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COMISSÃO NACIONAL DE PROMOÇÃO DOS DIREITOS E PROTEÇÃO DAS

CRIANÇAS E JOVENS

Manual do Formando

CURSO II – AVALIAÇÃO E INTERVENÇÃO NO


SISTEMA DE PROMOÇÃO E PROTEÇÃO

VERSÃO 2018
CURSO II – AVALIAÇÃO E INTERVENÇÃO NO SISTEMA DE PROMOÇÃO E PROTEÇÃO

ÍNDICE

1. Enquadramento geral

2. Gestor de processo

2.1 Definição de gestor de processo

2.2 Características do gestor de processo

3. Avaliação diagnóstica

3.1 Modelo ecológico de avaliação nas situações de perigo

3.2 Planeamento da avaliação diagnóstica

3.3 Instrumentos de apoio à avaliação diagnóstica

3.3.1 Entrevista

3.3.2 Visita domiciliária

3.3.3 Genograma

3.3.4 Ecomapa

3.3.5 Protocolos de avaliação por faixa etária

3.3.6 Relatório de avaliação diagnóstica

4. Medidas de promoção e proteção e o acordo de promoção e proteção

5. Plano de intervenção

6. Revisão e cessação das medidas promoção e proteção

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1. ENQUADRAMENTO GERAL

Caro formando,

O Manual do Formando do Curso II – Avaliação e Intervenção no Sistema de Promoção e Proteção,

elaborado pela Comissão Nacional de Promoção dos Direitos e Proteção das Crianças e Jovens, é um

guia que pretende apoiar a sua aprendizagem, por forma a que adquira competências a desenvolver no

âmbito do seu trabalho protetivo no âmbito da CPCJ, com mais capacitação e melhor intervenção.

No entanto, este manual constitui uma primeira versão, pelo que não pode ser considerado um recurso

didático final. Há melhorias e ajustamentos a fazer, quer a nível gráfico, quer a nível de conteúdos e, é

nesse sentido, que continuaremos a trabalhar para atingir a qualidade que merece e que desejamos que

o apoie enquanto formando e profissional.

Boa formação.

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2. GESTOR DE PROCESSO

2.1. Definição de gestor de processo

A nível internacional, a coordenação de caso é definida como um processo colaborativo de planeamento,


facilitação e de mediação entre os serviços e as necessidades dos cidadãos, através da identificação
de circuitos de comunicação e dos recursos disponíveis, no sentido de promover uma relação de
qualidade entre custo e benefício.
No que respeita ao funcionamento e ao nível da organização interna da comissão de proteção, o gestor
de processo deverá ser designado pela/o Presidente, para cada processo de promoção e proteção,
funcionando como um interlocutor privilegiado entre os serviços envolvidos na intervenção, a
criança/jovem e a sua família, assumindo, ainda, um papel central no conjunto da intervenção
desenvolvida.

Atendendo à especificidade da intervenção das Comissões, a figura do Gestor de processo surge como
a mais adequada, de forma a assegurar a coordenação de toda a intervenção protetiva. Refira-se que
esta intervenção junto das crianças/jovens e suas famílias requer a colaboração entre as diferentes
entidades com competência em matéria de infância e juventude, garantindo a compreensão integral da
situação subjacente ao processo de promoção e proteção e a resposta mais adequada à
particularidade de cada caso, sendo para o efeito necessário desenvolver um trabalho conjunto,
considerando os diferentes papéis e contributos de cada entidade.

A figura de gestor de processo está prevista na Lei de Promoção e Proteção das Crianças e Jovens em
Perigo, adiante designada por LPCJP, o qual tem a função de coligir toda a informação recolhida junto
dos vários intervenientes do processo, por forma a assegurar a coordenação e concertação de todos os
apoios de que a criança ou jovem e sua família necessitam.

Artigo 82.º-A - Gestor de processo


Para cada processo de promoção e proteção a CPCJ ou o Tribunal competentes designam um
técnico gestor de processo, ao qual compete mobilizar os intervenientes e os recursos disponíveis
para assegurar de forma global, coordenada e sistémica, todos os apoios, serviços e
acompanhamento de que a criança ou jovem e a sua família necessitam, prestando informação sobre
o conjunto da intervenção desenvolvida.

A LPCJP define que pode ser gestor de processo, para além dos membros da Comissão, os técnicos de
apoio disponibilizados por quaisquer das entidades representadas na comissão alargada,
designadamente os indicados no n.º 6 do artigo 20.º da referida Lei, pela Comissão Nacional, ao abrigo
do artigo 20.º-A da LPCJP, ou por Programa específico, da responsabilidade de entidade concreta,
nomeadamente ao abrigo de protocolo assinado com a CNPDPCJ que o preveja, como por exemplo o
Programa RLIS.

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As funções do Apoio Técnico estão previstas no n.º 6 do artigo 20.º e n.º 2 do artigo 20.º-A da LPCJP,
podendo ser-lhe atribuídas outras pela comissão de proteção.

Artigo 20.º-A - Apoio técnico


2 - O apoio técnico pode assumir a coordenação de casos e emite parecer no âmbito dos processos
em que intervenha, o qual é tido em consideração nas deliberações da Comissão.

Estas funções podem incluir:


- A gestão de processos de promoção e proteção, podendo executar, em harmonia com as orientações
da comissão de proteção na modalidade restrita, todos os atos necessários à avaliação diagnóstica e
respetivo plano, bem como o acompanhamento da execução da medida de promoção e proteção e os
atos constantes do plano de intervenção/acordo de promoção e proteção.

Excetuam-se as funções de tomada de decisão que só podem ser praticados pelos membros da
comissão. Em caso algum, o apoio técnico pode assumir, simultaneamente, a qualidade de membro.

2.2. Características do Gestor de processo

- Facilitador, sendo um recurso fundamental para a criança/família, no sentido de lhe


proporcionar o acesso aos serviços de que necessita;
- Mediador entre a criança/família e as entidades prestadoras de serviços;
- Planeador, Coordenador e Supervisor de todos os serviços prestados.

O Gestor de Processo constitui um interlocutor privilegiado entre a criança/jovem e a sua família,


assumindo um papel central na intervenção. O enfoque da intervenção é na criança, pelo que é
importante que a família perceba que se trata de uma intervenção específica para a proteção da criança
explicando, sempre, os motivos da mesma.

Compete ao Gestor de processo:


• Coordenar a realização das avaliações da criança e da família;
• Promover o desenvolvimento, revisão e avaliação do plano individualizado de intervenção com
a família;
• Apoiar as famílias na identificação dos apoios/serviços a prestar e dos objetivos a atingir;
• Coordenar os apoios/serviços prestados ou a prestar, bem como as ações entre os vários
parceiros envolvidos ou a envolver;
• Informar as famílias sobre os serviços e formas de defesa dos seus direitos e interesses,
procurando sempre a prevalência do interesse superior da criança;
• Potenciar o desenvolvimento de um plano de transição para outros programas ou apoios.

Refira-se que as múltiplas intervenções de diversos profissionais, em simultâneo, introduzem stress


adicional na vida das famílias, contribuindo para a sua incapacitação, pelo que o gestor deve evitar a
descoordenação e sobreposição de ações no processo de avaliação.

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O gestor de processo e o papel da comunicação

A forma como o gestor de processo executa ou desempenha o acompanhamento é de extrema


importância tendo a comunicação um papel de relevo em todo o processo de intervenção.

A interação do gestor de processo com a família, a criança/jovem, as entidades e todas as pessoas


envolvidas deve potenciar um processo colaborativo que possa contribuir para o melhor interesse da
criança.

Os processos de informação e comunicação assumem uma importância fundamental para a coesão


entre os diversos atores, uma vez que proporcionam o ajustamento das diferentes partes.

Sublinhe-se, a título de exemplo, que eventuais bloqueios no processo de comunicação poderão


sobrepor-se à facilitação, surgindo desequilíbrios potenciadores de consequências negativas para todos
os elementos. A linguagem verbal deve ser simples, clara e percetível, sem ambiguidades, não devendo
conter palavras ou expressões emotivas ou juízos de valor, como “infelizmente”, e, no que se refere à
linguagem não verbal, devem observar-se, atentamente, gestos e comportamentos.

“É impossível não comunicar”


Teoria da Comunicação (Palo Alto)

Segundo Paul Watzlawick (1921-2007), Gregory Bateson (1904-1980) e outros colegas da Escola de
Palo Alto, existem 5 axiomas presentes na sua Teoria da Comunicação entre dois indivíduos. Se um
destes axiomas por alguma razão não funcionar, a comunicação pode falhar.

 Todo o comportamento é uma forma de comunicação. Como não existe forma contrária ao
comportamento ("não-comportamento" ou "anti-comportamento"), também não existe "não-
comunicação".
 Toda a comunicação tem um aspeto de conteúdo e um aspeto de relação. Isto significa que toda
a comunicação tem, além do significado das palavras, mais informações. Essas informações são
a forma do comunicador dar a entender a relação que tem com o recetor da informação.
 A natureza de uma relação está dependente da pontuação das sequências comunicacionais entre
os comunicantes: tanto o emissor como o recetor da comunicação estruturam essa comunicação
de forma diferente, e dessa forma interpretam o seu próprio comportamento durante a
comunicação dependendo da reação do outro.
 Os seres humanos comunicam de forma digital e analógica: para além das próprias palavras e do
que é dito (comunicação digital), a forma como é dito (a linguagem corporal, a gestão dos silêncios,
as onomatopeias) também desempenha uma enorme importância - comunicação analógica.
 As permutas comunicacionais são simétricas ou complementares, segundo se baseiem na
igualdade ou na diferença.

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A literatura comprova que os sinais não verbais representam 65% do total das mensagens trocadas.
(A.Freitas Magalhães (2018). Comunicar é “ pôr em comum”, estar em relação.

