Witness Lee
CAPÍTULO TRÊS
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vida divina é liberada, ela pode ser dispensada. O pecado, os pecados, Satanás, o
mundo, a velha criação, as ordenanças religiosas e a liberação da vida divina são
os sete fatores que exigiam a morte maravilhosa de Cristo.
EM SUA HUMANIDADE
Na história da humanidade houve apenas uma Pessoa que estava
qualificada para morrer tal morte – o Filho de Deus, Jesus Cristo. Ele morreu tal
morte em Sua humanidade. Ele era o Filho de Deus, tinha a vida divina (Jo 1:4;
14:6). Ele era Deus (Jo 1:1), era a corporificação do Deus Triúno (Cl 2:9), o
agregado do Pai, do Filho e do Espírito. Nele estava a vida, e essa vida foi
liberada por meio da Sua morte. Contudo, se Ele fosse apenas o Deus completo
e não fosse um homem, ele não poderia ter morrido pelo homem. Para morrer
pelo homem, para realizar a redenção, Ele tinha de ser um homem com sangue
de homem (Ef 1:7; Hb 9:22) uma vez que somente o sangue do homem pode
redimir o homem. Portanto, Ele era não apenas o Filho de Deus, mas o homem
Jesus Cristo. Deus tem a vida divina, mas não tem sangue humano. Deus, por Si
mesmo, está qualificado para tudo, mas não Se qualifica para a redenção do
homem. A redenção do homem precisa de sangue genuíno de um homem
genuíno.
Louvado seja o Senhor por ter havido tal Pessoa misteriosa, excelente e
maravilhosa que era tanto Deus como homem. Ele tinha a vida divina e tinha o
sangue humano. Nosso Salvador, nosso Redentor, era o Deus completo e o
Homem perfeito. Como Deus completo, Ele tinha a vida divina, e como Homem
perfeito, Ele tinha o sangue humano. Por ter a vida divina, Ele pode liberá-la
para o dispensar divino, e Seu sangue humano qualificou-O para ser nosso
Redentor, para morrer uma morte vicária por nós. Essa morte do Homem-Deus
tira nosso pecado e nossos pecados (Jo 1:29; 1Co 15:3), e Seu sangue nos
purifica de todo pecado (1Jo 1:7). Ele realizou Sua redenção por nós, homens
pecaminosos, em Sua humanidade, isto é, na sua carne (Cl 1:22).
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Embora João 1:14 diga que o Verbo tornou-se carne, no nosso
entendimento, sempre dizemos que o Verbo tornou-se um homem. Há uma
grande diferença entre o homem criado por Deus e a carne, que significa o
homem caído. A razão de Deus ter enviado o dilúvio na época de Noé, foi
porque o homem tornara-se carne. Porque o homem criado por Deus tornou-se
carne, Deus teve vontade de destruí-lo (Gn 6:7).
A Serpente de Bronze
Em João 1:14 vemos a carne e em João 3:14 vemos a serpente. João 3:14
diz: “E como Moisés levantou a serpente no deserto, assim importa que o Filho
do Homem seja levantado”. Neste versículo, Cristo é tipificado por uma
serpente. O versículo 15 diz: “para que todo o que Nele crê tenha a vida eterna”.
A Bíblia compara Cristo a uma serpente. Em João 1:29, Cristo é tipificado pelo
Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo. O Cordeiro é um tipo de Cristo, e
a serpente também. Números 21 nos diz que Moisés não levantou uma serpente
verdadeira com veneno, mas levantou uma serpente de bronze (vs. 4-9).
Se houvesse uma serpente no nosso quarto, não creio que a maioria de nós
conseguiria dormir bem. Mesmo que você me desse uma serpente de ouro, eu
não a colocaria no meu quarto. O ouro é precioso, mas não gosto de ouro na
forma de uma serpente. Você já havia percebido que a Bíblia compara Cristo a
uma serpente? A carne que Cristo se tornou está relacionada com essa serpente.
