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Manual do Formando
VERSÃO 2018
ÍNDICE
- O Processo Tutelar Educativo corre os seus termos no Juízo de Família e Menores da área de
residência do menor (ver art.ºs 31.º e 32.º).
- Introdução
Pág.1
- As Comissões de Proteção de Crianças e Jovens em Perigo
- Os Tribunais
- CARACTERÍSTICAS
- Vertente logística
a) Instalações:
b) Informática:
c) Comunicações
d) Transportes
e) Outros aspetos
- Vertente financeira
- Vertente administrativa
b) A COMISSÃO RESTRITA
- DURAÇÃO
- Funções
- MANDATO DO PRESIDENTE
Pág.2
a) A COMISSÃO NA MODALIDADE ALARGADA
b) A COMISSÃO RESTRITA
- NECESSIDADE DE FUNDAMENTAÇÃO
- ATAS
3.2.8.9. RECLAMAÇÕES
4. RISCO E PERIGO
1. A COMPETÊNCIA TERRITORIAL:
Pág.3
- A necessidade de existência de um Processo de Promoção e Proteção
- A consulta do processo
- Fases do processo
- Encerramento do processo
- Destruição do processo
Pág.4
I - ENQUADRAMENTO
Caro formando,
Direitos e Proteção das Crianças e Jovens, é um guia que pretende apoiar a sua
intervenção.
No entanto, este manual constitui uma primeira versão, pelo que não pode ser
trabalhar para atingir a qualidade que merece e que desejamos que o apoie enquanto
formando e profissional.
Boa formação.
Pág.5
O SISTEMA DE PROMOÇÃO E PROTEÇÃO À INFÂNCIA
A Família
O mesmo é dizer que se atribui aos pais um poder/dever (antes designado como poder paternal),
que se configura, no nosso sistema, como uma responsabilidade parental. O legislador
consagrou este conceito na Lei n.º 61/2008, de 31 de outubro, que introduziu algumas alterações
nas várias disposições do Código Civil relativas ao divórcio, nomeadamente, ao alterar o nome
deste instituto jurídico para “Responsabilidades Parentais”, designação adotada, há muito,
noutras legislações e em instrumentos de organismos internacionais, nomeadamente do
Conselho da Europa.
Não se constitui, pois, como um conjunto egoísta e de exercício livre, ao arbítrio dos respetivos
titulares, mas como um conjunto de faculdades de conteúdo altruísta que tem de ser exercido
em harmonia com a função desse poder/dever consubstanciada no objetivo primacial de
promoção e proteção dos interesses da criança como sujeito de direito tendo em vista o seu
desenvolvimento integral.
guarda (que abrange o dever de apoio a todos os níveis: vigilância, auxílio e assistência);
educação;
orientação;
representação;
administração de bens.
Pág.6
A ambos os pais;
A um deles;
A uma terceira pessoa;
A estabelecimento de educação ou assistência.
Ora, uma sociedade que não cuide das suas crianças põe em causa o seu futuro. O
desenvolvimento económico e social depende fortemente da qualidade humana e esta é
subsidiária da qualidade da infância. Assim, a proteção das crianças é matéria de interesse
público. Torna-se imperioso a definição de uma política nacional, regional e local de apoio à
família, ao nível dos domínios da saúde, educação, segurança social, cultura e organização
económica. Este ónus confere legitimidade ao Estado e à sociedade civil para intervir numa área
que está, por princípio, reservada à família.
Neste sentido, reconhecendo esta relevância, os Estados, ou, pelo menos, a sua generalidade,
providenciam pela construção de um sistema de promoção e proteção da criança.
Para a compreensão do sistema de promoção dos direitos e proteção das crianças há que ter
em conta os fundamentos do ordenamento jurídico do Estado de Direito:
Pág.7
2. INSTRUMENTOS DE DIREITO INTERNACIONAL E DE DIREITO INTERNO
De entre os documentos de direito internacional avulta com particular relevância para a legislação
portuguesa aplicável à proteção das crianças 1, a Convenção sobre os Direitos da Criança.
O art.º 43.º, n.º 2 foi emendado a 12 de dezembro de 1995 – ver Aviso do Ministério dos Negócios
Estrangeiros n.º 267/98, de 20 de novembro – DR I Série - A, n.º 269/98.
1 Apenas para registo – uma vez que o tempo não permite a abordagem de outros instrumentos, relembra-se a existência de vários
instrumentos de direito internacional.
2 Adotando o “… documento aprovado do Conselho da União Internacional de Proteção à Infância (Save the Children International Union),
organização de carácter não-governamental. Nos termos da declaração, os membros da Sociedade das Nações são chamados a guiar-se pelos
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Declaração dos Direitos da Criança de 1959 (Não tem efeito vinculativo, mas implicou um
salto cultural importante e influenciou legislações, políticas e intervenções3).
A ONU declarou que o ano de 1979 fosse considerado o Ano Internacional da Criança, por
ocasião do 20.º aniversário da aprovação da Declaração dos Direitos da Criança. Nesse âmbito,
a Polónia propôs à Assembleia da ONU que a comunidade internacional viesse a aprovar um
novo instrumento jurídico que refletisse o conhecimento científico adquirido.
Dez anos depois desse desafio lançado foi possível que países de diversas civilizações,
ideologias, religiões e mentalidades se pusessem de acordo e adotassem um texto relativo aos
direitos da criança acolhendo essa nova visão científica. Foi assim que a 20 de novembro de
1989 (30 anos após a aprovação da Declaração Universal dos Direitos da Criança), a Assembleia
Geral das Nações Unidas aprovou a Convenção sobre os Direitos da Criança.
Não é indiferente o facto deste documento se chamar Convenção e não, apenas, Declaração.
Um Estado que dela se torna parte assume um conjunto de obrigações.
Para vigorar na ordem jurídica internacional, uma Convenção tem de obter a aprovação e
ratificação por um número mínimo definido na própria Convenção. No caso da Convenção Sobre
os Direitos da Criança o número mínimo de ratificações foi atingido em menos de um ano, o que
constitui um tempo recorde, fazendo com que entrasse em vigor na ordem jurídica internacional
em menos de um ano.
A partir do momento em que um Estado ratifica uma Convenção, compromete-se a cumprir com
o que aí estiver determinado, para além de que periodicamente deve prestar contas à
organização no âmbito da qual a Convenção foi aprovada. Neste caso, cada país membro deve
apresentar periodicamente4 um relatório5 ao Comité dos Direitos da Criança6.
princípios deste documento, o qual passou a ser conhecido por Declaração de Genebra,” in Direitos da Criança – As Nações Unidas, a
Convenção e o Comité, por Catarina de Albuquerque, Gabinete de Direito Comparado da PGR, 2000.
3 “A abordagem e conceção que se encontravam na base de todos as declarações de caráter não vinculativo adotadas nesta matéria, durante
a primeira metade do século XX, consistia no facto de as crianças necessitarem de uma proteção e cuidados especiais. Este enfâse foi
ligeiramente atenuado no texto de 1959, o qual consagrou a primeira menção aos direitos civis das crianças, ao reconhecer o seu direito a
um nome e a uma nacionalidade. A Convenção sobre os Direitos da Criança de 1989 viria alterar profundamente esta conceção da infância.”,
idem.
4 Cada país deve apresentar um relatório de 5 em 5 anos. Portugal apresentou o seu último relatório em 2013.
5 Ver art.º 44.º da CDC.
6 De acordo com o art.º 43.º da CDC, o comité é composto por 18 peritos eleitos pelos Estados parte que apresentam uma lista de candidatos
e que depois são eleitos por escrutínio secreto para um período de 4 anos.
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No caso de Portugal, a partir de setembro de 19907, há a obrigação de iniciar um processo de
conformação da sua legislação interna aos ditames e filosofia da Convenção sobre os Direitos
da Criança. Por outro lado, esta pode e deve ser invocada diretamente pelos aplicadores do
Direito (tribunais, CPCJ, Administração Pública, entidades com Competência em Matéria de
Infância e Juventude, etc.), sempre que se constate a existência de lacunas ou existam dúvidas
de interpretação de disposições legais, aplicando-se este documento diretamente na ordem
jurídica interna portuguesa (cfr. art.º 8.º da Constituição da República Portuguesa). E sempre que
o legislador queira intervir na área da infância e juventude terá que ter permanentemente em
conta o conteúdo da Convenção sobre os Direitos da Criança.
Na maior parte dos artigos, a Convenção sobre os Direitos da Criança não elenca os Direitos da
Criança, mas impõe obrigações aos Estados nesta matéria.
A CDC não é apenas uma declaração de princípios gerais. Quando ratificada, representa um
vínculo jurídico para os Estados que a ela aderem, os quais devem adequar as normas de Direito
interno às da Convenção, promovendo a proteção eficaz dos direitos, liberdades nela
consagrados e tem um efeito vinculativo (ver art.º 4.º).
A Convenção assenta em quatro pilares fundamentais que estão relacionados com todos os
direitos das crianças:
• a não discriminação, que significa que todas as crianças têm o direito de desenvolver todo
o seu potencial – todas as crianças, em todas as circunstâncias, em qualquer momento, em
qualquer parte do mundo;
• o interesse superior da criança deve ser uma consideração prioritária em todas as ações
e decisões que lhe digam respeito;
• a opinião da criança que significa que a voz das crianças deve ser ouvida e tida em conta
em todos os assuntos que se relacionem com os seus direitos.
A Convenção contém 54 artigos que podem ser divididos em quatro categorias de direitos:
Implica uma grande responsabilidade para os países que a ratificaram. Só não é aplicável
quando a sua própria lei interna ainda for mais favorável à criança do que a Convenção sobre os
Direitos da Criança. Tem coercibilidade, uma vez que os Estados-parte se sujeitam à análise do
Comité dos Direitos da Criança da ONU.
7Portugal ratificou a CDC em 12 de setembro de 1990 – ver Resolução da Assembleia da República n.º 20/90, de 12 de setembro e Decreto
do Presidente da República n.º 49/90 da mesma data.
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Uma progressiva e salutar autonomia, fonte de segurança, responsabilidade e
solidariedade, com autêntico sentido do Outro, essencial à sua realização pessoal e
também social mediante a participação positiva na vida da comunidade;
O sentido de pertença familiar e comunitária – “o direito às raízes”.
- O direito à palavra e à efetiva representação. Esta também se exige que seja afetiva e
corresponde a uma exigência cívica de serviço ao Outro, cuja interiorização importa generalizar
mediante a atuação a vários níveis, incluindo o da promoção de alterações legislativas.
- O direito à educação.
- O direito de ser criança no tempo de ser criança o que implica um acompanhamento amoroso,
estruturante e lúdico e uma aprendizagem com direito à experimentação e à descoberta para um
crescimento saudável.
- O direito à interiorização dos valores (o que exige a sua transmissão dinâmica e participada) e
ao consequente sentido dos deveres e dos limites e, portanto, à sua responsabilização
pedagógica, em função do grau da sua maturidade física, psicológica, intelectual e afetiva.
- O direito de ser ouvida sobre as questões que lhe respeitem e de serem tomadas em
consideração as suas opiniões de acordo com a sua idade e maturidade.
- O direito à proteção, mas também o direito a ser sujeito do seu próprio destino, em harmonia
com a sua progressiva maturidade.
- O direito à educação para a tolerância e para a paz - art.º 29.º, n.º 1, al. d) da CDC, isto é, o
direito de se preparar, pela educação, para assumir as responsabilidades da vida numa
sociedade livre, num espírito de compreensão, paz, tolerância, igualdade entre os sexos e de
amizade entre todos os povos, grupos étnicos, nacionais e religiosos e com as pessoas de
origem indígena.
Apesar da CDC ser um texto datado no tempo, é possível, através de uma interpretação do seu
espírito, adaptá-la à atualidade, nomeadamente tendo em conta as descobertas científicas,
tecnológicas ou sociais que ocorreram desde a sua aprovação.
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Para melhor realizar os objetivos da CDC, a Assembleia Geral da ONU adotou mais 3 Protocolos
Facultativos:
IMPORTANTE:
Para além dos direitos humanos reconhecidos a qualquer pessoa, a criança é, ainda,
titular de direitos humanos específicos, resultantes da sua condição de ser criança;
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Esta Convenção:
O texto prevê medidas destinadas a promover os direitos das crianças em processos familiares
que decorram perante um tribunal. O tribunal, ou qualquer pessoa nomeada para representar a
criança, tem uma série de deveres com o objetivo de facilitar o exercício dos direitos da criança.
Deve ser permitido às crianças o exercício dos seus direitos (estarem informadas e expressarem
a sua opinião), quer por si próprias, quer através de outra pessoa ou entidade.
Entre os processos familiares de especial interesse para a criança estão os relativos à custódia,
residência, direito de visita, questões de filiação, adoção, tutela, administração de bens,
assistência educativa, regulação do exercício das responsabilidades parentais, proteção contra
os tratamentos cruéis e degradantes e tratamentos médicos.
Ratificada a 28 de maio pelo Decreto do Presidente da República n.º 90/2012 e aprovada pela
Resolução da Assembleia da República n.º 75/2012.
A presente Convenção tem por objeto prevenir e combater a exploração sexual e os abusos
sexuais de crianças, proteger os direitos das crianças vítimas de exploração sexual e de abusos
sexuais, promover a cooperação nacional e internacional contra a exploração sexual e os abusos
sexuais de crianças.
Tendo sido ratificada, a legislação interna tem vindo a ser adequada à convenção.
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Direito penal (abusos sexuais, prostituição, pornografia com crianças, participação de
crianças em espetáculos pornográficos, abordagem de crianças para fins sexuais; corrupção
de menores; investigações, procedimentos penais e direito processual, audição da criança);
Registo e armazenamento de dados nacionais sobre pessoas condenadas por infrações
penais de natureza sexual e relação com outros instrumentos internacionais.
Outros
Instrumento Jurídico acima de qualquer Lei ordinária (por isso, também designado como “Lei
Fundamental”).
A Constituição da República Portuguesa (CRP), topo da hierarquia das leis nacionais, reconhece
a criança como sujeito autónomo de direito a dois níveis: ao nível dos direitos, liberdades e
garantias pessoais e ao nível dos direitos económicos, sociais e culturais.
8
Resultantes de 7 revisões constitucionais – Ver as Leis Constitucionais n.ºs 1/82, de 30 de setembro, 1/92, de 8 de julho, 1/97, de
25 de novembro, 1/2001, de 12 de dezembro, 1/2004, de 24 de julho, e 1/2005, de 12 de agosto.
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Art.º 36.º – Família e filiação
Art.º 43.º – Liberdade de aprender e ensinar
IMPORTANTE:
É no Código Civil (CC) que vamos encontrar a regulamentação de alguns institutos jurídicos que
se relacionam com o direito da família.
Tal matéria encontra-se regulada essencialmente no Livro IV, cujo tema é o Direito da Família
(art.os 1576.º a 2023.º), que aborda os seguintes institutos: Filiação, Responsabilidades
parentais, Tutela e administração de bens, Adoção e Alimentos.
No mesmo diploma legal vamos encontrar também disposições sobre a capacidade de exercício
e de gozo de direitos por parte das crianças, estas disposições encontram-se no Livro I.
A menoridade
Assim, nos termos do art.º 122.º CC é menor aquele que ainda não tenha completado 18 anos
de idade.
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Assim, mediante o instituto da representação, o menor representado por outrem vê refletirem-se
na sua esfera jurídica os efeitos dos atos praticados.
Filiação
Conjunto de normas jurídicas que têm por objeto regular a relação de parentesco entre pais e
filhos, dando origem a relações familiares.
Responsabilidades Parentais
Art.ºs 1877.º a 1920.º (últimas alterações: Lei n.º 137/2015, de 8 de setembro e Lei n.º 24/2017,
de 24 de maio)
Conjunto de poderes-deveres que a lei reconhece aos pais para serem exercidos no interesse
dos filhos.
Instituto que visa suprir a falta do exercício das responsabilidades parentais. Decorre de
situações em que a criança necessita de quem a represente juridicamente, sendo que e de
acordo com a lei “o tutor tem os mesmos direitos dos pais, com as modificações e restrições
constantes nos art.ºs 1935.º e seguintes do Código Civil”.
Havendo impedimento de facto dos pais, deve o Ministério Público tomar as providências
necessárias à defesa da criança, independentemente do decurso do prazo referido na alínea c)
do n.º 2 do art.º 1921.º (seis meses), podendo para o efeito promover a nomeação de pessoa
que, em nome da criança, celebre os negócios jurídicos que sejam urgentes ou de que resulte
manifesto proveito para este.
Adoção
A adoção pode ser definida como a inserção de uma criança “… num ambiente familiar, de forma
definitiva e com aquisição do vínculo jurídico próprio da filiação, segundo as normas legais em
vigor, de uma criança cujos pais morreram, são desconhecidos, não querem assumir o
desempenho das suas funções parentais ou são pelo Tribunal considerados incapazes de as
desempenhar10 …” e só deve ser decretada quando apresente mais vantagens para o adotando
e ser razoável supor que entre o adotante e o adotando se estabelecerá um vínculo semelhante
ao da filiação. Também pode ser caracterizado como sendo um vínculo jurídico e afetivo que se
10 In Adoção - Coleção Formação Contínua e-publicações – Área da família e das crianças (Introdução), CEJ, 2015.
http://www.cej.mj.pt/cej/recursos/ebook_familia.php
Pág.16
estabelece entre duas pessoas, à semelhança da filiação natural, mas que não se baseia na
verdade biológica11.
Alimentos
Aprovado pela Lei n.º 141/2015, de 8 de setembro, alterado pelo art.º 5.º da Lei n.º 24/2017, de
24 de maio13.
Veio substituir o que restava da Organização Tutelar de Menores (OTM) que, até à entrada em
vigor deste Regime Geral do Processo Tutelar Cível (RGPTC), regulava os processos que
corriam termos nos tribunais da jurisdição de Família e Menores.
De acordo com o art.º 3.º14, visa regular os processos judiciais através dos quais se pretende
obter:
11 In ……
12 https://www.cnpdpcj.gov.pt/direitos-das-criancas/legislacao/legislacao-nacional/sistema-de-promocao-e-protecao-a-infancia-e-
juventude/regime-geral-do-processo-tutelar-civel-.aspx
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Determina qual a competência dos Juízos de Família e Menores existentes em quase todas as
comarcas15 16 – art.º 6.º (para além de prever competência acessória – art.º 7.º).
Nem todas as comarcas podem contar com Juízos de Família e Menores (Bragança, Guarda,
Portalegre)17 .
Nem todas as comarcas estão integralmente cobertas por Juízos de Família e Menores (Açores,
Beja, Castelo Branco, Évora, Madeira, Porto Este, Viana do Castelo e Vila Real) 18.
Nas áreas onde não existe Juízo de Família e Menores, os processos correm os seus termos no
Juízo Local Cível ou, caso não exista, no Juízo de Competência Genérica – art.ºs 7.º e 8.º
Este artigo também se aplica às CPCJ, por remissão do art.º 84.º da LPCJP.
Para além do instituto jurídico propriamente dito, previsto e regulado no Código Civil (art.ºs 1973.º
a 2002.º- D), o respetivo processo é regulado pelo Regime Jurídico do Processo de Adoção
(RJPA), aprovado pela Lei n.º 143/2015, de 8 de setembro19.
Excecionalmente as IPSS podem intervir no processo de adoção – ver art.ºs 15.º a 25.º.
15 Nem todas as comarcas podem contar com Juízos de Família e Menores (Bragança, Guarda, Portalegre). Nem todas as comarcas estão
integralmente cobertas por Juízos de Família e Menores (Açores, Beja, Castelo Branco, Évora, Madeira, Porto Este, Viana do Castelo e Vila
Real). Nas áreas onde não existe Juízo de Família e Menores, os processos correm os seus termos nos Juízo Local Cível, ou caso não exista,
no Juízo de Competência Genérica – art.ºs 7.º e 8.º.
16 Para além de outras competências previstas em legislação especial (e.g. Processo Tutelar Educativo, Processo de Promoção e Proteção,
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As decisões são colegiais dentro das Equipas que têm de ser confirmadas por um
Conselho Nacional para a Adoção;
É criado um Conselho Nacional para a Adoção que reúne, pelo menos, quinzenalmente,
composto por um representante de cada organismo de segurança social;
Estabelece as condições para a intervenção das instituições particulares sem fins
lucrativos;
Regula a intervenção do Ministério Público e a intervenção do tribunal;
Prevê e regula o processo de adoção, o qual tem várias fases: fase preparatória, fase
de ajustamento (ambas se desenrolam nos organismos de segurança social ou em
instituições particulares autorizadas) e fase final (tramitação judicial);
Prevê um acompanhamento pós-adoção;
Regula os procedimentos relacionados com a adoção internacional prevendo-se a
existência de uma Autoridade Central para a Adoção Internacional que velará pelo
cumprimento dos compromissos internacionais assumidos por Portugal na Convenção
Relativa à Proteção das Crianças e à Cooperação em Matéria de Adoção Internacional
de Haia, de 29 de maio de 1993.
Enquadramento legal:
A Lei n.º 103/2009, de 11 de setembro, foi alterada pela Lei n.º 141/2015, de 8 de setembro
(altera os art.ºs 7.º, 10.º, 13.º, 19.º, e 25.º)20. Regulamentada pelo Decreto-Lei n.º 121/2010, de
27 de outubro.
- Estabelece uma relação jurídica, por decisão do Tribunal e sujeita a registo civil, de
caráter permanente, embora possa ser revogada, entre uma criança e uma pessoa
(maior de 25 anos) ou família, desde que sejam estabelecidos laços afetivos;
- Os pais mantêm certos direitos – art.º 8.º. Os padrinhos e os afilhados também têm
certos direitos – art.º 23.º;
- É um vínculo permanente – art.º 24.º, mas que pode ser revogado – art.º 25.º.
20 https://www.cnpdpcj.gov.pt/direitos-das-criancas/legislacao/legislacao-nacional/sistema-de-promocao-e-protecao-a-infancia-e-
juventude/apadrinhamento-civil.aspx
21 Apenas no âmbito dos processos de promoção e proteção que aí correm termos.
22 Os artigos citados neste capítulo sem identificação do diploma legal referem-se à Lei n.º 103/2009, de 11 de setembro, alterada pela Lei
Pág.19
Tendo a CPCJ tido a iniciativa que se concretizou na assinatura do compromisso para o
apadrinhamento civil e tendo o tribunal homologado o mesmo, a CPCJ abrirá o processo
respetivo, para registo das atividades, diligências, atos e eventos ocorridos no âmbito do apoio
ao Apadrinhamento Civil – art.º 20.º, n.º 2.
Esse processo correrá termos por apenso ao Processo de Promoção e Proteção (entretanto já
arquivado, uma vez que o perigo terá sido afastado), pois os procedimentos nada têm que ver
com este, tratando-se de um mero processo de natureza administrativa.
Pág.20
3. NOVO PARADIGMA DE INTERVENÇÃO - 1999
Já após a criação da então denominada Comissão Nacional de Proteção das Crianças e Jovens
em Risco23, no ano de 1999 foi concretizada uma reforma na área da proteção das crianças,
implicando a revogação de boa parte da Organização Tutelar de Menores, em vigor desde 1962,
entretanto, objeto de várias reformas (1978, 1993 e 1998)24 25.
Aspetos principais a reter da reforma legislativa:
Separação entre a proteção e a delinquência. Até então, o processo tutelar cível era utilizado
tanto para casos de crianças em perigo, necessitando de proteção, como para casos de
crianças delinquentes com menos de 16 anos, fosse qual fosse a sua idade.
Substituição de um modelo totalmente paternalista e protecionista por um modelo de
justiça.
Separação das instituições de internamento de crianças em perigo, daquelas responsáveis
por atos de delinquência.
Conformação das regras à Convenção sobre os Direitos da Criança e outros documentos
internacionais, na área da delinquência juvenil:
o [Regras mínimas de Pequim (Beijing)]26, de 1985.
o Princípios Orientadores de Riade - Diretrizes Orientadores das Nações Unidas para
a Prevenção da Delinquência Juvenil das Nações Unidas), de 1990.
o Regras de Havana – regras mínimas das Nações unidas para a proteção dos
menores privados de liberdade, de 1990.
o Regras de Tóquio – Regras mínimas das Nações Unidas para a elaboração de
medidas não privativas de liberdade, de 1990).
o Recomendação R (87) 20, do Comité de Ministros do Conselho da Europa –
Reações sociais à delinquência juvenil
o Recomendação R (88) 6, do Comité de Ministros do Conselho da Europa – Reações
sociais ao comportamento delinquente dos jovens de famílias imigrantes
Assim, foram aprovadas a Lei Tutelar Educativa e a Lei de Proteção de Crianças e Jovens
em Perigo.
Destas duas leis resulta um sistema de tratamento das situações de crianças em perigo distinto
do regime de intervenção nas situações da prática de facto qualificado pela lei como crime, por
crianças/menores com idades compreendidas entre os 12 anos e os 16 anos, sem prejuízo do
dever de apensação de processos judiciais quando se cumulam essas situações entre si, ou com
processos de promoção e proteção ou, ainda, com processos relativos a providências tutelares
cíveis (regulação das responsabilidades parentais, inibição total ou parcial, limitações das
responsabilidades parentais, tutela, fixação de alimentos (ver art.º 81.º da LPCJP).
3.1. LEI TUTELAR EDUCATIVA
Aprovada pela Lei n.º 166/99, de 14 de setembro, com as alterações introduzidas pela Lei n.º
4/2015, de 15 de janeiro27.
23 Criada através do Decreto-Lei n.º 98/98, de 18 de junho e posteriormente alterado pelo Decreto-Lei n.º 65/2013, de 13 de maio.
https://www.cnpdpcj.gov.pt/direitos-das-criancas/legislacao/legislacao-revogada-historica/diplomas-revogados/criacao-da-comissao-
nacional-de-protecao-das-criancas-e-jovens-em-risco.aspx
24https://www.cnpdpcj.gov.pt/direitos-das-criancas/legislacao/legislacao-revogada-historica/diplomas-revogados/otm-aprovacao-da-
organizacao-tutelar-de-menores.aspx
https://www.cnpdpcj.gov.pt/direitos-das-criancas/legislacao/legislacao-revogada-historica/diplomas-revogados/reformulacao-da-otm--
criacao-do-coas.aspx
https://www.cnpdpcj.gov.pt/direitos-das-criancas/legislacao/legislacao-revogada-historica/diplomas-revogados/decreto-lei-12098.aspx
25 Atualmente a OTM encontra-se totalmente revogada desde 2015, após a publicação das Leis n.ºs 141/2015 e 143/2015, de 8 de setembro
que aprovaram o Regime Geral do Processo Tutelar Cível e o Regime Jurídico do Processo da Adoção, respetivamente – ver supra 2.2.3. e
2.2.4.