Intervenção com as famílias

Podemos definir família como “um conjunto de elementos ligados por um conjunto de relações, em
contínua relação com o exterior, que mantém o seu equilíbrio ao longo de um processo de
desenvolvimento percorrido diversificado.” (Sampaio, 1985)
Madalena Alarcão refere que a família é um sistema, na medida em que é composta por objetos e
respetivos atributos e relações, contém subsistemas e é contida por diversos outros sistemas, ou
suprassistemas, todos eles ligados de forma hierarquicamente organizada, possui limites ou fronteiras
que a distinguem do seu meio.
Gameiro (1952) apresenta a família como “uma rede complexa de relações e emoções na qual se
passam sentimentos e comportamentos.” Neste sentido, intervir com famílias socialmente vulneráveis
exige uma intervenção baseada, em estratégias complexas, de forma a ultrapassar a análise simplista
causa-efeito, tão característica da abordagem linear.
A família deve ser vista desde logo como um processo de mudança. Existem vários tipos de organização
familiar: família nuclear com filhos biológicos, família nuclear sem filhos biológicos, família monoparental,
família reconstituída (com filhos de outras uniões), família alargada, família adotiva e família de
acolhimento.
Existem também diferentes componentes dinâmicos do sistema familiar: as alianças e coligações, o
espaço, as figuras de referência, as fronteiras, os lugares, os papéis, as regras, os valores e as crenças.
O sucesso da intervenção dependerá em grande medida da capacidade da família pensar sobre si
própria, nomeadamente na consciencialização dos problemas e na identificação de soluções, na tomada
de decisões partilhadas e orientadas para objetivos claros, evidenciando uma postura proactiva.
As famílias com as quais “trabalhamos” são constituídas por pessoas como nós, com história, com
capacidades e necessidades. Enquanto técnicos, temos que ter a capacidade de nos colocar no lugar
do outro, perceber o “eco” da pergunta que está a ser colocada à família e compreender que existem
várias formas de obter a informação sem ser intrusivo.

O técnico gestor inicia o processo com o grau de consciencialização que os pais têm dos problemas e
da sua capacidade para mudar.

Ainda em relação ao gestor de processo, refira-se que, na sua dimensão enquanto pessoa, a importância
de se conhecer, a si próprio, nas suas forças e dificuldades que possam influenciar a relação com a
criança/jovem e família.

Na relação família-gestor de processo, o técnico deve:

• Mostrar tolerância à adversidade, à incerteza, ao imprevisto;


• Ser resiliente, cooperante na partilha de ideias e tomada de decisões em equipa;
• Escutar ativamente (assertividade e feedback);

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• Evidenciar empatia, atitude compreensiva e de confiança (≠ desculpabilizante);


• Deixar-se “tocar”, sem se deixar “contaminar”;
• Ter atenção aos detalhes;
• Não interpretar; perguntar se faz sentido, colocar hipóteses;
 Ser capaz de gerir e mediar conflitos (de forte impacto emocional);
• Acreditar no potencial de mudança da família;
• Ter uma atitude orientada para os recursos e para as potencialidades da família;
• Empoderar e reconhecer os “talentos” (empowerment);
 Promover a construção de pontes (entre os sistemas e subsistemas familiares e extrafamiliares);
• Garantir a audição/ envolvimento de todas as pessoas/ organizações significativas para a vida
da criança, antes da tomada de decisão;
• Conhecer a história da família, as características do desenvolvimento infantil, as etapas da
adolescência e do ciclo de vida das famílias;
• Utilizar instrumentos de avaliação e análise: genograma, ecomapa, escalas de avaliação das
competências parentais;
• Questionar-se e posicionar-se na equipa interdisciplinar (“not knowing”) e/ou recorrer a
“especialista”.

Tendo em conta as características acima descritas, o gestor de processo deve ainda ter uma postura
que:

 Não culpabilize nem envergonhe a família;


 Dê suporte à família de modo a não criar dependência;
 Focalize a intervenção nas capacidades e competências da família;
 Mostre ser sensível ao problema do outro, tendo a capacidade para compreender o outro a partir
do seu próprio quadro de referência. Pode transmitir que está a compreender e a entender o que
é importante para a criança/jovem e família, quer através de mensagens não-verbais, quer de
forma verbal.

O gestor de processo deve promover um pensamento reflexivo junto da família, tendo por base o diálogo
como principal instrumento de mudança, envolvendo desta forma a própria família. Deve ser catalisador
de mudança, potenciando que seja a família a intervir nessa mudança.

A construção e manutenção da relação de confiança é fundamental, como por exemplo conversar sobre
as histórias e biografias da família que remetem para a experiência, conhecimento e recursos e que
poderão ser utilizados na própria intervenção e processo de mudança. Deve ainda, ter uma atitude
profissional e honesta perante os pais/cuidadores das crianças/jovens maltratada, independentemente
de estes reconhecerem, ou não, o problema e aceitarem (ou não) as propostas de intervenções ou as
atuações posteriores para o resolver.

O técnico deve ter uma atitude profissional perante as crianças, nomeadamente:

 Conhecer a etapa de desenvolvimento da criança, as suas características psíquicas, intelectuais,


emocionais e corporais.
 Evitar repetições de atos já praticados e testes/provas desnecessárias para minimizar o risco de
vitimização secundária, sendo fundamental dispor de uma boa recolha de dados/documentação
desde a deteção da situação e manter uma boa coordenação/ articulação com os outros
profissionais.

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 Despender o tempo necessário para observar a criança/ jovem, mostrar tranquilidade e


organização. Sublinhe-se que as crianças percebem rapidamente quando há tensão no ambiente
e deixam-se facilmente “contagiar”.
 Mostrar segurança/credibilidade e evitar revelar desconfiança em relação às explicações da
criança.
 Aceitar o seu relato de uma forma neutra. Evitar emitir juízos acerca da situação de maus-tratos,
não se deixando levar pela indignação moral, sob pena de poder causar danos adicionais à
criança.
 Não manifestar sentimentos contra os pais, não os criticar e não fazer a criança sentir-se culpada.
 Mostrar-se empático em relação à criança. Reconhecer os seus sentimentos e aceitá-los.
 Adaptar a linguagem ao nível da compreensão, idade e grau de desenvolvimento da criança.
Quaisquer perguntas devem ser simples, abertas e diretas.
 Incutir-lhe confiança e proporcionar-lhe segurança e apoio.
 Facultar informações, explicar o que se pode fazer e como se pode ajudar.
 Assegurar e tranquilizar a criança quanto à sua integridade física e psíquica.
 Respeitar o tempo da criança.

Algumas crianças não falam dos maus-tratos de que estão a ser, ou foram, vítimas porque:

 Têm medo das represálias do agressor, se este vier a saber que a agressão foi revelada.
 Podem sentir vergonha ou humilhação, pensando que são as únicas a viver este tipo de situações
e/ou que foram elas que provocaram a violência e/ou que merecem os maus-tratos ocorridos.
 Podem querer proteger os pais/cuidadores, pois sentem e acreditam que a sua vida depende
inteiramente deles. Não entendem o que se está a passar.
 Podem pensar que as outras pessoas não se interessam por elas, não acreditam nelas, nem as
podem compreender e ajudar, incluindo o profissional que as atende.

3. AVALIAÇÃO DIAGNÓSTICA

“Se podes olhar, vê. Se podes ver, repara.“


José Saramago in Ensaio Sobre a
Cegueira

O objetivo primordial da avaliação diagnóstica é conhecer para agir. A intervenção social requer a
investigação e o conhecimento da realidade da situação e, no caso especifico das Comissões, a
realidade da criança.
A avaliação diagnóstica é um instrumento de investigação e avaliação da realidade, permitindo, não só
o conhecimento da situação-problema, como o estabelecimento de prioridades e uma planificação da
intervenção social, no sentido de provocar mudança, devendo, ainda, estar ciente das imprevisibilidades
e insucessos que podem surgir durante o processo de intervenção e adaptar-se constantemente a essas
mudanças.
Deve o gestor de processo atuar com base nos recursos e meios disponíveis, ou a disponibilizar, para a
resolução eficaz da situação-problema. Durante a elaboração da avaliação diagnóstica há que analisar,
explicar, prever e atuar.

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3.1. Modelo ecológico de avaliação nas situações de risco e perigo

A avaliação do risco é particularmente difícil e complexa, sendo mais difícil, ainda, a decisão de intervir
de modo a proteger pessoas e/ou grupos, especialmente crianças em situação de vulnerabilidade.

A literatura sobre a avaliação do risco e do perigo para a infância com vista a uma harmonização de
conceitos, metodologias e práticas tem aumentado consideravelmente nas últimas décadas. Tal facto
tem a ver com o reconhecimento da necessidade de se construir referenciais teórico-metodológicos
comuns, capazes de formatar/conferir sentido à diversidade dos saberes académicos dos profissionais
que integram as diferentes equipas e serviços no sistema de promoção e proteção (Canhão, 2007:10).

The Assessment Framework for Children in Need and their Families – Modelo Ecológico de Avaliação e
Intervenção em Situações de Risco e de Perigo para a Infância – é um modelo desenvolvido pelo governo
inglês com base em diversos estudos e exemplos de boas práticas, permite uma avaliação e intervenção
teoricamente fundamentada nas situações de risco e de perigo, através de uma harmonização de
conceitos, linguagens e metodologias. Este modelo, centrado na criança, apoia-se nos conhecimentos
atuais sobre o desenvolvimento infantil e adota uma perspetiva ecológica, situando a criança e a família
na comunidade. A sua aplicação pressupõe um verdadeiro trabalho em parceria, através de uma
abordagem interinstitucional e interdisciplinar (Canhão, 2007: 10).

