adolescente, órgãos deliberativos e controladores das ações em todos os níveis,
assegurada a participação popular paritária por meio de organizações representativas,
segundo leis federal, estaduais e municipais;
III - criação e manutenção de programas específicos, observada a descentralização
político-administrativa;
IV - manutenção de fundos nacional, estaduais e municipais vinculados aos
respectivos conselhos dos direitos da criança e do adolescente;
V - integração operacional de órgãos do Judiciário, Ministério Público, Defensoria,
Segurança Pública e Assistência Social, preferencialmente em um mesmo local, para
efeito de agilização do atendimento inicial a adolescente a quem se atribua autoria de ato
infracional;
VI - mobilização da opinião pública no sentido da indispensável participação dos
diversos segmentos da sociedade.
Art. 89. A função de membro do conselho nacional e dos conselhos estaduais e
municipais dos direitos da criança e do adolescente é considerada de interesse público
relevante e não será remunerada.
Capítulo II
Das Entidades de Atendimento
Seção I
Disposições Gerais
Art. 90. As entidades de atendimento são responsáveis pela manutenção das
próprias unidades, assim como pelo planejamento e execução de programas de proteção
e sócio-educativos destinados a crianças e adolescentes, em regime de:
I - orientação e apoio sócio-familiar;
II - apoio sócio-educativo em meio aberto;
III - colocação familiar;
IV - abrigo;
V - liberdade assistida;

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VI - semi-liberdade;
VII - internação.
Parágrafo único. As entidades governamentais e não-governamentais deverão
proceder à inscrição de seus programas, especificando os regimes de atendimento, na
forma definida neste artigo, junto ao Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do
Adolescente, o qual manterá registro das inscrições e de suas alterações, do que fará
comunicação ao Conselho Tutelar e à autoridade judiciária.
Art. 91. As entidades não-governamentais somente poderão funcionar depois de
registradas no Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente, o qual
comunicará o registro ao Conselho Tutelar e à autoridade judiciária da respectiva
localidade.
Parágrafo único. Será negado o registro à entidade que:
a) não ofereça instalações físicas em condições adequadas de habitabilidade,
higiene, salubridade e segurança;
b) não apresente plano de trabalho compatível com os princípios desta Lei;
c) esteja irregularmente constituída;
d) tenha em seus quadros pessoas inidôneas.
Art. 92. As entidades que desenvolvam programas de abrigo deverão adotar os
seguintes princípios:
I - preservação dos vínculos familiares;
II - integração em família substituta, quando esgotados os recursos de manutenção
na família de origem;
III - atendimento personalizado e em pequenos grupos;
IV - desenvolvimento de atividades em regime de co-educação;
V - não desmembramento de grupos de irmãos;
VI - evitar, sempre que possível, a transferência para outras entidades de crianças e
adolescentes abrigados;
VII - participação na vida da comunidade local;
VIII - preparação gradativa para o desligamento;
IX - participação de pessoas da comunidade no processo educativo.

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Parágrafo único. O dirigente de entidade de abrigo e equiparado ao guardião, para
todos os efeitos de direito.
Art. 93. As entidades que mantenham programas de abrigo poderão, em caráter
excepcional e de urgência, abrigar crianças e adolescentes sem prévia determinação da
autoridade competente, fazendo comunicação do fato até o 2º dia útil imediato.
Art. 94. As entidades que desenvolvem programas de internação têm as seguintes
obrigações, entre outras:
I - observar os direitos e garantias de que são titulares os adolescentes;
II - não restringir nenhum direito que não tenha sido objeto de restrição na decisão
de internação;
III - oferecer atendimento personalizado, em pequenas unidades e grupos reduzidos;
IV - preservar a identidade e oferecer ambiente de respeito e dignidade ao
adolescente;
V - diligenciar no sentido do restabelecimento e da preservação dos vínculos
familiares;
VI - comunicar à autoridade judiciária, periodicamente, os casos em que se mostre
inviável ou impossível o reatamento dos vínculos familiares;
VII - oferecer instalações físicas em condições adequadas de habitabilidade, higiene,
salubridade e segurança e os objetos necessários à higiene pessoal;
VIII - oferecer vestuário e alimentação suficientes e adequados à faixa etária dos
adolescentes atendidos;
IX - oferecer cuidados médicos, psicológicos, odontológicos e farmacêuticos;
X - propiciar escolarização e profissionalização;
XI - propiciar atividades culturais, esportivas e de lazer;
XII - propiciar assistência religiosa àqueles que desejarem, de acordo com suas
crenças;
XIII - proceder a estudo social e pessoal de cada caso;
XIV - reavaliar periodicamente cada caso, com intervalo máximo de seis meses,
dando ciência dos resultados à autoridade competente;

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XV - informar, periodicamente, o adolescente internado sobre sua situação
processual;
XVI - comunicar às autoridades competentes todos os casos de adolescentes
portadores de moléstias infecto-contagiosas;
XVII - fornecer comprovante de depósito dos pertences dos adolescentes;
XVIII - manter programas destinados ao apoio e acompanhamento de egressos;
XIX - providenciar os documentos necessários ao exercício da cidadania àqueles
que não os tiverem;
XX - manter arquivo de anotações onde constem data e circunstâncias do
atendimento, nome do adolescente, seus pais ou responsável, parentes, endereços, sexo,
idade, acompanhamento da sua formação, relação de seus pertences e demais dados
que possibilitem sua identificação e a individualização do atendimento.
§ 1º Aplicam-se, no que couber, as obrigações constantes deste artigo às entidades
que mantêm programa de abrigo.
§ 2º No cumprimento das obrigações a que alude este artigo as entidades utilizarão
preferencialmente os recursos da comunidade.
Seção II
Da Fiscalização das Entidades
Art. 95. As entidades governamentais e não-governamentais referidas no art. 90
serão fiscalizadas pelo Judiciário, pelo Ministério Público e pelos Conselhos Tutelares.
Art. 96. Os planos de aplicação e as prestações de contas serão apresentados ao
estado ou ao município, conforme a origem das dotações orçamentárias.
Art. 97. São medidas aplicáveis às entidades de atendimento que descumprirem
obrigação constante do art. 94, sem prejuízo da responsabilidade civil e criminal de seus
dirigentes ou prepostos:
I - às entidades governamentais:
a) advertência;
b) afastamento provisório de seus dirigentes;
c) afastamento definitivo de seus dirigentes;
d) fechamento de unidade ou interdição de programa.

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II - às entidades não-governamentais:
a) advertência;
b) suspensão total ou parcial do repasse de verbas públicas;
c) interdição de unidades ou suspensão de programa;
d) cassação do registro.
Parágrafo único. Em caso de reiteradas infrações cometidas por entidades de
atendimento, que coloquem em risco os direitos assegurados nesta Lei, deverá ser o fato
comunicado ao Ministério Público ou representado perante autoridade judiciária
competente para as providências cabíveis, inclusive suspensão das atividades ou
dissolução da entidade.
Título II
Das Medidas de Proteção
Capítulo I
Disposições Gerais
Art. 98. As medidas de proteção à criança e ao adolescente são aplicáveis sempre
que os direitos reconhecidos nesta Lei forem ameaçados ou violados:
I - por ação ou omissão da sociedade ou do Estado;
II - por falta, omissão ou abuso dos pais ou responsável;
III - em razão de sua conduta.
Capítulo II
Das Medidas Específicas de Proteção
Art. 99. As medidas previstas neste Capítulo poderão ser aplicadas isolada ou
cumulativamente, bem como substituídas a qualquer tempo.
Art. 100. Na aplicação das medidas levar-se-ão em conta as necessidades
pedagógicas, preferindo-se aquelas que visem ao fortalecimento dos vínculos familiares e
comunitários.
Art. 101. Verificada qualquer das hipóteses previstas no art. 98, a autoridade
competente poderá determinar, dentre outras, as seguintes medidas:
I - encaminhamento aos pais ou responsável, mediante termo de responsabilidade;
II - orientação, apoio e acompanhamento temporários;

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III - matrícula e freqüência obrigatórias em estabelecimento oficial de ensino
fundamental;
IV - inclusão em programa comunitário ou oficial de auxílio à família, à criança e ao
adolescente;
V - requisição de tratamento médico, psicológico ou psiquiátrico, em regime
hospitalar ou ambulatorial;
VI - inclusão em programa oficial ou comunitário de auxílio, orientação e tratamento a
alcoólatras e toxicômanos;
VII - abrigo em entidade;
VIII - colocação em família substituta.
Parágrafo único. O abrigo é medida provisória e excepcional, utilizável como forma
de transição para a colocação em família substituta, não implicando privação de
liberdade.
Art. 102. As medidas de proteção de que trata este Capítulo serão acompanhadas da
regularização do registro civil.
§ 1º Verificada a inexistência de registro anterior, o assento de nascimento da
criança ou adolescente será feito à vista dos elementos disponíveis, mediante requisição
da autoridade judiciária.
§ 2º Os registros e certidões necessários à regularização de que trata este artigo são
isentos de multas, custas e emolumentos, gozando de absoluta prioridade.
Título III
Da Prática de Ato Infracional
Capítulo I
Disposições Gerais
Art. 103. Considera-se ato infracional a conduta descrita como crime ou
contravenção penal.
Art. 104. São penalmente inimputáveis os menores de dezoito anos, sujeitos às
medidas previstas nesta Lei.
Parágrafo único. Para os efeitos desta Lei, deve ser considerada a idade do
adolescente à data do fato.

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Art. 105. Ao ato infracional praticado por criança corresponderão as medidas
previstas no art. 101.
Capítulo II
Dos Direitos Individuais
Art. 106. Nenhum adolescente será privado de sua liberdade senão em flagrante de
ato infracional ou por ordem escrita e fundamentada da autoridade judiciária competente.
Parágrafo único. O adolescente tem direito à identificação dos responsáveis pela sua
apreensão, devendo ser informado acerca de seus direitos.
Art. 107. A apreensão de qualquer adolescente e o local onde se encontra recolhido
serão incontinenti comunicados à autoridade judiciária competente e à família do
apreendido ou à pessoa por ele indicada.
Parágrafo único. Examinar-se-á, desde logo e sob pena de responsabilidade, a
possibilidade de liberação imediata.
Art. 108. A internação, antes da sentença, pode ser determinada pelo prazo máximo
de quarenta e cinco dias.
Parágrafo único. A decisão deverá ser fundamentada e basear-se em indícios
suficientes de autoria e materialidade, demonstrada a necessidade imperiosa da medida.
Art. 109. O adolescente civilmente identificado não será submetido a identificação
compulsória pelos órgãos policiais, de proteção e judiciais, salvo para efeito de
confrontação, havendo dúvida fundada.
Capítulo III
Das Garantias Processuais
Art. 110. Nenhum adolescente será privado de sua liberdade sem o devido processo
legal.
Art. 111. São asseguradas ao adolescente, entre outras, as seguintes garantias:
I - pleno e formal conhecimento da atribuição de ato infracional, mediante citação ou
meio equivalente;
II - igualdade na relação processual, podendo confrontar-se com vítimas e
testemunhas e produzir todas as provas necessárias à sua defesa;
III - defesa técnica por advogado;

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IV - assistência judiciária gratuita e integral aos necessitados, na forma da lei;
V - direito de ser ouvido pessoalmente pela autoridade competente;
VI - direito de solicitar a presença de seus pais ou responsável em qualquer fase do
procedimento.
Capítulo IV
Das Medidas Sócio-Educativas
Seção I
Disposições Gerais
Art. 112. Verificada a prática de ato infracional, a autoridade competente poderá
aplicar ao adolescente as seguintes medidas:
I - advertência;
II - obrigação de reparar o dano;
III - prestação de serviços à comunidade;
IV - liberdade assistida;
V - inserção em regime de semi-liberdade;
VI - internação em estabelecimento educacional;
VII - qualquer uma das previstas no art. 101, I a VI.
§ 1º A medida aplicada ao adolescente levará em conta a sua capacidade de cumpri-
la, as circunstâncias e a gravidade da infração.
§ 2º Em hipótese alguma e sob pretexto algum, será admitida a prestação de
trabalho forçado.
§ 3º Os adolescentes portadores de doença ou deficiência mental receberão
tratamento individual e especializado, em local adequado às suas condições.
Art. 113. Aplica-se a este Capítulo o disposto nos arts. 99 e 100.
Art. 114. A imposição das medidas previstas nos incisos II a VI do art. 112 pressupõe
a existência de provas suficientes da autoria e da materialidade da infração, ressalvada a
hipótese de remissão, nos termos do art. 127.
Parágrafo único. A advertência poderá ser aplicada sempre que houver prova da
materialidade e indícios suficientes da autoria.
Seção II

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Da Advertência
Art. 115. A advertência consistirá em admoestação verbal, que será reduzida a termo
e assinada.
Seção III
Da Obrigação de Reparar o Dano
Art. 116. Em se tratando de ato infracional com reflexos patrimoniais, a autoridade
poderá determinar, se for o caso, que o adolescente restitua a coisa, promova o
ressarcimento do dano, ou, por outra forma, compense o prejuízo da vítima.
Parágrafo único. Havendo manifesta impossibilidade, a medida poderá ser
substituída por outra adequada.
Seção IV
Da Prestação de Serviços à Comunidade
Art. 117. A prestação de serviços comunitários consiste na realização de tarefas
gratuitas de interesse geral, por período não excedente a seis meses, junto a entidades
assistenciais, hospitais, escolas e outros estabelecimentos congêneres, bem como em
programas comunitários ou governamentais.
Parágrafo único. As tarefas serão atribuídas conforme as aptidões do adolescente,
devendo ser cumpridas durante jornada máxima de oito horas semanais, aos sábados,
domingos e feriados ou em dias úteis, de modo a não prejudicar a freqüência à escola ou
à jornada normal de trabalho.
Seção V
Da Liberdade Assistida
Art. 118. A liberdade assistida será adotada sempre que se afigurar a medida mais
adequada para o fim de acompanhar, auxiliar e orientar o adolescente.
§ 1º A autoridade designará pessoa capacitada para acompanhar o caso, a qual
poderá ser recomendada por entidade ou programa de atendimento.
§ 2º A liberdade assistida será fixada pelo prazo mínimo de seis meses, podendo a
qualquer tempo ser prorrogada, revogada ou substituída por outra medida, ouvido o
orientador, o Ministério Público e o defensor.

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Art. 119. Incumbe ao orientador, com o apoio e a supervisão da autoridade
competente, a realização dos seguintes encargos, entre outros:
I - promover socialmente o adolescente e sua família, fornecendo-lhes orientação e
inserindo-os, se necessário, em programa oficial ou comunitário de auxílio e assistência
social;
II - supervisionar a freqüência e o aproveitamento escolar do adolescente,
promovendo, inclusive, sua matrícula;
III - diligenciar no sentido da profissionalização do adolescente e de sua inserção no
mercado de trabalho;
IV - apresentar relatório do caso.
Seção VI
Do Regime de Semi-liberdade
Art. 120. O regime de semi-liberdade pode ser determinado desde o início, ou como
forma de transição para o meio aberto, possibilitada a realização de atividades externas,
independentemente de autorização judicial.
§ 1º São obrigatórias a escolarização e a profissionalização, devendo, sempre que
possível, ser utilizados os recursos existentes na comunidade.
§ 2º A medida não comporta prazo determinado aplicando-se, no que couber, as
disposições relativas à internação.
Seção VII
Da Internação
Art. 121. A internação constitui medida privativa da liberdade, sujeita aos princípios
de brevidade, excepcionalidade e respeito à condição peculiar de pessoa em
desenvolvimento.
§ 1º Será permitida a realização de atividades externas, a critério da equipe técnica
da entidade, salvo expressa determinação judicial em contrário.
§ 2º A medida não comporta prazo determinado, devendo sua manutenção ser
reavaliada, mediante decisão fundamentada, no máximo a cada seis meses.
§ 3º Em nenhuma hipótese o período máximo de internação excederá a três anos.

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§ 4º Atingido o limite estabelecido no parágrafo anterior, o adolescente deverá ser
liberado, colocado em regime de semi-liberdade ou de liberdade assistida.
§ 5º A liberação será compulsória aos vinte e um anos de idade.
§ 6º Em qualquer hipótese a desinternação será precedida de autorização judicial,
ouvido o Ministério Público.
Art. 122. A medida de internação só poderá ser aplicada quando:
I - tratar-se de ato infracional cometido mediante grave ameaça ou violência a
pessoa;
II - por reiteração no cometimento de outras infrações graves;
III - por descumprimento reiterado e injustificável da medida anteriormente imposta.
§ 1º O prazo de internação na hipótese do inciso III deste artigo não poderá ser
superior a três meses.
§ 2º. Em nenhuma hipótese será aplicada a internação, havendo outra medida
adequada.
Art. 123. A internação deverá ser cumprida em entidade exclusiva para
adolescentes, em local distinto daquele destinado ao abrigo, obedecida rigorosa
separação por critérios de idade, compleição física e gravidade da infração.
Parágrafo único. Durante o período de internação, inclusive provisória, serão
obrigatórias atividades pedagógicas.
Art. 124. São direitos do adolescente privado de liberdade, entre outros, os
seguintes:
I - entrevistar-se pessoalmente com o representante do Ministério Público;
II - peticionar diretamente a qualquer autoridade;
III - avistar-se reservadamente com seu defensor;
IV - ser informado de sua situação processual, sempre que solicitada;
V - ser tratado com respeito e dignidade;
VI - permanecer internado na mesma localidade ou naquela mais próxima ao
domicílio de seus pais ou responsável;
VII - receber visitas, ao menos, semanalmente;
VIII - corresponder-se com seus familiares e amigos;

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IX - ter acesso aos objetos necessários à higiene e asseio pessoal;
X - habitar alojamento em condições adequadas de higiene e salubridade;
XI - receber escolarização e profissionalização;
XII - realizar atividades culturais, esportivas e de lazer:
XIII - ter acesso aos meios de comunicação social;
XIV - receber assistência religiosa, segundo a sua crença, e desde que assim o
deseje;
XV - manter a posse de seus objetos pessoais e dispor de local seguro para guardá-
los, recebendo comprovante daqueles porventura depositados em poder da entidade;
XVI - receber, quando de sua desinternação, os documentos pessoais
indispensáveis à vida em sociedade.
§ 1º Em nenhum caso haverá incomunicabilidade.
§ 2º A autoridade judiciária poderá suspender temporariamente a visita, inclusive de
pais ou responsável, se existirem motivos sérios e fundados de sua prejudicialidade aos
interesses do adolescente.
Art. 125. É dever do Estado zelar pela integridade física e mental dos internos,
cabendo-lhe adotar as medidas adequadas de contenção e segurança.
Capítulo V
Da Remissão
Art. 126. Antes de iniciado o procedimento judicial para apuração de ato infracional, o
representante do Ministério Público poderá conceder a remissão, como forma de exclusão
do processo, atendendo às circunstâncias e conseqüências do fato, ao contexto social,
bem como à personalidade do adolescente e sua maior ou menor participação no ato
infracional.
Parágrafo único. Iniciado o procedimento, a concessão da remissão pela autoridade
judiciária importará na suspensão ou extinção do processo.
Art. 127. A remissão não implica necessariamente o reconhecimento ou
comprovação da responsabilidade, nem prevalece para efeito de antecedentes, podendo
incluir eventualmente a aplicação de qualquer das medidas previstas em lei, exceto a
colocação em regime de semi-liberdade e a internação.

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Art. 128. A medida aplicada por força da remissão poderá ser revista judicialmente, a
qualquer tempo, mediante pedido expresso do adolescente ou de seu representante legal,
ou do Ministério Público.
Título IV
Das Medidas Pertinentes aos Pais ou Responsável
Art. 129. São medidas aplicáveis aos pais ou responsável:
I - encaminhamento a programa oficial ou comunitário de proteção à família;
II - inclusão em programa oficial ou comunitário de auxílio, orientação e tratamento a
alcoólatras e toxicômanos;
III - encaminhamento a tratamento psicológico ou psiquiátrico;
IV - encaminhamento a cursos ou programas de orientação;
V - obrigação de matricular o filho ou pupilo e acompanhar sua freqüência e
aproveitamento escolar;
VI - obrigação de encaminhar a criança ou adolescente a tratamento especializado;
VII - advertência;
VIII - perda da guarda;
IX - destituição da tutela;
X - suspensão ou destituição do pátrio poder.
Parágrafo único. Na aplicação das medidas previstas nos incisos IX e X deste artigo,
observar-se-á o disposto nos arts. 23 e 24.
Art. 130. Verificada a hipótese de maus-tratos, opressão ou abuso sexual impostos
pelos pais ou responsável, a autoridade judiciária poderá determinar, como medida
cautelar, o afastamento do agressor da moradia comum.
Título V
Do Conselho Tutelar
Capítulo I
Disposições Gerais
Art. 131. O Conselho Tutelar é órgão permanente e autônomo, não jurisdicional,
encarregado pela sociedade de zelar pelo cumprimento dos direitos da criança e do
adolescente, definidos nesta Lei.

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Art. 132. Em cada Município haverá, no mínimo, um Conselho Tutelar composto de
cinco membros, escolhidos pela comunidade local para mandato de três anos, permitida
uma recondução. (Redação dada pela Lei nº 8.242, de 12.10.1991)
Art. 133. Para a candidatura a membro do Conselho Tutelar, serão exigidos os
seguintes requisitos:
I - reconhecida idoneidade moral;
II - idade superior a vinte e um anos;
III - residir no município.
Art. 134. Lei municipal disporá sobre local, dia e horário de funcionamento do
Conselho Tutelar, inclusive quanto a eventual remuneração de seus membros.
Parágrafo único. Constará da lei orçamentária municipal previsão dos recursos
necessários ao funcionamento do Conselho Tutelar.
Art. 135. O exercício efetivo da função de conselheiro constituirá serviço público
relevante, estabelecerá presunção de idoneidade moral e assegurará prisão especial, em
caso de crime comum, até o julgamento definitivo.
Capítulo II
Das Atribuições do Conselho
Art. 136. São atribuições do Conselho Tutelar:
I - atender as crianças e adolescentes nas hipóteses previstas nos arts. 98 e 105,
aplicando as medidas previstas no art. 101, I a VII;
II - atender e aconselhar os pais ou responsável, aplicando as medidas previstas no
art. 129, I a VII;
III - promover a execução de suas decisões, podendo para tanto:
a) requisitar serviços públicos nas áreas de saúde, educação, serviço social,
previdência, trabalho e segurança;
b) representar junto à autoridade judiciária nos casos de descumprimento
injustificado de suas deliberações.
IV - encaminhar ao Ministério Público notícia de fato que constitua infração
administrativa ou penal contra os direitos da criança ou adolescente;
V - encaminhar à autoridade judiciária os casos de sua competência;

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VI - providenciar a medida estabelecida pela autoridade judiciária, dentre as
previstas no art. 101, de I a VI, para o adolescente autor de ato infracional;
VII - expedir notificações;
VIII - requisitar certidões de nascimento e de óbito de criança ou adolescente quando
necessário;
IX - assessorar o Poder Executivo local na elaboração da proposta orçamentária
para planos e programas de atendimento dos direitos da criança e do adolescente;
X - representar, em nome da pessoa e da família, contra a violação dos direitos
previstos no art. 220, § 3º, inciso II, da Constituição Federal;
XI - representar ao Ministério Público, para efeito das ações de perda ou suspensão
do pátrio poder.
Art. 137. As decisões do Conselho Tutelar somente poderão ser revistas pela
autoridade judiciária a pedido de quem tenha legítimo interesse.
Capítulo III
Da Competência
Art. 138. Aplica-se ao Conselho Tutelar a regra de competência constante do art.
147.
Capítulo IV
Da Escolha dos Conselheiros
Art. 139. O processo para a escolha dos membros do Conselho Tutelar será
estabelecido em lei municipal e realizado sob a responsabilidade do Conselho Municipal
dos Direitos da Criança e do Adolescente, e a fiscalização do Ministério Público.
(Redação dada pela Lei nº 8.242, de 12.10.1991)
Capítulo V
Dos Impedimentos
Art. 140. São impedidos de servir no mesmo Conselho marido e mulher,
ascendentes e descendentes, sogro e genro ou nora, irmãos, cunhados, durante o
cunhadio, tio e sobrinho, padrasto ou madrasta e enteado.