26 1985 - Resolução 40/33, de 29 de novembro de 1985 - REGRAS MÍNIMAS DAS NAÇÕES UNIDAS PARA A ADMINISTRAÇÃO DA JUSTIÇA DE
MENORES - Regras de Beijing (Pequim). Estabelece os objetivos mínimos da política relativa à Justiça de Menores.
27 https://www.cnpdpcj.gov.pt/direitos-das-criancas/legislacao/legislacao-nacional/sistema-de-promocao-e-protecao-a-infancia-e-
juventude/tutelar-educativa.aspx
Pág.21
A Lei Tutelar Educativa apenas entrou em vigor em 1 de janeiro de 2001, ao mesmo tempo da
Lei de Proteção de Crianças e Jovens – ver Resolução do Conselho de Ministros nº 108/2000,
de 27 de julho – DR I Série-B, nº191, de 19 de agosto28.
A quem se aplica o regime legal previsto na Lei Tutelar Educativa:
O facto qualificado como crime não é o mesmo que “crime”. Esta classificação – crime – só existe
para quem pratique factos que estejam classificados na lei penal como crime e que tenha 16
anos ou mais. A estes é aplicado o Código Penal (ou outra legislação penal avulsa) e o Código
de Processo Penal (que regula o processo crime).
Um dos requisitos para se concluir pela prática de crime é a existência de culpa. Ora, a tradição
legislativa portuguesa consagrou a ideia que até determinada idade é insuscetível haver culpa,
entendimento que a ciência tem vindo a corroborar. Em Portugal sempre se entendeu que só
após os dezasseis anos se está em condições de aferir a culpa do agente do crime 29.
Quem pratica facto qualificado como crime, e tenha menos de 12 anos, aplica-se a Lei de
Proteção de Crianças e Jovens em Perigo30.
28 A principal razão pelo facto de ter vigorado uma vacatio legis (período que decorre entre a publicação de um ato legislativo e o momento
em que ele passa a vigorar) relativamente grande, deve-se ao facto das duas leis terem fundado um novo sistema baseado em pressupostos
diferentes, o que implicou a alteração das estruturas que até então apoiavam a ação dos tribunais nos processos tutelares (como então eram
designados na OTM, cujos artigos foram em grande parte revogados) ou intervinham ou passaram a intervir na área da promoção e proteção,
tais como, os organismos da Segurança Social, o Instituto da Reinserção Social (atualmente designada de DGRS), as comissões de proteção
de menores (que passaram a ter outra designação – comissões de proteção de crianças e jovens, com organização, funcionamento e
competências diferentes), a reestruturação das instituições de menores da Justiça ou outras instituições onde se encontravam as crianças
internadas (sua reclassificação, criação de centros educativos e os próprios tribunais).
29 Não se ignora a tensão que existe entre aqueles que referem que a idade deveria baixar (e.g. 10, 12 ou 14 anos), e outros que consideram
que a idade a partir da qual se deverá exigir responsabilidade penal apenas deveria ser 18 anos, coincidindo assim com a maioridade civil. As
evidências científicas apontam para que não se deva baixar a idade, por outro, a tradição legal portuguesa (Ver Lei de Proteção à Infância,
de 27 de maio de 1911), desde há muito, fixou os dezasseis anos. A razão principal tem a ver com facto de dever aferir a culpa do agente na
prática de um crime e ser impossível determinar o grau de culpa quando se trata de uma criança.
30 A razão porque a Lei de Proteção de Crianças e Jovens em Perigo se aplica a esta faixa etária prende-se com o facto de, além da criança
praticar atos que colocam em perigo a sociedade, antes de mais, está a colocar-se a si própria em perigo (Noção de perigo, ver infra 3.2.4.).
Pág.22
INTERVENÇÃO DO SISTEMA DE PROMOÇÃO E PROTEÇÃO (LTE e LPCJP)
Visa a educação do menor para o Direito desde que esteja demonstrada tal necessidade. Não
basta, portanto, apurar a prática do facto.
Prevê regras processuais para regular o Processo Tutelar Educativo (Fases de inquérito e
jurisdicional);
O Processo Tutelar Educativo corre os seus termos no Juízo de Família e Menores da área de
residência do menor (ver art.ºs 31.º e 32.º32).
Nos casos em que não se encontra instalado Juízo de Família e Menores é competente o Juízo
Local Criminal. Se não existir nenhum destes juízos, o processo correrá os seus termos no Juízo
de Competência Genérica – ver art.º 124.º, nº 5, da Lei da Organização do Sistema Judiciário,
aprovada pela Lei nº 62/2013, de 26 de agosto e alterada pela Lei nº 40-A/2016, de 22 de
dezembro.
31 Para complementar a informação sobre a LTE, para além da sua consulta, recomenda-se a leitura da Exposição de motivos que acompanhou
foram instalados Juízos de Família e Menores, ver supra o que foi referido em 2.2.3. REGIME GERAL DO PROCESSO TUTELAR CÍVEL. Quando
não estejam instalados Juízos de Família e Menores, ver o parágrafo seguinte.
Pág.23
O processo tutelar educativo pode ter uma ou duas fases:
a fase de inquérito, a qual pode ser arquivada pelo Ministério Público (ver adiante os
fundamentos que podem levar ao arquivamento) – artºs 72.º a 91.º;
a fase jurisdicional (ver adiante os requisitos para o Ministério Público requerer esta fase)
– art.ºs 92.º a 125.º.
A fase do inquérito decorre sob a direção do Ministério Público que é assistido por órgãos de
polícia criminal e por Equipas de Reinserção Social da Direção-Geral da Reinserção Social e
Serviços Prisionais (DGRSP) – ver art.ºs 72.º e seguintes.
O inquérito tem início com a denúncia apresentada por qualquer pessoa ao Ministério Público ou
a um órgão de polícia criminal, devendo neste caso serem indicados os meios de prova, juntando
ainda informação que for possível obter sobre a conduta anterior do menor e sua situação
familiar, educativa e social – ver art.º 72.º e 73.º.
Logo que adquirida a notícia de eventual prática de facto qualificado de crime por pessoa com
idade entre os 12 anos até 16 anos, incumbe ao Ministério Público determinar a abertura do
Inquérito Tutela Educativo – ver art.º 74.º.
Não é aceitável que o Ministério Público não inicie inquérito, ou tendo-o iniciado, o arquive, e
sinalize a situação à CPCJ para que esta intervenha (por exemplo, por concluir que, ainda que
apenas esteja em causa a prática de facto qualificado, considerar que a intervenção da CPCJ
será menos traumática). A CPCJ não está concebida para intervir nos casos de prática de facto
qualificado de crime de pessoas com idade entre os 12 e os 16 anos (isto é, não tem
competência), pelo que deve devolver o expediente, ou contactar o superior hierárquico do
magistrado que determinou o arquivamento do inquérito e a remessa de elementos do processo,
para expor a situação. Diferente será se, legitima e fundadamente (e.g. impossibilidade de
procedimento) o Ministério Público arquiva o processo e, atenta a informação entretanto
recolhida, considere que o menor/criança possa estar em perigo.
É obrigatória a audição do menor, no mais curto espaço de tempo, a qual só pode ser feita pelo
magistrado do Ministério Público. Também é obrigatória a nomeação de advogado ao menor –
ver art.º 47.º.
O relatório social a solicitar deve incluir avaliação psicológica quando se prevê a aplicação de
medida de internamento em regime aberto ou semiaberto – art.º 71.º, nº 5.
Logo que seja ouvido (normalmente pelo Ministério Público, ou pelo juiz se o menor tiver sido
detido em flagrante – ver art.º 51.º, nº 1 e seguintes), deve ser dado a conhecer e explicado o
conjunto de direitos do menor que constam no art.º 45.º.
A fase jurisdicional decorre sob a direção de um juiz e admite a intervenção de dois juízes
sociais33, quando estiver em causa a aplicação de medida de internamento (art.ºs 30.º e 119.º).
33 https://www.cnpdpcj.gov.pt/wwwbase/raiz/Erro.aspx?aspxerrorpath=/legislacao/legislacao-nacional/juizes-sociais/regime-de-
recrutamento-e-funcoes-dos-juizes-sociais.aspx
Pág.24
praticado facto qualificado como crime34. Quando o facto corresponder a crime punível com
pena de prisão superior a 3 anos, caso fosse praticado por pessoa com idade superior a 16
anos, havendo ou não necessidade de aplicação de medita tutela educativa, é requerida a fase
jurisdicional – ver art.ºs 87.º, nº 1, al. c), 89.º e 90.º.
Tem pontos comuns com o regime jurídico que se aplica às situações das crianças que se
encontram em perigo36 (e.g. art.ºs 72.º, 84.º, 87.º e 158.º-B)37.
Inexistência do facto;
Insuficiência de indícios da prática do facto;
Desnecessidade de aplicação de medida tutelar educativa, se o facto qualificado como
crime, a ser crime praticado por pessoa superior a 16 anos, for punível com pena de
prisão não superior a três anos (ver supra situações em que se requer a fase
jurisdicional).
As medidas tutelares educativas são apenas aquelas que a lei prevê (princípio da legalidade).
As medidas tutelares educativas estão previstas no art.º 4.º e estão dispostas de acordo com o
princípio da intervenção mínima, sendo colocada em primeiro lugar a medida menos intrusiva ou
menos grave e, em último lugar, a mais grave.
A medida de internamento educativo ainda pode ter três variações: regime aberto, regime
semiaberto e regime fechado e sempre concretizada em Centro Educativo.
34 Isto deve-se ao facto de a medida tutelar educativa pretender educar o menor para o direito, pois ao contrário do direito penal, onde se
verifica a aplicação de penas, a medida tutelar educativa não tem uma função retributiva ou penalizadora.
35 Ver art.ºs 84.º e 85.º da LTE.
36 Portanto, quando são de aplicar medidas de promoção e proteção nos termos regulados pela Lei de Proteção de Crianças e Jovens em
Perigo, aprovada pela Lei n.º 147/99, de 1 de setembro, alterada pelas Leis n.ºs 31/2003, de 22 de agosto, 142/2015, de 8 de setembro, e
23/2017, de 23 de maio.
37 Consultar também o Guião elaborado conjuntamente entre a CNPDPCJ, a DGRSSP, o ISS e a SCML.
Pág.25
É possível aplicar mais do que uma medida ao mesmo tempo 38. No entanto, tal não é possível
se for baseado no mesmo facto (art.º 19.º, n.º 1).
- A entrega do menor aos pais (ou representante legal ou pessoa que tenha a sua guarda
de facto), a guarda do menor em instituição pública ou privada ou em centro educativo estão
dependentes de determinados pressupostos, conforme o previsto nos art.ºs 57.º, 58.º a 64.º.
A DGRSSP, através da intervenção dos seus técnicos, presta assessoria ao tribunal quer antes
da decisão, quer após a decisão.
Para a elaboração destes documentos, a DGRSSP realiza entrevistas com o menor, com a sua
família, observações diretas do comportamento do menor, aplica instrumentos de avaliação,
contacta vários familiares e pode consultar vários documentos.
Esta lei foi aprovada pela Lei n.º 147/99, de 1 de setembro, com as alterações introduzidas pela
Lei n.º 31/2003 de 22 de agosto, Lei n.º 142/2015, de 8 de setembro, Lei n.º 23/2017, de 23 de
maio, e pela Lei n.º 26/2018, de 5 de julho. Foi ainda regulamentada pelo Decreto-Lei n.º 332-
B/2000, de 30 de dezembro.
38 Ao contrário do que sucede na LPCJP. Exclui também a possibilidade de aplicação de mais do que medidatutelar educativa quando
se trata de aplicar a medida de internamento em centro educativo.
39
Ver http://www.dgrs.mj.pt/web/rs/index
40
Ver https://www.cnpdpcj.gov.pt/direitos-das-criancas/legislacao/legislacao-nacional/sistema-de-promocao-e-protecao-a-
infancia-e-juventude/comissoes-de-protecao-de-criancas-e-jovens/lei-de-protecao-de-criancas-e-jovens-em-perigo.aspx
41 Ver https://www.cnpdpcj.gov.pt/direitos-das-criancas/legislacao/legislacao-nacional/sistema-de-promocao-e-protecao-a-
infancia-e-juventude/comissoes-de-protecao-de-criancas-e-jovens/exposicao-de-motivos-da-lei-de-protecao-de-criancas-e-jovens-
em-perigo-proposta-de-lei-n-265vii.aspx
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3.2.2. ESTRUTURA DA LEI DE PROTEÇÃO DE CRIANÇAS E JOVENS EM PERIGO (LPCJP) 42
CAPÍTULOS
I – Disposições Gerais (art.ºs 1.º a 5.º43) - Objeto, âmbito, legitimidade da intervenção, princípios,
definições.
Comissões de Proteção de Crianças e Jovens (art.ºs 12.º a 33.º) - Natureza, colaboração, dados
pessoais sensíveis, reclamações, apoiamos ao funcionamento, competência territorial,
composição, competência, funcionamento da comissão alargada e da comissão restrita, apoio
técnico, presidência da comissão, estatuto dos membros das CPCJ, duração do mandato,
deliberações, atas, acompanhamento, apoio, avaliação, auditoria e inspeção das CPCJ.
III – Medidas de promoção dos direitos e proteção (art.ºs 34.º a 63.º) - Elenco das medidas,
acordo de promoção e proteção (em meio natural de vida e de colocação), medidas cautelares,
competência para a sua aplicação, descrição das medidas em meio natural de vida e de
colocação, instituições de acolhimento, duração, revisão e cessação.
IV – Comunicações (art.ºs 64.º a 71.º) - Pelas entidades policiais, autoridades judiciárias, CPCJ,
entidades com competência em matéria de infância e juventude e qualquer pessoa, para MP
(procedimento cível, procedimento criminal), suas consequências.
V – Intervenção do Ministério Público (art.ºs 72.º a 76.º) - Fiscalização do MP junto das CPCJ e
iniciativa do processo judicial de promoção e proteção.
VI – Disposições Processuais Gerais (art.ºs 77.º a 90.º) - Caráter individual do PPP, competência
territorial, exames, caráter reservado do processo e sua consulta, gestor de processo,
aproveitamento dos atos anteriores, audição da criança/jovem e outros intervenientes,
comunicação social.
VIII – Do processo nas CPCJ (art.ºs 93.º a 99.º) - Iniciativa, informação, falta do consentimento,
início, organização e arquivamento do PPP, decisão relativa à medida.
42Pretende-se que seja feita uma breve apresentação da LPCJP não dispensando o manuseamento a mesma.
43Os artigos citados neste capítulo sem identificação do diploma legal referem-se à Lei de Proteção de Crianças e Jovens em Perigo
(LPCJP), aprovada pela Lei n.º 147/99, de 1 de setembro, e alterada pela Lei n.º 31/2003, de 22 de agosto, Lei n.º 142/2015, de 8 de
setembro, e Lei n.º 23/2017, de 23 de maio e Lei nº 26/2018, de 5 de julho.
Pág.27
A proteção incumbe àqueles que são responsáveis pela criança, normalmente os pais. A
comunidade ou o Estado só devem intervir no caso daqueles não protegerem, porque não
podem, não sabem ou não querem. Isto é, só estando verificada a existência de legitimidade é
que aquelas
entidades podem intervir.
A Lei prevê quais os pressupostos que se têm de verificar para concluir pela necessidade de
intervir na vida privada das famílias.
ATENÇÃO
Não existe uma definição de perigo, mas o n.º 1 do art.º 3.º adianta que o perigo existe quando
é posta em causa a segurança, saúde, formação, educação ou desenvolvimento [importado do
Código Civil – ver art.º 1918.º, n.º 1, al. d)].
O advérbio “…, designadamente, …” indica que o legislador não quis que se corresse o risco de
existirem factos que não ficassem enquadrados na previsão legal. Cabe ao intérprete perceber
se os factos que lhe são apresentados se enquadram neste artigo, tendo em conta os exemplos
indicados, a Convenção sobre os Direitos da Criança, a exposição de motivos da lei, os princípios
da intervenção, a jurisprudência, a doutrina.
Pág.28
ATENÇÃO:
1 – O perigo não é um conceito coloquial. Quer dizer, é um conceito técnico que resulta da
lei. Não pode ser a opinião de cada um que faz concluir que determinado facto é, ou não é,
perigo. Importa sim, apurar se o facto se subsume à definição legal.
Por exemplo: pode uma criança estar numa situação em que um seu direito foi violado, mas
não estar em perigo, por os seus pais agirem, ou conseguirem agir, como qualquer pai médio
faria para proteger o seu filho, tomando as providências exigíveis ao caso concreto.
Isto é importante, porque a conclusão de haver, ou não haver, perigo, confere legitimidade,
ou não, para uma entidade com competência em matéria de infância ou juventude, uma CPCJ
ou um tribunal intervir junto da criança/família.
Muitas das soluções adotadas nesta lei tiveram que ver com estes princípios legais ou são suas
concretizações.
Princípios:
Não existe uma definição do que é o interesse superior da criança, mas cabe às ciências
auxiliadoras do direito ajudarem o julgador ou quem tem de decidir num caso concreto, para que
proceda à necessária densificação do interesse superior de cada criança e ajudá-lo a
fundamentar a sua decisão44.
O interesse superior da criança varia de criança para criança. Mesmo que consideremos a
mesma criança, não se trata de um princípio imutável durante o período do seu crescimento.
Para a correta determinação do interesse superior de cada criança é inevitável considerar a sua
opinião.
Todos os direitos são atendíveis, ainda que os seus titulares sejam diferentes. No entanto, pode
suceder que entrem em conflito (e.g. direitos dos pais vs. direitos da criança) devendo quem
intervém atender ou decidir em função dos direitos da criança.
44
Podemos ainda estabelecer o interesse superior da criança em função das situações concretas, que no momento da decisão
proporcionam, ou não, a garantia do desenvolvimento da criança em concreto.
Pág.29
Todos os outros princípios que se seguem, de algum modo, têm uma ligação íntima com o
princípio do interesse superior da criança.
- Privacidade
A situação de uma criança em perigo não pode ser exposta perante a sua comunidade. A
consagração deste princípio tem consequências em várias disposições legais desta mesma lei,
designadamente quando:
» a consulta do processo para fins científicos depende de autorização. Todos os que tiverem
tido acesso aos processos ficam obrigados a dever de segredo;
» determina que os órgãos de comunicação social não possam identificar, nem transmitir
elementos, sons ou imagens que permitem a sua identificação, sempre que divulguem
situações de crianças ou jovens em perigo, sob pena de incorrerem na prática de crime de
desobediência;
- Intervenção precoce
A intervenção deve ser efetuada logo que a situação de perigo seja conhecida. Isto porque,
quanto mais cedo se intervier, menos tempo a criança estará em perigo e maior é a possibilidade
de êxito na intervenção.
- Intervenção mínima
A intervenção deve ser exercida exclusivamente pelas entidades e instituições cuja ação seja
indispensável à efetiva promoção dos direitos e à proteção da criança em perigo.
A ciência recomenda que a intervenção não seja efetuada por inúmeras entidades, devendo-se
evitar a sobreposição de entidades na intervenção junto das famílias. A intervenção não deve
possibilitar a submersão da criança e da sua família por inúmeras entidades, quando é possível
a sua proteção com a intervenção da entidade adequada ou de várias em articulação entre elas,
podendo até ser contraproducente a intervenção de inúmeras entidades. Para além do mais, tal
situação seria desrespeitadora da intimidade da criança e da sua família.
A intervenção só deve ser concretizada pela entidade cuja ação é adequada a remover o perigo.
- Proporcionalidade e atualidade
45
Ver art.º 88º, n.º 9 e alínea c) do n.º 2 do art.º 21.º. Ver ainda o n.º 6 do art.º 88.º.
46
Ver art.º 63º, alterado pela Lei n.º 23/2017, de 23 de maio. De acordo com esta disposição o processo pode perdurar até aos 21
anos ou 25 anos, consoante o caso concreto.
47 Ver art.º 88.º. Quanto à (im)possibilidade de ser requisitada extração de cópia ou de certidão, ver Ofício-circular n.º 8/2017, de
10 de novembro. Ver adiante o capítulo 7, que se debruça na possibilidade ou impossibilidade de entrega de cópia ou certidão de
peças processuais.
48 Ver art.º 88.º, n.º 7.
Pág.30
A intervenção deve ser a necessária e a adequada à situação de perigo em que a criança se
encontre no momento em que a decisão é tomada e só pode interferir na sua vida e da sua
família, na medida do que for estritamente necessário para afastar o perigo.
Se for possível remover o perigo com a aplicação de uma medida de promoção e proteção menos
intrusiva na dinâmica familiar, não se vai aplicar a mais gravosa (por exemplo: se for possível
remover o perigo apoiando os pais, não se vai aplicar a medida de acolhimento residencial).
Atualidade – quer dizer que se a criança ainda não está em perigo, ou já esteve em perigo e
não está mais em perigo, não há legitimidade para intervir. Também exclui todas as situações
de probabilidade futura49.
- Responsabilidade parental
A intervenção deve ser efetuada de modo a que os pais assumam os seus deveres para com a
criança.
A intervenção deve ser concretizada com total conhecimento por parte dos pais, das razões
porque devem ser tomadas determinadas medidas e ser transmitido os conhecimentos
necessários que os habilitem a passar a exercer as suas responsabilidades de modo a que a
criança não seja colocada em perigo.
A intervenção das CPCJ junto dos pais e da criança necessita de consentimento, por razões que
têm que ver com questões constitucionais que à frente explicaremos, mas também porque é
necessário envolvê-los na solução que afasta o perigo, o que aumentará as possibilidades de
uma intervenção com êxito, implicando que passem a assumir uma postura de acordo com a sua
responsabilidade parental.
São situações que se prendem com o vínculo que a criança estabeleceu com quem assegurou
as suas necessidades (físicas e sobretudo afetivas) e que podem subsumir-se à guarda de facto
(e.g. avós, padrinhos, padrasto/madrasta, por ausência dos pais). Toda a intervenção e a admitir-
se eventuais mudanças têm que ser equacionadas tendo em conta este princípio.
- Prevalência da família
Para proteger uma criança que se considera estar em perigo, a decisão deve ter sempre em
conta que a família é importante para garantir um bom desenvolvimento da criança.
Quer dizer que se deve sempre privilegiar a integração da criança na família e o conteúdo da
medida deve passar sempre por capacitar os pais. É também por isso que os pais devem ser
sempre ouvidos e prestar consentimento. Este princípio esteve também subjacente quando o
legislador elencou as medidas de promoção e proteção com uma determinada ordem. E mesmo
49
Pelo que não é possível planear intervenções futuras ou que se possam concretizar numa determinada data ou numa data pré
escolhida.
Pág.31
que à criança seja aplicada uma medida que determine ou a mantenha separada dos seus pais,
desde logo, se deverá trabalhar no sentido de criar condições para o seu regresso;
ou
caso se verifique tal impossibilidade – conclusão que não pode ser postergada para muito tarde
– se equacione a possibilidade de uma família adotiva, nomeadamente porque (tendo em conta
que para o legislador só é família aquela que garante os direitos da criança, onde haja afeto 50)
se conclui pela impossibilidade da sua “recuperação”, legitimando assim a procura de uma (nova)
família para a criança. Aliás, é neste princípio que se fundamenta a adoção ou o apadrinhamento
civil.
- Obrigatoriedade da informação
No caso das CPCJ, este princípio, obriga-as a dar a conhecer o conteúdo da sinalização aos
pais e à criança, a explicar o modo como se processa intervenção, as possíveis formas de
intervenção, ou quais as consequências e responsabilidades para os pais e a criança.
Por vezes, a intervenção implica a imposição de atos ou comportamentos, os quais deverão ser
explicados. Se os destinatários da intervenção perceberem a razão e o modo de intervenção,
mais facilmente aderem ao que for proposto ou mais fácil se torna a alteração de
comportamentos que estiveram na origem da intervenção.
É por isso que a comissão deve ouvir sempre a criança tenha a idade que ela tiver 51.
- Subsidiariedade
Este princípio tem origem na ideia que deve ser a sociedade a resolver, ajudar ou complementar
as atividades de indivíduos ou grupos sociais nos mais variados setores da vida humana. Quer
dizer, partirá das entidades mais próximas dos problemas ou atividades encontrar a solução para
a sua resolução, ou ajudar ou complementar tais atividades. Se se concluir pela sua
impossibilidade, também devem outras entidades (já) não tão próximas - onde se inclui o próprio
Estado - poder passar a intervir52.
Na área da promoção dos direitos e proteção das crianças, o sistema foi concebido de maneira
a que seja a entidade que está mais próxima da situação de perigo quem deve intervir. No caso
de não ser possível, então atuarão outras entidades menos próximas. Isto é, sucessivamente as
outras entidades. No nosso sistema de promoção e proteção a intervenção é feita do seguinte
modo:
Pág.32
Se uma das entidades receber a comunicação de uma qualquer situação de perigo terá que aferir
se outra entidade mais próxima não deverá intervir.
Exemplo: se o tribunal receber uma sinalização de uma criança em perigo, o juiz /o magistrado
do Ministério Público deve remeter a sinalização para a CPCJ 53.
Ao inverso, se uma entidade com competência em matéria de infância e juventude receber tal
notícia, deverá aquilatar da possibilidade da sua própria intervenção, em função das suas
competências. Se concluir pela sua incompetência deverá identificar qual a entidade com
competência para intervir no caso. Na sua impossibilidade deverá enviar para a CPCJ
territorialmente competente54.
Por seu turno, na hipótese da CPCJ concluir que o princípio da subsidiariedade não foi
respeitado, pode devolver a sinalização ou reencaminhá-la para a entidade que considere mais
adequada.
As diversas entidades do sistema de promoção e proteção são-nos apresentadas pelo art.º 6.º.
As entidades são as:
O artigo 7.º dispõe acerca da intervenção das entidades com competência em matéria de infância
e juventude. São exemplo destas entidades, a escola, o centro de saúde, o hospital, a junta de
freguesia, a câmara municipal, a Segurança Social, as IPSS, as forças policiais, as associações
de jovens e as associações desportivas ou culturais, organizações não governamentais, entre
outras.
