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OAB

Estatuto da
Criança e do
Adolescente

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Sumário
1. Conceito de Criança e Adolescente e Prioridades ....................................................... 5

2. Direitos Fundamentais.................................................................................................... 9

3. Guarda............................................................................................................................ 23

4. Tutela.............................................................................................................................. 28

5. Adoção ........................................................................................................................... 32

6. Prevenção ...................................................................................................................... 35

7. Política de Atendimento ............................................................................................... 39

8. Conselhos da Criança e do Adolescente .................................................................... 44

9. Fundos Nacional, Estadual, Distrital e Municipal dos Direitos da Criança e do


Adolescente ......................................................................................................................... 48

10. Entidades de Atendimento .......................................................................................... 55

11. Conselho Tutelar .......................................................................................................... 59

12. Medidas Pertinentes aos Pais ou Responsáveis ....................................................... 64

13. Ato Infracional .............................................................................................................. 69

14. Medidas Socioeducativas ........................................................................................... 74

15. Acesso à Justiça .......................................................................................................... 81

16. Procedimentos do Estatuto da Criança e do Adolescente ...................................... 86

18. Medidas de Proteção ................................................................................................. 109

19. Lei nº 13.431 de 2017 – Sistema de Garantia de Direitos da Criança e do Adolescente


Vítima ou Testemunha de Violência ................................................................................. 113

20. Lei nº 13.257 de 2016 – Estatuto da Primeira Infância ............................................ 120

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Apresentação
Olá, caro (a) estudante!

O período de dedicação e preparação para uma prova de concurso público é uma


jornada árdua e trabalhosa. Pensando nisso, elaboramos esta Apostila com toda dedicação e
atenção que você merece.

O seu conteúdo foi criado com todo o rigor necessário para sua utilização como material
de apoio ao estudo para todas as pessoas que almejam prestar concursos e/ou realizar o
exame da ordem. Os conteúdos citam fontes confiáveis, atualizadas e completas sobre os
mais variados temas em Direito e foram elaborados por profissionais com experiência em
ensino e prática jurídica.

O material está organizado hierarquicamente (em modo decrescente de hierarquia:


Temas, Tópicos e Subtópicos). Essa estrutura permite a exploração organizada dos
conteúdos da disciplina e agrupam os objetos do conhecimento que se relacionam, conferindo
uma leitura mais fluida e orgânica. Mapas mentais, que são um método de memorização e
organização do conhecimento adquirido, foram desenvolvidos ao final de cada Tema com o
objetivo de facilitar o aprendizado dos conteúdos estudados.

Assim, vale ressaltar inicialmente que, antes mesmo da entrada em vigor da


Constituição Federal de 1988, o Brasil já era o signatário de uma vasta gama de documentos
internacionais que verificam a proteção da criança e do adolescente.

Contudo, somente em 1988 a referida questão obteve a implementação efetiva da


proteção integral como direito fundamental, resultando na aprovação da Lei nº 8.069 de 1990,
intitulado Estatuto da Criança e do Adolescente, que regulamenta a matéria, suprindo a lacuna
legislativa anteriormente deixada pelo chamado Código de Menores, de 1979.

Também chamado pela sua abreviação, ECA, o referido estatuto dispõe no parágrafo
único do artigo 3º o conteúdo legal que demonstra a sua abrangência e aplicação, posto que
atinge, sem distinção, às crianças e adolescentes, independentemente de seu nascimento,
condição familiar ou econômica, idade, sexo, origem racial ou étnico, cor, religião ou crença,
ambiente social, naturalidade, residência ou comunidade a qual se encontrem.

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Isto posto, desenvolveu-se esta apostila cujo objetivo é estudar os conceitos da criança
e do adolescente, bem como assuntos pertinentes aos direitos fundamentais, guarda, tutela,
adoção, prevenção, política de atendimento, entidades e conselhos responsáveis, fundos dos
direitos, medidas pertinentes aos responsáveis e socioeducativas, acesso à justiça,
procedimentos, crimes e infrações, medidas de proteção e legislação inerente

A recomendação para o estudo deste trabalho é ter como acompanhamento a


legislação respectiva (Estatuto da Criança e do Adolescente, Constituição Federal, Código
Civil e Penal, Estatuto da Juventude, Sistema de Garantia de Direitos da Criança e do
Adolescente Vítima ou Testemunha de Violência e Estatuto da Primeira Infância). Assim, o
aprendizado se perpetua de maneira mais completa e definitiva.

Desejamos bons estudos e uma excelente prova!

Atenciosamente,

Equipe pedagógica LFG.

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1. Conceito de Criança e Adolescente e Prioridades

O Estatuto da Criança e do Adolescente traz um conjunto de normas e princípios que visam


garantir à criança e ao adolescente os direitos indispensáveis ao seu desenvolvimento
integral. O direito da infância objetiva um caminho democrático, pois se preocupa com todas
as crianças e adolescentes, sem exceção, tendo como base a “Doutrina da Proteção Integral”,
que reconhece e evidencia a condição de desenvolvimento e proteção peculiares.

O art. 2º do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) define criança como aquele


indivíduo com idade entre 0 e 12 anos, e adolescente aquele com idade entre 12 e 18 anos.
Tal distinção tem como base o elemento cronológico baseado das ciências auxiliares como a
psicologia jurídica e a psiquiatria forense.

Cumpre registrar, porém, que apesar de a criança e o adolescente terem os mesmos


direitos fundamentais, tal divisão é importante, pois, por exemplo, para fins de medidas
aplicáveis para cada um desses haverá uma hipótese de incidência distinta, qual seja: a
criança será submetida somente a medidas de proteção, e os adolescentes, por sua vez,
poderão ser submetidos, além das de proteção, a medidas socioeducativas.

Neste sentido, cumpre anotar que a imputabilidade penal surge para os indivíduos aos 18
anos. Todavia, o parágrafo único do art. 2º do Estatuto supracitado, juntamente aos arts. 104
e 121, §§ 3º e 5º, prevê, excepcionalmente, a aplicação os dispositivos do ECA àqueles que
contam com mais de 18 anos de idade (até os 21 anos).

Neste sentido:

HABEAS CORPUS. ATO INFRACIONAL EQUIPARADO A TENTATIVA DE


FURTO QUALIFICADO. MEDIDA SÓCIO-EDUCATIVA DE INTERNAÇÃO
POR PRAZO INDETERMINADO. EVASÃO DO MENOR OCORRIDA EM
25.05.05. SUSPENSÃO DO PROCESSO. IMPLEMENTO DA MAIORIDADE
CIVIL. IRRELEVÂNCIA. ALEGAÇÃO DE

PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO PUNITIVA. SÚMULA 338/STJ. PRAZO


PRESCRICIONAL DE 4 ANOS. NÃO APERFEIÇOAMENTO DO LAPSO
TEMPORAL EXIGIDO. ORDEM DENEGADA. 1. O próprio Estatuto da Criança
e do Adolescente traz a previsão, no § 5º. Do art. 121, de que a medida pode
ser estendida até os 21 anos de idade, abarcando, portanto, aquelas hipóteses
nas quais o menor cometeu o ato infracional na iminência de completar 18
anos; caso contrário, a medida tornar-se-ia inócua, impossibilitando a norma
de alcançar seu objetivo precípuo de recuperação e ressocialização do menor.
2. Considerando a interpretação sistêmica da legislação menorista, tem-se que,
para efeitos da aplicação da medida sócio-educativa, qualquer que seja, deve
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ser considerada a idade do autor ao tempo do fato, sendo irrelevante a
implementação da maioridade civil ou penal no decorrer de seu cumprimento,
já que, como visto, o limite para sua execução é 21 anos de idade. 3. A diretriz
jurisprudencial desta Corte assentou a orientação de que, para o cálculo do
prazo prescricional da pretensão sócio-educativa, caso a medida tenha sido
aplicada sem termo final, far-se-á uso do prazo máximo em abstrato de duração
da medida de internação, que, à luz do disposto no art. 121, § 3º. do ECA, é de
3 anos; ao passo que, na hipótese de ter sido fixado um prazo final, terá como
parâmetro a sua duração determinada na sentença. Uma vez fixado o prazo,
este deve ser reduzido pela metade, em decorrência do disposto no art. 115 do
CPB. 4. Como o paciente se evadiu do estabelecimento em 25.05.05, tem-se
que a prescrição da medida imposta por prazo indeterminado somente
ocorreria em 25.05.09, isto é, decorridos 4 anos. 5. Parecer do MPF pela
denegação da ordem. 6. Ordem denegada. STJ. HC 99481 / RJ -
2008/0019501-6. Ministro NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO (1133) - T5 -
QUINTA TURMA. DJe 01/12/2008.

Ainda quanto ao presente conceito, temos a condição do nascituro, que não está
previsto expressamente no art. 2º do ECA, e, sendo assim, haveria dúvidas quanto à sua
proteção na referida legislação.

Porém, conforme bem aponta a doutrina majoritária, tal dúvida não pode perdurar, ou
mesmo se perpetuar, pois, mesmo que o referido artigo não faça menção ao nascituro, há o
tratamento específico quanto ao mesmo no art. 8º do ECA e, sendo assim, deferindo a esse
todos os direitos fundamentais aqui previstos.

Outra questão relevante que vem sido bastante discutida nos dias de hoje é a redução
da maioridade penal, a qual é altamente criticada pela doutrina protecionista, pois, afronta a
cláusula, diminuindo o campo de atuação do ECA, bem como de acordo com os elementos
fáticos apresentados pelo sistema prisional, não contribuirá para o atendimento e a
reabilitação do adolescente.

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Mapa Mental

Criança
Medidas de Proteção
CF

0 a 12 anos incompletos
ECA
Adolescente
Medidas Socioeducativas
12 a 18 anos incompletos

Condição de
desenvolvimento

Doutrina da Proteção do
CF proteção integral infanto

Coletividade
preventiva

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Referências Bibliográficas

BRASIL. Lei no 8.069, de 13 de julho de 1990. Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do


Adolescente e dá outras providências. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil,
Brasília, DF, 16 jul. 1990. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8069compilado.htm>. Acesso em: 15 jan. 2020.

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2. Direitos Fundamentais

A regulamentação quanto aos direitos fundamentais está prevista entre os arts. 7º e 69 do


ECA que arrolam na seguinte ordem:

a) Direito à vida e à saúde (arts. 7º a 14);


b) Direito à liberdade, ao respeito e à dignidade (arts. 15 a 18);
c) Direito à convivência familiar e comunitária (arts. 19 a 52);
d) Direito à educação, cultura, esporte e lazer (arts. 53 a 59);
e) Direito à profissionalização e à proteção no trabalho (arts. 60 a 69).

Todavia, deve-se registrar que a crianças e adolescentes também são aplicados os


institutos conferidos aos adultos, em especial no que tangem os arts. 5º, 6º e 7º da
Constituição Federal (CF).

Contudo, muitas vezes esses direitos não são atendidos de forma espontânea, tanto
pelos entes familiares, quanto pela sociedade ou pelo Estado (AMIN, 2019).

Em decorrência disso, muitas são as ações judiciais para o reconhecimento e execução


dos já citados direitos, como por exemplo, não somente a intervenção do Ministério Público
junto à tutela desses direitos (art. 201, IV, ECA), mas também as distribuições de ações civis
públicas voltadas à proteção e garantia dos direitos assegurados pelo ECA.

Não obstante, tais ações não devem especificar a maneira pela qual o Poder Público
atuará, pois é recorrente as alegações de impossibilidade jurídica, haja vista: STJ – REsp. n°
933974/RS; STJ – REsp n° 577836/SC; STJ – AgRg no REsp n° 752190/RS; STJ – REsp n°
869843/RS; STJ – REsp n° 937310/SP; STJ – AgRg no REsp n° 1075336 – RJ.

São os direitos fundamentais conforme segue:

2.1. Direito à Vida e à Saúde

O art. 7º do ECA se preocupa com o nascimento sadio e harmonioso da criança. Sendo


assim, verifica-se as implementações de cuidados especiais desde a fase de gestação:

Art. 7º. A criança e ao adolescente têm direito a proteção à vida e à


saúde, mediante a efetivação de políticas sociais públicas que permitam
o nascimento e o desenvolvimento sadio e harmonioso, em condições
dignas de existência.

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Assim, as gestantes são destinatárias das políticas públicas, como preveem os arts.
201, 203 e 227, § 1 da CF, bem como o art. 8 e seguintes do ECA.

Todavia, cumpre registrar que em 2016 houve uma grande alteração decorrente da Lei
nº 13.257/2016, que se trata dos princípios e diretrizes para a formulação e a implementação
de políticas públicas para a primeira infância em atenção à especificidade e à relevância dos
primeiros anos de vida no desenvolvimento infantil e no desenvolvimento do ser humano.

Sendo assim, o art. 8º do ECA visa garantir à todas as mulheres o acesso aos
programas e as políticas de saúde da mulher e de planejamento reprodutivo e às gestantes,
nutrição adequada, atenção humanizada à gravidez, ao parto e ao puerpério, e atendimento
pré-natal, perinatal e pós-natal integral no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS), dentre
outros direitos:

Art. 8º. [...]

[...]

§ 4º. Incumbe ao poder público proporcionar assistência psicológica à


gestante e à mãe, no período pré e pós-natal, inclusive como forma de
prevenir ou minorar as consequências do estado puerperal.

§ 5º. A assistência referida no § 4º deste artigo deverá ser prestada


também a gestantes e mães que manifestem interesse em entregar
seus filhos para adoção, bem como a gestantes e mães que se
encontrem em situação de privação de liberdade.

§ 6º. A gestante e a parturiente têm direito a 1 (um) acompanhante de


sua preferência durante o período do pré-natal, do trabalho de parto e
do pós-parto imediato.

[...]

Outro direito previsto, trata-se do direito ao aleitamento regulamentado pelo art. 9º do


ECA, que deve ser analisado em conjunto com os arts. 14, § 3º e 83, § 2º da Lei de Execução
Penal (nº 7.210/84).

Art. 9º. O poder público, as instituições e os empregadores propiciarão


condições adequadas ao aleitamento materno, inclusive aos filhos de
mães submetidas a medida privativa de liberdade.

§ 1º. Os profissionais das unidades primárias de saúde desenvolverão


ações sistemáticas, individuais ou coletivas, visando ao planejamento,
à implementação e à avaliação de ações de promoção, proteção e

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apoio ao aleitamento materno e à alimentação complementar
saudável, de forma contínua.

§ 2º. Os serviços de unidades de terapia intensiva neonatal deverão


dispor de banco de leite humano ou unidade de coleta de leite humano.

Art. 14. A assistência à saúde do preso e do internado de caráter


preventivo e curativo, compreenderá atendimento médico,
farmacêutico e odontológico.

[...]

§ 3º. Será assegurado acompanhamento médico á mulher,


principalmente no pré-natal e no pós-parto, extensivo ao recém-
nascido.

Art. 83. O estabelecimento penal, conforme a sua natureza, deverá


contar em suas dependências com áreas e serviços destinados a dar
assistência, educação, trabalho, recreação e prática esportiva.

[...]