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Parágrafo único. Estende-se o impedimento do conselheiro, na forma deste artigo,
em relação à autoridade judiciária e ao representante do Ministério Público com atuação
na Justiça da Infância e da Juventude, em exercício na comarca, foro regional ou distrital.
Título VI
Do Acesso à Justiça
Capítulo I
Disposições Gerais
Art. 141. É garantido o acesso de toda criança ou adolescente à Defensoria Pública,
ao Ministério Público e ao Poder Judiciário, por qualquer de seus órgãos.
§ 1º. A assistência judiciária gratuita será prestada aos que dela necessitarem,
através de defensor público ou advogado nomeado.
§ 2º As ações judiciais da competência da Justiça da Infância e da Juventude são
isentas de custas e emolumentos, ressalvada a hipótese de litigância de má-fé.
Art. 142. Os menores de dezesseis anos serão representados e os maiores de
dezesseis e menores de vinte e um anos assistidos por seus pais, tutores ou curadores,
na forma da legislação civil ou processual.
Parágrafo único. A autoridade judiciária dará curador especial à criança ou
adolescente, sempre que os interesses destes colidirem com os de seus pais ou
responsável, ou quando carecer de representação ou assistência legal ainda que
eventual.
Art. 143. E vedada a divulgação de atos judiciais, policiais e administrativos que
digam respeito a crianças e adolescentes a que se atribua autoria de ato infracional.
Parágrafo único. Qualquer notícia a respeito do fato não poderá identificar a criança
ou adolescente, vedando-se fotografia, referência a nome, apelido, filiação, parentesco,
residência e, inclusive, iniciais do nome e sobrenome. (Redação dada pela Lei nº 10.764,
de 12.11.2003)
Art. 144. A expedição de cópia ou certidão de atos a que se refere o artigo anterior
somente será deferida pela autoridade judiciária competente, se demonstrado o interesse
e justificada a finalidade.
Capítulo II

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Da Justiça da Infância e da Juventude
Seção I
Disposições Gerais
Art. 145. Os estados e o Distrito Federal poderão criar varas especializadas e
exclusivas da infância e da juventude, cabendo ao Poder Judiciário estabelecer sua
proporcionalidade por número de habitantes, dotá-las de infra-estrutura e dispor sobre o
atendimento, inclusive em plantões.
Seção II
Do Juiz
Art. 146. A autoridade a que se refere esta Lei é o Juiz da Infância e da Juventude,
ou o juiz que exerce essa função, na forma da lei de organização judiciária local.
Art. 147. A competência será determinada:
I - pelo domicílio dos pais ou responsável;
II - pelo lugar onde se encontre a criança ou adolescente, à falta dos pais ou
responsável.
§ 1º. Nos casos de ato infracional, será competente a autoridade do lugar da ação ou
omissão, observadas as regras de conexão, continência e prevenção.
§ 2º A execução das medidas poderá ser delegada à autoridade competente da
residência dos pais ou responsável, ou do local onde sediar-se a entidade que abrigar a
criança ou adolescente.
§ 3º Em caso de infração cometida através de transmissão simultânea de rádio ou
televisão, que atinja mais de uma comarca, será competente, para aplicação da
penalidade, a autoridade judiciária do local da sede estadual da emissora ou rede, tendo a
sentença eficácia para todas as transmissoras ou retransmissoras do respectivo estado.
Art. 148. A Justiça da Infância e da Juventude é competente para:
I - conhecer de representações promovidas pelo Ministério Público, para apuração
de ato infracional atribuído a adolescente, aplicando as medidas cabíveis;
II - conceder a remissão, como forma de suspensão ou extinção do processo;
III - conhecer de pedidos de adoção e seus incidentes;

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IV - conhecer de ações civis fundadas em interesses individuais, difusos ou coletivos
afetos à criança e ao adolescente, observado o disposto no art. 209;
V - conhecer de ações decorrentes de irregularidades em entidades de atendimento,
aplicando as medidas cabíveis;
VI - aplicar penalidades administrativas nos casos de infrações contra norma de
proteção à criança ou adolescente;
VII - conhecer de casos encaminhados pelo Conselho Tutelar, aplicando as medidas
cabíveis.
Parágrafo único. Quando se tratar de criança ou adolescente nas hipóteses do art.
98, é também competente a Justiça da Infância e da Juventude para o fim de:
a) conhecer de pedidos de guarda e tutela;
b) conhecer de ações de destituição do pátrio poder, perda ou modificação da tutela
ou guarda;
c) suprir a capacidade ou o consentimento para o casamento;
d) conhecer de pedidos baseados em discordância paterna ou materna, em relação
ao exercício do pátrio poder;
e) conceder a emancipação, nos termos da lei civil, quando faltarem os pais;
f) designar curador especial em casos de apresentação de queixa ou representação,
ou de outros procedimentos judiciais ou extrajudiciais em que haja interesses de criança
ou adolescente;
g) conhecer de ações de alimentos;
h) determinar o cancelamento, a retificação e o suprimento dos registros de
nascimento e óbito.
Art. 149. Compete à autoridade judiciária disciplinar, através de portaria, ou autorizar,
mediante alvará:
I - a entrada e permanência de criança ou adolescente, desacompanhado dos pais
ou responsável, em:
a) estádio, ginásio e campo desportivo;
b) bailes ou promoções dançantes;
c) boate ou congêneres;

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d) casa que explore comercialmente diversões eletrônicas;
e) estúdios cinematográficos, de teatro, rádio e televisão.
II - a participação de criança e adolescente em:
a) espetáculos públicos e seus ensaios;
b) certames de beleza.
§ 1º Para os fins do disposto neste artigo, a autoridade judiciária levará em conta,
dentre outros fatores:
a) os princípios desta Lei;
b) as peculiaridades locais;
c) a existência de instalações adequadas;
d) o tipo de freqüência habitual ao local;
e) a adequação do ambiente a eventual participação ou freqüência de crianças e
adolescentes;
f) a natureza do espetáculo.
§ 2º As medidas adotadas na conformidade deste artigo deverão ser fundamentadas,
caso a caso, vedadas as determinações de caráter geral.
Seção III
Dos Serviços Auxiliares
Art. 150. Cabe ao Poder Judiciário, na elaboração de sua proposta orçamentária,
prever recursos para manutenção de equipe interprofissional, destinada a assessorar a
Justiça da Infância e da Juventude.
Art. 151. Compete à equipe interprofissional dentre outras atribuições que lhe forem
reservadas pela legislação local, fornecer subsídios por escrito, mediante laudos, ou
verbalmente, na audiência, e bem assim desenvolver trabalhos de aconselhamento,
orientação, encaminhamento, prevenção e outros, tudo sob a imediata subordinação à
autoridade judiciária, assegurada a livre manifestação do ponto de vista técnico.
Capítulo III
Dos Procedimentos
Seção I
Disposições Gerais

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Art. 152. Aos procedimentos regulados nesta Lei aplicam-se subsidiariamente as
normas gerais previstas na legislação processual pertinente.
Art. 153. Se a medida judicial a ser adotada não corresponder a procedimento
previsto nesta ou em outra lei, a autoridade judiciária poderá investigar os fatos e ordenar
de ofício as providências necessárias, ouvido o Ministério Público.
Art. 154. Aplica-se às multas o disposto no art. 214.
Seção II
Da Perda e da Suspensão do Pátrio Poder
Art. 155. O procedimento para a perda ou a suspensão do pátrio poder terá início por
provocação do Ministério Público ou de quem tenha legítimo interesse.
Art. 156. A petição inicial indicará:
I - a autoridade judiciária a que for dirigida;
II - o nome, o estado civil, a profissão e a residência do requerente e do requerido,
dispensada a qualificação em se tratando de pedido formulado por representante do
Ministério Público;
III - a exposição sumária do fato e o pedido;
IV - as provas que serão produzidas, oferecendo, desde logo, o rol de testemunhas e
documentos.
Art. 157. Havendo motivo grave, poderá a autoridade judiciária, ouvido o Ministério
Público, decretar a suspensão do pátrio poder, liminar ou incidentalmente, até o
julgamento definitivo da causa, ficando a criança ou adolescente confiado a pessoa
idônea, mediante termo de responsabilidade.
Art. 158. O requerido será citado para, no prazo de dez dias, oferecer resposta
escrita, indicando as provas a serem produzidas e oferecendo desde logo o rol de
testemunhas e documentos.
Parágrafo único. Deverão ser esgotados todos os meios para a citação pessoal.
Art. 159. Se o requerido não tiver possibilidade de constituir advogado, sem prejuízo
do próprio sustento e de sua família, poderá requerer, em cartório, que lhe seja nomeado
dativo, ao qual incumbirá a apresentação de resposta, contando-se o prazo a partir da
intimação do despacho de nomeação.

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Art. 160. Sendo necessário, a autoridade judiciária requisitará de qualquer repartição
ou órgão público a apresentação de documento que interesse à causa, de ofício ou a
requerimento das partes ou do Ministério Público.
Art. 161. Não sendo contestado o pedido, a autoridade judiciária dará vista dos autos
ao Ministério Público, por cinco dias, salvo quando este for o requerente, decidindo em
igual prazo.
§ 1º Havendo necessidade, a autoridade judiciária poderá determinar a realização de
estudo social ou perícia por equipe interprofissional, bem como a oitiva de testemunhas.
§ 2º Se o pedido importar em modificação de guarda, será obrigatória, desde que
possível e razoável, a oitiva da criança ou adolescente.
Art. 162. Apresentada a resposta, a autoridade judiciária dará vista dos autos ao
Ministério Público, por cinco dias, salvo quando este for o requerente, designando, desde
logo, audiência de instrução e julgamento.
§ 1º A requerimento de qualquer das partes, do Ministério Público, ou de ofício, a
autoridade judiciária poderá determinar a realização de estudo social ou, se possível, de
perícia por equipe interprofissional.
§ 2º Na audiência, presentes as partes e o Ministério Público, serão ouvidas as
testemunhas, colhendo-se oralmente o parecer técnico, salvo quando apresentado por
escrito, manifestando-se sucessivamente o requerente, o requerido e o Ministério Público,
pelo tempo de vinte minutos cada um, prorrogável por mais dez. A decisão será proferida
na audiência, podendo a autoridade judiciária, excepcionalmente, designar data para sua
leitura no prazo máximo de cinco dias.
Art. 163. A sentença que decretar a perda ou a suspensão do pátrio poder será
averbada à margem do registro de nascimento da criança ou adolescente.
Seção III
Da Destituição da Tutela
Art. 164. Na destituição da tutela, observar-se-á o procedimento para a remoção de
tutor previsto na lei processual civil e, no que couber, o disposto na seção anterior.
Seção IV
Da Colocação em Família Substituta

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Art. 165. São requisitos para a concessão de pedidos de colocação em família
substituta:
I - qualificação completa do requerente e de seu eventual cônjuge, ou companheiro,
com expressa anuência deste;
II - indicação de eventual parentesco do requerente e de seu cônjuge, ou
companheiro, com a criança ou adolescente, especificando se tem ou não parente vivo;
III - qualificação completa da criança ou adolescente e de seus pais, se conhecidos;
IV - indicação do cartório onde foi inscrito nascimento, anexando, se possível, uma
cópia da respectiva certidão;
V - declaração sobre a existência de bens, direitos ou rendimentos relativos à criança
ou ao adolescente.
Parágrafo único. Em se tratando de adoção, observar-se-ão também os requisitos
específicos.
Art. 166. Se os pais forem falecidos, tiverem sido destituídos ou suspensos do pátrio
poder, ou houverem aderido expressamente ao pedido de colocação em família
substituta, este poderá ser formulado diretamente em cartório, em petição assinada pelos
próprios requerentes.
Parágrafo único. Na hipótese de concordância dos pais, eles serão ouvidos pela
autoridade judiciária e pelo representante do Ministério Público, tomando-se por termo as
declarações.
Art. 167. A autoridade judiciária, de ofício ou a requerimento das partes ou do
Ministério Público, determinará a realização de estudo social ou, se possível, perícia por
equipe interprofissional, decidindo sobre a concessão de guarda provisória, bem como, no
caso de adoção, sobre o estágio de convivência.
Art. 168. Apresentado o relatório social ou o laudo pericial, e ouvida, sempre que
possível, a criança ou o adolescente, dar-se-á vista dos autos ao Ministério Público, pelo
prazo de cinco dias, decidindo a autoridade judiciária em igual prazo.
Art. 169. Nas hipóteses em que a destituição da tutela, a perda ou a suspensão do
pátrio poder constituir pressuposto lógico da medida principal de colocação em família

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substituta, será observado o procedimento contraditório previsto nas Seções II e III deste
Capítulo.
Parágrafo único. A perda ou a modificação da guarda poderá ser decretada nos
mesmos autos do procedimento, observado o disposto no art. 35.
Art. 170. Concedida a guarda ou a tutela, observar-se-á o disposto no art. 32, e,
quanto à adoção, o contido no art. 47.
Seção V
Da Apuração de Ato Infracional Atribuído a Adolescente
Art. 171. O adolescente apreendido por força de ordem judicial será, desde logo,
encaminhado à autoridade judiciária.
Art. 172. O adolescente apreendido em flagrante de ato infracional será, desde logo,
encaminhado à autoridade policial competente.
Parágrafo único. Havendo repartição policial especializada para atendimento de
adolescente e em se tratando de ato infracional praticado em co-autoria com maior,
prevalecerá a atribuição da repartição especializada, que, após as providências
necessárias e conforme o caso, encaminhará o adulto à repartição policial própria.
Art. 173. Em caso de flagrante de ato infracional cometido mediante violência ou
grave ameaça a pessoa, a autoridade policial, sem prejuízo do disposto nos arts. 106,
parágrafo único, e 107, deverá:
I - lavrar auto de apreensão, ouvidos as testemunhas e o adolescente;
II - apreender o produto e os instrumentos da infração;
III - requisitar os exames ou perícias necessários à comprovação da materialidade e
autoria da infração.
Parágrafo único. Nas demais hipóteses de flagrante, a lavratura do auto poderá ser
substituída por boletim de ocorrência circunstanciada.
Art. 174. Comparecendo qualquer dos pais ou responsável, o adolescente será
prontamente liberado pela autoridade policial, sob termo de compromisso e
responsabilidade de sua apresentação ao representante do Ministério Público, no mesmo
dia ou, sendo impossível, no primeiro dia útil imediato, exceto quando, pela gravidade do

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ato infracional e sua repercussão social, deva o adolescente permanecer sob internação
para garantia de sua segurança pessoal ou manutenção da ordem pública.
Art. 175. Em caso de não liberação, a autoridade policial encaminhará, desde logo, o
adolescente ao representante do Ministério Público, juntamente com cópia do auto de
apreensão ou boletim de ocorrência.
§ 1º Sendo impossível a apresentação imediata, a autoridade policial encaminhará o
adolescente à entidade de atendimento, que fará a apresentação ao representante do
Ministério Público no prazo de vinte e quatro horas.
§ 2º Nas localidades onde não houver entidade de atendimento, a apresentação far-
se-á pela autoridade policial. À falta de repartição policial especializada, o adolescente
aguardará a apresentação em dependência separada da destinada a maiores, não
podendo, em qualquer hipótese, exceder o prazo referido no parágrafo anterior.
Art. 176. Sendo o adolescente liberado, a autoridade policial encaminhará
imediatamente ao representante do Ministério Público cópia do auto de apreensão ou
boletim de ocorrência.
Art. 177. Se, afastada a hipótese de flagrante, houver indícios de participação de
adolescente na prática de ato infracional, a autoridade policial encaminhará ao
representante do Ministério Público relatório das investigações e demais documentos.
Art. 178. O adolescente a quem se atribua autoria de ato infracional não poderá ser
conduzido ou transportado em compartimento fechado de veículo policial, em condições
atentatórias à sua dignidade, ou que impliquem risco à sua integridade física ou mental,
sob pena de responsabilidade.
Art. 179. Apresentado o adolescente, o representante do Ministério Público, no
mesmo dia e à vista do auto de apreensão, boletim de ocorrência ou relatório policial,
devidamente autuados pelo cartório judicial e com informação sobre os antecedentes do
adolescente, procederá imediata e informalmente à sua oitiva e, em sendo possível, de
seus pais ou responsável, vítima e testemunhas.
Parágrafo único. Em caso de não apresentação, o representante do Ministério
Público notificará os pais ou responsável para apresentação do adolescente, podendo
requisitar o concurso das polícias civil e militar.

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Art. 180. Adotadas as providências a que alude o artigo anterior, o representante do
Ministério Público poderá:
I - promover o arquivamento dos autos;
II - conceder a remissão;
III - representar à autoridade judiciária para aplicação de medida sócio-educativa.
Art. 181. Promovido o arquivamento dos autos ou concedida a remissão pelo
representante do Ministério Público, mediante termo fundamentado, que conterá o resumo
dos fatos, os autos serão conclusos à autoridade judiciária para homologação.
§ 1º Homologado o arquivamento ou a remissão, a autoridade judiciária determinará,
conforme o caso, o cumprimento da medida.
§ 2º Discordando, a autoridade judiciária fará remessa dos autos ao Procurador-
Geral de Justiça, mediante despacho fundamentado, e este oferecerá representação,
designará outro membro do Ministério Público para apresentá-la, ou ratificará o
arquivamento ou a remissão, que só então estará a autoridade judiciária obrigada a
homologar.
Art. 182. Se, por qualquer razão, o representante do Ministério Público não promover
o arquivamento ou conceder a remissão, oferecerá representação à autoridade judiciária,
propondo a instauração de procedimento para aplicação da medida sócio-educativa que
se afigurar a mais adequada.
§ 1º A representação será oferecida por petição, que conterá o breve resumo dos
fatos e a classificação do ato infracional e, quando necessário, o rol de testemunhas,
podendo ser deduzida oralmente, em sessão diária instalada pela autoridade judiciária.
§ 2º A representação independe de prova pré-constituída da autoria e materialidade.
Art. 183. O prazo máximo e improrrogável para a conclusão do procedimento,
estando o adolescente internado provisoriamente, será de quarenta e cinco dias.
Art. 184. Oferecida a representação, a autoridade judiciária designará audiência de
apresentação do adolescente, decidindo, desde logo, sobre a decretação ou manutenção
da internação, observado o disposto no art. 108 e parágrafo.
§ 1º O adolescente e seus pais ou responsável serão cientificados do teor da
representação, e notificados a comparecer à audiência, acompanhados de advogado.

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§ 2º Se os pais ou responsável não forem localizados, a autoridade judiciária dará
curador especial ao adolescente.
§ 3º Não sendo localizado o adolescente, a autoridade judiciária expedirá mandado
de busca e apreensão, determinando o sobrestamento do feito, até a efetiva
apresentação.
§ 4º Estando o adolescente internado, será requisitada a sua apresentação, sem
prejuízo da notificação dos pais ou responsável.
Art. 185. A internação, decretada ou mantida pela autoridade judiciária, não poderá
ser cumprida em estabelecimento prisional.
§ 1º Inexistindo na comarca entidade com as características definidas no art. 123, o
adolescente deverá ser imediatamente transferido para a localidade mais próxima.
§ 2º Sendo impossível a pronta transferência, o adolescente aguardará sua remoção
em repartição policial, desde que em seção isolada dos adultos e com instalações
apropriadas, não podendo ultrapassar o prazo máximo de cinco dias, sob pena de
responsabilidade.
Art. 186. Comparecendo o adolescente, seus pais ou responsável, a autoridade
judiciária procederá à oitiva dos mesmos, podendo solicitar opinião de profissional
qualificado.
§ 1º Se a autoridade judiciária entender adequada a remissão, ouvirá o
representante do Ministério Público, proferindo decisão.
§ 2º Sendo o fato grave, passível de aplicação de medida de internação ou
colocação em regime de semi-liberdade, a autoridade judiciária, verificando que o
adolescente não possui advogado constituído, nomeará defensor, designando, desde
logo, audiência em continuação, podendo determinar a realização de diligências e estudo
do caso.
§ 3º O advogado constituído ou o defensor nomeado, no prazo de três dias contado
da audiência de apresentação, oferecerá defesa prévia e rol de testemunhas.
§ 4º Na audiência em continuação, ouvidas as testemunhas arroladas na
representação e na defesa prévia, cumpridas as diligências e juntado o relatório da equipe
interprofissional, será dada a palavra ao representante do Ministério Público e ao

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defensor, sucessivamente, pelo tempo de vinte minutos para cada um, prorrogável por
mais dez, a critério da autoridade judiciária, que em seguida proferirá decisão.
Art. 187. Se o adolescente, devidamente notificado, não comparecer,
injustificadamente à audiência de apresentação, a autoridade judiciária designará nova
data, determinando sua condução coercitiva.
Art. 188. A remissão, como forma de extinção ou suspensão do processo, poderá ser
aplicada em qualquer fase do procedimento, antes da sentença.
Art. 189. A autoridade judiciária não aplicará qualquer medida, desde que reconheça
na sentença:
I - estar provada a inexistência do fato;
II - não haver prova da existência do fato;
III - não constituir o fato ato infracional;
IV - não existir prova de ter o adolescente concorrido para o ato infracional.
Parágrafo único. Na hipótese deste artigo, estando o adolescente internado, será
imediatamente colocado em liberdade.
Art. 190. A intimação da sentença que aplicar medida de internação ou regime de
semi-liberdade será feita:
I - ao adolescente e ao seu defensor;
II - quando não for encontrado o adolescente, a seus pais ou responsável, sem
prejuízo do defensor.
§ 1º Sendo outra a medida aplicada, a intimação far-se-á unicamente na pessoa do
defensor.
§ 2º Recaindo a intimação na pessoa do adolescente, deverá este manifestar se
deseja ou não recorrer da sentença.
Seção VI
Da Apuração de Irregularidades em Entidade de Atendimento
Art. 191. O procedimento de apuração de irregularidades em entidade
governamental e não-governamental terá início mediante portaria da autoridade judiciária
ou representação do Ministério Público ou do Conselho Tutelar, onde conste,
necessariamente, resumo dos fatos.

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Parágrafo único. Havendo motivo grave, poderá a autoridade judiciária, ouvido o
Ministério Público, decretar liminarmente o afastamento provisório do dirigente da
entidade, mediante decisão fundamentada.
Art. 192. O dirigente da entidade será citado para, no prazo de dez dias, oferecer
resposta escrita, podendo juntar documentos e indicar as provas a produzir.
Art. 193. Apresentada ou não a resposta, e sendo necessário, a autoridade judiciária
designará audiência de instrução e julgamento, intimando as partes.
§ 1º Salvo manifestação em audiência, as partes e o Ministério Público terão cinco
dias para oferecer alegações finais, decidindo a autoridade judiciária em igual prazo.
§ 2º Em se tratando de afastamento provisório ou definitivo de dirigente de entidade
governamental, a autoridade judiciária oficiará à autoridade administrativa imediatamente
superior ao afastado, marcando prazo para a substituição.
§ 3º Antes de aplicar qualquer das medidas, a autoridade judiciária poderá fixar
prazo para a remoção das irregularidades verificadas. Satisfeitas as exigências, o
processo será extinto, sem julgamento de mérito.
§ 4º A multa e a advertência serão impostas ao dirigente da entidade ou programa de
atendimento.
Seção VII
Da Apuração de Infração Administrativa às Normas de Proteção à Criança e ao
Adolescente
Art. 194. O procedimento para imposição de penalidade administrativa por infração
às normas de proteção à criança e ao adolescente terá início por representação do
Ministério Público, ou do Conselho Tutelar, ou auto de infração elaborado por servidor
efetivo ou voluntário credenciado, e assinado por duas testemunhas, se possível.
§ 1º No procedimento iniciado com o auto de infração, poderão ser usadas fórmulas
impressas, especificando-se a natureza e as circunstâncias da infração.
§ 2º Sempre que possível, à verificação da infração seguir-se-á a lavratura do auto,
certificando-se, em caso contrário, dos motivos do retardamento.
Art. 195. O requerido terá prazo de dez dias para apresentação de defesa, contado
da data da intimação, que será feita:

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I - pelo autuante, no próprio auto, quando este for lavrado na presença do requerido;
II - por oficial de justiça ou funcionário legalmente habilitado, que entregará cópia do
auto ou da representação ao requerido, ou a seu representante legal, lavrando certidão;
III - por via postal, com aviso de recebimento, se não for encontrado o requerido ou
seu representante legal;
IV - por edital, com prazo de trinta dias, se incerto ou não sabido o paradeiro do
requerido ou de seu representante legal.
Art. 196. Não sendo apresentada a defesa no prazo legal, a autoridade judiciária
dará vista dos autos do Ministério Público, por cinco dias, decidindo em igual prazo.
Art. 197. Apresentada a defesa, a autoridade judiciária procederá na conformidade
do artigo anterior, ou, sendo necessário, designará audiência de instrução e julgamento.
Parágrafo único. Colhida a prova oral, manifestar-se-ão sucessivamente o Ministério
Público e o procurador do requerido, pelo tempo de vinte minutos para cada um,
prorrogável por mais dez, a critério da autoridade judiciária, que em seguida proferirá
sentença.
Capítulo IV
Dos Recursos
Art. 198. Nos procedimentos afetos à Justiça da Infância e da Juventude fica adotado
o sistema recursal do Código de Processo Civil, aprovado pela Lei n.º 5.869, de 11 de
janeiro de 1973, e suas alterações posteriores, com as seguintes adaptações:
I - os recursos serão interpostos independentemente de preparo;
II - em todos os recursos, salvo o de agravo de instrumento e de embargos de
declaração, o prazo para interpor e para responder será sempre de dez dias;
III - os recursos terão preferência de julgamento e dispensarão revisor;
IV - o agravado será intimado para, no prazo de cinco dias, oferecer resposta e
indicar as peças a serem trasladadas;
V - será de quarenta e oito horas o prazo para a extração, a conferência e o conserto
do traslado;
VI - a apelação será recebida em seu efeito devolutivo. Será também conferido efeito
suspensivo quando interposta contra sentença que deferir a adoção por estrangeiro e, a

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juízo da autoridade judiciária, sempre que houver perigo de dano irreparável ou de difícil
reparação;
VII - antes de determinar a remessa dos autos à superior instância, no caso de
apelação, ou do instrumento, no caso de agravo, a autoridade judiciária proferirá
despacho fundamentado, mantendo ou reformando a decisão, no prazo de cinco dias;
VIII - mantida a decisão apelada ou agravada, o escrivão remeterá os autos ou o
instrumento à superior instância dentro de vinte e quatro horas, independentemente de
novo pedido do recorrente; se a reformar, a remessa dos autos dependerá de pedido
expresso da parte interessada ou do Ministério Público, no prazo de cinco dias, contados
da intimação.
Art. 199. Contra as decisões proferidas com base no art. 149 caberá recurso de
apelação.
Capítulo V
Do Ministério Público
Art. 200. As funções do Ministério Público previstas nesta Lei serão exercidas nos
termos da respectiva lei orgânica.
Art. 201. Compete ao Ministério Público:
I - conceder a remissão como forma de exclusão do processo;
II - promover e acompanhar os procedimentos relativos às infrações atribuídas a
adolescentes;
III - promover e acompanhar as ações de alimentos e os procedimentos de
suspensão e destituição do pátrio poder, nomeação e remoção de tutores, curadores e
guardiães, bem como oficiar em todos os demais procedimentos da competência da
Justiça da Infância e da Juventude;
IV - promover, de ofício ou por solicitação dos interessados, a especialização e a
inscrição de hipoteca legal e a prestação de contas dos tutores, curadores e quaisquer
administradores de bens de crianças e adolescentes nas hipóteses do art. 98;
V - promover o inquérito civil e a ação civil pública para a proteção dos interesses
individuais, difusos ou coletivos relativos à infância e à adolescência, inclusive os
definidos no art. 220, § 3º inciso II, da Constituição Federal;

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VI - instaurar procedimentos administrativos e, para instruí-los:
a) expedir notificações para colher depoimentos ou esclarecimentos e, em caso de
não comparecimento injustificado, requisitar condução coercitiva, inclusive pela polícia
civil ou militar;
b) requisitar informações, exames, perícias e documentos de autoridades municipais,
estaduais e federais, da administração direta ou indireta, bem como promover inspeções
e diligências investigatórias;
c) requisitar informações e documentos a particulares e instituições privadas;
VII - instaurar sindicâncias, requisitar diligências investigatórias e determinar a
instauração de inquérito policial, para apuração de ilícitos ou infrações às normas de
proteção à infância e à juventude;
VIII - zelar pelo efetivo respeito aos direitos e garantias legais assegurados às
crianças e adolescentes, promovendo as medidas judiciais e extrajudiciais cabíveis;
IX - impetrar mandado de segurança, de injunção e habeas corpus, em qualquer
juízo, instância ou tribunal, na defesa dos interesses sociais e individuais indisponíveis
afetos à criança e ao adolescente;
X - representar ao juízo visando à aplicação de penalidade por infrações cometidas
contra as normas de proteção à infância e à juventude, sem prejuízo da promoção da
responsabilidade civil e penal do infrator, quando cabível;
XI - inspecionar as entidades públicas e particulares de atendimento e os programas
de que trata esta Lei, adotando de pronto as medidas administrativas ou judiciais
necessárias à remoção de irregularidades porventura verificadas;
XII - requisitar força policial, bem como a colaboração dos serviços médicos,
hospitalares, educacionais e de assistência social, públicos ou privados, para o
desempenho de suas atribuições.
§ 1º A legitimação do Ministério Público para as ações cíveis previstas neste artigo
não impede a de terceiros, nas mesmas hipóteses, segundo dispuserem a Constituição e
esta Lei.
§ 2º As atribuições constantes deste artigo não excluem outras, desde que
compatíveis com a finalidade do Ministério Público.