Os artigos 8.º, 9.º e 10.º dispõem acerca da intervenção das Comissões de Proteção de Crianças
e Jovens.
Art.º 9.º - Chama-se a atenção para o facto de a intervenção da CPCJ só ser possível após a
prestação do consentimento de ambos os pais. Trata-se de um consentimento expresso e formal.
As questões que são reguladas nos vários números deste artigo serão explicitadas adiante – ver
5.2..
Art.º 10.º - Concretiza o direito, consagrado desde logo na Convenção sobre os Direitos da
Criança, atribuído à criança no sentido de dever ter a possibilidade de participar nos processos
que lhe digam respeito.
53
Desde que conclua que tal situação não se enquadra na previsão do art.º 81.º da LPCJP.
54 A aferição da competência territorial é feita em função do disposto nos art.ºs 15.º e 79.º da LPCJP.
Pág.33
A partir dos 12 anos é obrigatório recolher a declaração de não oposição do jovem. Antes dos
12 anos, será importante recolher a sua declaração (oposição ou não oposição) caso tenha
maturidade suficiente para compreender o sentido da sua intervenção.
A oposição determina a não intervenção da comissão, mesmo que os pais tenham consentido 55.
Os Tribunais
O art.º 11.º dispõe acerca da intervenção judicial. Este artigo elenca as várias situações em que
o tribunal intervém, não tendo sido possível a intervenção dos anteriores patamares.
As situações são:
Não existir comissão de proteção com competência territorial no município onde a criança
reside56;
Se existe suspeita de que a pessoa que deve prestar o consentimento tenha praticado crime
contra a liberdade ou a autodeterminação sexual que vitime a criança a proteger ou tenha sido
deduzida queixa pela prática de qualquer dos tipos de crime referidos contra a criança a que o
processo respeita;
Não tenha havido consentimento de um dos pais ou ambos (ou representante legal ou pessoa
com a guarda de facto, no caso de não haver pais);
Tenha sido prestado consentimento por um dos pais ou ambos, mas o(s) mesmo(s) tenha(m)
sido posteriormente retirado(s);
Tenha sido assinado o acordo de promoção e proteção, mas o mesmo seja reiteradamente
incumprido;
Tenha sido assinado o acordo de promoção e proteção, mas tenha havido posteriormente
incumprimento que resulte em situação de grave perigo para a criança;
Tenha sido assinado o acordo de promoção e proteção, mas tenha sido retirado o consentimento
posteriormente;
A comissão não obtenha a disponibilidade dos meios necessários para aplicar ou executar a
medida que considera adequada, nomeadamente por oposição de um serviço ou de uma
entidade;
Tenham decorrido seis meses após o conhecimento da situação pela CPCJ e não tenha sido
proferida qualquer decisão e os pais/representante legal/pessoa com a guarda de facto
requeiram a intervenção judicial;
Também é possível haver intervenção judicial nos casos em que, tendo em conta a gravidade
da situação de perigo, à especial relação da criança com quem é responsável pela situação de
55 Não se confunda com obrigatoriedade de recolher oposição ou não oposição da criança com mais de 12 anos, ou com menos de
12 anos se tiver capacidade de compreender a intervenção da CPCJ, com a obrigatoriedade de ouvir a criança, comando que se
dirige a todas as crianças, independentemente da sua idade. Espera-se que em todos os PPP exista um auto de audição da criança,
ou, no caso de tal não ser possível, atendendo à sua pouca idade, registo de informação relativa ao que a criança transmitiu à
comissão.
56 Atualmente, seis concelhos ainda não contam com Comissão de Proteção de Crianças e Jovens (Penedono, no distrito de Viseu, e
LPCJP. Relativamente ao acompanhamento processual do Ministério Público, deve-se ter presente a Diretiva Conjunta assinada
entre a então CNPCJR e a PGR, em 23.06.2009.
Pág.34
perigo, ou porque anteriormente houve incumprimento reiterado de medida de promoção e
proteção por parte dos pais, um dos pais/representante legal/pessoa com a guarda de facto, o
próprio Ministério Público, oficiosamente, ou na sequência de proposta da comissão de proteção,
entenda, de forma justificada, que naquele caso não se mostra adequada a intervenção da
comissão de proteção (ver n.º 2 do art.º 11.º).
Finalmente, existe ainda uma outra possibilidade do processo de promoção e proteção passar a
correr termos no tribunal. Nos casos previstos no art.º 81.º.
Os Tribunais onde correm termos os processos de promoção e proteção são os Juízos de Família
e Menores. Como acima nos referimos a propósito dos processos tutelares Cíveis (ver supra
“2.2.3. REGIME GERAL DO PROCESSO TUTELAR CÍVEL” e notas de rodapé 15 a 17 – para
conhecer o mapa judiciário, deve ser consultada a legislação aí referida). Embora os Juízos de
Família e Menores cubram a maior parte dos concelhos, nem todas as comarcas podem contar
com Juízos de Família e Menores (Bragança, Guarda, Portalegre), ou não estão integralmente
cobertas por Juízos de Família e Menores (Açores, Beja, Castelo Branco, Évora, Madeira, Porto
Este, Viana do Castelo e Vila Real).
Apenas as comarcas de Aveiro, Braga, Coimbra, Faro, Leiria, Lisboa, Lisboa Oeste, Lisboa
Norte, Porto, Setúbal e Viseu estão totalmente cobertas por Juízos de Família e Menores.
Nas áreas onde não existe Juízo de Família e Menores, os processos de promoção e proteção
correm os seus termos no Juízo Local Cível ou, caso não exista, no Juízo de Competência
Genérica – art.ºs 7.º e 8.º.
O sistema de promoção e proteção, no que respeita à intervenção junto das crianças em perigo,
tendo em conta o princípio da subsidiariedade e o conteúdo dos artigos 6.º a 11.º, pode ser
apresentado graficamente pela seguinte imagem:
Pág.35
Esta pirâmide não traduz nenhuma relação hierárquica entre estas entidades. Nenhuma entidade
é mais importante do que a outra. Têm é funções diferentes.
Quando a criança alegadamente em perigo residir em território sem CPCJ 58 que exerça a sua
competência, estas comunicações devem ser dirigidas ao Ministério Público59 - ver art.º 65.º,
n.º 2.
Qualquer pessoa que tenha conhecimento de uma situação de perigo pode comunicar à
entidade com competência em matéria de infância e juventude mais adequada, tendo em
conta a sua competência, ou às entidades policiais ou às CPCJ ou às autoridades judiciárias –
ver art.º 66.º.
Quando estas entidades recebem uma comunicação deverão intervir no sentido de proteger a(s)
criança(s), de acordo com as suas atribuições. Quando a sua intervenção não for suficiente ou
for inadequada deverão então comunicar o caso às CPCJ – ver art.º 66.º, n.º 3.
Quando perante uma situação que ponha em causa a vida ou comprometa gravemente a
integridade física ou psíquica ou a liberdade da criança, qualquer pessoa tem o DEVER de
comunicar (trata-se de uma comunicação obrigatória para qualquer pessoa) – ver art.º 66.º, n.º
2.
- não seja obtida a disponibilidade dos meios necessários para proceder à avaliação diagnóstica
dos casos (abrange casos de oposição de um serviço ou instituição, ou de recusa de prestação
de informação de dados pessoais sensíveis)61 62;
- não tenha sido proferida decisão decorridos seis meses após o conhecimento da situação
alegadamente de perigo63;
58
Para saber quais os concelhos ainda sem comissões de proteção de crianças e jovens, ver supra a nota de rodapé n.º 56.
59 Ver ainda art.º 11.º, n.º 1, al. a).
60 Qualquer criança só pode ser residencialmente acolhida, na sequência da aplicação de uma medida de promoção e proteção.
61 Previsto no art.º 13.ºA.
62
Obviamente que também abrange casos de recusa de informação de dados não sensíveis (com um regime menos exigente).
63 Não implica a remessa do processo, a menos que o Interlocutor do Ministério Público assim o exija.
Pág.36
- tenha sido decidida a aplicação de medida de promoção e proteção que determine a separação
da criança dos seus pais, representante legal ou pessoa que tenha a sua guarda de facto 64;
Resumo:
TRIBUNAL
Artº 28.º, nº 2
Artº 68.º, als a), d), e), f)
Qualquer pessoa
Artº 66.º
Art.º 64.º
CPCJ Instituições de
acolhimento
Art.º 65.º, nº 2
Entidades
policiais - art.º
66.º, nº 3
Os princípios democráticos estão decisivamente presentes nas CPCJ quer do ponto de vista
genético, quer do ponto de vista funcional. Vejamos:
- Na composição da comissão de proteção está presente o município, cujos órgãos têm titulares
que resultam da vontade do Povo;
64 Abrange todas as medidas de promoção e proteção que a CPCJ pode aplicar, exceto a medida de apoio junto dos pais – ver art.º
35.º, nº 1.
65 Quanto à duração das medidas de promoção e proteção, ver os art.ºs 60.º e 61.º.
66
Apenas as medidas de promoção e proteção em meio natural de vida - apoio junto dos pais, apoio junto de outro familiar,
confiança a pessoa idónea - têm um limite máximo. As medidas de colocação - acolhimento familiar e acolhimento residencial - não
têm limite máximo legal – ver art.º 35.º, nº 1. Apesar disso, a al. f) do art.º 68.º impõe a comunicação ao MP quando a duração de
todas as medidas de promoção previstas no n.º 1 do art.º 35.º, à exceção da medida para autonomia de vida, atingirem os 18 meses.
67 Independentemente da necessária comunicação para o MP nos casos de se atingir os 18 meses de aplicação de medida(s) de
promoção e proteção, a CPCJ deve ponderar a cessação da medida que está a ser aplicada e consequentemente arquivar o processo,
solicitando a intervenção das entidades com competência em matéria de infância e juventude, conforme prevê o art.º 63.º, n.º 3.
Pág.37
- Outras entidades representadas também refletem o exercício da cidadania democrática
(sobretudo nos assuntos que dizem respeito a determinados cidadãos): associações de jovens,
associações de pais, associações culturais, desportivas e recreativas; ou o envolvimento
organizado da comunidade em problemas específicos (eg. Instituições Particulares de
Solidariedade Social ou Organizações Não Governamentais);
- Igualmente na sua composição, integram quatro cidadãos eleitores, escolhidos pela assembleia
municipal;
- O peso relativo entre as entidades representadas é igual, uma vez que a lei impõe que a
representação por entidade, ou categoria de entidades, só pode ser exercida por uma pessoa
(princípio da igualdade);
- Lidam com direitos (ou com a sua violação), os quais se situam primordialmente na área dos
direitos fundamentais ou dos direitos humanos;
- A sua ação é fiscalizada pelo Ministério Público, entidade que de acordo com a Constituição da
República Portuguesa e o seu estatuto, está incumbida de defender a legalidade democrática
(art.º 219.º, nº 1 in fine, CRP).
E o envolvimento de cada cidadão e das entidades locais nas questões que se relacionam com
a criança é um direito que assiste a todas as crianças de uma determinada comunidade. Pode-
se mesmo falar do direito da criança à sua comunidade68.
O sentido de comunidade não é inato, é algo que se constrói com o envolvimento dos cidadãos,
das associações e outras entidades que gerem problemas públicos. A Comissão de Proteção de
Crianças e Jovens tem uma importância acrescida no que respeita à construção de uma
consciência coletiva relativa aos direitos da criança e na mobilização de recursos,
nomeadamente no aspeto preventivo à violação daqueles direitos e que se manifesta sobretudo
nas suas competências da sua modalidade alargada.
68
Ver “Direitos da criança e comunidade” in “Estudos em Homenagem a Rui Epifânio”, coordenação de Armando Leandro, Laborinho
Lúcio e Paulo Guerra., por Armando Leandro, pág. 43 e segs, 2010, Ed. Almedina.
Pág.38
E o n.º 2 do mesmo artigo dispõe ainda que as comissões de proteção “…exercem as suas
atribuições em conformidade com a lei e deliberam com imparcialidade e independência.”.
Instituição Oficial
Trata-se de entidade prevista na lei. A sua atividade e organização estão reguladas legalmente
(ver art.ºs 12.º a 33.º da LPCJP).
Não judiciária
A expressão “não judiciária” foi herdada da definição consagrada no Decreto-Lei n.º 189/91, de
24 de abril, que criou as então denominadas comissões de proteção de menores.
Embora tenham que cumprir com as exigências legais, existe margem para cada comissão definir
o seu funcionamento, designadamente aspetos que se relacionem com o horário de atendimento,
o dia da semana para realização de reuniões, o número ou a frequência das reuniões (desde
que cumprido o mínimo legal), entre outros. Neste quadro assume relevância a necessidade de
cada comissão aprovar o seu Regulamento Interno69.
Importa sublinhar a este propósito que uma das obrigações assumida pelos Estados Partes na
CDC é o de darem a conhecer a Convenção. Reconhece-se que só conhecendo os direitos da
criança uma comunidade pode agir em conformidade e, consequentemente, proteger a criança.
2 - Também o pôr termo a situações que concretamente afetam a segurança, saúde, formação,
educação ou desenvolvimento integral, invariavelmente com origem na violação dos direitos da
criança (desde que configurem situações de perigo e esteja verificado o cumprimento do princípio
da subsidiariedade), origina a obrigação da CPCJ intervir para proteger a criança. É por isso que
as CPCJ, logo que sinalizadas situações que alegadamente afetam todos estes aspetos (ou
algum em particular), devem proceder a abertura de processo de promoção e proteção, no
âmbito do qual, após garantirem a legitimidade da sua intervenção e confirmarem a situação de
69A CNPDPCJ disponibiliza um modelo de regulamento interno no seu sítio eletrónico: https://www.cnpdpcj.gov.pt/area-restrita-
cpcj/instrumentos-de-apoio-a-gestao-e-atividade-da-cpcj/modelo-de-regulamento-interno/modelo-de-regulamento-interno-da-
cpcj.aspx
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perigo, deverão aplicar uma medida de promoção e proteção, necessariamente limitada no
tempo70.
Estes aspetos – promoção e prevenção dos direitos, por um lado, e pôr termo (ou fim) a situações
que concretamente afetam a criança, por outro – estão na origem das duas modalidades de
funcionamento da comissão de proteção (a comissão alargada e a comissão restrita).
DELIBERAM
Nas comissões de proteção não existem decisões individuais no que respeita ao modo como
deve a criança ser protegida. Estas entidades são órgãos colegiais e a sua vontade é apurada
sempre através de uma deliberação. Só assim é possível concretizar a característica da
interdisciplinaridade (e, já agora, da interinstitucionalidade), uma das mais valias das comissões,
isto é, a possibilidade de várias áreas do saber concorrerem para uma tomada de posição face
a um caso concreto.
Salvaguardam-se, no entanto, questões de mero expediente que podem ser objeto de decisão
do presidente71 e, em alguns casos72, do gestor do processo. Também cabe apenas ao
presidente a decisão de terceiro poder consultar o processo de promoção e proteção, desde que
manifeste interesse legítimo, podendo ainda definir as condições em que tal consulta se efetua
– ver nº 5 do art.º 88.º.
Quer isto dizer que nenhuma entidade pode determinar como deve a comissão de proteção
decidir acerca de algum caso concreto, pois as suas deliberações não estão subordinadas às
ordens ou instruções de quaisquer autoridades.
Também nenhuma entidade deve imiscuir-se no modo de funcionamento da comissão, pois esta,
desde que cumpra as determinações legais, é livre de decidir como é que funciona. São decisões
que devem ter em conta, os meios de que dispõe, o seu volume processual e os meios
disponibilizados pela comunidade.
A Comissão Nacional, enquanto entidade que deve acompanhar e apoiar o seu funcionamento,
também está impossibilitada de dar instruções ou orientações concretas. No entanto, as
comissões de proteção têm que ter em conta as orientações e diretivas genéricas relativas ao
exercício das suas competências, bem como as recomendações relativas ao seu funcionamento
e composição que a Comissão Nacional venha a emitir. A este propósito, relembra-se que os
ofícios-circulares devem ser do conhecimento de todos os membros da comissão de proteção.
Caso a comissão entenda não respeitar as orientações, diretivas e recomendações, os seus
membros deverão fundamentar a sua posição.
70 Atento os princípios da intervenção mínima, prevalência da família e da responsabilidade parental, sem esquecer os princípios
constitucionais do respeito pela intimidade e privacidade da família.
71
Como a situação prevista no art.º 88.º, n.º 5 in fine.
72 Nomeadamente atos instrutórios do processo (e.g. junção de expediente, calendarização e realização de audições).
Pág.40
Cada comissão inicia a sua atividade após ser declarada instalada através da publicação de uma
portaria assinada pelo ministro da justiça e pelo ministro responsável pela área da solidariedade
e da segurança social73.
Por outro lado, o trabalho da comissão pode ser desenvolvido por membros que não têm vínculo
laboral dependente com a entidade ou a instituição que representam, pelo que o legislador
concluiu ser adequado que tais membros beneficiassem de seguro que cobrissem os riscos que
possam ocorrer no âmbito das suas funções.
Não sendo a comissão de proteção de crianças e jovens um serviço, não desenvolvendo a sua
atividade na órbita de uma entidade específica e não estando integrada num organismo
específico, ou numa estrutura hierárquica, nomeadamente atentas as suas características de
independência e autonomia e estando representadas várias entidades, havia que determinar
uma entidade responsável por disponibilizar as devidas condições materiais para o bom
desenvolvimento da sua atividade.
Essa entidade teria que ter características de proximidade, nomeadamente com a comunidade,
com a qual cada comissão desenvolve a sua atividade e teria que existir de uma forma
consistente e contínua, com condições de operacionalidade para apoiar a atividade da comissão
em todo o território nacional. Atento também aos princípios do localismo e legitimidade
democrática, da responsabilidade comunitária de que a LPCJP e as comissões são tributárias, a
entidade naturalmente escolhida foi o município.
Incumbe então ao município sustentar materialmente toda a atividade que a comissão instalada
ou comissões instaladas desenvolvem no seu território, de acordo com o disposto no art.º 14.º
da LPCJP.
Em síntese, e de acordo com o atual conteúdo da norma, que consta do quadro que se segue, o
apoio ao funcionamento tem várias vertentes, a saber: as vertentes logística, financeira e
administrativa.
INSTALAÇÕES
APOIO LOGÍSTICO
(art.º 14.º, n.º 2) INFORMÁTICA
Pág.41
COMUNICAÇÃO
TRANSPORTES
OUTROS
APOIO ADMINISTRATIVO
CEDÊNCIA DE FUNCIONÁRIO ADMINISTRATIVO
(art.º 14.º, n.º 4)
» todas as questões relacionadas com o espaço em que a CPCJ desenvolve a sua atividade, o
qual deve ser considerado digno para os membros e apoios técnicos da comissão
desenvolverem a sua atividade, bem como para as famílias e outras pessoas que se dirijam à
comissão;
a) Instalações
b) Informática
Implicará acesso à internet com banda suficiente para suportar o trabalho na Aplicação
Informática para Gestão da CPCJ e do Processo de Promoção e Proteção, correio eletrónico,
videoconferência/teleconferência, número de postos de trabalho (computadores) adequado em
função do número de membros da comissão restrita e técnicos de apoio, o número máximo de
membros a trabalhar em simultâneo e o volume processual, a disponibilização de computadores
Pág.42
com capacidade mínima para suportar o trabalho a efetuar e o acesso à internet (nomeadamente
acesso ao sítio da CNPDPCJ e à Aplicação Informática para a Gestão para a CPCJ e Processo
de Promoção e Proteção), disponibilização de programas informáticos atualizados que
possibilitem a digitalização e utilização de documentos, processamento de texto e apresentação
pública de informação (e.g. word, excel, power point ou similares), antivírus informático, uma
câmara para uso informático, computador(es) portátil/eis, rede que possibilite a impressão de
documentos, quer do espaço onde normalmente é desenvolvido o trabalho processual, quer dos
espaços que especificamente são utilizados para audição, impressora(s) podendo ser adquirida
versões com características multifuncionais.
c) Comunicações
d) Transportes
e) Outros aspetos
Outros aspetos que podem eventualmente ser considerados, caso as situações anteriormente
descritas estejam satisfeitas (serão situações como a aquisição de câmara de filmar e gravação
para os efeitos previstos no art.º 84.º da LPCJP e art.ºs 4.º e 5.º do RGPTC, ou outras), em que
não há obrigação por parte da câmara garantir a sua existência, mas que poderão contribuir
positivamente para o bem estar dos membros da comissão ou para a qualidade do seu trabalho 74.
74Algumas sugestões de Apoio à CPCJ por parte dos Municípios, no caso de as necessidades fundamentais terem sido satisfeitas:
atividades que fortaleçam o espírito de equipa e previnam ou diminuam as situações de “burn out”, formações a serem frequentadas
pelos membros das comissões, realização de eventos planeados pela CPCJ ou pela CPCJ com outras entidades, produção de material
de informação sobre o funcionamento e atividade da CPCJ e dos Direitos da Criança. Atendendo a que os membros e técnicos de
Pág.43
- A vertente financeira consiste:
» na disponibilização da verba necessária para a contratação de seguro que cubra os riscos que
possam ocorrer no âmbito do exercício das funções de certos comissários (os previstos nas
alíneas h), i), j), l) e m) do n.º 1 do art.º 17.º). São exatamente estes os comissários que
representam entidades nas quais, em princípio, não desenvolvem a sua atividade profissional
ou, mesmo que assim se verifique, trata-se normalmente de entidades com pouca capacidade
financeira. O legislador assim acudiu a situações que, ao não terem a possibilidade de beneficiar
de seguro, deixaria a descoberto a sua atividade enquanto membro da comissão. Obviamente
que os restantes comissários beneficiam da cobertura que as entidades para as quais trabalham
disponibilizam para os seus funcionários que concretizam as suas atribuições e competências
ou que, elas próprias garantem, com os seus próprios recursos (normalmente é o que sucede
com as entidades do Estado), pois o trabalho dos seus representantes na CPCJ engloba as suas
competências e atribuições 75.
- A vertente administrativa:
Como acima se disse, a atividade desenvolvida na CPCJ tem uma componente administrativa
que não deve sobrecarregar os elementos da CPCJ, provocando assim um desvio de atividade
que deve ser dirigida essencialmente para a proteção das crianças e dos jovens.
De acordo com o n.º 1 do art.º 17.º, os MEMBROS da CPCJ (indicados por cada entidade) são:
Um representante do/a/e:
Município
Segurança Social
Educação
Saúde
apoio da comissão poderão exercer funções durante longas horas, e atendendo à dimensão da CPCJ, poderá ser equacionada a
aquisição de outros bens que preencham outras necessidades: ex. micro-ondas, mini-frigorífico, louça variada ou providenciar-se
por instalações com copa - com ou sem os itens atrás mencionados, estacionamento reservado para membros da CPCJ, etc.).
75 A atividade do representante faz parte das atribuições da entidade. Pelo que este tem todo o direito em exercer tais funções com
as mesmas condições que beneficiaria caso exercesse a sua atividade apenas na sua entidade de origem. Ex. O membro tem direito
ao apoio para as ajudas de custo nos mesmíssimos termos que teria caso desenvolvesse a sua atividade na entidade que representa.
76
Nada impede que os tempos possam ser maiores. Poderá também frequentar a formação, não podendo ser prejudicado pelo
facto de estar a desenvolver o seu trabalho numa comissão de proteção de crianças jovens.
77 Beatriz Marques Borges em “Proteção de Crianças e Jovens em Perigo Cometários e Anotações à Lei n.º 147/99, de 1 de setembro”,
2007, 1ª edição, p. 85, chama-lhes “estruturas humanas particulares”. Também as classifica de “associações públicas de caráter
misto”.
78
Por sua vez, Rosa Clemente em “Inovação e Modernidade no Direito de Menores – A perspectiva da Lei de Protecção de Crianças
e Jovens em Perigo”, 2009, p. 155, define a CPCJ como pessoa coletiva pública atípica, sem órgãos nem património próprios.
Pág.44
Instituições particulares de solidariedade social ou outras ONG que desenvolvam
respostas de caráter não residencial dirigidas a crianças
Organismo público competente em matéria de emprego e formação profissional
Instituições particulares de solidariedade social ou outras ONG que desenvolvam
respostas de caráter residencial dirigidas a crianças
Associações de pais
Associações ou organizações privadas que desenvolvam atividades desportivas,
culturais ou recreativas
Associações de jovens ou dos serviços da juventude (estes, na falta de associações de
jovens)
Forças de segurança dependentes do Ministério da Administração Interna
O legislador entendeu que na CPCJ devessem estar todas aquelas entidades da comunidade,
representativas e relevantes dessa mesma comunidade e que intervêm na proteção da criança.
É a consagração de um dos direitos da criança: o direito à sua própria comunidade, em que esta
se deve também interessar pelo destino das suas crianças. Daí que estejam representadas todas
as entidades significativas.
a) Município
Sendo a CPCJ uma das aflorações da democracia seria inevitável que devesse contar com a
representação de uma entidade que tem como características intrínsecas a legitimidade
democrática (órgãos eleitos pelos cidadãos de uma determinada circunscrição territorial),
proximidade às populações, gestão das populações e do território. É também uma consequência
do princípio do localismo que enforma o sistema de promoção e proteção e, em particular, as
comissões de proteção80.
O representante a escolher pela câmara municipal deve ser indicado de entre as pessoas com
especial interesse ou aptidão na área das crianças e jovens em perigo. Apesar de ser indicado
pela câmara municipal – portanto, resulta de uma deliberação do executivo camarário – esta não
está adstrita a indicar pessoa que apenas tenha vínculo (tenha ele a natureza que tiver) com ela
própria81. Claro está que, seja ela quem for, deverá caber no perfil que o legislador traçou na
parte final desta alínea quando estatui que este representante tenha “…especial interesse ou
aptidão na área das crianças e jovens em perigo.”.
b) Segurança Social
A educação é um dos mais importantes direitos da criança. Por isso, os estados impuseram um
número mínimo de anos para frequência do ensino. A complexidade do mundo atual impõe que
79 No caso das CPCJ do concelho de Lisboa, elas apresentam uma especificidade. Atenta a competência, papel específicos e peso na
intervenção social que a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa possui na cidade de Lisboa, as portarias de instalação das quatro
comissões de proteção previram que na composição destas fosse, ainda, integrado um representante daquela entidade.