§ 2º. Os estabelecimentos penais destinados a mulheres serão


dotados de berçário, onde as condenadas possam cuidar de seus
filhos, inclusive amamentá-los, no mínimo, até 6 (seis) meses de
idade.

[...]

O art. 10 do ECA, por sua vez, estabelece uma série de obrigações que devem ser
cumpridas pelos hospitais, públicos e particulares, e casas de saúde, bem como o
atendimento integral à saúde das crianças e adolescentes contempla o atendimento
especializado a deficientes, atendimento odontológico e vacinação, inclusive (arts. 11, 12 e
14, ECA).

Vale destacar o que dispõe o art. 14, § 5º do ECA:

Art. 14. [...]

§ 5º. É obrigatória a aplicação a todas as crianças, nos seus


primeiros dezoito meses de vida, de protocolo ou outro instrumento
construído com a finalidade de facilitar a detecção, em consulta
pediátrica de acompanhamento da criança, de risco para o seu
desenvolvimento psíquico.

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Outro dispositivo de suma importância para efetivação desse direito encontra-se no art.
13, § 1º do mesmo estatuto, que obriga o médico, professor ou responsável por
estabelecimento de atenção à saúde e de ensino fundamental, pré-escola ou creche, uma vez
identificada a suspeita de maus tratos, relatar o ocorrido ao Conselho Tutelar, bem como
incidindo em pena de multa, caso deixe de proceder à referida comunicação (art. 245, ECA).
Caso não haver no município um Conselho Tutelar, o juiz deverá ser acionado (art. 262, ECA).

Art. 13. [...]

§ 1º. As gestantes ou mães que manifestem interesse em entregar


seus filhos para adoção serão obrigatoriamente encaminhadas, sem
constrangimento, à Justiça da Infância e da Juventude.

Por fim, se os maus tratos forem protagonizados pelos próprios pais, poderá haver
perda do poder familiar nos termos do art. 24 do ECA, considerando o disposto no art. 1.638,
I do Código Civil (CC), como segue:

Art. 24. A perda e a suspensão do poder familiar serão decretadas


judicialmente, em procedimento contraditório, nos casos previstos na
legislação civil, bem como na hipótese de descumprimento
injustificado dos deveres e obrigações a que alude o art. 22.

Art. 1.638. Perderá por ato judicial o poder familiar o pai ou a mãe que:

I – castigar imoderadamente o filho;

[...]

2.2. Direito à Liberdade, ao Respeito e à Dignidade

O direito à liberdade, ao respeito e à dignidade tem como objetivo maior o amplo acesso
aos logradouros, espaços comunitários, direito de livre expressão, culto e ainda de brincar e
interagir dentro da sua condição, conforme os ditames do ECA.

Porém, esses direitos dispostos nos arts. 15 a 18 do referido estatuto, não são
absolutos, e por vezes sofrem nítida mitigação do poder familiar que busca a educação dos
filhos de maneira como eles entendem adequado.

Em 2014 houve uma alteração importante denominada “Lei da Palmada” (nº


13.101/2014), que estabelece alguns conceitos no art. 18-A, como segue:

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Parágrafo único. Para os fins desta Lei, considera-se:

[...]

I – castigo físico: ação de natureza disciplinar ou punitiva aplicada


com o uso da força física sobre a criança ou o adolescente que resulte
em:

a) sofrimento físico; ou

b) lesão;

II – tratamento cruel ou degradante: conduta ou forma cruel de


tratamento em relação à criança ou ao adolescente que:

a) humilhe; ou

b) ameace gravemente; ou

c) ridicularize.

Por fim, prevê o art. 18-B do ECA o encaminhamento adequado nos casos de
conformação da violação desse direito, vejamos:

Art. 18-B. Os pais, os integrantes da família ampliada, os


responsáveis, os agentes públicos executores de medidas
socioeducativas ou qualquer pessoa encarregada de cuidar de
crianças e de adolescentes, tratá-los, educá-los ou protegê-los que
utilizarem castigo físico ou tratamento cruel ou degradante como
formas de correção, disciplina, educação ou qualquer outro pretexto
estarão sujeitos, sem prejuízo de outras sanções cabíveis, às
seguintes medidas, que serão aplicadas de acordo com a gravidade
do caso:

I – encaminhamento a programa oficial ou comunitário de proteção à


família;

II – encaminhamento a tratamento psicológico ou psiquiátrico;

III – encaminhamento a cursos ou programas de orientação;

IV – obrigação de encaminhar a criança a tratamento especializado;

V – advertência.

Parágrafo único. As medidas previstas neste artigo serão aplicadas


pelo Conselho Tutelar, sem prejuízo de outras providências legais.

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2.3. Direito à Educação, Cultura, Esporte e Lazer

O disposto nos artigos do ECA de nº 53 (direitos) e 54 (dever do Estado), explicam de


maneira exemplificativa os direitos subjetivos da criança e do adolescente. Tal situação facilita
a compreensão dos mesmos, bem como pode ser objeto de proteção em juízo, conforme o
art. 208 do mesmo estatuto.

No art. 55 do ECA, encontra-se a obrigação dos pais de matricularem os filhos em


estabelecimento de ensino e realizar o acompanhamento escolar, de forma a garantir-lhes o
direito à educação. Referida obrigação está ligada a outros dispositivos do mesmo estatuto,
como é o caso dos arts. 22, 24 e 124, V, todos do ECA.

Por fim, nos termos do art. 57 do Estatuto, cumpre aos dirigentes de estabelecimentos
de ensino fundamental comunicarem ao Conselho Tutelar os casos de maus-tratos
envolvendo seus alunos, reiteração de faltas injustificadas e de evasão escolar, esgotados os
recursos escolares e elevados níveis de repetência. Tal situação busca efetivar a
responsabilidade da comunidade no acompanhamento de suas atribuições quanto a sua
participação no desenvolvimento do infanto.

2.4. Direito à Profissionalização e à proteção no trabalho

O art. 60 do ECA foi revogado quando da nova redação do art. 7º, XXXIII da CF que
vetou o trabalho aos menores de 14 anos, ainda que na condição de aprendiz.

Sendo assim, devem ser consideradas as situações elencadas no seguinte:

a) o menor de 14 anos não pode trabalhar nem exercer qualquer emprego;


b) entre 14 e 16 anos, o infanto pode trabalhar, apenas na condição de aprendiz; e
c) entre 16 e 18 anos, o mesmo é livre para trabalhar, contanto que não seja no período
noturno, perigoso ou insalubre.

Não obstante a proteção ao trabalho dos adolescentes ser regulada por lei especial, a
matéria encontra disciplinada também nos arts. 62 a 67 do ECA, assegurando ao adolescente,
por exemplo:

a) garantia de acesso e frequência obrigatória ao ensino regular;


b) atividade compatível com o desenvolvimento do adolescente;

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c) assegurados os direitos trabalhistas e previdenciários;
d) respeito à condição peculiar da pessoa em desenvolvimento; e
e) capacitação profissional adequada ao mercado de trabalho.

O contrato de aprendizagem, conforme disposto no art. 428 da Consolidação das Leis do


Trabalho (CLT) é sempre por tempo determinado, não podendo, portanto, ultrapassar o
período de 2 anos.

Logo, podem ser contratados os jovens, caracterizados por aprendizes, cuja idade
compreende os 14 aos 24 anos, permitindo, porém, aos menores de 18 anos que assinem
recibo de pagamento de salário. Contudo, há de se observar que é vedada a quitação na
rescisão contratual sem a assistência dos pais ou responsáveis legais, conforme o art. 439 da
CLT.

O contrato de aprendizagem tem como finalidade específica a formação profissional do


jovem para que possa alcançar melhores postos de trabalho através do conhecimento técnico
adquirido.

Ademais, este tipo de contrato também possui algumas peculiaridades para sua
celebração, como é o caso da anotação na Carteira de Trabalho e Previdência Social (CTPS),
a comprovação da matrícula e frequência à escola (caso ainda não tenha concluído o ensino
médio, a inscrição em programa de aprendizagem desenvolvido sob orientação de entidade
qualificada em formação técnico-profissional metódica (art. 4º do Decreto nº 5.598/2005) e o
direito a percepção de, pelo menos, um salário mínimo (art. 428 e parágrafos, da CLT).

O aprendiz tem direito a todos os direitos trabalhistas e previdenciários (art. 65 do ECA),


assim como o Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) na base de 2% da sua
remuneração, conforme o art. 24, parágrafo único do Decreto nº 5.598/2005, que regulamenta
o contrato de aprendizagem. As férias do aprendiz também devem coincidir com o período de
férias escolares, preferencialmente.

Quanto à duração do trabalho, a jornada máxima é de 6 horas, sendo permitida a


prorrogação para até 8 horas diárias, caso o aprendiz tenha o ensino médio completo e desde
que essas horas sejam reservadas para aprendizagem teórica (art. 432, § 1º da CLT).

O menor de 18 anos não poderá fazer horas extras, exceto por motivo de força maior ou
compensação de jornada de trabalho, sendo obrigatório o intervalo de 15 minutos entre o
término da jornada e as horas extras, conforme a redação do art. 413, parágrafo único da CLT.

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A extinção contratual ocorre quando chegar ao seu termo final, ou seja, 2 anos, ou quando
o aprendiz completar 24 anos de idade, salvo se o aprendiz for portador de deficiência, caso
em que a idade máxima e o caráter bienal do contrato não se aplicam, posto existir a proteção
prevista no art. 66 do ECA.

O contrato de aprendizagem também pode ser extinto, inclusive, de forma antecipada, nos
casos de desemprego insuficiente ou inadaptação do aprendiz, falta disciplinar grave,
ausência injustificada à escola e consequente perda do na letivo, ou ainda, a pedido do próprio
aprendiz (art. 433 da CLT).

Até 2016 o maior de 16 anos poderia ser contratado como empregado, desde que
respeitadas algumas restrições, como a proibição de trabalho noturno, perigoso ou insalubre
(arts. 7º, XXXIII da CF e 405, I da CLT), sendo o trabalho noturno aquele que compreende as
22 e as 5 horas (art. 404 da CLT).

O ECA também veda ao menor de 18 anos de idade o trabalho cuja característica seja
penosa, ou seja, aquele que demanda esforço físico em excesso, situação em que se aplica
analogicamente o art. 390, parágrafo único da CLT que trata da proteção ao trabalho da
mulher.

Desde 2017, em conformidade com o art. 2, item 3 da Convenção 138 da Organização


Internacional do Trabalho (OIT), a idade mínima para a contratação não poderá ser inferior a
idade de conclusão da escolaridade obrigatória, salvo se o trabalho for artístico.

Considerando o texto da Emenda Constitucional (EC) nº 59/2009, que alterou a idade de


conclusão da escolaridade obrigatória para 17 anos, a partir da sua implementação (até 2016),
tem-se que a idade mínima para contratação é de 18 anos, a partir de 1 de janeiro de 2017.

Então, ao menor de 18 anos de idade também é vetado o trabalho em ambientes que


sejam prejudiciais à sua formação moral. Neste caso, é importante frisar que a CLT foi escrita
no ano de 1943, período em que os artistas eram considerados “imorais”, motivo pelo qual se
pode observar que há a proibição do trabalho do menor em circos, cinemas, cabarés e
estabelecimentos similares. Tal proibição permanece até os dias de hoje, conforme redação
do art. 405, § 3º da CLT, podendo o trabalho ser autorizado pelo juiz quando for comprovado
que não existe prejuízo à formação moral do menor (art. 406, I).

A Lei Complementar (LC) nº 150/2015 regula o trabalho em ambiente doméstico e trouxe


também a vedação expressa à contratação dos indivíduos com idade inferior aos 18 anos para

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este tipo de trabalho, visto que há uma situação de vulnerabilidade do adolescente a toda
forma de abuso no ambiente laboral.

2.5. Poder Familiar e o Direito à Convivência Familiar e Comunitária

Os arts. 21 a 24 do ECA tratam especialmente do poder familiar, prestigiando os seguintes


elementos:

a) o princípio da isonomia: nos termos do art. 21 do ECA, o poder familiar será exercido
em igualdade de condições pelo pai e pela mãe, bem como em caso de discordância
que poderão recorrer à autoridade judiciária para solução de eventual conflito;
b) os deveres de pais: conforme muito bem aponta a doutrina, é um múnus público,
irrenunciável, inalienável, imprescritível e tem como base fundamental e elemento
nuclear o sustento, a guarda e a proteção material, bem como imaterial, ou seja,
econômica e afetiva, previsto tanto no art. 22 do ECA quanto no art. 229 da CF; e
c) a perda e a suspensão do poder familiar vêm disciplinadas no art. 24 do supracitado
estatuto, e somente poderá ser pronunciada judicialmente em procedimento
contraditório, nos termos dos arts. 155 a 163 do ECA.

Haverá perda ou suspensão do poder familiar nas hipóteses previstas pelo Código Civil,
em seus arts. 1.637 e 1.638, respectivamente, para suspensão e perda, ou no caso de
descumprimento reiterado das obrigações previstas no art. 22 do ECA.

Por fim, cumpre registrar que o art. 23 do referido estatuto destaca que a falta de recursos
materiais não é motivo suficiente para a retirada da criança e ou do adolescente da família.
Pois é o papel do Estado suprir as carências da família, com sustento, inclusive, participando
através da implementação das políticas públicas, da criação e educação das crianças e
adolescentes, fornecendo os meios necessários para garantia de seu pleno desenvolvimento.
Nesse sentido, encontram-se os arts. 86, 87, 88 e 92 do ECA.

Em relação ao direito à convivência familiar e comunitária, este encontra-se pautado no


art. 19 do ECA que dispõe: “É direito da criança e do adolescente ser criado e educado no
seio de sua família e, excepcionalmente, em família substituta, assegurada a convivência
familiar e comunitária, em ambiente que garanta seu desenvolvimento integral”.

Referido dispositivo atende ao disposto no art. 226 da CF, no que tange ao direito à criação
e educação no seio da família natural.

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Não obstante, a redação do art. 19 do ECA, cumpre registrar que a ideia de proteção da
criança e do adolescente no seu seio familiar natural foi reforçada pela denominada
vulgarmente “Lei da Adoção”.

A Lei nº 12.010/2009 prioriza a manutenção da criança e do adolescente na família natural


em vários dispositivos, bem como passa a regular integralmente o procedimento de adoção.
Porém, não é só: outras alterações ocorreram e dentre elas, as Leis nº 13.257/2016 e nº
13.509/2017.