Karina de O. Lima
Psicóloga CRP: 84326/06 317
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§ 3º O representante do Ministério Público, no exercício de suas funções, terá livre
acesso a todo local onde se encontre criança ou adolescente.
§ 4º O representante do Ministério Público será responsável pelo uso indevido das
informações e documentos que requisitar, nas hipóteses legais de sigilo.
§ 5º Para o exercício da atribuição de que trata o inciso VIII deste artigo, poderá o
representante do Ministério Público:
a) reduzir a termo as declarações do reclamante, instaurando o competente
procedimento, sob sua presidência;
b) entender-se diretamente com a pessoa ou autoridade reclamada, em dia, local e
horário previamente notificados ou acertados;
c) efetuar recomendações visando à melhoria dos serviços públicos e de relevância
pública afetos à criança e ao adolescente, fixando prazo razoável para sua perfeita
adequação.
Art. 202. Nos processos e procedimentos em que não for parte, atuará
obrigatoriamente o Ministério Público na defesa dos direitos e interesses de que cuida
esta Lei, hipótese em que terá vista dos autos depois das partes, podendo juntar
documentos e requerer diligências, usando os recursos cabíveis.
Art. 203. A intimação do Ministério Público, em qualquer caso, será feita
pessoalmente.
Art. 204. A falta de intervenção do Ministério Público acarreta a nulidade do feito, que
será declarada de ofício pelo juiz ou a requerimento de qualquer interessado.
Art. 205. As manifestações processuais do representante do Ministério Público
deverão ser fundamentadas.
Capítulo VI
Do Advogado
Art. 206. A criança ou o adolescente, seus pais ou responsável, e qualquer pessoa
que tenha legítimo interesse na solução da lide poderão intervir nos procedimentos de
que trata esta Lei, através de advogado, o qual será intimado para todos os atos,
pessoalmente ou por publicação oficial, respeitado o segredo de justiça.

Karina de O. Lima
Psicóloga CRP: 84326/06 318
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Parágrafo único. Será prestada assistência judiciária integral e gratuita àqueles que
dela necessitarem.
Art. 207. Nenhum adolescente a quem se atribua a prática de ato infracional, ainda
que ausente ou foragido, será processado sem defensor.
§ 1º Se o adolescente não tiver defensor, ser-lhe-á nomeado pelo juiz, ressalvado o
direito de, a todo tempo, constituir outro de sua preferência.
§ 2º A ausência do defensor não determinará o adiamento de nenhum ato do
processo, devendo o juiz nomear substituto, ainda que provisoriamente, ou para o só
efeito do ato.
§ 3º Será dispensada a outorga de mandato, quando se tratar de defensor nomeado
ou, sido constituído, tiver sido indicado por ocasião de ato formal com a presença da
autoridade judiciária.
Capítulo VII
Da Proteção Judicial dos Interesses Individuais, Difusos e Coletivos
Art. 208. Regem-se pelas disposições desta Lei as ações de responsabilidade por
ofensa aos direitos assegurados à criança e ao adolescente, referentes ao não
oferecimento ou oferta irregular:
I - do ensino obrigatório;
II - de atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência;
III - de atendimento em creche e pré-escola às crianças de zero a seis anos de
idade;
IV - de ensino noturno regular, adequado às condições do educando;
V - de programas suplementares de oferta de material didático-escolar, transporte e
assistência à saúde do educando do ensino fundamental;
VI - de serviço de assistência social visando à proteção à família, à maternidade, à
infância e à adolescência, bem como ao amparo às crianças e adolescentes que dele
necessitem;
VII - de acesso às ações e serviços de saúde;
VIII - de escolarização e profissionalização dos adolescentes privados de liberdade.

Karina de O. Lima
Psicóloga CRP: 84326/06 319
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§ 1o As hipóteses previstas neste artigo não excluem da proteção judicial outros
interesses individuais, difusos ou coletivos, próprios da infância e da adolescência,
protegidos pela Constituição e pela Lei. (Renumerado do Parágrafo único pela Lei nº
11.259, de 2005)
§ 2o A investigação do desaparecimento de crianças ou adolescentes será realizada
imediatamente após notificação aos órgãos competentes, que deverão comunicar o fato
aos portos, aeroportos, Polícia Rodoviária e companhias de transporte interestaduais e
internacionais, fornecendo-lhes todos os dados necessários à identificação do
desaparecido. (Incluído pela Lei nº 11.259, de 2005)
Art. 209. As ações previstas neste Capítulo serão propostas no foro do local onde
ocorreu ou deva ocorrer a ação ou omissão, cujo juízo terá competência absoluta para
processar a causa, ressalvadas a competência da Justiça Federal e a competência
originária dos tribunais superiores.
Art. 210. Para as ações cíveis fundadas em interesses coletivos ou difusos,
consideram-se legitimados concorrentemente:
I - o Ministério Público;
II - a União, os estados, os municípios, o Distrito Federal e os territórios;
III - as associações legalmente constituídas há pelo menos um ano e que incluam
entre seus fins institucionais a defesa dos interesses e direitos protegidos por esta Lei,
dispensada a autorização da assembléia, se houver prévia autorização estatutária.
§ 1º Admitir-se-á litisconsórcio facultativo entre os Ministérios Públicos da União e
dos estados na defesa dos interesses e direitos de que cuida esta Lei.
§ 2º Em caso de desistência ou abandono da ação por associação legitimada, o
Ministério Público ou outro legitimado poderá assumir a titularidade ativa.
Art. 211. Os órgãos públicos legitimados poderão tomar dos interessados
compromisso de ajustamento de sua conduta às exigências legais, o qual terá eficácia de
título executivo extrajudicial.
Art. 212. Para defesa dos direitos e interesses protegidos por esta Lei, são
admissíveis todas as espécies de ações pertinentes.

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§ 1º Aplicam-se às ações previstas neste Capítulo as normas do Código de Processo
Civil.
§ 2º Contra atos ilegais ou abusivos de autoridade pública ou agente de pessoa
jurídica no exercício de atribuições do poder público, que lesem direito líquido e certo
previsto nesta Lei, caberá ação mandamental, que se regerá pelas normas da lei do
mandado de segurança.
Art. 213. Na ação que tenha por objeto o cumprimento de obrigação de fazer ou não
fazer, o juiz concederá a tutela específica da obrigação ou determinará providências que
assegurem o resultado prático equivalente ao do adimplemento.
§ 1º Sendo relevante o fundamento da demanda e havendo justificado receio de
ineficácia do provimento final, é lícito ao juiz conceder a tutela liminarmente ou após
justificação prévia, citando o réu.
§ 2º O juiz poderá, na hipótese do parágrafo anterior ou na sentença, impor multa
diária ao réu, independentemente de pedido do autor, se for suficiente ou compatível com
a obrigação, fixando prazo razoável para o cumprimento do preceito.
§ 3º A multa só será exigível do réu após o trânsito em julgado da sentença favorável
ao autor, mas será devida desde o dia em que se houver configurado o descumprimento.
Art. 214. Os valores das multas reverterão ao fundo gerido pelo Conselho dos
Direitos da Criança e do Adolescente do respectivo município.
§ 1º As multas não recolhidas até trinta dias após o trânsito em julgado da decisão
serão exigidas através de execução promovida pelo Ministério Público, nos mesmos
autos, facultada igual iniciativa aos demais legitimados.
§ 2º Enquanto o fundo não for regulamentado, o dinheiro ficará depositado em
estabelecimento oficial de crédito, em conta com correção monetária.
Art. 215. O juiz poderá conferir efeito suspensivo aos recursos, para evitar dano
irreparável à parte.
Art. 216. Transitada em julgado a sentença que impuser condenação ao poder
público, o juiz determinará a remessa de peças à autoridade competente, para apuração
da responsabilidade civil e administrativa do agente a que se atribua a ação ou omissão.

Karina de O. Lima
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Art. 217. Decorridos sessenta dias do trânsito em julgado da sentença condenatória
sem que a associação autora lhe promova a execução, deverá fazê-lo o Ministério
Público, facultada igual iniciativa aos demais legitimados.
Art. 218. O juiz condenará a associação autora a pagar ao réu os honorários
advocatícios arbitrados na conformidade do § 4º do art. 20 da Lei n.º 5.869, de 11 de
janeiro de 1973 (Código de Processo Civil), quando reconhecer que a pretensão é
manifestamente infundada.
Parágrafo único. Em caso de litigância de má-fé, a associação autora e os diretores
responsáveis pela propositura da ação serão solidariamente condenados ao décuplo das
custas, sem prejuízo de responsabilidade por perdas e danos.
Art. 219. Nas ações de que trata este Capítulo, não haverá adiantamento de custas,
emolumentos, honorários periciais e quaisquer outras despesas.
Art. 220. Qualquer pessoa poderá e o servidor público deverá provocar a iniciativa do
Ministério Público, prestando-lhe informações sobre fatos que constituam objeto de ação
civil, e indicando-lhe os elementos de convicção.
Art. 221. Se, no exercício de suas funções, os juízos e tribunais tiverem
conhecimento de fatos que possam ensejar a propositura de ação civil, remeterão peças
ao Ministério Público para as providências cabíveis.
Art. 222. Para instruir a petição inicial, o interessado poderá requerer às autoridades
competentes as certidões e informações que julgar necessárias, que serão fornecidas no
prazo de quinze dias.
Art. 223. O Ministério Público poderá instaurar, sob sua presidência, inquérito civil,
ou requisitar, de qualquer pessoa, organismo público ou particular, certidões,
informações, exames ou perícias, no prazo que assinalar, o qual não poderá ser inferior a
dez dias úteis.
§ 1º Se o órgão do Ministério Público, esgotadas todas as diligências, se convencer
da inexistência de fundamento para a propositura da ação cível, promoverá o
arquivamento dos autos do inquérito civil ou das peças informativas, fazendo-o
fundamentadamente.

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§ 2º Os autos do inquérito civil ou as peças de informação arquivados serão
remetidos, sob pena de se incorrer em falta grave, no prazo de três dias, ao Conselho
Superior do Ministério Público.
§ 3º Até que seja homologada ou rejeitada a promoção de arquivamento, em sessão
do Conselho Superior do Ministério público, poderão as associações legitimadas
apresentar razões escritas ou documentos, que serão juntados aos autos do inquérito ou
anexados às peças de informação.
§ 4º A promoção de arquivamento será submetida a exame e deliberação do
Conselho Superior do Ministério Público, conforme dispuser o seu regimento.
§ 5º Deixando o Conselho Superior de homologar a promoção de arquivamento,
designará, desde logo, outro órgão do Ministério Público para o ajuizamento da ação.
Art. 224. Aplicam-se subsidiariamente, no que couber, as disposições da Lei n.º
7.347, de 24 de julho de 1985.
Título VII
Dos Crimes e Das Infrações Administrativas
Capítulo I
Dos Crimes
Seção I
Disposições Gerais
Art. 225. Este Capítulo dispõe sobre crimes praticados contra a criança e o
adolescente, por ação ou omissão, sem prejuízo do disposto na legislação penal.
Art. 226. Aplicam-se aos crimes definidos nesta Lei as normas da Parte Geral do
Código Penal e, quanto ao processo, as pertinentes ao Código de Processo Penal.
Art. 227. Os crimes definidos nesta Lei são de ação pública incondicionada
Seção II
Dos Crimes em Espécie
Art. 228. Deixar o encarregado de serviço ou o dirigente de estabelecimento de
atenção à saúde de gestante de manter registro das atividades desenvolvidas, na forma e
prazo referidos no art. 10 desta Lei, bem como de fornecer à parturiente ou a seu

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responsável, por ocasião da alta médica, declaração de nascimento, onde constem as
intercorrências do parto e do desenvolvimento do neonato:
Pena - detenção de seis meses a dois anos.
Parágrafo único. Se o crime é culposo:
Pena - detenção de dois a seis meses, ou multa.
Art. 229. Deixar o médico, enfermeiro ou dirigente de estabelecimento de atenção à
saúde de gestante de identificar corretamente o neonato e a parturiente, por ocasião do
parto, bem como deixar de proceder aos exames referidos no art. 10 desta Lei:
Pena - detenção de seis meses a dois anos.
Parágrafo único. Se o crime é culposo:
Pena - detenção de dois a seis meses, ou multa.
Art. 230. Privar a criança ou o adolescente de sua liberdade, procedendo à sua
apreensão sem estar em flagrante de ato infracional ou inexistindo ordem escrita da
autoridade judiciária competente:
Pena - detenção de seis meses a dois anos.
Parágrafo único. Incide na mesma pena aquele que procede à apreensão sem
observância das formalidades legais.
Art. 231. Deixar a autoridade policial responsável pela apreensão de criança ou
adolescente de fazer imediata comunicação à autoridade judiciária competente e à família
do apreendido ou à pessoa por ele indicada:
Pena - detenção de seis meses a dois anos.
Art. 232. Submeter criança ou adolescente sob sua autoridade, guarda ou vigilância
a vexame ou a constrangimento:
Pena - detenção de seis meses a dois anos.
Art. 233. (Revogado pela Lei nº 9.455, de 7.4.1997:
Art. 234. Deixar a autoridade competente, sem justa causa, de ordenar a imediata
liberação de criança ou adolescente, tão logo tenha conhecimento da ilegalidade da
apreensão:
Pena - detenção de seis meses a dois anos.

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Art. 235. Descumprir, injustificadamente, prazo fixado nesta Lei em benefício de
adolescente privado de liberdade:
Pena - detenção de seis meses a dois anos.
Art. 236. Impedir ou embaraçar a ação de autoridade judiciária, membro do Conselho
Tutelar ou representante do Ministério Público no exercício de função prevista nesta Lei:
Pena - detenção de seis meses a dois anos.
Art. 237. Subtrair criança ou adolescente ao poder de quem o tem sob sua guarda
em virtude de lei ou ordem judicial, com o fim de colocação em lar substituto:
Pena - reclusão de dois a seis anos, e multa.
Art. 238. Prometer ou efetivar a entrega de filho ou pupilo a terceiro, mediante paga
ou recompensa:
Pena - reclusão de um a quatro anos, e multa.
Parágrafo único. Incide nas mesmas penas quem oferece ou efetiva a paga ou
recompensa.
Art. 239. Promover ou auxiliar a efetivação de ato destinado ao envio de criança ou
adolescente para o exterior com inobservância das formalidades legais ou com o fito de
obter lucro:
Pena - reclusão de quatro a seis anos, e multa.
Parágrafo único. Se há emprego de violência, grave ameaça ou fraude: (Incluído
pela Lei nº 10.764, de 12.11.2003)
Pena - reclusão, de 6 (seis) a 8 (oito) anos, além da pena correspondente à
violência.

Art. 240. Produzir, reproduzir, dirigir, fotografar, filmar ou registrar, por qualquer meio,
cena de sexo explícito ou pornográfica, envolvendo criança ou adolescente: (Redação
dada pela Lei nº 11.829, de 2008)
Pena – reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa. (Redação dada pela Lei nº
11.829, de 2008)
§ 1o Incorre nas mesmas penas quem agencia, facilita, recruta, coage, ou de qualquer
modo intermedeia a participação de criança ou adolescente nas cenas referidas no caput

Karina de O. Lima
Psicóloga CRP: 84326/06 325
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deste artigo, ou ainda quem com esses contracena. (Redação dada pela Lei nº 11.829,
de 2008)
§ 2o Aumenta-se a pena de 1/3 (um terço) se o agente comete o crime: (Redação
dada pela Lei nº 11.829, de 2008)
I – no exercício de cargo ou função pública ou a pretexto de exercê-la; (Redação dada
pela Lei nº 11.829, de 2008)
II – prevalecendo-se de relações domésticas, de coabitação ou de hospitalidade; ou
(Redação dada pela Lei nº 11.829, de 2008)
III – prevalecendo-se de relações de parentesco consangüíneo ou afim até o terceiro
grau, ou por adoção, de tutor, curador, preceptor, empregador da vítima ou de quem, a
qualquer outro título, tenha autoridade sobre ela, ou com seu consentimento. (Incluído
pela Lei nº 11.829, de 2008)
Art. 241. Vender ou expor à venda fotografia, vídeo ou outro registro que contenha
cena de sexo explícito ou pornográfica envolvendo criança ou adolescente: (Redação
dada pela Lei nº 11.829, de 2008)
Pena – reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa. (Redação dada pela Lei nº
11.829, de 2008)
§ 1o Incorre na mesma pena quem: (Incluído pela Lei nº 10.764, de 12.11.2003)
I - agencia, autoriza, facilita ou, de qualquer modo, intermedeia a participação de
criança ou adolescente em produção referida neste artigo;
II - assegura os meios ou serviços para o armazenamento das fotografias, cenas ou
imagens produzidas na forma do caput deste artigo;
III - assegura, por qualquer meio, o acesso, na rede mundial de computadores ou
internet, das fotografias, cenas ou imagens produzidas na forma do caput deste artigo.
§ 2o A pena é de reclusão de 3 (três) a 8 (oito) anos: (Incluído pela Lei nº 10.764, de
12.11.2003)
I - se o agente comete o crime prevalecendo-se do exercício de cargo ou função;
II - se o agente comete o crime com o fim de obter para si ou para outrem vantagem
patrimonial.

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Art. 241-A. Oferecer, trocar, disponibilizar, transmitir, distribuir, publicar ou divulgar
por qualquer meio, inclusive por meio de sistema de informática ou telemático, fotografia,
vídeo ou outro registro que contenha cena de sexo explícito ou pornográfica envolvendo
criança ou adolescente: (Incluído pela Lei nº 11.829, de 2008)
Pena – reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos, e multa. (Incluído pela Lei nº 11.829, de
2008)
§ 1o Nas mesmas penas incorre quem: (Incluído pela Lei nº 11.829, de 2008)
I – assegura os meios ou serviços para o armazenamento das fotografias, cenas ou
imagens de que trata o caput deste artigo; (Incluído pela Lei nº 11.829, de 2008)
II – assegura, por qualquer meio, o acesso por rede de computadores às fotografias,
cenas ou imagens de que trata o caput deste artigo.(Incluído pela Lei nº 11.829, de 2008)
§ 2o As condutas tipificadas nos incisos I e II do § 1o deste artigo são puníveis
quando o responsável legal pela prestação do serviço, oficialmente notificado, deixa de
desabilitar o acesso ao conteúdo ilícito de que trata o caput deste artigo. (Incluído pela Lei
nº 11.829, de 2008)
Art. 241-B. Adquirir, possuir ou armazenar, por qualquer meio, fotografia, vídeo ou
outra forma de registro que contenha cena de sexo explícito ou pornográfica envolvendo
criança ou adolescente: (Incluído pela Lei nº 11.829, de 2008)
Pena – reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa. (Incluído pela Lei nº 11.829,
de 2008)
§ 1o A pena é diminuída de 1 (um) a 2/3 (dois terços) se de pequena quantidade o
material a que se refere o caput deste artigo. (Incluído pela Lei nº 11.829, de 2008)
§ 2o Não há crime se a posse ou o armazenamento tem a finalidade de comunicar
às autoridades competentes a ocorrência das condutas descritas nos arts. 240, 241, 241-
A e 241-C desta Lei, quando a comunicação for feita por: (Incluído pela Lei nº 11.829, de
2008)
I – agente público no exercício de suas funções; (Incluído pela Lei nº 11.829, de
2008)

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II – membro de entidade, legalmente constituída, que inclua, entre suas finalidades
institucionais, o recebimento, o processamento e o encaminhamento de notícia dos
crimes referidos neste parágrafo; (Incluído pela Lei nº 11.829, de 2008)
III – representante legal e funcionários responsáveis de provedor de acesso ou
serviço prestado por meio de rede de computadores, até o recebimento do material
relativo à notícia feita à autoridade policial, ao Ministério Público ou ao Poder Judiciário.
(Incluído pela Lei nº 11.829, de 2008)
§ 3o As pessoas referidas no § 2o deste artigo deverão manter sob sigilo o material
ilícito referido. (Incluído pela Lei nº 11.829, de 2008)
Art. 241-C. Simular a participação de criança ou adolescente em cena de sexo
explícito ou pornográfica por meio de adulteração, montagem ou modificação de
fotografia, vídeo ou qualquer outra forma de representação visual: (Incluído pela Lei nº
11.829, de 2008)
Pena – reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa. (Incluído pela Lei nº 11.829, de
2008)
Parágrafo único. Incorre nas mesmas penas quem vende, expõe à venda,
disponibiliza, distribui, publica ou divulga por qualquer meio, adquire, possui ou armazena
o material produzido na forma do caput deste artigo. (Incluído pela Lei nº 11.829, de 2008)
Art. 241-D. Aliciar, assediar, instigar ou constranger, por qualquer meio de
comunicação, criança, com o fim de com ela praticar ato libidinoso: (Incluído pela Lei nº
11.829, de 2008)
Pena – reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa. (Incluído pela Lei nº 11.829, de
2008)
Parágrafo único. Nas mesmas penas incorre quem: (Incluído pela Lei nº 11.829, de
2008)
I – facilita ou induz o acesso à criança de material contendo cena de sexo explícito
ou pornográfica com o fim de com ela praticar ato libidinoso; (Incluído pela Lei nº 11.829,
de 2008)

Karina de O. Lima
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II – pratica as condutas descritas no caput deste artigo com o fim de induzir criança
a se exibir de forma pornográfica ou sexualmente explícita. (Incluído pela Lei nº 11.829,
de 2008)
Art. 241-E. Para efeito dos crimes previstos nesta Lei, a expressão “cena de sexo
explícito ou pornográfica” compreende qualquer situação que envolva criança ou
adolescente em atividades sexuais explícitas, reais ou simuladas, ou exibição dos órgãos
genitais de uma criança ou adolescente para fins primordialmente sexuais. (Incluído pela
Lei nº 11.829, de 2008)
Art. 242. Vender, fornecer ainda que gratuitamente ou entregar, de qualquer forma, a
criança ou adolescente arma, munição ou explosivo:
Pena - reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos. (Redação dada pela Lei nº 10.764, de
12.11.2003)
Art. 243. Vender, fornecer ainda que gratuitamente, ministrar ou entregar, de
qualquer forma, a criança ou adolescente, sem justa causa, produtos cujos componentes
possam causar dependência física ou psíquica, ainda que por utilização indevida:
Pena - detenção de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa, se o fato não constitui crime
mais grave. (Redação dada pela Lei nº 10.764, de 12.11.2003)
Art. 244. Vender, fornecer ainda que gratuitamente ou entregar, de qualquer forma, a
criança ou adolescente fogos de estampido ou de artifício, exceto aqueles que, pelo seu
reduzido potencial, sejam incapazes de provocar qualquer dano físico em caso de
utilização indevida:
Pena - detenção de seis meses a dois anos, e multa.
Art. 244-A. Submeter criança ou adolescente, como tais definidos no caput do art. 2o
desta Lei, à prostituição ou à exploração sexual: (Incluído pela Lei nº 9.975, de 23.6.2000)
Pena – reclusão de quatro a dez anos, e multa.
§ 1o Incorrem nas mesmas penas o proprietário, o gerente ou o responsável pelo
local em que se verifique a submissão de criança ou adolescente às práticas referidas no
caput deste artigo. (Incluído pela Lei nº 9.975, de 23.6.2000)
§ 2o Constitui efeito obrigatório da condenação a cassação da licença de localização
e de funcionamento do estabelecimento. (Incluído pela Lei nº 9.975, de 23.6.2000)

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Capítulo II
Das Infrações Administrativas
Art. 245. Deixar o médico, professor ou responsável por estabelecimento de atenção
à saúde e de ensino fundamental, pré-escola ou creche, de comunicar à autoridade
competente os casos de que tenha conhecimento, envolvendo suspeita ou confirmação
de maus-tratos contra criança ou adolescente:
Pena - multa de três a vinte salários de referência, aplicando-se o dobro em caso de
reincidência.
Art. 246. Impedir o responsável ou funcionário de entidade de atendimento o
exercício dos direitos constantes nos incisos II, III, VII, VIII e XI do art. 124 desta Lei:
Pena - multa de três a vinte salários de referência, aplicando-se o dobro em caso de
reincidência.
Art. 247. Divulgar, total ou parcialmente, sem autorização devida, por qualquer meio
de comunicação, nome, ato ou documento de procedimento policial, administrativo ou
judicial relativo a criança ou adolescente a que se atribua ato infracional:
Pena - multa de três a vinte salários de referência, aplicando-se o dobro em caso de
reincidência.
§ 1º Incorre na mesma pena quem exibe, total ou parcialmente, fotografia de criança
ou adolescente envolvido em ato infracional, ou qualquer ilustração que lhe diga respeito
ou se refira a atos que lhe sejam atribuídos, de forma a permitir sua identificação, direta
ou indiretamente.
§ 2º Se o fato for praticado por órgão de imprensa ou emissora de rádio ou televisão,
além da pena prevista neste artigo, a autoridade judiciária poderá determinar a apreensão
da publicação ou a suspensão da programação da emissora até por dois dias, bem como
da publicação do periódico até por dois números. (Expressão declara inconstitucional pela
ADIN 869-2).
Art. 248. Deixar de apresentar à autoridade judiciária de seu domicílio, no prazo de
cinco dias, com o fim de regularizar a guarda, adolescente trazido de outra comarca para
a prestação de serviço doméstico, mesmo que autorizado pelos pais ou responsável:

Karina de O. Lima
Psicóloga CRP: 84326/06 330
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Pena - multa de três a vinte salários de referência, aplicando-se o dobro em caso de
reincidência, independentemente das despesas de retorno do adolescente, se for o caso.
Art. 249. Descumprir, dolosa ou culposamente, os deveres inerentes ao pátrio poder
ou decorrente de tutela ou guarda, bem assim determinação da autoridade judiciária ou
Conselho Tutelar:
Pena - multa de três a vinte salários de referência, aplicando-se o dobro em caso de
reincidência.
Art. 250. Hospedar criança ou adolescente, desacompanhado dos pais ou
responsável ou sem autorização escrita destes, ou da autoridade judiciária, em hotel,
pensão, motel ou congênere:
Pena - multa de dez a cinqüenta salários de referência; em caso de reincidência, a
autoridade judiciária poderá determinar o fechamento do estabelecimento por até quinze
dias.
Art. 251. Transportar criança ou adolescente, por qualquer meio, com inobservância
do disposto nos arts. 83, 84 e 85 desta Lei:
Pena - multa de três a vinte salários de referência, aplicando-se o dobro em caso de
reincidência.
Art. 252. Deixar o responsável por diversão ou espetáculo público de afixar, em lugar
visível e de fácil acesso, à entrada do local de exibição, informação destacada sobre a
natureza da diversão ou espetáculo e a faixa etária especificada no certificado de
classificação:
Pena - multa de três a vinte salários de referência, aplicando-se o dobro em caso de
reincidência.
Art. 253. Anunciar peças teatrais, filmes ou quaisquer representações ou
espetáculos, sem indicar os limites de idade a que não se recomendem:
Pena - multa de três a vinte salários de referência, duplicada em caso de
reincidência, aplicável, separadamente, à casa de espetáculo e aos órgãos de divulgação
ou publicidade.
Art. 254. Transmitir, através de rádio ou televisão, espetáculo em horário diverso do
autorizado ou sem aviso de sua classificação:

Karina de O. Lima
Psicóloga CRP: 84326/06 331
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Pena - multa de vinte a cem salários de referência; duplicada em caso de
reincidência a autoridade judiciária poderá determinar a suspensão da programação da
emissora por até dois dias.
Art. 255. Exibir filme, trailer, peça, amostra ou congênere classificado pelo órgão
competente como inadequado às crianças ou adolescentes admitidos ao espetáculo:
Pena - multa de vinte a cem salários de referência; na reincidência, a autoridade
poderá determinar a suspensão do espetáculo ou o fechamento do estabelecimento por
até quinze dias.
Art. 256. Vender ou locar a criança ou adolescente fita de programação em vídeo,
em desacordo com a classificação atribuída pelo órgão competente:
Pena - multa de três a vinte salários de referência; em caso de reincidência, a
autoridade judiciária poderá determinar o fechamento do estabelecimento por até quinze
dias.
Art. 257. Descumprir obrigação constante dos arts. 78 e 79 desta Lei:
Pena - multa de três a vinte salários de referência, duplicando-se a pena em caso de
reincidência, sem prejuízo de apreensão da revista ou publicação.
Art. 258. Deixar o responsável pelo estabelecimento ou o empresário de observar o
que dispõe esta Lei sobre o acesso de criança ou adolescente aos locais de diversão, ou
sobre sua participação no espetáculo:
Pena - multa de três a vinte salários de referência; em caso de reincidência, a
autoridade judiciária poderá determinar o fechamento do estabelecimento por até quinze
dias.
Disposições Finais e Transitórias
Art. 259. A União, no prazo de noventa dias contados da publicação deste Estatuto,
elaborará projeto de lei dispondo sobre a criação ou adaptação de seus órgãos às
diretrizes da política de atendimento fixadas no art. 88 e ao que estabelece o Título V do
Livro II.
Parágrafo único. Compete aos estados e municípios promoverem a adaptação de
seus órgãos e programas às diretrizes e princípios estabelecidos nesta Lei.

Karina de O. Lima
Psicóloga CRP: 84326/06 332
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Art. 260. Os contribuintes poderão deduzir do imposto devido, na declaração do
Imposto sobre a Renda, o total das doações feitas aos Fundos dos Direitos da Criança e
do Adolescente - nacional, estaduais ou municipais - devidamente comprovadas,
obedecidos os limites estabelecidos em Decreto do Presidente da República. (Redação
dada pela Lei nº 8.242, de 12.10.1991)
I - limite de 10% (dez por cento) da renda bruta para pessoa física;
II - limite de 5% (cinco por cento) da renda bruta para pessoa jurídica.
§ 1º - (Revogado pela Lei nº 9.532, de 10.12.1997)
§ 2º Os Conselhos Municipais, Estaduais e Nacional dos Direitos da Criança e do
Adolescente fixarão critérios de utilização, através de planos de aplicação das doações
subsidiadas e demais receitas, aplicando necessariamente percentual para incentivo ao
acolhimento, sob a forma de guarda, de criança ou adolescente, órfãos ou abandonado,
na forma do disposto no art. 227, § 3º, VI, da Constituição Federal.
§ 3º O Departamento da Receita Federal, do Ministério da Economia, Fazenda e
Planejamento, regulamentará a comprovação das doações feitas aos fundos, nos termos
deste artigo. (Incluído pela Lei nº 8.242, de 12.10.1991)
§ 4º O Ministério Público determinará em cada comarca a forma de fiscalização da
aplicação, pelo Fundo Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente, dos incentivos
fiscais referidos neste artigo. (Incluído pela Lei nº 8.242, de 12.10.1991)
Art. 261. A falta dos conselhos municipais dos direitos da criança e do adolescente,
os registros, inscrições e alterações a que se referem os arts. 90, parágrafo único, e 91
desta Lei serão efetuados perante a autoridade judiciária da comarca a que pertencer a
entidade.
Parágrafo único. A União fica autorizada a repassar aos estados e municípios, e os
estados aos municípios, os recursos referentes aos programas e atividades previstos
nesta Lei, tão logo estejam criados os conselhos dos direitos da criança e do adolescente
nos seus respectivos níveis.
Art. 262. Enquanto não instalados os Conselhos Tutelares, as atribuições a eles
conferidas serão exercidas pela autoridade judiciária.

Karina de O. Lima
Psicóloga CRP: 84326/06 333
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Art. 263. O Decreto-Lei n.º 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal), passa
a vigorar com as seguintes alterações:
1) Art. 121 ............................................................
§ 4º No homicídio culposo, a pena é aumentada de um terço, se o crime resulta de
inobservância de regra técnica de profissão, arte ou ofício, ou se o agente deixa de
prestar imediato socorro à vítima, não procura diminuir as conseqüências do seu ato, ou
foge para evitar prisão em flagrante. Sendo doloso o homicídio, a pena é aumentada de
um terço, se o crime é praticado contra pessoa menor de catorze anos.
2) Art. 129 ...............................................................
§ 7º Aumenta-se a pena de um terço, se ocorrer qualquer das hipóteses do art. 121, § 4º.
§ 8º Aplica-se à lesão culposa o disposto no § 5º do art. 121.
3) Art. 136.................................................................
§ 3º Aumenta-se a pena de um terço, se o crime é praticado contra pessoa menor de
catorze anos.
4) Art. 213 ..................................................................
Parágrafo único. Se a ofendida é menor de catorze anos:
Pena - reclusão de quatro a dez anos.
5) Art. 214...................................................................
Parágrafo único. Se o ofendido é menor de catorze anos:
Pena - reclusão de três a nove anos.»
Art. 264. O art. 102 da Lei n.º 6.015, de 31 de dezembro de 1973, fica acrescido do
seguinte item:
"Art. 102 ....................................................................
6º) a perda e a suspensão do pátrio poder. "
Art. 265. A Imprensa Nacional e demais gráficas da União, da administração direta
ou indireta, inclusive fundações instituídas e mantidas pelo poder público federal
promoverão edição popular do texto integral deste Estatuto, que será posto à disposição
das escolas e das entidades de atendimento e de defesa dos direitos da criança e do
adolescente.
Art. 266. Esta Lei entra em vigor noventa dias após sua publicação.

Karina de O. Lima
Psicóloga CRP: 84326/06 334
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Parágrafo único. Durante o período de vacância deverão ser promovidas atividades e
campanhas de divulgação e esclarecimentos acerca do disposto nesta Lei.
Art. 267. Revogam-se as Leis n.º 4.513, de 1964, e 6.697, de 10 de outubro de 1979
(Código de Menores), e as demais disposições em contrário.
Brasília, 13 de julho de 1990; 169º da Independência e 102º da República.

5. Lei Federal nº 9.099 de 26 de setembro de 1995 (Juizados Especiais)


especialmente o Capítulo III.

Capítulo III

Dos Juizados Especiais Criminais

Disposições Gerais

Art. 60. O Juizado Especial Criminal, provido por Juízes togados ou togados e leigos,
tem competência para a conciliação, o julgamento e a execução das infrações penais de
menor potencial ofensivo. (Vide Lei nº 10.259, de 2001)

Art. 60. O Juizado Especial Criminal, provido por juízes togados ou togados e leigos,
tem competência para a conciliação, o julgamento e a execução das infrações penais de
menor potencial ofensivo, respeitadas as regras de conexão e continência. (Redação
dada pela Lei nº 11.313, de 2006)

Parágrafo único. Na reunião de processos, perante o juízo comum ou o tribunal do


júri, decorrentes da aplicação das regras de conexão e continência, observar-se-ão os
institutos da transação penal e da composição dos danos civis. (Incluído pela Lei nº
11.313, de 2006)

Art. 61. Consideram-se infrações penais de menor potencial ofensivo, para os efeitos
desta Lei, as contravenções penais e os crimes a que a lei comine pena máxima não
superior a um ano, excetuados os casos em que a lei preveja procedimento especial.
(Vide Lei nº 10.259, de 2001)

Art. 61. Consideram-se infrações penais de menor potencial ofensivo, para os


efeitos desta Lei, as contravenções penais e os crimes a que a lei comine pena máxima
não superior a 2 (dois) anos, cumulada ou não com multa. (Redação dada pela Lei nº
11.313, de 2006)

Karina de O. Lima
Psicóloga CRP: 84326/06 335
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Art. 62. O processo perante o Juizado Especial orientar-se-á pelos critérios da
oralidade, informalidade, economia processual e celeridade, objetivando, sempre que
possível, a reparação dos danos sofridos pela vítima e a aplicação de pena não privativa
de liberdade.

Seção I

Da Competência e dos Atos Processuais

Art. 63. A competência do Juizado será determinada pelo lugar em que foi praticada
a infração penal.

Art. 64. Os atos processuais serão públicos e poderão realizar-se em horário noturno
e em qualquer dia da semana, conforme dispuserem as normas de organização judiciária.

Art. 65. Os atos processuais serão válidos sempre que preencherem as finalidades
para as quais foram realizados, atendidos os critérios indicados no art. 62 desta Lei.

§ 1º Não se pronunciará qualquer nulidade sem que tenha havido prejuízo.

§ 2º A prática de atos processuais em outras comarcas poderá ser solicitada por


qualquer meio hábil de comunicação.

§ 3º Serão objeto de registro escrito exclusivamente os atos havidos por essenciais.


Os atos realizados em audiência de instrução e julgamento poderão ser gravados em fita
magnética ou equivalente.

Art. 66. A citação será pessoal e far-se-á no próprio Juizado, sempre que possível,
ou por mandado.

Parágrafo único. Não encontrado o acusado para ser citado, o Juiz encaminhará as
peças existentes ao Juízo comum para adoção do procedimento previsto em lei.

Art. 67. A intimação far-se-á por correspondência, com aviso de recebimento pessoal
ou, tratando-se de pessoa jurídica ou firma individual, mediante entrega ao encarregado
da recepção, que será obrigatoriamente identificado, ou, sendo necessário, por oficial de
justiça, independentemente de mandado ou carta precatória, ou ainda por qualquer meio
idôneo de comunicação.

Parágrafo único. Dos atos praticados em audiência considerar-se-ão desde logo


cientes as partes, os interessados e defensores.

Karina de O. Lima
Psicóloga CRP: 84326/06 336
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Art. 68. Do ato de intimação do autor do fato e do mandado de citação do acusado,
constará a necessidade de seu comparecimento acompanhado de advogado, com a
advertência de que, na sua falta, ser-lhe-á designado defensor público.

Seção II

Da Fase Preliminar

Art. 69. A autoridade policial que tomar conhecimento da ocorrência lavrará termo
circunstanciado e o encaminhará imediatamente ao Juizado, com o autor do fato e a
vítima, providenciando-se as requisições dos exames periciais necessários.

Parágrafo único. Ao autor do fato que, após a lavratura do termo, for imediatamente
encaminhado ao Juizado ou assumir o compromisso de a ele comparecer, não se imporá
prisão em flagrante, nem se exigirá fiança.

Parágrafo único. Ao autor do fato que, após a lavratura do termo, for imediatamente
encaminhado ao juizado ou assumir o compromisso de a ele comparecer, não se imporá
prisão em flagrante, nem se exigirá fiança. Em caso de violência doméstica, o juiz poderá
determinar, como medida de cautela, seu afastamento do lar, domicílio ou local de
convivência com a vítima. (Redação dada pela Lei nº 10.455, de 13.5.2002))

Art. 70. Comparecendo o autor do fato e a vítima, e não sendo possível a realização
imediata da audiência preliminar, será designada data próxima, da qual ambos sairão
cientes.

Art. 71. Na falta do comparecimento de qualquer dos envolvidos, a Secretaria


providenciará sua intimação e, se for o caso, a do responsável civil, na forma dos arts. 67
e 68 desta Lei.

Art. 72. Na audiência preliminar, presente o representante do Ministério Público, o


autor do fato e a vítima e, se possível, o responsável civil, acompanhados por seus
advogados, o Juiz esclarecerá sobre a possibilidade da composição dos danos e da
aceitação da proposta de aplicação imediata de pena não privativa de liberdade.

Art. 73. A conciliação será conduzida pelo Juiz ou por conciliador sob sua orientação.

Parágrafo único. Os conciliadores são auxiliares da Justiça, recrutados, na forma da


lei local, preferentemente entre bacharéis em Direito, excluídos os que exerçam funções
na administração da Justiça Criminal.

Art. 74. A composição dos danos civis será reduzida a escrito e, homologada pelo
Juiz mediante sentença irrecorrível, terá eficácia de título a ser executado no juízo civil
competente.

Karina de O. Lima
Psicóloga CRP: 84326/06 337
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Parágrafo único. Tratando-se de ação penal de iniciativa privada ou de ação penal
pública condicionada à representação, o acordo homologado acarreta a renúncia ao
direito de queixa ou representação.

Art. 75. Não obtida a composição dos danos civis, será dada imediatamente ao
ofendido a oportunidade de exercer o direito de representação verbal, que será reduzida a
termo.

Parágrafo único. O não oferecimento da representação na audiência preliminar não


implica decadência do direito, que poderá ser exercido no prazo previsto em lei.

Art. 76. Havendo representação ou tratando-se de crime de ação penal pública


incondicionada, não sendo caso de arquivamento, o Ministério Público poderá propor a
aplicação imediata de pena restritiva de direitos ou multas, a ser especificada na
proposta.

§ 1º Nas hipóteses de ser a pena de multa a única aplicável, o Juiz poderá reduzi-la
até a metade.

§ 2º Não se admitirá a proposta se ficar comprovado:

I - ter sido o autor da infração condenado, pela prática de crime, à pena privativa de
liberdade, por sentença definitiva;

II - ter sido o agente beneficiado anteriormente, no prazo de cinco anos, pela


aplicação de pena restritiva ou multa, nos termos deste artigo;

III - não indicarem os antecedentes, a conduta social e a personalidade do agente,


bem como os motivos e as circunstâncias, ser necessária e suficiente a adoção da
medida.

§ 3º Aceita a proposta pelo autor da infração e seu defensor, será submetida à


apreciação do Juiz.

§ 4º Acolhendo a proposta do Ministério Público aceita pelo autor da infração, o Juiz


aplicará a pena restritiva de direitos ou multa, que não importará em reincidência, sendo
registrada apenas para impedir novamente o mesmo benefício no prazo de cinco anos.

§ 5º Da sentença prevista no parágrafo anterior caberá a apelação referida no art. 82


desta Lei.

§ 6º A imposição da sanção de que trata o § 4º deste artigo não constará de certidão


de antecedentes criminais, salvo para os fins previstos no mesmo dispositivo, e não terá
efeitos civis, cabendo aos interessados propor ação cabível no juízo cível.

Karina de O. Lima
Psicóloga CRP: 84326/06 338
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Seção III

Do Procedimento Sumariíssimo

Art. 77. Na ação penal de iniciativa pública, quando não houver aplicação de pena,
pela ausência do autor do fato, ou pela não ocorrência da hipótese prevista no art. 76
desta Lei, o Ministério Público oferecerá ao Juiz, de imediato, denúncia oral, se não
houver necessidade de diligências imprescindíveis.

§ 1º Para o oferecimento da denúncia, que será elaborada com base no termo de


ocorrência referido no art. 69 desta Lei, com dispensa do inquérito policial, prescindir-se-á
do exame do corpo de delito quando a materialidade do crime estiver aferida por boletim
médico ou prova equivalente.

§ 2º Se a complexidade ou circunstâncias do caso não permitirem a formulação da


denúncia, o Ministério Público poderá requerer ao Juiz o encaminhamento das peças
existentes, na forma do parágrafo único do art. 66 desta Lei.

§ 3º Na ação penal de iniciativa do ofendido poderá ser oferecida queixa oral,


cabendo ao Juiz verificar se a complexidade e as circunstâncias do caso determinam a
adoção das providências previstas no parágrafo único do art. 66 desta Lei.

Art. 78. Oferecida a denúncia ou queixa, será reduzida a termo, entregando-se cópia
ao acusado, que com ela ficará citado e imediatamente cientificado da designação de dia
e hora para a audiência de instrução e julgamento, da qual também tomarão ciência o
Ministério Público, o ofendido, o responsável civil e seus advogados.

§ 1º Se o acusado não estiver presente, será citado na forma dos arts. 66 e 68 desta
Lei e cientificado da data da audiência de instrução e julgamento, devendo a ela trazer
suas testemunhas ou apresentar requerimento para intimação, no mínimo cinco dias
antes de sua realização.

§ 2º Não estando presentes o ofendido e o responsável civil, serão intimados nos


termos do art. 67 desta Lei para comparecerem à audiência de instrução e julgamento.

§ 3º As testemunhas arroladas serão intimadas na forma prevista no art. 67 desta


Lei.

Art. 79. No dia e hora designados para a audiência de instrução e julgamento, se na


fase preliminar não tiver havido possibilidade de tentativa de conciliação e de
oferecimento de proposta pelo Ministério Público, proceder-se-á nos termos dos arts. 72,
73, 74 e 75 desta Lei.

Karina de O. Lima
Psicóloga CRP: 84326/06 339
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Art. 80. Nenhum ato será adiado, determinando o Juiz, quando imprescindível, a
condução coercitiva de quem deva comparecer.

Art. 81. Aberta a audiência, será dada a palavra ao defensor para responder à
acusação, após o que o Juiz receberá, ou não, a denúncia ou queixa; havendo
recebimento, serão ouvidas a vítima e as testemunhas de acusação e defesa,
interrogando-se a seguir o acusado, se presente, passando-se imediatamente aos
debates orais e à prolação da sentença.

§ 1º Todas as provas serão produzidas na audiência de instrução e julgamento,


podendo o Juiz limitar ou excluir as que considerar excessivas, impertinentes ou
protelatórias.

§ 2º De todo o ocorrido na audiência será lavrado termo, assinado pelo Juiz e pelas
partes, contendo breve resumo dos fatos relevantes ocorridos em audiência e a sentença.

§ 3º A sentença, dispensado o relatório, mencionará os elementos de convicção do


Juiz.

Art. 82. Da decisão de rejeição da denúncia ou queixa e da sentença caberá


apelação, que poderá ser julgada por turma composta de três Juízes em exercício no
primeiro grau de jurisdição, reunidos na sede do Juizado.

§ 1º A apelação será interposta no prazo de dez dias, contados da ciência da


sentença pelo Ministério Público, pelo réu e seu defensor, por petição escrita, da qual
constarão as razões e o pedido do recorrente.

§ 2º O recorrido será intimado para oferecer resposta escrita no prazo de dez dias.

§ 3º As partes poderão requerer a transcrição da gravação da fita magnética a que


alude o § 3º do art. 65 desta Lei.

§ 4º As partes serão intimadas da data da sessão de julgamento pela imprensa.

§ 5º Se a sentença for confirmada pelos próprios fundamentos, a súmula do


julgamento servirá de acórdão.

Art. 83. Caberão embargos de declaração quando, em sentença ou acórdão, houver


obscuridade, contradição, omissão ou dúvida.

§ 1º Os embargos de declaração serão opostos por escrito ou oralmente, no prazo


de cinco dias, contados da ciência da decisão.

Karina de O. Lima
Psicóloga CRP: 84326/06 340
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§ 2º Quando opostos contra sentença, os embargos de declaração suspenderão o
prazo para o recurso.

§ 3º Os erros materiais podem ser corrigidos de ofício.

Seção IV

Da Execução

Art. 84. Aplicada exclusivamente pena de multa, seu cumprimento far-se-á mediante
pagamento na Secretaria do Juizado.

Parágrafo único. Efetuado o pagamento, o Juiz declarará extinta a punibilidade,


determinando que a condenação não fique constando dos registros criminais, exceto para
fins de requisição judicial.

Art. 85. Não efetuado o pagamento de multa, será feita a conversão em pena
privativa da liberdade, ou restritiva de direitos, nos termos previstos em lei.

Art. 86. A execução das penas privativas de liberdade e restritivas de direitos, ou de


multa cumulada com estas, será processada perante o órgão competente, nos termos da
lei.

Seção V

Das Despesas Processuais

Art. 87. Nos casos de homologação do acordo civil e aplicação de pena restritiva de
direitos ou multa (arts. 74 e 76, § 4º), as despesas processuais serão reduzidas, conforme
dispuser lei estadual.

Seção VI

Disposições Finais

Art. 88. Além das hipóteses do Código Penal e da legislação especial, dependerá de
representação a ação penal relativa aos crimes de lesões corporais leves e lesões
culposas.

Art. 89. Nos crimes em que a pena mínima cominada for igual ou inferior a um ano,
abrangidas ou não por esta Lei, o Ministério Público, ao oferecer a denúncia, poderá
propor a suspensão do processo, por dois a quatro anos, desde que o acusado não esteja
sendo processado ou não tenha sido condenado por outro crime, presentes os demais
requisitos que autorizariam a suspensão condicional da pena (art. 77 do Código Penal).
Karina de O. Lima
Psicóloga CRP: 84326/06 341
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§ 1º Aceita a proposta pelo acusado e seu defensor, na presença do Juiz, este,
recebendo a denúncia, poderá suspender o processo, submetendo o acusado a período
de prova, sob as seguintes condições:

I - reparação do dano, salvo impossibilidade de fazê-lo;

II - proibição de freqüentar determinados lugares;

III - proibição de ausentar-se da comarca onde reside, sem autorização do Juiz;

IV - comparecimento pessoal e obrigatório a juízo, mensalmente, para informar e


justificar suas atividades.

§ 2º O Juiz poderá especificar outras condições a que fica subordinada a suspensão,


desde que adequadas ao fato e à situação pessoal do acusado.

§ 3º A suspensão será revogada se, no curso do prazo, o beneficiário vier a ser


processado por outro crime ou não efetuar, sem motivo justificado, a reparação do dano.

§ 4º A suspensão poderá ser revogada se o acusado vier a ser processado, no curso


do prazo, por contravenção, ou descumprir qualquer outra condição imposta.

§ 5º Expirado o prazo sem revogação, o Juiz declarará extinta a punibilidade.

§ 6º Não correrá a prescrição durante o prazo de suspensão do processo.

§ 7º Se o acusado não aceitar a proposta prevista neste artigo, o processo


prosseguirá em seus ulteriores termos.

Art. 90. As disposições desta Lei não se aplicam aos processos penais cuja instrução
já estiver iniciada. (Vide ADIN nº 1.719-9)

Art. 90-A. As disposições desta Lei não se aplicam no âmbito da Justiça Militar.
(Artigo incluído pela Lei nº 9.839, de 27.9.1999)

Art. 91. Nos casos em que esta Lei passa a exigir representação para a propositura
da ação penal pública, o ofendido ou seu representante legal será intimado para oferecê-
la no prazo de trinta dias, sob pena de decadência.

Art. 92. Aplicam-se subsidiariamente as disposições dos Códigos Penal e de


Processo Penal, no que não forem incompatíveis com esta Lei.

Karina de O. Lima
Psicóloga CRP: 84326/06 342
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6. Lei Federal nº 10.406 de 10 de janeiro de 2002 (Código Civil) Livro IV, Título I,
Título III e Título IV.

TÍTULO I
Disposições Preliminares

Art. 1o É instituído o Estatuto do Idoso, destinado a regular os direitos assegurados


às pessoas com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos.

Art. 2o O idoso goza de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana,


sem prejuízo da proteção integral de que trata esta Lei, assegurando-se-lhe, por lei ou por
outros meios, todas as oportunidades e facilidades, para preservação de sua saúde física
e mental e seu aperfeiçoamento moral, intelectual, espiritual e social, em condições de
liberdade e dignidade.

Art. 3o É obrigação da família, da comunidade, da sociedade e do Poder Público


assegurar ao idoso, com absoluta prioridade, a efetivação do direito à vida, à saúde, à
alimentação, à educação, à cultura, ao esporte, ao lazer, ao trabalho, à cidadania, à
liberdade, à dignidade, ao respeito e à convivência familiar e comunitária.

