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PSICODIAGNÓSTICO - 2011
ARZENO
Luciana Lamarca
Finalidades:
1. Diagnóstico: não “colocar” um rótulo, mas explicar o que ocorre além do que o
paciente pode descrever conscientemente. Para um diagnóstico correto devemos
associar a entrevista clínica a testes, principalmente os padronizados, pois dão uma
margem de segurança maior. A relação de transferência-contratransferência dada pelo
processo de psicodiagnóstico pode ser útil para prever como será o vínculo terapêutico
futuro.
2. Avaliação do tratamento: re-testes. É feito para apreciar os avanços terapêuticos de
forma mais objetiva e também para planejar uma alta; descobrir os motivos de impasse
num tratamento, ou ainda quando ocorre disparidade de opiniões entre terapeuta e
paciente (como o fim do tratamento, por exemplo). Obs.: Em qualquer dos casos, o
psicodiagnóstico com essa finalidade de avaliar o andamento do tratamento é feito por
outro psicólogo.
3. Como meio de comunicação: favorecer a tomada de insight, ou seja, contribuir para que
se adquira a consciência de sofrimento suficiente para aceitar cooperar na consulta e
provocar perda de certas inibições, possibilitando, assim, um comportamento mais
natural.
4. Na investigação: dois objetivos: a criação de novos instrumentos de exploração da
personalidade (validação de testes) e o de planejar investigação para o estudo de uma
determinada patologia, algum problema trabalhista, educacional ou forense.
O Psicodiagnóstico inclui, além das entrevistas iniciais, os testes, a hora de jogo com
crianças, entrevistas familiares, vinculares. As conclusões serão discutidas com o
interessado e a família, conforme o caso.
Os testes realizados individualmente são reservados para a entrevista de devolução
individual. Porém o que for feito e conversado entre todos pode ser mostrado ou assinalado
para exemplificar algum conflito que os consultantes minimizam ou negam.
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A concepção de personalidade está embasada na teoria psicanalítica, portanto tendo
aspectos conscientes e inconscientes, uma dinâmica interna, com ansiedades básicas que
mobilizam defesas mais primitivas e mais evoluídas (M. Klein), com uma configuração
única para cada pessoa, com um nível de inteligência que pode ou não ter interferências
emocionais, com impulsos mais ou menos intensos com maior ou menor controle, com a
luta de vida e morte pela primazia do ego, com sadismo e masoquismos sempre presentes
em diferentes escalas, com narcisismo, com estruturas de base variáveis conforme a
organização; além da importância dos fatores hereditários e constitutivos. O contexto
sociocultural e familiar deve ocupar um lugar importante no estudo da personalidade de um
indivíduo.
Antes de iniciar a tarefa, o psicólogo deve esclarecer com o consultante qual o
motivo manifesto do estudo e intuir qual o latente.
1. Do momento que o consultante faz a solicitação da consulta até o encontro pessoal com
o profissional
2. Nas primeiras entrevistas: motivos manifesto e latente, as ansiedades e defesas, fantasia
de doença, cura e análise e a construção da história do indivíduo e da família em
questão.
3. Hipóteses iniciais e instrumentos a serem utilizados
4. Realização da estratégia diagnóstica planejada
5. Estudo do material colhido
6. Entrevista de devolução: uma ou várias; com o indivíduo e com a família. - “Consiste
em transmitir os resultados do psicodiagnóstico de forma discriminada, organizada e
dosada segundo o destinatário. Também a linguagem verbal, gráfica ou lúdica deve ser
apropriada ao mesmo para que seja clara e adequadamente compreendida” (Arzeno,
1995, p. 196).
7. Elaboração do informe psicológico (laudo), se solicitado: para Arzeno, “consiste no
resumo das conclusões diagnósticas e prognósticas do caso estudado e que inclui muitas
vezes as recomendações terapêuticas adequadas ao mesmo” (p. 203).
O enquadre varia de acordo com o enfoque teórico que serve como marco
referencial predominante para o profissional, conforme a sua formação, suas características
pessoais e também conforme as características do consultante (a idade ou o grau de
patologia nos obrigam a adaptar o enquadre a cada caso).
“É impossível trabalhar sem um enquadre, mas não existe um único enquadre” (p.
17).