Face a uma potencial situação de perigo para a criança/jovem, o gestor de processo articula com a
família, a criança/jovem e todas as entidades relevantes, com vista à elaboração de um diagnóstico e
respetiva proposta de plano de intervenção, que deverá incidir sobre os três principais domínios do
modelo - as necessidades desenvolvimentais da criança, as competências parentais das famílias
e os fatores familiares e ecológicos.

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Na avaliação e intervenção nas situações de risco e de perigo para a infância, as entidades com
competência em matéria de infância e juventude e os profissionais, devem ter em conta os seguintes
princípios orientadores com vista a uma adequada operacionalização do modelo ecológico:

 Avaliação e intervenção centrada na criança – por um lado, pelo enfoque na criança, nas suas
necessidades desenvolvimentais, proteção e bem-estar e, por outro, pela importância de se ter em
conta a perspetiva da criança sobre a situação, necessidades sentidas e expectativas para o
futuro.

 Fundamentação nas teorias de desenvolvimento da criança – os técnicos, no processo de


avaliação e intervenção, devem ter em consideração as necessidades desenvolvimentais da
criança, em função dos vários estádios de desenvolvimento, através do recurso a quadros teóricos
sobre o desenvolvimento infantil. Contudo, as crianças não são apenas indivíduos com a sua
especificidade bio-psicológica mas, também, seres sociais que não se desenvolvem
independentemente dos espaços estruturais que habitam e pelos quais são condicionados [e.g.
classe social, etnia, género, região do globo ou do país onde vivem (Sarmento, 2005: 370)]. Nesse
sentido, o desenvolvimento infantil deve ser entendido não apenas como uma sobreposição de
etapas, mas sim como um processo contínuo e interdependente de múltiplos fatores (biológicos,
psicológicos, sociais e culturais), influenciando-se mutuamente, seja de modo positivo ou negativo.
O contributo das das várias ciências, nomeadamente da medicina, psicologia, serviço social e
sociologia da infância, são fundamentais para uma avaliação sobre o desenvolvimento infantil.

 Análise dos contextos relevantes para o desenvolvimento da criança numa perspetiva ecológica e
holística – a avaliação da situação deve incidir sobre os três domínios do modelo ecológico:
necessidades de desenvolvimento da criança, competências parentais e fatores familiares e
ecológicos , analisando cuidadosamente a interação recíproca entre estes três domínios e o modo
com se influenciam uns aos outros.

 Igualdade de oportunidades – a pobreza e a exclusão social não são fenómenos “naturais” mas a
consequência de modos de organização social geradores de desigualdades, com repercussões
nos diversos grupos geracionais, e com efeitos individuais e geracionais mais repercussivos e
continuados no que diz respeito às crianças e ao grupo geracional da infância (Sarmento, 2010:
179-180). Deste modo, a intervenção técnica nas situações de risco e de perigo visa, não só,
eliminar ou minimizar estas situações mas, também, promover o acesso das crianças e das
famílias a um conjunto de bens e serviços de natureza económica, de saúde, de educação, sociais,
ambientais e tecnológicos, numa verdadeira perspetiva de inclusão, igualdade de oportunidades e
cidadania.

 Intervenção direta com as famílias e crianças, potenciadora de uma participação ativa destas na
avaliação da situação e no plano de intervenção – a maioria dos pais querem fazer o melhor pelos
seus filhos, e os profissionais, no processo de avaliação e intervenção, devem trabalhar em
colaboração com as famílias, de modo a que estas se sintam respeitadas, valorizadas e

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envolvidas. Devem, igualmente, envolver a criança em todo o processo, de modo sistemático e


organizado, a partir das suas necessidades, desejos e competências participativas.

 Identificação das potencialidades e fragilidades das famílias, crianças e dos seus contextos – todas
as famílias possuem fatores positivos e este deve ser sempre o ponto de partida para qualquer
intervenção. A avaliação diagnóstica não é uma “lista de problemas”, mas sim a identificação de
fatores de proteção, fatores de risco, necessidades e preocupações nos vários contextos
relevantes para o desenvolvimento da criança.

 Abordagem interinstitucional e interdisciplinar na avaliação da situação e respetiva intervenção –


importância de uma perspetiva colaborativa entre os vários serviços e instituições, profissionais e
saberes disciplinares, a partir da coordenação de caso por uma entidade/profissional, de modo a
que sejam rentabilizados recursos se evitem sobreposições de respostas e que estas não sejam
fragmentadas.

 Processo contínuo e não apenas um acontecimento isolado – a avaliação diagnóstica deve ser
entendida como um processo dinâmico que não se esgota na fase inicial. O plano de intervenção
deverá contemplar objetivos e ações de aprofundamento da avaliação diagnóstica a partir dos
domínios e dimensões do modelo ecológico.

 Intervenção e avaliação diagnóstica decorrem em simultâneo – do mesmo modo, durante a fase


de avaliação diagnóstica, pode haver lugar a uma intervenção imediata face a necessidades
básicas ou urgentes identificadas, ou mesmo necessidade de serem tomadas medidas
adequadas para assegurar a proteção imediata da criança.

É importante avaliar as crianças, nomeadamente as suas necessidades específicas, para que o gestor
possa ponderar se as características dos pais e dos fatores familiares e ecológicos satisfarão as
necessidades evidenciadas por aquela criança em particular (Pezzot-Pearce e Pearce, 2004).

Na avaliação diagnóstica da situação deverá ser feita uma análise das necessidades da
criança/jovem nas diferentes dimensões - saúde, educação, desenvolvimento emocional e
comportamental, identidade, relacionamento familiar e social, apresentação social e capacidade de
autonomia - e da respetiva capacidade dos pais/cuidadores em dar resposta a essas mesmas
necessidades - cuidados básicos, segurança, afetividade, estimulação, estabelecimento de regras e
limites e estabilidade –, identificando fatores de proteção e fatores de risco.

Necessidades de Desenvolvimento da Criança

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Saúde física e mental: crescimento, desenvolvimento, fatores genéticos,


Saúde deficiências, cuidados médicos, alimentação, exercício físico, aconselhamento e
informação sobre educação sexual e substâncias aditivas.

Desenvolvimento cognitivo da criança desde o seu nascimento: oportunidades de


Educação a criança brincar e interagir com outras crianças, acesso a livros,
desenvolvimento de habilidades e interesses, sucesso escolar.

Qualidade da vinculação afetiva: sentimentos e ações apropriadas por parte da


Desenvolvimento
criança em relação aos pais, família alargada e outros; comportamento
emocional e
adequado; adaptação à mudança; resposta adequada a situações de stress,
comportamental
capacidade de auto-controlo.

Auto-imagem da criança como um ser individual e valorizado pelos outros, auto-


estima positiva (etnia, religião, idade, sexo, sexualidade, deficiência). Sentimento
Identidade
de pertença e aceitação por parte da família, grupo de pares, comunidade e
sociedade em geral.

Desenvolvimento de empatia e capacidade de se colocar na situação do outro.


Relacionamento
Relação estável e afetiva com os pais, boa relação com os irmãos, amigos ou
familiar e social
outras pessoas significativas na vida da criança.

Vestuário apropriado para a idade, género, cultura e religião e higiene pessoal e


Apresentação social
o reconhecimento destes aspetos por parte da criança.

Capacidade de Aquisição por parte da criança de competências práticas, emocionais e


autonomia comunicativas que contribuem para a independência gradual da criança.

Respetivo impacto na criança e na família.


Família

Recursos Existência e acesso a serviços universais e/ou de base discricionária nas áreas
comunitários da saúde, educação, habitação, emprego, lazer, etc.

Competências Parentais

Satisfação das necessidades físicas da criança (alimentação, vestuário,


Cuidados básicos
higiene, saúde e conforto).

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Proteção contra perigos dentro de casa e noutros locais, proteção contra


adultos ou outras crianças que possam colocar a criança em perigo;
Segurança proteção de comportamentos autodestrutivos.

Satisfação das necessidades emocionais e afetivas da criança:


promoção de relações seguras, estáveis e afetuosas com a criança,
Afetividade prestando especial atenção às suas necessidades emocionais; contacto
físico apropriado.

Intelectual e cognitiva através da promoção de oportunidades sociais e


educacionais, designadamente: interação e comunicação com a
Estimulação criança, realização de jogos e brincadeiras, promoção das
oportunidades educacionais.

Disciplina e supervisão adequada da criança. Pais como figuras de


referência no que diz respeito a valores sociais e humanos.
Estabelecimento de regras
e limites

Ambiente familiar estável de modo a que a criança desenvolva uma


vinculação afetiva, segura e positiva com os seus principais cuidadores.
Estabilidade Promoção do contacto da criança com familiares e outras pessoas
significativas na sua vida.

Fonte: Department of Health, Department for Education and Employment and the Home Office (2000).
Framework for the Assessment of Children in Need and Their Families. London: The Stationery Office.

Existe um conjunto de instrumentos de apoio técnico que operacionalizam estes domínios e dimensões,
nomeadamente os protocolos de avaliação/intervenção que definem objetivos específicos para diversas
faixas etárias. Na avaliação, é fundamental que os técnicos tenham em conta, não só os fatores de risco,
mas também os fatores de proteção, potenciadores da qualidade de vida das crianças/jovens, de modo
a poderem definir um plano de intervenção adequado para cada criança/jovem.
Estes protocolos permitem uma objetivação a partir das três dimensões do modelo ecológico –
necessidades desenvolvimentais da criança, competências parentais e fatores familiares e ecológicos –,
diminuindo, por isso, a subjetividade inerente ao processo avaliativo e permitindo, na prática, lidar com a
complexidade de fatores que se entrecruzam no desenvolvimento da criança. Evita, ainda, avaliações e
intervenções simplistas, proporcionando um quadro teórico que permite articular as variáveis pessoais e
contextuais. Potencia uma avaliação holística das situações de risco e de perigo.

