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A BÍBLIA E A SEXUALIDADE HUMANA

UMA BREVE ANÁLISE DAS ESCRITURAS SAGRADAS

Ademar Amaral*

Introdução
Muitas áreas do conhecimento têm dado sua contribuição para o entendimento da sexualidade
humana. A proposta deste texto é fazer uma reflexão sobre o que as Escrituras Sagradas dizem a
respeito da sexualidade humana, afinal, a Bíblia diz que Deus é o criador do mundo (Gn 1.1, Is
40.26), Ele criou a espécie humana, nos dotou com a capacidade de amar, Ele conhece de maneira
profunda o funcionamento de cada parte do nosso corpo, “até os cabelos da nossa cabeça estão
contados” (Mt 10.30), sabe o que sentimos e pensamos (Sl 139.23). A Bíblia é a Palavra de Deus,
por isso vamos a ela para descobrir o que tem revelado sobre a sexualidade humana.

1. A Bíblia e a criação dos gêneros


A Bíblia diz que “Deus criou o ser humano à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e
mulher os criou. E Deus os abençoou e lhes disse: — Sejam fecundos, multipliquem-se” (Gn 1.27,
28). Ao terminar a criação é relatado que “Deus viu tudo o que havia feito, e eis que era muito
bom” (Gn 1.31), o ser humano foi criado perfeito por Deus, para viver uma vida plena e ter
felicidade completa. Ao criar o ser humano Deus estabeleceu um padrão, Ele criou um homem e
uma mulher, dois gêneros que se completam para que sejam fecundos e multipliquem-se.

Deus criou todos os animais com diferenças sexuais para que se multipliquem, vemos isso
subentendido na benção da fertilidade mencionada em Gn 1.22. É interessante notar que é
apenas na criação do ser humano que é mencionada essa diferença entre homem e mulher, antes
essa diferença não estava explícita. “Essa razão talvez venha do fato de que apenas no ser
humano a dualidade de sexos encontra expressão na instituição do santo matrimônio. Esse verso
nos prepara para a revelação concernente ao plano de Deus para a criação da família, que é a
presentada em Gênesis 2.”1

Em Gn 1.27 quando a Bíblia diz “homem e mulher os criou” a palavra hebraica para homem é
zākār (‫) ָזכָר‬, que significa macho, “ou seja, o gênero de uma espécie que não é fêmea, sem foco na
idade ou estágio da vida” 2, a palavra para mulher é neqēbâ (‫ )נ ְֵקבָ ה‬que significa a “fêmea da
espécie humana, como um termo geral para aquilo que não é macho”3. Vemos aqui que os termos
utilizados para homem e mulher são biológicos, referindo-se ao macho e a fêmea.

Graduado em Teologia, cursando especialização em História da Igreja. E-mail: ademar.a.amaral@gmail.com.


*
Em Gn 2.24 é usado ’îš (‫)איׁש‬,
ִ homem/marido, e ’iššâ (‫)א ָשה‬,
ִ mulher/esposa, que são termos sociais
para designar a união desse casal no sagrado matrimônio, tornando-se os dois uma só carne. A
Bíblia deixa bem claro que Deus criou dois gêneros, macho e fêmea, homem e mulher, e ambos,
tanto biologicamente como socialmente são o padrão estabelecido por Deus para a sexualidade
humana.
A linha “macho e fêmea os criou” segue-se à linha “à imagem de Deus o criou”. Ambas
precedem à linha “Sede fecundos, multiplicai-vos, enchei a terra”. Três pontos
importantes se levantam: a. O pl. do v. 27 (“macho e fêmea os criou”) opõe-se a qualquer
conceito de androginia. b. Tanto o macho como a fêmea devem ser igualmente portadores
da imagem de semelhança de Deus. c. A sexualidade pode ser vista tanto em termos
biológicos (Gn 1) quanto em termos psico-sociais (Gn 2)4.