A primeira entrevista nos dá subsídios que facilitam a escolha do enquadre. Este
inclui não somente o modo de formulação do trabalho, mas também o objetivo do mesmo, a
frequência dos encontros, o lugar, os horários, os honorários e, principalmente o papel que
cabe a cada um.
Segundo Bleger, “o enquadre seria o fundo ou a base, e o processo analítico
(psicodiagnóstico), a imagem do que, unindo ambos os conceitos (enquadre e processo)
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configuraria a situação analítica. O enquadre seria o fator constante, o que não é processo.
O processo seria aquilo que é variável, o que se modifica” (Citado por Arzeno, p. 19).
Motivo da consulta
Durante a primeira entrevista o paciente deve expor o que acontece com ele e
esclarecer por que deseja se consultar → motivo manifesto. Ao longo do processo podem
ser descobertos outros motivos subjacentes, latentes e geralmente inconscientes, dos quais
se deverá falar de forma mais ampla possível.
Sintoma
O sintoma apresenta:
Um aspecto fenomenológico
Um aspecto dinâmico – conflito egóico: desejo insciente que entra em oposição
a uma proibição superegóica
Um benefício secundário
Um significado no contexto familiar
Fracasso ou rompimento do equilíbrio intrapsíquico prévio
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É o primeiro passo do processo psicodiagnóstico e deve reunir certos requisitos para
cobrir seus objetivos: no começo ser leve, não direcionada, de forma que possibilite a
investigação do papel que cada um dos pais desempenha, entre eles e conosco; o papel que
cada um parece desempenhar com o filho, a fantasia que cada um traz sobre o filho; a
fantasia de doença e cura que cada um tem; a distância entre o motivo manifesto e o latente
da consulta; o grau de colaboração ou resistência junto ao profissional, etc. → elementos
verbais e não verbais; gesticulações, lapsos, ações; comentários sobre o espaço e
profissional; queixas; pontualidade; contratransferência.
Situações a serem exploradas na primeira entrevista: motivo da consulta, sintomas
(manifesto e latente, histórico do sintoma, aspectos fenomenológico e dinâmico, ganho
secundário, análise a nível individual e familiar), fantasias de doença e cura.
A primeira entrevista em psicodiagnóstico deve ser livre em seu começo (psicólogo
como observador, com um papel de não-intervenção ativa) e dirigida num segundo
momento, com o objetivo de elaborar uma história clínica completa do paciente. O contrato
de trabalho também deve ser estabelecido na primeira entrevista.
É importante detectar na primeira entrevista o nível de angústia de consultante e
seus familiares, se há preocupação, tristeza com o que está ocorrendo ou se há negação
parcial ou total da importância do conflito. Em um processo diagnóstico é fundamental
trabalhar com um nível de ansiedade instrumental, ou seja, saudável.
Arzeno lembra que, como o referencial de trabalho é o psicanalítico, estamos desde
o início incluindo aspectos transferenciais da relação do paciente ou dos pais conosco e
contratransferenciais, mesmo se não os verbalizamos.
A atitude do profissional de psicodiagnóstico → duplo papel, atitude composta:
deve ser ao mesmo tempo plástica, aberta, permeável e concretamente precisa e
centralizada em um objetivo que não devemos ignorar ou perder de vista em momento
algum.
“Se a primeira entrevista cumpriu sua finalidade, terminaremos a mesma com:
Uma imagem do conflito central e seus derivados
Uma história da vida do paciente e da situação desencadeadora
Alguma hipótese inicial sobre o motivo profundo do conflito
Uma estratégia para usar determinados instrumentos diagnósticos” (p.35)
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A fantasia inconsciente de análise: aquilo que o sujeito concebe inconscientemente
como método para obter aquilo que a sua fantasia de cura coloca como solução de seus
conflitos
O romance familiar: com seus mitos, segredos e tradições.
Arzeno recorre ao esquema freudiano, utilizando o mesmo como um guia ideal para
saber quais as informações que devem ser colhidas nas entrevistas iniciais e posteriores:
Recursos que o psicólogo dispõe para registrar o que é necessário desde a primeira
entrevista: comunicação verbal, não-verbal e registro contratransferencial.
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Cap. 7: Seleção da Bateria de Testes e a Sua Sequência
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Cap. 9: Os Testes Projetivos Gráficos
Enquadre:
Interpretação:
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Cap. 10: O Questionário Desiderativo
Instrução:
O que mais gostaria de ser se não fosse uma pessoa? Por quê?