80
Lembremo-nos também do direito da criança à sua comunidade. Ver supra 3.2.8. e nota de rodapé 68.
81 Veja-se a expressão da parte final da línea a) do n.º 1 do art.º 17.º: “…de entre pessoas com especial interesse …”
Pág.45
todas as crianças devam cumprir a escolaridade obrigatória. Pode mesmo dizer-se que, quem
não tiver cumprido a escolaridade obrigatória será um candidato à pobreza.
Em Portugal, a legislação impôs que todas as crianças devam frequentar a escola até aos 18
anos.
d) Serviços de Saúde
O representante da saúde deve ser um dos elementos do Núcleo de Apoio às Crianças e Jovens
existente na área onde a CPCJ exerce a sua competência territorial 82.
Se tivermos em conta que a intervenção da comissão pode ter lugar quando a criança está em
perigo e que a mesma está em perigo quando a segurança, saúde, formação, educação ou
desenvolvimento integral estão afetadas, seria inevitável que os serviços da educação e da
saúde estivessem representados na CPCJ.
A importância da Saúde no Sistema de Promoção e Proteção das crianças é de tal forma grande
que foi objeto do Despacho n.º 31292/2008, de 20/11, da Ministra da Saúde, onde é dada
relevância à intervenção da Saúde na área dos maus tratos.
De referir ainda que a detenção de novas substâncias psicoativas por crianças tem por
consequência a notificação a diversas entidades, entre as quais as CPCJ – ver art.º 14.º do
Decreto-Lei nº 54/2013, de 17 de abril.
Estas entidades constituem uma parte importante de uma comunidade e têm desenvolvido um
papel relevante na sociedade portuguesa. Seria inevitável que o legislador considerasse a sua
82 Já assim era na sequência do protocolo assinado entre a Comissão Nacional e o Ministério da Saúde em 10/09/2009 que institui
uma diretiva conjunta, a qual e atendendo às alterações introduzidas à LPCJP, pela Lei n.º 142/2015, de 8 de setembro já não se
encontra mais em vigor.
83
Quanto à noção de procedimentos de urgência e pressupostos para a sua aplicação ver adiante o ponto 8.
Pág.46
integração nas comissões, pois é importante que a comunidade tenha uma palavra a dizer sobre
as situações de perigo das suas crianças, não sendo desprezível o normal conhecimento técnico
que detêm sobre as questões relacionadas com a infância, para além de se reconhecer a sua
importante contribuição na promoção dos direitos da criança, bem como nas atividades de
prevenção.
Havendo mais do que uma instituição que caiba nesta definição, terão as mesmas que se reunir
para, entre elas, decidir quem as irá representar durante um mandato84. Na parte final do
mandato deverão voltar a reunir-se para definir se o representante é a mesma pessoa (caso não
tenha atingido o número máximo de mandatos – ver art.º 26.º, n.º 1) ou se pretendem designar
outra.
A participação neste processo de decisão por parte de todas as entidades representadas revela-
se importante, uma vez que as mesmas deverão sentir-se representadas. Cabe aqui relembrar
que os membros da comissão representam e obrigam os serviços e as entidades que os
designam85, pelo que será importante que tenham uma palavra a dizer na escolha do seu
representante.
Para facilitação do trabalho de envolvimento de todas as IPSS da área onde a comissão exerça
a sua competência territorial, pode ser útil interpelar – caso exista – a estrutura concelhia ou
regional da Confederação Nacional de Instituições de Solidariedade 86 ou da União das
Misericórdias87 ou da União das Mutualidades Portuguesas88.
A representação desta entidade apenas passou a estar prevista com a entrada em vigor das
alterações introduzidas pela Lei n.º 142/2015, de 8 de setembro, na Lei de Proteção de Crianças
e Jovens em Perigo.
Na Região Autónoma dos Açores não existe uma entidade pré-determinada, pelo que se deverá
consultar a lei orgânica de cada governo regional, a fim de perceber qual o departamento do
Governo Regional competente nesta matéria. Neste momento, esta matéria está entregue à
Vice-Presidência do Governo Regional.
84
Em alternativa, as IPSS podem, desde logo, definir que a designação será rotativa definindo quais os critérios.
85
Ver art.º 25.º, n.º 1 da LPCJP.
86 Ver http://cnis.pt/unioes-e-federacoes/
87 Ver http://www.ump.pt/a-uniao/estrutura-e-organizacao/secretariados-regionais
88 Ver http://www.mutualismo.pt/portal/index.php/pt/2014-08-04-15-10-17/nacionais
89
Ver https://www.iefp.pt/
90 Ver http://www.iem.madeira.gov.pt/
Pág.47
da medida de promoção e proteção de acolhimento residencial, e as entidades previstas na
alínea e) não acolhem crianças nesse âmbito (e.g. respostas como creche, pré-escolar, ATL, …).
h) Associações de pais
É natural que a estrutura representativa dos pais possa integrar a CPCJ. Trata-se mais uma vez
de integrar elemento relevante da comunidade e entidade que representa aqueles que exercem
uma responsabilidade fundamental para a concretização dos direitos da criança. Relembra-se
as considerações apresentadas a propósito do princípio da responsabilidade parental – ver supra
em 3.2.5..
Ao utilizar a expressão “Um representante das associações de pais existentes na área …”, o que
o legislador pretende é que todas as associações de pais se sintam incluídas na representação,
pelo que não importa se alguma está, ou não está inscrita numa federação, ou se pertence à
federação A ou B, no caso de haver associações que estejam inscritas numa federação e, outras,
inscritas em outra federação. O facto de uma determinada associação não estar inscrita em
nenhuma federação, também não pode ser justificação para excluir essa associação do processo
de designação do representante na CPCJ.
A tarefa estará mais facilitada quando todas as associações existentes na área onde a comissão
exerce a sua competência estão inscritas numa mesma federação. Bastará então solicitar a
designação à federação. Caso se trate de federação inscrita em alguma confederação e houver
dificuldades de designação de representante, a CPCJ pode contactar a(s) respetiva(s)
confederação/ões91.
Mais uma vez o legislador quis que entidades que contribuem para o desenvolvimento das
crianças e jovens e para a concretização de muitos dos direitos da criança, para além do
fortalecimento do sentido de comunidade, pudessem ser incluídas na CPCJ.
91
Consoante haja associações inscritas na CONFAP – Confederação Nacional das Associações de Pais (http://www.confap.pt)
e/ou CNIPE – Confederação Nacional Independente de Pais e Encarregados de Educação – (http://www.cnipe.pt/)
92
Repetem-se o mesmo tipo de considerações enunciadas na alínea e), com as necessárias adaptações.
Pág.48
Tendo em conta que também pode haver mais do que uma associação que desenvolva
atividades desportivas, culturais ou recreativas, repetem-se as mesmas considerações
apresentadas no último parágrafo do texto junto à alínea e). Também estas entidades podem
estar inseridas nas federações das coletividades distritais ou concelhias, o que, poderá facilitar
os trâmites que levem à designação do seu representante 93. No entanto, repete-se a necessidade
de ter presente as cautelas referidas na alínea anterior, relativamente às entidades que possam
não estar inscritas em federações.
Por outro lado, trata-se de concretizar um dos direitos mais importantes constantes na
Convenção sobre os Direitos da Criança – o direito à participação, previsto nos artigos 12.º e
13.º, ou o direito de associação, artigo 15.º (todos os artigos da CDC).
Para saber se uma determinada organização possui a natureza de associação de jovens deve
ser consultado o Instituto Português do Desporto e da Juventude (IPDJ).
Na Região Autónoma dos Açores não existe uma entidade pré-determinada, pelo que se deverá
consultar a lei orgânica de cada governo regional, a fim de perceber qual o departamento do
Governo Regional competente nesta matéria.
Há que distinguir o que é uma força de segurança de outras realidades que dependem do
Ministério da Administração Interna e de eventual existência de outras forças de segurança que
dependam de outros ministérios.
A Guarda Nacional Republicana (GNR) é uma força de segurança de natureza militar e depende
do membro do governo responsável pela área da administração interna 96.
93
Consultar o sítio da Confederação Portuguesa das Coletividades de Cultura, Recreio e Desporto (CPCC). Ver https://www.cpccrd.pt/
94 Ver http://www.ipdj.pt/
95 Ver art.ºs 1.º e 2.º da Lei Orgânica da PSP, aprovada pela Lei n.º 53/2007, de 31 de agosto.
96 Ver art.ºs 1.º e 2.º da Lei Orgânica da GNR, aprovada pela Lei n.º 63/2007, de 6 de novembro.
97
Ver art.º 1.º da Lei Orgânica do SEF, aprovada pela Decreto-Lei n.º 252/2000, de 16 de outubro, alterado pelos Decretos-Leis n.ºs
290-A/2001, de 17 de novembro, 121/2008, de 11 de julho, e 240/2012, de 6 de novembro.
Pág.49
A Polícia Judiciária (PJ) é uma polícia criminal e depende do Ministro da Justiça98.
Portanto, apenas podem integrar as CPCJ representantes da PSP e da GNR. As CPCJ terão
representantes de uma destas entidades, ou de ambas, consoante uma delas tenha, ou ambas
tenham, jurisdição no território onde a comissão de proteção exerça a sua competência
territorial100.
O perfil desenhado pelo legislador relativo ao tipo de pessoas que a assembleia municipal deve
selecionar para designar aponta para a indicação de pessoa “…com especiais conhecimentos
ou capacidades para intervir na área das crianças e jovens em perigo…”102.
Não são representantes da assembleia municipal. Se o fossem, o legislador não teria podido
prever a indicação de 4 pessoas, pois tal ofenderia o princípio da igualdade entre as várias
entidades e, por consequência, os princípios democráticos em que assentam as comissões de
proteção de crianças e jovens.
O legislador ao referir que tais membros devam ser escolhidos de entre os técnicos com
formação em áreas por ele referidas, quis deixar a possibilidade de completar a capacidade
técnica da comissão que eventualmente não tivesse sido contemplada com a designação de
membros, por parte das várias entidades referidas no art.º 17.º, n.º 1.
E compreende-se que assim seja, pois ao relacionarmos com o disposto no n.º 4 e 5 do art.º
20.º, facilmente concluímos que se pretendeu assegurar que as deliberações de cada CPCJ
pudessem ter a qualidade que o conhecimento detido por determinadas áreas técnicas que estão
em condições de poder assegurar. É esse o principal motivo porque deve levar uma comissão a
cooptar alguém: assegurar o conhecimento daquelas áreas que importam para o cumprimento
das suas competências104.
Finalmente, a cooptação de membros não pode originar uma situação em que os cooptados
tenham um peso tal que retire o peso das decisões aos representantes das entidades da
comunidade. Alerta-se para o facto de, caso os cooptados tenham a sua origem numa mesma
98 Ver art.º 1.º da Lei Orgânica da PJ, aprovada pela Lei n.º 37/2008.
99 Ver os Decretos-Leis n.º 43/2002 e 44/2002, ambos de 2 de março.
100 Ver http://www.gnr.pt/ ; http://www.psp.pt/Pages/defaultPSP.aspx
101 Ou pela(s) assembleia(s) de freguesia nos casos em que existam mais do que uma CPCJ num determinado concelho – ver art.º
15.º, n.º 1, al. a); ou pelas assembleias municipais quando uma CPCJ abranja mais do que um concelho – ver art.º 15.º, n.º 1, al. b).
102
Nos concelhos onde existe mais do que uma comissão serão as assembleias de freguesia abrangidas pela competência territorial
das respetivas comissões a designar os cidadãos eleitores.
103 Sendo que os presidentes de junta de freguesia integram a composição da assembleia municipal.
104 Sendo assim, não tem sentido algum uma comissão cooptar, por exemplo (o mesmo se diga para as outras áreas) um técnico de
serviço social, se na composição já pode contar com um ou alguns – dependendo da dimensão da comissão - membros técnicos
dessa área.
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entidade105, já representada na comissão de proteção, poder dar origem a uma situação que
distorça o princípio da igualdade entre as entidades – pois todas devem ter o mesmo peso nas
deliberações da comissão de proteção.
Aqueles cooptados que tiverem um vínculo a alguma entidade, nunca poderão ser considerados
representantes. Na maioria dos casos até se tratam de entidades que já tem o seu
representante106.
Embora pertença a cada entidade prevista no n.º 1 do art.º 17.º selecionar quem deve pertencer
à CPCJ, aquela deve preocupar-se em designar pessoa com perfil adequado para exercer tais
funções. Relativamente a certas entidades a lei chega a estabelecer um perfil mínimo. Leiam-se
as alíneas do n.º 1 do art.º 17.º:
a) “… de entre as pessoas com especial aptidão na área das crianças e jovens em perigo”;
b) “…, de preferência designado de entre técnicos com formação em serviço social, psicologia
ou direito”;
c) “…com especial interesse e conhecimentos na área das crianças e dos jovens em perigo”;
d) “… preferencialmente médico ou enfermeiro, e que integre, sempre que possível, o Núcleo
de Apoio às Crianças e Jovens em Risco”;
l) “…, preferencialmente com especiais conhecimentos ou capacidades para intervir na área
das crianças e jovens em perigo,…”;
m) “…, designadamente, em serviço social, psicologia, saúde ou direito, ou cidadãos com
especial interesse pelos problemas da infância e juventude.”
Para além destes requisitos objetivos, quem designa deve ter ainda o cuidado de indicar pessoa
seguindo critérios adequados ao exercício desta função.
Para além das características supra indicadas, as entidades deverão ainda ter em consideração
que o membro possua especial sensibilidade para a promoção e defesa dos direitos humanos,
nomeadamente, na área da infância e juventude.
Explicitando melhor, as CPCJ deverão contar com membros que detenham experiência na área
ou disponibilidade, interesse e capacidade para adquirir (novos) conhecimentos no que concerne
à promoção e proteção dos direitos das crianças e jovens.
- A nível técnico: competência técnica para a função a desempenhar na relação com as crianças,
jovens e suas famílias, nomeadamente capacidade de análise e síntese, associada a bons níveis
de eficácia/eficiência das tarefas inerentes à função, no cumprimento dos objetivos da
organização/equipa, bem como evidenciar uma boa organização do seu trabalho.
105
Por terem vínculo a essa entidade, seja de que natureza for.
106Por exemplo, pode ser o caso de ser trabalhador de uma IPSS e ser cooptado pela comissão. Sendo uma IPSS, esta estará já
representada, não pelo seu funcionário, mas sim pela pessoa designada pelo conjunto das IPSS, ao abrigo das als. e) ou f) do n.º 1
do art.º 17.º. Esta distinção é importante nomeadamente para perceber quem vincula com o seu voto a entidade de origem (art.º
28.º). O mesmo se diga mutatis mudandis relativamente a outras entidades (por exemplo, relativamente às associações de pais, às
associações desportivas, culturais ou recreativas ou às associações de jovens).
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A este propósito, tenha-se em consideração o que consta na Recomendação nº1/CNPDPJ/2018,
dada a conhecer a todas as CPCJ pelo ofício-circular nº 2/20018, de 15 de maio.
Outro requisito que deve ser apreciado decorre da obrigação de qualquer membro dever
apresentar no início do seu mandato e anualmente, à entidade que o designou, certificado do
registo criminal. Tal obrigação resulta do que se encontra determinado na Lei n.º 133/2009, de
17 de setembro, com a redação introduzida pelo art.º 5.º da Lei n.º 103/2015, de 24 de agosto.
A este propósito importa proceder à leitura dos ofícios-circulares n.º 4/2015, de 18 de novembro
(parte A), e n.º 1/2016, de 7 de janeiro.
DURAÇÃO
Esse mandato pode ser renovado por duas vezes. Portanto, caso não seja interrompido, pode
exercer funções durante 9 anos consecutivos (3 mandatos consecutivos, no máximo). Depois,
só pode voltar à mesma comissão 3 anos após o fim de funções na mesma.
Como acima se referiu, o mesmo membro pode continuar a exercer outros dois períodos de três
anos, consecutivamente. No final do período do mandato de cada membro, a CPCJ deve oficiar
à entidade solicitando a designação da pessoa que irá exercer o mandato seguinte, esclarecendo
que o mesmo membro pode continuar a exercer funções na Comissão, por um novo período de
três anos. Tal sucederá no final do primeiro e segundo mandatos. Para facilitar os procedimentos
poderá ainda acrescentar, que caso nada seja dito até uma data a determinar pela comissão
(normalmente a data em que se observa o último dia do mandato), esta assumirá que o atual
representante iniciará o mandato seguinte.
No final de um eventual terceiro mandato, ao solicitar a indicação de pessoa para integrar a sua
composição, a Comissão deve advertir do conteúdo do nº 1, do art.º 26.º, pelo que a entidade
tem de designar uma outra pessoa, uma vez que o atual membro está a exercer o terceiro
mandato. Como é óbvio, na situação agora descrita não pode advertir que caso nada seja dito,
o atual membro assumirá o mandato seguinte, uma vez que a lei impede o exercício de mais do
que três mandatos consecutivos.
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O mandato é pessoal, pelo que não são admissíveis substituições ou indicação de suplentes.
Caso venha a ocorrer a indicação de suplentes deve a CPCJ esclarecer a entidade que tal não
é possível. Por outro lado, a comparência de suplente em reunião deve ter como consequência
a recusa da sua participação.
Só em casos muitos excecionais se admite que o membro deixe de fazer parte da comissão,
ainda antes de cumpridos os três anos (e.g. motivos imprevisíveis ou quando por motivos
disciplinares se tenha mostrado impossível a sua permanência na comissão, alteração do posto
de trabalho por mobilidade).
As vicissitudes ocorridas nas entidades que designam membros não podem interferir na duração
do mandato, pois o mesmo é exercido pessoalmente, embora em representação de entidade ou
indicação de entidades. Por outras palavras, a continuidade de funções não é afetada por
eventuais mudanças ocorridas internamente nos órgãos de tal entidade. Por exemplo, se os
órgãos da entidade forem integrados por pessoas diferentes na sequência de eleições, tal não
implica alteração das pessoas designadas para integrar a comissão de proteção, pois não se
deve concluir que finalizaram o seu mandato de membro da comissão.
Excecionalmente, admite-se que os nove anos possam ser ultrapassados. O limite máximo é
uma regra. Como tal deve ser sempre cumprida, a não ser que se imponha a verificação desta
exceção.
No entanto, para que tal se verifique, devem ser observados determinados pressupostos:
Impossibilidade de substituição do membro (que deve ser demonstrada);
Existir acordo entre o comissário e a entidade representada;
Existir parecer favorável da CNPDPCJ.
De acordo com a recomendação n.º 2/2018, aprovada pelo Conselho Nacional da CNPDPCJ em
7 de maio de 2018, e difundida pelo Ofício-Circular nº 2/2018, de 15 de maio, cabe à entidade
que deve designar o membro dirigir o pedido de parecer à CNPDPCJ, a três meses (pelo
menos) do fim de mandato daquele membro, instruído com o acordo já mencionado e devendo
identificar o motivo pelo qual não é possível proceder à substituição. Caberá depois à Equipa
Técnica Operativa da CNPDPCJ, coadjuvada pela respetiva Equipa Técnica Regional se
necessário, desenvolver diligências no sentido de reunir a informação considerada pertinente
para a emissão do parecer. Ainda que venha a ser emitido um parecer favorável, a entidade
107Para melhor esclarecimento sobre a Rede Social aconselha-se a consulta da Resolução do Conselho de Ministros n.º 197/97 que
procedeu ao reconhecimento público da denominada «rede social» e do Despacho Normativo n.º 8/2002 que regulamenta o
Programa de Apoio à Implementação da Rede Social. Ver adiante a nota de rodapé n.º 111.
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deverá sempre comprometer-se, logo que existam condições para tal, a proceder à substituição
imediata do membro que excecionalmente se encontra a exercer funções para além dos 9 anos.
FUNÇÕES
Quem é o presidente da CPCJ? Aquele que tiver sido eleito para tal, pela maioria dos votos dos
membros da comissão.
O voto tem que ser secreto – art.º 31.º, n.º 2 do Código do Procedimento Administrativo (CPA).
Uma vez eleito, designa um dos outros membros Secretário da Comissão – ver n.ºs 2 e 3 do art.º
23.º.
O presidente não é superior hierárquico dos demais membros, mas tem as funções já descritas
no art.º 24.º.
Se o número de habitantes com idade igual ou inferior a 18 anos, nos territórios abrangidos pela
competência territorial da comissão, for superior a 5000 habitantes, o membro eleito presidente
deverá exercer as suas funções a tempo inteiro.
MANDATO DO PRESIDENTE
Só pode ser reeleito uma vez. Findo um determinado mandato, deverão ter sempre lugar eleições
para determinar quem exercerá as funções de presidente no triénio seguinte.
Quer isto dizer que se o membro tiver mais de seis anos consecutivos de exercício de mandatos
de membro enquanto tal (7 ou 8 anos) não é elegível, uma vez que a duração do mandato,
enquanto presidente, ultrapassaria a vigência do seu último mandato enquanto membro da
comissão.
108 Claro está que para a elaboração do relatório anual deve obter a colaboração e ajuda dos demais membros da comissão.
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A comissão deve ser apoiada por técnicos da comunidade para a recolha de informação e
execução dos atos concretos das medidas de promoção e proteção aplicadas 109.
Nos casos em que o exercício de funções a tempo inteiro pelos comissários não garanta os
critérios definidos pela CNPDPCJ, algumas entidades representadas na comissão de proteção
podem designar técnicos para apoiar a comissão de proteção, os quais podem assumir a
coordenação dos casos e emitem parecer no âmbito dos processos em que estejam a intervir.
As entidades que podem disponibilizar são o município, a segurança social, a educação e as
autoridades policiais.
Art.º 20.º-A
RLIS
Também pode haver disponibilização de técnicos de apoio através da RLIS (Rede Local de
Intervenção Social110 que, presentemente, só existe em CPCJ selecionadas pela Segurança
Social, localizadas nas NUT abrangidas por fundos europeus - PO ISE).
Todos estes técnicos não são membros da comissão de proteção e estão impedidos de vir a
assumir tal posição na CPCJ a que prestam apoio, enquanto tiverem essa qualidade. Quer isto
dizer que, caso deixem de ser técnicos de apoio, poderão integrar a comissão de proteção.
Também é possível que um membro da comissão possa assumir a função de apoio técnico,
desde que deixe de fazer parte da composição da comissão de proteção.
109 Ver o conteúdo do art.º 7.º, n.º 4, al. d) da LPCJP e Decreto-Lei n.º 12/2008, de 17 de janeiro, alterado pela Lei n.º 108/2009, de
14 de setembro, art.ºs 6.º, 14.º e 15.º.
110
Para melhor esclarecimento sobre a RLIS, consulte os Despachos n.ºs 12154/2013, de 24 de setembro, 11675/2014, de 18 de
setembro, 5149/2015, de 18 de maio, e 5743/2015, de 29 de maio.
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Os elementos que trabalham na comissão restrita são alguns elementos da comissão alargada.
Podemos dizer que:
- COMPETÊNCIA
Art.º 18.º da LPCJP
Compete essencialmente desenvolver ações de promoção dos direitos e prevenção das
situações de perigo para a criança.
Muito importante se torna que a comissão possa ter iniciativas junto da comunidade para que os
direitos da criança sejam centrais nas preocupações das várias entidades da comunidade.
Pode ajudar a contribuir para a construção de noção de comunidade (noção que não é inata e,
portanto, tem de ser construída)111.
111 Sobre a atividade que a CPCJ na sua modalidade alargada deve desenvolver e o papel que cada comissário pode desempenhar,
sugere-se a leitura do artigo de Bandeira, Noémia – Tecer a Prevenção – Um Projeto Aberto para a Proteção de Crianças e jovens:
conceito, planeamento e prática integrada, incluído in O Risco e o Perigo na Criança e na Família, com coordenação de Fátima
Xarepe, Isabel Freitas e Costa e Maria do Rosário Oliveira Morgado, 2017, Edição Pactor.
112 A Rede Social é um Programa que incentiva os organismos do setor público (serviços desconcentrados e autarquias locais),
instituições solidárias e outras entidades que trabalham na área da ação social a conjugarem os seus esforços para prevenir, atenuar
ou erradicar situações de pobreza e exclusão e promover o desenvolvimento social local através de um trabalho em parceria. Ver a
Resolução do Conselho de Ministros n.º 197/97, de 18 de novembro, que procedeu ao reconhecimento público da denominada
«rede social» e Despacho Normativo n.º 8/2002, de 12 de fevereiro, o Decreto-lei n.º 115/2006, de 14/6, que regulamenta o
programa Rede Social (apoio à sua implementação). Ver também a Declaração de retificação n.º 10-O/1998, de 30 de maio, que
retifica a Resolução do Conselho de Ministros, no que respeita à presidência dos CLAS e das CSF. Para mais informações, consulte
http://www.seg-social.pt/a-rede-social
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- Dinamizar e dar parecer sobre programas destinados às crianças e jovens em perigo;
- Elaborar e aprovar o plano anual de atividades, com a coordenação do Presidente – art.º 24.º,
al. d);
- Colaborar com a Rede Social na elaboração do plano de desenvolvimento social local na área
da infância e juventude.
É a comissão alargada que atribui legitimidade para os seus membros integrarem a modalidade
de funcionamento “comissão restrita” e, consequentemente, legitimidade às deliberações da
comissão restrita113.
113 Sobre a comissão alargada, ver o artigo “Contributo para a revitalização das comissões (alargadas) de proteção de crianças e
jovens”, por Rui do Carmo, in Estudos em Homenagem a Rui Epifânio, com coordenação de Armando Leandro, Laborinho Lúcio e
Paulo Guerra, 2010, Ed. Almedina.
114 Ver supra nota de rodapé 69.
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b) A COMISSÃO RESTRITA
Quem não integrar a composição da comissão (portanto, quem não integrar a modalidade
alargada), não pode integrar a comissão restrita, pois a fonte de legitimidade para pertencer a
esta modalidade de funcionamento é fazer parte da composição da comissão de proteção. É
uma das razões porque não é possível a existência de suplentes. Se tal fosse admissível como
poderiam integrar em algum procedimento de deliberação relativo a matéria da comissão restrita
ou aceder a processos que a comissão tramita, faltando-lhes este pressuposto (fazer parte da
composição da comissão)?