O processo de promoção e proteção deve ser analisado numa perspetiva ecológica, avaliando os três
grandes níveis ou dimensões supramencionadas. Esta relação tripartida está na base da avaliação
diagnóstica, respeitando sempre os princípios da intervenção mínima, proporcionalidade, privacidade e
aproveitamento dos atos anteriores, bem como as diferentes perspetivas dos intervenientes.

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Perspetiva da criança/jovem
A intervenção centrada na criança, deve atender à sua idade, desenvolvimento e capacidade de
compreensão. Deve, ainda, atender às suas necessidades e potencialidades desenvolvimentais, às
potencialidades e fragilidades dos seus pais/cuidadores, à sua situação familiar, escolar e social
(fatores familiares e ecológicos), à intervenção e a outras entidades envolvidas, assim como
expectativas futuras. A perspetiva da criança deverá ser apresentada com sensibilidade/cuidado de
modo a evitar possíveis consequências negativas para o seu bem-estar.

Perspetiva da família

Incluir a perspetiva de cada um dos pais/cuidadores relativamente: às necessidades e potencialidades


desenvolvimentais da criança/jovem, às suas próprias potencialidades e fragilidades parentais e
respetivo impacto na criança, às potencialidades e fragilidades dos fatores familiares e ecológicos, à
intervenção e de outras entidades envolvidas, assim como expectativas para o futuro.

Perspetiva das entidades envolvidas


Incluir a perspetiva das entidades relevantes para a criança/jovem e sua família relativamente: às
necessidades e potencialidades desenvolvimentais da criança/jovem, às potencialidades e fragilidades
parentais dos pais/cuidadores e dos fatores familiares e ecológicos e respetivo impacto na
criança/jovem e nos pais/cuidadores, à intervenção já realizada e perspetivas sobre a intervenção
futura com a criança/jovem e sua família.

Fatores de proteção e fatores de risco

Existe um conjunto de fatores e elementos que, em si mesmo, são neutros. Podem, porém, converter-
se em fatores de proteção ou de risco, conforme a forma equilibrada ou desequilibrada como se
desenvolvem, contribuindo assim, positiva ou negativamente, para incrementar ou evitar o risco.

Estes fatores de proteção e risco constituem um campo de forças que interagem entre si, operando tanto
no ambiente como em cada pessoa. Como tal, é importante a existência de um equilíbrio entre todos os
fatores, considerando-se mais importante o resultado global do que o derivado de cada fator
separadamente.

Fatores de risco

São variáveis físicas, psicológicas e sociais detetadas que resultam em indicadores de alterações,
impedindo ou dificultando o adequado desenvolvimento das funções de proteção e socialização no meio
em que se exercem. Aumentam a probabilidade de ocorrência de fenómenos de exclusão.

Fatores de proteção

São variáveis físicas, psicológicas e sociais detetadas que resultam de indicadores de possibilidade de
recuperação do risco detetado. Apoiam e favorecem o desenvolvimento individual e social. Estes fatores
servem como moderadores dos fatores de risco, evitando a sua cristalização.

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CONTEXTO SOCIAL E ECOLÓGICO


Fatores de Risco Fatores de Proteção

 Aceitação de violência como forma de  Meio escolar integrador;


disputa interpessoal;  Apoio social disponível;
 Exaltação mediática da violência;  Grupos formais e informais de pares;
 Tolerância social para a educação  Recursos adequados na comunidade;
através da punição física;  Comunidade com recursos de
 Escassez na efetividade dos educação, saúde, ocupação de
mecanismos de punição da violência tempos livres, etc;
intrafamiliar;  Rede de apoio comunitária;
 Definição do mau-trato como práticas  Serviços adequados de proteção à
tidas como aceitáveis pela cultura de infância e à família.
pertença de crianças e adultos;
 Condições habitacionais precárias;
 Pobreza, isolamento e exclusão social.

PAIS/CUIDADORES
Fatores de Risco Fatores de Proteção

 Elevado número de filhos;  Vinculação segura com a criança;


 Pais adolescentes;  Relação afetiva securizante da parte dos
 Conflitos conjugais; pais/cuidadores com um adulto
 Violência doméstica; significativo;
 Expetativas irrealistas relativamente ao  Exercício afetivo das responsabilidades
comportamento e capacidade dos filhos; parentais;
 Desconhecimento das necessidades  Estilos parentais adequados às
infantis; necessidades das crianças;
 Autoridade parental ausente ou  Expetativas adequadas ao
demasiado permissiva ou punitiva; desenvolvimento e necessidades dos
 Ausência de comunicação pais-filhos; filhos;
 Ausência de interação compensatória  Interações positivas pais-filhos;
pais – filhos;  Suporte conjugal;
 Vinculação insegura;  Capacidade de resolução dos problemas
 Problemas de comunicação; familiares;
 Défice do exercício das  Disponibilidade emocional;
responsabilidades parentais;  Comunicação e expressão de afetos
 Elemento da família com vulnerabilidades presentes entre pais e filhos;
particulares (toxicodependências,  Estabilidade económica;
desemprego, doença mental, deficiência  Situação profissional satisfatória;
ou doença crónica alcoolismo, exclusão  Saúde e bem-estar;
social, precaridade laboral, etc.);  História familiar sem violência ou maus-
tratos;

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 Antecedentes de vivência pessoal de  Existência de suporte familiar e social.


maus-tratos;
 Monoparentalidade.

CRIANÇA/JOVEM
Fatores de Risco Fatores de Proteção

 Prematuros, com baixo peso e  Boas capacidades cognitivas;


temperamento difícil;  Vinculação positiva com um dos
 Vulnerabilidade em termos de progenitores;
idade;  Boa auto-estima;
 Deficiência intelectual ou física;  Relacionamento positivo com os
 Doenças neurológicas congénitas irmãos;
ou adquiridas;  Relação afetiva securizante com
 Problemas de saúde crónicos ou adulto significativo;
atrasos de desenvolvimento;  Desejo de autonomia e
 Problemas de comportamento comportamentos exploratórios;
(agressividade, oposição, mentira,  Capacidade de pedir ajuda;
absentismo escolar);  Competências adaptativas
 Não satisfação das expectativas (resiliência);
dos pais (sexo, saúde, aparência  Estado geral saudável;
física).  Capacidade de empatia e de pró-
atividade.

Após a informação recolhida, ponderados os fatores de risco e os fatores de proteção, e analisada a


perspetiva dos vários intervenientes (importa referir que nem sempre a esta perspetiva é convergente,
não obstante serem todas importantes), bem como as expetativas face à resolução da situação, o técnico

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Gestor de processo constrói uma visão holística da situação, surgindo, assim, o momento da resposta à
questão legitimadora da intervenção.

3.2. O Planeamento da avaliação diagnóstica


Este planeamento operacionaliza-se a partir da resposta às seguintes questões:

- Tipologia(s) de perigo presentes na situação;

- Avaliação da sua frequência, intensidade ou duração – situação de perigo de caráter continuado


e com frequência regular ou situação pontual/esporádica devido a uma situação de crise familiar. O
incidente/situação de perigo é recente ou já aconteceu há algum tempo;

- Avaliação da intencionalidade ou não da ação por parte do agressor/figura maltratante ou


negligente;

- Avaliação do acesso do agressor/figura maltratante ou negligente à criança/jovem e a


presença ou não de figuras protetoras: vive, convive com a criança/jovem ou tem apenas contactos
esporádicos. Existe outra figura adulta com capacidade de proteger a criança/jovem e de impedir
que ocorram mais situações. Relação ou grau de parentesco do agressor/figura
maltratante/negligente com a criança/jovem;

- Avaliação das consequências físicas, emocionais e cognitivas a curto, médio e longo prazo para
a criança/jovem. Danos produzidos ou necessidades não atendidas da criança, assim como o de
perigo/risco de dano futuro das ações ou omissões parentais;

- Avaliação do grau de perigosidade da situação para a criança/jovem e da urgência ou não da


intervenção;

- Avaliação da motivação e capacidade dos pais/cuidadores para a mudança;

- Avaliação da motivação e capacidade da criança/jovem para a mudança (sempre que se


adeque);

- Avaliação da disponibilidade e capacidade de familiares e/ou rede de suporte informal para


apoiar a criança/jovem e a sua família;

- Avaliação da disponibilidade e adequabilidade dos serviços para apoiar a criança/jovem e a


sua família.

O gestor de processo deve evitar a descoordenação e sobreposição de ações e após a análise reflexiva
do processo deverá questionar:

• Os princípios orientadores do modelo ecológico de avaliação de intervenção nas situações de perigo e


os princípios orientadores da LPCJP foram tidos em conta?

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• Os princípios e valores éticos da intervenção psicossocial e do técnico foram respeitados?

• Foram aplicadas teorias, metodologias e normativos legais relevantes para avaliação da situação?

• Qual foi a qualidade do processo relacional estabelecido com a criança/jovem e com os


pais/cuidadores?

• Qual foi o principal enfoque da avaliação – no apoio a prestar à criança/jovem e à família ou apenas na
confirmação da situação de perigo e dos deficits parentais?

• As crenças, valores e modelos de parentalidade do técnico influenciaram o seu olhar sobre a situação?

• Qual a avaliação do envolvimento emocional do técnico no processo (se foi uma relação empática, se
teve problemas de envolvimento com a criança/jovem e família) ?

• Quais as limitações existentes no processo avaliativo e respetivo impacto na qualidade e


aprofundamento do diagnóstico?

O gestor de processo elabora o plano de avaliação diagnóstica e assegura a coordenação/monitorização,


devendo:

- Articular com todos os intervenientes/entidades previstas no plano;


- Promover a realização de reuniões periódicas com os diversos intervenientes para avaliação do grau
de execução do plano;
- Apresentar o ponto da situação sempre que considere necessário à comissão restrita.

Principais aspetos a ter em conta no planeamento da avaliação diagnóstica

Objetivos – Para que se quer avaliar

Os objetivos devem ser específicos, mensuráveis, atingíveis, realistas e delimitados no tempo: modelo
SMART. Devem permitir identificar as necessidades de desenvolvimento da criança, avaliar as
competências parentais da família e avaliar fatores familiares e ecológicos relevantes.

