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UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA – UNEB

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS HUMANAS – CAMPUS IV –


JACOBINA/BA

CURSO: BACHAREL EM DIREITO

COMPONENTE: CIÊNCIA POLÍTICA

DOCENTE: SANDER PRATES

DISCENTE: ANA CAROLINE LOPES SILVA

SEMESTRE LETIVO: 2021.2

EM UM RELACIONAMENTO AFETIVO ENTRE CASAIS HETEROSEXUAIS QUAIS


SÃO AS CONSEQUÊNCIAS DO PODER OBTIDO PELO HOMEM COM RELAÇÃO
A MULHER?

Segundo o autor Washington Luis Souza (2011), para o filósofo francês


Michel Foucault, o poder é relação; não é uma coisa, é algo que se exerce de forma
assimétrica, isto é, desigual, desequilibrada; o poder não é estável, ou seja, de
acordo com Foucault (2006) “o poder não opera em um único lugar, mas em lugares
múltiplos: a família, a vida sexual, a maneira como se trata os loucos, a exclusão dos
homossexuais, as relações entre os homens e as mulheres (...)”. Dessa maneira, o
autor rompe com o pensamento clássico, no qual o poder era visto apenas nas
grandes instituições e passa a analisar o poder nas micro relações. E, para o
sociólogo alemão Max Weber, o poder é a capacidade que alguém possui de fazer
valer a sua vontade sobre o outro.
Nessa perspectiva, pode-se afirmar que todas as relações sociais são
marcadas pelo fenômeno do poder, porque todas as relações são assimétricas,
então nas relações sociais tem sempre alguém que consegue moldar o
comportamento do outro conforme seus valores e seus interesses. E não é diferente
numa relação heterosexual, pois, o homem é colocado num lugar de mais poder em
relação a mulher e na maioria das vezes consegue fazer valer sua vontade sobre
ela, isto significa que o homem possui mais um de poder com relação a mulher.
Esse poder que o homem obtém traz consequências terríveis, podendo causar o que
chamamos de “violência de gênero”, a qual segundo Teles e Melo, é definida:
(...) como uma relação de poder de dominação do homem e de
submissão da mulher. Ele demonstra que os papéis impostos às
mulheres e aos homens, consolidados ao longo da história e
reforçados pelo patriarcado e sua ideologia, induzem relações
violentas entre os sexos e indica que a prática desse tipo de violência
não é fruto da natureza, mas sim do processo de socialização das
pessoas. Ou seja, não é a natureza a responsável pelos padrões e
limites sociais que determinam comportamentos agressivos aos
homens e dóceis e submissos às mulheres. Os costumes, a
educação e os meios de comunicação tratam de criar e preservar
estereótipos que reforçam a ideia de que o sexo masculino tem o
poder de controlar os desejos, as opiniões e a liberdade de ir e vir
das mulheres. (TELES; MELO, 2002, p. 9)

Assim, vivemos em uma sociedade de origem patriarcal, na qual o homem


contém poder e domínio sobre as mulheres e sobre todos os sujeitos que não se
encaixam nos padrões de raça, de orientação sexual e de gênero impostos pela
sociedade. A construção de estereótipos que fortalecem e mantêm esse
pensamento machista impactam negativamente sobre os corpos das mulheres
desde a antiguidade, onde eram privadas de seus direitos e liberdade, sendo
controladas pelos homens, e permanece até os dias atuais -sobretudo as mulheres
negras que eram violentamente escravizadas e oprimidas, tendo sobre si maior
impacto dessas violências e, até hoje, sofrem as desigualdades de forma mais
potente que mulheres brancas. Dessa maneira, percebe-se o quanto essa
construção social conduz a ideia de posse, de subordinação e consequentemente,
ocasiona e legitima na relação heterosexual, práticas violentas dos homens contra
as mulheres, as quais são manifestadas de formas distintas, como violência sexual,
psicologica, moral, física, econômica ou financeira, entre outras.
Silva (2018), afirma que para a filósofa e teórica política Hannah Arendt, o
poder não é necessariamente violento. Então, a partir dessa ótica, entende-se que o
poder do homem sobre a mulher em uma relação amorosa pode ser também
manifestado sem o uso da força. No campo econômico por exemplo, a mulher
possui maior dificuldade de acesso econômico, o que causa a impossibilidade de se
autogovernar, fazendo assim com que ela dependa economicamente do seu
companheiro; além disso, a violência psicológica já supracitada, é uma outra forma
de manifestação do poder sem utilização da força, esta, por não deixar marcas no
físico, é mais difícil de ser identificada pela própria vítima e pelas demais pessoas,
porém também causam prejuízos psicológicos irreversíveis às suas vítimas.
Contudo, conclui-se que, assim como todas as relações sociais, a relação
heteroafetiva é também assimétrica pelo fato do homem exercer poder sobre a
mulher e com isso, conseguir fazer valer suas vontades, interesses e desejos sobre
esta; além de moldar seu comportamento valendo-se de vários mecanismos. Essa
estrutura de poder que foi formada, faz com que as próprias mulheres naturalizem e
legitimem essas práticas. Assim, é perceptível o quanto essas agressões de gênero
são severas, logo, provocam danos e sofrimento drásticos à saúde física,
psicológica e/ou sexual da mulher. Dessa maneira, influenciam negativamente no
âmbito emocional, no convívio social, na auto estima, etc., diminuindo assim, a
qualidade de vida dessas mulheres. Sabe-se portanto, que embora já existam leis
contra essas ações, muitas vezes elas não são efetivas, logo os agressores acabam
saindo impunes apesar do dano causado à vítima, o que reflete mais uma vez o
poder obtido pelo homem e sua consequência catastrófica.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

SOUZA, Washington Luís. Ensaio sobre a noção de poder em Michel Foucault.


Revista Múltiplas Leituras, v. 4, 2, 2011, p. 1-2.

SILVA, Antonio Ozaí. O que é Poder Político? Revista Espaço Acadêmico - n. 202
- Março/2018.

FOUCAULT, Michel. Diálogo sobre o poder. In:______. Estratégia, poder-saber. Rio


de Janeiro: Forense Universitária, 2006.

TELES, Maria A. A.; MELO, Mônica. O que é violência contra a mulher. 1ª ed.
São Paulo: brasiliense, 2002.

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