Sendo assim, se faz necessária as seguintes anotações:

I. tendo em vista o presente tratamento legislativo, as questões atinentes ao poder


familiar, bem como as formas de colocação em família substituta devem ser analisados
sempre buscando o resultado da proteção integral dos mesmos, ou seja, atendendo a
sua condição peculiar, evitando assim, abusos cometidos por pais ou representantes
legais;
II. o conceito de “família natural” encontra-se alterada na modernidade, não incluído
somente o seu conceito clássico decorrente do casamento civil; pode ser incluído
conforme interpretação do art. 226 da CF, outras modalidades, quais sejam:

I) família monoparental: aquela estabelecida entre um dos ascendentes e


seus descendentes;
II) família anaparental: é a família sem pais;
III) família unipessoal: a pessoa que vive só;
IV) família homoafetiva: é aquela constituída entre pessoas do mesmo sexo
que convivem afetivamente;
V) família mosaico ou pluriparental: aquela que tem várias origens;

III. a Lei nº 12.010/2019 substitui a expressão “recolhimento a abrigo” por “acolhimento


familiar e institucional” (art. 90, IV e § 3º). Trata-se de mecanismo que, sob a forma de
guarda, objetiva reinserir o menor no convívio com a família natural. Não sendo
possível, aí sim, encaminha-se para adoção.
IV. toda e qualquer criança ou adolescente já inserido em programa de acolhimento familiar
ou institucional deverá ter sua situação reavaliada periodicamente, cujo prazo máximo
seja de 3 meses, devendo a autoridade judiciária competente, em posse de relatório
elaborado por equipe interprofissional ou multidisciplinar, tomar a melhor decisão
18
fundamentada pela possibilidade de reintegrar a família ou a colocação a família
substituta, quaisquer que sejam as modalidades, desde que previstas no art. 28 da
supracitada lei (§ 1º);
V. a permanência da criança e do adolescente em programa de acolhimento institucional
não deverá exceder mais que 18 meses, exceto se for comprovada a necessidade de
que haja superior interesse, desde que devidamente fundamentada pela autoridade
judiciária (§ 2º);
VI. em relação à mãe que não quer ficar com o filho e demonstre interesse em entregá-lo
para adoção, previamente ou após o nascimento, esta deverá ser encaminhada à
Justiça da Infância e da Juventude. São alguns desdobramentos (art. 19-A):
I. o prazo para buscar a família extensa deverá ter o prazo máximo de 90 dias,
prorrogáveis por igual período, em conformidade com o art 25 desta lei (§ 3º);
II. quando ocorrer de não haver indicação do genitor e não existir outro
representante da família extensa apto a receber a guarda, a autoridade
judiciária competente deverá decretar a extinção do poder familiar,
estabelecendo a colocação da criança sob a guarda provisória de
responsável habilitado para a adoção ou entidade que desenvolva o
programa de acolhimento familiar ou institucional (§ 4º);
III. os detentores da guarda tem o prazo de 15 dias para propor a ação de
adoção, iniciando-se a contagem no dia seguinte à data que terminou o
estágio convivencial (§ 7º);
IV. serão cadastrados para adoção os recém-nascidos e crianças acolhidas,
porém, que não foram procuradas por suas famílias, desde que no prazo de
30 dias, iniciando-se a contagem a partir do dia do acolhimento (§ 10);
VII. programa de apadrinhamento: a criança e o adolescente inserido em programa de
acolhimento institucional ou familiar, poderão participar de programa de
apadrinhamento, que deverá conter as seguintes regras (art. 19-B):
I) o apadrinhamento consiste em estabelecer e proporcionar à criança e ao
adolescente os vínculos externos à instituição com o objetivo de promover a
convivência familiar e comunitária, além de visar a colaboração com o seu
desenvolvimento nos aspectos social, moral, físico, cognitivo, educacional e
financeiro (§ 1º);
II) quanto às pessoas interessadas, poderão ser padrinhos ou madrinhas as
pessoas com idade superior a 18 anos, ainda que não inscritas no cadastro

19
de adoção, desde que cumpram os requisitos exigidos pelo programa de
apadrinhamento de que fazem parte (§ 2º);
III) quanto às pessoas jurídicas que demonstrarem interesse, poderão
apadrinhar criança ou adolescente com o objetivo de colaborar para o seu
desenvolvimento (§ 2º);
IV) o perfil da criança ou do adolescente a ser apadrinhado deverá ser definido
no âmbito de cada programa de apadrinhamento, priorizando cada criança
ou adolescente com a remota possibilidade de ser reinserida em família ou
colocada em família adotiva (§ 4º);
VIII. o art. 20 veda qualquer distinção entre filhos legítimos e adotados, tendo esta
prerrogativa a corroboração dos arts. 227, § 6º da CF, 1.596 do CC e 6º da Lei nº
8.560/92.

Mapa Mental

Direitos
Fundamentais

Poder familiar
Liberdade, Educação, Profissionalização e e convivência
Vida e Saúde respeito e cultura, esporte proteção no familiar e
dignidade e lazer trabalho comunitária

20
21
Referências Bibliográficas

AMIN, Andréa Rodrigues. Dos direitos fundamentais. MACIEL, Kátia Regina Ferreira Lobo
Andrade. Curso de Direito da Criança e do Adolescente. São Paulo: Saraiva, 2019.

MACIEL, Kátia Regina Ferreira Lobo Andrade. Direito fundamental à convivência familiar.
Curso de Direito da Criança e do Adolescente. São Paulo: Saraiva, 2019.

______. Poder familiar. In: MACIEL, Kátia Regina Ferreira Lobo Andrade. Curso de Direito
da Criança e do Adolescente. São Paulo: Saraiva, 2019.

22
3. Guarda

Guarda é o direito-dever dos pais, ou de apenas um deles, em relação aos filhos, ou ainda
de terceiros, quando a detém, de prestar assistência material, moral e educacional à criança
e ao adolescente, obrando para que ele atinja a sua plenitude (art. 33 do ECA).

A guarda tem suas reminiscências no direito civil, como colocaria do poder familiar, bem
como gera para o guardião o dever ou responsabilidade no campo material, moral e
educacional (MACIEL, 2019), podendo ser oposta contra terceiros, inclusive, contra os
próprios pais (art. 1.566 do CC).

Estes permanecem com o direito eventual de visitação, bem como com o dever de prestar
assistência material como os alimentos. A guarda gera dependência para todos os fins,
inclusive os previdenciários (art. 33, § 1º do ECA).

Porém, para o Direito da Criança e do Adolescente, a guarda tem o condão, ou seja, a


natureza jurídica de medida de proteção (art. 101, VIII do ECA), ou forma de colocação em
família substituta, ao lado da tutela e da adoção (art. 28 do ECA).

Dois são os pontos relevantes do instituto da guarda: o primeiro deles é que a referida
medida pode ser considerada como regularização de posse de fato, ou seja, pode ser deferida
de forma emergencial na falta dos pais e dos representantes legais, por meio de processo
judicial; já o segundo aspecto, cumpre registrar que a implementação da guarda não extingui
o poder familiar, pois ambos podem ser conjugados concomitantemente, inclusive, com o
mantenimento da obrigação alimentar, quando houver guarda de terceiro (art. 33, § 4º, ECA).

São as seguintes hipóteses de cabimento de guarda:

a) Provisória (art. 33, § 1º do ECA): é uma guarda para regularizar a


situação de fato, ou seja, nos casos de tutela e adoção, enquanto não
decidida a ação principal.

Tal situação pode e deve ser utilizada para regularização da posse de estado de filho,
bem como não cabe nos procedimentos de adoção internacional;

b) Guarda para atender situações peculiares (art. 33, § 2º do ECA): tem


caráter eminentemente provisório, desde que suprida à eventualidade.

23
Referida hipótese se aplica fora dos casos de adoção e tutela, com o objetivo de atender
situações peculiares que, em regra, estão afastadas do convívio familiar, bem como não há
interesse de ninguém por sua adoção ou tutela, e a guarda é, muitas vezes, a solução possível
para que a criança e o adolescente viva no âmbito familiar e não em uma instituição.

A permanência da criança em guarda é preferencial ao seu acolhimento institucional.


O acolhimento familiar também é preferencial em relação ao acolhimento institucional estas
formas de acolhimento foram estabelecidas na recente alteração do ECA, da lei 12.010/2009,
e as características primordiais são a excepcionalidade e a provisoriedade.

Esta modalidade de guarda poderá se dar de duas maneiras:

I) definitiva ou permanente (art. 33, § 2º, ECA), que, geralmente concedida quando a
guarda é pleiteada por um parente próximo; ou
II) especial ou peculiar (art. 33, § 2º, ECA), que se assemelha ao direito de
representação; é uma guarda concedida para a prática de um ato determinado.

c) Guarda para suprir a falta eventual dos pais (art. 33, § 2º, ECA): tem caráter
eminentemente provisório desde que suprida à eventualidade, ou seja, é utilizada em
situações singulares de ausência dos pais, como por exemplo, uma viagem.

Em continuidade, o poder público poderá estimular subsídios e incentivos fiscais. O


acolhimento de criança e adolescentes privados da convivência familiar, sob a forma de
guarda, como por exemplo, a isenção de Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU), em
Lorena (art. 34, ECA).

Então, em conformidade com o art. 32 do ECA, fica disposto que ao assumir a guarda ou
a tutela, o responsável deverá prestar compromisso de bem e desempenhar fielmente o seu
cargo, mediante o termo nos autos. Contudo, a decisão do juiz que deferir a guarda não faz
coisa julgada material, podendo, portanto, ser revista a qualquer momento. Tanto é assim que
a mesma decisão poderá ser concedida liminarmente, ou incidentalmente em procedimentos
de tutela ou adoção (TAVARES, 2019).

Por fim, a extinção da guarda somente poderá ser revogada mediante ato judicial
fundamentado, ouvido o Ministério Público, sempre tendo como preocupação o bem do menor,
pois a decisão que defere a guarda não faz coisa julgada material (art. 35, ECA).

24
Sendo assim, podendo ser revogada a qualquer tempo, por decisão judicial fundamentada,
no interesse da criança e do adolescente, a revogação pode se dar nos mesmos autos em
que ela foi concedida e pode requerer quem tenha legítimo interesse ou mesmo o Ministério
Público (MACIEL, 2019).

Logo, sendo a guarda exercida de forma compatível com o poder familiar, haverá direito
9dever) de visitas e de alimentos (art. 33, § 4, ECA). A guarda subsidiária vem disciplinada
pelo art. 34 do ECA.

A fixação da competência para decidir a questão da guarda depende da observância do


art. 148 do supracitado estatuto. Desta forma, envolve-se as hipóteses do art. 98 do estatuto
(situação de risco), logo, a competência é da Vara da Infância e Juventude. Nos demais casos,
seguirá para a Vara da Família.

25
Mapa Mental

Material

Assistência Moral

Educacional

Dos pais
GUARDA

Direito-dever
De terceiros (quando
detém a guarda)
Provisória
definitiva ou
permanente
Situações Peculiares

especial ou peculiar

Falta eventual dos pais

26
Referências Bibliográficas

MACIEL, Kátia Regina Ferreira Lobo Andrade. Guarda. Curso de Direito da Criança e do
Adolescente. São Paulo: Saraiva, 2019.

______. Poder familiar. In: MACIEL, Kátia Regina Ferreira Lobo Andrade. Curso de Direito
da Criança e do Adolescente. São Paulo: Saraiva, 2019.

TAVARES, Patrícia Silveira. As medidas pertinentes aos pais, responsáveis ou outras pessoas
encarregadas do cuidado de crianças e adolescentes. In: MACIEL, Kátia Regina Ferreira Lobo
Andrade. Curso de Direito da Criança e do Adolescente. São Paulo: Saraiva, 2019.

27
4. Tutela
É um instituto eminentemente decorrente do Direito Civil que pode ser conceituado como
poderes decorrentes de uma decisão judicial para reger a pessoa do incapaz (até 18 anos),
bem como para administrar seus bens. Desta forma, a tutela se destina a suprir o poder
familiar oriundo da perda ou suspensão do poder familiar (MACIEL, 2019).

Uma das grandes diferenças da guarda para a adoção é o pressuposto de constituição,


em que refere perda ou suspensão do poder familiar e, sendo assim, ambos os institutos não
são conciliáveis entre si (MACIEL, 2019).

A finalidade da tutela é dupla, ou seja, tanto protege a pessoa do incapaz, como também
administra os bens decorrentes do patrimônio deste, sendo que, em decorrência do exposto,
uma vez sendo solicitada a prestação de contas, esta deverá ser apresentada, aplicando-se
a tutela do regramento previsto entre os arts. 1.728 a 1.766 do CC, pois o ECA não
regulamentou a mesma de forma adequada.

Nos termos do art. 1.728 do CC, podem ser postos sob tutela os filhos, nas seguintes
situações:

a) com o falecimento dos pais;


b) sendo estes julgados ausentes;
c) em caso de os pais decaírem do poder familiar; e
d) crianças recém-nascidas expostas (abandonadas).

A natureza jurídica da tutela, conforme parte da doutrina refere, se trata de uma


substituição dos genitores, por este motivo há a responsabilidade do tutor em fornecer todo o
cuidado ao tutelado, dando toda a assistência devida.

São espécies de tutela: a testamentária (art. 1.729 do CC); a legítima (art. 1.731 do
CC); a dativa (art. 1.732 do CC), bem como a de menores abandonados (art. 1.723 do CC).

São características referentes à tutela: o encargo obrigatório, ressalvadas as


hipóteses previstas entre os arts. 1.736 a 1.739 do CC, bem como a função instável, pois o
tutor, uma vez iniciado seu encargo, pode se escusar, conforme consta nas hipóteses do art.
1.766 do CC.

28
Quanto à capacidade para exercer a tutela, todos aqueles que possuem capacidade
civil plena, poderá fazê-la, porém, não podem ser tutores e serão exonerados da tutela, caso
a exerçam as atividades previstas no art. 1.735 do CC.

Por fim, o exercício da tutela está regulamentado entre os arts. 1.740 a 1.742 do CC,
que atribui ao tutor as diversas responsabilidades. Porém, o princípio que deve ser observado
é o binômio proteção patrimonial e moral, que permeia todo o encargo do tutor.

Importante frisar, por derradeiro, que uma das atribuições fundamentais está prevista no art.
1.756 do CC, posto estabelecer que, ao findar-se cada ano de administração, os tutores
deverão ser submetidos ao juiz e encaminhar-lhe o balanço respectivo ao período, que, após
aprovação, será anexado aos autos do inventário.

É importante ainda ressaltar que, temos as providências a serem tomadas em relação


à autorização para viajar (SANTOS, 2019). É o que trata o art. 83 do ECA, que dispõe o
seguinte:

Art. 83. Nenhuma criança ou adolescente menor de 16 (dezesseis) anos poderá


viajar para fora da comarca onde reside desacompanhado dos pais ou dos
responsáveis sem expressa autorização judicial.

§ 1º. A autorização não será exigida quando:

a) tratar-se de comarca contígua à residência da criança ou do adolescente


menor de 16 (dezesseis) anos, se na mesma unidade da Federação, ou
incluída na mesma região metropolitana;

b) a criança ou o adolescente menor de 16 (dezesseis) anos estiver


acompanhado:

1) de ascendente ou colateral maior, até o terceiro grau, comprovado


documentalmente o parentesco, e

2) de pessoa maior, expressamente autorizada pelo pai, mãe ou responsável.

§ 2º. A autoridade judiciária poderá, a pedido dos pais ou responsáveis,


conceder autorização válida por dois anos.

Por fim, damos continuidade às observações aos dispositivos do ECA, cujo conteúdo
segue, in verbis:

Art. 84. Quando se tratar de viagem ao exterior, a autorização é dispensável,


se a criança ou adolescente:

29
I – estiver acompanhado de ambos os pais ou responsável;

II – viajar na companhia de um dos pais, autorizado expressamente pelo outro


através de documento com firma reconhecida.