2. A Bíblia e a natureza humana


Para entender um pouco sobre a questão da sexualidade do ponto de vista bíblico-teológico, é
importante compreender que a natureza da humanidade sofreu uma influência negativa com a
entrada do pecado, afetando todas as áreas da nossa vida, inclusive na sexualidade.

2.1 Antes do pecado


Quando foi concluída a criação a Bíblia diz que “Deus viu tudo o que havia feito, e eis que era
muito bom. Houve tarde e manhã, o sexto dia” (Gn 1.31). “Esta é uma avaliação divina da criação
total anterior à queda.”5 O ser humano era perfeito, Deus se relacionava com ele (Gn 2.15,16),
havia liberdade de escolha, mas não havia tendência para o mal, o ser humano viveria sua
sexualidade de acordo com a vontade divina, homem e mulher viveriam em harmonia com Deus,
consigo mesmo e um com o outro. Deus criou duas pessoas para que se completassem.

2.2 Após o pecado


Com a entrada do pecado a natureza humana mudou, o casal passou a ter medo do seu criador
(Gn 3.10), e não apenas o ser humano foi afetado, mas toda a criação, a Bíblia diz que “toda a
criação a um só tempo geme” (Rm 8.22). Tudo foi afetado pelo pecado, a relação do ser humano
para com Deus e com o seu próximo foi afetada, em lugar de um relacionamento familiar
saudável, veremos Caim matando Abel (Gn 4.8), em lugar do casamento entre um homem e uma
mulher, veremos Lameque (descendente de Caim) tendo duas esposas (Gn 4.19).

É o primeiro polígamo mencionado na Bíblia. Um dos resultados do pecado foi um


desentendimento (Gn 3.12) entre o primeiro casal e a corrupção fundamental do próprio
casamento (Gn 3.16-20). A poligamia de Lameque revela uma espiral descendente
constante, cada vez mais distante do ideal divino. Além do seu domínio sexual sobre a
mulher, Lameque demonstra também um espírito selvagem de arrogante egocentrismo, a
principal característica do pecado.6
Após a entrada do pecado, nós já nascemos pecadores, temos tendência para o mal, Davi
reconhece isso ao dizer: “Eu nasci na iniquidade, e em pecado me concebeu a minha mãe” (Sl
51.5), logo, nós não necessariamente somos pecadores porque pecamos, mas pecamos porque
somos pecadores, essa é a nossa condição ao nascermos. O apóstolo vai reconhecer essa luta de
duas naturezas ao dizer “Porque não faço o bem que eu quero, mas o mal que não quero, esse
faço” (Rm 7.19), todos já nascemos com a tendência pecaminosa e “não há justo, nem um sequer”
(Rm 3.10). Apesar de essa ser a triste condição da natureza humana, não devemos nos desesperar,
a Bíblia diz: “Mas onde aumentou o pecado, aumentou muito mais ainda a graça” (Rm 5.20).

3. A Bíblia e a sexualidade no casamento


“Por isso, o homem deixa pai e mãe e se une à sua mulher, tornando-se os dois uma só carne.”
(Gn 2.24). O padrão que a Bíblia apresenta para o casamento é entre um homem e uma mulher, o
texto bíblico diz que deixa pai e mãe, aqui já vemos o padrão, pai e mãe. A palavra hebraica para
pai é ʾāḇ (‫)אָ ב‬, que neste caso aqui pode significar “o progenitor masculino de uma prole, ou pai
adotivo masculino”7, para mãe a palavra hebraica é ʾēm (‫)אֵ ם‬, podendo significar "uma mulher
que deu à luz a uma criança”8, ou uma mulher que adotou. Homem (’îš) e mulher (’iššâ) se unem
e formam uma só carne.

