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UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA - UNEB

DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO - CAMPUS I


CURSO DE PSICOLOGIA

DAÍSE LOPES SILVA

RESENHA DO CAPÍTULO:
“Corpo ou corpos?”

SALVADOR – BA
2022
DAÍSE LOPES SILVA

RESENHA DO CAPÍTULO:

“Corpo ou corpos?”

Trabalho apresentado ao Departamento


de Educação - Campus I da Universidade
do Estado da Bahia (UNEB) como requisito
parcial de avaliação da disciplina de
Antropologia.

Docente: Olívia Nolasco Beltrão

SALVADOR – BA
2022
RESENHA DO CAPÍTULO: “CORPO OU CORPOS?”

CORPO ou corpos?. In: RODRIGUES, José Carlos. Tabu do corpo. Rio de Janeiro:
Achiamé, 1979. cap. 2, p. 43-126.

O livro “Tabu do Corpo”, de José Carlos Rodrigues, tornou-se a primeira publicação


brasileira a analisar o corpo como sistema simbólico. Com isso, para que se faça
possível a compreensão das ideias desenvolvidas pelo autor, é importante analisar os
percursos acadêmicos percorridos por ele. Rodrigues possui graduação em Ciências
Sociais pela Universidade Federal Fluminense UFF (1970), graduação em Direito pela
Universidade Federal Fluminense (1972), mestrado em Antropologia Social pelo
Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (1975) e doutorado em
Antropologia pela Université Paris 7 (1981). É professor titular aposentado de
antropologia da UFF e professor associado da Pontifícia Universidade Católica do Rio
de Janeiro. Foi professor visitante da Indiana University (EUA). Tem experiência na
área de Antropologia, com ênfase em Teoria Antropológica, atuando principalmente
nos seguintes temas: consumo, simbolismo, cultura brasileira, sociologia urbana,
semiótica, comunicação de massa, concepções de corpo, saúde e morte. É autor dos
livros Tabu do Corpo (1979 - editora Fiocruz, disponível em SciELO Livros), Tabu da
Morte (1983 - editora Fiocruz, disponível em SciELO Livros), Antropologia e
Comunicação (1989 - disponível no site da Editora da PUC-Rio), Ensaios em
Antropologia do Poder (1992), Higiene e Ilusão (1995), O Corpo na História (Editora
Fiocruz) Comunicação e significado (2006) e Imaginários e dramas sociais: estudos
de significação.
No capítulo II “Corpo ou Corpos?”, Rodrigues nos mostra a relação entre a cultura e
as diferentes formas que diversas sociedades lidam com aspectos associados ao
corpo. Expõe a ideia de que o corpo é socialmente idealizado, sendo assim, o
proposito a ele atribuído varia de cultura para cultura e que toda essa atribuição de
sentido ao mundo só se torna possível porque a sociedade segue uma determinada
lógica que é introduzida na mente dos seus membros e, assim, delineado sobre o
mundo, portanto, os comportamentos dos indivíduos estão sujeitos às normas de
convivência coletiva.
Notamos que a Cultura, ao se opor à Natureza, alcança o seu próprio sentido aos
olhos de seus integrantes, estabelecendo então, a sua identidade própria assim
diferenciando um grupo de outro, com a função de trazer sentido e propósito para a
vida do sujeito, entretanto, estabelece uma noção de como cada grupo devem ser,
agir e pensar. “Por meio deste artifício, a Cultura cria os seus contornos externos,
instituindo os seus limites e a sua fisionomia própria (que se torna específica quando
ela se opõe como um "nós" às outras culturas vistas como um "eles" ou "outros,").
(RODRIGUES, 1979, p. 43).
Em “O Corpo: Vida e Morte", o narrador enfatiza a presença do destino que todos
temos em comum: A morte. Ele observa a forma de lidar com a morte existente em
diferentes culturas, notando a enorme discrepância em tratar dessa questão
observada em grupos que possuem religiões, crenças e costumes diferentes aos
nossos. O autor trará pensamentos sobre a temática da morte, tanto estabelecidas
em ritos religiosos quanto na modernidade e suas atribuições, mas de uma sempre
será semelhante, a morte não pode ser esquecida com compreensibilidade, sobretudo
quando se trata de uma pessoa em que temos proximidade, é talvez o golpe mais
forte que o sujeito próximo poderá receber.
Prosseguindo, o narrador utiliza de exemplos encontrados em diversos grupos
étnicos, que lidam de formas totalmente diferentes com a morte.
O corpo morto se caracteriza um tabu porque demonstra a finitude do corpo e gera