Vale observar que, por derradeiro, em relação ao art. 84, supramencionado, o art. 85
do ECA determina que, se não houver previamente uma autorização judicial expressa,
permitindo que a criança ou adolescente nascido em território nacional, nenhuma delas poderá
sair, em qualquer hipótese, do País, seja em companhia de estrangeiro residente ou
domiciliado no exterior.

Mapa Mental

Tutela

Direito Civil Situações

Falecimento dos
Decisão judicial
pais

Proteção do
Pais ausentes
incapaz

Administração de Perda do poder


bens patrimoniais familiar

Recém-nascidos
expostos

30
Referências Bibliográficas

MACIEL, Kátia Regina Ferreira Lobo Andrade. Poder familiar. Curso de Direito da Criança e
do Adolescente. São Paulo: Saraiva, 2019.

______. Tutela. In; MACIEL, Kátia Regina Ferreira Lobo Andrade. Curso de Direito da
Criança e do Adolescente. São Paulo: Saraiva, 2019.

SANTOS, Ângela Maria Silveira dos. Prevenção. In: MACIEL, Kátia Regina Ferreira Lobo
Andrade. Curso de Direito da Criança e do Adolescente. São Paulo: Saraiva, 2019.

31
5. Adoção
Nos termos do apregoado pela doutrina majoritária, a adoção sofreu uma grande evolução
nas últimas décadas, tempo em que originalmente servia somente para realocar o infanto até
quando houver a possibilidade de mantenimento deste pela família natural.

Tal justificativa tem como fundamento que, atualmente, o referido procedimento de


alocação em família substituta tem como objetivo maior, o direito fundamental à convivência
familiar (art. 227 da CF), bem como analisar as condições pela qual a causa de pedir deve ser
lidima e incólume, pois, acima de tudo, a adoção constitui não somente um ato de acolhimento,
mas sim, um ato de amor (art. 43 do ECA).

Quanto a entrada em vigor do CC de 2002, muito se discutiu revogação de alguns


dispositivos do ECA, pois havia algumas importantes inovações estabelecidas. Porém, a
referida questão foi sepultada com a entrada em vigor da Lei nº 12.010/2009, que revogou
expressamente o regramento na legislação civilística, passando o ECA a regulamentar a
adoção, integralmente (BORDALLO, 2019).

Isto posto, e em conformidade com o art. 39, § 1º do ECA, a adoção é uma medida
excepcional e é irrevogável, à qual se deve recorrer somente quando forem esgotados todos
os recursos de manutenção da criança, o que significa dizer que, reitera-se o entendimento
da prevalência do infanto no ambiente familiar natural, assim como também se confirma a
impossibilidade de retomada do status quo ante, haja vista ter sido transitado em julgado o
procedimento do processo de adoção (MACIEL, 2019).

Por fim, não obstante haver para os presentes requisitos específicos, cumpre registrar que,
os aspectos gerais de colocação em família substituta não são descartados, na medida em
que essa família não será deferida nos termos do art. 29 do ECA (MACIEL, 2019).

32
Mapa Mental

Adoção Medida excepcional

Irrevogável

Esgotados recursos de manutenção da criança


(família natural)

33
Referências Bibliográficas

BORDALLO, Galdino Augusto Coelho. Adoção. In: MACIEL, Kátia Regina Ferreira Lobo
Andrade. Curso de Direito da Criança e do Adolescente. São Paulo: Saraiva, 2019.

MACIEL, Kátia Regina Ferreira Lobo Andrade. Poder familiar. Curso de Direito da Criança e
do Adolescente. São Paulo: Saraiva, 2019.

______. Regras gerais do procedimento de colocação em família substituta. In: MACIEL, Kátia
Regina Ferreira Lobo Andrade. Curso de Direito da Criança e do Adolescente. São Paulo:
Saraiva, 2019.

34
6. Prevenção
Nos termos do art. 70 do ECA, todos devem prevenir a ocorrência de qualquer tipo de
ameaça ou violação dos direitos pertinentes à criança e ao adolescente. Todavia, há ainda a
prevenção especial quanto à informação, à cultura, ao lazer, aos esportes, às diversões e aos
espetáculos, como vermos a seguir (SANTOS, 2019).

Conforme o art. 74 do ECA, o poder público deverá regular as diversões e espetáculos


públicos, através de órgãos competentes para tal, informando acerca da natureza e faixas
etárias quanto à recomendação, aos locais e aos horários em que sua apresentação se mostre
fora dos padrões de adequação.

Ademais, os responsáveis pelas diversões e espetáculos públicos devem providenciar


avisos afixados em lugares visíveis e de fácil acesso, incluindo, entrada dos locais de exibição,
informação com destaque acerca da natureza do espetáculo e a faixa etária que especifica os
limites, no certificado de classificação.

O art. 75 do mesmo estatuto determina que toda a criança ou adolescente deverá ter
acesso às diversões e espetáculos públicos, desde que classificados em conformidade com
a adequação de sua faixa etária.

Acrescenta-se ainda que as crianças com idade inferior a 10 anos poderão ingressar e
permanecer nos locais de apresentação ou exibição, somente quando estiverem
acompanhadas dos pais ou dos responsáveis (TAVARES, 2019).

Cabe observar aqui que a criança tem direito constitucional e garantias pelo estatuto, com
fundamento em pilares básicos, já mencionados anteriormente, ou seja: são sujeitos de direito;
se encontram em condição de pessoa em desenvolvimento, portanto, dispostos à uma
legislação especial; e possuem absoluta prioridade na garantia de seus direitos, sobretudo, os
fundamentais (AMIN, 2019).

Já o art. 76 do ECA estabelece que as emissoras de rádio e televisão exibirão,


limitadamente, no horário recomendado para o público infanto juvenil, os programas de cuja
finalidade seja educativa, artística, cultural e informativa, observando que não haverá
espetáculo que poderá ser apresentado ou anunciado sem o prévio aviso de sua classificação,
antes de sua transmissão, apresentação ou exibição.

O art. 77 do mesmo estatuto dispõe que os proprietários, diretores, gerentes e funcionários


empresariais que visem a exploração com venda ou locação de fitas de programação em

35
vídeo, deverão estar atentos e tomar as devidas cautelas para que não haja venda ou locação
em desacordo com o limite classificatório atribuído pelo órgão competente. Tais meios de
reprodução deverão exibir em seu invólucro, as devidas informações acerca da natureza da
obra e faixa etária a que se destinam.

Um ponto a ser observado quanto a esse dispositivo é o fato de que, atualmente, é rara a
utilização de fitas para reprodução de gravações por ser um recurso ultrapassado. Logo, por
analogia, servirá o disposto para as atuais mídias ou redes sociais, meios pelos quais são
reproduzidas as gravações exploratórias de programações em vídeo.

Seguindo ao raciocínio regulamentar, o art. 78 do ECA trata das revistas e publicações


cujo conteúdo trata de material impróprio ou inadequado para crianças e adolescentes. Esses
materiais deverão ser comercializados com embalagem lacrada, observando por meio de
advertência acerca de seu conteúdo, sobretudo, há de ser observado que as editoras deverão
cuidar para que as capas de cuja mensagens de cunho pornográfico ou obsceno, devam ser
protegidas com embalagens opacas.

Já o art. 79 do estatuto determina que as revistas e as publicações que visam o alcance


do público infanto-juvenil não poderão conter ilustrações, fotos, legendas, crônicas ou
qualquer tipo de anúncio que envolva bebida alcoólica, tabagista, armadas e respectivas
munições, além de dever respeitar os valores éticos e sociais da pessoa e da família.

Por fim, o art. 80 do ECA dispõe que os responsáveis pelos estabelecimentos que
objetivam explorar comercialmente jogos como bilhar, sinuca ou congênere, ou ainda, por
casas de jogos, entendendo-se aquelas que realizem qualquer tipo de aposta, deverão cuidar
para que não se permita a entrada, muito menos a permanência de crianças e de adolescentes
no local, devendo ainda, afixar o aviso para orientar ao público sobre a medida.

36
Mapa Mental

Da ameaça à
criança e
Regulamentação adolescente
Prevenção pelo Poder
Público De violação aos
direitos da
criança e
adolescente

37
Referências Bibliográficas

AMIN, Andréa Rodrigues. Doutrina da proteção integral. In: MACIEL, Kátia Regina Ferreira
Lobo Andrade. Curso de Direito da Criança e do Adolescente. São Paulo: Saraiva, 2019.
SANTOS, Ângela Maria Silveira dos, Prevenção. MACIEL, Kátia Regina Ferreira Lobo
Andrade. Curso de Direito da Criança e do Adolescente. São Paulo: Saraiva, 2019.
TAVARES, Patrícia Silveira. As medidas de proteção. In: MACIEL, Kátia Regina Ferreira Lobo
Andrade. Curso de Direito da Criança e do Adolescente. São Paulo: Saraiva, 2019.

38
7. Política de Atendimento
Regulamentada pelos arts. 86 a 89 do ECA, a política de atendimento trata da coordenação
das ações dos entes governamentais e das organizações não-governamentais para o
atendimento às crianças e aos adolescentes (art. 86).

Art. 86. A política de atendimento dos direitos da criança e do adolescente far-


se-á através de um conjunto articulado de ações governamentais e não-
governamentais, da União, dos estados, do distrito Federal e dos municípios.

As referidas ações envolvem a formulação e a implantação de atos sociais


fundamentais, prestação de serviços especiais como meio preventivo e atendimento médico
e psicossocial aos indivíduos vitimados pela negligência, maus-tratos, abuso e opressão, entre
outros (art. 87), como se vê:

Art. 87. São linhas de ação da política de atendimento:

I – políticas sociais básicas;

II – serviços, programas, projetos e benefícios de assistência social de garantia


de proteção social e de prevenção e redução de violações de direitos, seus
agravamentos ou reincidências;

III – serviços especiais de prevenção e atendimento médico e psicossocial às


vítimas de negligência, maus-tratos, exploração, abuso, crueldade e opressão;

IV – serviço de identificação e localização de pais, responsáveis, crianças e


adolescentes desaparecidos;

V – proteção jurídico-social por entidades de defesa dos direitos da criança e


do adolescente;

VI – políticas e programas destinados a prevenir ou abreviar o período de


afastamento do convívio familiar e a garantir o efetivo exercício do direito à
convivência familiar de crianças e adolescentes;

VII – campanhas de estímulo ao acolhimento sob forma de guarda de crianças


e adolescentes afastados do convívio familiar e à adoção, especificamente
inter-racial, de crianças maiores ou de adolescentes, com necessidades
específicas de saúde ou com deficiências e de grupos de irmãos.

A regulamentação determinada pelo ECA também orienta a criação e a manutenção


dos serviços que visam a localização dos pais, das crianças e adolescentes desaparecidos,
assim como também objetiva a proteção em caráter jurídico e social, cujos atos são de
responsabilidade das entidades de defesa dos direitos da criança e do adolescente.

39
Sendo assim, tem-se como orientação à política de atendimento o seguinte rol, in verbis:

Art. 88. [...]

I – municipalização do atendimento;

II – criação de conselhos municipais, estaduais e nacional dos direitos da


criança e do adolescente, órgãos deliberativos e controladores das ações em
todos os níveis, assegurada a participação popular paritária por meio de
organizações representativas, segundo leis federal, estaduais e municipais;

III – criação e manutenção de programas específicos, observada a


descentralização político-administrativa;

IV – manutenção de fundos nacional, estaduais e municipais vinculados aos


respectivos conselhos dos direitos da criança e do adolescente;

V – integração operacional de órgãos do Judiciário, Ministério Público,


Defensoria, Segurança Pública e Assistência social, preferencialmente em um
mesmo local, para efeito de agilização do atendimento inicial a adolescente a
quem se atribua autoria de ato infracional;

VI – integração operacional de órgãos o Judiciário, Ministério Público,


Defensoria, Conselho Tutelar e encarregados da execução das políticas sociais
básicas e de assistência social, para efeito de agilização do atendimento de
crianças e de adolescentes inseridos em programas de acolhimento familiar ou
institucional, com vista na sua rápida reintegração à família de origem ou, se
tal solução se mostrar comprovadamente inviável, sua colocação em família
substituta, em quaisquer das modalidades previstas no art. 28 desta Lei;

VII - mobilização da opinião pública para a indispensável participação dos


diversos segmentos da sociedade;

VIII - especialização e formação continuada dos profissionais que trabalham


nas diferentes áreas da atenção à primeira infância, incluindo os
conhecimentos sobre direitos da criança e sobre desenvolvimento infantil;

IX - formação profissional com abrangência dos diversos direitos da criança e


do adolescente que favoreça a intersetorialidade no atendimento da criança e
do adolescente e seu desenvolvimento integral;

X - realização e divulgação de pesquisas sobre desenvolvimento infantil e sobre


prevenção da violência.

Nota-se que o legislador federal estabeleceu a norma constante no ECA de forma que
haja articulação de atividades de atendimento voltadas às crianças e aos adolescentes
incumbido ao Estado e a sociedade (TAVARES, 2019).

40
Ademais, o conjunto de dispositivos dedicados à política de atendimento também
abarca as ações e as instruções que direcionam a todos os envolvidos neste processo, para
que, ao final, se obtenha um rol de funções que alcancem e supram ao máximo as
necessidades das crianças e adolescentes.

Cabe lembrar que a política de atendimento à criança e adolescente tem por base
fundamental o respeito aos princípios normativos presentes na Constituição Federal, que trata
da dignidade da pessoa humana, “reconhecendo cada indivíduo como centro autônomo de
direitos e valores essenciais à sua realização plena como pessoa” (AMIN, 2019).

Deve-se considerar também os princípios que orientam ao próprio estatuto, posto que tratam
da prioridade absoluta, do superior interesse e da municipalização, conceituados da seguinte
forma (AMIN, 2019):

 prioridade absoluta: trata-se de princípio disposto no art. 227 da CF e previsto nos


arts. 4º e 100, parágrafo único, II do ECA, impondo ao Estado a obrigação de
determinar e promover políticas públicas que incluam projetos e programas para
atendimento à criança, de forma a atender às suas necessidades específicas e com
vistas a assegurar que seu desenvolvimento seja integral;

Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao


adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, á
alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade,
ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-
los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência,
crueldade e opressão.

 superior interesse: este é o princípio que norteia os atos direcionados à toda criança
e adolescente na preservação de suas necessidades como prioridade, inclusive,
quando dos casos de litígios familiares, à luz da legislação nacional;
 municipalização: em se tratando de garantias fundamentais, este é o princípio que
não está relacionado diretamente àquelas específicas da criança e do adolescente,
porém, é o princípio pilar que norteia as políticas de atendimento específicas e
constantes no ECA, cujo objetivo é responsabilizar aos entes federativos e à União
quanto a disciplina das normas gerais e coordenativas dos programas em tela.

Tais conceitualizações delineiam a teoria da proteção integral, pois envolvem as linhas de


atendimento quanto às políticas de garantia de direitos, proteção especial, bem como à
assistência básica.