A Bíblia diz que Deus estabeleceu essas coisas, a união do casal humano é diferente dos animais,
vemos isso na própria formação do casal, a preocupação de Deus vai além da relação sexual para
a procriação, Ele deseja a felicidade completa do casal, por isso estabelece o padrão para sigam
e sejam felizes. “Um mais um fazem dois. Essa é uma verdade matemática óbvia. Contudo não
ocorre assim no casamento! Gênesis 2.24 afirma o curioso fato de que, na união matrimonial, um
homem mais uma mulher formam uma só carne.”9

a) Jesus e o casamento
Jesus vai relembrar deste propósito divino para a sexualidade humana ao dizer: “Porém, desde o
princípio da criação, Deus os fez homem e mulher. “Por isso o homem deixará o seu pai e a sua
mãe e se unirá à sua mulher, tornando-se os dois uma só carne.” De modo que já não são mais
dois, porém uma só carne.” (Mc 10.6-8) O Evangelho de Marcos é escrito em grego, é interessante
notar que Marcos utiliza em grego o equivalente à mesma forma hebraica para definir homem e
mulher, tanto biológicos como psicossociais.

Em Mc 10.6 quando fala da criação dos gêneros (Gn 1.27), para homem a palavra grega é arsēn
(ἄρσην) que é o macho da raça humana, para mulher a palavra é thēlys (θῆλυς), se referindo ao
sexo feminino10. Definindo assim os dois gêneros criados por Deus. Em Mc 10.7 os termos são
anthrōpos (ἄνθρωπος) para homem, em um sentido geral para a humanidade, e aqui significando
marido11, para difenciar de gynē (γυνή), que nesse caso é a mulher (esposa). Seguindo assim a
tradução grega do Antigo Testamento (LXX)12.
Pode-se aqui chamar a atenção “para a lei da monogamia. A própria origem da raça humana a
sanciona. É bastante claro que Deus ordenou no início como um padrão para a posteridade.” 13
Deus não desistiu de Sua criação, mesmo após o pecado, o padrão para humanidade continua.
Após o dilúvio, ao dar uma nova chance para aos seres humanos, Deus preservou Noé e a esposa,
os filhos de Noé e a esposa de cada um deles (Gn 6.18), Deus vai recomeçar o mundo com essa
família, e o padrão de sexualidade (homem e mulher) estabelecido por Deus, está ali na arca.

b) Os líderes como exemplo


Os líderes devem ser o “exemplo para o rebanho” (1Pe 5.3) do Senhor, inclusive na questão da
sexualidade, a Bíblia diz que o homem deve ser “esposo de uma só mulher” (1Tm 3.2,12; Tt 1.6).
Quando a Bíblia apresenta o padrão para sexualidade entre as pessoas sempre está envolvido um
homem e uma mulher, fora disto é viver uma escolha pessoal que não é a vontade de Deus. o
apóstolo Paulo diz “cada homem tenha a sua esposa, e cada mulher tenha o seu próprio marido”
(1Co 7.2), se não se consegue viver solteiro, esse é o padrão.

4. A Bíblia e a homossexualidade
Analisaremos de maneira breve dois textos do Antigo Testamento e dois do Novo Testamento
sobre o que a Bíblia diz. Para uma análise mais abrangente recomendo a leitura dos livros citados
nas referências.

4.1 No Antigo Testamento


Os documentos que tratam do tema na antiguidade não são muitos, contudo, existem
fragmentos que mostram que a prática existia nas nações vizinhas de Israel.

Um bem conhecido relato de homossexualismo na literatura egípcia é a história da


tentativa do deus Seth de violar seu irmão mais jovem. O mito, que trata do conflito entre
os deuses Hórus e Seth, apresenta diversos cenários onde a luta se realiza. Um deles é o
estupro homossexual de Hórus.14

Entre os Babilônicos e Assírios as divindades eram cultuadas em uma espécie de prostituição,


quando a divindade era feminina, ela tinha suas assistentes, que, quando os homens visitavam o
templo, mantinham relações com a divindade através de suas assistentes, homens também
serviam como assistentes, vestiam roupas femininas e mantinham relações homossexuais no
templo. Também entre os Cananeus e Hititas, semelhantes à outras sociedades do Antigo Oriente
Próximo, não havia condenação à prática homossexual15, contudo alguns textos deixam
transparecer que era “degradante e vergonhoso um homem ser penetrado como se fosse mulher,
[…] considerado, na honra e na posição social, inferior àqueles que faziam a penetração” 16.