2 - Para além destas imposições legais, tem de haver a preocupação da composição ser o mais
interdisciplinar e interinstitucional possível.
Representante do Município
Sendo uma entidade importante na gestão do território e das pessoas, com a correspondente
legitimidade democrática, atendendo à forma de designação dos titulares dos seus órgãos e
atendendo à matriz democrática das comissões de proteção, seria impossível que não se
equacionasse a representação desta entidade nesta modalidade de funcionamento.
Representante da Educação
O direito à educação é um dos direitos humanos da criança mais importantes. Por outro lado, o
conhecimento que as suas estruturas detêm sobre as crianças e suas famílias que residem na
área de atuação da comissão é muito útil no trabalho a desenvolver na defesa dos direitos da
criança, uma vez que todas as crianças terão que frequentar a escola.
Representante da Saúde
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O direito à saúde também é um dos direitos humanos da criança fundamentais. Também, o seu
conhecimento das populações, nomeadamente das crianças e das suas famílias é normalmente
decisivo na garantia de tais direitos.
Nem sempre foi assim. O legislador, quando procedeu à revisão da LPCJP em 2015, acabou por
reconhecer o que a prática demonstrou ao longo dos anos de vigência da LPCJP, tendo-se
consagrado no plano legislativo, o que ficou consagrado no protocolo assinado entre a Comissão
Nacional (então CNPCJR) e o Ministério da Saúde em 1 de setembro de 2009, quando este
passou a consagrar a disponibilidade do representante da Saúde para passar a integrar a
comissão restrita em todas as comissões.
O conhecimento que os elementos destas entidades detêm, o cariz social da sua intervenção e
a necessidade de contar com elementos da comunidade para se envolver em casos de crianças
em perigo, torna a presença do representante desta área imprescindível.
Finalmente, a composição da comissão restrita tem que contar com o presidente e o secretário.
Existe a necessidade de organizar e coordenar a atividade da comissão restrita, proceder à
convocatória dos membros para a realização de reuniões, presidir às reuniões, exercício de voto
de qualidade quando necessário, representar a comissão e garantir a validade das deliberações
– não esquecer que a deliberação só é válida se o presidente estiver presente (ver art.º 25.º e
27.º).
Por maioria de razão, o secretário, sendo aquele membro que substitui o presidente nas suas
faltas e impedimentos (art.º 23.º, n.ºs 2 e 3), também deve integrar a comissão restrita.
- COMPETÊNCIAS
A competência desta modalidade restrita está descrita no art.º 21.º da LPCJP. Essencialmente
deverá:
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- Intervir nas situações em que a criança está em perigo, através do processo de promoção
e proteção – als. b), c), d), e), f), g) e h) do n.º 2 do art.º 21.º;
- Atos de colaboração.
Ainda na área da promoção e proteção, à comissão de proteção pode ser solicitada a sua
intervenção em processos de correm os seus termos noutra comissão. Tal sucede quando uma
CPCJ tem necessidade de que algum ato seja praticado na área da competência territorial de
outra comissão. Aquela comissão de proteção pede a prática de um ato a outra ou outras
comissões sob a forma de ato de colaboração, o qual deve ser registado pela comissão
solicitada.
Quer isto dizer que, para além dos processos, as comissões podem dirigir pedidos a outras CPCJ
para realizar diligências no âmbito dos seus processos 116. Tais atos têm o nome de “atos de
colaboração” – ver n.º 5 do art.º 97.º117 e podem ter lugar em qualquer fase do processo.
A comissão restrita funciona em permanência. Isto não quer dizer que funcione em horário
ininterrupto. Apenas exige que os respetivos membros estejam sempre contactáveis, que exista
sempre a possibilidade de a comissão conhecer as situações que lhe são sinalizadas e fazer um
juízo sobre as mesmas, nomeadamente nas situações de urgência ou de emergência. Exige
também que haja especial cuidado na marcação de férias dos seus membros, sobretudo
naqueles períodos em que há uma maior concentração de pedidos de gozo de férias, havendo
que garantir sempre a existência de quórum 118.
A garantia de contactabilidade pode ser assegurada por diversas maneiras, tais como:
através de telemóvel de serviço que possa ser detido por um dos membros (pode ser o
presidente, o secretário ou qualquer outro membro da comissão) em função de escala pré-
determinada;
reencaminhamento de chamadas para o telemóvel de serviço e/ou para entidade
representada na CPCJ (normalmente a força de segurança).
Estes meios não têm que se excluir e podem ser disponibilizados cumulativamente.
116
Os atos de colaboração só devem ser efetuados na total impossibilidade da própria comissão poder deslocar-se ao local (ainda
que fora da sua área de competência territorial). Não nos parece fazer sentido que, naqueles casos em que o local seja de fácil
acesso à comissão ou que se situe no mesmo concelho (sobretudo Lisboa ou Porto), se vá solicitar à outra comissão que colabore
para a prática do ato.
117 Tal não impede que a comissão possa dirigir-se diretamente a um serviço, escola ou outro tipo de entidade (ainda que fora da
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várias vezes ao dia; mas jamais pode reunir num período que vá para além de 15 dias. Existe a
necessidade de o presidente proceder à convocatória119. A situação de emergência também
impõe que a reunião tenha lugar, mesmo que fora da periodicidade pré-estabelecida. Neste caso,
o presidente deve fundamentar sumariamente a convocatória, comprovando que se trata de
situação de emergência.
Os membros exercem funções a tempo inteiro ou a tempo parcial. Neste último caso, o tempo
não pode ser inferior aos tempos definidos em função dos critérios aprovados pela Comissão
Nacional.
A única forma de uma comissão de proteção se exprimir, ou apurar a sua vontade, é através de
deliberações (típica de um órgão colegial).
foram adotadas em reuniões que contaram com a presença do presidente (ou do secretário,
na ausência daquele);
em que se verificou a presença da maioria dos membros da comissão (quórum).
- NECESSIDADE DE FUNDAMENTAÇÃO
As deliberações devem ser redigidas de modo a que se perceba quais as razões de facto e as
razões de direito que determinaram porque a deliberação tenha sido tomada em determinado
sentido.
É particularmente importante perceber porque é que a comissão considerou não haver perigo,
ou haver perigo, e, nesse caso, porque escolhe determinada medida de promoção e proteção;
ou porque considera deixar de haver perigo; porque pôs fim à medida; porque arquiva o
processo; porque remete o processo para outra CPCJ; porque devolve o processo vindo da outra
CPCJ; porque remete o processo para o tribunal; porque é uma situação de emergência; porque
recorre a procedimentos de urgência em vez de aplicar uma medida de promoção e proteção;
porque abre processo de promoção e proteção; porque não abre processo de promoção e
proteção; entre outras questões.
- ATAS
Art.º 29.º
Conteúdo da Ata:
conter a identificação dos membros presentes (se eventualmente estiver presente elemento
que só pertença à modalidade alargada, ao abrigo da al. e) do n.º 2 do art.º 21º, também
deve ser mencionado);
indicar se as deliberações foram tomadas por maioria ou por unanimidade;
119 O CPA refere convocatória para reuniões extraordinárias, podendo as ordinárias ser fixadas por deliberação – art.º 23.º.
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mencionar a presença dos elementos do apoio técnico;
mencionar a presença de técnicos de qualquer outra entidade da comunidade que
eventualmente tenha colaborado na execução de atos de avaliação e diagnóstico ou de
execução de atos materiais de medidas aplicadas e que a comissão restrita considere ser
essencial serem produzidos esclarecimentos. Obviamente que estes técnicos apenas
participarão nos momentos em que são discutidos os casos em que tiverem intervindo.
Aqueles membros que ficarem vencidos na deliberação tomada e fizerem registo da respetiva
declaração de voto na ata, ficam isentos da responsabilidade que daquela eventualmente resulte.
Para além de ser um direito do membro solicitar o registo em ata do seu voto de vencido 120, quer
isto também dizer que, tendo em conta a vinculação das deliberações da CPCJ, para os serviços
ou entidades representados, em caso de discordância, será sempre importante proceder ao
registo do voto de vencido – ver n.º 1 do art.º 28.º. Isto não quer dizer que a entidade deixe de
estar vinculada às deliberações da CPCJ, pois aquela disposição refere que as deliberações da
comissão “... são vinculativas e de execução obrigatória para os serviços e entidades nela
representados, …”. Se for o caso, a entidade tem é que apresentar oposição devidamente
fundamentada. Relativamente a uma eventual oposição de um serviço ou instituição, esta pode
ser objeto de comunicação para o Ministério Público – ver art.º 68.º, al. a).
Sempre que algum comissário não esteja presente à totalidade da reunião, a ata deve dar conta
da hora em que iniciou a sua participação e da hora em que a findou, bem como das deliberações
em que tomou, ou não tomou parte.
Para além dos elementos referidos na lei, da ata deve constar a menção da data e do local onde
decorreu a reunião e a ordem dos trabalhos. Todos os espaços em branco devem ser trancados.
No caso das reuniões da comissão restrita, a redação da ata deve conter a menção dos
pareceres apresentados pelo técnico de apoio ou da entidade que tenha prestado informação na
fase de avaliação e diagnóstico ou tenha acompanhado a execução da medida de promoção e
proteção (identificando a folha do processo onde o parecer ou relatório se encontra).
A redação da ata deve ser efetuada de forma a facilitar a elaboração do extrato da ata que será
colocada no respetivo processo de promoção e proteção.
Outras considerações:
Deve existir um suporte (e.g. dossiê/livro próprio para as atas) respeitante às reuniões da
comissão alargada e outro diferente para as atas respeitantes às reuniões da comissão
restrita121.
O suporte (e.g. dossiê/livro das atas) da comissão alargada deve estar disponível para consulta
de todos os membros da comissão.
O suporte/livro das atas da comissão restrita só pode estar disponível para os membros que
também compõem a comissão restrita (nunca para aqueles que apenas fazem parte da
comissão alargada).
As folhas constantes do conjunto das atas arquivadas em suporte/livro devem estar paginadas,
seguindo uma paginação própria.
120
Ver art.º 35.º do CPA.
121 Tendo em conta o caráter reservado dos processos de promoção e proteção – ver art.º 88º.
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- CONSULTA DE ATAS POR TERCEIROS
A consulta das atas deve ser possível pelos membros (não esquecendo que as atas relativas às
reuniões da modalidade restrita apenas podem ser acedidas pelos membros que compõem esta
modalidade).
Outra questão é saber se as atas da comissão alargada podem ser acedidas por outras
entidades.
Antes de mais, caso o desejo de consulta da ata tenha sido manifestado por entidade
representada na comissão, tendo em conta que esta modalidade de funcionamento da comissão
coincide com todos os membros da comissão, não deixará de ser estranho que havendo este
representante, com tudo o que pressupõe uma representação, a própria entidade representada
queira aceder às atas da CPCJ, ainda que as suas competências não se confundam com aquelas
outras que a entidade detenha.
Por outro lado, as atas respeitam a reuniões que não são públicas e não encontramos qualquer
referência na lei que preveja ou imponha a disponibilização das atas a entidades terceiras.
Portanto, não existe qualquer imposição ou requisito que obrigue à publicidade das atas. A este
propósito refira-se que o legislador encontrou forma de tornar pública a atividade da comissão,
através da elaboração do relatório anual de avaliação da atividade das CPCJ, previsto no nº 1
do art.º 32.º da LPCJP, o qual é obrigatoriamente remetido a algumas entidades, não estando a
CPCJ impedida de o enviar a outras entidades que considere pertinentes, até como estratégia
para envolver as entidades da comunidade na promoção dos direitos das crianças e na
prevenção da violação dos seus direitos.
Conclui-se assim que, atendendo a que as reuniões não são públicas, em princípio, o acesso
deve ser apenas possível para os membros da comissão.
No entanto, assumindo esta regra, concebe-se que pode haver situações em que tal seja
possível, ou até necessário. É o que sucede quando se invoca um interesse legítimo. Portanto,
deverá haver um pedido formal, onde se requer a consulta de ata, mas devendo ser
fundamentado em interesse legítimo.
Mas tal não basta. Ainda que se aceite tal interesse legítimo – que terá de ser aferido caso a
caso – necessário se torna que tal interesse não viole princípios constitucionais, como sejam,
por exemplo, o direito à imagem, à reserva da vida privada. Deve ainda haver cautela no acesso
à informação, pois a mesma pode estar registada na ata de forma a que, descontextualizada,
pode causar alarme social.
Por outro lado, o acesso à ata não tem que ser integral. Por outras palavras, atendendo ao
interesse legítimo invocado no caso concreto, pode ser transmitido apenas aquilo que é
necessário. Nestes casos, a melhor forma poderá ser através de certidão contendo extrato da
ata.
3.2.8.9. RECLAMAÇÕES
Com a publicação da Lei n.º 142/2015, que introduziu alterações à Lei de Proteção de Crianças
e Jovens em Perigo (LPCJP), aprovada pela Lei n.º 147/99, de 1 de setembro, foi introduzida
obrigatoriedade da CPCJ passar a ter um Livro de Reclamações (vulgo, Livro Amarelo), cujo
modelo foi definido pela Portaria n.º 355/97, de 28 de maio, por aplicação do Decreto-Lei n.º
135/99, de 22 de abril, alterado pelos Decretos-Lei n.º 29/2000, de 13 de março, 72-A/2010, de
18 de junho, 73/2014, de 13 de maio (constando neste a republicação do Decreto-Lei nº 135/99,
de 22 de abril), 58/2016, de 29 de agosto e 74/2017, de 21 de junho (cf. art.ºs 6.º e 7.º deste
último Decreto-Lei) - ver art.º 13.º-B122.
122
Para consulta de mais informação sobre esta matéria pode consultar o sítio eletrónico da CNPDPCJ:
https://www.cnpdpcj.gov.pt/area-restrita/instrumentos-de-apoio-a-gestao-e-atividade-da-cpcj/livro-de-reclamacoes.aspx
Pág.63
A apresentação de uma reclamação originará um fluxo de atividades que está devidamente
definido e que importa as CPCJ observarem.
O Livro de Reclamações previsto pela portaria já acima mencionada, deverá ser adquirido junto
da Imprensa Nacional Casa da Moeda, solicitando-se o modelo 1426. A sua aquisição deverá
ser feita pelo município, uma vez que é a entidade que deve apoiar o funcionamento das CPCJ,
conforme vem previsto no art.º 14.º da LPCJP.
Adverte-se que o modelo do livro de reclamações não é aquele que se encontra previsto para as
autarquias locais (vulgo, Livro Azul), cujo modelo foi aprovado pela Portaria 659/2006, de 3 de
julho, devendo antes ser solicitado o modelo já acima identificado.
Após a sua aquisição, deve ser afixado cartaz com informação da existência do Livro de
Reclamações, em local visível.
- Onde consta “Ministério”, deverá tal palavra ser cortada, inscrevendo no espaço que se segue,
a designação “Comissão Nacional de Promoção dos Direitos e Proteção das Crianças e dos
Jovens”.
- Onde consta a palavra “Organismo”, deverá ser inscrita no espaço que se segue, a identificação
da CPCJ (Comissão de Proteção de Crianças e Jovens de xxxxx).
- Cada reclamação tem 3 duplicados autocopiativos. As folhas devem ser assinadas e rubricadas.
Como os duplicados são autocopiativos, ficarão com a mesma paginação do original da
reclamação.
O conteúdo da reclamação pode ser dado a conhecer na reunião da comissão restrita da CPCJ.
Quando a matéria da reclamação for aquela que está referida no n.º 3 do artigo 13.º-B, deverá
aquela ser fotocopiada. Esta fotocópia será remetida ao interlocutor do Ministério Público, a
coberto de ofício. Na fotocópia deve ser colocada a menção de que a mesma está conforme o
original, a qual deve ser datada e rubricada. Nestes casos, deverá ainda fazer menção desta
remessa no ofício que remeter o duplicado da reclamação (cor azul) para a Comissão Nacional.
Aquando da remessa do duplicado a comissão deverá desde logo pronunciar-se sobre o objeto
da reclamação, podendo juntar os elementos que entender.
Pág.64
3.2.8.10. DEVER DE COLABORAÇÃO
O art.º 13.º determina que sobre todas as entidades acima mencionadas, como todas as pessoas
singulares e coletivas impende o dever de colaboração.
O n.º 3 deste art.º 13.º especifica ainda que o dever de colaboração abrange o de informação e
o de emissão, sem quaisquer encargos, de certidões, relatórios e quaisquer outros documentos
considerados necessários pelas comissões de proteção, quando no exercício das suas
competências.
Cabe aqui lembrar que nas situações em que as comissões de proteção não obtenham a
disponibilidade dos meios necessários para proceder à avaliação diagnóstica, nomeadamente
por oposição de um serviço ou instituição, são objeto de comunicação para o MP que indagará
junto dessas entidades das razões porque não é prestada a colaboração solicitada – art.º 68.º,
alínea a).
O art.º 13.º-A123 veio prever a possibilidade da CPCJ aceder aos dados pessoais sensíveis e
estabelecer a forma como tal se concretiza.
Nos termos deste artigo, importa ter presente que o pedido de acesso a esses dados pessoais
sensíveis por parte da Comissão deve ser acompanhado da declaração, por escrito, de
consentimento informado do respetivo titular, com a especificação concreta dos dados a obter.
No caso de os dados pessoais dizerem respeito à saúde, a intervenção do membro representante
da saúde na comissão restrita pode ser muito útil quer quanto à especificação dos dados
concretos indispensáveis relativos à saúde, quer no que respeita à comunicação com a entidade
detentora da informação.
A Lei n.º 67/98, de 26 de outubro (Lei de Proteção de Dados Pessoais)124, consagra o regime
jurídico de proteção de dados pessoais e estabelece como princípio geral que o tratamento de
dados pessoais deve processar-se de forma transparente e no estrito respeito pela reserva da
vida privada, direitos, liberdades e garantias fundamentais (art.º 2.º da Lei de Proteção de Dados
Pessoais).
O artigo 7.º da Lei de Proteção de Dados Pessoais estabelece as regras para o tratamento de
dados sensíveis, dispondo que é proibido o tratamento de dados pessoais referentes a:
Pág.65
- Dados genéticos
O tratamento dos dados pessoais sensíveis pode ser permitido quando o seu titular tiver prestado
o consentimento expresso para esse tratamento, conforme o disposto no art.º 7.º, n.º 2 da Lei de
Proteção de Dados Pessoais.
A mesma lei define como consentimento do titular dos dados a manifestação de vontade, livre,
específica e informada pela qual o titular aceita que os seus dados pessoais sejam objeto de
tratamento (art.º 3.º, al. h) da Lei de Proteção de Dados Pessoais).
I. A CPCJ, nos termos do disposto no artigo 13.º-A, acesso a dados pessoais sensíveis, pode
proceder ao tratamento de dados pessoais sensíveis, designadamente informação clínica, desde
que tal seja:
- Necessário para assegurar a proteção da criança ou jovem (ou seja, é admissível que a
Comissão aceda aos dados sensíveis, desde que tal seja essencial para o processo em concreto)
- Consentido pelo titular dos dados ou, se este for menor ou interdito por anomalia psíquica,
pelo seu representante legal.
II. O consentimento do titular dos dados é escrito, específico e informado, isto é, com
especificação concreta dos dados a obter. É, portanto, um consentimento distinto do
consentimento recolhido pela Comissão de Proteção para a sua intervenção e que se encontra
previsto no artigo 9.º da LPCJP.
IV. Quando a entidade detentora da informação for uma unidade de saúde, o pedido da Comissão
deve ser dirigido, conforme art.º 13.º-A, n.º 4 da LPCJP e Despacho n.º 15662/2015 do Gabinete
de Secretário de Estado Adjunto e da Saúde:
- A resposta é prestada no prazo máximo de 10 dias úteis, a contar da data de receção do pedido
ou se o pedido expressamente mencionar possibilidade de recurso ao procedimento de urgência,
em 2 dias úteis125.
V. O momento em que a CPCJ deve proceder à recolha deste consentimento específico tem
lugar quando se chega à conclusão que a informação se torna imprescindível. Normalmente,
isso tem lugar na fase de avaliação e diagnóstico, devendo o gestor do processo lavrar no
processo a respetiva fundamentação.
É inaceitável que uma CPCJ, por norma, recolha este consentimento específico, indistintamente
em todos os processos, logo no momento de recolha do consentimento para legitimar a sua
intervenção (falamos do consentimento previsto no art.º 9.º). A comissão não pode proceder à
recolha deste consentimento especial em todos os processos e logo no início do processo
Pág.66
(salvaguardada a situação que a seguir se coloca). Primeiro porque não sabe se vai ser precisa,
depois porque no início, em princípio, não existem dados que sustentem o pedido126.
Por vezes, pela leitura da sinalização e eventuais elementos anexos, poder-se-á chegar à
conclusão, desde logo, pela necessidade de aceder a dados sensíveis. Mais uma vez, na
fundamentação para recolha deste consentimento (do art.º 13.º-A), para além das razões que
suportam a conclusão da necessidade destes dados, também devem estar as razões porque a
recolha deste consentimento tem lugar ainda antes da fase de avaliação e diagnóstico.
A CPCJ deve acautelar situações em que os dados sensíveis não podem ser acedidos por
alguma das pessoas com possibilidade de consultar o processo128.
Nestas situações, em que a pessoa com direito a consulta, não pode aceder à informação
sensível e pretende aceder ao processo, a CPCJ desentranha a documentação respeitante aos
dados sensíveis, colocando em seu lugar folha 129 que ficará numerada com os números agora
em falta (por exemplo: 7 a 12), onde se consignará que se encontrava expediente no processo
que foi desentranhado, conforme termo que se encontra na fls. xx. Nesta folha xx - que
corresponderá à última existente no processo, no momento deste ato de desentranhamento –
constará um termo que pode ser lavrado da seguinte forma:
ATENÇÃO:
VI. A informação a que se refere o n.º 1 do art.º 13.º-A é destruída assim que o processo de
promoção e proteção for arquivado, por a situação de perigo não se comprovar ou deixar de
subsistir (art.º 88.º, nº 7 da LPCJP).
126 Trata-se de matéria relacionada com direitos fundamentais. O acesso a tais dados é uma situação especial ou extraordinária em
que se admite (desde que preenchidos os pressupostos) o sacrifício de determinados direitos em prol do interesse superior da
criança.
127 (…incluindo-se, de modo particular, as situações de recusa de prestação de informação relativa a dados pessoais sensíveis,
que determinada pessoa ou determinadas pessoas não pode(m) aceder à informação, sendo esta(s), aquela(s) que pode(m)
consultar o processo.
129 Evita a necessidade de renumerar o processo.
130
É a folha onde consta a cópia do ofício através do qual se solicitaram os dados sensíveis.
Pág.67
4. RISCO E PERIGO
As CPCJ protegem através da aplicação de medidas de promoção e proteção (art.ºs 35.º a 63.º).
Mas apenas podem intervir em casos de perigo. NUNCA em casos de risco! (tal e qual como os
tribunais)
Qual a diferença?
Risco
Situação de vulnerabilidade tal que, se não for superada, pode vir a determinar futuro perigo ou
dano para a segurança, saúde, formação, educação ou desenvolvimento integral da
criança. Pode implicar um perigo potencial, eventual para a efetivação dos direitos da criança.
Perigo
A situação é de tal forma grave que coloca em causa direitos da criança (colocando em crise a
segurança, saúde, formação, educação ou desenvolvimento da criança).
Outra forma de nos referirmos a estes dois conceitos, também pode ser esta:
São todos os factos que prejudicam a criança identificada. É casuístico. Por exemplo, tratar-se-
á da criança "João" que reside em contexto de violência doméstica e que carece de proteção.
O RISCO deve ser trabalhado pelas entidades com competência em matéria de infância e
juventude.
O PERIGO deve ser trabalhado pelas entidades com competência em matéria de infância e
juventude, em primeiro lugar131.
131O que legitima, por parte das CPCJ, quando concluem que a sinalização se refere a situação de risco, ou que se refere a perigo,
sendo que neste caso, as entidades com competência em matéria de infância e juventude ainda não esgotaram todas as suas
possibilidades de intervenção, concluírem pela devolução dessa sinalização para a entidade que sinalizou ou para outra que
considerarem mais adequada.
Pág.68
Apenas se a situação não puder ser resolvida ou se tornar muito complexa, deve ser apresentada
às comissões de proteção de crianças e jovens. Se estas não puderem intervir, ou deixarem de
poder intervir, então a situação seguirá para o tribunal ----» ver supra princípio da subsidiariedade
(art.º 4.º, al. k)).
Resumo:
Pág.69
5. INTERVENÇÃO DAS CPCJ
Para a CPCJ poder intervir, terão que estar verificados determinados pressupostos:
4. Obter consentimento dos pais / Não oposição da criança com mais de 12 anos ou inferior
se tiver maturidade ou capacidade de entender a intervenção
Este é o primeiro pressuposto que deve ser analisado. Sem ser territorialmente competente, a
comissão não tem sequer legitimidade para analisar e decidir seja o que for, relativamente à
sinalização recebida.
As comissões de proteção exercem a sua competência na área do município onde têm sede -
ver art.º 15.º.
No entanto, é possível haver um município com mais do que uma comissão de proteção - ver
art.º 15.º, n.º 2, al. a)133.
Também é possível a existência de uma CPCJ que abranja mais do que um município. Tal
hipótese vem prevista no art.º 15.º, n.º2, al. b)134.
É competente a comissão que exerça a sua competência no território onde se encontra localizada
a residência da criança.
A residência da criança pode não coincidir com o local onde ela se encontra. A residência deve
ser aferida em função do seu centro de vida135. Presume-se (presunção ilidível, portanto) que o
centro de vida coincide com a residência dos pais (ou pai ou mãe).
O legislador optou pela residência, uma vez que considerou que é a CPCJ (ou o tribunal) que
exerce competência territorial da área da residência da criança que está em melhores condições
133 É o caso dos municípios de Lisboa (4 CPCJ), Porto (3 CPCJ), Sintra (2 CPCJ) e Vila Nova de Gaia (2 CPCJ). Nestes dois últimos
concelhos, a instalação das duas comissões em cada um deles resultou do desdobramento de uma CPCJ anteriormente existente,
tendo-se posto fim à atividade da anterior comissão, à qual sucederam 2 comissões, com a publicação de duas novas portarias de
instalação.