A velha serpente está na nossa carne. Cristo tornou-se carne, e Satanás, a
serpente, está relacionado a essa carne. Aos olhos de Deus, quando Cristo foi
crucificado, Ele era como uma serpente somente na forma, na semelhança, sem
a natureza venenosa, pecaminosa. Cristo estar na forma da serpente é o mesmo
que dizer que Ele está na forma da carne do pecado.
Cristo veio em semelhança da carne do pecado, e nesta carne estava
Satanás. Dizer que Cristo tornou-se carne, e que em Sua carne estava Satanás, é
uma heresia. Contudo, dizer que Cristo tornou-se carne, e que na carne (não a de
Cristo) estava Satanás, é correto. Para ensinar a verdade, precisamos aprender
com os advogados. Eles usam muitos adjetivos em sua fala, e são muito
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cuidadosos e detalhados. Por exemplo: a Bíblia diz que o Verbo tornou-se carne,
mas não diz que o Verbo tornou-se algo pecaminoso. A Bíblia também compara
Cristo a uma serpente, mas isso não significa que a Bíblia compare Cristo a algo
que tenha natureza venenosa. Em Romanos 8:3, Paulo adjetiva a carne. Ele diz
que Deus enviou Seu Filho em semelhança da carne do pecado. Também, a
serpente em João 3:14 é definida em Números 21. A serpente levantada por
Moisés era uma serpente de bronze. Ela tinha somente a forma, a semelhança da
serpente, sem a natureza venenosa.
Cristo, como o Filho de Deus, tornou-se homem em semelhança da carne
do pecado. O homem caído tinha pecado, mas Cristo não tinha pecado (2Co
5:21; 1Pe 2:21-22). Ele tinha a semelhança do homem caído, mas não tinha a
natureza do homem caído. Quando tornou-se carne, Ele tornou-se uma parte da
velha criação, uma vez que a carne é parte da velha criação. Como resultado,
Sua morte foi a morte da velha criação.
Essa Pessoa maravilhosa estava qualificada de três maneiras para morrer
uma morte maravilhosa, todo-inclusiva. Como Filho de Deus, Ele estava
qualificado para liberar a vida divina, como homem, Ele estava qualificado para
derramar o genuíno sangue humano, e como carne, o último Adão (1Co 15:45)
da velha criação, Ele estava qualificado para dar fim à velha criação, incluindo o
velho homem (Rm 6:6).
Precisamos também perceber que o inimigo de Deus, Satanás, entrara na
carne caída do homem por meio da queda. Na carne caída do homem estava
Satanás, e com Satanás estava o sistema satânico, o mundo. Foi na semelhança
dessa carne caída que Cristo morreu na cruz como Homem. Portanto, por meio
de Sua morte na carne, Ele destruiu o Diabo, Satanás (Hb 2:14) e julgou o seu
mundo (Jo 12:31-33).
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ainda permanece na nossa carne onde ele habita, trabalha e se move, mesmo
depois de termos sido salvos. O pecado em nossa carne é uma pessoa,
assim como a vida divina no nosso espírito é uma Pessoa. Essa Pessoa, que é
nossa vida, é Cristo (Cl 3:4), a corporificação do Deus Triúno. O Deus Triúno
como vida está no nosso espírito, e Satanás, como pecado, está na nossa carne.
Se nós, os salvos, não estivermos alertas e não vigiarmos e orarmos, esse
maligno pode instigar-nos a fazer coisas pecaminosas. Na nossa carne há
concupiscência (Gl 5:16) e essa concupiscência está relacionada com Satanás
em nossa carne.
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possuía a natureza divina e a natureza humana. Isso era Seu próprio ser e está
relacionado com Sua natureza intrínseca.
Por exemplo: uma pessoa pode tirar o paletó que estou usando, mas não
pode tirar minha natureza intrínseca. A natureza intrínseca de Jesus era a
natureza tanto de Filho do Homem como de Filho de Deus. Jesus, como Pessoa,
era tanto Filho do Homem como Filho de Deus. Quando andou na terra, viveu
na terra, quando foi preso, quando foi julgado, quando foi crucificado, Ele
sempre foi ambos: Filho do Homem e Filho de Deus.