A adoração que o SENHOR pede aos israelitas é totalmente diferente, e pode ser vista no ritual do
santuário e no que Deus pede do povo em sua vida diária. Os profetas bíblicos condenavam essas
práticas pagãs de adoração, ali estava envolvido cultuar outro deus, também relações sexuais
fora do padrão de sexualidade estabelecido por Deus entre marido/esposa e homem/mulher (Ex
20.14; Lv 20.18; Dt 23.17; 1Re 14:24; 15.12).

a) Gênesis 19. 4-5


“4 Mas, antes que eles se deitassem, os homens daquela cidade cercaram a casa.
Eram os homens de Sodoma, tanto os moços como os velhos, sim, todo o povo de
todos os lados. 5 E chamaram Ló e lhe disseram: — Onde estão os homens que, à
noitinha, entraram na sua casa? Traga-os aqui fora para que abusemos deles.

Ekkehardt Mueller diz que “embora a homossexualidade fosse um dos pecados dos habitantes de
Sodoma, não era o único, e a cidade foi destruída por causa de seus muitos pecados graves.” 17
Conforme escrito em Judas 7, vemos que “Sodoma, Gomorra e as cidades vizinhas, que também
se entregaram à imoralidade e adotaram práticas contrárias à natureza, foram postas como
exemplo do castigo de um fogo eterno”, também 2 Pedro 2.6, 10, 12, 13 ao falar dos pecados de
Sodoma comenta sobre desejos impuros, guiados pelo instinto e desejos libertinos. Jesus diz que
quando Ele estiver para retornar a esta terra, o mundo estará parecido com o mundo em que Ló
vivia em Sodoma (Lc 17.28-30).

O professor de teologia Robert Gagnon diz que:

a provável percepção pelo próprio Jesus da dimensão homoerótica dos pecados de


Sodoma é confirmada não somente por ele fazer referência a Gênesis 19.4-11, mas também
pelo fato de que Filo e Josefo, os dois escritores judeus mais proeminentes do primeiro
século d.C., interpretarem Gênesis 19.4-11 como referência explícita a atos
homossexuais.18

b) Levítico 18.22; 20.13


“— Não se deite com outro homem para ter relações com ele como se fosse mulher;
é abominação.”(Lv 18.22)
“Se também um homem tiver relações com outro homem, como se fosse mulher,
ambos praticaram coisa abominável; serão mortos; o seu sangue cairá sobre eles.”
(Lv 20.13)

“A perspicácia deste versículo é impressionante. Ele, na verdade, inicia com “Com homem”, para
dar ênfase. O que é detestável é o ato em si: “como se fosse mulher”19. O fato de o texto não citar
mulheres é porque “essa lista é provavelmente representativa, não exaustiva.” 20 Os textos de
Levíticos são bem claros sobre a prática da homossexualidade, não há dúvida para o leitor do que
Deus está dizendo ali. Alguns tentam dar várias interpretações para tentar fugir do que está claro
no texto e no contexto, um dos argumentos é que o livro de levítico não tem mais validade para
os cristãos hoje.

Ronald M. Springett diz que:

“No capítulo 18, predominam diversas relações: incesto, adultério e homossexualismo,


bem como sacrifício de crianças e bestialismo. Poucos cristãos teriam coragem de dizer
que essas práticas são agora aceitáveis porque a igreja primitiva está liberada da lei levítica
ou que não merecem ser condenadas, se forem feitas com amor”21.