Parágrafo único. A garantia de prioridade compreende:

I – atendimento preferencial imediato e individualizado junto aos órgãos públicos e


privados prestadores de serviços à população;

II – preferência na formulação e na execução de políticas sociais públicas


específicas;

III – destinação privilegiada de recursos públicos nas áreas relacionadas com a


proteção ao idoso;

IV – viabilização de formas alternativas de participação, ocupação e convívio do


idoso com as demais gerações;

V – priorização do atendimento do idoso por sua própria família, em detrimento do


atendimento asilar, exceto dos que não a possuam ou careçam de condições de
manutenção da própria sobrevivência;

VI – capacitação e reciclagem dos recursos humanos nas áreas de geriatria e


gerontologia e na prestação de serviços aos idosos;

VII – estabelecimento de mecanismos que favoreçam a divulgação de informações


de caráter educativo sobre os aspectos biopsicossociais de envelhecimento;

Karina de O. Lima
Psicóloga CRP: 84326/06 343
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VIII – garantia de acesso à rede de serviços de saúde e de assistência social locais.

IX – prioridade no recebimento da restituição do Imposto de Renda. (Incluído pela Lei


nº 11.765, de 2008).

Art. 4o Nenhum idoso será objeto de qualquer tipo de negligência, discriminação,


violência, crueldade ou opressão, e todo atentado aos seus direitos, por ação ou omissão,
será punido na forma da lei.

§ 1o É dever de todos prevenir a ameaça ou violação aos direitos do idoso.

§ 2o As obrigações previstas nesta Lei não excluem da prevenção outras decorrentes


dos princípios por ela adotados.

Art. 5o A inobservância das normas de prevenção importará em responsabilidade à


pessoa física ou jurídica nos termos da lei.

Art. 6o Todo cidadão tem o dever de comunicar à autoridade competente qualquer


forma de violação a esta Lei que tenha testemunhado ou de que tenha conhecimento.

Art. 7o Os Conselhos Nacional, Estaduais, do Distrito Federal e Municipais do Idoso,


previstos na Lei no 8.842, de 4 de janeiro de 1994, zelarão pelo cumprimento dos direitos
do idoso, definidos nesta Lei.

TÍTULO II
Dos Direitos Fundamentais

CAPÍTULO I
Do Direito à Vida

Art. 8o O envelhecimento é um direito personalíssimo e a sua proteção um direito


social, nos termos desta Lei e da legislação vigente.

Art. 9o É obrigação do Estado, garantir à pessoa idosa a proteção à vida e à saúde,


mediante efetivação de políticas sociais públicas que permitam um envelhecimento
saudável e em condições de dignidade.

CAPÍTULO II

Do Direito à Liberdade, ao Respeito e à Dignidade

Art. 10. É obrigação do Estado e da sociedade, assegurar à pessoa idosa a


liberdade, o respeito e a dignidade, como pessoa humana e sujeito de direitos civis,
políticos, individuais e sociais, garantidos na Constituição e nas leis.
Karina de O. Lima
Psicóloga CRP: 84326/06 344
Organização e Coordenação
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§ 1o O direito à liberdade compreende, entre outros, os seguintes aspectos:

I – faculdade de ir, vir e estar nos logradouros públicos e espaços comunitários,


ressalvadas as restrições legais;

II – opinião e expressão;

III – crença e culto religioso;

IV – prática de esportes e de diversões;

V – participação na vida familiar e comunitária;

VI – participação na vida política, na forma da lei;

VII – faculdade de buscar refúgio, auxílio e orientação.

§ 2o O direito ao respeito consiste na inviolabilidade da integridade física, psíquica e


moral, abrangendo a preservação da imagem, da identidade, da autonomia, de valores,
idéias e crenças, dos espaços e dos objetos pessoais.

§ 3o É dever de todos zelar pela dignidade do idoso, colocando-o a salvo de qualquer


tratamento desumano, violento, aterrorizante, vexatório ou constrangedor.

CAPÍTULO III
Dos Alimentos

Art. 11. Os alimentos serão prestados ao idoso na forma da lei civil.

Art. 12. A obrigação alimentar é solidária, podendo o idoso optar entre os


prestadores.

Art. 13. As transações relativas a alimentos poderão ser celebradas perante o


Promotor de Justiça, que as referendará, e passarão a ter efeito de título executivo
extrajudicial nos termos da lei processual civil.

Art. 13. As transações relativas a alimentos poderão ser celebradas perante o


Promotor de Justiça ou Defensor Público, que as referendará, e passarão a ter efeito de
título executivo extrajudicial nos termos da lei processual civil. (Redação dada pela Lei nº
11.737, de 2008)

Art. 14. Se o idoso ou seus familiares não possuírem condições econômicas de


prover o seu sustento, impõe-se ao Poder Público esse provimento, no âmbito da
assistência social.
Karina de O. Lima
Psicóloga CRP: 84326/06 345
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CAPÍTULO IV
Do Direito à Saúde

Art. 15. É assegurada a atenção integral à saúde do idoso, por intermédio do


Sistema Único de Saúde – SUS, garantindo-lhe o acesso universal e igualitário, em
conjunto articulado e contínuo das ações e serviços, para a prevenção, promoção,
proteção e recuperação da saúde, incluindo a atenção especial às doenças que afetam
preferencialmente os idosos.

§ 1o A prevenção e a manutenção da saúde do idoso serão efetivadas por meio de:

I – cadastramento da população idosa em base territorial;

II – atendimento geriátrico e gerontológico em ambulatórios;

III – unidades geriátricas de referência, com pessoal especializado nas áreas de


geriatria e gerontologia social;

IV – atendimento domiciliar, incluindo a internação, para a população que dele


necessitar e esteja impossibilitada de se locomover, inclusive para idosos abrigados e
acolhidos por instituições públicas, filantrópicas ou sem fins lucrativos e eventualmente
conveniadas com o Poder Público, nos meios urbano e rural;

V – reabilitação orientada pela geriatria e gerontologia, para redução das seqüelas


decorrentes do agravo da saúde.

§ 2o Incumbe ao Poder Público fornecer aos idosos, gratuitamente, medicamentos,


especialmente os de uso continuado, assim como próteses, órteses e outros recursos
relativos ao tratamento, habilitação ou reabilitação.

§ 3o É vedada a discriminação do idoso nos planos de saúde pela cobrança de


valores diferenciados em razão da idade.

§ 4o Os idosos portadores de deficiência ou com limitação incapacitante terão


atendimento especializado, nos termos da lei.

Art. 16. Ao idoso internado ou em observação é assegurado o direito a


acompanhante, devendo o órgão de saúde proporcionar as condições adequadas para a
sua permanência em tempo integral, segundo o critério médico.

Parágrafo único. Caberá ao profissional de saúde responsável pelo tratamento


conceder autorização para o acompanhamento do idoso ou, no caso de impossibilidade,
justificá-la por escrito.

Karina de O. Lima
Psicóloga CRP: 84326/06 346
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Art. 17. Ao idoso que esteja no domínio de suas faculdades mentais é assegurado o
direito de optar pelo tratamento de saúde que lhe for reputado mais favorável.

Parágrafo único. Não estando o idoso em condições de proceder à opção, esta será
feita:

I – pelo curador, quando o idoso for interditado;

II – pelos familiares, quando o idoso não tiver curador ou este não puder ser
contactado em tempo hábil;

III – pelo médico, quando ocorrer iminente risco de vida e não houver tempo hábil
para consulta a curador ou familiar;

IV – pelo próprio médico, quando não houver curador ou familiar conhecido, caso em
que deverá comunicar o fato ao Ministério Público.

Art. 18. As instituições de saúde devem atender aos critérios mínimos para o
atendimento às necessidades do idoso, promovendo o treinamento e a capacitação dos
profissionais, assim como orientação a cuidadores familiares e grupos de auto-ajuda.

Art. 19. Os casos de suspeita ou confirmação de maus-tratos contra idoso serão


obrigatoriamente comunicados pelos profissionais de saúde a quaisquer dos seguintes
órgãos:

I – autoridade policial;

II – Ministério Público;

III – Conselho Municipal do Idoso;

IV – Conselho Estadual do Idoso;

V – Conselho Nacional do Idoso.

CAPÍTULO V
Da Educação, Cultura, Esporte e Lazer

Art. 20. O idoso tem direito a educação, cultura, esporte, lazer, diversões,
espetáculos, produtos e serviços que respeitem sua peculiar condição de idade.

Art. 21. O Poder Público criará oportunidades de acesso do idoso à educação,


adequando currículos, metodologias e material didático aos programas educacionais a ele
destinados.
Karina de O. Lima
Psicóloga CRP: 84326/06 347
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§ 1o Os cursos especiais para idosos incluirão conteúdo relativo às técnicas de
comunicação, computação e demais avanços tecnológicos, para sua integração à vida
moderna.

§ 2o Os idosos participarão das comemorações de caráter cívico ou cultural, para


transmissão de conhecimentos e vivências às demais gerações, no sentido da
preservação da memória e da identidade culturais.

Art. 22. Nos currículos mínimos dos diversos níveis de ensino formal serão inseridos
conteúdos voltados ao processo de envelhecimento, ao respeito e à valorização do idoso,
de forma a eliminar o preconceito e a produzir conhecimentos sobre a matéria.

Art. 23. A participação dos idosos em atividades culturais e de lazer será


proporcionada mediante descontos de pelo menos 50% (cinqüenta por cento) nos
ingressos para eventos artísticos, culturais, esportivos e de lazer, bem como o acesso
preferencial aos respectivos locais.

Art. 24. Os meios de comunicação manterão espaços ou horários especiais voltados


aos idosos, com finalidade informativa, educativa, artística e cultural, e ao público sobre o
processo de envelhecimento.

Art. 25. O Poder Público apoiará a criação de universidade aberta para as pessoas
idosas e incentivará a publicação de livros e periódicos, de conteúdo e padrão editorial
adequados ao idoso, que facilitem a leitura, considerada a natural redução da capacidade
visual.

CAPÍTULO VI
Da Profissionalização e do Trabalho

Art. 26. O idoso tem direito ao exercício de atividade profissional, respeitadas suas
condições físicas, intelectuais e psíquicas.

Art. 27. Na admissão do idoso em qualquer trabalho ou emprego, é vedada a


discriminação e a fixação de limite máximo de idade, inclusive para concursos,
ressalvados os casos em que a natureza do cargo o exigir.

Parágrafo único. O primeiro critério de desempate em concurso público será a idade,


dando-se preferência ao de idade mais elevada.

Art. 28. O Poder Público criará e estimulará programas de:

I – profissionalização especializada para os idosos, aproveitando seus potenciais e


habilidades para atividades regulares e remuneradas;

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Psicóloga CRP: 84326/06 348
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II – preparação dos trabalhadores para a aposentadoria, com antecedência mínima
de 1 (um) ano, por meio de estímulo a novos projetos sociais, conforme seus interesses, e
de esclarecimento sobre os direitos sociais e de cidadania;

III – estímulo às empresas privadas para admissão de idosos ao trabalho.

CAPÍTULO VII
Da Previdência Social

Art. 29. Os benefícios de aposentadoria e pensão do Regime Geral da Previdência


Social observarão, na sua concessão, critérios de cálculo que preservem o valor real dos
salários sobre os quais incidiram contribuição, nos termos da legislação vigente.

Parágrafo único. Os valores dos benefícios em manutenção serão reajustados na


mesma data de reajuste do salário-mínimo, pro rata, de acordo com suas respectivas
datas de início ou do seu último reajustamento, com base em percentual definido em
regulamento, observados os critérios estabelecidos pela Lei no 8.213, de 24 de julho de
1991.

Art. 30. A perda da condição de segurado não será considerada para a concessão
da aposentadoria por idade, desde que a pessoa conte com, no mínimo, o tempo de
contribuição correspondente ao exigido para efeito de carência na data de requerimento
do benefício.

Parágrafo único. O cálculo do valor do benefício previsto no caput observará o


disposto no caput e § 2o do art. 3o da Lei no 9.876, de 26 de novembro de 1999, ou, não
havendo salários-de-contribuição recolhidos a partir da competência de julho de 1994, o
disposto no art. 35 da Lei no 8.213, de 1991.

Art. 31. O pagamento de parcelas relativas a benefícios, efetuado com atraso por
responsabilidade da Previdência Social, será atualizado pelo mesmo índice utilizado para
os reajustamentos dos benefícios do Regime Geral de Previdência Social, verificado no
período compreendido entre o mês que deveria ter sido pago e o mês do efetivo
pagamento.

Art. 32. O Dia Mundial do Trabalho, 1o de Maio, é a data-base dos aposentados e


pensionistas.

CAPÍTULO VIII
Da Assistência Social

Art. 33. A assistência social aos idosos será prestada, de forma articulada, conforme
os princípios e diretrizes previstos na Lei Orgânica da Assistência Social, na Política
Nacional do Idoso, no Sistema Único de Saúde e demais normas pertinentes.

Karina de O. Lima
Psicóloga CRP: 84326/06 349
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Art. 34. Aos idosos, a partir de 65 (sessenta e cinco) anos, que não possuam meios
para prover sua subsistência, nem de tê-la provida por sua família, é assegurado o
benefício mensal de 1 (um) salário-mínimo, nos termos da Lei Orgânica da Assistência
Social – Loas.

Parágrafo único. O benefício já concedido a qualquer membro da família nos termos


do caput não será computado para os fins do cálculo da renda familiar per capita a que
se refere a Loas.

Art. 35. Todas as entidades de longa permanência, ou casa-lar, são obrigadas a


firmar contrato de prestação de serviços com a pessoa idosa abrigada.

§ 1o No caso de entidades filantrópicas, ou casa-lar, é facultada a cobrança de


participação do idoso no custeio da entidade.

§ 2o O Conselho Municipal do Idoso ou o Conselho Municipal da Assistência Social


estabelecerá a forma de participação prevista no § 1o, que não poderá exceder a 70%
(setenta por cento) de qualquer benefício previdenciário ou de assistência social
percebido pelo idoso.

§ 3o Se a pessoa idosa for incapaz, caberá a seu representante legal firmar o


contrato a que se refere o caput deste artigo.

Art. 36. O acolhimento de idosos em situação de risco social, por adulto ou núcleo
familiar, caracteriza a dependência econômica, para os efeitos legais.

CAPÍTULO IX
Da Habitação

Art. 37. O idoso tem direito a moradia digna, no seio da família natural ou substituta,
ou desacompanhado de seus familiares, quando assim o desejar, ou, ainda, em
instituição pública ou privada.

§ 1o A assistência integral na modalidade de entidade de longa permanência será


prestada quando verificada inexistência de grupo familiar, casa-lar, abandono ou carência
de recursos financeiros próprios ou da família.

§ 2o Toda instituição dedicada ao atendimento ao idoso fica obrigada a manter


identificação externa visível, sob pena de interdição, além de atender toda a legislação
pertinente.

§ 3o As instituições que abrigarem idosos são obrigadas a manter padrões de


habitação compatíveis com as necessidades deles, bem como provê-los com alimentação

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Psicóloga CRP: 84326/06 350
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regular e higiene indispensáveis às normas sanitárias e com estas condizentes, sob as
penas da lei.

Art. 38. Nos programas habitacionais, públicos ou subsidiados com recursos


públicos, o idoso goza de prioridade na aquisição de imóvel para moradia própria,
observado o seguinte:

I – reserva de 3% (três por cento) das unidades residenciais para atendimento aos
idosos;

II – implantação de equipamentos urbanos comunitários voltados ao idoso;

III – eliminação de barreiras arquitetônicas e urbanísticas, para garantia de


acessibilidade ao idoso;

IV – critérios de financiamento compatíveis com os rendimentos de aposentadoria e


pensão.

CAPÍTULO X
Do Transporte

Art. 39. Aos maiores de 65 (sessenta e cinco) anos fica assegurada a gratuidade dos
transportes coletivos públicos urbanos e semi-urbanos, exceto nos serviços seletivos e
especiais, quando prestados paralelamente aos serviços regulares.

§ 1o Para ter acesso à gratuidade, basta que o idoso apresente qualquer documento
pessoal que faça prova de sua idade.

§ 2o Nos veículos de transporte coletivo de que trata este artigo, serão reservados
10% (dez por cento) dos assentos para os idosos, devidamente identificados com a placa
de reservado preferencialmente para idosos.

§ 3o No caso das pessoas compreendidas na faixa etária entre 60 (sessenta) e 65


(sessenta e cinco) anos, ficará a critério da legislação local dispor sobre as condições
para exercício da gratuidade nos meios de transporte previstos no caput deste artigo.

Art. 40. No sistema de transporte coletivo interestadual observar-se-á, nos termos da


legislação específica: (Regulamento)

I – a reserva de 2 (duas) vagas gratuitas por veículo para idosos com renda igual ou
inferior a 2 (dois) salários-mínimos;

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Psicóloga CRP: 84326/06 351
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II – desconto de 50% (cinqüenta por cento), no mínimo, no valor das passagens,
para os idosos que excederem as vagas gratuitas, com renda igual ou inferior a 2 (dois)
salários-mínimos.

Parágrafo único. Caberá aos órgãos competentes definir os mecanismos e os


critérios para o exercício dos direitos previstos nos incisos I e II.

Art. 41. É assegurada a reserva, para os idosos, nos termos da lei local, de 5%
(cinco por cento) das vagas nos estacionamentos públicos e privados, as quais deverão
ser posicionadas de forma a garantir a melhor comodidade ao idoso.

Art. 42. É assegurada a prioridade do idoso no embarque no sistema de transporte


coletivo.

TÍTULO III
Das Medidas de Proteção

CAPÍTULO I
Das Disposições Gerais

Art. 43. As medidas de proteção ao idoso são aplicáveis sempre que os direitos
reconhecidos nesta Lei forem ameaçados ou violados:

I – por ação ou omissão da sociedade ou do Estado;

II – por falta, omissão ou abuso da família, curador ou entidade de atendimento;

III – em razão de sua condição pessoal.

CAPÍTULO II
Das Medidas Específicas de Proteção

Art. 44. As medidas de proteção ao idoso previstas nesta Lei poderão ser aplicadas,
isolada ou cumulativamente, e levarão em conta os fins sociais a que se destinam e o
fortalecimento dos vínculos familiares e comunitários.

Art. 45. Verificada qualquer das hipóteses previstas no art. 43, o Ministério Público
ou o Poder Judiciário, a requerimento daquele, poderá determinar, dentre outras, as
seguintes medidas:

I – encaminhamento à família ou curador, mediante termo de responsabilidade;

II – orientação, apoio e acompanhamento temporários;

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Psicóloga CRP: 84326/06 352
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III – requisição para tratamento de sua saúde, em regime ambulatorial, hospitalar ou
domiciliar;

IV – inclusão em programa oficial ou comunitário de auxílio, orientação e tratamento


a usuários dependentes de drogas lícitas ou ilícitas, ao próprio idoso ou à pessoa de sua
convivência que lhe cause perturbação;

V – abrigo em entidade;

VI – abrigo temporário.

TÍTULO IV
Da Política de Atendimento ao Idoso

CAPÍTULO I
Disposições Gerais

Art. 46. A política de atendimento ao idoso far-se-á por meio do conjunto articulado
de ações governamentais e não-governamentais da União, dos Estados, do Distrito
Federal e dos Municípios.

Art. 47. São linhas de ação da política de atendimento:

I – políticas sociais básicas, previstas na Lei no 8.842, de 4 de janeiro de 1994;

II – políticas e programas de assistência social, em caráter supletivo, para aqueles


que necessitarem;

III – serviços especiais de prevenção e atendimento às vítimas de negligência, maus-


tratos, exploração, abuso, crueldade e opressão;

IV – serviço de identificação e localização de parentes ou responsáveis por idosos


abandonados em hospitais e instituições de longa permanência;

V – proteção jurídico-social por entidades de defesa dos direitos dos idosos;

VI – mobilização da opinião pública no sentido da participação dos diversos


segmentos da sociedade no atendimento do idoso.

CAPÍTULO II
Das Entidades de Atendimento ao Idoso

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Art. 48. As entidades de atendimento são responsáveis pela manutenção das
próprias unidades, observadas as normas de planejamento e execução emanadas do
órgão competente da Política Nacional do Idoso, conforme a Lei no 8.842, de 1994.

Parágrafo único. As entidades governamentais e não-governamentais de assistência


ao idoso ficam sujeitas à inscrição de seus programas, junto ao órgão competente da
Vigilância Sanitária e Conselho Municipal da Pessoa Idosa, e em sua falta, junto ao
Conselho Estadual ou Nacional da Pessoa Idosa, especificando os regimes de
atendimento, observados os seguintes requisitos:

I – oferecer instalações físicas em condições adequadas de habitabilidade, higiene,


salubridade e segurança;

II – apresentar objetivos estatutários e plano de trabalho compatíveis com os


princípios desta Lei;

III – estar regularmente constituída;

IV – demonstrar a idoneidade de seus dirigentes.

Art. 49. As entidades que desenvolvam programas de institucionalização de longa


permanência adotarão os seguintes princípios:

I – preservação dos vínculos familiares;

II – atendimento personalizado e em pequenos grupos;

III – manutenção do idoso na mesma instituição, salvo em caso de força maior;

IV – participação do idoso nas atividades comunitárias, de caráter interno e externo;

V – observância dos direitos e garantias dos idosos;

VI – preservação da identidade do idoso e oferecimento de ambiente de respeito e


dignidade.

Parágrafo único. O dirigente de instituição prestadora de atendimento ao idoso


responderá civil e criminalmente pelos atos que praticar em detrimento do idoso, sem
prejuízo das sanções administrativas.

Art. 50. Constituem obrigações das entidades de atendimento:

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I – celebrar contrato escrito de prestação de serviço com o idoso, especificando o
tipo de atendimento, as obrigações da entidade e prestações decorrentes do contrato,
com os respectivos preços, se for o caso;

II – observar os direitos e as garantias de que são titulares os idosos;

III – fornecer vestuário adequado, se for pública, e alimentação suficiente;

IV – oferecer instalações físicas em condições adequadas de habitabilidade;

V – oferecer atendimento personalizado;

VI – diligenciar no sentido da preservação dos vínculos familiares;

VII – oferecer acomodações apropriadas para recebimento de visitas;

VIII – proporcionar cuidados à saúde, conforme a necessidade do idoso;

IX – promover atividades educacionais, esportivas, culturais e de lazer;

X – propiciar assistência religiosa àqueles que desejarem, de acordo com suas


crenças;

XI – proceder a estudo social e pessoal de cada caso;

XII – comunicar à autoridade competente de saúde toda ocorrência de idoso portador


de doenças infecto-contagiosas;

XIII – providenciar ou solicitar que o Ministério Público requisite os documentos


necessários ao exercício da cidadania àqueles que não os tiverem, na forma da lei;

XIV – fornecer comprovante de depósito dos bens móveis que receberem dos
idosos;

XV – manter arquivo de anotações onde constem data e circunstâncias do


atendimento, nome do idoso, responsável, parentes, endereços, cidade, relação de seus
pertences, bem como o valor de contribuições, e suas alterações, se houver, e demais
dados que possibilitem sua identificação e a individualização do atendimento;

XVI – comunicar ao Ministério Público, para as providências cabíveis, a situação de


abandono moral ou material por parte dos familiares;

XVII – manter no quadro de pessoal profissionais com formação específica.

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Art. 51. As instituições filantrópicas ou sem fins lucrativos prestadoras de serviço ao
idoso terão direito à assistência judiciária gratuita.

CAPÍTULO III
Da Fiscalização das Entidades de Atendimento

Art. 52. As entidades governamentais e não-governamentais de atendimento ao


idoso serão fiscalizadas pelos Conselhos do Idoso, Ministério Público, Vigilância Sanitária
e outros previstos em lei.

Art. 53. O art. 7o da Lei no 8.842, de 1994, passa a vigorar com a seguinte redação:

"Art. 7o Compete aos Conselhos de que trata o art. 6o desta Lei a supervisão, o
acompanhamento, a fiscalização e a avaliação da política nacional do idoso, no âmbito
das respectivas instâncias político-administrativas." (NR)

Art. 54. Será dada publicidade das prestações de contas dos recursos públicos e
privados recebidos pelas entidades de atendimento.

Art. 55. As entidades de atendimento que descumprirem as determinações desta Lei


ficarão sujeitas, sem prejuízo da responsabilidade civil e criminal de seus dirigentes ou
prepostos, às seguintes penalidades, observado o devido processo legal:

I – as entidades governamentais:

a) advertência;

b) afastamento provisório de seus dirigentes;

c) afastamento definitivo de seus dirigentes;

d) fechamento de unidade ou interdição de programa;

II – as entidades não-governamentais:

a) advertência;

b) multa;

c) suspensão parcial ou total do repasse de verbas públicas;

d) interdição de unidade ou suspensão de programa;

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e) proibição de atendimento a idosos a bem do interesse público.

§ 1o Havendo danos aos idosos abrigados ou qualquer tipo de fraude em relação ao


programa, caberá o afastamento provisório dos dirigentes ou a interdição da unidade e a
suspensão do programa.

§ 2o A suspensão parcial ou total do repasse de verbas públicas ocorrerá quando


verificada a má aplicação ou desvio de finalidade dos recursos.

§ 3o Na ocorrência de infração por entidade de atendimento, que coloque em risco os


direitos assegurados nesta Lei, será o fato comunicado ao Ministério Público, para as
providências cabíveis, inclusive para promover a suspensão das atividades ou dissolução
da entidade, com a proibição de atendimento a idosos a bem do interesse público, sem
prejuízo das providências a serem tomadas pela Vigilância Sanitária.

§ 4o Na aplicação das penalidades, serão consideradas a natureza e a gravidade da


infração cometida, os danos que dela provierem para o idoso, as circunstâncias
agravantes ou atenuantes e os antecedentes da entidade.

CAPÍTULO IV
Das Infrações Administrativas

Art. 56. Deixar a entidade de atendimento de cumprir as determinações do art. 50


desta Lei:

Pena – multa de R$ 500,00 (quinhentos reais) a R$ 3.000,00 (três mil reais), se o


fato não for caracterizado como crime, podendo haver a interdição do estabelecimento até
que sejam cumpridas as exigências legais.

Parágrafo único. No caso de interdição do estabelecimento de longa permanência,


os idosos abrigados serão transferidos para outra instituição, a expensas do
estabelecimento interditado, enquanto durar a interdição.

Art. 57. Deixar o profissional de saúde ou o responsável por estabelecimento de


saúde ou instituição de longa permanência de comunicar à autoridade competente os
casos de crimes contra idoso de que tiver conhecimento:

Pena – multa de R$ 500,00 (quinhentos reais) a R$ 3.000,00 (três mil reais), aplicada
em dobro no caso de reincidência.