41
Vale destacar que a Convenção Internacional dos Direitos da Criança, pautados no
princípio da proteção integral, reconhece os direitos fundamentais da criança e do adolescente
constantes no art. 227 de nossa CF, como mencionado anteriormente, e do ECA.

Ademais, o atendimento direcionado à criança e ao adolescente, assim como a proteção


aos seus direitos devem ser tratados de forma plena e com a máxima prioridade devido ao
fato de serem sujeitos vulneráveis e em fase de desenvolvimento.

Mapa Mental

Governamentais

Entes
Não-
governamentais

POLÍTICA DE
ATENDIMENTO Prioridade
absoluta

Criança e Proteção Superior


adolescente integral Interesse

Municipalização

42
Referências Bibliográficas

AMIN, Andréa Rodrigues. Evolução histórica do direito da criança e do adolescente. In:


MACIEL, Kátia Regina Ferreira Lobo Andrade. Curso de Direito da Criança e do
Adolescente. São Paulo: Saraiva, 2019.

TAVARES, Patrícia Silveira. A política de atendimento. In: MACIEL, Kátia Regina Ferreira
Lobo Andrade. Curso de Direito da Criança e do Adolescente. São Paulo: Saraiva, 2019.

______. Princípios orientadores do direito da criança e do adolescente. In: MACIEL, Kátia


Regina Ferreira Lobo Andrade. Curso de Direito da Criança e do Adolescente. São Paulo:
Saraiva, 2019.

43
8. Conselhos da Criança e do Adolescente
Conforme o art. 88, II do ECA, os Conselhos da Criança e do Adolescente são os “órgãos
deliberativos e controladores das ações em todos os níveis, assegurada a participação popular
paritária, por meio de organizações representativas, segundo leis federal, estaduais e
municipais”.

Os referidos conselhos atuam na formulação e acompanhamento da execução das


políticas públicas de atendimento à criança e ao adolescente, além de se tratar de órgão
fiscalizador do cumprimento normativo com o objetivo de garantir que seja respeitado o
princípio da dignidade da pessoa humana (TAVARES, 2019).

Cabe ressaltar ainda que os conselhos são constituídos por representantes


governamentais e da sociedade civil, e possuem vínculos com o governo estadual ou
municipal, tendo em vista a incumbência da responsabilidade administrativa.

Ainda que haja tais vínculos, os conselhos são autônomos para desempenhar as suas
atividades bem como para acionar os Conselhos Tutelares, Delegacias de Proteção Especial,
bem como o Ministério Público, a Defensoria Pública e os Juizados Especiais pertinentes,
destinados à proteção da criança e do adolescente.

Vale lembrar que o Conselho Tutelar é um órgão de cujos poderes possuem características
de autonomia, porém, não se trata de total independência, ausência restritiva ou controladora,
posto que seus mecanismos legais de cunho fiscalizatório, trata das questões de mérito nas
suas decisões e trata da atuação individual de seus membros (TAVARES, 2019).

Pelo exposto e com base no art. 89 do estatuto, descreve-se a função dos membros dos
conselhos de fundamental interesse público, in verbis: “A função de membro do conselho
nacional e dos conselhos estaduais e municipais dos direitos da criança e do adolescente é
considerada de interesse público relevante e não será remunerada”.

Há de se observar que no mesmo dispositivo se faz a referência de que é vedada a


remuneração dos conselheiros de direito, posto que suas atividades possuem caráter político
e transitório, impedindo, portanto, que a função promova a garantia de sustento de seus
componentes (TAVARES, 2019).

A doutrina refere que os Conselhos, caracterizados como órgãos da esfera do Poder


Executivo, posto a sua capacidade de decidir quando dos assuntos da criança e do
adolescente, logo, e por este motivo, não se pode ter o colegiado constituído por

44
representantes dos Poderes Legislativo e Judiciário, bem como também não pode o Ministério
Público (BORDALLO, 2019).

Para que todos os atos mencionados e direcionados ao atendimento e à proteção à criança


e ao adolescente sejam garantidos, foi necessário o estabelecimento da formação dos
conselhos com a criação de órgãos, composição paritária e dos membros, bem como a criação
das normas de gestão, funcionamento, deliberações e controle, em conformidade ao ECA.

Por fim, é de extrema importância destacar que, à luz da legislação nacional, seja
estabelecida de forma plena a política de atendimento à criança e ao adolescente com vistas
a garantir que todos os direitos constantes da nossa Carta Maior, em seu art. 227, seja
aplicado. Cabe aqui repetir o texto constitucional em tela:

Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao


adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, á
alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade,
ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-
los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência,
crueldade e opressão.

45
Mapa Mental

CONSELHO DA
CRIANÇA E DO
ADOLESCENTE

Criança e
adolescente

Políticas públicas

Formulação Execução Fiscalização

46
Referências Bibliográficas

BORDALLO, Galdino Augusto Coelho. Ministério Público. In: MACIEL, Kátia Regina Ferreira
Lobo Andrade. Curso de Direito da Criança e do Adolescente. São Paulo: Saraiva, 2019.

TAVARES, Patrícia Silveira. O conselho tutelar. In: MACIEL, Kátia Regina Ferreira Lobo
Andrade. Curso de Direito da Criança e do Adolescente. São Paulo: Saraiva, 2019.

______. Os conselhos dos direitos da criança e do adolescente. In: MACIEL, Kátia Regina
Ferreira Lobo Andrade. Curso de Direito da Criança e do Adolescente. São Paulo: Saraiva,
2019.

47
9. Fundos Nacional, Estadual, Distrital e Municipal dos Direitos
da Criança e do Adolescente
Com fulcro ao art. 260 do ECA, os Fundos Nacional, Estadual, Distrital e Municipal de
atenção às crianças e aos adolescentes são mecanismos públicos que organizam e
descentralizam o orçamento pertinente às entidades públicas que atuam com vistas a manter
a clareza quanto ao destino dos recursos públicos.

O principal objetivo dos referidos fundos públicos é administrar as finanças e destinar aos
projetos que atuem nas garantias promocionais, protetivas e defensivas do direito da criança
e do adolescente.

O orçamento supracitado envolve os recursos obtidos para fins específicos e são


investidos em benefício das crianças e dos adolescentes sob monitoramento e fiscalização
dos Conselhos de Direitos da Criança e do Adolescente (TAVARES, 2019).

Os Fundos dos Direitos da Criança e do Adolescente, também conhecido por Fundos da


Infância e da Adolescência (FIA) é parte das diretrizes estabelecidas para a política de
atendimento, considerados pela doutrina como fundos especiais, cujos motivos serão
elucidados adiante (TAVARES, 2019).

A caracterização específica destes fundos se dá pelo fato de que parte dos recursos
financeiros advindos do Poder Público são administrados de forma distinta aos demais
recursos, tendo em vista que, a regra é ingressar para os cofres públicos por uma única via
que é a Fazenda Pública. Esta, por sua vez, está incumbida de distribuir os valores em
conformidade com o grau de prioridade governamental.

Sendo assim, para o caso do FIA, sendo receita de fundos especiais, eles possuem sua
própria conta e tem somente a permissão para aplicar tais valores naquilo que trata de bens
ou serviços determinados antecipadamente e especificamente para esse fim, desde que
deliberadas pelos Conselhos de Direitos de seus respectivos governos, ou seja: “Os fundos
especiais têm como fundamento a necessidade de tornar certa a destinação de recursos
financeiros para áreas entendidas como de especial relevância, e ainda facilitar a captação e,
de certo modo, a aplicação destes recursos” (TAVARES, 2019).

Em outros termos, isto significa dizer que o art. 88, II, parte final do ECA dispõe sobre os
atos deliberativos dos Conselhos de direito, bem como o controle das políticas públicas dos

48
governos pertinentes aos atos que incluem a administração dos fundos públicos. É como se
vê:

Art. 88. São diretrizes da política de atendimento:

[...]

II – criação de conselhos municipais, estaduais e nacional dos direitos da


criança e do adolescente, órgãos deliberativos e controladores das ações em
todos os níveis, assegurada a participação popular paritária por meio de
organizações representativas, segundo leis federal, estaduais e municipais;

[...]

Tais deliberações deverão seguir em conformidade com o art. 87 do ECA, ou seja, em


respeito às regras de ação da política de atendimento da criança e do adolescente, mediante
a adequada utilização metodológica da identificação das demandas:

Art. 87. São linhas de ação da política de atendimento:

I – políticas sociais básicas;

II – serviços, programas, projetos e benefícios de assistência social de garantia


de proteção social e de prevenção e redução de violações de direitos, seus
agravamentos ou reincidências;

III – serviços especiais de prevenção e atendimento médico e psicossocial às


vítimas de negligência, maus-tratos, exploração, abuso, crueldade e opressão;

IV – serviço de identificação e localização de pais, responsável, crianças e


adolescentes desaparecidos;

V – proteção jurídico-social por entidades de defesa dos direitos da criança e


do adolescente;

VI – políticas e programas destinados a prevenir ou abreviar o período de


afastamento do convívio familiar e a garantir o efetivo exercício do direito à
convivência familiar de crianças e adolescentes;

VII – campanhas de estímulo ao acolhimento sob forma de guarda de crianças


e adolescentes de afastamento do convívio familiar e a garantir o efetivo
exercício do direito á convivência familiar de crianças e adolescentes.

Isto posto, cabe frisar que as ações determinadas pela legislação e destinadas aos
Conselhos dos Direitos da Criança e do Adolescente com vistas ao controle da política de
atendimento possuem duas características, ou seja, tem responsabilidade gestacional dos

49
referidos fundos públicos e, na seara Municipal, o registro das entidades de atendimento ao
público infanto-juvenil de caráter não governamental, bem como a inscrição dos programas
estabelecidos no ECA, em seu art. 90, in verbis:

Art. 90. As entidades de atendimento são responsáveis pela manutenção das


próprias unidades, assim como pelo planejamento e execução de programas
de proteção e sócio-educativas destinados a criança e adolescentes, em
regime de:

I – orientação e apoio sócio-familiar;

II – apoio sócio-educativo em meio aberto;

III – colaboração familiar;

IV – acolhimento institucional;

V – prestação de serviços à comunidade;

VI – liberdade assistida;

VII – semiliberdade; e

VIII – internação.

[...]

Esclarecidos os pontos principais que norteiam as diretrizes dos fundos públicos


destinados à criança e ao adolescente, cabe enfatizar que o ECA determina a regulamentação
específica para tratar dos Fundos Públicos destinados à criança e ao adolescente, tendo em
vista que em seu art. 88, IV, estabelece e distribui o procedimento de gestão dos Conselhos
dos Direitos, bem como os arts. 154 e 214 determinam os atos do Juiz da Infância e da
Juventude, o art. 260 trata dos Fundos no Imposto de Renda e, os arts. 260-A a 260-L dispõem
sobre as regras operacionais de doações e transparência na administração das verbas.

Porém, é importante observar que a regulamentação legal é de competência da União, dos


Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, ou seja, os fundos públicos são regulamentados
por leis “de iniciativa das chefias dos respectivos Poderes Executivos, aos quais competirá,
também, a edição de decretos ou portarias com o objetivo de regulamentar o seu
funcionamento” (TAVARES, 2019).

50
Já a gestão dos fundos é de competência exclusiva dos conselhos de direito, em
conformidade com os arts. 88, IV, 214, 260 e 260-I do ECA, posto que, como dito
anteriormente, trata-se de órgãos de poder deliberativo e controlador das ações políticas de
atendimento, como se vê:

Art. 88. São diretrizes da política de atendimento:

[...]

IV – manutenção de fundos nacional, estaduais e municipais vinculados aos


respectivos conselhos dos direitos da criança e do adolescente;

[...]

Art. 214. Os valores das multas reverterão ao fundo gerido pelo Conselho dos
Direitos da Criança e do Adolescente do respectivo município.

[...]

Art. 260. Os contribuintes poderão efetuar doações aos Fundos dos Direitos da
Criança e do Adolescente nacional, distrital, estaduais ou municipais,
devidamente comprovadas, sendo essas integralmente deduzidas do imposto
de renda, obedecidos os seguintes limites:

[...]

Art. 260-I. Os Conselhos dos Direitos da Criança e do Adolescente nacional,


estaduais, distrital e municipais divulgarão amplamente à comunidade:

I – o calendário de suas reuniões;

II – as ações prioritárias para aplicação das políticas de atendimento à criança


e ao adolescente;

III – os requisitos para a apresentação de projetos a serem beneficiados com


recursos dos Fundos dos Direitos da Criança e do Adolescente nacional,
estaduais, distrital ou municipais;

IV – a relação dos projetos aprovados em cada ano-calendário e o valor dos


recursos previstos para implementação das ações, por projeto;

51
V – o total dos recursos recebidos e a respectiva destinação, por projeto
atendido, inclusive com cadastramento na base de dados do Sistema de
Informações sobre a Infância e a Adolescência; e

VI – a avaliação dos resultados dos projetos beneficiados com recursos dos


Fundos dos Direitos da Criança e do Adolescente nacional, estaduais, distrital
e municipais.

Assim, no que diz respeito às atribuições da gestão dos Fundos dos Direitos da Criança
e do Adolescente, temos como principais as seguintes:

 plano de ação: consiste diagnóstico, planejamento, organização e arrolamento dos


programas os quais devem ser investidos por ordem prioritária;
 plano de execução: consiste no estudo e disponibilização dos meios determinados
pelo plano de ação, respeitadas as normas, formas, prazos, objetivos, órgãos e
distribuição.

Juntamente aos referidos planos, é importante que se tenha o controle da perfeita sintonia
e execução do plano de ação, bem como a utilização dos recursos financeiros destinados para
estes fins, bem como a efetividade dos programas e projetos para os quais o planejamento se
propôs.

Assim, as ações advindas dos Conselhos governamentais destinadas aos direitos da


criança e do adolescente se pautam no art. 95 do ECA, posto estarem sujeitas à fiscalização
do Poder Judiciário, bem como do Ministério Público e dos Conselhos Tutelares (BORDALLO,
2019), in verbis: “Art. 95. As entidades governamentais e não-governamentais referidas no art.
90 serão fiscalizadas pelo Judiciário, pelo Ministério Público e pelos Conselhos Tutelares. ”

Em suma, vale frisar que os Conselhos de Direito deverão organizar o controle das
atividades pertinentes aos Fundos mediante a solicitação de prestação de contas periódicas,
bem como realizar os diagnósticos acerca do andamento e execução dos programas e
projetos constantes dos planos de ação e respectivas fiscalizações para que as medidas
cabíveis sejam tomadas ao serem constatadas as irregularidades.

52
Mapa Mental

FUNDOS DOS DIREITOS DA CRIANÇA E DO


ADOLESCENTE

Entes federativos

Conselhos de Direitos da
Criança e do
Adolescente

Fiscalização

Judiciário

Ministério Público

Conselhos Tutelares

Deliberações e Descentralização
Gestão dos Fundos
metodologia orçamentária

53
Referências Bibliográficas

BORDALLO, Galdino Augusto Coelho. O Poder Judiciário. In: MACIEL, Kátia Regina Ferreira
Lobo Andrade. Curso de Direito da Criança e do Adolescente. São Paulo: Saraiva, 2019.