134 Por ora, ainda não houve manifestações de interesse para que tivesse lugar este tipo de soluções. No entanto, no futuro é de
encarar seriamente esta possibilidade, sobretudo nos casos em que o número de processos é baixíssimo ou inexistente, a fim de
poder garantir-se uma qualidade na intervenção. Normalmente estes territórios apresentam ainda outra dificuldade: a de encontrar
elementos que possam assegurar a representatividade de muitas das entidades que devem estar representadas na CPCJ (tais
situações tornam-se particularmente difíceis quando o membro atinge o tempo máximo de exercício de mandatos consecutivos
numa comissão – art.º 26.º, n.º 1, o que pode suceder em municípios com baixíssima densidade demográfica.
135
Mesmo que não coincida com o seu domicílio legal. Para conhecer o conceito de domicílio legal consultar o Código Civil – art.º
85.º.
Pág.70
para conhecer a criança e toda a sua envolvência (família, escola ou outras entidades da
comunidade com quem ela se relaciona), bem como para escolher as respostas adequadas para
remover o perigo, devido ao necessário conhecimento que tem do território onde se localiza a
residência da criança.
Por vezes, a informação constante na sinalização não é suficiente para determinar a competência
territorial, pelo que há necessidade de reunir mais informação. Ora, sem consentimento a
comissão de proteção está impedida de solicitar informação junto das várias entidades da
comunidade. No entanto, o legislador previu a possibilidade de obtenção de mais informação em
determinadas condições e desde que necessária, no âmbito das diligências sumárias 136,
possibilitando assim a reunião de mais informação para determinação da competência territorial
– art.º 94.º, n.ºs 1 e 3.
Ter sido já aplicada medida de promoção e proteção (não cautelar, como é óbvio);
A mudança da residência ter ocorrido há mais de três meses138.
Só então - e desde que verificados estes pressupostos - o processo será remetido para outra
CPCJ (aquela que passou a ser territorialmente competente).
Mesmo que, na sequência de aplicação de uma medida de promoção e proteção que implique a
criança passar a viver (apenas e só durante a aplicação da medida de promoção e proteção) em
território onde outra CPCJ exerce a sua competência territorial 139, a competência territorial não
se altera, uma vez que a residência da criança também não se altera140.
É neste pressuposto que o n.º 5 do art.º 79.º refere que a aplicação da medida de promoção e
proteção de acolhimento residencial não determina a alteração de residência. Embora o
legislador apenas se refira a esta medida 141 (tratou-se de uma situação muito controvertida no
início da vigência da LPCJP, pelos tribunais, que apenas ficou estabilizada com o acórdão do
Supremo Tribunal de Justiça142) é óbvio que a ratio desta norma também se aplica a todas as
outras medidas de promoção e proteção, à exceção da medida de apoio junto dos pais (ver a
nota n.º 76 não será 77?).
136 Quanto à prática de diligências sumárias, ver adiante o 3º do ponto 7. (7. Processo de Promoção e Proteção / Fases do processo
/ Início do processo / 3º).
137
Em caso de guarda partilhada, em muitas das respetivas decisões judiciais, já consta a definição do local da residência que ficará
depois registada no assento de nascimento. Sobre a necessidade de solicitar o assento de nascimento, ver adiante a nota de rodapé
166.
138 Se a alteração da residência ocorrer antes da aplicação da medida de promoção e proteção, a CPCJ não tem de esperar três
meses. Este período é contado a partir da alteração da residência. E.g.: a residência alterou-se em 1 de novembro e foi aplicada
medida em 2 de janeiro. A alteração da competência territorial terá lugar em 1 de fevereiro.
139 Isso pode suceder com a aplicação de todas as medidas de promoção e proteção exceto com a medida de apoio junto dos pais.
140
Relembre-se que as medidas de promoção e proteção têm um caráter de transitoriedade - e têm uma duração máxima, pelo que
se não tiver havido uma decisão (normalmente em processo tutelar cível), onde se conclua ter havido quebra de laços com quem
vinha exercendo a representação da criança ou das suas responsabilidades parentais ou reconhecimento da sua ausência de tais
laços, a residência mantém-se inalterada. É o que pode suceder na sequência de decisão em processo tutelar cível.
141 Número introduzido pela Lei n.º 142/2015, de 8 de setembro.
142
Disso a Comissão Nacional deu conta a todas as CPCJ através do Ofício-Circular VII, de 18/07/2005 (ver
https://www.cnpdpcj.gov.pt/area restrita /ofícios-circulares/2005).
Pág.71
2. PRESSUPOSTOS RELACIONADOS COM COMPETÊNCIA MATERIAL
Criança é todo o ser humano com menos de 18 anos. Ver art.º 5º, al. a) e art.º 1º da CDC
No caso de jovem emancipado, a CPCJ não pode iniciar processo, uma vez que a LPCJP não
se lhe aplica.
Isto porque de acordo com o código civil é menor quem não tiver ainda completado dezoito anos
de idade e salvo disposição em contrário, os menores carecem de capacidade para o exercício
de direitos. A incapacidade de exercício dos menores é suprida pelas responsabilidades
parentais (ou, subsidiariamente pela tutela) – ver art.ºs 122.º, 123.º e 124.º do Código Civil.
A emancipação vem prevista no art.º 132.º do Código Civil e dispõe que o menor pode ser
emancipado, de pleno direito, pelo casamento, atribuindo ao menor plena capacidade de
exercício de direitos, habilitando-o a reger a sua pessoa e a dispor livremente dos seus bens
como se fosse maior, salvo o disposto no artigo 1649.º (quando o menor casa sem ter obtido
autorização dos pais ou do tutor, ou o respetivo suprimento judicial, continua a ser considerado
menor quanto à administração de bens que leve para o casal ou que posteriormente lhe
advenham por título gratuito até à maioridade).
A expressão menor utilizada pelo Código Civil equivale à expressão “criança” adotada na Lei de
Proteção de Crianças e Jovens em Perigo, aliás como em praticamente todas as leis recentes
(e.g. Regime Geral do Processo Tutelar Cível, Regime Jurídico do Processo da Adoção).
Conclui-se, portanto, que a partir do momento em que o menor é emancipado, não pode estar
mais sujeito à intervenção nos termos da LPCJP, por não ser mais considerado menor ou
criança, mesmo que tal emancipação tenha sido obtida pelo casamento, ainda que sem
autorização dos pais, uma vez que, nesse caso, o Código Civil apenas faz repercutir efeitos ao
nível da administração de bens que leve para o casal – ver art.º 1649.º do Código Civil. Quer isto
também significar que se, no decurso do processo, a criança acompanhada vier a emancipar-se,
o processo deverá ser arquivado, independentemente da fase em que se encontrar.
143A requisição de certidão do assento de nascimento, ao abrigo do art.º 13.º, tem ainda outras vantagens como possibilitar a
aferição da residência em caso de guarda partilhada. Quanto à necessidade de requisição da certidão do assento de nascimento,
ver adiante o conteúdo do ponto 4. e a nota de rodapé 166.
Pág.72
Após a aplicação de uma medida, ainda é possível a medida prolongar-se até aos 21 anos (al.
a), do art.º 5.º in fine e art.º 60.º, n.º 3) e, em determinadas circunstâncias, até aos 25 anos. É o
caso daquele jovem que não tenha ainda terminado a sua formação profissional ou académica.
É o que resulta da alteração introduzida na LPCJP, pela Lei n.º 23/2017, de 23 de maio e em
vigor desde 1 de janeiro de 2018. Sempre que tenham sido aplicadas uma das seguintes
medidas: Apoio para a autonomia de vida, acolhimento familiar ou acolhimento residencial, e
apenas enquanto durem os processos educativos ou de formação profissional e desde que o
jovem renove o pedido de manutenção.
Não pode ser iniciado processo de promoção e proteção, respeitante a pessoa com 18 anos ou
mais.
As situações que sejam de risco, implicam a recusa da CPCJ no sentido de vir a intervir. A CPCJ
só intervém em situações de PERIGO (ver supra o capítulo 4.).
Caso não seja perigo ou apenas risco, a sinalização deverá ser devolvida ou encaminhada para
a entidade com competência em matéria de infância e juventude mais adequada.
A CPCJ também encaminhará ou reencaminhará a sinalização se concluir que o caso pode ser
tratado por entidade com competência de infância e juventude – apesar de ser considerado caso
de perigo – ou, se considerar que esta não esgotou todos os seus meios devolverá a sinalização
à mesma entidade.
Devem dizer respeito a situações atuais – nunca a situações que já passaram, ou que,
eventualmente se possam verificar no futuro (requisito da atualidade 144).
Nesta fase, não é necessário que a CPCJ tenha a certeza de haver perigo (para isso é que abre
processo). Bastará que os factos descritos na sinalização possam ser classificados de situação
de perigo.
Por vezes as CPCJ recebem comunicações designadamente de forças policiais que respeitam
a factos qualificados como crime alegadamente praticados por crianças entre os 12 e os 16 anos,
trata-se de matéria regulada na Lei Tutelar Educativa (ver supra 3.1.), as CPCJ abster-se-ão de
intervir, devendo remeter o expediente para o Ministério Público para efeitos de instauração de
inquérito tutelar educativo.
A competência material implica que se esteja perante uma situação de alegado perigo. No
entanto, em certas situações, ainda que possam respeitar a crianças em perigo, a lei retirou a
competência às comissões de proteção para intervir. Na prática, tal situação traduziu-se numa
compressão do princípio da subsidiariedade, o que leva a que as CPCJ devam remeter as
sinalizações ao Tribunal, abstendo-se de intervir.
144 A este propósito ver o princípio da atualidade – art.º 4.º, al. e).
Pág.73
3. TER SIDO CUMPRIDO O PRINCÍPIO DA SUBSIDARIEDADE
No caso de não se mostrar cumprido o princípio da subsidiariedade, tal facto habilita a CPCJ a
devolver a sinalização à entidade que a remeteu (caso a sinalização tenha sido feita diretamente
à CPCJ, ou vinda do Tribunal), ou a remeter para entidade considerada adequada.
Também aqueles casos, em que, no momento da abertura do processo era de perigo, mas após
a intervenção da comissão, o perigo deixou de se verificar, mas ainda subsiste risco, deve a
CPCJ remeter o caso para a entidade com competência em matéria de infância e juventude
considerada mais adequada (art.º 63.º, n.º 2).
Em alguns casos ainda é exigido que a criança não se oponha à intervenção da CPCJ – art.º
10.º.
O consentimento exigido é de ambos os pais: ver art.ºs 9.º, 11.º, n.º 1, al. c) e 94º, nº 1.
No caso de a criança ser afilhada civil, deve ainda ser recolhido o consentimento dos padrinhos
– art.º 9.º, n.º 7.
Se não for possível recolher o consentimento, pelo menos, a um dos pais (porque não existem
ou não são contactáveis), a comissão terá de averiguar da existência de um representante legal,
a quem solicitará o consentimento. Se não existir nem pai, nem representante legal, o
consentimento será solicitado à pessoa que tem a guarda de facto (portanto, nos casos em que
a guarda se concretizou sem ser na sequência de decisão judicial).
Claro está que se um dos pais, ou ambos, estiver(em) inibido(s) do exercício das
responsabilidades parentais, não pode(m) consentir na intervenção da comissão – ver n.º 2 do
art.º 9.º145.
Quando um dos pais estiver ausente, e o início da intervenção se mostre imperioso (casos de
emergência), é lícito bastar-se com o consentimento do outro. Tal facto tem que estar
demonstrado no processo para fundamentar a decisão no sentido de avançar para a intervenção
sem o consentimento de ambos146, para além de dever constar no processo todas as diligências
realizadas para obtenção do consentimento em falta, quer antes, quer depois do início da
145 Insiste-se na importância de requisitar a certidão do assento de nascimento, tal como referido anteriormente – ver supra, a nota
137, onde deverá constar informação relativa à eventual inibição do exercício das responsabilidades parentais. Sobre a necessidade
de solicitar a certidão de nascimento ver adiante a nota de rodapé nº 166.
146 Todas as tentativas de contacto com o pai/mãe ausente devem estar registadas.
Pág.74
intervenção – ver n.º 3 do citado artigo e Diretiva Conjunta assinada entre a Comissão Nacional
e a PGR, em 23 de junho de 2009147.
O consentimento só pode ser recolhido pela CPCJ. Portanto, não pode ser recolhido apenas por
elemento do apoio técnico, devendo estar presente membro da comissão.
Também não pode ser recolhido por outras entidades administrativas (se o pai/mãe estiver(em)
presos, não é a secretaria do Estabelecimento Prisional que recolhe o(s) consentimento(s), mas
sim o elemento da CPCJ. Se o Estabelecimento Prisional se situar noutro concelho, e em
localidade distante que impossibilite a deslocação de elemento da CPCJ titular do processo, esta
recorrerá à solicitação de ato de colaboração (ver art.º 97.º, nº 5).
A falta de consentimento (ou a sua posterior retirada) determina a remessa do processo para o
Tribunal.
A declaração de consentimento deve constar no processo e será assinada por cada um dos pais.
É aconselhável que a declaração corresponda apenas a um dos pais148.
No caso da pessoa que deve prestar o consentimento não souber assinar, deverá ser lavrada
informação no processo consignando-se que a mesma declarou consentir ou não consentir na
intervenção da comissão de proteção.
O consentimento deve ser declarado pelo próprio 149. As declarações efetuadas por advogado -
ainda que no processo conste a necessária procuração - não têm valor algum.
Art.º 4.º, al. k), art.º 7.º, n.º 2, art.º 94.º e art.º 95.º.
Quanto à não oposição da criança com idade igual ou superior a 12 anos, ou com idade inferior,
desde que com capacidade de compreender o sentido da intervenção, também deve ser
recolhida tal declaração em documento próprio – ver art.º 10.º.
ou «que diz respeito à pessoa» ou «em atenção à pessoa», e que é especialmente utilizada para classificar uma relação existente
entre as demais pessoas, ou uma determinada circunstância, que não pode ser transportada ou transferida a terceiras pessoas.
Pág.75
6. AS MEDIDAS DE PROMOÇÃO E PROTEÇÃO
A única possibilidade de uma CPCJ (e já agora, o tribunal)150 proteger uma criança é através da
aplicação de uma medida de promoção e proteção.
A definição de medida de promoção e proteção é feita pela própria lei. De acordo com o art.º 5.º,
alínea e), medida de promoção e proteção é a providência adotada pelas comissões de proteção
de crianças e jovens ou pelos tribunais, nos termos da Lei de Proteção de Criança se Jovens,
para proteger uma criança ou um jovem em perigo.
As medidas de promoção e proteção são apenas aquelas que a lei prevê (princípio da legalidade
e princípio da tipicidade) – ver art.º 35.º e seguintes.
As medidas de promoção e proteção só podem ser aplicadas pelos tribunais ou pelas CPCJ. No
entanto, só a medida de confiança a pessoa selecionada para a adoção, a família de acolhimento
ou a instituição com vista a adoção é que pode ser aplicada exclusivamente pelos tribunais, pois
trata-se de matéria relacionada com o instituto jurídico da adoção, matéria reservada aos
tribunais – ver art.º 35.º, n.º 2 in fine. Quando uma CPCJ conclui que o único caminho possível
para proteger uma determinada criança é a sua adoção por outra(s) pessoa(s), encerra o
processo e remete-o para o tribunal. Se já tiver aplicado outra medida de promoção e proteção,
a mesma manter-se-á até o tribunal pronunciar-se sobre o caso.
Dada a natureza das CPCJ, só é possível às mesmas aplicarem uma medida de promoção e
proteção, mediante a assinatura de um acordo de promoção e proteção. Não havendo acordo, o
processo será remetido ao tribunal. O mesmo sucederá se o acordo for reiteradamente
incumprido – ver art.º 11.º, n.º 1, als. d) e c).
De acordo com a estatística anual, ao longo dos anos, a medida mais aplicada tem sido a de
apoio junto dos pais.
Têm que ser decididas num tempo máximo após o início do processo. Não pode decorrer mais
do que seis meses sem qualquer decisão. Caso tal se verifique, a comissão tem que comunicar
tal facto ao Ministério Público. – al. d) do art.º 68.º.
Só podem ser aplicadas após a reunião de informação que habilite a um diagnóstico para
fundamentação da medida a ser aprovada. No entanto, em situações de emergência151, pode
150
Tal como o Tribunal – ver art.º 38.º.
151 Para saber o que são situações de emergência, ver o art.º 5.º, al. c).
Pág.76
ser aplicada uma medida cautelar152, sem necessidade de esperar pela avaliação e diagnóstico
definitivos – ver art.º 37.º, n.º 2.
As medidas que impliquem a separação da criança de seus pais devem ser comunicadas ao
Ministério Público – al. e) do art.º 68.º (na prática, apenas uma medida não tem essa implicação).
Cada uma das medidas de promoção e proteção tem disposições específicas – ver art.ºs 39.º a
51.º.
De acordo com o n.º 2 do art.º 35.º, as medidas podem ser (executadas em) meio natural de vida
ou medidas de colocação, isto é, fora do seu ambiente natural.
As primeiras são as que estão previstas no art.º 35.º, n.º 1, nas alíneas a) a d). As segundas
estão previstas no mesmo artigo e número, nas alíneas e) e f). A medida prevista na alínea g)
pode ter uma ou outra natureza, consoante a criança seja confiada a pessoa selecionada para a
adoção, ou seja, colocada em família de acolhimento ou em instituição com vista a adoção.
Esta distinção é importante pois vai determinar a duração máxima das medidas de promoção e
proteção – ver art.ºs 60.º a 63.º. É também relevante para a redação do acordo de promoção e
proteção – ver art.ºs 55.º + 56.º; art.º 55.º + 57.º153.
As medidas de promoção e proteção em meio natural só podem ter a duração que foi
estabelecida no acordo de promoção e proteção, mas têm limites máximos previstos na lei (um
ano, podendo ser prorrogada por mais seis meses – 18 meses no total).
Chama-se a atenção às CPCJ para que estes aspetos sejam acautelados, pois trata-se de
situações que podem afastar a legitimidade para a comissão intervir (na hipótese de risco), ou,
nas outras hipóteses, são situações evitáveis através de uma avaliação e diagnósticos rigorosos,
ou através de um acompanhamento próximo da execução da medida, evitando-se situações que
afrontam o sentido da lei (o princípio da intervenção mínima já citado e o princípio pelo respeito
pela vida privada – constitucionalmente consagrado - não autorizam uma constante e
Pág.77
massacrante intervenção junto da família), pois não se pode admitir que a intervenção da
comissão se possa eternizar.
Contudo, admite-se que em situações muito complexas, sobretudo naquelas em que, ao longo
da intervenção da comissão, houve alteração das medidas, ou que, se está à beira do
afastamento do perigo, excecionalmente a intervenção possa continuar. Mas tal situação tem de
estar devidamente fundamentada e deverá ser do conhecimento do interlocutor do Ministério
Público atento o seu papel fiscalizador da legalidade (ver adiante no capítulo 8.). O que é certo
é que os membros da comissão, quando equacionam como se fará a intervenção no sentido de
afastar o perigo, deverão ter no seu horizonte que dispõem de 12 meses no máximo e,
excecionalmente, disporão ainda de mais 6 meses (18 meses no total).
As medidas de promoção e proteção de colocação só podem ter a duração que foi estabelecida
no acordo de promoção e proteção, não havendo limites máximos previstos pela lei, ainda que
se continue impor a necessidade da sua revisão.
Recorde-se ainda o que foi referido em 2.1. (parte final): ainda é possível a medida de colocação
ser prolongada até aos 21 anos (al. a), do art.º 5.º in fine) e, em determinadas circunstâncias -
quando o jovem que não tenha ainda terminado a sua formação profissional ou académica - até
aos 25 anos [bem como a medida de apoio para autonomia de vida, desde que o seu superior
interesse o imponha e ele renove o pedido para manter a medida (art.º 60.º, nº 3 e 63.º, nº 2)].
É o que resulta da alteração introduzida na LPCJP, pela Lei 23/2017, de 23 de maio e em vigor
desde 1 de janeiro de 2018. Assim, após os 21 anos do jovem acompanhado é possível manter
processo de promoção e proteção aberto com medida de promoção e proteção aplicada:
sempre que tenham sido aplicadas uma das seguintes medidas: Apoio para a
autonomia de vida, acolhimento familiar ou acolhimento residencial;
e apenas enquanto durem os processos educativos ou de formação profissional;
e desde que o jovem renove o pedido de manutenção.
O fim das medidas de promoção e proteção pode ser antecipado naqueles casos em que se
verifica o afastamento do perigo154 155, ou quando a criança passa a residir em outro país, ou a
criança é emancipada156, ou quando ocorre o seu falecimento, impondo-se então o arquivamento
do processo.
Resumo:
Art.º 35.º, n.º 1, als. a), b), c) e d) Art.º 35.º, n.º1, als. e) f) e g)
A estabelecida no acordo de
DURAÇÃO Máximo de 12 meses
promoção e proteção
154 Ainda que possa subsistir o risco, situação em que a CPCJ não é mais competente, devendo então encaminhar o caso para a
adequada entidade com competência em matéria de infância e juventude – ver art.º 63.º, n.º 3.
155
Ver supra 2.1.
156 Ver supra 2.1.
Pág.78
Art.ºs 60.º e 62.º-A Art.º 61.º e 62.º-A
REDAÇÃO DO
Art.ºs 36.º + 55.º + 56.º Art.ºs 36.º + 55.º + 57.º
ACORDO
- Quando ainda não esteja esgotada a duração máxima, todas as medidas de promoção
e proteção aplicadas pela CPCJ, podem continuar a ser aplicadas para além dos 18
anos, desde que a criança solicite a continuação da intervenção, mas terão que findar
obrigatoriamente aos 21 anos – art.º 5.º al. a), art.º 63.º, nº 1. As medidas de promoção
e proteção em meio natural de vida findarão no prazo máximo legalmente permitido (18
meses, no máximo – ver supra), com a exceção que a seguir se apresenta.
Quando durante a execução de qualquer destas medidas aplicadas para além dos 18 anos, o
jovem entenda não cumprir ou não continuar a ser acompanhado, a medida terá que ser dada
como finda e arquivado o processo de promoção e proteção. A CPCJ não está impedida, num
Pág.79
primeiro momento, de tentar dissuadir o jovem, mas recorda-se que a aplicação da medida para
além dos 18 anos só sucedeu por impulso do mesmo, pois a aplicação de qualquer medida
nestes casos só tem lugar, quando este o solicita antes de atingir os 18 anos ou, no caso de
atingir os 21 anos, não tenha terminado a sua formação académica ou profissional, e tenha
renovado o pedido de manutenção. Em qualquer destas duas hipóteses, será útil, até no
cumprimento do estatuído na alínea h) do artigo 4.º da LPCJP, que a criança ou o jovem seja
lembrada/o ou informada/o processualmente para a necessidade de manifestar a vontade de
continuar a ser acompanhado.
Resumo:
O art.º 59.º dispõe que as comissões de proteção executam as medidas nos termos do acordo
de promoção e proteção. Isto não quer dizer que todos os atos materiais da medida devam ser
protagonizados pelos elementos da comissão restrita. Tais atos devem, o mais possível, ser
executados por entidades da comunidade, as quais também devem ser envolvidas na redação
do acordo. Sobre esta matéria deve-se ter bem presente o disposto na regulamentação das
medidas de promoção e proteção157.
157 Consultar o Decreto-Lei n.º 12/2008, de 17 de janeiro (regula matérias relacionadas com a execução das medidas de promoção
e proteção em meio natural de vida, determinando que as entidades que devem assegurar a execução material das medidas, a
natureza dos apoios – disposições gerais e específicas a cada uma das medidas; direitos e deveres da criança ou jovem; direitos e
obrigações dos pais ou familiares.
158 Para além de tal situação não fazer sentido algum (onde estaria a legitimidade da comissão de proteção para intervir? Como
poderia trabalhar o caso sem o processo de promoção e proteção?), o legislador determinou expressamente quem é que deveria
dar esse tipo de apoio ao tribunal – ver o Decreto-Lei n.º 332-B/2000, de 30 de dezembro, no qual se determina expressamente
(art.ºs 7.º e 8.º) que o acompanhamento de crianças e jovens em perigo pelo tribunal compete às equipas multidisciplinares do
sistema de solidariedade e de segurança social (EMAT).
Pág.80
I - Na formulação da proposta para deliberação da aplicação de medida de promoção e proteção
deve-se ainda ter em conta o que está regulado na regulamentação das medidas de promoção
e proteção. Isto é, a execução da medida pode implicar o recurso a apoio psicopedagógico,
apoio social e apoio económico – ver art.ºs 11.º, 12.º e 13.º daquele Decreto-Lei.
Não esquecer também que a execução das medidas obedece ao um plano cuja elaboração deve
ter em conta o conteúdo do acordo de promoção e proteção – ver art.º 7.º do mesmo Decreto-
Lei.
A execução das medidas de promoção e proteção em meio natural de vida pode ser assegurada
por entidades da comunidade, as quais assegurarão os atos materiais que concretizam as
medidas. A este propósito sublinhe-se que as CPCJ nunca deixam de ter a direção e o controle
da execução das medidas – ver art.º 5.º e 6.º do referido Decreto-Lei.
A medida de acolhimento residencial nunca foi regulamentada. O mesmo sucede com a medida
de confiança a pessoa selecionada para adoção, a família de acolhimento ou a instituição com
vista à adoção.
Deve-se ainda ter em conta as exigências e as limitações que a lei coloca na redação do acordo
de promoção e proteção e que varia consoante seja medida de promoção e proteção em meio
natural de vida ou medida de promoção e proteção de colocação - ver os art.ºs 55.º a 58.º.
Antes da revisão de 2015, as medidas cautelares tinham o nome de medida provisória, o que se
prestava a alguma confusão com a característica da transitoriedade que é da essência da medida
de promoção e proteção.
As medidas cautelares só são possíveis em situação de emergência. Para saber o que é uma
situação de emergência, deve-se proceder à consulta do art.º 5.º, al. c).
Não se confundem com os procedimentos de urgência, apesar de, em ambos os casos, poderem
ser originados por situações de emergência (ver infra o ponto 8.).
Qualquer das medidas previstas no art.º 35.º pode ser aplicada cautelarmente, desde que:
a situação de perigo seja conhecida, sem que tenha sido realizada a fase de diagnóstico;
a situação de perigo se subsuma ao previsto na alínea c) do art.º 5.º da LPCJP;
haja acordo com os pais, representante legal ou pessoa com a guarda de facto.