O Filho de Deus
Ele era o Filho de Deus por meio da concepção do Espírito Santo
essencialmente (Lc 1:35). Essencialmente significa intrinsecamente. A natureza
intrínseca de uma pessoa não pode ser mudada. O simples fato de um alemão
vestir um quimono japonês não faz dele um japonês; ele ainda continua sendo
alemão. Essencialmente ele é alemão. economicamente ele está vestindo uma
roupa japonesa. Jesus nasceu para ser o Filho de Deus essencialmente porque
Ele foi concebido do Espírito de Deus. Nada pode mudar sua natureza essencial.
Sua Concepção Foi a Encarnação de Deus
Sua concepção foi a encarnação de Deus (Jo 1:14); portanto, Ele era Deus
(Rm 9:5). Jesus era Deus quando estava na manjedoura como um pequeno bebê.
Isaías 9:6 nos diz que um Filho nos nasceu e Seu nome será Deus forte. O bebê
na manjedoura era essencialmente Deus. Será que podemos afirmar que, quando
Ele foi colocado na cruz, Ele deixou de ser Deus? Dizer que Ele não era mais
Deus sobre a cruz não é lógico, uma vez que nada pode mudar Sua essência. Ele
sempre esteve com o Pai e pelo Espírito.
Deus Deixou-O Economicamente Enquanto Ele Morria
Essencialmente, Cristo era Deus na cruz. Economicamente, Deus deixou-O
quando Ele estava morrendo Sua morte vicária pelos pecadores (Mt 27:45-46).
Muitos cristãos nunca viram a diferença entre os aspectos essencial e econômico
da Trindade. Jesus foi concebido do Espírito Santo e o elemento divino do
Espírito Santo tornou-se Sua própria essência. Desde o Seu nascimento, o
Espírito Santo estava todo o tempo no Seu ser, mas quando Ele tinha trinta anos,
depois do Seu batismo, o Espírito Santo desceu sobre Ele como uma pomba (Mt
3:16). Antes de o Espírito Santo descer sobre Ele, Ele tinha o Espírito Santo
como Sua essência intrínseca essencialmente (Mt 1: 18, 20). Por que, então, o
Espírito Santo ainda precisava descer sobre Ele? A razão é que, essencialmente,
Jesus já tinha o Espírito de vida para sua existência, mas economicamente para o
Seu ministério, Ele ainda não tinha o Espírito de poder. Ele já tinha o Espírito
Santo como Sua essência de vida, mas não tinha o Espírito Santo como Seu
poder. No momento do Seu batismo, o Espírito Santo veio sobre Ele
economicamente, e esse Espírito econômico permaneceu com Ele durante três
anos e meio até o momento em que Ele foi crucificado para morrer por nós,
pecadores. Nessa ocasião, Deus deixou-o economicamente (Mt 27:45-46), assim
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como Deus tinha vindo até Ele pelo Espírito, como poder economicamente, três
anos e meio antes.
Quer Deus tenha vindo ou O deixado economicamente, isso não mudou
Sua essência ou natureza intrínseca. Quer eu vista ou tire o paletó isso não muda
minha essência. Deus veio sobre Ele no Seu batismo economicamente, e
também O deixou na cruz economicamente. Isso não mudou Sua essência.
Quando estava na água do batismo, Ele era Filho do Homem e Filho de Deus.
Quando foi crucificado, Ele ainda era Filho do Homem e Filho de Deus.
Essencialmente não houve mudança, mas economicamente houve alguma
mudança. No Seu batismo, Deus veio sobre Ele, e na cruz, Deus O deixou. Mas
essa vinda econômica e essa ida econômica não mudaram Sua essência. Quando
Jesus estava morrendo na cruz, Deus estava morrendo ali. Uma linha de um hino
famoso escrito por Charles Wesley diz: “Amor admirável! Como pode ser que
Tu, meu Deus, morreste por mim?” (Hymns 296). Jesus era Deus, e Ele morreu
na cruz como Homem mas também como Deus. Portanto, mesmo quando estava
na cruz, Ele ainda era o Filho, com o Pai e pelo Espírito.
O Deus Triúno estava na concepção de Jesus. O Deus Triúno viveu na terra
e também morreu na cruz. O Deus Triúno esteve envolvido com a concepção de
Jesus, com o viver de Jesus nesta terra e também com a morte de Jesus na cruz.