Devemos lembrar que um dos princípios do Reino de Cristo é o amor, Ele mesmo disse “ame o
seu próximo como a si mesmo” (Lc 10.27), Jesus justamente está usando nessa passagem um
texto de Levítico (Lv 19.18). Ainda na tentativa de dar outra interpretação, alguns tentam associar
Lv 18.22 apenas com a idolatria por causa do verso anterior (Lv 18.21) que cita Moloque, contudo,
o texto não diz que a dedicação de crianças a Moloque está relacionada a homossexualidade. O
contexto todo está tratando de relações sexuais que não são permitidas por Deus. “O significado
óbvio de Levítico 18:22 e 20:13 é a proibição de atos homossexuais genitais masculinos.”22

A Bíblia diz que essas relações sexuais fora do padrão estabelecido por Ele, são abominações, a
palavra hebraica é tôʿēbâ (‫)ּתֹועֵבָ ה‬, que aparece seis vezes no livro de levítico, cinco vezes no
capítulo 18 e uma vez no capítulo 20.13, ou seja, no livro de levítico, todas as vezes que essa
palavra aparece está relacionada em um contexto de pecados sexuais.

4.2 No Novo Testamento


Entre os gregos e romanos havia a prática da homossexualidade, diferente do judaísmo, que
excluía a prática homossexual23.

Fica evidente, a partir do conselho dado em 1 Coríntios 6 e 6, que Paulo considera a


comunidade cristã um lugar puro e santo em contraste com o mundo exterior, impuro e
profano. Os cristãos devem evitar as práticas sexuais repugnantes e outros vícios
perpetrados pelo mundo pagão24.

Devemos lembrar que os cristãos carregam sua raiz judaica, Jesus e os Apóstolos são judeus, as
Escrituras Sagradas para os cristãos constituem o Antigo Testamento e posteriormente também
o Novo Testamento à medida que vai sendo escrito, logo, os cristãos fazem o uso do AT e NT como
sendo as suas Escrituras Sagradas. E os textos aplicados anteriormente são utilizados pelos
apóstolos como sendo a legítima palavra de Deus.

a) Romanos 1.26-27
“26 Por causa disso, Deus os entregou a paixões vergonhosas. Porque até as
mulheres trocaram o modo natural das relações íntimas por outro, contrário à
natureza. 27 Da mesma forma, também os homens, deixando o contato natural da
mulher, se inflamaram mutuamente em sua sensualidade, cometendo indecência,
homens com homens, e recebendo, em si mesmos, a merecida punição do seu
erro.”

Neste texto, o apóstolo Paulo deixa claro que a prática homossexual é contrária ao padrão
estabelecido por Deus. “A homossexualidade em Romanos 1 não se limita a uma certa época,
cultura ou apenas a certas formas homossexuais. Paulo entende isso como comportamento
pecaminoso.”25 Hendriksen diz que “é evidente que o apóstolo está censurando a prática
obstinada da homossexualidade ou sodomia”26. John Murray diz que:

“é claro que o apóstolo tinha em mente, neste [26] e no versículo 27, a abominação
homossexual. Mencionou as mulheres em primeiro lugar, sem dúvida, porque tinha o
propósito de acentuar quão grosseiro é esse mal. Nossa versão da Bíblia chama a atenção
para uma partícula, presente no texto grego, que destaca melhor o sentido: “Porque até as
mulheres”27.

b) 1 Coríntios 6.9-10
“9 Ou vocês não sabem que os injustos não herdarão o Reino de Deus? Não se
enganem: nem imorais, nem idólatras, nem adúlteros, nem afeminados, nem
homossexuais, 10 nem ladrões, nem avarentos, nem bêbados, nem maldizentes,
nem roubadores herdarão o Reino de Deus.”

