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Introdução

O artigo pretende demonstrar como o corpo e o xamanismo pensado em sua diversidade social
tem sido dois dos pontos mais centrais nas reflexões antropológicas e tem acompanhado minhas
reflexões nos últimos dez anos. Os estudos antropológicos sobre a diversidade das "técnicas
corporais" indica-nos para uma compreensão das representações sociais de grupos particulares,
mesmo que estes sejam considerados como grupos de alto contacto com a sociedade envolvente.
Neste caso, estas representações aparecem com maior evidência quando se estabelece o trabalho
etnográfico no campo, na permanência entre o grupo a ser estudado.

Discutir os significados sociais do corpo, rituais e adornos corporais; percepção e representação


do corpo; corpo e pessoa; técnicas corporais; doença; género; raça; sexualidade e reprodução;
morte. O artigo apresenta as principais correntes teóricas nas ciências sociais sobre corpo e saúde
enquanto objectos de estudo, actualizando-as à luz de discussões contemporâneas.

Contextualização

Antropologia do Corpo, “consiste em uma abordagem antropológica e sociológica do mundo


moderno, que toma o corpo como fio condutor.”

Esta abordagem defende que o corpo é um tema particularmente propício a uma análise
antropológica, porquanto pertence de pleno direito à estirpe identificadora do homem. Sem o
corpo, que lhe dá um rosto, o homem não existiria.

A Antropologia do Corpo se preocupa também na análise da cultura como geradora de


percepções e concepções de corpo e de cultura corporal. A relação existente entre o trabalho,
lazer e tempo disponível, como critérios de utilização, consumo e valorização corporal. Estudo
da corporeidade humana enquanto fenómeno social gerador de expectativas e respostas sociais.

E também preocupação da Antropologia do Corpo, apresentar e reflectir sobre os conceitos


fundamentais da Antropologia, a construção simbólica/cultural do corpo, o biológico e o cultural
e as Pesquisas antropológicas sobre o corpo humano.
Viveiros de Castro

DOUGLAS (1966), categorizou o corpo como corpo físico e corpo social e o inter-
relacionamento contínuo entre ambos, onde “o corpo social determina a maneira de se perceber o
corpo físico”. As categorias sociais reconhecem e modificam a experiência física do corpo
sustentando uma visão cultural particular da sociedade e determinando certos padrões de
comportamento. Como resultado desta interacção, o corpo acaba por se tornar uma condição de
expressão altamente restrita e controlada pela sociedade.

O artigo Viveiros de Castro apresenta uma análise antropológica da fabricação do corpo na


sociedade xinguana. Onde, segundo o autor, o corpo do xamã é construído de forma diferente do
corpo das pessoas comuns. O tabaco, como apresentado por LANGDON (1992), é para os
indígenas um dom divino que permite transes extáticos capazes de transportá-los para o mundo
dos próprios deuses.

Segundo o autor, dos corpos que se transformam dentro das sociedades indígenas, o do xamã é o
que passa por uma metamorfose mais complexa. Xamã nestas sociedades como "a pessoa fora do
grupo, reflectindo sobre ele e, por isso mesmo capaz de modificá-lo e guiá-lo".

O autor afirma que os xamãs Siona têm o daus como uma substância que cresce com seu corpo
após a primeira morte. O dau começa a crescer e se espalhar no corpo do aprendiz depois que ele
começa a ingerir yagé e a viajar entre os mundos. Quando ocorre um infortúnio dentro do grupo,
torna-se necessário descobrir a força invisível que o causou.

O uso que os Kaingàng fazem de seus corpos está ancorado em arranjos que lhes garantem
especificidade. Se for de um xamã, o xamã que cura deve ter mais dau que o atacante. O xamã
que tiver maior poder pessoal vencerá. O conhecimento antropológico é valioso para analisar
como se dá a compreensão das representações sociais, especialmente as representações
diferenciadas no contexto de cada cultura.

Os autores querem entender como os valores podem ser justificados. Ou ainda pensar na
diversidade, como o mais imediato, o próximo terreno onde as verdades sociais e as contradições
sociais se desenrolam, bem como um locus de resistência social pessoal, criatividade e luta.
Apreciação crítica

Fica claro que a antropologia do corpo é parte importante da ciência enquanto aquela que vai
procurar subsidiar de conhecimentos relacionados a área que muitas vezes fica relegado a
religião e a mitologia.

Neste contexto, o estudo do corpo na sua dimensão total físico, biológico e sociocultural abre-
nos o entendimento de que o corpo na sua construção e aperfeiçoamento é também resultado das
influencias sociais e grande parte dele a influencia cultural, daí o sentido do postulado por
LANGDON “1992”, “o corpo é um tema particularmente propício a uma análise antropológica,
porquanto pertence de pleno direito à estirpe identificadora do homem. Sem o corpo, que lhe dá
um rosto, o homem não existiria”.

No artigo o autor oferece saberes sucintos que apoiam a compressão aprofundado do tema apesar
da sua complexidade.

Bibliografia

GEERTZ, C. A interpretação das culturas. Rio de Janeiro: Guanabara-Koogan, 1989. (1973).

LANGDON, E. J. M. Introduction: shamanism and anthropology. In: LANGDON & BAER


(Orgs.). Portals of power: south American shamanism. Albuquerque: U. New Mexico Press,
1992.

A negociação do oculto: Xamanismo, família e medicina entre os siona no contexto pluri-étnico.


Florianópolis: UFSC, 1994.

VIVEIROS DE CASTRO, E. B. A fabricação do corpo na sociedade xinguana e alguns aspectos


do pensamento Yawalapíti (Alto Xingu): classificações e transformações.

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