Art. 58. Deixar de cumprir as determinações desta Lei sobre a prioridade no


atendimento ao idoso:

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Pena – multa de R$ 500,00 (quinhentos reais) a R$ 1.000,00 (um mil reais) e multa
civil a ser estipulada pelo juiz, conforme o dano sofrido pelo idoso.

CAPÍTULO V
Da Apuração Administrativa de Infração às
Normas de Proteção ao Idoso

Art. 59. Os valores monetários expressos no Capítulo IV serão atualizados


anualmente, na forma da lei.

Art. 60. O procedimento para a imposição de penalidade administrativa por infração


às normas de proteção ao idoso terá início com requisição do Ministério Público ou auto
de infração elaborado por servidor efetivo e assinado, se possível, por duas testemunhas.

§ 1o No procedimento iniciado com o auto de infração poderão ser usadas fórmulas


impressas, especificando-se a natureza e as circunstâncias da infração.

§ 2o Sempre que possível, à verificação da infração seguir-se-á a lavratura do auto,


ou este será lavrado dentro de 24 (vinte e quatro) horas, por motivo justificado.

Art. 61. O autuado terá prazo de 10 (dez) dias para a apresentação da defesa,
contado da data da intimação, que será feita:

I – pelo autuante, no instrumento de autuação, quando for lavrado na presença do


infrator;

II – por via postal, com aviso de recebimento.

Art. 62. Havendo risco para a vida ou à saúde do idoso, a autoridade competente
aplicará à entidade de atendimento as sanções regulamentares, sem prejuízo da iniciativa
e das providências que vierem a ser adotadas pelo Ministério Público ou pelas demais
instituições legitimadas para a fiscalização.

Art. 63. Nos casos em que não houver risco para a vida ou a saúde da pessoa idosa
abrigada, a autoridade competente aplicará à entidade de atendimento as sanções
regulamentares, sem prejuízo da iniciativa e das providências que vierem a ser adotadas
pelo Ministério Público ou pelas demais instituições legitimadas para a fiscalização.

CAPÍTULO VI
Da Apuração Judicial de Irregularidades em Entidade de Atendimento

Art. 64. Aplicam-se, subsidiariamente, ao procedimento administrativo de que trata


este Capítulo as disposições das Leis nos 6.437, de 20 de agosto de 1977, e 9.784, de 29
de janeiro de 1999.

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Psicóloga CRP: 84326/06 358
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Art. 65. O procedimento de apuração de irregularidade em entidade governamental e
não-governamental de atendimento ao idoso terá início mediante petição fundamentada
de pessoa interessada ou iniciativa do Ministério Público.

Art. 66. Havendo motivo grave, poderá a autoridade judiciária, ouvido o Ministério
Público, decretar liminarmente o afastamento provisório do dirigente da entidade ou
outras medidas que julgar adequadas, para evitar lesão aos direitos do idoso, mediante
decisão fundamentada.

Art. 67. O dirigente da entidade será citado para, no prazo de 10 (dez) dias, oferecer
resposta escrita, podendo juntar documentos e indicar as provas a produzir.

Art. 68. Apresentada a defesa, o juiz procederá na conformidade do art. 69 ou, se


necessário, designará audiência de instrução e julgamento, deliberando sobre a
necessidade de produção de outras provas.

§ 1o Salvo manifestação em audiência, as partes e o Ministério Público terão 5


(cinco) dias para oferecer alegações finais, decidindo a autoridade judiciária em igual
prazo.

§ 2o Em se tratando de afastamento provisório ou definitivo de dirigente de entidade


governamental, a autoridade judiciária oficiará a autoridade administrativa imediatamente
superior ao afastado, fixando-lhe prazo de 24 (vinte e quatro) horas para proceder à
substituição.

§ 3o Antes de aplicar qualquer das medidas, a autoridade judiciária poderá fixar


prazo para a remoção das irregularidades verificadas. Satisfeitas as exigências, o
processo será extinto, sem julgamento do mérito.

§ 4o A multa e a advertência serão impostas ao dirigente da entidade ou ao


responsável pelo programa de atendimento.

TÍTULO V
Do Acesso à Justiça

CAPÍTULO I
Disposições Gerais

Art. 69. Aplica-se, subsidiariamente, às disposições deste Capítulo, o procedimento


sumário previsto no Código de Processo Civil, naquilo que não contrarie os prazos
previstos nesta Lei.

Art. 70. O Poder Público poderá criar varas especializadas e exclusivas do idoso.

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Psicóloga CRP: 84326/06 359
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Art. 71. É assegurada prioridade na tramitação dos processos e procedimentos e na
execução dos atos e diligências judiciais em que figure como parte ou interveniente
pessoa com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos, em qualquer instância.

§ 1o O interessado na obtenção da prioridade a que alude este artigo, fazendo prova


de sua idade, requererá o benefício à autoridade judiciária competente para decidir o feito,
que determinará as providências a serem cumpridas, anotando-se essa circunstância em
local visível nos autos do processo.

§ 2o A prioridade não cessará com a morte do beneficiado, estendendo-se em favor


do cônjuge supérstite, companheiro ou companheira, com união estável, maior de 60
(sessenta) anos.

§ 3o A prioridade se estende aos processos e procedimentos na Administração


Pública, empresas prestadoras de serviços públicos e instituições financeiras, ao
atendimento preferencial junto à Defensoria Publica da União, dos Estados e do Distrito
Federal em relação aos Serviços de Assistência Judiciária.

§ 4o Para o atendimento prioritário será garantido ao idoso o fácil acesso aos


assentos e caixas, identificados com a destinação a idosos em local visível e caracteres
legíveis.

CAPÍTULO II
Do Ministério Público

Art. 72. (VETADO)

Art. 73. As funções do Ministério Público, previstas nesta Lei, serão exercidas nos
termos da respectiva Lei Orgânica.

Art. 74. Compete ao Ministério Público:

I – instaurar o inquérito civil e a ação civil pública para a proteção dos direitos e
interesses difusos ou coletivos, individuais indisponíveis e individuais homogêneos do
idoso;

II – promover e acompanhar as ações de alimentos, de interdição total ou parcial, de


designação de curador especial, em circunstâncias que justifiquem a medida e oficiar em
todos os feitos em que se discutam os direitos de idosos em condições de risco;

III – atuar como substituto processual do idoso em situação de risco, conforme o


disposto no art. 43 desta Lei;

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Psicóloga CRP: 84326/06 360
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IV – promover a revogação de instrumento procuratório do idoso, nas hipóteses
previstas no art. 43 desta Lei, quando necessário ou o interesse público justificar;

V – instaurar procedimento administrativo e, para instruí-lo:

a) expedir notificações, colher depoimentos ou esclarecimentos e, em caso de não


comparecimento injustificado da pessoa notificada, requisitar condução coercitiva,
inclusive pela Polícia Civil ou Militar;

b) requisitar informações, exames, perícias e documentos de autoridades municipais,


estaduais e federais, da administração direta e indireta, bem como promover inspeções e
diligências investigatórias;

c) requisitar informações e documentos particulares de instituições privadas;

VI – instaurar sindicâncias, requisitar diligências investigatórias e a instauração de


inquérito policial, para a apuração de ilícitos ou infrações às normas de proteção ao idoso;

VII – zelar pelo efetivo respeito aos direitos e garantias legais assegurados ao idoso,
promovendo as medidas judiciais e extrajudiciais cabíveis;

VIII – inspecionar as entidades públicas e particulares de atendimento e os


programas de que trata esta Lei, adotando de pronto as medidas administrativas ou
judiciais necessárias à remoção de irregularidades porventura verificadas;

IX – requisitar força policial, bem como a colaboração dos serviços de saúde,


educacionais e de assistência social, públicos, para o desempenho de suas atribuições;

X – referendar transações envolvendo interesses e direitos dos idosos previstos


nesta Lei.

§ 1o A legitimação do Ministério Público para as ações cíveis previstas neste artigo


não impede a de terceiros, nas mesmas hipóteses, segundo dispuser a lei.

§ 2o As atribuições constantes deste artigo não excluem outras, desde que


compatíveis com a finalidade e atribuições do Ministério Público.

§ 3o O representante do Ministério Público, no exercício de suas funções, terá livre


acesso a toda entidade de atendimento ao idoso.

Art. 75. Nos processos e procedimentos em que não for parte, atuará
obrigatoriamente o Ministério Público na defesa dos direitos e interesses de que cuida
esta Lei, hipóteses em que terá vista dos autos depois das partes, podendo juntar

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documentos, requerer diligências e produção de outras provas, usando os recursos
cabíveis.

Art. 76. A intimação do Ministério Público, em qualquer caso, será feita


pessoalmente.

Art. 77. A falta de intervenção do Ministério Público acarreta a nulidade do feito, que
será declarada de ofício pelo juiz ou a requerimento de qualquer interessado.

CAPÍTULO III
Da Proteção Judicial dos Interesses Difusos, Coletivos e Individuais Indisponíveis ou
Homogêneos

Art. 78. As manifestações processuais do representante do Ministério Público


deverão ser fundamentadas.

Art. 79. Regem-se pelas disposições desta Lei as ações de responsabilidade por
ofensa aos direitos assegurados ao idoso, referentes à omissão ou ao oferecimento
insatisfatório de:

I – acesso às ações e serviços de saúde;

II – atendimento especializado ao idoso portador de deficiência ou com limitação


incapacitante;

III – atendimento especializado ao idoso portador de doença infecto-contagiosa;

IV – serviço de assistência social visando ao amparo do idoso.

Parágrafo único. As hipóteses previstas neste artigo não excluem da proteção


judicial outros interesses difusos, coletivos, individuais indisponíveis ou homogêneos,
próprios do idoso, protegidos em lei.

Art. 80. As ações previstas neste Capítulo serão propostas no foro do domicílio do
idoso, cujo juízo terá competência absoluta para processar a causa, ressalvadas as
competências da Justiça Federal e a competência originária dos Tribunais Superiores.

Art. 81. Para as ações cíveis fundadas em interesses difusos, coletivos, individuais
indisponíveis ou homogêneos, consideram-se legitimados, concorrentemente:

I – o Ministério Público;

II – a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios;

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III – a Ordem dos Advogados do Brasil;

IV – as associações legalmente constituídas há pelo menos 1 (um) ano e que


incluam entre os fins institucionais a defesa dos interesses e direitos da pessoa idosa,
dispensada a autorização da assembléia, se houver prévia autorização estatutária.

§ 1o Admitir-se-á litisconsórcio facultativo entre os Ministérios Públicos da União e


dos Estados na defesa dos interesses e direitos de que cuida esta Lei.

§ 2o Em caso de desistência ou abandono da ação por associação legitimada, o


Ministério Público ou outro legitimado deverá assumir a titularidade ativa.

Art. 82. Para defesa dos interesses e direitos protegidos por esta Lei, são
admissíveis todas as espécies de ação pertinentes.

Parágrafo único. Contra atos ilegais ou abusivos de autoridade pública ou agente de


pessoa jurídica no exercício de atribuições de Poder Público, que lesem direito líquido e
certo previsto nesta Lei, caberá ação mandamental, que se regerá pelas normas da lei do
mandado de segurança.

Art. 83. Na ação que tenha por objeto o cumprimento de obrigação de fazer ou não-
fazer, o juiz concederá a tutela específica da obrigação ou determinará providências que
assegurem o resultado prático equivalente ao adimplemento.

§ 1o Sendo relevante o fundamento da demanda e havendo justificado receio de


ineficácia do provimento final, é lícito ao juiz conceder a tutela liminarmente ou após
justificação prévia, na forma do art. 273 do Código de Processo Civil.

§ 2o O juiz poderá, na hipótese do § 1o ou na sentença, impor multa diária ao réu,


independentemente do pedido do autor, se for suficiente ou compatível com a obrigação,
fixando prazo razoável para o cumprimento do preceito.

§ 3o A multa só será exigível do réu após o trânsito em julgado da sentença favorável


ao autor, mas será devida desde o dia em que se houver configurado.

Art. 84. Os valores das multas previstas nesta Lei reverterão ao Fundo do Idoso,
onde houver, ou na falta deste, ao Fundo Municipal de Assistência Social, ficando
vinculados ao atendimento ao idoso.

Parágrafo único. As multas não recolhidas até 30 (trinta) dias após o trânsito em
julgado da decisão serão exigidas por meio de execução promovida pelo Ministério
Público, nos mesmos autos, facultada igual iniciativa aos demais legitimados em caso de
inércia daquele.

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Art. 85. O juiz poderá conferir efeito suspensivo aos recursos, para evitar dano
irreparável à parte.

Art. 86. Transitada em julgado a sentença que impuser condenação ao Poder


Público, o juiz determinará a remessa de peças à autoridade competente, para apuração
da responsabilidade civil e administrativa do agente a que se atribua a ação ou omissão.

Art. 87. Decorridos 60 (sessenta) dias do trânsito em julgado da sentença


condenatória favorável ao idoso sem que o autor lhe promova a execução, deverá fazê-lo
o Ministério Público, facultada, igual iniciativa aos demais legitimados, como assistentes
ou assumindo o pólo ativo, em caso de inércia desse órgão.

Art. 88. Nas ações de que trata este Capítulo, não haverá adiantamento de custas,
emolumentos, honorários periciais e quaisquer outras despesas.

Parágrafo único. Não se imporá sucumbência ao Ministério Público.

Art. 89. Qualquer pessoa poderá, e o servidor deverá, provocar a iniciativa do


Ministério Público, prestando-lhe informações sobre os fatos que constituam objeto de
ação civil e indicando-lhe os elementos de convicção.

Art. 90. Os agentes públicos em geral, os juízes e tribunais, no exercício de suas


funções, quando tiverem conhecimento de fatos que possam configurar crime de ação
pública contra idoso ou ensejar a propositura de ação para sua defesa, devem
encaminhar as peças pertinentes ao Ministério Público, para as providências cabíveis.

Art. 91. Para instruir a petição inicial, o interessado poderá requerer às autoridades
competentes as certidões e informações que julgar necessárias, que serão fornecidas no
prazo de 10 (dez) dias.

Art. 92. O Ministério Público poderá instaurar sob sua presidência, inquérito civil, ou
requisitar, de qualquer pessoa, organismo público ou particular, certidões, informações,
exames ou perícias, no prazo que assinalar, o qual não poderá ser inferior a 10 (dez) dias.

§ 1o Se o órgão do Ministério Público, esgotadas todas as diligências, se convencer


da inexistência de fundamento para a propositura da ação civil ou de peças informativas,
determinará o seu arquivamento, fazendo-o fundamentadamente.

§ 2o Os autos do inquérito civil ou as peças de informação arquivados serão


remetidos, sob pena de se incorrer em falta grave, no prazo de 3 (três) dias, ao Conselho
Superior do Ministério Público ou à Câmara de Coordenação e Revisão do Ministério
Público.

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§ 3o Até que seja homologado ou rejeitado o arquivamento, pelo Conselho Superior
do Ministério Público ou por Câmara de Coordenação e Revisão do Ministério Público, as
associações legitimadas poderão apresentar razões escritas ou documentos, que serão
juntados ou anexados às peças de informação.

§ 4o Deixando o Conselho Superior ou a Câmara de Coordenação e Revisão do


Ministério Público de homologar a promoção de arquivamento, será designado outro
membro do Ministério Público para o ajuizamento da ação.

TÍTULO VI
Dos Crimes

CAPÍTULO I
Disposições Gerais

Art. 93. Aplicam-se subsidiariamente, no que couber, as disposições da Lei no 7.347,


de 24 de julho de 1985.

Art. 94. Aos crimes previstos nesta Lei, cuja pena máxima privativa de liberdade não
ultrapasse 4 (quatro) anos, aplica-se o procedimento previsto na Lei no 9.099, de 26 de
setembro de 1995, e, subsidiariamente, no que couber, as disposições do Código Penal e
do Código de Processo Penal.

CAPÍTULO II
Dos Crimes em Espécie

Art. 95. Os crimes definidos nesta Lei são de ação penal pública incondicionada, não
se lhes aplicando os arts. 181 e 182 do Código Penal.

Art. 96. Discriminar pessoa idosa, impedindo ou dificultando seu acesso a operações
bancárias, aos meios de transporte, ao direito de contratar ou por qualquer outro meio ou
instrumento necessário ao exercício da cidadania, por motivo de idade:

Pena – reclusão de 6 (seis) meses a 1 (um) ano e multa.

§ 1o Na mesma pena incorre quem desdenhar, humilhar, menosprezar ou discriminar


pessoa idosa, por qualquer motivo.

§ 2o A pena será aumentada de 1/3 (um terço) se a vítima se encontrar sob os


cuidados ou responsabilidade do agente.

Art. 97. Deixar de prestar assistência ao idoso, quando possível fazê-lo sem risco
pessoal, em situação de iminente perigo, ou recusar, retardar ou dificultar sua assistência
à saúde, sem justa causa, ou não pedir, nesses casos, o socorro de autoridade pública:

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Pena – detenção de 6 (seis) meses a 1 (um) ano e multa.

Parágrafo único. A pena é aumentada de metade, se da omissão resulta lesão


corporal de natureza grave, e triplicada, se resulta a morte.

Art. 98. Abandonar o idoso em hospitais, casas de saúde, entidades de longa


permanência, ou congêneres, ou não prover suas necessidades básicas, quando
obrigado por lei ou mandado:

Pena – detenção de 6 (seis) meses a 3 (três) anos e multa.

Art. 99. Expor a perigo a integridade e a saúde, física ou psíquica, do idoso,


submetendo-o a condições desumanas ou degradantes ou privando-o de alimentos e
cuidados indispensáveis, quando obrigado a fazê-lo, ou sujeitando-o a trabalho excessivo
ou inadequado:

Pena – detenção de 2 (dois) meses a 1 (um) ano e multa.

§ 1o Se do fato resulta lesão corporal de natureza grave:

Pena – reclusão de 1 (um) a 4 (quatro) anos.

§ 2o Se resulta a morte:

Pena – reclusão de 4 (quatro) a 12 (doze) anos.

Art. 100. Constitui crime punível com reclusão de 6 (seis) meses a 1 (um) ano e
multa:

I – obstar o acesso de alguém a qualquer cargo público por motivo de idade;

II – negar a alguém, por motivo de idade, emprego ou trabalho;

III – recusar, retardar ou dificultar atendimento ou deixar de prestar assistência à


saúde, sem justa causa, a pessoa idosa;

IV – deixar de cumprir, retardar ou frustrar, sem justo motivo, a execução de ordem


judicial expedida na ação civil a que alude esta Lei;

V – recusar, retardar ou omitir dados técnicos indispensáveis à propositura da ação


civil objeto desta Lei, quando requisitados pelo Ministério Público.

Art. 101. Deixar de cumprir, retardar ou frustrar, sem justo motivo, a execução de
ordem judicial expedida nas ações em que for parte ou interveniente o idoso:
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Pena – detenção de 6 (seis) meses a 1 (um) ano e multa.

Art. 102. Apropriar-se de ou desviar bens, proventos, pensão ou qualquer outro


rendimento do idoso, dando-lhes aplicação diversa da de sua finalidade:

Pena – reclusão de 1 (um) a 4 (quatro) anos e multa.

Art. 103. Negar o acolhimento ou a permanência do idoso, como abrigado, por


recusa deste em outorgar procuração à entidade de atendimento:

Pena – detenção de 6 (seis) meses a 1 (um) ano e multa.

Art. 104. Reter o cartão magnético de conta bancária relativa a benefícios, proventos
ou pensão do idoso, bem como qualquer outro documento com objetivo de assegurar
recebimento ou ressarcimento de dívida:

Pena – detenção de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos e multa.

Art. 105. Exibir ou veicular, por qualquer meio de comunicação, informações ou


imagens depreciativas ou injuriosas à pessoa do idoso:

Pena – detenção de 1 (um) a 3 (três) anos e multa.

Art. 106. Induzir pessoa idosa sem discernimento de seus atos a outorgar
procuração para fins de administração de bens ou deles dispor livremente:

Pena – reclusão de 2 (dois) a 4 (quatro) anos.

Art. 107. Coagir, de qualquer modo, o idoso a doar, contratar, testar ou outorgar
procuração:

Pena – reclusão de 2 (dois) a 5 (cinco) anos.

Art. 108. Lavrar ato notarial que envolva pessoa idosa sem discernimento de seus
atos, sem a devida representação legal:

Pena – reclusão de 2 (dois) a 4 (quatro) anos.

TÍTULO VII
Disposições Finais e Transitórias

Art. 109. Impedir ou embaraçar ato do representante do Ministério Público ou de


qualquer outro agente fiscalizador:

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Pena – reclusão de 6 (seis) meses a 1 (um) ano e multa.

Art. 110. O Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940, Código Penal, passa a


vigorar com as seguintes alterações:

"Art. 61. ............................................................................

............................................................................

II - ............................................................................

............................................................................

h) contra criança, maior de 60 (sessenta) anos, enfermo ou mulher grávida;

............................................................................." (NR)

"Art. 121. ............................................................................

............................................................................

§ 4o No homicídio culposo, a pena é aumentada de 1/3 (um terço), se o crime resulta de


inobservância de regra técnica de profissão, arte ou ofício, ou se o agente deixa de
prestar imediato socorro à vítima, não procura diminuir as conseqüências do seu ato, ou
foge para evitar prisão em flagrante. Sendo doloso o homicídio, a pena é aumentada de
1/3 (um terço) se o crime é praticado contra pessoa menor de 14 (quatorze) ou maior de
60 (sessenta) anos.

............................................................................." (NR)

"Art. 133. ............................................................................

............................................................................

§ 3o ............................................................................

............................................................................

III – se a vítima é maior de 60 (sessenta) anos." (NR)

"Art. 140. ............................................................................

............................................................................

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§ 3o Se a injúria consiste na utilização de elementos referentes a raça, cor, etnia, religião,
origem ou a condição de pessoa idosa ou portadora de deficiência:

............................................................................ (NR)

"Art. 141. ............................................................................

............................................................................

IV – contra pessoa maior de 60 (sessenta) anos ou portadora de deficiência, exceto no


caso de injúria.

............................................................................." (NR)

"Art. 148. ............................................................................

............................................................................

§ 1o............................................................................

I – se a vítima é ascendente, descendente, cônjuge do agente ou maior de 60 (sessenta)


anos.

............................................................................" (NR)

"Art. 159............................................................................

............................................................................

§ 1o Se o seqüestro dura mais de 24 (vinte e quatro) horas, se o seqüestrado é menor de


18 (dezoito) ou maior de 60 (sessenta) anos, ou se o crime é cometido por bando ou
quadrilha.

............................................................................" (NR)

"Art. 183............................................................................

............................................................................

III – se o crime é praticado contra pessoa com idade igual ou superior a 60 (sessenta)
anos." (NR)

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"Art. 244. Deixar, sem justa causa, de prover a subsistência do cônjuge, ou de filho menor
de 18 (dezoito) anos ou inapto para o trabalho, ou de ascendente inválido ou maior de 60
(sessenta) anos, não lhes proporcionando os recursos necessários ou faltando ao
pagamento de pensão alimentícia judicialmente acordada, fixada ou majorada; deixar,
sem justa causa, de socorrer descendente ou ascendente, gravemente enfermo:

............................................................................" (NR)

Art. 111. O O art. 21 do Decreto-Lei no 3.688, de 3 de outubro de 1941, Lei das


Contravenções Penais, passa a vigorar acrescido do seguinte parágrafo único:

"Art. 21............................................................................

............................................................................

Parágrafo único. Aumenta-se a pena de 1/3 (um terço) até a metade se a vítima é maior
de 60 (sessenta) anos." (NR)

Art. 112. O inciso II do § 4o do art. 1o da Lei no 9.455, de 7 de abril de 1997, passa a


vigorar com a seguinte redação:

"Art. 1o ............................................................................

............................................................................

§ 4o ............................................................................

II – se o crime é cometido contra criança, gestante, portador de deficiência, adolescente


ou maior de 60 (sessenta) anos;

............................................................................" (NR)

Art. 113. O inciso III do art. 18 da Lei no 6.368, de 21 de outubro de 1976, passa a
vigorar com a seguinte redação:

"Art. 18............................................................................

............................................................................

III – se qualquer deles decorrer de associação ou visar a menores de 21 (vinte e um) anos
ou a pessoa com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos ou a quem tenha, por
qualquer causa, diminuída ou suprimida a capacidade de discernimento ou de
autodeterminação:

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............................................................................" (NR)

Art. 114. O art 1º da Lei no 10.048, de 8 de novembro de 2000, passa a vigorar com a
seguinte redação:

"Art. 1o As pessoas portadoras de deficiência, os idosos com idade igual ou superior a 60


(sessenta) anos, as gestantes, as lactantes e as pessoas acompanhadas por crianças de
colo terão atendimento prioritário, nos termos desta Lei." (NR)

Art. 115. O Orçamento da Seguridade Social destinará ao Fundo Nacional de


Assistência Social, até que o Fundo Nacional do Idoso seja criado, os recursos
necessários, em cada exercício financeiro, para aplicação em programas e ações
relativos ao idoso.

Art. 116. Serão incluídos nos censos demográficos dados relativos à população
idosa do País.

Art. 117. O Poder Executivo encaminhará ao Congresso Nacional projeto de lei


revendo os critérios de concessão do Benefício de Prestação Continuada previsto na Lei
Orgânica da Assistência Social, de forma a garantir que o acesso ao direito seja
condizente com o estágio de desenvolvimento sócio-econômico alcançado pelo País.

Art. 118. Esta Lei entra em vigor decorridos 90 (noventa) dias da sua publicação,
ressalvado o disposto no caput do art. 36, que vigorará a partir de 1o de janeiro de 2004.

Brasília, 1o de outubro de 2003; 182o da Independência e 115o da República.