Aqui encontramos duas palavras gregas para analisar com mais atenção:

Efeminados: malakoi (μαλακόì): significa macio28 Gagnon diz que significa literalmente “os
macios” e traduz por “machos afeminados que desempenham o papel sexual de fêmeas” 29, os
dicionários bíblicos também trazem como “homossexual, parceiro passivo em ato sexual de
homem para homem”30,“alguém do sexo masculino que foi parceiro passivo numa relação
homossexual”31,“efeminado (de um homem que submete seu corpo à concupiscência
desnatural”32, traduzido em português como efeminados (RA, TEB), afeminados (NAA),
depravados (BJ). A ofensa é grave para Deus, e leva à exclusão do Reino.

No primeiro século Filo “emprega duas vezes a palavra malakia (“maciez, afeminação”, junto com
o termo anandria, “ausência de masculinidade”) para se referir ao comportamento de parceiros
homossexuais passivos”33.

Sodomitas: arsenokoitai (ἀρσενοκοῖται), podendo significar o “homossexual masculino, aquele


que assume o papel masculino ativo na relação homossexual” 34, “um macho que cometer
sodomia com outro macho; às vezes do participante ativo exclusivamente (em oposição ao
passivo)”35, traduzido em português como sodomita (RA), homossexuais (NAA, NVI), pederastas
(TEB). Gagnon diz que “as traduções de arsenokoitai nas primeiras traduções das Escrituras
confirmam uma referência geral “homens que têm relações sexuais com homens” 36 pode-se ver
semelhanças em latim, siríaco e copta. Em 1Timóteo 1.9-10 também existe a inclusão de
sodomitas na lista de coisas desaprovadas por Deus.

As palavras das Escrituras Sagradas são claras em relação ao que Deus está dizendo, apesar de
algumas palavras serem mais abrangentes do que outras e com o decorrer dos séculos
adiquirirem mais significados, podemos ter a certeza do seu significado no texto bíblico, tanto
por sua referência escriturística no contexto em que está inserida, como em referência ao Antigo
Testamento e sua tradução para o grego (LXX) ou ainda em referência à escritos judaicos da
mesma época ou ainda aos pais apostólicos.

A situação tanto no Antigo como no Novo Testamento é comparável. O Antigo Testamento


contém textos que tratam claramente da homossexualidade; assim como o Novo
Testamento. Os textos bíblicos não se limitam a uma determinada época e cultura, mas
abordam a atividade homossexual em todos os momentos. Eles explicam que o
comportamento homossexual é um pecado que precisa ser arrependido e perdoado. Após
a apresentação de uma lista de vícios (1 Co 6:9, 10), Paulo comenta que alguns membros
da igreja de Corinto haviam se envolvido nessas atividades pecaminosas, incluindo o
homossexualismo, mas abandonaram esse estilo de vida e agora vivem uma vida diferente
(1Co 6:11). Deus está disposto a perdoar e trazer cura. 37

5. A causa da homossexualidade
O tema tem sido estudado e várias são as tentativas de apontar uma causa para a
homossexualidade. Pouco, porém tem-se de resultado satisfatório sobre o tema. Ronald M.
Springett diz que:
Tudo quanto possa ser dito no momento sobre a causa ou as causas da inversão
homossexual aponta para a possibilidade de existir em alguns homossexuais um fator
biológico elementar e sutil que os predispõe para a orientação homossexual. Em si mesma,
no entanto, essa não é, ao que parece, a causa única da homossexualidade. O ambiente
social posterior pode intensificar ou desestimular a tendência, porém mais uma vez não se
conhecem os fatores psicossociais determinantes. É improvável que um único mecanismo
esteja na base de todas as formas de homossexualidade.38

Na visão do Dr. Flávio Krzyzanowski “a tendência homossexual seria o resultado da interação


entre duas variáveis: a hipersensibilidade inata do menino e influenciada por fatores biológicos,
bem como as feridas de gênero às quais este foi submetido.”39 O que podemos ter certeza é que,
após a entrada do pecado todos nós, seres humanos, já nascemos com uma tendência para o
pecado, então aquilo que olhamos e talvez consideramos natural, no sentido de a pessoa ter
nascido assim, não é natural no sentido do plano divino para a humanidade, inclusive na
sexualidade. Estudos científicos futuros talvez possam esclarecer mais, mas devemos sempre levar em
conta a condição pecaminosa em que a humanidade está inserida.
Todos já nascemos pecadores, mesmo assim Deus ama a humanidade (Jo 3.16), Ele é a cura
para todos, quer sejam heterossexuais ou homossexuais, todos precisamos ser curados, nossa
luta é contra o pecado e podemos ser vitoriosos com a ajuda de Jesus.