A duração de uma medida cautelar não pode nunca ultrapassar mais de 6 meses. O seu prazo
de revisão não pode nunca ultrapassar 3 meses.
Outra questão é a de saber se a duração da medida cautelar entra na contagem dos prazos
máximos de duração das medidas de promoção e proteção – ver art.º 60.º, nº 2, quando seja de
aplicar posteriormente medida de promoção e proteção. Parece-nos ser admissível que em
situações muito complexas, sobretudo se a medida for diferente da medida cautelar, a contagem
desta última se processe de novo, desde que o Ministério Público não se oponha.
Pág.81
7. PROCESSO DE PROMOÇÃO E PROTEÇÃO 159
A aplicação de uma medida de promoção e proteção apenas só pode ter lugar no âmbito de um
processo de promoção e proteção (PPP).
Mas esses processos têm, também, consoante corram termos na CPCJ ou no tribunal, regras
especiais: art.ºs 93.º a 99.º para o processo na CPCJ e art.ºs 100.º a 126.º para o processo
judicial. Assim:
Processo na CPCJ: art.ºs 77.º a 90.º + 93.º a 99.º
Processo judicial: art.ºs 77.º a 90.º + 100.º a 126.º
Em resumo, o processo deve registar todas as diligências e toda a atividade ocorrida na CPCJ
durante o acompanhamento de uma criança. Tal implica reunião de informação para confirmar
os factos sinalizados, informação necessária que habilite a CPCJ perceber se se confirma o
perigo e, em caso positivo, permita escolher a medida de promoção e proteção adequada para
proteger a criança, acompanhar a sua execução e pôr fim à aplicação da medida.
Tratando-se a Lei de Proteção de Crianças e Jovens em Perigo de uma lei especial, deve-se
sempre recorrer a ela para procura de regras processuais e obtenção de orientação para
trabalhar o processo. No entanto, caso se verifiquem lacunas devemos recorrer a legislação mais
geral. Relativamente ao processo de promoção e proteção judicial, o art.º 126.º refere
expressamente que são aplicáveis subsidiariamente as normas relativas ao processo civil
declarativo comum. Quanto ao processo de promoção e proteção na CPCJ, poucas regras do
Código de Processo Civil farão sentido serem aplicadas. No entanto, os elementos da comissão
poderão ter presentes as normas mais gerais do Código de Procedimento Administrativo 160
O ideal é que a colocação do novo expediente se faça junto da parte inferior do processo.
Logo após a sua colocação, o expediente deve ser paginado e rubricado de imediato. O número
da folha deve ser colocado no canto superior direito e a rubrica deve ser colocada perto do
número da página161. É a folha que é numerada e não a página, pelo que o verso não deve conter
159 Questão prévia: Todo o expediente entrado na CPCJ – independentemente de vir a ser integrado em processo ou não – deve ser
objeto de registo pela própria comissão, o qual não é acessível a elementos que não sejam da CPCJ (ou seja, apenas é acessível a
membros, apoio técnico, apoio administrativo). Admite-se que o MP (atenta a sua função inspetiva) possa aceder. O suporte pode
ser em livro ou em programa informático (o mais comumente usado é a base Excel. Admite-se que, no futuro, a Aplicação Informática
para a Gestão da Comissão de Proteção de Crianças e Jovens e do Processo de Promoção e Proteção possa vir a contar com um
curso para registo de todo o expediente entrado ou saído na comissão. O expediente entrado poderá dar origem a processo (vários
tipos de processos – Processo de Promoção e Proteção, Apadrinhamento Civil, Processo para Autorização de Participação em Artes
e Espetáculos) ou a atos de colaboração, ser integrado em processo já existente ou atos de colaboração já iniciados, ou dizer respeito
a qualquer outro assunto não processual.
160 A que se deve recorrer, na parte relativa à organização e funcionamento das CPCJ, desde que tais regras não contrariem a
Pág.82
qualquer numeração. No caso da folha (original) já conter assinatura ou rubrica de elemento da
comissão, não há necessidade de a rubricar 162.
Alerta-se para o facto de, caso o processo não esteja paginado, ser então legítimo que, qualquer
pessoa que contacte com o processo, ela própria, colocar a sua paginação no processo.
Possibilita ainda que a CPCJ possa ter um índice que vá sendo atualizado com o
desenvolvimento do processo. Este instrumento permite que se localize rapidamente o
expediente pretendido (relembra-se que o processo é consultável por qualquer membro da
comissão restrita que não o gestor do processo – e, portanto, menos familiarizado com o mesmo
–, pelo interlocutor do Ministério Público, pela criança ou o jovem, os pais ou os seus advogados).
Outro princípio que todos os elementos da comissão de proteção de crianças e jovens devem ter
em conta no trabalho processual prende-se com o princípio do aproveitamento dos atos. A
comissão não deve pedir a repetição de diligências já efetuadas, nomeadamente, a elaboração
de relatórios sociais e realização de exames médicos já existentes - art.º 83.º.
Não é secreto, pois a ele têm acesso todos os membros da comissão restrita, o apoio
administrativo, o apoio técnico, os pais, a criança, seus advogados e ainda, quem manifeste
interesse legítimo, mas não pode ser do conhecimento de outras pessoas – ver art.º 88º.
Pode ainda haver consulta para fins científicos, regulada pelo art.º 89.º.
Ainda assim, é possível que o presidente da comissão de proteção possa informar os órgãos de
comunicação social sobre os factos, decisão e circunstâncias necessárias para a correta
compreensão de um caso que seja já do conhecimento daqueles órgãos – ver n.º 3 do art.º 90.º.
- A consulta do processo
Como acima já dissemos, ainda que o processo tenha caráter reservado, é possível a sua
consulta por pessoa que detenha determinada qualidade. Estão nesta situação os pais, o
representante legal, a pessoa que tenha a guarda de facto, a criança, ou os seus advogados –
ver art.º 88.º. Apenas têm que solicitar a sua pretensão à comissão. No caso dos advogados
deverão estes estar munidos da respetiva procuração, a qual pode ainda ser junta no momento
em que solicitam a consulta do processo.
162Do processo deve constar todo o expediente que lhe diga respeito (sinalização, aviso de receção enviado, cópia de certidão
emitida, cópia de convocatória, notificação ou ofício, autos de audição, relatórios, registo de diligência ou informações, planeamento
de avaliação diagnóstica, grelha de avaliação diagnóstica, plano de execução da medida de promoção e proteção, acordo de
promoção e proteção, comprovativo de pedido de envio de processo na sequência de incompetência territorial, etc.).
Pág.83
No caso de outra pessoa que invoque interesse legítimo (portanto, pessoa que não aquela(s)
que se encontram previstas no nº 3 do artigo 88.º), ou seu advogado, pretender consultar o
processo163, deve a mesma invocar tal qualidade junto da comissão de proteção e fundamentar
o pedido, dirigindo requerimento ao presidente da CPCJ, o qual avaliará a sua pretensão,
proferindo despacho no sentido de deferir ou indeferir a consulta. Como sempre que existe uma
decisão, deverá fundamentar a sua decisão164.
Nos casos que se prendem com factos relacionados com violência doméstica, podem existir
situações que levem a que a vítima seja deslocada da sua residência habitual, ficando em
morada diferente, ou mesmo, colocada numa casa abrigo. Por ser necessário, pode ocorrer
disponibilização de informação onde a vítima se encontre colocada, a qual não pode ser do
conhecimento do agressor. Sucede que o agressor pode ser uma das pessoas que a lei prevê
ter acesso a processo. Recomenda-se que tal informação ou expediente não conste do processo,
mas seja colocada em anexo ou dossiê constituído para arquivar informação deste género,
devendo ser lavrada informação no respetivo processo, da existência daquele expediente, para
além de tal facto dever ser comunicado ao Ministério Público.
Por vezes, conclui-se que a informação relativa a dados pessoais sensíveis não pode ser acedida
pelas pessoas que a lei confere o direito de consulta, na sequência de alerta da entidade que
disponibiliza a informação. A solução a dar é a mesma que foi dada no exemplo anterior.
A consulta de processo por parte da criança, seus pais, representante legal ou pessoa que tem
a sua guarda de facto, ou seus advogados, quando apresentada pessoalmente, implica a
disponibilização imediata do processo. Tratando-se de um direito concedido diretamente pela lei,
tem como consequência que nenhuma entidade (CPCJ ou tribunal) possa negar tal acesso, pelo
que se torna escusada a apresentação de requerimento.
No entanto, existem situações em que a disponibilização do processo pode não ser imediata.
Por exemplo, o processo está a ser objeto de trabalho (realização de audição, visita domiciliária
ou realização de reunião da comissão restrita onde o mesmo deverá ser presente para discussão
da ordem de trabalhos), ou foi remetido ao tribunal (consulta do Ministério Público ou juiz). Nestes
casos, deve ser agendado de imediato, o dia e hora para a concretização da consulta.
Se o pedido de consulta foi apresentado por escrito, a CPCJ responderá pelo mesmo meio ou
telefonicamente, informando quais os períodos em que a consulta pode ser efetivada.
Seja em que hipótese for, quem disponibiliza o processo deve lavrar informação no processo,
consignando que o mesmo foi consultado, e discriminando a pessoa e a data em que tal ocorreu.
O processo arquivado também pode ser objeto de consulta. A lei não distingue a fase processual,
como condição para a concretização deste direito.
Não oferece dúvida que a comissão possa entregar cópia de certos documentos que integram o
processo, como sejam a declaração de consentimento, ou declaração de oposição/não oposição,
ou o acordo de promoção e proteção. Por outro lado, a comissão é obrigada a colocar cópia de
documentos por si dirigidos a outra entidade, no processo, como é o caso de ofícios ou
convocatórias ou notificações.
A lei nada estabelece quanto à possibilidade de entregar certidão ou cópia de peças processuais.
As situações acompanhadas no âmbito de um processo de promoção e proteção estão
associadas a questões íntimas e que não devem ser expostas à comunidade em geral, cuja
163
Ver art.º 88.º, n.º 5 da LPCJP.
164 Ver art.º 152.º do CPA.
Pág.84
divulgação pode colocar em causa a formação da personalidade da criança e a sua estabilidade,
para além dos possíveis efeitos de estigmatização que podem perdurar para a vida adulta. A
atividade registada no processo de promoção e proteção não deve ser do conhecimento da
generalidade das pessoas ou para além daquelas estritamente necessárias para se alcançar o
afastamento do perigo em que a criança esteja. Além do mais, as situações que exigem a
intervenção da CPCJ ou do tribunal (através da aplicação de uma medida de promoção e
proteção, por vezes necessitam da colaboração de pessoas ou entidades que, caso o processo
não observasse a característica de reserva do acesso ao seu conteúdo, nunca colaborariam na
intervenção da comissão.
Ora, este silêncio é significativo, tendo em conta os bens que se pretende salvaguardar com a
existência do processo de promoção e proteção e que foram sumariamente mencionados no
parágrafo anterior.
Assim, tem-se como certo que o direito de consulta previsto no art.º 88.º não abrange o direito a
obter cópia ou certidão de pelas processuais, devendo-se ter como regra, a impossibilidade de
obtenção de cópia ou certidão. Excecionalmente, admite-se que tal possa ser possível se for
invocado e demonstrado, que de outra forma outros direitos relevantes não ficam
salvaguardados.
- Identificação do processo;
- Demonstração de que não existe outra possibilidade para salvaguardar outros direitos, desde
que estes sejam relevantes;
3 – O presidente deve proceder a uma primeira análise de cariz formal (isto é, se o processo se
encontra identificado, se estão identificadas as peças processuais das quais se pretende cópia,
se existe informação sobre qual a finalidade da certidão, se está demonstrada a impossibilidade
de salvaguardar direitos relevantes de outra forma, na eventualidade de ter sido apresentado por
advogado, se este tem procuração no processo). Bastará a preterição de um destes requisitos
para o presidente indeferir o requerido.
Pág.85
Para melhor esclarecimento, consultar o Ofício – circular nº 8/2017, de 10 de novembro.
- Fases do processo
Uma das definições possíveis de processo é o conjunto de atos encadeados entre si com vista
à produção de um resultado. No caso do processo de promoção e proteção, pode-se agrupar
tais atos em diversas fases.
Os atos que deverão ter lugar serão melhor explicados nos cursos II e III. No entanto, chama-
-se a particular atenção para determinados procedimentos a ter em conta:
Início do processo
Sinalização à CPCJ
1º
No caso de se tratar de processo vindo de outra comissão de proteção (resultará quase sempre
de alteração da competência territorial), a CR analisará a deliberação de remessa e face à
consulta do processo deliberará no sentido de concordar ou não com a deliberação.
Se não concordar, juntará o extrato de ata ao processo onde constará a fundamentação de facto
e de direito que sustenta a sua posição e devolverá o processo por carta registada com aviso de
receção, a coberto de ofício agrafado na capa. Na aplicação informática procederá em
conformidade (não aceitando o processo).
Se concordar com a CPCJ que devolveu o processo, este continuará os seus termos na
comissão onde sempre foi tramitado.
Se não concordar, ambas as comissões de proteção consideram que não são competentes, pelo
que se estará perante um conflito negativo territorial.
Para a resolução do conflito negativo territorial pode ser solicitada a intervenção da CNPDPCJ
para decidir o mesmo. Enquanto não houver decisão, a CPCJ titular do processo (a inicialmente
competente) deverá continuar a acompanhar a execução da medida de promoção e proteção
deliberada.
Pág.86
2º
Sendo territorialmente competente, deve ainda analisar a criança165, a factos que possam ser
considerados de perigo (devendo rejeitar se respeita apenas a risco) e que a lei não tenha
excluído da competência da comissão de proteção, se se mostra cumprido o princípio da
subsidiariedade166. Deverá ainda averiguar se já existe processo registado daquela criança
(naquela ou em qualquer outra CPCJ).
3º
Ainda antes de qualquer diligência, a CPCJ pode ter necessidade de recorrer à prática de
diligências sumárias. As diligências sumárias são apenas aquelas que se tornaram imperiosas
para que a comissão perceba o conteúdo da sinalização (por a mesma se revelar ininteligível ou
estar incompleta – inexistência de morada ou morada incompleta – o que, desde logo pode
impedir a aferição da sua competência territorial). No fundo trata-se de informação ou de dados,
sem os quais a comissão ver-se-ia impedida de praticar os atos processuais que se seguiriam.
A amplitude de aplicação desta norma e do conceito de “diligências processuais” deve ser muito
estrita, pois estamos a falar de diligências que têm lugar antes do consentimento (isto é, antes
da CPCJ possuir legitimidade para intervir). Tratando-se de exceção, o legislador entendeu
restringir ao máximo a sua prática. Limitou assim a possibilidade da sua prática junto de certas
entidades, pois apenas admite que as mesmas possam apenas ter lugar junto da entidade que
comunicou a situação de perigo – ver art.º 94.º, n.ºs 1 e 3.
A prática das diligências sumárias deve estar fundamentada. Essa fundamentação deve constar
do processo de promoção e proteção.
Depois, porque os pais precisam de saber o que se passa com o seu filho e bem assim, do
conteúdo da sinalização, devendo ser chamados a participar ativamente na resolução da
situação de perigo - caso se confirme a sua existência (princípio da responsabilidade parental,
princípio da obrigatoriedade da informação, princípio da audição obrigatória e participação).
É nesta ocasião que se deve confirmar se a morada que consta na sinalização é efetivamente a
morada correta. Se a morada já for outra, deve ser averiguado se a nova morada se situa ainda
no âmbito da competência territorial da comissão. A situar-se em morada fora da competência
territorial, à data do início do processo, a comissão não tem sequer legitimidade para recolher o
consentimento, devendo ser então proposta à comissão restrita que delibere no sentido da
165
Como acima já se disse, para boa análise do expediente, é importante solicitar previamente certidão do assento de nascimento
para aferir se a situação diz respeito a criança e se é possível solicitar o consentimento a quem a lei impõe que seja solicitado
(verificar se há inibição do exercício das responsabilidades parentais, se existe apadrinhamento civil, se se trata de pessoa com
menos de 18 anos emancipada, se se encontra definida a residência em caso de guarda partilhada, ou se não se encontra
estabelecida a maternidade ou paternidade – caso em que decorrerá a necessária averiguação oficiosa. Se estivermos perante uma
criança com menos de dois anos de idade (nesta última situação, não se solicitará o consentimento ao pretenso pai ou à pretensa
mãe, enquanto não houver perfilhação, ou, na sua falta, não houver decisão transitada em julgado em ação de investigação de
paternidade/maternidade). Para mais informações sobre a averiguação oficiosa de maternidade ou paternidade, consultar os artigos
3.º al. a) e 60.º a 64.º do RGPTC (ver supra 2.2.3.).
166 Relembre-se ainda que, nos casos em que se reporte a prática de factos qualificados como crime, alegadamente praticados por
crianças entre os 12 e os 16 anos, o expediente deve ser remetido para o Ministério Público junto do Juízo de Família e Menores
territorialmente competente (afere-se também em função da residência da criança), por se aplicar a Lei Tutelar Educativa. Diferente
será o juízo se a intenção de quem sinalizou foi a proteção das vítimas (desde que crianças, bem entendido) da prática de tais factos.
167 Ver art.º 4.º, als. f), i) e j).
Pág.87
remessa do processo para a outra comissão de proteção. A confirmar-se de que é territorialmente
competente, a comissão recolhe o consentimento de ambos os pais.
No caso dos pais, ou um dos pais recusar o consentimento deve ser solicitada a respetiva
declaração. Pode suceder que o pai se recuse a assinar tal documento. Deverá então ser lavrada
tal informação no processo pelo seu gestor, a fim de possibilitar a comissão restrita fundamentar
a sua deliberação de remessa do processo para os serviços do MP junto do Juízo de Família e
Menores competente.
Se o pai não souber assinar também deve ser lavrada informação no processo de promoção e
proteção pelo membro da comissão, de que foi prestado consentimento ou não foi prestado
consentimento.
Este momento deve ser aproveitado para recolher as declarações que os pais ou a criança
prestaram, devendo ser lavrado um auto, assinado pelos mesmos. É de rejeitar a prática
processual que consiste em ouvir alguém, registando-se o ato em documento assinado apenas
por quem tomou as declarações ou registando apenas as impressões obtidas durante a audição
ou tecendo considerações relativas ao ato. Para estes últimos fins, a comissão tem sempre a
possibilidade de elaborar documento próprio ou relatório. Portanto, as declarações devem
constar em auto, no qual se identificará a pessoa ouvida e o(s) membro(s) ou técnico(s) que
procedeu ou procederam à audição, e registando-se a data em que tal ocorre e assinado pelo
declarante e por quem o ouviu e registou as suas declarações – ver art.º 64.º, n.º 1 do CPA.
Também não é aceitável que o auto registe as declarações de mais do que uma pessoa; a cada
prestação de declarações corresponde um auto.
A audição em espaço reservado e com utilização de computador para redação do auto próprio,
que de imediato será impresso, mostra-se o mais adequado ao caráter reservado do processo e
ao princípio da celeridade processual.
De entre todas as diligências que devem ter lugar, assume particular importância a AUDIÇÃO
DA CRIANÇA.
Trata-se de uma imposição que tem a sua origem na Convenção sobre os Direitos da Criança.
A Convenção Europeia para o Exercício dos Direitos da Criança também impõe a audição da
criança.
A audição decorre sob regras especiais e especialmente previstas na lei – art.º 84.º da LPCJP e
4.º e 5.º do Regime Geral do Processo Tutelar Cível.
A fase de avaliação e diagnóstico termina logo que se conclua pela existência de informação
suficiente para habilitar a comissão de proteção no sentido de concluir se há ou não perigo e, em
caso positivo, selecionar qual a medida de promoção e proteção mais adequada para remover o
perigo.
- Encerramento do processo
O processo deve ser encerrado com um termo de encerramento, após verificação que todas as
formalidades foram cumpridas (notificação aos pais, criança e dos seus advogados, atualização
da aplicação informática), após o que se procede ao seu arquivamento.
Pág.88
Noutros casos de encerramento de processo (em bom rigor não se tratará de arquivamento de
processo168), ou seja, casos em que ocorre a cessação de intervenção por parte de uma CPCJ
concreta, em que haja lugar a remessa do processo para tribunal ou para outra comissão, os
pais, criança e seus advogados também devem ser notificados de tal facto.
No caso de remessa ao tribunal, apenas deve haver remessa física do processo, após termo de
remessa, uma vez que ainda não é possível o envio eletrónico do mesmo. Em ambas as
situações, deve ser agrafado o ofício que remete o processo na capa do mesmo.
Chama-se a atenção que é o próprio processo que deve ser remetido para o Ministério Público
e não cópia do mesmo, assim como, não tem qualquer justificação a CPCJ ficar com cópia de
um processo. A este propósito, diga-se que mais vale a comissão investir na colocação de
informação na Aplicação Informática para a Gestão da CPCJ e do Processo de Promoção e
Proteção, bem como na digitalização de peças processuais que fiquem anexas ao respetivo
registo informático.
Se, na sequência da remessa do processo para o Ministério Público, este decidir que não deve
requerer o processo de promoção e proteção judicial, o processo não deve regressar à CPCJ,
pois ficará arquivado nos Serviços daquela entidade.
Ainda no caso de processo remetido ao Ministério Público, pergunta-se o que pode a comissão
de proteção fazer quando o Ministério Público decide não requerer a abertura de processo de
promoção judicial, apesar da comissão continuar a pensar que a criança estará em perigo. Esta
situação pode ainda tornar-se ainda mais evidente quando não houve nunca a possibilidade de
nenhuma entidade intervir, por não ter havido consentimento e agora, nem sequer o Tribunal irá
analisar o caso, sendo que aos olhos da comissão, a criança que estará em perigo não está a
ser acompanhada por ninguém (embora possamos equacionar outras situações, menos
evidentes ou até mais graves, este tipo de decisões tem acontecido nos casos de criança em
perigo por abandono escolar e o Ministério Público decide não requerer o processo judicial
invocando a cultura da etnia da criança, o que à luz da Convenção sobre os Direitos da Criança
e da Constituição da República Portuguesa se trata de uma situação absolutamente inaceitável).
Quando este tipo de decisões constituir um padrão, a comissão deve promover um diálogo com
o seu magistrado interlocutor, a fim de entender as razões da posição assumida e este perceber
o entendimento da comissão.
Não tendo esse diálogo sido satisfatório, a CPCJ deve solicitar a intervenção da Equipa Técnica
Regional.
Nestas situações, não estará posta de lado a possibilidade de fazer intervir o superior hierárquico
do magistrado interlocutor.
- Destruição do processo
No entanto, nos casos previstos do art.º 63.º, n.º 1, al. d) e n.º 2, os processos só são destruídos
após o fim da medida de promoção entretanto aplicada ou no máximo (quando o jovem atinja os
21 anos ou ainda, em casos especiais, aos 25 anos).
168
A expressão “arquivamento” deveria ficar reservada para aquelas situações em que o processo findou na comissão que o vinha
tramitando sem remessa para outra entidade, ficando no arquivo da CPCJ titular do processo.
Pág.89
No caso de ter ocorrido arquivamento liminar (portanto, nem sequer se pediu consentimento), o
processo é destruído após dois anos da data do arquivamento – ver art.º 88.º, n.ºs 6 e 9 e art.º
21.º, n.º 2, al. c).
Quanto aos dados pessoais sensíveis deve-se ter em atenção que a sua destruição deve ocorrer
logo após o arquivamento do processo – ver supra o ponto 3.2.8.9. Posteriormente, o processo
aguardará o momento em que deve ser destruído, conforme o que foi atrás descrito.
Quanto aos procedimentos para destruição dos processos, consulte o documento que consta no
sítio da CNPDPCJ: www.cnpdpcj.gov.pt / área restrita / instrumentos de apoio à gestão do PPP
e da CPCJ / Destruição de processos
Pág.90
8. EXCEÇÃO À NECESSIDADE DE CONSENTIMENTO PARA AS CPCJ INTERVIREM
Em certos casos, a fim de se proteger determinados bens que de outra forma seriam colocados
em causa com o cumprimento das regras para a intervenção da CPCJ, o legislador entendeu
criar situações de exceção.
São situações em que o resultado do sacrifício desses bens em benefício do formalismo é de tal
forma insuportável, que se entendeu poder dever-se intervir - ainda que não estivessem reunidos
todos os pressupostos que legitimam a intervenção de uma comissão - de modo a salvaguardar
direitos e bens da criança, pois a não se verificar tal exceção, estar-se-ia perante uma situação
irreparável.
Aliás, são situações que não têm de ser necessariamente do conhecimento das comissões de
proteção; podem colocar-se a qualquer pessoa, enquanto simples cidadão ou a qualquer
entidade (com competência em matéria de infância e juventude ou outrem).
Que situações e condições são estas? (Repete-se: também se aplica a qualquer entidade do
Sistema de Promoção e Proteção).
Em primeiro lugar dever-se-á estar perante uma situação de EMERGÊNCIA – ver art.º 5.º, al c).
É certo que em situação de emergência, pode-se recorrer à aplicação de medidas cautelares
(apenas dispensa a fase de avaliação e diagnóstico – todos os restantes formalismos não são
dispensáveis). Mas pode não haver consentimento, ou possibilidade de o recolher.
Em segundo lugar, os direitos ou bens a proteger de imediato são a vida ou a integridade física
ou a integridade psíquica da criança, quando postos em causa no momento em que se atua ou
que irão ser postos em causa caso não se atue.
Portanto, situações em que se nada fizer de imediato, a vida ou a integridade física ou psíquica
irão estar em causa.
Encontram-se previstos nos art.ºs 91.º e 92.º (Nestes casos, a lei foi mais exigente, precisamente
por se tratar de uma exceção aos requisitos que conferem legitimidade para se intervir).
Estes procedimentos podem ser adotados por qualquer entidade com competência em matéria
de infância e juventude, CPCJ, tribunal ou qualquer cidadão.
- PERIGO ATUAL OU IMINENTE (iminente, quer dizer que, de acordo com a prognose
que é feita por quem está perante os factos, se nada se fizer em contrário, o perigo ir-
se-á verificar mesmo)
Pág.91
São pressupostos cumulativos. Se os três não se verificarem ao mesmo tempo, é impossível
recorrer aos procedimentos de urgência.