O que mais? Por quê? (Tomam-se três escolhas correspondentes ao reino
animal, ao reino vegetal e algo inanimado).
Agora vamos pensar em algo bem ao contrário, o que menos gostaria de ser?
Por quê? (Registram-se outras três escolhas).
Critérios de interpretação:
Esse teste deixa o sujeito numa situação ambivalente. Por um lado o enfrenta com a
sua finitude, com a morte, com a castração. Por outro lado, permite-lhe brincar com sua
fantasia onipotente de ressurreição e eternidade.
Nas escolhas positivas aparecem a maior ou menor força do ego e, nas negativas, os
pontos fracos ou os aspectos não desejados contra os quais deve lutar.
As catexias positivas também podem ser interpretadas como as defesas que o Eu
usa, e as negativas, como o preço que o Eu deve pagar por usá-las.
O mecanismo de defesa básico é a identificação projetiva, além de dissociação,
deslocamento, defesa maníaca (negação da morte).
Fundamentação teórica:
Hipóteses de trabalho:
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1. A forma de instrução do teste funciona como produtora de uma ferida narcisística ao Eu
do sujeito. A mensagem faz referência, de maneira encoberta, à finitude e
vulnerabilidade da vida e à possibilidade de precisar renunciar ao que é ou ao que
gostaria de ser.
2. Por outro lado, a alternativa que o teste apresenta nas três primeiras colocações (+)
remetem, por um lado, a possibilidade de pôr em algo ou em alguém o seu Ego Ideal; e
por outro a de escolher um objeto que sintetize ou represente o que a pessoa sente que
lhe faz falta para ser completa, fantasia de perfeição. Mobilização da angústia de
castração.
3. Paralelamente, mostra nas escolhas negativas os objetos e qualidade dos objetos aos que
deve renunciar para manter o narcisismo necessário para sobreviver.
4. A estrutura da sequência permite indagar na escala de valores do paciente do extremo
superior (Ego Ideal) até as áreas inferiores (Ego Ideal Negativo).
Inferência de indicadores:
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T.A.T.: elementos mais nitidamente estruturados, portanto mais passível de ser
afetado pelos fatores históricos e socioculturais; lâminas de conteúdo agressivo explícito;
figuras que aparecem em atitude de evidente movimento.
Partes sadias, adultas ou não regressivas do ego que devem estar presentes para
facilitar a aliança terapêutica sadia:
a) Motivação para algo mais que a cura sintomática – pode ser detectado no conteúdo das
histórias. A natureza do conflito e o seu desenlace fantasiado indicarão a presença de
esperança em soluções realistas ou, pelo contrário, em saídas mágicas, rápidas, que não
impliquem a necessidade de pensar nem sofrer demais.
b) Capacidade para tolerar frustração – o conteúdo das histórias é o primeiro indicador. Há
também a conduta do sujeito durante a administração do teste e no inquérito: pode
mostrar um comportamento de muita irritação, evitá-lo ou negar-se a responder.
c) Capacidade para tolerar ansiedades e não ser invadido por elas e para manter uma
regressão estável – comparar a produção das três séries. Na série A aparece o que é
mais agressivo; na B o mais maduro e evoluído do Ego; e na C é possível apreciar as
reações emocionais e a capacidade de tolerar impulsos sem derivá-los imediatamente à
ação.
d) Habilidade para manter o pensamento do processo secundário – o estilo verbal usado
pelo sujeito nos dá informação sobre este aspecto. O senso de realidade, a percepção do
estímulo (banal ou não), o predomínio de soluções lógicas sobre as mágicas.
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O Phillipson não é um teste de inteligência, mas pode-se inferir algo sobre ela,
indiretamente: a partir das histórias se triviais, pobres e desinteressantes ou interessantes,
originais e ricas. Lembrando que pode haver interferências emocionais sobre a inteligência.
O conteúdo das histórias; o conflito que se espera que o sujeito coloque é tão
importante quanto e desenlace que ele escolher.
Objetivo: “explorar através das diferentes situações apresentadas por cada lâmina,
nas quais se pode refletir algum conflito, as ansiedades que o mesmo desperta, as defesas
com as quais tenta enfrentá-lo e a solução que propõe...quando consegue” (p. 165).
Quando todas as lâminas despertam o mesmo tipo de reação desviada da resposta
popular podemos pensar que a patologia é mais estrutural, ou seja, que afeta toda a
personalidade, todo aparelho psíquico e todos os vínculos do sujeito.