6. Conclusão e apelo
Deus é o criador da sexualidade humana, Ele criou um casal à Sua imagem e semelhança, homem
e mulher, biologicamente macho e fêmea (Gn 1.27), e mais do que isso, Ele uniu esse casal como
marido e esposa (psicossocialmente), tornando os dois uma só carne (Gn 2.24). Esse foi o padrão
estabelecido. Após a entrada do pecado no mundo o ser humano mudou sua natureza, tendo
desejos pecaminosos, inclusive vivendo sua sexualidade fora do padrão estabelecido por Deus
(Gn 4.19). Tanto no Antigo como no Novo Testamento o povo de Deus viveu em meio à povos que
viviam sua sexualidade de maneira distorcida, Deus orientou seu povo a não viver como essas
pessoas viviam, inclusive na sua sexualidade (Gn 19.4-5; Lv 18.22; 20.13; Rm 1.26-27; 1Co 6.9; 1Tm
9.10).

Todos somos pecadores (Rm 3.10), e precisamos da graça de Deus em nossa vida, todos
precisamos lutar com tendências pecaminosas. A boa notícia é que podemos vencer as tentações
com a ajuda do Espírito Santo, talvez você tenha que lutar com uma tendência o resto da vida,
mas nunca estará sozinho, Jesus está contigo. Você é uma criatura de Deus, Ele sabe muito bem
o estrago que o pecado faz, Ele sabe exatamente o que você está sentindo. Ele faz um convite a
você e a mim:
“E não vivam conforme os padrões deste mundo, mas deixem que Deus os
transforme pela renovação da mente, para que possam experimentar qual é a boa,
agradável e perfeita vontade de Deus.” (Rm 12.2)

É possível ser vitorioso sobre as tentações e ser lavado pelo sangue de Cristo. Ao citar uma lista
de pecados, a Bíblia diz: “Alguns de vocês eram assim. Mas vocês foram lavados, foram
santificados, foram justificados no nome do Senhor Jesus Cristo e no Espírito do nosso Deus” (1Co
6.11). Ao mesmo tempo em que Deus desaprova o pecado, ele ama o pecador, ama mais do que
possamos imaginar, Deus ama mais o pecador do que o próprio pecador se ama. Deus faz a clara
diferença entre pecado e pecador, eu e você somos pecadores, Deus nos ama e fará de tudo para
que abandonemos o pecado e vivamos uma vida plena ao Seu lado.

Lembre-se que Deus te ama, mesmo que você esteja vivendo fora dos padrões que Ele
estabeleceu para a sexualidade, Ele te ama, a prova que Ele te ama, é o fato de que neste
momento o Espírito Santo está aí contigo, lutando para que você aceite a Cristo e viva sua
sexualidade de acordo com a vontade divina. Não importa quanto tempo você tem lutado, Ele
quer te alcançar, te perdoar, pois, “onde aumentou o pecado, aumentou muito mais ainda a
graça” (Rm 5.20).

Diga agora a Cristo que O aceita! Peça ajuda a Ele, Jesus não te deixará lutar sozinho!
Referências
Todas as referências em inglês receberam uma tradução livre.