Ações – Como se quer avaliar

Para cada objetivo devem ser definidas uma ou várias ações. Para cada ação definem-se os métodos e
as técnicas a utilizar. É importante recorrer a uma multiplicidade de métodos e técnicas de recolha e
análise da informação respeitando, simultaneamente, os princípios da intervenção mínima,
proporcionalidade e privacidade, tais como:

 Entrevistas individuais e conjuntas aos pais/cuidadores e à família alargada (avós, filhos, outros
elementos significativos);
• Entrevistas individuais à criança/jovem e observação da criança sozinha, bem como utilização de
outras técnicas adequadas à idade e ao desenvolvimento da criança, tais como o ecomapa da
criança, desenho ou jogos, entre outras;

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• Observação da interação entre a criança e os pais/cuidadores, em contexto de entrevista conjunta,


em casa, na escola, com o grupo de pares e família alargada;
• Aplicação de escalas, questionários e/ou inventários à criança, aos pais e/ou família alargada;
• Fontes documentais para recolha de informação junto das entidades envolvidas com a criança e
a família como por exemplo, relatórios médicos, sociais, escolares ou pedido de avaliações a
especialistas (avaliação psicológica dos pais, da criança, etc.).

Intervenientes – Identificar os intervenientes que vão estar implicados em cada ação. Considerar a rede
formal (serviços/entidades) e informal (criança/jovem, pais/cuidadores, família alargada e pessoas
significativas). Indicar o nome da pessoa/técnico, entidade a que pertence e área disciplinar.

Calendarização das ações – Data de início e fim de cada ação

O gestor para proceder ao planeamento da avaliação deve ter em conta as seguintes questões:

• Que informação já dispõe sobre a criança/jovem e a sua família?


• Quais são os elementos da família a envolver e como é que estes vão participar no processo de
avaliação diagnóstica da situação?
• Em que contextos é que a criança/jovem e a família vão ser entrevistados e por que ordem?
• Existem algumas dificuldades de comunicação e/ou compreensão por parte da família ou da
criança/jovem? Se sim, quais os recursos a acionar de modo a promover uma participação destas
na avaliação?
• Quais os profissionais/entidades a implicar na avaliação?
• Que métodos e técnicas é que vão ser utilizadas para a recolha da informação?
• Qual vai ser a calendarização da fase de avaliação diagnóstica?
• Como é que toda a informação vai ser analisada e quem é que vai ser implicado nessa análise?

Após a conclusão da fase de avaliação diagnóstica, o Gestor de processo promove a elaboração de um


relatório com a eventual proposta de aplicação de medida de promoção e proteção e respetivo plano de
intervenção, com vista à discussão e deliberação por parte da comissão restrita.

Alguns erros que se podem cometer na avaliação diagnóstica:

• Não se avaliar;

• Realizar avaliações incompletas, intrusivas ou desnecessárias;

• Realizar uma avaliação não orientada para as decisões nem para a intervenção;

• Basear a avaliação apenas em dados obtidos a partir de uma única fonte de informação ou de
uma única entidade;

• Realizar avaliações apenas com dados ou informações sobre o momento atual;

• Realizar avaliações unicamente na perspetiva do “défice”, limitando-se a identificar


carências/fragilidades e negligenciando dados obtidos a partir e da própria criança/ jovem, bem
como dos recursos da comunidade.

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3.3. Instrumentos de apoio à avaliação diagnostica

Os instrumentos, como o próprio nome indica, são ferramentas que nos permitem fazer o diagnóstico,
dispondo e organizando os dados de forma a obter-se uma visão global das relações intra e extra
familiares. Estes não substituem uma fundamentação teórica, muito menos a razão e o discernimento do
técnico para imprimir um sentido e significado aos dados e encontrar as melhores estratégias para a
intervenção com a família. Necessitam de preparação cuidada, pelos profissionais, antes da sua
aplicação; devem ser apresentados à criança/ jovem e à família e aplicados com sensibilidade e cuidado,
ajudando a promover e a fortalecer a relação de colaboração entre técnico e família. Permitem ainda
estruturar a análise do técnico sobre a família e servem de base de apoio a um registo sistemático e
consistente daquilo que observam e ouvem.

3.3.1. Entrevista

“As questões que colocamos, as coisas em que nos focamos e os temas


que escolhemos, determinam o que vamos encontrar. As sementes da mudança estão implícitas desde
a primeira questão que fazemos”
Cooperrider,2003

Fases da Entrevista
Questionar é intervir. A entrevista deverá ser composta por quatro fases:

1. Social
2. Definição do problema / Comunicação da situação de perigo
3. Interativo
4. Redefinição do problema

1. Social

Finalidade: estabelecer um contexto de colaboração.

Tarefas:
 Acolhimento, através de um contacto direto com todos os elementos;
 Estar atento ao comportamento verbal e não verbal;
 Adaptação à família, utilização de linguagem adequada;
 Respeito pela cultura familiar.

Ter em atenção:

 Apresentação dos elementos da CPCJ presentes na entrevista;


 Apresentação dos pais, representante legal, ou a pessoa que tenha a guarda de facto da
criança/jovem;
 Dar a conhecer o motivo (comunicação da situação de perigo) pelo qual foram convocados;
 Informar sobre a intervenção da CPCJ: composição, funcionamento, direitos e princípios
orientadores;
 Informar das diligências que a CPCJ possa realizar junto de outras entidades, família alargada,
entre outras.

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Considerações:

Na transmissão da informação a prestar à família, o técnico Gestor deve utilizar uma linguagem
compreensível para que, de forma esclarecida, os cuidadores decidam consentir, ou não, na intervenção
(consentimento informado, expresso e escrito).

2. Definição do problema / Comunicação da situação de perigo

Finalidade: exploração, junto de cada elemento da família, das várias perspetivas sobre o problema em
causa.

Tarefas:
• Definir a ordem por que cada um deve intervir, não devendo ocorrer em simultâneo, nem uma
pessoa no lugar da outra;
• Encorajar cada elemento a expressar-se;
• Prestar atenção às comunicações não verbais;
• Não se deixar contagiar pelo clima emotivo que se possa gerar;
• Tentar definir, em conjunto, o problema que deu origem à comunicação da situação de perigo;
• Indagar quando começou o problema e as diligências já efetuadas no sentido da sua resolução
(expectativas de cada um).

Ter em atenção:

Ouvir como cada elemento explica o que deu origem à comunicação da situação de perigo. A informação
recolhida deve surgir como resultado da “conversa” com os diferentes elementos da família e não com
perguntas incisivas tipo questionário.

Importa, também, devolver o que foi dito tal como o compreendemos e garantir que a mensagem é
percecionada de forma clara por todos os intervenientes.

3. Interativo

Finalidade: exploração da estrutura da família (interação de um modo geral – comunicação).

Tarefas:
• Observar as interações verbais e não verbais que permitem ampliar o conhecimento da estrutura da
família;
• Explorar zonas de desacordo e perceber como resolvem os problemas;
• Verificar a existência de alianças e coligações;
• Alargar o centro de interesse da família (do problema com a criança/jovem e outros aspetos da
organização familiar);
• Controlar o nível de tensão emocional;
• Preparar a definição de objetivo(s).

Ter em atenção:

Como cada elemento interage com os elementos da CPCJ, presentes, e com cada elemento da família.
Na entrevista, por vezes, a família vivencia uma situação de conflito intrafamiliar, situação que a pode
impedir de se centrar nas suas capacidades e potencialidades/competências, pelo que será importante
assumirmos uma postura de escuta ativa, mesmo que tal implique uma nova entrevista.

4. Redefinição do problema

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Finalidade: reavaliar com a família o que cada membro poderá contribuir para melhorar a situação da
criança/jovem, reenquadrando o problema.

Tarefas:
• Adequar a intervenção à criança/jovem, à família e ao momento atual;
• Motivar os membros da família para a mudança;
• Avaliar com a família o que cada um pode fazer ou contribuir para desenvolver modos alternativos
de funcionamento;
• Entrar em contacto com outros elementos significativos de outros sistemas, com quem a família
possa manter contacto, quer da sua rede de suporte formal quer informal.

Ter em atenção:
A redefinição do problema pode passar por recontextualizar a comunicação da situação de perigo.

A recolha de informação sobre a rede de suporte formal e informal da família, pode ser obtida a partir de
perguntas, que indiquem a quem recorre, em momentos de dificuldade, ou descrevam o seu dia-a-dia.

É necessária capacidade para reduzir a tensão que a situação de entrevista poderá provocar, com vista
a estabelecer uma relação de confiança/adesão para a fase seguinte.

O objetivo é conhecer a família e reforçar as suas capacidades, potencialidades e competências,


fazendo-lhe sentir que a CPCJ irá “caminhar com eles” e não “em vez deles”.

Entrevista – Anamnese Familiar

Como é a dinâmica familiar? Quem vive no domicílio da família? Como são as relações de parentesco?
Como é o ambiente familiar? Existe a possibilidade de receber ajuda ou apoio de outras pessoas? A casa
é frequentada por amigos ou outras pessoas?

Existem fatores de stress na família, como por exemplo: pobreza, ameaça de desemprego, conflitos
familiares, separação ou divórcio, violência doméstica, comportamentos aditivos (consumo de álcool ou
drogas), relações anteriores com os serviços sociais, doenças físicas ou psíquicas relevantes, entre
outros.

Antecedentes pessoais dos pais: algum dos pais/ cuidadores tem antecedentes de maus-tratos infligidos
pela sua família de origem?

Quais são as práticas disciplinares dos pais?

A preocupação que os pais mostram é compatível com a gravidade dos danos na criança?

Estas e outras perguntas constituem apenas alguns exemplos a colocar.