No entanto, quando algum desvio da resposta popular aparece em alguma ou
algumas lâminas e não em todas, pensamos mais num conflito neurótico que está instalado
no aparelho psíquico, mas que não afeta a estrutura fundamental da personalidade nem os
outros vínculos do sujeito.
Síntese introdutória:
1. O sintoma da criança é o emergente de um sistema intrapsíquico que está, por sua vez,
inserido no esquema familiar também doente, com a sua própria economia e dinâmica;
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2. As hipóteses originadas nas entrevistas com o casal e naquela com o filho devem ser
consideradas provisórias até serem comparadas com as que aparecem na entrevista
familiar;
3. Quanto menor a criança, mais importante será considerar esta recomendação, pois ela
está em pleno processo de formação e em estreita e direta dependência emocional de
seus pais;
4. Quanto mais grave for a hipótese diagnóstica, mais necessária será a entrevista familiar;
5. Propicia condutas observáveis para os pais, a criança e o profissional, que podem ser
tomadas como ponto de referência na devolução do diagnóstico;
6. Oferece elementos muito valiosos para decidir qual estratégia terapêutica que será
recomendada na entrevista de devolução
7. Em alguns casos pode dar indicadores para contraindicar o tratamento analítico
individual: quando não se vislumbra a possibilidade de modificação da patologia
familiar e principalmente se esta for severa; ou quando a melhora do filho poderia trazer
associada a descompensação de outro membro do grupo familiar; ou quando o filho
atravessar uma crise evolutiva que obrigue os pais a reviverem essa etapa; ou quando os
pais mantem e reforçam inconscientemente a sintomatologia do filho, porque isso lhes
proporciona um importante benefício secundário.
Início com uma entrevista com os pais – estes serão informados que deverão
comparecer uma vez todos juntos e que a criança deverá comparecer duas vezes
sozinha para aplicação de testes.
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O número de entrevistas vais depender da clareza com que seja possível extrair
material significativo – mas não é aconselhável estender demais.
Psicólogo: observador não participante
Lugar: levar em conta o número e idade dos participantes – espaço deve permitir
deslocamento confortável para que possa haver interação lúdica e não só verbal.
O importante é que o psicólogo consiga uma boa integração de tudo o que foi
registrado, incluindo o registro contratransferencial, suas associações e intuição.
O estudo do material consiste fundamentalmente na busca de recorrências e
convergências. Isso significa que aparecem “constelações simbólicas” que se repetem e que
são complementárias com outras.
A autora observa que o profissional que desempenha a tarefa do psicodiagnóstico
deve conhecer psicopatologia, psicologia geral, psicologia evolutiva, ter noções de
psiquiatria, domínio das técnicas projetivas e da psicanálise.
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A um colega, professor, advogado, empresário, médicos em geral, aos pais.
Área clínica:
* A autora fala ainda das áreas forense, trabalhista e psicopedagógica (p. 242 a 251),
que entendemos não ser o nosso foco.
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1) O Teste Desiderativo deixa o sujeito numa situação ambivalente. É correto afirmar que
o que está em jogo é:
a) luto renascimento
b) castração negação da morte
c) finitude, melancolia mania e onipotência
d) castração, morte fantasia de ressurreição e eternidade *
3) Segundo Arzeno, 1995, como deve ser estruturada a(s) entrevista(s) inicial?
a) livre em seu começo e dirigida num segundo momento*
b) sempre dirigida para obtenção de dados completos
c) livre, utilizando outras técnicas, como os testes para completar as informações
d) dirigida em seu começo e, com a formação do vínculo, mais livre num segundo
momento
5) Segundo Cunha, 1993, qual a função mais importante do psicólogo num Processo de
Psicodiagnóstico?
a) estar consciente de seus recursos internos e das técnicas usadas, assegurando assim,
um bom vínculo
b) estar atento às suas condições internas, as reações do paciente e a qualidade do
vínculo que se cria *
c) estar atento e alerta, exclusivamente, às comunicações e reações do paciente
d) deter-se com primor nos instrumentos utilizados podendo, então, não se preocupar
tanto com o sujeito em questão
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d) momento vital do sujeito, capacidade de tolerar frustração e idade
10) Segundo Arzeno, 1995, quando devemos incluir a entrevista familiar diagnóstica no
psicodiagnóstico infantil?
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