TAVARES, Patrícia Silveira. A política de atendimento. In: MACIEL, Kátia Regina Ferreira
Lobo Andrade. Curso de Direito da Criança e do Adolescente. São Paulo: Saraiva, 2019.

______. Os conselhos dos direitos da criança e do adolescente. In: MACIEL, Kátia Regina
Ferreira Lobo Andrade. Curso de Direito da Criança e do Adolescente. São Paulo: Saraiva,
2019.

54
10. Entidades de Atendimento

As Entidades de Atendimento são aquelas cujo objetivo é a atenção às crianças e aos


adolescentes os quais se encontram em situações de vulnerabilidade quanto ao risco pessoal
ou social em decorrência da violação de seus direitos.

Trata-se da linha de ação cuja regulamentação às referidas entidades se faz constar no


art. 87 do ECA, caracterizadas por:

[...] conjunto de ações destinadas ao amparo de criança e de adolescentes que,


em razão de situação específica de vulnerabilidade social, são credoras de
estratégias de atuação que extrapolam as possibilidades de ação eficaz das
políticas básicas (TAVARES, 2019).

Isto significa dizer que, o atendimento voltado a essas crianças e esses adolescentes
é decorrente de suas necessidades pelas condições específicas de vulnerabilidade, seja por
conta da ação ou da omissão social ou Estatal, como também pode ser decorrente da
ausência, omissão ou do abuso de seus pais ou responsáveis.

O referido atendimento também trata dos infanto-juvenis que se enquadrem no art. 98


do ECA, ou seja, estão em condições de riscos em razão de suas condutas, como se vê:

Art. 98. As medidas de proteção à criança e ao adolescente são aplicáveis


sempre que os direitos reconhecidos nesta Lei forem ameaçados ou violados:

I – por ação ou omissão da sociedade ou do Estado;

II – por falta, omissão ou abuso dos pais ou responsável;

III – em razão de sua conduta.

As estratégias de atendimento realizadas pelas entidades e direcionadas à criança e


ao adolescente seguem ao disposto no art. 90 do mesmo estatuto, valendo dizer que, como
dito anteriormente, o atendimento visa a proteção e a assistência quando dos riscos por ação
ou omissão de seus responsáveis ou por sua conduta, sobretudo, com observância aos arts.
171 a 190 do ECA.

Assim, estas entidades são responsáveis, inclusive, pelas unidades as quais planejam
e executam os programas protetivos e socioeducativos estabelecidos pelos planos de ação

55
dos conselhos respectivos às crianças e aos adolescentes em condições diversas, arroladas
no art. 90 do estatuto, in verbis:

Art. 90. As entidades de atendimento são responsáveis pela manutenção das


próprias unidades, assim como pelo planejamento e execução de programas
de proteção e socioeducativos destinados a crianças e adolescentes, em
regime de:

I – orientação e apoio sociofamiliar;

II – apoio socioeducativo em meio aberto;

III – colocação familiar;

IV – acolhimento institucional;

V – prestação de serviços à comunidade;

VI – liberdade assistida;

VII – semiliberdade;

VIII – internação.

Em conformidade com os arts. 111 e 112 do mesmo estatuto, as Entidades de


Atendimento à criança e ao adolescente tem como principal objetivo a providência executiva
das medidas protetivas ou socioeducativas, com vistas a proporcionar suporte nos aspectos
sociofamiliar, bem como o apoio socioeducativo em meio aberto, as providências para
colocação familiar, o acolhimento institucional, ou ainda, nos regimes de liberdade assistida,
semiliberdade ou internação (TAVARES, 2019; RAMOS, 2019).

Para tais realizações, o ECA distribui as ações das referidas entidades, seja de cunho
governamental ou não governamental, mediante o estabelecimento de normas dispostas nos
arts. 90 e seguintes.

Assim, nota-se que as normas legais supracitadas tratam da imposição às entidades


quanto aos procedimentos registrais no respectivo Conselho Municipal dos Direitos da Criança
e do Adolescente que, por sua vez, encaminhará ao Conselho Tutelar e à autoridade judiciária
local.

Por fim, vale destacar que a exceção da possibilidade do registro aos programas de
atendimento dependerá das entidades de cunho não governamentais em cumprirem os

56
requisitos padronizados e estabelecidos em lei. Isto significa dizer que, as entidades não
governamentais deverão estar de acordo com o padrão de higiene, salubridade, segurança e
habitação.

Mapa Mental

ENTIDADES DE
ATENDIMENTO

Ações
Crianças e
governamentais e
Adolescentes
não governamentais

Violação de seus
Vulnerabilidade Medidas protetivas
direitos

Ação ou omissão Medida


social ou estatal socioeducativas

Ausência, omissão ou
abuso dos pais ou
responsável

Sua própria conduta

57
Referências Bibliográficas

RAMOS, Bianca Mota de Moraes Helane Vieira. A prática de ato infracional. A política de
atendimento. In: MACIEL, Kátia Regina Ferreira Lobo Andrade. Curso de Direito da Criança
e do Adolescente. São Paulo: Saraiva, 2019.

TAVARES, Patrícia Silveira. A política de atendimento. In: MACIEL, Kátia Regina Ferreira
Lobo Andrade. Curso de Direito da Criança e do Adolescente. São Paulo: Saraiva, 2019.

______. As medidas de proteção. In: MACIEL, Kátia Regina Ferreira Lobo Andrade. Curso
de Direito da Criança e do Adolescente. São Paulo: Saraiva, 2019.

58
11. Conselho Tutelar

O conceito de “conselho tutelar” se encontra no art. 131 do ECA, exteriorizando a


participação da sociedade no processo de instauração definitiva dos direitos da criança e dos
adolescentes (TAVARES, 2019). Podemos apontar as seguintes características a seu
respeito:

a) permanência;
b) autonomia: no âmbito administrativo, não está vinculado a ninguém; o
judiciário terá controle sobre tudo, podendo realizar revisão no âmbito
judicial;
c) órgão não jurisdicional: tem função executiva.

Quando uma comarca não possui Conselho Tutelar, suas funções são desenvolvidas
pelo juiz da Infância e da Juventude (art. 262 da ECA).

Trata-se de um órgão não jurisdicional permanente e autônomo (TAVARES, 2019),


incumbido de zelar pelos direitos fundamentais e pelos direitos da criança e do adolescente.
Foi criado, então, o regulamento pelo ECA nos arts. 131 e seguintes, embora possua suas
raízes nos princípios da proteção integral da participação popular e da democracia
participativa, previstos nos arts. 227, caput, e 1º da CF, respectivamente.

O conselho tutelar se organiza no âmbito do município, o qual poderá conter mais de


um conselho, conforme a sua dimensão populacional. O conselho seguirá a regra de
competência territorial, ou seja, aquela afetada pela jurisdição, nos termos do art. 147 do ECA,
bem como os agentes do Conselho Tutelar, conforme dispor a lei do município, que poderão
ser remunerados ou não.

Em relação à natureza, afirmamos que os atos do Conselho Tutelar são proferidos por
um colegiado, de natureza administrativa, guardando, portanto, os mesmos atributos deste.
Devido à sua função pública, estão sujeitos à Lei de Improbidade Administrativa (nº 8.429/92)
e aos princípios da administração previstos no art. 37, caput da CF. esta ideia é abrigada pelo
art. 135 do ECA.

O conselho será composto por cinco membros, que poderão ser reconduzidos uma vez,
bem como o mandato é de três anos. O processo de escolha deve ser democrático, sob pena
de contrariar a sua própria origem (art. 132 do ECA).

59
O art. 133 do estatuto supramencionado fixa os requisitos mínimos, quais sejam:

a) 21 anos de idade;
b) residência no município;
c) idoneidade moral.

Os impedimentos, por sua vez, estão no art. 140 do ECA, bem como a questão da
remuneração é tratada no art. 134 do estatuto.

A jurisprudência e a doutrina têm autorização ao município a exasperação dos


requisitos para contemplar outras exigências, como por exemplo: provas de experiência na
área da infância etc. Desde que a regra se adeque no Conselho Tutelar e das suas funções
nos municípios, a jurisprudência e a doutrina serão válidas.

A implantação de Conselho Tutelar pode ser objeto de ação civil pública (BORDALLO,
2019). Tal ação não pode, todavia, conter pedido no tocante à forma de funcionamento do
Conselho Tutelar. Se a lei municipal que determinar o funcionamento do Conselho Tutelar for
inconstitucional, deve ser remetido ao Procurador Geral de Justiça (PGJ) para que este
ingresse com Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADIN).

Isto posto, nos termos do art. 131 do ECA, “O conselho Tutelar é órgão permanente e
autônomo, não jurisdicional, encarregado pela sociedade de zelar pelo cumprimento dos
direitos da criança e do adolescente, definidos nesta Lei.”.

O Conselho Tutelar atua no cenário da infância e da juventude, ao lado do sistema de


justiça e atende a um princípio: “de desjudicialização”. As matérias de sua atribuição foram
desjudicializadas dos antigos juizados de menores para que o órgão administrativo, tirado da
sociedade e de natureza multidisciplinar, encontre melhor acolhimento.

A desjudicialização não é absoluta, eis que será possível, a pedido de quem tenha legítimo
interesse, a revisão judicial das medidas aplicadas pelo Conselho Tutelar. Sendo vedada a
revisão ex ofício pelo juiz.

O princípio da inafastabilidade da jurisdição prevista na CF já era suficiente para


relativizar a desjudicialização, mas quis o legislador do ECA fazê-lo para apontar seus
contornos e critérios.

As ideias de funções estão elencadas no art. 136 do ECA, sendo que, além da atividade
fiscalizatória, poderá ainda requerer certidões de óbito, bem como ter serviços essenciais de
natureza pública como saúde e educação.

60
Vale destacar o art. 132 do ECA, in verbis:

Art. 132. Em cada município e em cada Região Administrativa do Distrito


Federal haverá, no mínimo 1 (um) Conselho Tutelar como órgão integrante da
administração pública local, composto de 5 (cinco) membros, escolhidos pela
população local para mandato de 4 (quatro) anos, permitida recondução por
novos processos de escolha.

Nas funções executivas, o Conselho atende o art. 98 do ECA, para aplicação de


medidas de proteção, atendendo crianças consideradas autoras de ato infracional e atende
aos pais e responsáveis para aplicação das medidas do art. 129, I ao VII do mesmo estatuto,
os quais podem se inserir na infração administrativa prevista no art. 249, caso não atendam
as determinações do Conselho.

Em continuidade, o Conselho Tutelar, além das atribuições do art. 136 do referido


estatuto, também tem a função de fiscalizar a atuação das instituições de atendimento, na
forma dos arts. 95 e seguintes do ECA, e pode, ainda, por meio de representação, dar início
ao procedimento de apuração de irregularidades nestas instituições, na forma do art. 191 do
mesmo estatuto.

O Conselho Tutelar, no exercício de suas atribuições, fica submetido à regra de


competência do art. 147 do ECA. Já o art. 140 estabelece um rol de impedimento para os
conselheiros. Assim:

Art. 140. São impedidos de servir no mesmo conselho marido e mulher,


ascendentes e descendentes, sogro e genro ou nora, irmãos, cunhados,
durante o cunhadio, tio e sobrinho, padrasto ou madrasta e enteado.

Parágrafo único. Estende-se o impedimento do conselheiro, na forma deste


artigo, em relação à autoridade judiciária e ao representante do Ministério
Público com atuação na Justiça da Infância e da Juventude, em exercício na
comarca, foro regional ou distrital.

O Conselho Tutelar que se organiza tão somente no âmbito do Município, atende a um


princípio de desjudicialização, embora suas decisões possam ser judicialmente revistas a
pedido de quem tenha legítimo interesse.

61
Mapa Mental

Conselho Tutelar

Órgão não
Princípios
jurisdicional

Zela pelos
direitos da Fiscaliza
Âmbito criança instituições
Permanência Autonomia Desjudicialização
municipal de
e do atendimento
adolescente

62
Referências Bibliográficas

BORDALLO, Galdino Augusto Coelho. Ação civil pública. In: MACIEL, Kátia Regina Ferreira
Lobo Andrade. Curso de Direito da Criança e do Adolescente. São Paulo: Saraiva, 2019.

TAVARES, Patrícia Silveira. O conselho tutelar. In: MACIEL, Kátia Regina Ferreira Lobo
Andrade. Curso de Direito da Criança e do Adolescente. São Paulo: Saraiva, 2019.

TAVARES, Patrícia Silveira. Os conselhos dos direitos da criança e do adolescente. In:


MACIEL, Kátia Regina Ferreira Lobo Andrade. Curso de Direito da Criança e do
Adolescente. São Paulo: Saraiva, 2019.

63
12. Medidas Pertinentes aos Pais ou Responsáveis
Com o intuito de garantir a proteção à criança e ao adolescente, ainda que se saiba das
condições em que estes podem se encontrar quanto ao ambiente familiar ou social, foram
estabelecidas normas das quais, mediante a sistematização institucional, medidas pertinentes
aos pais ou responsáveis.

Quanto as disposições supracitadas, inicialmente cabe analisar o texto constante do art.


129 do ECA, in verbis:

Art. 129. São medidas aplicáveis aos pais ou responsável:

I – encaminhamento a serviço e programas oficiais ou comunitários de


proteção, apoio e promoção da família;

II – inclusão em programa oficial ou comunitário de auxílio, orientação e


tratamento a alcoólatras e toxicômanos;

III – encaminhamento a tratamento psicológico ou psiquiátrico;

IV – encaminhamento a cursos ou programas de orientação;

V – obrigação de matricular o filho ou pupilo e acompanhar sua frequência e


aproveitamento escolar;

VI – obrigação de encaminhar a criança ou adolescente a tratamento


especializado;

VII – advertência;

VIII – perda da guarda;

IX – destituição da tutela;

X – suspensão ou destituição do poder familiar.

Parágrafo único. Na aplicação das medidas previstas nos incisos IX e X deste


artigo, observar-se-á o disposto nos arts. 23 e 24.

As circunstâncias das quais envolvem tais medidas são específicas e por ter o principal
objetivo de garantir a proteção integral da criança e do adolescente (AMIN, 2019), não
somente o estatuto, mas também os programas são direcionados também aos pais e
responsáveis, posto que são instituídos meios de inclusão, auxílio, orientação, bem como

64
tratamento e orientação para que haja a possibilidade de retomar suas atividades e
restabelecer o ambiente familiar ou social.

Os programas e as medidas pertinentes aos pais e responsáveis determinam quais os


procedimentos pelos quais estes têm obrigação para com a criança e adolescente, mas,
sobretudo, visa a garantia de que estes não corram riscos de violação física, emocional e dos
seus direitos.

Em observação ao art. 129, supracitado,

Nota-se que algumas dessas medidas, diferentemente do sistema anterior, tem


caráter nitidamente protetivo e pedagógico, o que demonstra o
reconhecimento, pelo legislador, que, por vezes, mais vale também investir e
proteger a toda a família do que simplesmente punir os seus integrantes adultos
(TAVARES, 2019).