uma desorganização social, portanto, a morte simboliza a vitória da Natureza sobre a
Cultura. “Quem pode pronunciar o nome do morto e quando, o que se pode comer e
como, como se tratar o corpo do morto, vestindo-o, lavando-o, pintando-o, fechando
os orifícios corporais, mutilando uma parte de seu corpo, enterrando-o, cremando-o,
quem deverá temer, quem deverá chorar - tudo isso é função de cada cultura e
expressa particularidades de sua própria cosmologia e de sua estrutura social.”
(RODRIGUES, 1979, p. 55).
Então, o enterro tem o intuito de garantir que o falecido encontrará o seu destino, a
mudança do morto do plano físico para o espiritual, com a função de reunir os
membros, estabelecer uma nova organização social e preencher o vazio deixado pelo
morto.
No tópico “O Corpo: Suporte de Signos", o autor nos mostra a preocupação social em
transformar o corpo em um templo de significantes, discorre acerca das mudanças
físicas causadas no corpo propositalmente, como parte de rituais criados
culturalmente entre seus membros que atribuem significado às m arcas, às cicatrizes,
e a qualquer outro tipo de mudança física que emita algum significado dentro do
contexto do grupo social.
Em “O Corpo: Fome de Símbolos", Rodrigues fará ligações entre a fome e a cultura.
Expõe que a cultura não se poupou ao esforço da tentativa de controlar os processos
naturais. Como o processo biológico de fome, nota-se que em diferentes localidades,
há diferentes culinárias, a relação de cada sociedade com a alimentação é única, até
mesmo a divisão das refeições ao longo do dia é diferente. Essas construções são
socialmente definidas baseadas nos hábitos, e sua variação, são, portanto, formas de
controle sociais que residem em dimensões inconscientes do ser.
Em seguida, no tópico “A Gramática dos Sexos", o autor analisa a ‘’influência da
cultura na sexualidade e as diferenças encontradas em várias sociedades para
interpretar o tema. O sexo e as práticas de higiene, por exemplo, são manifestações
que estão entre a Natureza e a Cultura, “O sexo está entre a Natureza e a Cultura.
Em nome da necessidade de mantê-las separadas, as culturas devem controlá-lo -
problema para o qual cada uma obteve a sua solução.” (RODRIGUES, 1979, p. 79).
Já as práticas relacionadas à higiene, diferentes em cada cultura e ensinadas desde
o seu nascimento, o narrador destaca que “a criança acabe por abrir mão de sua
autonomia fisiológica e aceite o controle cultural” (RODRIGUES, 1979, p. 109). A
criança passa por momentos de pressão social para que lide de forma mais
“adequada” com seus processos biológicos naturais de realizar a liberação dos seus
excrementos de forma higiênica e planejada.
Essa noção de higiene leva a ser seguido de forma coerente com o status e a imagem
social do sujeito ali presente. Tornando assim, mais fácil, através das noções de
higiene separar as pessoas entre aceitáveis ou descartáveis já que o “limpo” tem
relação com o “saudável”. E essa recusa ao natural, é o que afasta a cultura do natural.
Ele diz “As doenças, suas causas, as práticas curativas e os diagnósticos, portanto,
são partes integrantes dos universos sociais e, por isso, indissociáveis das
concepções mágicas, das cosmologias e das religiões. Não fazem mais do que
traduzir, às suas maneiras, o conjunto das relações sociais e os princípios estruturais
que as governam”. (RODRIGUES, 1979, p. 90).
Adiante, nos códigos da emoção, Rodrigues analisa que o "sentir emoção" também é,
de certa forma, algo cultural e transmitido dos pais para os filhos durante a sua
infância. Para ele, durante as interações entre as famílias e as crianças, o significado
de certas emoções é ensinado, bem como a maneira de agir diante de sentimentos.
Então, percebemos que os sentimentos representam uma parte fundamental dentro
da comunicação e que a cultura influencia diretamente em como sentimos e lidamos
com determinadas questões e emoções, tendo em vista que nossas ações se
baseiam, em como sentimos e processamos nossas emoções.
Portanto, é nítido que a natureza do homem sempre é atravessada pela cultura que
ele vive, no corpo fica impresso a estrutura social e a ação natural das coisas, impondo
ao indivíduo toda uma lógica que atravessa seus comportamentos naturais a modificar
a forma em que ele expressará sua essência.

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