Entrevista – Competências pessoais e técnicas

• Flexibilidade
• Empatia
• Coerência
• Aceitação positiva
• Igualdade

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• Proximidade/confiança
• Energia
• Profissionalismo

“Timing” e Espaço Físico

Condiciona a nossa entrevista, a nível das relações que se criam entre todos os
elementos presentes durante a entrevista, e ainda, relativamente às questões que
se prendem com a confidencialidade e a privacidade.

Número de elementos da CPCJ presentes numa entrevista

• Não deve ser superior a três elementos.


• Um elemento deverá conduzir a entrevista e o outro deverá ter especial atenção à comunicação
não verbal e esclarecer, se necessário, algumas questões e/ou questionar áreas que o outro
técnico não tenha abordado.
• O terceiro elemento será útil, sobretudo, naquelas situações em que há crianças pequenas e em
que é necessário retirá-las do espaço da entrevista ou quando é necessário ouvir a criança/jovem
noutro espaço físico.

Ouvir / Escutar quem?

Cada CPCJ deverá criar e definir os procedimentos a adotar na auscultação da família e da


criança/jovem:

• Se ouve primeiro a criança/ jovem e depois os pais, representante legal, ou a pessoa que tenha a
guarda de facto;
• Se ouve os pais, representante legal, ou a pessoa que tenha a guarda de facto e só depois a criança/
jovem;
• Se um técnico ouve a criança/jovem e outro os pais, representante legal, ou a pessoa que tenha a
guarda de facto, e depois se juntam para partilhar a informação, ouvindo posteriormente a família
em conjunto.

Artigo 4.º - Audição obrigatória e participação


j) A criança e o jovem, em separado ou na companhia dos pais ou de pessoa por si escolhida, bem
como os pais, representante legal ou pessoa que tenha a sua guarda de facto, têm direito a ser
ouvidos e a participar nos atos e na definição da medida de promoção dos direitos e de proteção;

Artigo 10.º - Não oposição da criança e do jovem


1 - A intervenção das entidades referidas nos artigos 7.º e 8.º depende da não oposição da criança
ou do jovem com idade igual ou superior a 12 anos.

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2. - A oposição da criança com idade inferior a 12 anos é considerada relevante de acordo com a sua
capacidade para compreender o sentido da intervenção.

A Convenção sobre os Direitos da Criança veio alicerçar esta nova visão sobre a criança.
Identificando-a como um ser vulnerável, carecido de proteção e assistência, veio reconhecê-la como um
sujeito ativo, ao dar-lhe importância e atribuir-lhe direitos próprios.

O direito a formar e exprimir opiniões, a ser valorizada a sua participação nas decisões que lhe dizem
respeito, a participar e pronunciar-se sobre o seu projeto de vida, a intervir, enquanto parceiro, no sistema
de promoção e proteção em que se insere.

O artigo 12.º da Convenção dos Direitos das Crianças preconiza o direito da criança a ser ouvida e o
respeito pelas suas opiniões.

Considerar a opinião da criança não significa fazer-lhe a vontade ou transferir para si a responsabilidade
da decisão. Esta responsabilidade é do adulto, que, antes de a tomar, considera, valoriza, tem em conta
a opinião da própria criança de acordo com a sua idade e maturidade.

O que dizem as crianças?


(NSPCC e Univ. Sheffield, 2006)

“Eu não gostei nada de ter todas estas pessoas diferentes a fazerem-me as mesmas perguntas.”

“Não gostei de ver a minha mãe a chorar quando tive que ir para uma família de acolhimento.”

“Eu estava mesmo assustada pois as assistentes sociais retiram as crianças das famílias. Como eu não
queria ser retirada da minha mãe, não disse nada à técnica.”

“Disse à assistente social que queria ir para casa para proteger a minha mãe para que o meu pai não
nos batesse mais.”

“Eles querem que eu fale sobre os meus sentimentos, mas em quem é que eu posso confiar agora?”

“Senti-me muito envergonhada, teria sido mais fácil se ela tivesse passado algum tempo comigo para
me conhecer – não sabia realmente quem ela era ou o que queria de mim.”

O que desejam as crianças?


(NSPCC e Univ. Sheffield, 2006)

Serem acompanhadas por profissionais que:

• As ouçam e as tratem como pessoas e não como objetos de preocupação dos adultos;

• As acompanhem durante todo o PPP e com quem estabeleçam uma relação positiva, de respeito,
aceitação incondicional e confiança mútua;

• Sejam capazes de as manter informadas ao longo de todo o PPP e de lhes explicar as suas
funções e os objetivos da avaliação de modo compreensível;

• Sejam capazes de prometer apenas aquilo que podem cumprir;

• Não se limitem a ouvi-las, mas atuem em conformidade, com vista a promover uma melhoria
efetiva da sua qualidade de vida e das suas famílias;

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• Sejam capazes de evitar o “jargão” técnico, fazendo um esforço para traduzir conceitos técnicos
em vocabulário compreensível;

• Sejam capazes de respeitar a sua individualidade, ouvindo-a em separados dos seus irmãos;

• Sejam capazes de utilizar o método de comunicação e os instrumentos de trabalho mais


adequados à sua idade, desenvolvimento, género, identidade cultural, religiosa e social.

• Sejam capazes de respeitar a sua individualidade, ouvindo-a em separados dos seus irmãos;

• Sejam capazes de utilizar o método de comunicação e os instrumentos de trabalho mais


adequados à sua idade, desenvolvimento, género, identidade cultural, religiosa e social.

Recomendações…

As crianças e jovens querem estabelecer uma relação positiva, baseada na confiança mútua, respeito e
aceitação incondicional com um profissional de referência, que as possa acompanhar durante todo o
processo de promoção e proteção e que não se limite apenas a ouvir a criança, mas que atuem em
conformidade, com vista a promover uma melhoria efetiva para o seu bem estar e desenvolvimento,
afastando-a do perigo.

3.3.2. Visita domiciliária

A visita domiciliária é uma técnica que pode revelar-se especialmente útil quando se pretende verificar,
comprovar ou clarificar alguma informação incompleta, contraditória ou relevante, obtida durante a
entrevista, ou quando esta não foi viável ou possível porque a família não compareceu aos
agendamentos ou quando se revele como o método mais adequado à situação e ao momento.

O que observar?

Condições relativas à segurança da habitação:


• Estado de conservação da casa
• Estrutura
• Mobiliário
• Corrimãos
• Escadas
• Varandas
• Janelas (com/ sem fecho de segurança)
• Arrumação dos produtos tóxicos e farmacêuticos

Condições relativas à higiene:


• Da casa
• Da roupa
• Do mobiliário
• Do WC

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• Dos utensílios da cozinha


• Dos alimentos (sua conservação…)

Condições relativas à alimentação:


• Disponibilidade
• Estado de conservação
• Tipo de alimentos
• Frequência de consumo de alimentos não saudáveis

Condições relativas à organização:


• Ordem e distribuição da mobília
• Distribuição dos espaços
• Distribuição dos tempos
• Organização do horário da família
• Horários de sono
• Horários das refeições

Condições relativas à privacidade:


• Lotação
• Gestão da insuficiência dos espaços
• Existência de portas
• Espaços destinados à intimidade do casal
• Privacidade dos filhos

Caraterísticas da relação entre os elementos da família:


• Tipo de interação entre o casal
• Interação pais/ cuidadores e filhos
• Interação entre irmãos
• Convivência da família com outras pessoas (vizinhos) no domicílio
• Atitude dos pais/ cuidadores face à lesão, as explicações dadas por estes acerca do modo como
ocorreu

3.3.3. Genograma

O Genograma é uma representação gráfica da estrutura familiar multigeracional (pelo menos três
gerações), que regista a informação sobre os membros da família em estudo e das suas relações.

• Permite visualizar a estrutura da família


• Ajuda a sistematizar a história familiar
• Ajuda a conhecer fatores de risco
• Recolhe informações sobre a cultura familiar (tradições, mitos, crenças, rituais)
• Analisa a herança da posição na fratria
• Ressalta consciências (nomes, atitudes...)
• Relembra experiências de entrada e saída dos elementos
• Relembra segredos esquecidos
• Separa factos da fantasia
• Possibilita a consciência das influências familiares
• Permite passar dos modelos internacionais repetitivos para a procura de novas soluções
• Ajuda a propor soluções com base na história familiar

A Construção de um Genograma Familiar supõe três níveis:

A. Traçado da Estrutura Familiar

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A base do genograma é a descrição gráfica de como os diferentes membros de uma família estão
biológica e legalmente ligados entre si de uma geração a outra. Este traçado é a construção de figuras
que representam pessoas e linhas que descrevem as suas relações.

De seguida, apresentar-se-ão os respetivos símbolos que se utilizam na construção do genograma:

Cada membro está representado por um quadrado se é homem e por um círculo se é mulher.

Masculino Feminino

O "paciente identificado" é representado com uma linha dupla no quadrado ou no círculo.

Para uma pessoa falecida coloca-se um X dentro do quadrado ou do círculo. As figuras do passado
distante (há mais de três gerações) não se assinalam, uma vez que estão, presumivelmente, mortas.

Ex. nascimento 43:62 falecimento – pessoa que nasceu em 1943 e faleceu em 1962

As gravidezes, abortos e partos de um feto morto indicam-se através dos seguintes símbolos:

Gravidez Parto de um feto morto Aborto espontâneo Aborto provocado

Duas pessoas casadas estão ligadas por linhas horizontais e verticais, situando-se o marido à esquerda
e a mulher à direita. A letra “M” seguida de uma data indica quando o casal contraiu matrimónio. Na
linha de casamento indicam-se também as separações “S” (com um traço) e os divórcios “D” (com dois
traços), seguidas do respetivo ano. Neste caso, o casal contraiu matrimónio em 1993, separou-se em
1998 e divorciou-se em 2000.