7. Lei Federal nº 10.741 de 1º de outubro de 2003 (Estatuto do Idoso).


TÍTULO I
DISPOSIÇÕES PRELIMINARES
Art. 1º É instituído o Estatuto do Idoso, destinado a regular os direitos assegurados às pessoas
com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos.
Art. 2º O idoso goza de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sem prejuízo
da proteção integral de que trata esta Lei, assegurando-se-lhe, por lei ou por outros meios, todas
as oportunidades e facilidades, para preservação de sua saúde física e mental e seu
aperfeiçoamento moral, intelectual, espiritual e social, em condições de liberdade e dignidade.
Art. 3º É obrigação da família, da comunidade, da sociedade e do Poder Público assegurar ao
idoso, com absoluta prioridade, a efetivação do direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação,

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à cultura, ao esporte, ao lazer, ao trabalho, à cidadania, à liberdade, à dignidade, ao respeito e à
convivência familiar e comunitária.
Parágrafo único. A garantia de prioridade compreende:
I – atendimento preferencial imediato e individualizado junto aos órgãos públicos e privados
prestadores de serviços à população;
II – preferência na formulação e na execução de políticas sociais públicas específicas;
III – destinação privilegiada de recursos públicos nas áreas relacionadas com a proteção ao idoso;
IV – viabilização de formas alternativas de participação, ocupação e convívio do idoso com as
demais gerações;
3
V – priorização do atendimento do idoso por sua própria família, em detrimento do atendimento
asilar, exceto dos que não a possuam ou careçam de condições de manutenção da própria
sobrevivência;
VI – capacitação e reciclagem dos recursos humanos nas áreas de geriatria e gerontologia e na
prestação de serviços aos idosos;
VII – estabelecimento de mecanismos que favoreçam a divulgação de informações de caráter
educativo sobre os aspectos biopsicossociais de envelhecimento;
VIII – garantia de acesso à rede de serviços de saúde e de assistência social locais.
Art. 4º Nenhum idoso será objeto de qualquer tipo de negligência, discriminação, violência,
crueldade ou opressão, e todo atentado aos seus direitos, por ação ou omissão, será punido na
forma da lei.
§ 1° É dever de todos prevenir a ameaça ou violação aos direitos do idoso.
§ 2° As obrigações previstas nesta Lei não excluem da prevenção outras decorrentes dos
princípios por ela adotados.
Art. 5º A inobservância das normas de prevenção importará em responsabilidade à pessoa física
ou jurídica nos termos da lei.
Art. 6º Todo cidadão tem o dever de comunicar à autoridade competente qualquer forma de
violação a esta Lei que tenha testemunhado ou de que tenha conhecimento.
Art. 7º Os Conselhos Nacional, Estaduais, do Distrito Federal e Municipais do Idoso, previstos na
Lei nº 8.842, de 4 de janeiro de 1994, zelarão pelo cumprimento dos direitos do idoso, definidos
nesta Lei.
TÍTULO II
DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS

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CAPÍTULO I
DO DIREITO À VIDA
Art. 8º O envelhecimento é um direito personalíssimo e a sua proteção um direito social, nos
termos desta Lei e da legislação vigente.
Art. 9º É obrigação do Estado, garantir à pessoa idosa a proteção à vida e à saúde, mediante
efetivação de políticas sociais públicas que permitam um envelhecimento saudável e em condições
de dignidade.
4
CAPÍTULO II
DO DIREITO À LIBERDADE, AO RESPEITO E À DIGNIDADE
Art. 10. É obrigação do Estado e da sociedade, assegurar à pessoa idosa a liberdade, o respeito e
a dignidade, como pessoa humana e sujeito de direitos civis, políticos, individuais e sociais,
garantidos na Constituição e nas leis.
§ 1º O direito à liberdade compreende, entre outros, os seguintes aspectos:
I – faculdade de ir, vir e estar nos logradouros públicos e espaços comunitários, ressalvadas as
restrições legais;
II – opinião e expressão;
III – crença e culto religioso;
IV – prática de esportes e de diversões;
V – participação na vida familiar e comunitária;
VI – participação na vida política, na forma da lei;
VII – faculdade de buscar refúgio, auxílio e orientação.
§ 2º O direito ao respeito consiste na inviolabilidade da integridade física, psíquica e moral,
abrangendo a preservação da imagem, da identidade, da autonomia, de valores, idéias e crenças,
dos espaços e dos objetos pessoais.
§ 3º É dever de todos zelar pela dignidade do idoso, colocando-o a salvo de qualquer tratamento
desumano, violento, aterrorizante, vexatório ou constrangedor.
CAPÍTULO III
DOS ALIMENTOS
Art. 11. Os alimentos serão prestados ao idoso na forma da lei civil.
Art. 12. A obrigação alimentar é solidária, podendo o idoso optar entre os prestadores.

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Art. 13. As transações relativas a alimentos poderão ser celebradas perante o Promotor de Justiça,
que as referendará, e passarão a ter efeito de título executivo extrajudicial nos termos da lei
processual civil.
Art. 14. Se o idoso ou seus familiares não possuírem condições econômicas de prover o seu
sustento, impõe-se ao Poder Público esse provimento, no âmbito da assistência social.
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CAPÍTULO IV
DO DIREITO À SAÚDE
Art. 15. É assegurada a atenção integral à saúde do idoso, por intermédio do Sistema Único de
Saúde – SUS, garantindo-lhe o acesso universal e igualitário, em conjunto articulado e contínuo
das ações e serviços, para a prevenção, promoção, proteção e recuperação da saúde, incluindo a
atenção especial às doenças que afetam preferencialmente os idosos.
§ 1° A prevenção e a manutenção da saúde do idoso serão efetivadas por meio de:
I – cadastramento da população idosa em base territorial;
II – atendimento geriátrico e gerontológico em ambulatórios;
III – unidades geriátricas de referência, com pessoal especializado nas áreas de geriatria e
gerontologia social;
IV – atendimento domiciliar, incluindo a internação, para a população que dele necessitar e esteja
impossibilitada de se locomover, inclusive para idosos abrigados e acolhidos por instituições
públicas, filantrópicas ou sem fins lucrativos e eventualmente conveniadas com o Poder Público,
nos meios urbano e rural;
V – reabilitação orientada pela geriatria e gerontologia, para redução das seqüelas decorrentes do
agravo da saúde.
§ 2° Incumbe ao Poder Público fornecer aos idosos, gratuitamente, medicamentos, especialmente
os de uso continuado, assim como próteses, órteses e outros recursos relativos ao tratamento,
habilitação ou reabilitação.
§ 3° É vedada a discriminação do idoso nos planos de saúde pela cobrança de valores
diferenciados em razão da idade.
§ 4° Os idosos portadores de deficiência ou com limitação incapacitante terão atendimento
especializado, nos termos da lei.
Art. 16. Ao idoso internado ou em observação é assegurado o direito a acompanhante, devendo o
órgão de saúde proporcionar as condições adequadas para a sua permanência em tempo integral,
segundo o critério médico.

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Parágrafo único. Caberá ao profissional de saúde responsável pelo tratamento conceder
autorização para o acompanhamento do idoso ou, no caso de impossibilidade, justificá-la por
escrito.
Art. 17. Ao idoso que esteja no domínio de suas faculdades mentais é assegurado o direito de
optar pelo tratamento de saúde que lhe for reputado mais favorável.
Parágrafo único. Não estando o idoso em condições de proceder à opção, esta será feita:
I – pelo curador, quando o idoso for interditado;
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II – pelos familiares, quando o idoso não tiver curador ou este não puder ser contactado em tempo
hábil;
III – pelo médico, quando ocorrer iminente risco de vida e não houver tempo hábil para consulta a
curador ou familiar;
IV - pelo próprio médico, quando não houver curador ou familiar conhecido, caso em que deverá
comunicar o fato ao Ministério Público.
Art. 18. As instituições de saúde devem atender aos critérios mínimos para o atendimento às
necessidades do idoso, promovendo o treinamento e a capacitação dos profissionais, assim como
orientação a cuidadores familiares e grupos de auto-ajuda.
Art. 19. Os casos de suspeita ou confirmação de maus-tratos contra idoso serão obrigatoriamente
comunicados pelos profissionais de saúde a quaisquer dos seguintes órgãos:
I – autoridade policial;
II – Ministério Público;
III – Conselho Municipal do Idoso;
IV – Conselho Estadual do Idoso;
V – Conselho Nacional do Idoso.
CAPÍTULO V
DA EDUCAÇÃO, CULTURA, ESPORTE E LAZER
Art. 20. O idoso tem direito a educação, cultura, esporte, lazer, diversões, espetáculos, produtos e
serviços que respeitem sua peculiar condição de idade.
Art. 21. O Poder Público criará oportunidades de acesso do idoso à educação, adequando
currículos, metodologias e material didático aos programas educacionais a ele destinados.
§ 1º Os cursos especiais para idosos incluirão conteúdo relativo às técnicas de comunicação,
computação e demais avanços tecnológicos, para sua integração à vida moderna.

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§ 2º Os idosos participarão das comemorações de caráter cívico ou cultural, para transmissão de
conhecimentos e vivências às demais gerações, no sentido da preservação da memória e da
identidade culturais.
Art. 22. Nos currículos mínimos dos diversos níveis de ensino formal serão inseridos conteúdos
voltados ao processo de envelhecimento, ao respeito e à valorização do idoso, de forma a eliminar
o preconceito e a produzir conhecimentos sobre a matéria.
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Art. 23. A participação dos idosos em atividades culturais e de lazer será proporcionada mediante
descontos de pelo menos 50% (cinqüenta por cento) nos ingressos para eventos artísticos,
culturais, esportivos e de lazer, bem como o acesso preferencial aos respectivos locais.
Art. 24. Os meios de comunicação manterão espaços ou horários especiais voltados aos idosos,
com finalidade informativa, educativa, artística e cultural, e ao público sobre o processo de
envelhecimento.
Art. 25. O Poder Público apoiará a criação de universidade aberta para as pessoas idosas e
incentivará a publicação de livros e periódicos, de conteúdo e padrão editorial adequados ao idoso,
que facilitem a leitura, considerada a natural redução da capacidade visual.
CAPÍTULO VI
DA PROFISSIONALIZAÇÃO E DO TRABALHO
Art. 26. O idoso tem direito ao exercício de atividade profissional, respeitadas suas condições
físicas, intelectuais e psíquicas.
Art. 27. Na admissão do idoso em qualquer trabalho ou emprego, é vedada a discriminação e a
fixação de limite máximo de idade, inclusive para concursos, ressalvados os casos em que a
natureza do cargo o exigir.
Parágrafo único. O primeiro critério de desempate em concurso público será a idade, dando-se
preferência ao de idade mais elevada.
Art. 28. O Poder Público criará e estimulará programas de:
I – profissionalização especializada para os idosos, aproveitando seus potenciais e habilidades
para atividades regulares e remuneradas;
II – preparação dos trabalhadores para a aposentadoria, com antecedência mínima de 1 (um) ano,
por meio de estímulo a novos projetos sociais, conforme seus interesses, e de esclarecimento
sobre os direitos sociais e de cidadania;
III – estímulo às empresas privadas para admissão de idosos ao trabalho.
CAPÍTULO VII

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DA PREVIDÊNCIA SOCIAL
Art. 29. Os benefícios de aposentadoria e pensão do Regime Geral da Previdência Social
observarão, na sua concessão, critérios de cálculo que preservem o valor real dos salários sobre
os quais incidiram contribuição, nos termos da legislação vigente.
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Parágrafo único. Os valores dos benefícios em manutenção serão reajustados na mesma data de
reajuste do salário-mínimo, pro rata, de acordo com suas respectivas datas de início ou do seu
último reajustamento, com base em percentual definido em regulamento, observados os critérios
estabelecidos pela Lei nº 8.213, de 24 de julho de 1991.
Art. 30. A perda da condição de segurado não será considerada para a concessão da
aposentadoria por idade, desde que a pessoa conte com, no mínimo, o tempo de contribuição
correspondente ao exigido para efeito de carência na data de requerimento do benefício.
Parágrafo único. O cálculo do valor do benefício previsto no caput observará o disposto no caput e
§ 2° do art. 3º da Lei n° 9.876, de 26 de novembro de 1999, ou, não havendo salários-de-
contribuição recolhidos a partir da competência de julho de 1994, o disposto no art. 35 da Lei n°
8.213, de 1991.
Art. 31. O pagamento de parcelas relativas a benefícios, efetuado com atraso por responsabilidade
da Previdência Social, será atualizado pelo mesmo índice utilizado para os reajustamentos dos
benefícios do Regime Geral de Previdência Social, verificado no período compreendido entre o
mês que deveria ter sido pago e o mês do efetivo pagamento.
Art. 32. O Dia Mundial do Trabalho, 1° de Maio, é a data-base dos aposentados e pensionistas.
CAPÍTULO VIII
DA ASSISTÊNCIA SOCIAL
Art. 33. A assistência social aos idosos será prestada, de forma articulada, conforme os princípios
e diretrizes previstos na Lei Orgânica da Assistência Social, na Política Nacional do Idoso, no
Sistema Único de Saúde e demais normas pertinentes.
Art. 34. Aos idosos, a partir de 65 (sessenta e cinco) anos, que não possuam meios para prover
sua subsistência, nem de tê-la provida por sua família, é assegurado o benefício mensal de 1 (um)
salário-mínimo, nos termos da Lei Orgânica da Assistência Social – Loas.
Parágrafo único. O benefício já concedido a qualquer membro da família nos termos do caput não
será computado para os fins do cálculo da renda familiar per capita a que se refere a Loas.
Art. 35. Todas as entidades de longa permanência, ou casa-lar, são obrigadas a firmar contrato de
prestação de serviços com a pessoa idosa abrigada.

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§ 1º No caso de entidades filantrópicas, ou casa-lar, é facultada a cobrança de participação do
idoso no custeio da entidade.
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§ 2º O Conselho Municipal do Idoso ou o Conselho Municipal da Assistência Social estabelecerá a
forma de participação prevista no § 1º, que não poderá exceder a 70% (setenta por cento) de
qualquer benefício previdenciário ou de assistência social percebido pelo idoso.
§ 3º Se a pessoa idosa for incapaz, caberá a seu representante legal firmar o contrato a que se
refere o caput deste artigo.
Art. 36. O acolhimento de idosos em situação de risco social, por adulto ou núcleo familiar,
caracteriza a dependência econômica, para os efeitos legais.
CAPÍTULO IX
DA HABITAÇÃO
Art. 37. O idoso tem direito a moradia digna, no seio da família natural ou substituta, ou
desacompanhado de seus familiares, quando assim o desejar, ou, ainda, em instituição pública ou
privada.
§ 1° A assistência integral na modalidade de entidade de longa permanência será prestada quando
verificada inexistência de grupo familiar, casa-lar, abandono ou carência de recursos financeiros
próprios ou da família.
§ 2° Toda instituição dedicada ao atendimento ao idoso fica obrigada a manter identificação
externa visível, sob pena de interdição, além de atender toda a legislação pertinente.
§ 3º As instituições que abrigarem idosos são obrigadas a manter padrões de habitação
compatíveis com as necessidades deles, bem como provê-los com alimentação regular e higiene
indispensáveis às normas sanitárias e com estas condizentes, sob as penas da lei.
Art. 38. Nos programas habitacionais, públicos ou subsidiados com recursos públicos, o idoso
goza de prioridade na aquisição de imóvel para moradia própria, observado o seguinte:
I – reserva de 3% (três por cento) das unidades residenciais para atendimento aos idosos;
II – implantação de equipamentos urbanos comunitários voltados ao idoso;
III – eliminação de barreiras arquitetônicas e urbanísticas, para garantia de acessibilidade ao idoso;
IV – critérios de financiamento compatíveis com os rendimentos de aposentadoria e pensão.
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CAPÍTULO X
DO TRANSPORTE

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Art. 39. Aos maiores de 65 (sessenta e cinco) anos fica assegurada a gratuidade dos transportes
coletivos públicos urbanos e semi urbanos, exceto nos serviços seletivos e especiais, quando
prestados paralelamente aos serviços regulares.
§ 1° Para ter acesso à gratuidade, basta que o idoso apresente qualquer documento pessoal que
faça prova de sua idade.
§ 2° Nos veículos de transporte coletivo de que trata este artigo, serão reservados 10% (dez por
cento) dos assentos para os idosos, devidamente identificados com a placa de reservado
preferencialmente para idosos.
§ 3º No caso das pessoas compreendidas na faixa etária entre 60 (sessenta) e 65 (sessenta e
cinco) anos, ficará a critério da legislação local dispor sobre as condições para exercício da
gratuidade nos meios de transporte previstos no caput deste artigo.
Art. 40. No sistema de transporte coletivo interestadual observar-se-á, nos termos da legislação
específica:
I – a reserva de 2 (duas) vagas gratuitas por veículo para idosos com renda igual ou inferior a 2
(dois) salários-mínimos;
II – desconto de 50% (cinqüenta por cento), no mínimo, no valor das passagens, para os idosos
que excederem as vagas gratuitas, com renda igual ou inferior a 2 (dois) salários-mínimos.
Parágrafo único. Caberá aos órgãos competentes definir os mecanismos e os critérios para o
exercício dos direitos previstos nos incisos I e II.
Art. 41. É assegurada a reserva, para os idosos, nos termos da lei local, de 5% (cinco por cento)
das vagas nos estacionamentos públicos e privados, as quais deverão ser posicionadas de forma a
garantir a melhor comodidade ao idoso.
Art. 42. É assegurada a prioridade do idoso no embarque no sistema de transporte coletivo.
TÍTULO III
DAS MEDIDAS DE PROTEÇÃO
CAPÍTULO I
DAS DISPOSIÇÕES GERAIS
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Art. 43. As medidas de proteção ao idoso são aplicáveis sempre que os direitos reconhecidos
nesta Lei forem ameaçados ou violados:
I – por ação ou omissão da sociedade ou do Estado;
II – por falta, omissão ou abuso da família, curador ou entidade de atendimento;
III – em razão de sua condição pessoal.

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CAPÍTULO II
DAS MEDIDAS ESPECÍFICAS DE PROTEÇÃO
Art. 44. As medidas de proteção ao idoso previstas nesta Lei poderão ser aplicadas, isolada ou
cumulativamente, e levarão em conta os fins sociais a que se destinam e o fortalecimento dos
vínculos familiares e comunitários.
Art. 45. Verificada qualquer das hipóteses previstas no art. 43, o Ministério Público ou o Poder
Judiciário, a requerimento daquele, poderá determinar, dentre outras, as seguintes medidas:
I – encaminhamento à família ou curador, mediante termo de responsabilidade;
II – orientação, apoio e acompanhamento temporários;
III – requisição para tratamento de sua saúde, em regime ambulatorial, hospitalar ou domiciliar;
IV – inclusão em programa oficial ou comunitário de auxílio, orientação e tratamento a usuários
dependentes de drogas lícitas ou ilícitas, ao próprio idoso ou à pessoa de sua convivência que lhe
cause perturbação;
V – abrigo em entidade;
VI – abrigo temporário.
TÍTULO IV
DA POLÍTICA DE ATENDIMENTO AO IDOSO
CAPÍTULO I
DISPOSIÇÕES GERAIS
Art. 46. A política de atendimento ao idoso far-se-á por meio do conjunto articulado de ações
governamentais e não-governamentais da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios.
Art. 47. São linhas de ação da política de atendimento:
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I – políticas sociais básicas, previstas na Lei n° 8.842, de 4 de janeiro de 1994;
II – políticas e programas de assistência social, em caráter supletivo, para aqueles que
necessitarem;
III – serviços especiais de prevenção e atendimento às vítimas de negligência, maus-tratos,
exploração, abuso, crueldade e opressão;
IV – serviço de identificação e localização de parentes ou responsáveis por idosos abandonados
em hospitais e instituições de longa permanência;
V – proteção jurídico-social por entidades de defesa dos direitos dos idosos;

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VI – mobilização da opinião pública no sentido da participação dos diversos segmentos da
sociedade no atendimento do idoso.
CAPÍTULO II
DAS ENTIDADES DE ATENDIMENTO AO IDOSO
Art. 48. As entidades de atendimento são responsáveis pela manutenção das próprias unidades,
observadas as normas de planejamento e execução emanadas do órgão competente da Política
Nacional do Idoso, conforme a Lei n° 8.842, de 1994.
Parágrafo único. As entidades governamentais e não governamentais de assistência ao idoso
ficam sujeitas à inscrição de seus programas, junto ao órgão competente da Vigilância Sanitária e
Conselho Municipal da Pessoa Idosa, e em sua falta, junto ao Conselho Estadual ou Nacional da
Pessoa Idosa, especificando os regimes de atendimento, observados os seguintes requisitos:
I – oferecer instalações físicas em condições adequadas de habitabilidade, higiene, salubridade e
segurança;
II – apresentar objetivos estatutários e plano de trabalho compatíveis com os princípios desta Lei;
III – estar regularmente constituída;
IV – demonstrar a idoneidade de seus dirigentes.
Art. 49. As entidades que desenvolvam programas de institucionalização de longa permanência
adotarão os seguintes princípios:
I – preservação dos vínculos familiares;
II – atendimento personalizado e em pequenos grupos;
III – manutenção do idoso na mesma instituição, salvo em caso de força maior;
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IV – participação do idoso nas atividades comunitárias, de caráter interno e externo;
V – observância dos direitos e garantias dos idosos;
VI – preservação da identidade do idoso e oferecimento de ambiente de respeito e dignidade.
Parágrafo único. O dirigente de instituição prestadora de atendimento ao idoso responderá civil e
criminalmente pelos atos que praticar em detrimento do idoso, sem prejuízo das sanções
administrativas.
Art. 50. Constituem obrigações das entidades de atendimento:
I – celebrar contrato escrito de prestação de serviço com o idoso, especificando o tipo de
atendimento, as obrigações da entidade e prestações decorrentes do contrato, com os respectivos
preços, se for o caso;
II – observar os direitos e as garantias de que são titulares os idosos;

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III – fornecer vestuário adequado, se for pública, e alimentação suficiente;
IV – oferecer instalações físicas em condições adequadas de habitabilidade;
V – oferecer atendimento personalizado;
VI – diligenciar no sentido da preservação dos vínculos familiares;
VII – oferecer acomodações apropriadas para recebimento de visitas;
VIII – proporcionar cuidados à saúde, conforme a necessidade do idoso;
IX – promover atividades educacionais, esportivas, culturais e de lazer;
X – propiciar assistência religiosa àqueles que desejarem, de acordo com suas crenças;
XI – proceder a estudo social e pessoal de cada caso;
XII – comunicar à autoridade competente de saúde toda ocorrência de idoso portador de doenças
infecto-contagiosas;
XIII – providenciar ou solicitar que o Ministério Público requisite os documentos necessários ao
exercício da cidadania àqueles que não os tiverem, na forma da lei;
XIV – fornecer comprovante de depósito dos bens móveis que receberem dos idosos;
XV – manter arquivo de anotações onde constem data e circunstâncias do atendimento, nome do
idoso, responsável, parentes, endereços, cidade, relação de seus pertences, bem como o valor de
contribuições, e suas alterações, se houver, e demais dados que possibilitem sua identificação e a
individualização do atendimento;
XVI – comunicar ao Ministério Público, para as providências cabíveis, a situação de abandono
moral ou material por parte dos familiares;
XVII – manter no quadro de pessoal profissionais com formação específica.
Art. 51. As instituições filantrópicas ou sem fins lucrativos prestadoras de serviço ao idoso terão
direito à assistência judiciária gratuita.
CAPÍTULO III
DA FISCALIZAÇÃO DAS ENTIDADES DE ATENDIMENTO
Art. 52. As entidades governamentais e não-governamentais de atendimento ao idoso serão
fiscalizadas pelos Conselhos do Idoso, Ministério Público, Vigilância Sanitária e outros previstos
em lei.
Art. 53. O art. 7° da Lei n° 8.842, de 1994, passa a vigorar com a seguinte redação:
“Art. 7° Compete aos Conselhos de que trata o art. 6° desta Lei a supervisão, o acompanhamento,
a fiscalização e a avaliação da política nacional do idoso, no âmbito das respectivas instâncias
político-administrativas.”(NR)

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Art. 54. Será dada publicidade das prestações de contas dos recursos públicos e privados
recebidos pelas entidades de atendimento.
Art. 55. As entidades de atendimento que descumprirem as determinações desta Lei ficarão
sujeitas, sem prejuízo da responsabilidade civil e criminal de seus dirigentes ou prepostos, às
seguintes penalidades, observado o devido processo legal:
I – as entidades governamentais:
a) advertência;
b) afastamento provisório de seus dirigentes;
c) afastamento definitivo de seus dirigentes;
d) fechamento de unidade ou interdição de programa;
II – as entidades não-governamentais:
a) advertência;
b) multa;
c) suspensão parcial ou total do repasse de verbas públicas;
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d) interdição de unidade ou suspensão de programa;
e) proibição de atendimento a idosos a bem do interesse público.
§ 1° Havendo danos aos idosos abrigados ou qualquer tipo de fraude em relação ao programa,
caberá o afastamento provisório dos dirigentes ou a interdição da unidade e a suspensão do
programa.
§ 2° A suspensão parcial ou total do repasse de verbas públicas ocorrerá quando verificada a má
aplicação ou desvio de finalidade dos recursos.
§ 3° Na ocorrência de infração por entidade de atendimento, que coloque em risco os direitos
assegurados nesta Lei, será o fato comunicado ao Ministério Público, para as providências
cabíveis, inclusive para promover a suspensão das atividades ou dissolução da entidade, com a
proibição de atendimento a idosos a bem do interesse público, sem prejuízo das providências a
serem tomadas pela Vigilância Sanitária.
§ 4° Na aplicação das penalidades, serão consideradas a natureza e a gravidade da infração
cometida, os danos que dela provierem para o idoso, as circunstâncias agravantes ou atenuantes
e os antecedentes da entidade.
CAPITULO IV
DAS INFRAÇÕES ADMINISTRATIVAS
Art. 56. Deixar a entidade de atendimento de cumprir as determinações do art. 50 desta Lei:

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Pena – multa de R$ 500,00 (quinhentos reais) a R$ 3.000,00 (três mil reais), se o fato não for
caracterizado como crime, podendo haver a interdição do estabelecimento até que sejam
cumpridas as exigências legais.
Parágrafo único. No caso de interdição do estabelecimento de longa permanência, os idosos
abrigados serão transferidos para outra instituição, a expensas do estabelecimento interditado,
enquanto durar a interdição.
Art. 57. Deixar o profissional de saúde ou o responsável por estabelecimento de saúde ou
instituição de longa permanência de comunicar à autoridade competente os casos de crimes contra
idoso de que tiver conhecimento:
Pena – multa de R$ 500,00 (quinhentos reais) a R$ 3.000,00 (três mil reais), aplicada em dobro no
caso de reincidência.
Art. 58. Deixar de cumprir as determinações desta Lei sobre a prioridade no atendimento ao idoso:
Pena – multa de R$ 500,00 (quinhentos reais) a R$ 1.000,00 (um mil reais) e multa civil a ser
estipulada pelo juiz, conforme o dano sofrido pelo idoso.
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CAPÍTULO V
DA APURAÇÃO ADMINISTRATIVA DE INFRAÇÃO ÀS
NORMAS DE PROTEÇÃO AO IDOSO
Art. 59. Os valores monetários expressos no Capítulo IV serão atualizados anualmente, na forma
da lei.
Art. 60. O procedimento para a imposição de penalidade administrativa por infração às normas de
proteção ao idoso terá início com requisição do Ministério Público ou auto de infração elaborado
por servidor efetivo e assinado, se possível, por duas testemunhas.
§ 1° No procedimento iniciado com o auto de infração poderão ser usadas fórmulas impressas,
especificando-se a natureza e as circunstâncias da infração.
§ 2° Sempre que possível, à verificação da infração seguir-se-á a lavratura do auto, ou este será
lavrado dentro de 24 (vinte e quatro) horas, por motivo justificado.
Art. 61. O autuado terá prazo de 10 (dez) dias para a apresentação da defesa, contado da data da
intimação, que será feita:
I – pelo autuante, no instrumento de autuação, quando for lavrado na presença do infrator;
II – por via postal, com aviso de recebimento.
Art. 62. Havendo risco para a vida ou à saúde do idoso, a autoridade competente aplicará à
entidade de atendimento as sanções regulamentares, sem prejuízo da iniciativa e das providências

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que vierem a ser adotadas pelo Ministério Público ou pelas demais instituições legitimadas para a
fiscalização.
Art. 63. Nos casos em que não houver risco para a vida ou a saúde da pessoa idosa abrigada, a
autoridade competente aplicará à entidade de atendimento as sanções regulamentares, sem
prejuízo da iniciativa e das
providências que vierem a ser adotadas pelo Ministério Público ou pelas demais instituições
legitimadas para a fiscalização.
CAPÍTULO VI
DA APURAÇÃO JUDICIAL DE IRREGULARIDADES EM ENTIDADE DE
ATENDIMENTO
Art. 64. Aplicam-se, subsidiariamente, ao procedimento administrativo de que trata este Capítulo
as disposições das Leis n°s 6.437, de 20 de agosto de 1977, e 9.784, de 29 de janeiro de 1999.
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Art. 65. O procedimento de apuração de irregularidade em entidade governamental e não-
governamental de atendimento ao idoso terá início mediante petição fundamentada de pessoa
interessada ou iniciativa do Ministério Público.
Art. 66. Havendo motivo grave, poderá a autoridade judiciária, ouvido o Ministério Público, decretar
liminarmente o afastamento provisório do dirigente da entidade ou outras medidas que julgar
adequadas, para evitar lesão aos direitos do idoso, mediante decisão fundamentada.
Art. 67. O dirigente da entidade será citado para, no prazo de 10 (dez) dias, oferecer resposta
escrita, podendo juntar documentos e indicar as provas a produzir.
Art. 68. Apresentada a defesa, o juiz procederá na conformidade do art. 69 ou, se necessário,
designará audiência de instrução e julgamento, deliberando sobre a necessidade de produção de
outras provas.
§ 1° Salvo manifestação em audiência, as partes e o Ministério Público terão 5 (cinco) dias para
oferecer alegações finais, decidindo a autoridade judiciária em igual prazo.
§ 2° Em se tratando de afastamento provisório ou definitivo de dirigente de entidade
governamental, a autoridade judiciária oficiará a autoridade administrativa imediatamente superior
ao afastado, fixando-lhe prazo de 24 (vinte e quatro) horas para proceder à substituição.
§ 3° Antes de aplicar qualquer das medidas, a autoridade judiciária poderá fixar prazo para a
remoção das irregularidades verificadas. Satisfeitas as exigências, o processo será extinto, sem
julgamento do mérito.

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§ 4° A multa e a advertência serão impostas ao dirigente da entidade ou ao responsável pelo
programa de atendimento.
TÍTULO V
DO ACESSO À JUSTIÇA
CAPÍTULO I
DISPOSIÇÕES GERAIS
Art. 69. Aplica-se, subsidiariamente, às disposições deste Capítulo, o procedimento sumário
previsto no Código de Processo Civil, naquilo que não contrarie os prazos previstos nesta Lei.
Art. 70. O Poder Público poderá criar varas especializadas e exclusivas do idoso.
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Art. 71. É assegurada prioridade na tramitação dos processos e procedimentos e na execução dos
atos e diligências judiciais em que figure como parte ou interveniente pessoa com idade igual ou
superior a 60 (sessenta) anos, em qualquer instância.
§ 1° O interessado na obtenção da prioridade a que alude este artigo, fazendo prova de sua idade,
requererá o benefício à autoridade judiciária competente para decidir o feito, que determinará as
providências a serem cumpridas, anotando-se essa circunstância em local visível nos autos do
processo.
§ 2° A prioridade não cessará com a morte do beneficiado, estendendo-se em favor do cônjuge
supérstite, companheiro ou companheira, com união estável, maior de 60 (sessenta) anos.
§ 3° A prioridade se estende aos processos e procedimentos na Administração Pública, empresas
prestadoras de serviços públicos e instituições financeiras, ao atendimento preferencial junto à
Defensoria Publica da União, dos Estados e do Distrito Federal em relação aos Serviços de
Assistência Judiciária.
§ 4° Para o atendimento prioritário será garantido ao idoso o fácil acesso aos assentos e caixas,
identificados com a destinação a idosos em local visível e caracteres legíveis.
CAPÍTULO II
DO MINISTÉRIO PÚBLICO
Art. 72. O inciso II do art. 275 da Lei n° 5.869, de 11 de janeiro de
1973, Código de Processo Civil, passa a vigorar acrescido da seguinte alínea h:
“Art. 275. ............................................................................
.........................................................................................
II – ..................................................................................
.........................................................................................

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h) em que for parte ou interveniente pessoa com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos.
.............................................................................”(NR)
Art. 73. As funções do Ministério Público, previstas nesta Lei, serão exercidas nos termos da
respectiva Lei Orgânica.
Art. 74. Compete ao Ministério Público:
I – instaurar o inquérito civil e a ação civil pública para a proteção dos direitos e interesses difusos
ou coletivos, individuais indisponíveis e individuais homogêneos do idoso;
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II – promover e acompanhar as ações de alimentos, de interdição total ou parcial, de designação
de curador especial, em circunstâncias que justifiquem a medida e oficiar em todos os feitos em
que se discutam os direitos de idosos em condições de risco;
III – atuar como substituto processual do idoso em situação de risco, conforme o disposto no art.
43 desta Lei;
IV – promover a revogação de instrumento procuratório do idoso, nas hipóteses previstas no art. 43
desta Lei, quando necessário ou o interesse público justificar;
V – instaurar procedimento administrativo e, para instruí-lo:
a) expedir notificações, colher depoimentos ou esclarecimentos e, em caso de não
comparecimento injustificado da pessoa notificada, requisitar condução coercitiva, inclusive pela
Polícia Civil ou Militar;
b) requisitar informações, exames, perícias e documentos de autoridades municipais, estaduais e
federais, da administração direta e indireta, bem como promover inspeções e diligências
investigatórias;
c) requisitar informações e documentos particulares de instituições privadas;
VI – instaurar sindicâncias, requisitar diligências investigatórias e a instauração de inquérito
policial, para a apuração de ilícitos ou infrações às normas de proteção ao idoso;
VII – zelar pelo efetivo respeito aos direitos e garantias legais assegurados ao idoso, promovendo
as medidas judiciais e extrajudiciais cabíveis;
VIII – inspecionar as entidades públicas e particulares de atendimento e os programas de que trata
esta Lei, adotando de pronto as medidas administrativas ou judiciais necessárias à remoção de
irregularidades porventura verificadas;
IX – requisitar força policial, bem como a colaboração dos serviços de saúde, educacionais e de
assistência social, públicos, para o desempenho de suas atribuições;
X – referendar transações envolvendo interesses e direitos dos idosos previstos nesta Lei.

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§ 1° A legitimação do Ministério Público para as ações cíveis previstas neste artigo não impede a
de terceiros, nas mesmas hipóteses, segundo dispuser a lei.
§ 2° As atribuições constantes deste artigo não excluem outras, desde que compatíveis com a
finalidade e atribuições do Ministério Público.
§ 3° O representante do Ministério Público, no exercício de suas funções, terá livre acesso a toda
entidade de atendimento ao idoso.
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Art. 75. Nos processos e procedimentos em que não for parte, atuará obrigatoriamente o Ministério
Público na defesa dos direitos e interesses de que cuida esta Lei, hipóteses em que terá vista dos
autos depois das partes, podendo juntar documentos, requerer diligências e produção de outras
provas, usando os recursos cabíveis.
Art. 76. A intimação do Ministério Público, em qualquer caso, será feita pessoalmente.
Art. 77. A falta de intervenção do Ministério Público acarreta a nulidade do feito, que será
declarada de ofício pelo juiz ou a requerimento de qualquer interessado.
CAPÍTULO III
DA PROTEÇÃO JUDICIAL DOS INTERESSES DIFUSOS, COLETIVOS E
INDIVIDUAIS INDISPONÍVEIS OU HOMOGÊNEOS
Art. 78. As manifestações processuais do representante do Ministério Público deverão ser
fundamentadas.
Art. 79. Regem-se pelas disposições desta Lei as ações de responsabilidade por ofensa aos
direitos assegurados ao idoso, referentes à omissão ou ao oferecimento insatisfatório de:
I – acesso às ações e serviços de saúde;
II – atendimento especializado ao idoso portador de deficiência ou com limitação incapacitante;
III – atendimento especializado ao idoso portador de doença infecto-contagiosa;
IV – serviço de assistência social visando ao amparo do idoso.
Parágrafo único. As hipóteses previstas neste artigo não excluem da proteção judicial outros
interesses difusos, coletivos, individuais indisponíveis ou homogêneos, próprios do idoso,
protegidos em lei.
Art. 80. As ações previstas neste Capítulo serão propostas no foro do domicílio do idoso, cujo juízo
terá competência absoluta para processar a causa, ressalvadas as competências da Justiça
Federal e a competência originária dos Tribunais Superiores.
Art. 81. Para as ações cíveis fundadas em interesses difusos, coletivos, individuais indisponíveis
ou homogêneos, consideram-se legitimados, concorrentemente:

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I – o Ministério Público;
II – a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios;
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III – a Ordem dos Advogados do Brasil;
IV – as associações legalmente constituídas há pelo menos 1 (um) ano e que incluam entre os fins
institucionais a defesa dos interesses e direitos da pessoa idosa, dispensada a autorização da
assembléia, se houver prévia autorização estatutária.
§ 1° Admitir-se-á litisconsórcio facultativo entre os Ministérios Públicos da União e dos Estados na
defesa dos interesses e direitos de que cuida esta Lei.
§ 2° Em caso de desistência ou abandono da ação por associação legitimada, o Ministério Público
ou outro legitimado deverá assumir a titularidade ativa.
Art. 82. Para defesa dos interesses e direitos protegidos por esta Lei, são admissíveis todas as
espécies de ação pertinentes.
Parágrafo único. Contra atos ilegais ou abusivos de autoridade pública ou agente de pessoa
jurídica no exercício de atribuições de Poder Público, que lesem direito líquido e certo previsto
nesta Lei, caberá ação mandamental, que se regerá pelas normas da lei do mandado de
segurança.
Art. 83. Na ação que tenha por objeto o cumprimento de obrigação de fazer ou não-fazer, o juiz
concederá a tutela específica da obrigação ou determinará providências que assegurem o
resultado prático equivalente ao adimplemento.
§ 1° Sendo relevante o fundamento da demanda e havendo justificado receio de ineficácia do
provimento final, é lícito ao juiz conceder a tutela liminarmente ou após justificação prévia, na forma
do art. 273 do Código de Processo Civil.
§ 2° O juiz poderá, na hipótese do § 1º ou na sentença, impor multa diária ao réu,
independentemente do pedido do autor, se for suficiente ou compatível com a obrigação, fixando
prazo razoável para o cumprimento do preceito.
§ 3° A multa só será exigível do réu após o trânsito em julgado da sentença favorável ao autor,
mas será devida desde o dia em que se houver configurado.
Art. 84. Os valores das multas previstas nesta Lei reverterão ao Fundo do Idoso, onde houver, ou
na falta deste, ao Fundo Municipal de Assistência Social, ficando vinculados ao atendimento ao
idoso.

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Parágrafo único. As multas não recolhidas até 30 (trinta) dias após o trânsito em julgado da
decisão serão exigidas por meio de execução promovida pelo Ministério Público, nos mesmos
autos, facultada igual iniciativa aos demais legitimados em caso de inércia daquele.
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Art. 85. O juiz poderá conferir efeito suspensivo aos recursos, para evitar dano irreparável à parte.
Art. 86. Transitada em julgado a sentença que impuser condenação ao Poder Público, o juiz
determinará a remessa de peças à autoridade competente, para apuração da responsabilidade civil
e administrativa do agente a que se atribua a ação ou omissão.
Art. 87. Decorridos 60 (sessenta) dias do trânsito em julgado da sentença condenatória favorável
ao idoso sem que o autor lhe promova a execução, deverá fazê-lo o Ministério Público, facultada,
igual iniciativa aos demais legitimados, como assistentes ou assumindo o pólo ativo, em caso de
inércia desse órgão.
Art. 88. Nas ações de que trata este Capítulo, não haverá adiantamento de custas, emolumentos,
honorários periciais e quaisquer outras despesas.
Parágrafo único. Não se imporá sucumbência ao Ministério Público.
Art. 89. Qualquer pessoa poderá, e o servidor deverá, provocar a iniciativa do Ministério Público,
prestando-lhe informações sobre os fatos que constituam objeto de ação civil e indicando-lhe os
elementos de convicção.
Art. 90. Os agentes públicos em geral, os juízes e tribunais, no exercício de suas funções, quando
tiverem conhecimento de fatos que possam configurar crime de ação pública contra idoso ou
ensejar a propositura de ação para sua defesa, devem encaminhar as peças pertinentes ao
Ministério Público, para as providências cabíveis.
Art. 91. Para instruir a petição inicial, o interessado poderá requerer às autoridades competentes
as certidões e informações que julgar necessárias, que serão fornecidas no prazo de 10 (dez) dias.
Art. 92. O Ministério Público poderá instaurar sob sua presidência, inquérito civil, ou requisitar, de
qualquer pessoa, organismo público ou particular, certidões, informações, exames ou perícias, no
prazo que assinalar, o qual não poderá ser inferior a 10 (dez) dias.
§ 1° Se o órgão do Ministério Público, esgotadas todas as diligências, se convencer da inexistência
de fundamento para a propositura da ação civil ou de peças informativas, determinará o seu
arquivamento, fazendo-o fundamentadamente.
§ 2° Os autos do inquérito civil ou as peças de informação arquivados serão remetidos, sob pena
de se incorrer em falta grave, no prazo de 3 (três) dias, ao Conselho Superior do Ministério Público
ou à Câmara de Coordenação e Revisão do Ministério Público.

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§ 3° Até que seja homologado ou rejeitado o arquivamento, pelo Conselho Superior do Ministério
Público ou por Câmara de Coordenação e Revisão do Ministério Público, as associações
legitimadas poderão apresentar razões escritas ou documentos, que serão juntados ou anexados
às peças de informação.
§ 4° Deixando o Conselho Superior ou a Câmara de Coordenação e Revisão do Ministério Público
de homologar a promoção de arquivamento, será designado outro membro do Ministério Público
para o ajuizamento da ação.
TÍTULO VI
DOS CRIMES
CAPÍTULO I
DISPOSIÇÕES GERAIS
Art. 93. Aplicam-se subsidiariamente, no que couber, as disposições da Lei n° 7.347, de 24 de
julho de 1985.
Art. 94. Aos crimes previstos nesta Lei, cuja pena máxima privativa de liberdade não ultrapasse 4
(quatro) anos, aplica-se o procedimento previsto na Lei n° 9.099, de 26 de setembro de 1995, e,
subsidiariamente, no que couber, as disposições do Código Penal e do Código de Processo Penal.
CAPÍTULO II
DOS CRIMES EM ESPÉCIE
Art. 95. Os crimes definidos nesta Lei são de ação penal pública incondicionada, não se lhes
aplicando os arts. 181 e 182 do Código Penal.
Art. 96. Discriminar pessoa idosa, impedindo ou dificultando seu acesso a operações bancárias,
aos meios de transporte, ao direito de contratar ou por qualquer outro meio ou instrumento
necessário ao exercício da cidadania, por motivo de idade: Pena – Reclusão de 6 (seis) meses a 1
(um) ano e multa.
§ 1° Na mesma pena incorre quem desdenhar, humilhar, menosprezar ou discriminar pessoa
idosa, por qualquer motivo.
§ 2° A pena será aumentada de 1/3 (um terço) se a vítima se encontrar sob os cuidados ou
responsabilidade do agente.
Art. 97. Deixar de prestar assistência ao idoso, quando possível fazê-lo sem risco pessoal, em
situação de iminente perigo, ou recusar, retardar ou dificultar sua assistência à saúde, sem justa
causa, ou não pedir, nesses casos, o socorro de autoridade pública:
Pena – detenção de 6 (seis) meses a 1 (um) ano e multa.

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Parágrafo único. A pena é aumentada de metade, se da omissão resulta lesão corporal de
natureza grave, e triplicada, se resulta a morte.
Art. 98. Abandonar o idoso em hospitais, casas de saúde, entidades de longa permanência, ou
congêneres, ou não prover suas necessidades básicas, quando obrigado por lei ou mandado:
Pena – detenção de 6 (seis) meses a 3 (três) anos e multa.
Art. 99. Expor a perigo a integridade e a saúde, física ou psíquica, do idoso, submetendo-o a
condições desumanas ou degradantes ou privando-o de alimentos e cuidados indispensáveis,
quando obrigado a fazê-lo, ou sujeitando-o a trabalho excessivo ou inadequado: Pena – detenção
de 2 (dois) meses a 1 (um) ano e multa.
§ 1° Se do fato resulta lesão corporal de natureza grave:
Pena – reclusão de 1 (um) a 4 (quatro) anos.
§ 2° Se resulta a morte: Pena – reclusão de 4 (quatro) a 12 (doze) anos.
Art. 100. Constitui crime punível com reclusão de (seis) meses a 1 (um) ano e multa:
I – obstar o acesso de alguém a qualquer cargo público por motivo de idade;
II – negar a alguém, por motivo de idade, emprego ou trabalho;
III – recusar, retardar ou dificultar atendimento ou deixar de prestar assistência à saúde, sem justa
causa, a pessoa idosa;
IV – deixar de cumprir, retardar ou frustrar, sem justo motivo, a execução de ordem judicial
expedida na ação civil a que alude esta Lei;
V – recusar, retardar ou omitir dados técnicos indispensáveis à propositura da ação civil objeto
desta Lei, quando requisitados pelo Ministério Público.
Art. 101. Deixar de cumprir, retardar ou frustrar, sem justo motivo, a execução de ordem judicial
expedida nas ações em que for parte ou interveniente o idoso:
Pena – detenção de 6 (seis) meses a 1 (um) ano e multa.
Art. 102. Apropriar-se de ou desviar bens, proventos, pensão ou qualquer outro rendimento do
idoso, dando-lhes aplicação diversa da de sua finalidade:
25
Pena – reclusão de 1 (um) a 4 (quatro) anos e multa.
Art. 103. Negar o acolhimento ou a permanência do idoso, como abrigado, por recusa deste em
outorgar procuração à entidade de atendimento: Pena – detenção de 6 (seis) meses a 1 (um) ano
e multa.

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Art. 104. Reter o cartão magnético de conta bancária relativa a benefícios, proventos ou pensão do
idoso, bem como qualquer outro documento com objetivo de assegurar recebimento ou
ressarcimento de dívida:
Pena – detenção de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos e multa.
Art. 105. Exibir ou veicular, por qualquer meio de comunicação, informações ou imagens
depreciativas ou injuriosas à pessoa do idoso: Pena – detenção de 1 (um) a 3 (três) anos e multa.
Art. 106. Induzir pessoa idosa sem discernimento de seus atos a outorgar procuração para fins de
administração de bens ou deles dispor
livremente: Pena – reclusão de 2 (dois) a 4 (quatro) anos.
Art. 107. Coagir, de qualquer modo, o idoso a doar, contratar, testar ou outorgar procuração: Pena
– reclusão de 2 (dois) a 5 (cinco) anos.
Art. 108. Lavrar ato notarial que envolva pessoa idosa sem discernimento de seus atos, sem a
devida representação legal: Pena – reclusão de 2 (dois) a 4 (quatro) anos.
TÍTULO VII
DISPOSIÇÕES FINAIS E TRANSITÓRIAS
Art. 109. Impedir ou embaraçar ato do representante do Ministério Público ou de qualquer outro
agente fiscalizador: Pena – reclusão de 6 (seis) meses a 1 (um) ano e multa.
Art. 110. O Decreto-Lei n° 2.848, de 7 de dezembro de 1940, Código Penal, passa a vigorar com
as seguintes alterações:
“Art. 61. .........................................................................
....................................................................................
II - ..............................................................................
....................................................................................
26
h) contra criança, maior de 60 (sessenta) anos, enfermo ou mulher grávida;
..........................................................................” (NR)
“Art. 121. ........................................................................
.....................................................................................
§ 4° No homicídio culposo, a pena é aumentada de 1/3 (um terço), se o crime resulta de
inobservância de regra técnica de profissão, arte ou ofício, ou se o agente deixa de prestar
imediato socorro à vítima, não procura diminuir as conseqüências do seu ato, ou foge para evitar
prisão em flagrante. Sendo doloso o homicídio, a pena é aumentada de 1/3 (um terço) se o crime é
praticado contra pessoa menor de 14 (quatorze) ou maior de 60 (sessenta) anos.

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.....................................................................” (NR)
“Art. 133. .......................................................................
....................................................................................
§ 3° ............................................................................
....................................................................................
III – se a vítima é maior de 60 (sessenta) anos.”(NR)
“Art. 140. ......................................................................
...................................................................................
§ 3° Se a injúria consiste na utilização de elementos referentes a raça, cor, etnia, religião, origem
ou a condição de pessoa idosa ou portadora de deficiência:
........................................................................” (NR)
“Art. 141. ......................................................................
...................................................................................
IV – contra pessoa maior de 60 (sessenta) anos ou portadora de deficiência, exceto no caso de
injúria.
........................................................................” (NR)
“Art. 148. .....................................................................
..................................................................................
§ 1° ..........................................................................
I – se a vítima é ascendente, descendente, cônjuge do agente ou maior de 60 (sessenta) anos.
27
.......................................................................” (NR)
“Art. 159. ....................................................................
..................................................................................
§ 1° Se o seqüestro dura mais de 24 (vinte e quatro) horas, se o seqüestrado é menor de 18
(dezoito) ou maior de 60 (sessenta) anos, ou se o crime é cometido por bando ou quadrilha.
........................................................................” (NR)
“Art. 183. ....................................................................
.................................................................................
III – se o crime é praticado contra pessoa com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos.”(NR)
“Art. 244. Deixar, sem justa causa, de prover a subsistência do cônjuge, ou de filho menor de 18
(dezoito) anos ou inapto para o trabalho, ou de ascendente inválido ou maior de 60 (sessenta)
anos, não lhes proporcionando os recursos necessários ou faltando ao pagamento de pensão

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alimentícia judicialmente acordada, fixada ou majorada; deixar, sem justa causa, de socorrer
descendente ou ascendente, gravemente enfermo:
.....................................................................” (NR)
Art. 111. O art. 21 do Decreto-Lei n° 3.688, de 3 de outubro de 1941,
Lei das Contravenções Penais, passa a vigorar acrescido do seguinte parágrafo
único:
“Art. 21. ........................................................................
...................................................................................
Parágrafo único. Aumenta-se a pena de 1/3 (um terço) até a metade se a vítima é maior de 60
(sessenta) anos.”(NR)
Art. 112. O inciso II do § 4° do art. 1° da Lei n° 9.455, de 7 de abril de 1997, passa a vigorar com a
seguinte redação:
“Art. 1° ...........................................................................
.....................................................................................
§ 4° .............................................................................
II – se o crime é cometido contra criança, gestante, portador de deficiência, adolescente ou maior
de 60 (sessenta) anos;
28
........................................................................” (NR)
Art. 113. O inciso III do art. 18 da Lei n° 6.368, de 21 de outubro de 1976, passa a vigorar com a
seguinte redação:
“Art. 18. .........................................................................
....................................................................................
III – se qualquer deles decorrer de associação ou visar a menores de 21 (vinte e um) anos ou a
pessoa com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos ou a quem tenha, por qualquer causa,
diminuída ou suprimida a capacidade de discernimento ou de autodeterminação:
........................................................................” (NR)
Art. 114. O art. 1° da Lei n° 10.048, de 8 de novembro de 2000, passa a vigorar com a seguinte
redação:
“Art. 1° As pessoas portadoras de deficiência, os idosos com idade igual ou superior a 60
(sessenta) anos, as gestantes, as lactantes e as pessoas acompanhadas por crianças de colo
terão atendimento prioritário, nos termos desta Lei.”(NR)

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Art. 115. O Orçamento da Seguridade Social destinará ao Fundo Nacional de Assistência Social,
até que o Fundo Nacional do Idoso seja criado, os recursos necessários, em cada exercício
financeiro, para aplicação em programas e ações relativos ao idoso.
Art. 116. Serão incluídos nos censos demográficos dados relativos à população idosa do País.
Art. 117. O Poder Executivo encaminhará ao Congresso Nacional projeto de lei revendo os
critérios de concessão do Benefício de Prestação Continuada previsto na Lei Orgânica da
Assistência Social, de forma a garantir que o acesso ao direito seja condizente com o estágio de
desenvolvimento socioeconômico alcançado pelo País.
Art. 118. Esta Lei entra em vigor decorridos 90 (noventa) dias da sua publicação, ressalvado o
disposto no caput do art. 36, que vigorará a partir de 1° de janeiro de 2004.

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