Contudo, cabe destacar que, não somente as medidas tratam das necessidades das
crianças e adolescentes em assistência aos pais e responsáveis, como também impõe a
obrigação destes, sob pena de incorrer em infração administrativa, inclusive quanto a
reincidência do ato, em conformidade com o art. 249 do ECA, que estabelece:

Art. 249. Descumprir, dolosamente ou culposamente, os deveres inerentes ao


poder familiar ou decorrente de tutela ou guarda, bem assim determinação da
autoridade judiciária ou Conselho Tutelar.

Pena – multa de três a vinte salários de referência, aplicando-se o dobro em


caso de reincidência.

As medidas das quais estão determinadas no estatuto supracitado, não somente


responsabiliza aos pais e integrantes familiares, como também envolve os agentes públicos
que executam as medidas e as pessoas encarregadas dos cuidados e assistência às crianças
e aos adolescentes, disposição do próprio ECA, no art. 18-B, como segue:

Art. 18-B. Os pais, os integrantes da família ampliada, os responsáveis, os


agentes públicos executores de medidas socioeducativas ou qualquer pessoa
encarregada de cuidar de crianças e de adolescentes, trata-los, educá-los ou
protege-los que utilizarem castigo físico ou tratamento cruel degradante como
formas de correção, disciplina, educação ou qualquer outro pretexto estarão
sujeitos, sem prejuízo de outras sanções cabíveis, às seguintes medidas, que
serão aplicadas de acordo com a gravidade do caso:

I – encaminhamento a programa oficial ou comunitário de proteção à família;

II – encaminhamento a tratamento psicológico ou psiquiátrico;

III – encaminhamento a cursos ou programas de orientação;


65
IV – obrigação de encaminhar a criança e tratamento especializado;

V – advertência.

Parágrafo único. As medidas previstas neste artigo serão aplicadas pelo


Conselho Tutelar, sem prejuízo de outras providências legais.

Cumpre frisar que as medidas determinam os cuidados e assistência de forma mais


abrangente quanto é possível, tendo em vista envolver também a educação e a proteção sem
que se faça uso da violência física ou psicológica, diante da avaliação individual dos casos
que direcionarão quais ações deverão providenciar o Conselho Tutelar, sem que outras
providências legais cabíveis sejam prejudicadas (TAVARES, 2019).

Com isto posto, conclui-se que o ECA, à luz dos princípios constitucionais norteadores
de toda a proteção à criança e ao adolescente, bem como a assistência e o cuidado aos seus
pais ou responsáveis, visa garantir que as medidas analisadas tenham eficácia e os infanto-
juvenis tenham preservada a sua integridade.

66
Mapa Mental

MEDIDAS PERTINENTES AOS PAIS OU


RESPONSÁVEIS

Medidas aplicáveis

Serviços e programas oficiais ou


comunitários

Tratamento psicológico ou psiquiátrico

Cursos ou programas de orientação

Obrigação e acompanhamento escolar e


tratamento especializado

Advertência

Perda da guarda, destituição tutelar,


suspensão ou destituição do poder
familiar

67
Referências Bibliográficas

AMIN, Andréa Rodrigues. Doutrina da proteção integral. In: MACIEL, Kátia Regina Ferreira
Lobo Andrade. Curso de Direito da Criança e do Adolescente. São Paulo: Saraiva, 2019.

TAVARES, Patrícia Silveira. As medidas pertinentes aos pais, responsáveis ou outras pessoas
encarregadas do cuidado de criança e adolescente. In: MACIEL, Kátia Regina Ferreira Lobo
Andrade. Curso de Direito da Criança e do Adolescente. São Paulo: Saraiva, 2019.

______. O Conselho Tutelar. In: MACIEL, Kátia Regina Ferreira Lobo Andrade. Curso de
Direito da Criança e do Adolescente. São Paulo: Saraiva, 2019.

68
13. Ato Infracional
O termo “menor”, estigmatizado, não foi mais utilizado. Logo, a lei conceitua
tecnicamente “criança e adolescente”, conforme o art. 2º do ECA. Como dito anteriormente,
criança é a pessoa com idade máxima de 12 anos incompletos e adolescente é a pessoa com
idade entre 12 e 18 anos incompletos (AMIN, 2019).

Para os efeitos do ato infracional, nos termos do parágrafo único do art. 104 do
supracitado estatuto, considera-se a idade ao tempo do fato. Toma-se por exemplo: praticada
a conduta com 11 anos de idade, mesmo que o indivíduo já tenha completado 12 anos, será,
então, atendido como criança e não será submetido a medidas socioeducativas; o mesmo vai
ocorrer com o adolescente.

O ECA, nos casos expressos em lei, também se aplica na proteção de adultos entre 18
a 21 anos de idade, nos termos do parágrafo único do art. 2º do ECA.

Para ilustrar a referida situação, toma-se o seguinte exemplo; a aplicação de medida


socioeducativa de internação até 21 anos de idade quando será compulsoriamente liberado
(art. 121, § 5º do ECA); a adoção quando o indivíduo, ao tempo de sua adolescência, já estava
sob a guarda ou a tutela dos adotantes.

Alguns documentos internacionais referem-se tão somente ao termo “criança” para


destacar pessoa com idade até 18 anos incompletos. Contudo, prevalece a distinção de
criança e adolescente que é feita pela CF e somente explicitada no ECA, eis que atende às
peculiaridades nacionais.

Quanto à prática do ato infracional, inicialmente define-se como o crime ou a


contravenção penal praticada pela criança ou adolescente (RAMOS, 2019). Portanto, segue
os princípios da legalidade e da tipicidade. Aqui só não está prevista a imputabilidade
(ausência do juízo de culpa.

O parágrafo único do art. 104 do ECA deixa clara a adoção da teoria da atividade para
o tempo do crime. Desta forma, considera-se praticado o ato infracional na data do fato.

O art. 103 do mesmo estatuto considera a conduta descrita como crime ou


contravenção penal. Todavia, para que a conduta se configure em ato infracional, este deverá
também ser antijurídica e socialmente reprovável (MORAES; RAMOS, 2019).

As normas penais referentes à estrutura do crime serão pertinentes na disciplina do ato


infracional, ou seja, tipicidade, antijuridicidade e culpabilidade.

69
Pende controvérsia na doutrina sobre a existência ou não no ECA de um verdadeiro
direito penal juvenil, eis que o ato infracional se assemelha às infrações penais e às medidas
socioeducativas, aplicáveis somente à adolescentes, assemelham-se às penas criminais (art.
112 do ECA), bem como o procedimento de apuração do ato praticado pelo adolescente, em
muito se parece a um verdadeiro processo penal.

De outro lado, há quem sustente o translado de normas penais para o ECA, não
descaracterizando sua natureza especial socioeducativa que visa não somente apurar o que
o adolescente fez e puni-lo, mas, sobretudo, lhe dar o conteúdo educativo necessário para
que ele não repita o ato.

Há divergência na doutrina e na jurisprudência quanto ao critério de contagem do prazo


prescricional do ato infracional praticado. O AgRg no REsp. nº 940.341/RS consigna o
posicionamento majoritário do STJ: parte-se do prazo máximo em abstrato de 3 anos
(internação) e divide pela metade, em função do disposto no CP (redução do prazo
prescricional pela metade, quando o agente for menor de 21 anos).

13.1. Direitos Individuais

Trata-se do direito previsto no ECA em seus arts. 106 a 109, 171 a 190, direcionado à
infrator adolescente, que em suma, determinam o que será visto a seguir.

Pelo art. 106 o adolescente tem direito à liberdade, exceto se por ato infracional
praticado, houver flagrante ou quando o juiz competente determinar sua restrição. Isto porque
o direito constitucional previsto no art. 5º, LXI, prevalece quanto ao direito de ir e vir.
Acrescenta-se, ainda, que o infrator adolescente tem o direito de ter o acompanhamento pelos
seus responsáveis que também devem estar ao par de todas as condições legais disponíveis,
conforme o art. 5º, LXIII e LXIV da CF.

Sendo assim, a privação da comunicação com os responsáveis acerca da apreensão


do adolescente bem como a possibilidade de entrega do adolescente aos seus responsáveis,
mediante o termo de compromisso aprovado pelo Ministério Público, caracterizará ilegalidade
do ato previsto no art. 234 do ECA.

Ademais, devem ser observados também o prazo determinado para a internação do


adolescente, previsto no art. 108 do mesmo estatuto, que não poderá ser superior a 45 dias,
guardadas as observações dispostas no art. 174, última parte, do ECA, posto que deverá ser
preservada a garantia pela segurança pessoal do infrator ou manutenção da ordem pública.
Tal condição, injustificada, configurará o crime previsto no art. 235 do estatuto.
70
No mais, os direitos individuais do adolescente deverão seguir à luz das leis pertinentes
à sua proteção e restabelecimento, como é o caso do adolescente privado de liberdade que
deverá ser submetido às medidas socioeducativas (art. 124), bem como também poderá ter
monitoramento de sua saída, quando o caso de restrição de liberdade para tratamento médico,
doença grave, falecimento de familiares (arts. 50 e 121).

Importante também é o direito do adolescente privado de liberdade em ter


escolarização e profissionalização, fundados nos arts. 123, XI do ECA e 227, 206, I e II e 208,
I e V da nossa Carta Magna.

Assim, qualquer ato que restrinja a liberdade do adolescente infrator deverá seguir à
luz dos princípios da brevidade, da excepcionalidade e respeito às condições específicas do
adolescente enquanto um indivíduo em fase de desenvolvimento.

13.2. Garantias Processuais

Previstas nos arts. 110 e 111 do ECA, trata-se da determinação legal de que o
adolescente deva ter seus direitos respeitados no que diz respeito à privação de sua liberdade
mediante o processo legal, bem como procedimentos probatórios, implementação de medidas
socioeducativas e defesa por profissional habilitado (art. 227, § 3º, IV, CF).

As garantias processuais destinadas ao adolescente também envolvem o direito de


defesa, de ser ouvido e, inclusive, ter um defensor nomeado pelo juiz quando não houver um
para representá-lo (art. 207 e § 1º, ECA).

Por fim, o adolescente autor de ato infracional tem o direito de ter acompanhamento e
presença de seus responsáveis em qualquer momento processual, posto que o objetivo aqui
é o apoio familiar como parte da medida socioeducativa.

71
Mapa Mental

Ato
infracional

Prática da criança Garantias


Segue princípios Direitos individuais
ou do adolescente processuais

Crime Legalidade

Contravenção penal
Tipicidade

72
Referências Bibliográficas

AMIN, Andréa Rodrigues. Doutrina da proteção integral. In: MACIEL, Kátia Regina Ferreira
Lobo Andrade. Curso de Direito da Criança e do Adolescente. São Paulo: Saraiva, 2019.

MORAES, Bianca Mota de; RAMOS, Helane Vieira. A prática de ato infracional. In: MACIEL,
Kátia Regina Ferreira Lobo Andrade. Curso de Direito da Criança e do Adolescente. São
Paulo: Saraiva, 2019.

RAMOS, Bianca Mota de Moraes Helane Vieira. A prática de ato infracional. In: MACIEL, Kátia
Regina Ferreira Lobo Andrade. Curso de Direito da Criança e do Adolescente. São Paulo:
Saraiva, 2019.

73
14. Medidas Socioeducativas
As medidas socioeducativas são aquelas elencadas no art. 112, I a VI do ECA, cuja
natureza jurídica é mista, devido ao seguinte: são aflitivas, mas, na essência, encerram um
verdadeiro processo pedagógico; tem característica retributiva porque é a resposta
proporcional do Estado frente ao ato de desvalor social que representa o ato infracional
(MORAES; RAMOS, 2019).

Isto posto, cabe enfatizar os pressupostos e os critérios gerais para a aplicação das
medidas socioeducativas.

Trata-se de medida que será sempre aplicada pelo juiz (Súmula nº 108 do STJ) e
pressupõe a prova da autoria e da materialidade do ato infracional, salvo nos casos de
remissão e no caso da medida de advertência, que se contenta com meros indícios de autoria
e prova da materialidade.

A gravidade e as circunstâncias do ato infracional, bem como a capacidade do


adolescente em cumprir a medida são os critérios para se buscar a aplicação da medida
adequada dentre aquelas previstas no art. 112 do ECA (RAMOS, 2019).

No tocante à competência, a Súmula nº 108 do STJ determina que seja sempre do juiz.
Na remissão, o membro do MP só não pode aplicar medida que leve à privação da liberdade
(art. 127 do ECA). Ainda assim, não vai contra a referida súmula, pois o art. 181 impõe a
homologação da remissão pelo juiz.

A gravidade será medida, a princípio, pelo exame do preceito secundário da norma


penal incriminadora que corresponder ao ato infracional (sistema trifásico). As circunstâncias
são os aspectos que gravitam em torno do ato infracional e influenciam a sua reprovabilidade
social.

São exemplos as circunstâncias judiciais do art. 59 do Código Penal (CP), as


agravantes e atenuantes dos arts. 61, 62, 65 e 66 do CP, bem como as causas de aumento e
diminuição gerais ou especiais.

A capacidade do adolescente em cumprir sua medida será examinada pelas suas


condições sociais e seu histórico. Conjugados estes critérios gerais, será aplicada uma ou
mais medidas preventivas constantes do art. 112 do ECA, conforme as necessidades
pedagógicas do adolescente e os reclamos de proteção social.

74
14.1. Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo

É parte integrante de uma rede de atendimento em território nacional desenvolvidas


prioritariamente pelos operadores do Sistema de Garanti dos Direitos.

Isto significa dizer que, diante do art. 87, III a VII do ECA, as ações específicas a serem
implementadas com respeito às peculiaridades do adolescente e pautados na legislação, o
Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo (SINASE) trabalha em conjunto com o
Sistema Único de Saúde (SUS) e o Sistema Único de Assistência Social (SUAS) com o
objetivo de operar as políticas públicas de saúde, assistência social e cuidados ao adolescente
autor de atos infracionais (TAVARES, 2019).

14.2. Advertência

A medida de advertência está regulamentada pelos arts. 114 e 115 do ECA e se trata
da admoestação verbal do adolescente, reduzida a termo no processo, devendo ser aplicada
pelo juiz diretamente ao adolescente.

14.3. Obrigação de Reparar o Dano

A referida obrigação é determinada pelo art. 116 do ECA. Trata-se do instituto aplicável
quando o ato infracional gerar prejuízo ao ofendido. Dever real sobre o adolescente, e no caso
de impossibilidade de aplicação, outra medida deve ser escolhida. O ofendido sempre terá a
possibilidade de buscar integração dos seus prejuízos na seara cível.

14.4. Prestação de Serviços à Comunidade

A supracitada medida está estabelecida no art. 117 do ECA e trata-se da realização de


tarefas gerais à título gratuito, pelo período máximo de 6 meses e cuja jornada não seja
superior a 8 horas semanais, podendo ser cumpridas nos dias úteis, finais de semana e
feriados.

Vale observar que não pode a prestação interferir no horário escolar ou prejudicar a
atividade laborativa do adolescente. As tarefas não podem ser cumpridas em condições de
insalubridade, periculosidade, penosidade ou durante o período noturno, em interpretação
analógica com as restrições do trabalho do adolescente.