1
Francis D. Nichol (ed). Comentário Bíblico Adventista do Sétimo Dia, vol. 1 (Tatuí, SP: CPB, 2011), p. 198.
2
James Swanson. Dictionary of Biblical Languages with Semantic Domains : Hebrew (Old Testament)
(Oak Harbor: Logos Research Systems, Inc., 1997).
3
Idem 2.
4
Victor P. Hamilton (ed). “‫” ָזכָר‬, Novo Dicionário Internacional de Teologia e Exegese do Antigo
Testamento (São Paulo, SP: Editora Cultura Cristã, 2011), 1080.
5
Bruce K. Waltke e Cathi J. Fredericks (ed). Gênesis: Comentários do Antigo Testamento (São Paulo, SP:
Editora Cultura Cristã, 2010), 78.
6
Paul Gardner (ed). Quem é quem na Bíblia Sagrada (São Paulo, SP: Editora Vida, 2005), 405,406.
7
Idem 2.
8
Rick Brannan (org). Léxico Lexham da Bíblia Hebraica (Bellingham, WA: Lexham Press, 2020).
9
Ekkehardt Muller, Elias Brasil de Souza (org). Casamento: princípios bíblicos e teológicos (Tatuí, SP: Casa
Publicadora Brasileira, 2016), 300.
10
William Carey Taylor. Dicionário do Novo Testamento Grego (Rio de Janeiro, RJ: JUERP, 2011), 34, 99.
11
James Swanson, Dictionary of Biblical Languages with Semantic Domains: Greek (New Testament)
(Oak Harbor: Logos Research Systems, Inc., 1997)
12
Henry Barclay Swete. The Old Testament in Greek: According to the Septuagint (Cambridge, UK:
Cambridge University Press, 1909) Gn 2.24.
13
Thomas C. Oden e Christopher A. Hall, (orgs), Mark (Revised). Tertullian of Carthage. Ancient Christian
Commentary on Scripture (Downers Grove, IL: InterVarsity Press, 1998), 127–128.
14
Ronald M. Springett. O limite do prazer: o que a Bíblia diz sobre a identidade sexual (Tatuí, SP: Casa
Publicadora Brasileira, 2013), 55.
15
Idem 14, p. 60, 61, 66, 67.
16
Robert A. J. Gagnon. A Bíblia e a prática homossexual: textos e hermenêutica (São Paulo: Vida Nova,
2021), 52.
17
Ekkehardt Mueller. Homosexuality, Scripture, and the Church (Biblical Research Institute, 2010), 12.
18
Idem 16, p. 95.
19
Robert I. Vasholz, Levítico: Comentários do Antigo Testamento (São Paulo: Editora Cultura Cristã,
2018), 216.
20
Kenneth Matthews. Estudos Bíblicos Expositivos em Levítico: Deus Santo, Povo Santo (São Paulo:
Editora Cultura Cristã, 2018), 179.
21
Idem 14, p. 86.
22
Idem 14, p. 91.
23
Idem 14 p. 153.
24
Idem 14, p. 158.
25
Idem 17, p. 25-26.
26
William Hendriksen. Romanos: Comentário do Novo Testamento (São Paulo, SP: Editora Cultura Cristã,
2011), 102.
27
John Murray. Romanos: Comentário Bíblico, 2a edição. (São José dos Campos, SP: Editora FIEL, 2016),
87.
28
Idem 10, p. 131.
29
Idem 16, p. 311.
30
Idem 11.
31
Rick Brannan (org). Léxico Lexham do Novo Testamento Grego (Bellingham, WA: Lexham Press, 2020).
32
Idem 10, p. 131.
33
Idem 16, p. 313.
34
Idem 11.
35
Idem 31.
36
Idem 16, p.327.
37
Idem 17, p. 31.
38
Idem 14, p.208.
39
Flávio Krzyzanowski. Tendência homossexual: Inata ou adquirida? Propondo uma síntese. Disponível
em https://www.amizadesverdadeiras.com.br/tendencia-homossexual-inata-ou-adquirida-propondo-
uma-sintese/, acesso em 29 de maio de 2022.

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