A intervenção das entidades policiais torna-se importante e vital para a salvaguarda urgente dos
bens que este artigo pretende salvaguardar, uma vez que são as entidades que estão preparadas
para gerir situações de grande conflito e têm os meios para atuar rapidamente. Daí que não seja
de estranhar as várias referências que este artigo faz à intervenção destas entidades (ver art.º
91.º, n.º 1, parte final).
Após a intervenção, o expediente deverá ser imediatamente remetido para o MP, o qual
requererá processo judicial urgente, a fim de que o juiz aprecie o caso no prazo máximo de 48
horas.
Se já houver processo na comissão, o mesmo terá que ser remetido imediatamente para tribunal.
Uma última palavra ainda para o conteúdo do nº 1 do art.º 3.º do Decreto-Lei nº 965/2009, de 25
de agosto que estabelece as regras de articulação entre as unidades de saúde e os serviços da
segurança social e os instrumentos a utilizar, quando se trate de atos enquadráveis na LPCJP e
a que já se fez referência em “3.2.8.2. COMPOSIÇÃO DA CPCJ”, a propósito da representação
da saúde nas CPCJ.
Determina aquele preceito legal que quando se verifique a existência de perigo atual ou iminente
para a vida ou a integridade física da criança, o núcleo de apoio contacta imediatamente as
CPCJ, ou com o Tribunal competente, para adoção das medidas tidas por convenientes.
A primeira advertência que se deve fazer é que esta norma, a ser escrita hoje, acrescentaria
também a integridade psíquica, uma vez que este aspeto foi introduzido na previsão do nº 1, do
art.º 91.º, através da Lei nº 142/2015, de 8 de setembro que procedeu à segunda alteração à
LPCJP.
A segunda, é que a interpretação do nº 1 do art.º 3.º tem que ser feita à luz do ratio da LPCJP e
da verdadeira natureza destes procedimentos urgentes, pelo que a articulação com as CPCJ não
tem que implicar necessariamente a intervenção destas. É que se o perigo é atual ou iminente,
as unidades de saúde devem atuar de imediato, e não deferir a intervenção para as CPCJ –
recorde-se que os procedimentos de urgência se dirigem a todas as entidades ou pessoas. Esta
articulação implicará tão só a aferição no sentido de apurar se a criança tem ou teve processo
de promoção e proteção na comissão ou obtenção de informação que a comissão possa
disponibilizar (na medida do estritamente necessário), desde que tal seja útil e necessário para
a intervenção. E se existe algum processo de promoção e proteção na comissão, esta deve
cessar a sua intervenção, remetendo o processo para o Ministério Público – ver art.º 92.º, nº 3.
Não se vê utilidade ou necessidade em a CPCJ intervir nestes casos, atendendo-se que o art.º
91.º, nº 1, autoriza a intervenção de qualquer das entidades referidas no art.º 7.º.
Pág.92
9. O MINISTÉRIO PÚBLICO NO SISTEMA DE PROMOÇÃO E PROTEÇÃO
No art.º 1.º do Estatuto do Ministério Público 169 está determinado que este representa o Estado
e defende os interesses que a lei determinar.
Por outro lado, tradicionalmente, o Ministério Público teve sempre um papel a desempenhar na
defesa dos interesses e direitos das crianças – relembre-se por exemplo, a figura do “curador de
menores”. Natural será então que o MP tivesse um papel especial no Sistema de Promoção e
Proteção, relacionado essencialmente com o controlo da legalidade dos atos e com a
representação dos interesses da criança.
No que toca à intervenção judicial prevista no art.º 11.º, compete ao Ministério Público requerer
a abertura de Processo de Promoção e Proteção nas situações ali descritas.
Prevê-se ainda um regime especial de comunicações das CPCJ para o MP – art.º 68.º.
Também, quando se conclui pela necessidade de iniciar qualquer procedimento cível 171 relativa
a crianças, as CPCJ devem proceder à respetiva comunicação.
Qualquer comunicação ao Ministério Público não pode implicar o fim da intervenção das
entidades do Sistema, a não ser que os pressupostos para a intervenção não se venham a
verificar ou deixem de se verificar (não haja consenso – Entidades com Competência em Matéria
de Infância e Juventude / ou consentimento – Comissão de Proteção de Crianças e Jovens) –
ver art.º 71.º.
Mas a LPCJP veio atribuir especialmente a incumbência de intervir na promoção e defesa dos
direitos das crianças e jovens em perigo – ver art.ºs 72.º a 76.º.
Pág.93
legalidade e adequação das suas decisões, fiscalizando a sua atividade processual e
promovendo os procedimentos judiciais adequados.
O Ministério Público pode executar inspeções à atividade da CPCJ – art.º 31.º, al. g) e 33.º, n.º
4. Pode também solicitar à CNPDPCJ a realização de auditoria a uma determinada comissão –
art.º 33.º, n.º 3172.
Também recebe o relatório anual de avaliação da atividade da CPCJ – art.º 32.º, n.º 2.
Por outro lado, quando alguma entidade se recuse a colaborar com as comissões de proteção,
violando o disposto no art.º 13.º, ou não disponha a informação sensível, apesar de terem sido
cumpridos os requisitos exigidos pelo art.º 13.º-A, a comissão comunica tais situações ao
Ministério Público – ver art.º 68.º, al. a).
Quando a reclamação efetuada ao abrigo do art.º 13.º-B, disser respeito a questões processuais,
o Ministério Público recebe cópia da mesma.
O relacionamento entre o Ministério Público e a CPCJ é de tal modo importante que já foi objeto
de duas Circulares (1/2001, de 25 de janeiro e 3/2006, de 26 de março) e uma Diretiva Conjunta
assinada entre a Procuradoria-Geral da República e a Comissão Nacional, a 23/06/2009)174.
De acordo com esta diretiva conjunta, a CPCJ elabora mensalmente uma listagem de processos
de crianças e jovens vítimas de maus tratos, negligência grave e abusos sexuais. Estes
processos devem ser organizados com capas de cores diferentes e apresentados devidamente
paginados ao Magistrado Interlocutor para efeitos de fiscalização. Esta diretiva ainda regula
outros aspetos, alguns dos quais já consagrados na LPCJP, após as alterações introduzidas pela
Lei n.º 142/2015, de 8 de setembro.
O magistrado interlocutor junto da CPCJ será designado de entre aqueles que desempenham
funções no Juízo de Família e Menores com jurisdição territorial que abrange a comissão ou, nos
172 A fiscalização por parte do Ministério Público da legalidade ou da adequabilidade das medidas de promoção e proteção aplicadas
pelas CPCJ, bem como a possibilidade de executar inspeções à atividade destas ou solicitar auditorias é uma das razões que obrigam
a que o Ministério Público tenha deixado de fazer parte da composição da CPCJ, ao contrário do que sucedia com o regime legal que
vigorou até 31 de dezembro de 2000 (ver Decreto-Lei n.º 189/91, de 24 de abril – ver supra 3.2.8.).
173 Para além de outras entidades como a CPCJ, o Juiz e o seu advogado.
174 Embora muitos dos aspetos regulados nesta diretiva conjunta já tenham sido consagrados na LPCJP com a introdução de
alterações e aditamentos através da Lei n.º 142/2015, de 8 de setembro, a leitura deste documento continua a ser essencial no que
toca à relação entre a CPCJ e o seu magistrado interlocutor do Ministério Público.
Pág.94
casos em que não exista esta jurisdição de competência especializada, entre os que exercem
funções no juízo cível territorialmente competente 175.
Resumo:
INTERVENÇÃO JUDICIAL
1) Não têm competência nos termos da lei para aplicar a MPP adequada (art.º 21.º, n.º 2, al. g) e art.º 35.º,
n.º 1, al. g); art.º 65.º, n.º 2 da LPCJP
2) A pessoa que deva prestar consentimento haja sido indiciada pela prática de crime contra a liberdade ou
autodeterminação sexual que vitime a criança ou jovem carecidos de proteção
Ou
Contra a pessoa que deva prestar consentimento tenha sido deduzida queixa pela prática de crime contra a
liberdade ou a autodeterminação sexual
- o APP seja reiteradamente não cumprido ou do incumprimento do APP resulta situação de grave perigo
para a criança.
4) Não seja obtido APP, mantendo-se situação de perigo que justifique a aplicação da medida
6) A CPCJ não obtenha a disponibilidade de meios para aplicar ou executar a medida que considera
adequada, nomeadamente por oposição de um serviço ou entidade.
7) Decorridos 6 meses após o conhecimento da situação pela CPCJ, não tendo sido proferida decisão e os
pais, representante legal ou as pessoas que tenham a guarda de facto, requeiram a intervenção judicial
8) O Ministério Público considere que a decisão da CPCJ é ilegal ou inadequada à promoção dos direitos
ou à proteção da criança ou do jovem
9) O PPP seja apensado a processo judicial nos termos da lei (art.º 81.º da LPCJP)
175
Ver a Lei da Organização do Sistema Judiciário (LOSJ), aprovada pela Lei n.º 62/2013, de 26 de agosto, alterada pela Lei n.º
40/2016, de 22 de dezembro, regulada pelo Decreto-Lei n.º 49/2014, de 27 de março, alterado pelo Decreto-Lei n.º 86/2016, de 27
de dezembro.
Para consulta da legislação aceda a https://www.cnpdpcj.gov.pt/área restrita /organização judiciária/...
Para melhor esclarecimento pode ainda ali consultar o documento da CNPDPCJ “Organização Judiciária na Jurisdição de Família e
Menores”.
Pág.95
11) Atendendo à gravidade da situação de perigo, à especial relação da criança ou jovem com quem a
provocou ou ao conhecimento de anterior incumprimento reiterado de MPP por quem deva prestar o
consentimento, o Ministério Público, oficiosamente ou sob proposta da CPCJ, entenda de forma justificada
não ser adequada no caso concreto a intervenção Comissão (art.º 11.º, n.º 2 da LPCJP).
2 - Situações em que não tenha sido proferida decisão decorrida 6 meses após o conhecimento da situação
da criança ou jovem em perigo
3 - A aplicação da medida que determine ou mantenha a separação da criança ou do jovem dos seus pais,
representante legal ou das pessoas que tenham a sua guarda de facto.
4 - Os casos em que o somatório de duração das seguintes medidas perfaça 18 meses, por força da sua
aplicação sucessiva ou isolada:
- De apoio junto dos pais
- Apoio junto de outro familiar
- Confiança a pessoa idónea
- Acolhimento familiar
- Acolhimento residencial
5 - Situações de facto que justificam a adoção de uma providência cível – art.º 69.º
6 - Participação dos crimes cometidos contra crianças e jovens – art.º 70.º, ao Ministério Público competente
para o Inquérito-Crime. Em simultâneo deve a CPCJ comunicar ao Magistrado Interlocutor a instauração de
processo de promoção e proteção (cf. art.º 70.º, n.º 2).
NOTA:
As comunicações não determinam a cessação da intervenção, salvo quando retirados ou não prestados os
consentimentos (cf. art.º 71.º, nº 1), e devem ser acompanhadas da indicação das providências tomadas
para proteção da criança ou jovem e dos elementos relevantes para apreciação da situação.
Sempre que a CPCJ efetua comunicação obrigatória ao Ministério Público deverá a mesma ser
acompanhada de cópia da respetiva deliberação devidamente fundamentada.
Pág.96
10. A COMISSÃO NACIONAL DE PROMOÇÃO DOS DIREITOS E PROTEÇÃO DAS
CRIANÇAS E JOVENS E O SISTEMA DE PROMOÇÃO E PROTEÇÃO
A Comissão Nacional de Promoção dos Direitos e Proteção das Crianças e Jovens foi criada e
é regulada pelo Decreto-Lei n.º 159/2015, de 10 de agosto, alterado pelo Decreto-Lei n.º
139/2017, de 10 de novembro.
A Comissão Nacional de Promoção dos Direitos e Proteção das Crianças e Jovens (CNPDPCJ)
é uma estrutura que tem por missão contribuir para a planificação da intervenção do Estado e
para a coordenação, acompanhamento e avaliação da ação dos organismos públicos e da
comunidade na promoção dos direitos e proteção das crianças e jovens.
Esta Comissão sucedeu à Comissão Nacional de Proteção das Crianças e Jovens em Risco,
criada pelo Decreto-Lei n.º 98/98, de 18 de abril, alterado pelo Decreto-Lei n.º 65/2013, de 15 de
maio.
No fundo, com a sua criação pretendeu-se conferir horizontalidade nas políticas dirigidas à
promoção dos direitos e proteção da infância e concertar a intervenção de todas as entidades na
mesma área.
Entre outras, a CNPDPCJ tem as seguintes atribuições expressamente previstas – ver art.º 3.º:
Pág.97
Coordenar a execução do plano nacional plurianual de promoção e proteção dos direitos da
criança;
Concertar a ação de todas as entidades públicas e privadas, estruturas e programas de
intervenção na área da promoção e proteção dos direitos das crianças, reforçando
estratégias de cooperação e de racionalização de recursos, podendo emitir recomendações;
Acompanhar, apoiar e promover mecanismos de supervisão e proporcionar formação
especializada às comissões de proteção, com vista a melhorar a qualidade da sua
intervenção;
Proceder a auditorias às CPCJ, aliás em linha do que está previsto no art.º 33.º da LPCJP;
Formular orientações e emitir diretivas genéricas relativas ao exercício das competências
das comissões de proteção;
Ouvir personalidades relevantes no âmbito de temáticas específicas da promoção dos
direitos e proteção das crianças e jovens;
Contribuir para organizar e operacionalizar a intervenção eficaz das entidades com
competência em matéria de infância e juventude;
Caso seja pedido pelo Ministério Público, participar na execução de inspeções à atividade
das CPCJ (de acordo com o art.º 31.º, al. g) da LPCJP);
Realizar anualmente um encontro de avaliação da atividade das CPCJ, tendo por base o
relatório anual nacional de avaliação da atividade das CPCJ – ver ainda o artº. 32º da LPCJP.
Relativamente às CPCJ, a atividade da Comissão Nacional encontra-se ainda mais
pormenorizadamente prevista nos art.ºs 31.º a 33.º da LPCJP;
A Comissão Nacional pode ainda transferir verbas do seu orçamento para os municípios e
outras entidades, nos termos definidos nos protocolos celebrados 176.
Para desenvolver a sua atividade a CNPDPCJ conta ainda com o apoio de uma Equipa Técnica
Operativa de formação multidisciplinar.
Para o acompanhamento da atividade das CPCJ, sua formação, a articulação e reunião com os
responsáveis regionais dos serviços representados nas CPCJ, e a representação da Comissão
Nacional foram criadas as Equipas Técnicas Regionais.
Estas equipas estão organizadas do seguinte modo: cada equipa é composta por um número
mínimo de três elementos, sendo um deles o respetivo coordenador; são criadas cinco equipas
no continente, correspondendo cada uma delas a uma NUT II. A título excecional, pode ser
decidido que o número e a composição das equipas regionais sejam inferiores ao previsto.
Em cada região autónoma é criada uma Coordenação Regional definida por diploma a aprovar
pelo seu órgão de governo próprio178.
De acordo com o art.º 6.º do Decreto-Lei n.º 159/2015, de 10 de agosto, a Comissão Nacional é
composta pelo Presidente e pelo Conselho Nacional.
176 Ver art.º 3.º, n.º 2, al. c). Nesse âmbito, a CNPDPCJ tem vindo a transferir verbas do seu orçamento para os municípios onde
existem CPCJ, para efeitos de comparticipação nas despesas que estes têm para apoiar o funcionamento das comissões de proteção.
Sobre o apoio ao funcionamento ver supra 3.2.8.1. A CNPDPCJ também transfere verbas para várias entidades, a fim de possibilitar
a afetação de técnicos de apoio à atividade da comissão restrita, nos termos do disposto no art.º 20.º-A da LPCJP.
177
Ver art.ºs 13º e 13º-A do Decreto-Lei n.º 159/2015, de 10 de agosto, alterado pelo Decreto-Lei n.º 139/2017, de 10 de novembro.
178 Ver art.º 18º, idem. Na Região Autónoma dos Açores foi criado o Comissariado dos Açores para Infância, pelo Decreto Legislativo
Pág.98
Ao presidente compete dirigir a Comissão Nacional, representá-la, agendar as reuniões, presidir
ao Conselho Nacional e assegurar o cumprimento das suas deliberações.
Deve ainda organizar, dirigir e orientar a equipa técnica operativa, bem como designar os
coordenadores das equipas técnicas regionais.
Pode ainda propor a cooptação pelo Conselho Nacional das personalidades mencionadas na al.
s) do art.º 8.º que dispõe acerca da composição daquele órgão.
180
Ver n.º 4 do art.º 9.º do Decreto-Lei n.º 159/2015, de 10 de agosto.
181
Ver art.ºs 8.º a 11.º do Decreto-Lei n.º 159/2015, de 10 de agosto.
182 Na sequência da criação do Gabinete da Família e da Criança na Procuradoria-Geral da República, o representante do/a
dos Açores é, por inerência, o presidente do comissariado - ver art.º 9.º, n.º 1, al. c) do Decreto Legislativo Regional n.º 17/2016/A,
de 28 de setembro.
Pág.99
Na primeira modalidade integram-se todos os seus membros e reúne-se, no mínimo, com
periodicidade trimestral, competindo-lhe todas as matérias previstas no art.º 3.º (Missão e
atribuições da CNPDPCJ), excetuando-se as previstas nas suas alíneas b), c), h), i) e p).
Também lhe cabe aprovar o regulamento interno 184 e o plano de ação anual185.
De acordo com o n.º 2 do art.º 10.º do Decreto-Lei n.º 159/2015, de 10 de agosto, a modalidade
alargada do Conselho Nacional pode ainda incumbir a sua modalidade restrita, de desenvolver
as ações para o acompanhamento da Estratégia Nacional para a implementação da Convenção
sobre os Direitos da Criança.
Pág.100
Lei n.º 103/2015, de 24 de agosto (alterações à lei penal, à lei n.º 113/2009 e cria o
Sistema de Registo Criminal de Condenados por crimes contra a autodeterminação
sexual e liberdade sexual de menor).
RECOMENDA-SE:
Exposição de motivos da proposta de lei que levou à aprovação da Lei Tutelar Educativa,
Exposição de motivos da proposta de lei que levou à aprovação da Lei de Proteção de Crianças
e Jovens em Perigo, aprovada pela Lei nº 147/99, de 1 de setembro, in Diário da Assembleia da
República, II Série A, nº 54, de 17 de abril de 1999;
Exposição de motivos da proposta de lei que levou à aprovação do Regime Geral do Processo
Tutelar Cível, aprovado pela Lei nº 141/2015, de 8 de setembro in Diário da Assembleia da
República II Série A, nº 139, de 28 de maio de 2015, pág. 53;
Exposição de motivos da proposta de lei 340/XII (4ª) que levou à aprovação do Regime Jurídico
do Processo de Adoção, aprovado pela Lei nº 143/2015, de 8 de setembro, in Diário da
Assembleia da República II Série A, nº 139, de 28 de maio de 2015, pág. 133;
Pág.101
Comentário geral n.º 14 /2013 do comité dos Direitos da Criança sobre o direito da criança a que
o seu interesse superior seja tido primacialmente em consideração;
Lei n.º 113/2009, de 17/9, com as alterações introduzidas pela Lei n.º 103/2015, de 24/8;
Lei n.º 103/2015, de 24/8, Anexo que institui um Sistema de Registo de Identificação Criminal de
Condenados por Crimes contra a Autodeterminação Sexual e a Liberdade Sexual de Menor (ver
em especial o art.º 16.º, n.º 1, al. c));
Guias de Orientações para profissionais na Área da Promoção e Proteção dos Direitos das
Crianças:
Interesse Superior da Criança – Comentário geral nº 14 (2013) do Comité dos Direitos da Criança
sobre o direito da criança a que o seu interesse superior seja tido primacialmente em
consideração – versão em português, Ed. CNPDPCJ, de 2017.
Na elaboração deste manual teve-se ainda em conta os Ofício-circulares emitidos pela Comissão
Nacional que estabeleceram diretivas e orientações, as várias formações da responsabilidade
da Equipa Técnica Operativa da CNPDPCJ, designadamente o Manual do Formando –
Formação dos membros das Comissões de Protecção Crianças e Jovens, edição da Comissão
Nacional de Proteção das Crianças e Jovens em Risco, de 2007.
Alexandre, Joana e Agulhas, Rute, Audição da Criança – Guia de Boas Práticas, Ed. do Conselho
Distrital da Ordem dos Advogados, 2016
Bolieiro, Helena e Guerra, Paulo – A Criança e a Família- Uma questão de Direitos, 2ª edição,
Ed. Coimbra Editora, 2014.
Pág.102
Coelho, Alda Mira e Neto, Maia – Retirada de crianças nas situações urgentes. In Revista Infância
e Juventude 07.3 (Julho – Setembro), Direção-Geral de Reinserção Social, 2007.
Cruz, Hugo e Carvalho, Maria João Leote de - Crianças e Jovens em Risco – A família no centro
da intervenção, Coordenação de Daniel Sampaio, Ed. Principia.
Furtado, Leonor e Guerra, Paulo – O novo Direito das Crianças e Jovens: Um recomeço, CEJ,
2001.
Gersão, Eliana - A Criança, a Família e o Direito – De onde viemos. Onde estamos. Para onde
vamos?, Ed. Fundação Francisco Manuel dos Santos, 2014.
Guerra, Paulo - Lei de Proteção de Crianças e Jovens em Perigo anotada, 3º edição Ed.
Almedina, 2018.
Lança, Hugo Cunha – Cartografia do Direito das Famílias, Crianças e Adolescentes – Edições
Sílabo, 2018.
Ramião, Tomé d’Almeida - Lei de Proteção de Crianças e Jovens em Perigo anotada, 8ª edição,
Ed. Quid Iuris, 2017.
Pais, Santos - Convenção sobre os Direitos da Criança – Um conto à procura dos seus autores
– Intervenção no âmbito das celebrações do 16º aniversário da CDC, promovidas pela CNPCJR,
in https://www.cnpdpcj.gov.pt/direitos-das-criancas/textos-avulsos/direito-a-participacao-das-
criancas-um-conto-a-procura-dos-seus-autores.aspx
Sottomayor, Clara - O poder paternal como cuidado parental e os direitos da criança, Ed.
Almedina, 2003.
Xarepe, Fátima e Costa, Isabel Freitas, Morgado, Maria do Rosário - O Risco e o Perigo na
Criança e na Família, de vários autores, com coordenação de Fátima Xarepe, Isabel Freitas e
Costa e Maria do Rosário Oliveira Morgado, Ed. Pactor, 2017.
Coletâneas:
Nº 6 – Bolieiro, Helena; Parente, José Parente; Rodrigues, Maria Inês e Monteiro, Paula,
Trabalhos do Curso de Pós-Graduação “Proteção de Menores – Prof. Doutor Pereira Coelho –
Pág.103
I”, Centro de Direito da Família da Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, Ed.
Coimbra Editora, 2002.
Nº 23 – Oliveira, Carla Patrícia Pereira - Entre a Mística do Sangue e a Ascensão dos Afectos:
O Conhecimento das Origens Biológicas, Centro de Direito da Família da Faculdade de Direito
da Universidade de Coimbra, Ed. Coimbra Editora, 2011.
Revista “Infância e Juventude”, da Direção-Geral de Reinserção Social, vários anos (até 2007)
OUTROS
Vários textos sobre o Direito das crianças, Convenção sobre os Direitos da Criança e
temas relacionados com o sistema de promoção e proteção:
www.cnpdpcj.gov.pt
Livro eletrónico (e-book) “Promoção e Proteção dos Direitos das Crianças na Área da
Justiça – Comemoração do 1º Dia Europeu para a Proteção das Crianças contra a
Exploração Sexual e os Abusos Sexuais (Convenção de Lanzarote), da Direção-Geral
da Política de Justiça, 2015 – vários artigos.
http://www.dgpj.mj.pt/sections/DestBanner/convencao-de-
lanzarote/downloadFile/attachedFile_2_f0/e.book_-
_Direitos_das_Criancas.pdf?nocache=1450712651.33
Pág.104
Gabinete de Direito Comparado da Procuradoria Geral da República
1 - Sítio geral
http://www.gddc.pt/
http://direitoshumanos.gddc.pt/3_3/IIIPAG3_3.htm
Comentários gerais do Comité dos Direitos da Criança da ONU: Até 2017, o comité produziu 23
comentários gerais. Para os consultar aceda a:
http://gddc.ministeriopublico.pt/perguntas-frequentes/comite-dos-direitos-da-
crianca?menu=direitos-humanos
http://www.ohchr.org/EN/HRBodies/CRC/Pages/CRCIndex.aspx
Conselho da Europa
www.coe.int/children
echr.coe.int
http://fra.europa.eu/pt
http://fra.europa.eu/en/theme/rights-child
Abreviaturas
Pág.105
GOVINT- Fórum para a Governação Integrada
IDS - Instituto para o Desenvolvimento Social
IEFP - Instituto do Emprego e da Formação Profissional
IP - Instituto Público
IPDJ - Instituto Português do Desporto e da Juventude
IPSS - Instituição Particular de Solidariedade Social
ISS - Instituto da Segurança Social
LPCJP - Lei de Proteção de Crianças e Jovens em Perigo
LTE - Lei Tutelar Educativa
MP - Ministério Público
MTSSS - Ministério do Trabalho, Solidariedade e da Segurança Social
NUT - Nomenclaturas de Unidades Territoriais para fins Estatísticos ou Nomenclatura
das Unidades Territoriais de Estatística
ONG - Organização Não Governamental
ONU - Organização das Nações Unidas
OTM - Organização Tutelar de Menores
PGR - Procuradoria-Geral da República
PJ - Polícia Judiciária
PO ISE - Programa Operacional Inclusão Social e Emprego
PPP - Processo de Promoção e Proteção
PSP - Polícia de Segurança Pública
RAA - Região Autónoma dos Açores
RAM - Região Autónoma da Madeira
RGPD - Regulamento Geral de Proteção de Dados
RGPTC - Regime Geral do Processo Tutelar Cível
RJPA - Regime Jurídico do Processo de Adoção
RLIS - Rede Local de Intervenção Social
SCML - Santa Casa da Misericórdia de Lisboa
SEF - Serviços de Estrangeiros e Fronteiras
UMP - União das Misericórdias Portuguesas
Pág.106