O Deus Triúno esteve totalmente envolvido por Jesus.
A Eficácia Eterna da Sua Morte
A morte de Jesus na cruz como homem provê o sangue humano necessário
para nosso perdão na redenção. Mas se Ele tivesse morrido meramente como
homem, a eficácia da Sua morte não seria eterna. A eficácia da morte de Jesus é
eterna, sem limite de espaço e de tempo. Sua morte eficaz pode cobrir milhões
de crentes. Sua humanidade o qualifica para morrer por nós, e Sua divindade
assegura a eficácia eterna de Sua morte.
UMA REDENÇÃO ETERNA
Uma redenção eterna foi realizada pelo sangue do Filho de Deus por meio
do Espírito Eterno (Hb 9:12, 14; 1Jo 1:7). O sangue que Ele derramou na cruz
foi não apenas o sangue do Homem Jesus, mas também do Filho de Deus.
Primeira de João 1:7 nos diz que o sangue de Jesus, o Filho de Deus, nos
purifica de todo pecado. O sangue de Jesus Homem qualifica Sua redenção por
nós como homens. Ele era um homem genuíno que morreu por nós e derramou
Seu sangue genuíno por nós. Mas a eficácia da Sua redenção tinha de ser
garantida por Sua divindade e ela foi garantida eternamente por Ele como Filho
de Deus. Portanto, Sua redenção é eterna (Hb 9:12) porque ela foi consumada
não apenas pelo sangue de Jesus Homem, mas também pelo sangue de Jesus
Filho de Deus, que o apóstolo Paulo chamou de “sangue de Deus” (At 20:28).
Isso é maravilhoso!
POR MEIO DO ESPÍRITO
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A morte do Filho também foi por intermédio do Espírito (Hb 9:14). Ele
ofereceu a Si mesmo a Deus por Sua morte por meio do Espírito eterno. Ele
morreu com o Pai, na natureza do Deus Triúno e ofereceu a Si mesmo até a
morte pelo Espírito. Novamente, isso indica que até mesmo em Sua morte como
Filho de Deus, Ele estava com o Pai e pelo Espírito. Portanto, Sua morte
consumou uma redenção eterna pelo sangue do Filho de Deus e pelo Espírito
eterno. Essa redenção eterna não tem elemento de tempo. Como Cordeiro
redentor, Ele foi previamente conhecido desde antes da fundação do mundo (1Pe
1:19-20) e foi imolado desde a fundação do mundo (Ap 13:8). Aos nossos olhos,
Cristo morreu há dois mil anos, mas aos olhos de Deus Ele foi imolado desde a
fundação do mundo. Sua morte é eterna, sem nenhum elemento de tempo.
A MORTE DE CRISTO É NOSSA HERANÇA
Tal morte todo-inclusiva foi incluída no Espírito todo-inclusivo (Fp 1:19).
Nossa intenção é ver, conhecer e perceber o Espírito composto porque os
elementos da concepção, do viver humano e da morte de Cristo estão todos
compostos nesse Espírito. Quando aplicamos o Espírito todo-inclusivo a nós
mesmos essa morte todo-inclusiva é nossa. Essa morte não foi meramente
humana, mas também divina. Ela foi a morte do Pai, do Filho, do Espírito e do
Homem. Nessa morte, o pecado é condenado, Satanás é destruído, o mundo é
julgado e o homem com a carne pecaminosa é crucificado. Essa é uma morte
misteriosa, excelente, maravilhosa e vitoriosa. Devemos apreciar esta morte,
pois ela é uma grande herança para nós. É um dos grandes legados do Novo
Testamento. Deus Pai legou a nós o tesouro de Cristo (2Co 4:7) com Suas
riquezas insondáveis (Ef 3:8). Entre essas riquezas insondáveis está Sua morte
maravilhosa. Que o Senhor nos dê uma visão adequada e um conhecimento
adequado dessa morte maravilhosa, todo-inclusiva, para que possamos ser
introduzidos no desfrute da herança do Novo Testamento.
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