Quando se conhece o passado em termos de ligações matrimoniais de ambos os cônjuges, é possível


representar da seguinte forma:

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CURSO II – AVALIAÇÃO E INTERVENÇÃO NO SISTEMA DE PROMOÇÃO E PROTEÇÃO

Significa um marido com várias esposas. Para a situação de uma mulher com vários maridos, procede-
se da mesma forma, substituindo-se os respetivos símbolos. Convencionou-se para a representação
de uma situação em que ambos os cônjuges tiveram ligações matrimoniais anteriores que a ligação
atual se encontre representada no meio em que os ex-cônjuges de cada um se situam na continuação
da linha:

Figura que representa dois cônjuges que tiveram, cada um, múltiplos cônjuges.

Se um casal tem uma relação ou vivem juntos, mas não estão legalmente casados, a representação é
a mesma, utilizando-se, no entanto, uma linha em tracejado.

Poderá referir-se o ano em que o casal se conheceu ou ano em que iniciaram vida em conjunto.
Se um casal tem filhos, a figura de cada filho pende da linha que a liga ao casal. Os filhos vão-se
situando da esquerda para a direita, desde o mais velho ao mais jovem:

Utiliza-se uma linha de tracejado para ligar um filho adotivo à linha dos pais. As linhas convergentes
ligam gémeos à linha dos pais. Se os gémeos são monozigóticos encontram-se ligados por uma linha.

Filho adotivo Gémeos dizigóticos Gémeos monozigóticos

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B. Registo da informação sobre a família

Depois de se ter traçado a estrutura familiar, começa-se a juntar a informação sobre a família.

a) Informação demográfica:

Inclui idades, datas dos nascimentos e mortes, ocupações e nível cultural.

A idade escreve-se no interior das figuras. No caso de falecimento desenha-se um X no interior da


figura.

b) Informação sobre o funcionamento:

Esta informação inclui dados mais ou menos objetivos sobre o funcionamento médico, emocional e
de comportamento dos diferentes membros da família.

A informação recolhida sobre cada pessoa situa-se junto ao seu símbolo no genograma.

c) Sucessos familiares críticos:

Incluem-se trocas de relações, migrações, fracassos e êxitos. Estes dão o sentido da continuidade
histórica da família.

Os acontecimentos críticos da vida estão registados na margem do genograma ou, se necessário,


numa folha separada.

C. Descrição das relações familiares

O terceiro nível da construção do genograma compreende o traçado das relações entre os membros
duma família.

Estas descrições são baseadas nas informações dos seus membros e nas observações diretas.

Utilizam-se tipos distintos de linhas para simbolizar os diferentes tipos de relações entre os membros da
família.

Como os padrões de comportamento, ligados entre si, podem ser bastante complexos, habitualmente, é
útil representarem-se num genograma à parte.

Outros exemplos de representação gráfica dos diferentes tipos de relações:

Exemplo de um Genograma a partir de um caso:

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CURSO II – AVALIAÇÃO E INTERVENÇÃO NO SISTEMA DE PROMOÇÃO E PROTEÇÃO

Este genograma foi construído em torno do Tiago, cuja situação de perigo foi tipificada como negligência.
Coabitam avó materna, pais e dois filhos na mesma casa.
A Joana reside com um companheiro desde 1999, estando neste momento grávida. Ambos os
progenitores foram casados anteriormente, tendo-se ambos divorciados em 1980.
A progenitora efetuou uma interrupção voluntária da gravidez.
O avô materno faleceu em 1986. Desde essa altura, a avó materna passou a incluir o agregado familiar
do Tiago.

De modo a facilitar a interpretação do genograma estabelecem-se cinco categorias:

A - Composição da família

B - Posição na fratria

C - Configurações familiares pouco comuns

D - Adaptação ao ciclo vital da família

E - Repetição de padrões de comportamento através das gerações

Estas categorias podem apresentar-se separadamente ou inter-relacionadas entre si.

Fonte: McGoldrick; Gerson; “ Genogramas en la Evaluacion Familiar”

A representação do agregado familiar faz-se através de uma linha ponteada ou tracejada.

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CURSO II – AVALIAÇÃO E INTERVENÇÃO NO SISTEMA DE PROMOÇÃO E PROTEÇÃO

3.3.4. Ecomapa

O Ecomapa é um
diagrama das relações
entre a família e a
SUPORTE FORMAL comunidade, ajuda-nos a
avaliar os apoios e
suportes (formais e
informais) disponíveis e
SUPORTE INFORMAL
como a família os utiliza.

Uma família que tem


poucas conexões com a
FAMÍLIA
comunidade e entre os
seus membros necessita
maior investimento, no
sentido da mudança.

Estrutura de
conceptualização das
redes de apoio à

criança e família

Definição – Instrumento de registo da inserção familiar e social da criança/ jovem, bem como do tipo de
relações estabelecidas entre os diferentes elementos que constituem a rede de suporte.

REDE FORMAL DE APOIO


Objetivo – Organizar e
GRUPOS DE REDES
INFORMAISDE APOIO
permitir uma rápida
visualização da informação
sobre o contexto sociofamiliar
MEMBROS DAS REDES
e das interações estabelecidas
Bibliotecas DE CONTACTOS PESSOAIS Escolas dentro do mesmo, ao nível das
redes de suporte informal
Grupos
Grupos de
Apoio aos
FAMÍLIA
Sociais (família, pessoas
Professores Pais
Familiares
Mãe Pai
Serviços significativas, vizinhos,
CRIANÇA
Amigos Colegas
Sociais
amigos) e formal (instituições,
Grupos
religiosos Avós
Irmãos
de Trabalho
Instalações
entidades, serviços).
Assistentes recreativas

Sociais Organizações Associações


Vizinhos Infantários
de Bairro religiosas

Médicos
Agrupamentos
étnicos
Terapeutas Hospitais e

Centros de

Psicólogos Saúde
Programas de
Intervenção precoce

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CURSO II – AVALIAÇÃO E INTERVENÇÃO NO SISTEMA DE PROMOÇÃO E PROTEÇÃO

Operacionalização:

No 1º círculo, coloca-se no centro a criança, indicando-se por baixo a sua idade.

No 2º círculo colocam-se os nomes e a definição do tipo de relação existente, bem como as respetivas
idades.

No 3º círculo incluem-se as instituições, entidades ou serviços envolvidos. Caso, dentro dessas


entidades, exista pessoa de referência identificada (diretor de turma, assistente social, psicólogo, ou
outra) poderá incluir-se o nome da mesma.

O ecomapa vai sendo preenchido à medida que novos dados vão sendo obtidos.

3.3.5. Protocolos de avaliação por faixa etária

Existe um conjunto de instrumentos técnicos que operacionalizam estes domínios e dimensões,


nomeadamente Protocolos de avaliação-intervenção que definem objetivos específicos para seis faixas-
etárias (0-2 anos, 3-5 anos, 6-10 anos, 11-14 anos e 15 +), assim como diversas escalas e questionários.

Estes protocolos permitem alguma objetivação a partir das 3 dimensões do modelo ecológico –
necessidades desenvolvimentais da criança, competências parentais e fatores familiares e ecológicos –
diminuindo, por isso, a subjetividade inerente ao processo avaliativo.

Apesar de apresentarem um conjunto de indicadores de avaliação, podem ser sempre acrescentados


novos indicadores e não valorizados outros, de modo a adequar o instrumento a diferentes perfis de
crianças, configurações parentais e características ambientais.

Nesse sentido, o protocolo constitui-se, enquanto guião, meramente orientador e permite apoiar o técnico
/ membro na realização de avaliações e intervenções técnicas. Não deve ser, portanto, aplicado
diretamente à criança/jovem ou à sua família.

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CURSO II – AVALIAÇÃO E INTERVENÇÃO NO SISTEMA DE PROMOÇÃO E PROTEÇÃO

3.3.6 Relatório de Avaliação Diagnóstica

No final da avaliação diagnóstica, o Gestor de processo apresenta


à comissão restrita um parecer técnico através da elaboração de
um relatório, fundamentando a necessidade ou não da aplicação de
uma medida promoção e proteção.

Caso considere necessária a aplicação da medida, deverá propor


qual a medida e a sua duração, anexando uma proposta de Plano
de Intervenção.

A proposta de deliberação de medida de promoção e proteção, deve implicar:


• Relatório de Avaliação Diagnóstica
• Avaliar, confirmar a situação de perigo e aplicar a medida de promoção e proteção
• Definir o Acordo de Promoção e Proteção e conceber e desenvolver o Plano de Intervenção

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CURSO II – AVALIAÇÃO E INTERVENÇÃO NO SISTEMA DE PROMOÇÃO E PROTEÇÃO

4. AS MEDIDAS DE PROMOÇÃO DOS DIREITOS E PROTEÇÃO, O ACORDO DE


PROMOÇÃO E PROTEÇÃO

As medidas de promoção dos direitos e proteção das crianças e dos jovens visam: afastar o perigo
em que estes se encontram; proporcionar-lhes as condições que permitam proteger e promover a sua
segurança, saúde, formação, educação, bem-estar e desenvolvimento integral e garantir a sua
recuperação física e psicológica (cfr. artigo 34.º da LPCJ).

Podem ser executadas em:

Meio natural de vida


- Apoio junto dos pais;
- Apoio junto de outro familiar;
- Confiança a pessoa idónea;
- Apoio para a autonomia de vida;

Regime de colocação
- Acolhimento familiar;
- Acolhimento residencial;

O Acordo de Promoção e Proteção


(APP) é um documento técnico que reúne
por escrito todos os elementos
necessários para a preparação, execução
e revisão da intervenção realizada com a
criança e sua família.

É um conjunto de ações e avaliações que


integram todo o processo de intervenção
realizado quando uma criança é alvo de uma
medida de promoção e proteção.

O APP e o Plano de Intervenção, para serem operacionalizados, monitorizados e avaliados devem


especificar, claramente, as ações que permitem alcançar os objetivos definidos em cada área de
intervenção e que contribuem para a eliminação ou minimização da situação de perigo.

O APP inclui obrigatoriamente:

a) A identificação da comissão de proteção e do técnico a quem cabe o acompanhamento do caso;


b) O prazo pelo qual é estabelecido e em que deve ser revisto;
c) As declarações de consentimento ou de não oposição necessárias.

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CURSO II – AVALIAÇÃO E INTERVENÇÃO NO SISTEMA DE PROMOÇÃO E PROTEÇÃO

Não podem ser estabelecidas cláusulas que imponham obrigações abusivas ou que introduzam
limitações ao funcionamento da vida familiar para além das necessárias a afastar a situação
concreta de perigo (cfr. artigo 55.º, nº 2 da LPCJP)

Pretende-se nesta fase:


Acordo de Promoção e •Estabelecer ações que visem a resolução da
Elaboração do Plano de Proteção situação de perigo, a partir dos recursos
Intervenção
(artigos 55º a 57º) (criança/ jovem, família e comunidade);
•Estabelecer metas temporais para atingir os
objetivos acordados.

Pretende-se:

Estabelecer metas que visem a resolução a partir dos “problemas” ou a melhoria da situação que
originou a comunicação da situação de perigo. O que não significa, apenas, afastar a situação de
perigo, mas também criar na família condições para que o perigo não volte a surgir, dotando-a de
ferramentas para melhor lidar com situações adversas, não obstante o respeito pelo disposto no n.º 2
do artigo 55.ºda LPCJP.

Fazer uma síntese e a verificação dos pontos fundamentais tratados durante as entrevistas e dos
aspetos que farão parte do acordo.

Dar a possibilidade à família de colocar todas as perguntas que pretender e esclarecê-la sobre o que
tenha ficado menos explícito.

Pretende-se, ainda, no APP:


• Estabelecer um plano que integre os diferentes intervenientes (serviços que apoiam a família),
garantindo a articulação e a otimização dos recursos e do trabalho em parceria, com respeito
pelo princípio da intervenção mínima;
• Centrar o acordo na família e na criança ou jovem e não em quem os acompanha;
• Integrar os apoios formais e informais;
• Respeitar e rentabilizar todos os recursos existentes, no respeito pelo princípio da
Subsidiariedade.

5. PLANO INTERVENÇÃO

Plano de Intervenção, deve:

• estar em consonância com o Acordo de Promoção e Proteção;


• espelhar os resultados da avaliação diagnóstica;
• estar mediado com os intervenientes (criança/jovem, família e as entidades relevantes);
• desenvolver um modelo integrado de avaliação e intervenção;

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CURSO II – AVALIAÇÃO E INTERVENÇÃO NO SISTEMA DE PROMOÇÃO E PROTEÇÃO

• deve ser individualizado;


• deverá respeitar as especificidades étnicas, culturais e religiosas e de orientação sexual da criança e
família;
• contemplar objetivos e ações de aprofundamento da avaliação diagnóstica, tendo em conta os
domínios e as dimensões do modelo ecológico;
• explicitar a frequência de contacto da entidade que assegura a execução e/ou os atos materiais da
medida com a criança e com a família através da identificação de uma figura de referência;
• explicitar a metodologia que vai ser utilizada para avaliação do plano e sua frequência;
• usar linguagem simples e compreensível para a criança/jovem e família;
• ser subscrito por todos os intervenientes.

 Monitorizar e avaliar os objetivos definidos e resultados alcançados.


 Melhorar a eficácia das intervenções adotadas, reformulando-se e adequando-se, deste modo,
as estratégias de intervenção.
 Priorizar o trabalho com a família, no respeito pelo direito da criança à sua família, em condições
que promovam o seu bem-estar e segurança e/ou que possibilitem com sucesso o seu regresso
à família.

Exemplos de ações:
• Programas de Educação Parental (art. 41.º LPCJP) compensadores, de caráter sócio educativo,
que favoreçam a integração e facilitem o adequado e positivo exercício das funções parentais,
assim como uma melhoria das relações sociofamiliares.
• Prestações económicas (apoio social), para atender às necessidades básicas da criança e evitar
a sua residencialização (art. 39.º LPCJP).
• Apoio psicopedagógico e/ou especializado para a criança (art. 39.º LPCJP).
• Apoio domiciliário para apoios específicos à criança e/ou família.
• Integração da criança em estruturas destinadas a prestar apoios educativos (jardim de infância),
de tempos livres (programas de férias ou de ocupação de tempos livres) ou preventivos da
inadaptação social de adolescentes (projetos comunitários do Programa Escolhas).
• Programas de formação profissional, vocacionados para os adolescentes que necessitem de
formação profissional que favoreçam a sua integração escolar e/ou a sua futura integração na
vida ativa.
• Intervenção familiar específica através de intervenção em crise, aconselhamento, mediação,
e/ou terapias individuais e/ou familiar. Serviços de tratamento de dependências para os pais
(álcool, drogas).
• Acompanhamento psicológico ou psiquiátrico para os pais.
• Compromissos dos vários intervenientes que correspondam a mudanças de atitudes e
comportamentos (e.g. o adolescente compromete-se a não ser agressivo para com a sua família
ou pares; a mãe ou pai compromete-se a estar mais atento e a dialogar com o seu filho, entre
outros.).

Acompanhamento do Plano de Intervenção

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CURSO II – AVALIAÇÃO E INTERVENÇÃO NO SISTEMA DE PROMOÇÃO E PROTEÇÃO

Compete ao Gestor de Processo a responsabilidade do acompanhamento da execução da medida que


se traduz na:
• Articulação com as entidades/ serviços intervenientes no plano de intervenção para garantia do
cumprimento da medida de promoção e proteção deliberada pela comissão restrita;
• Promoção da realização de reuniões periódicas com os intervenientes para avaliação do
cumprimento dos prazos estipulados para cada ação;
• Monotorização: atualização permanente do diagnóstico da situação da criança/jovem e verificação
da prestação e utilização dos apoios;
• Avaliação da execução da medida;
• Elaboração de proposta de revisão periódica da medida a submeter à comissão restrita.

Possibilita ter uma visão evolutiva da situação da criança, constituindo um suporte à elaboração do
Relatório ou da Informação contendo os elementos necessários à avaliação da execução da
medida.

Relatório de Avaliação da Execução da Medida - é o instrumento utilizado para monitorizar e avaliar


periodicamente os resultados da execução dos atos materiais da medida.

Visa objetivar e sistematizar os resultados obtidos com a operacionalização do Plano de Intervenção


para a execução da medida, através da avaliação do grau de concretização dos objetivos e ações, da
identificação dos fatores de proteção/potencialidades, dos fatores de risco/constrangimentos,
resultando desta análise a ponderação sobre a eficácia da medida e a necessidade ou não de adequar
objetivos, ações e/ou metodologias ou mesmo o tipo de medida.

Nos momentos-chave de avaliação previamente definidos, o gestor de processo conjuntamente com


todos os intervenientes no processo, analisam a evolução da situação nos domínios e dimensões
identificadas.

Resultados Obtidos

Pretende-se:

- Avaliar o grau de concretização dos objetivos e das ações:

• objetivo concretizado
• objetivo em vias de concretização
• objetivo reformulado
• objetivo não concretizado

- Identificar os fatores que contribuíram para a não concretização dos objetivos e das ações
relacionados com os parceiros, com a criança/jovem, com a família, com os recursos materiais e
financeiros, entre outros.

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6. REVISÃO E CESSAÇÃO DAS MEDIDAS DE PROMOÇÃO E PROTEÇÃO

A obrigatoriedade da revisão das medidas corresponde a um direito da criança, impondo a LPCJP a


referida revisão, nos termos do disposto no seu artigo 62.º.

O procedimento da revisão implica a audição obrigatória e a participação da criança ou jovem, dos


pais e/ou cuidadores.

Assim, com vista à atualização permanente da situação da criança/jovem e avaliação da intervenção


efetuada, a medida de promoção e proteção deve revista periodicamente nos prazos previstos na lei
e estipulados no Acordo de Promoção e Proteção.

Todas as medidas são, obrigatoriamente, revistas dentro do prazo de 6 meses, a não ser que no APP
ou por deliberação da comissão restrita se considere um prazo mais curto.

A revisão pode determinar:


 A cessação da medida;
 A substituição da medida por outra mais adequada;
 A continuação ou prorrogação da medida.

As medidas cessam quando (artigo 63.º LPCJP):

- Decorra o respetivo prazo de duração ou eventual prorrogação;

- Seja tomada uma decisão de revisão que lhes ponha termo;

- O jovem atinja a maioridade ou, nos casos em que tenha solicitado a continuação da medida
para além da maioridade, complete 21 ou 25 anos, nas situações previstas na Lei.

- Seja proferida decisão em procedimento tutelar cível que assegure o afastamento da criança ou
do jovem da situação de perigo;

- Seja decretada adoção, nos casos previstos no artigo 62.º-A LPCJP.

O Gestor de processo prepara a cessação da medida, e caso se considere necessária a continuidade


da intervenção deve implicar as entidades com competência em matéria de infância e juventude que
participaram e estiveram envolvidas no plano de intervenção da criança/jovem e família, a qual deve
ser consensualizada entre os diferentes intervenientes.

_______________ // _________________

Em jeito de conclusão, será importante sublinhar que, para além da leitura de todos os conteúdos
expostos ao longo deste Manual, o formando deverá ter sempre presente a pertinência da consulta

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CURSO II – AVALIAÇÃO E INTERVENÇÃO NO SISTEMA DE PROMOÇÃO E PROTEÇÃO

dos diplomas legais ou outros documentos considerados fundamentais, com vista ao aprofundamento
da sua capacitação no âmbito desta área de intervenção.

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