14.5. Liberdade Assistida

Regulamentada pelo art. 117 do ECA, esta medida tem como característica o fato de o
adolescente ser acompanhado e auxiliado pelo período mínimo de 6 meses por pessoa

75
designada pelo juiz, denominado orientador de liberdade assistida, cujas funções estão
previstas no art. 119 do mesmo instituto que trata da educação, promoção social e a inversão
no mercado de trabalho.

A liberdade assistida pode ser revogada, prorrogada ou substituída a qualquer tempo,


desde que ouvidos o orientador, o MP e o defensor. O juiz deve decidir fundamentadamente.
A prorrogação não pode alcançar o indivíduo que já atingiu 21 anos de idade. A revogação se
dá quando a medida é inadequada ou cumpriu seus objetivos.

A substituição tem fundamento na inadequação da medida, que pode dar lugar a


qualquer outra. Contudo, a substituição por medida privativa de liberdade não será possível
quando a liberdade assistida foi aplicada por força de remissão ou quando a situação não se
amoldar nos incisos I ou II do art. 122 do ECA.

A substituição, que ora falamos, não se confunde com a internação-sanção/internação-


coerção, prevista no inciso III do art. 122 do ECA, em que o adolescente que descumprir
reiterada e injustificadamente a medida anteriormente imposta pode ser internado por até 3
meses.

14.6. Regime de Semiliberdade

Esta é a medida privativa de liberdade em que, durante parte do dia, o adolescente


pode deixar a unidade para realizar atividades de conteúdo socioeducativos.

A semiliberdade pode ser aplicada desde o início ou como progressão do regime


fechado para o aberto, aplicando-se os princípios referentes à internação, no que for
compatível.

14.7. Internação

A internação é a medida regulada pelo art. 121 do ECA e se trata de medida privativa
de liberdade. Todavia, é permitida a realização de tarefas externas e se o juiz quiser vedá-las,
deverá decidir expressamente.

Isto posto, cabe aqui destacar que a internação é regida por três princípios, quais sejam:

a) brevidade;
b) excepcionalidade; e
c) condição peculiar de pessoa em desenvolvimento.

76
Não há prazo mínimo para a internação, devendo ser reavaliada a situação do menor
a cada 6 meses. Todavia, o ECA estipula o prazo máximo determinando que não pode
ultrapassar 3 anos, sendo compulsória a liberação aos 21 anos.

O art. 122, § 2º do referido estatuto traz o princípio da subsidiariedade, posto


estabelecer que a internação só será aplicada quando não houver outra medida cabível para
o menor.

Já o art. 123 do mesmo estatuto estabelece o cumprimento da medida e o art. 123


determina os direitos do interno.

I. princípio da brevidade: a internação não comporta prazo determinado e será


cumprida pelo prazo máximo de 3 anos, reavaliada a cada 6 meses e mediante
decisão judicial fundamentada;

O período de 3 anos se inicia com a sentença condenatória e nele deve ser computado o
tempo de eventual internação provisória. Mesmo cumpridos os 3 anos, se sobrevier nova
sentença condenatória, é possível que haja nova internação.

De qualquer forma, o adolescente será liberado compulsoriamente aos 21 anos de idade,


não se dispensando a decisão judicial para tal ato (art. 121, § 5º do ECA).

II. princípio da excepcionalidade: a medida de internação tem caráter residual e só


deverá ser aplicada quando não houver outra mais adequada. O caso para sujeitar
a internação deve se enquadrar nos incisos I ou II do art. 122 do ECA, além de,
após a conjugação dos critérios gerais do art. 112, § 1º, se extrair alta
reprovabilidade social e potencialidade lesiva;

o inciso I do art. 122 do ECA trata do ato infracional praticado com violência ou grave
ameaça contra a pessoa. Toma-se como exemplo: roubo (art. 157 do CP), homicídio (art. 121
do CP), estupro etc.

O Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP) aplicou internação em alguns casos de tráfico
de drogas, contudo, tais decisões foram cassadas pelo STJ por falta de adequação com o
dispositivo em estudo e ofensa aos princípios da legalidade e da excepcionalidade.

O inciso II do art. 122 do ECA verifica a reiteração na prática de outros atos infracionais
graves. Outros atos infracionais graves para a doutrina são os crimes punidos com reclusão,
praticados sem violência ou grave ameaça contra a pessoa. Toma-se como exemplo: tráfico
de drogas, porte ilegal de arma, furto, receptação etc.

77
Para parte da doutrina, reiteração é o mesmo que reincidência, a qual é definida na parte
geral do CP., contudo, o legislador do ECA que usou o termo reincidência expressamente no
capítulo das Infrações Administrativas, tendo como causa de aumento de pena, se quisesse,
utilizaria o termo aqui também, porém, não o fez.

Para outros, então, reiteração é apenas a prática sucessiva de atos infracionais,


comprovados por sentença condenatória, sem a necessidade dos critérios técnicos da
reincidência.

III. condição peculiar de pessoa em desenvolvimento: o adolescente internado


deve ser destinatário de diversas ações e serviços que propiciem a sua evolução
como pessoa humana no exato teor do previsto nos arts. 123, 124 e 125 do ECA,
além dos arts. 93 e 94 da mesma lei.

A entidade que desentender a obrigação, se sujeita à atividade fiscalizatória do MP, do


Poder Judiciário e do Conselho Tutelar, nos termos dos arts. 95 e 97 do ECA, podendo se
submeter ao procedimento previsto nos arts. 191 a 193 do ECA, para aplicação de
penalidades administrativas.

78
Mapa Mental

MEDIDAS
SOCIOEDUCATIVAS

CARACTERÍSTICAS MEDIDAS PRESSUPOSTOS JUIZ

Aflitiva Advertência Autoria e


materialidade Competência

Retributiva Obrigação de
reparar o dano Gravidade e Possibilidade
circunstâncias de remissão
Prestação de
serviço à
comunidade Capacidade

Liberdade
assistida

Regime de
semiliberdade

Internação

79
Referências Bibliográficas

MORAES, Bianca Mota de; RAMOS, Helane Vieira. A prática de ato infracional. In: MACIEL,
Kátia Regina Ferreira Lobo Andrade. Curso de Direito da Criança e do Adolescente. São
Paulo: Saraiva, 2019.

RAMOS, Bianca Mota de Moraes Helane Vieira. A prática de ato infracional. In: MACIEL, Kátia
Regina Ferreira Lobo Andrade. Curso de Direito da Criança e do Adolescente. São Paulo:
Saraiva, 2019.

TAVARES, Patrícia Silveira. A política de atendimento. In: MACIEL, Kátia Regina Ferreira
Lobo Andrade. Curso de Direito da Criança e do Adolescente. São Paulo: Saraiva, 2019.

80
15. Acesso à Justiça
O acesso à justiça diz respeito ao princípio constitucional disposto no art. 5º, XXXV que
leva em consideração a “eficaz aplicação do princípio do devido processo legal como um
processo justo” (BORDALLO, 2019).

Segundo a doutrina, o princípio do devido processo legal possui duas atribuições,


considerando que justiça é sinônimo de Poder Judiciário, bem como significa acesso em
questões de valores e direitos pautados na dignidade humana.

Não somente em relação ao princípio supracitado, o acesso à justiça também tem por
fundamentos os princípios da igualdade, do contraditório, do juiz e promotor natural,
motivações das decisões, da publicidade e tempestividade da tutela jurisdicional.

15.1. Justiça da Infância e da Juventude

Trata-se de jurisdição de competência exclusiva do Poder Judiciário, cujas características


principais envolvem a distribuição e setorização, ou seja, diante do perfil de modalidades, são
divididas por matéria e local. Logo, a depender da comarca, poderão existir uma ou mais Varas
da Família, da Fazenda Pública, Vara Criminal e Varas da Infância e da Juventude. Assim, a
Justiça da Infância e da Juventude possui sua regulamentação nos arts. 148 a 151 do ECA.

15.2. Recursos

Determina o art. 109 do ECA que será aplicado, em matéria de recursos, o Código de
Processo Civil (CPC), com as adaptações que se fizerem necessárias. Por isso, na sistemática
do referido estatuto, o MP também terá prazo em dobro. Está dispensado o preparo e admite-
se haja o juízo de retratação (efeito regressivo ou iterativo).

De uma forma geral, os recursos aqui mencionados envolvem, a unicidade do sistema,


bem como o preparo, a tempestividade, os efeitos e ao juízo de retratação, à luz da
regulamentação constitucional e processual (BORDALLO, 2019).

15.3. Ministério Público

O promotor de justiça procederá à oitiva informal do adolescente, seus pais ou


responsável, bem como vítima e testemunhas, se possível. Caso o adolescente não
compareça, deverá ser notificado e, caso necessário, conduzido coercitivamente com o auxílio
policial.

81
Feita a audiência e a vista dos demais elementos, o promotor, em regra, terá três
opções:

a) arquivamento (será arquivado o procedimento quando não coexistirem


as condições da ação. Por exemplo: criança ou adulto ao tempo do fato;
fato atípico);
b) remissão (é processada de modo semelhante ao arquivamento (art. 181
e parágrafos do ECA). A remissão tem natureza jurídica dupla: perdão,
quando aplicada isoladamente ou mitigação dos efeitos do ato infracional,
quando vier acompanhada de medida em meio aberto.);
c) ou oferecimento de ação socioeducativa pública, através de peça
denominada “representação” (essa é a “denúncia” do ato processual).

O arquivamento deve ser fundamentado e será processado na forma do art. 181 e


parágrafos do ECA, que adotou fórmula semelhante ao art. 28 do Código de Processo Penal
(CPP).

A remissão pressupõe a pequena potencialidade lesiva do fato, medida segundo os


critérios do art. 126 e seguintes do ECA, que são absolutamente individualizadores.

A remissão com inclusão de medida deve ser homologada pelo juiz, que deverá ser seu
executor (Súmula nº 108 do STJ). A remissão não pressupõe reconhecimento de culpa e não
gera antecedentes. A medida aplicada poderá ser revista judicialmente.

A remissão aplicada pelo MP excluirá o processo. Há ainda a remissão judicial para a


suspensão ou extinção do processo, conforme venha ou não acompanhada de medida que
se protraia no tempo.

Os efeitos da remissão judicial são os mesmos da remissão do MP (antecedentes, não


tem culpa etc.). na remissão, verifica-se que, embora presentes as condições da ação, ela é
desnecessária e inconveniente. Daí a atenuação regrada do princípio da obrigatoriedade.

O oferecimento de ação socioeducativa: é sempre pública, eis que prevalece o


interesse público. O ECA não prevê ação privada ou dependente de manifestação do
ofendido.

A peça processual denomina-se “representação”, que é semelhante à denúncia. Deve


conter descrição dos fatos, sua classificação jurídica e o pedido de aplicação de medida, bem

82
como o rol de testemunhas, cujo número subsidiariamente define-se pelo CPP (8 ou 5,
conforme a pena abstrata prevista para a infração).

Pode ainda ser oferecida por escrito ou oralmente e não depende de prova pré-
constituída da autoria e da materialidade do ato infracional (art. 182, ECA). Na realidade, isso
sinaliza tão somente a adoção pelo legislador do sistema acusatório puro em que a prova do
juízo de culpa é aquela produzida sob o manto do contraditório.

Se o adolescente está apreendido, ou solto, deverá a situação enquadrar-se no art. 108


do ECA: presentes indícios de autoria e prova da materialidade do fato, bem como a
necessidade imperiosa da medida (por exemplo: hipóteses do art. 312 do CPP). O promotor
deve dispor a esse respeito ao oferecer a representação e o juiz decidirá à luz do referido
dispositivo (art. 108), fundamentadamente.

A internação provisória deve ser cumprida em estabelecimento adequado e durará no


máximo 45 dias. A entidade deve se situar o mais próximo possível da residência do
adolescente e na ausência, admite-se repartição policial por até 5 dias, em local separado dos
adultos.

15.4. Proteção Judicial dos Interesses Individuais, Difusos e Coletivos

Anteriormente regulamentado pelo Código de Menores, a proteção às crianças e ao


adolescente tratava somente dos casos em que se encontravam em condições irregulares.
Porém, diante da doutrina da proteção integral, a abrangência ampliada envolve, atualmente,
a todas as crianças e adolescentes, incluindo no rol de direitos e justiça, os assuntos
pertinentes à família (AMIN, 2019).

83
Mapa Mental

Acesso à
Justiça

Proteção judicial
Justiça da
dos interesses
Infância e da Recursos Ministério Público
individuais,
Juventude
difusos e coletivos

84
Referências Bibliográficas

BORDALLO, Galdino Augusto Coelho. Os princípios constitucionais do processo. In: MACIEL,


Kátia Regina Ferreira Lobo Andrade. Curso de Direito da Criança e do Adolescente. São
Paulo: Saraiva, 2019.

BORDALLO, Galdino Augusto Coelho. Recursos. In: MACIEL, Kátia Regina Ferreira Lobo
Andrade. Curso de Direito da Criança e do Adolescente. São Paulo: Saraiva, 2019.

AMIN, Andréa Rodrigues. Princípios orientadores do direito da criança e do adolescente. In:


MACIEL, Kátia Regina Ferreira Lobo Andrade. Curso de Direito da Criança e do
Adolescente. São Paulo: Saraiva, 2019.

85
16. Procedimentos do Estatuto da Criança e do Adolescente

Os procedimentos do ECA envolvem a perda e suspensão do poder familiar, a


colocação em família substituta, a habilitação para adoção, bem como a apuração de ato
infracional atribuído a adolescente, apuração de irregularidades em Entidade de Atendimento,
apuração de infração administrativa às normas de proteção à criança e ao adolescente,
infiltração de agentes para investigação de crimes contra a dignidade sexual de criança e
adolescente.

16.1. Perda e Suspensão do Poder Familiar

Com fulcro ao art. 24 do ECA, a previsão é de que, ao descumprir com os deveres e


obrigações para com a criança ou adolescente, há o afastamento legal do poder familiar dos
pais ou responsáveis (MACIEL, 2019).

Ademais, o art. 22 do mesmo estatuto determina que as condições para os casos de


destituição do poder familiar deverão observar ao Código Civil, cujo art. 1.638 arrola as
hipóteses da perda da autoridade parental, quais sejam: castigo imoderado, abandono, atos
adversos à moral e aos bons costumes, as faltas reiteradas, a entrega irregular do filho para
adoção, a prática de crimes contra o titular do poder familiar, a prática de crime contra filho ou
outro descendente e a perda do poder familiar diante da legislação penal.

Por outro lado, existem condições específicas que direcionam à suspensão do poder
familiar. O ECA tem caráter protetivo, preventivo e punitivo que, em se tratando dos pais ou
responsáveis que não cumpram com suas obrigações diante da criança ou adolescente em
respeito aos seus direitos fundamentais, independentemente da condição social-financeira a
qual se encontrem.

Para esse caso, o art. 129 do estatuto supra trata do controle direcionado ao exercício
do poder familiar pela sociedade e também pelo poder público, portanto, tornando possível
que a suspensão do poder familiar ocorra de forma a sancionar situações mais graves em
decorrência dos atos dos pais ou responsáveis, devendo correr em procedimento judicial para
que os princípios constitucionais e processuais sejam respeitados.

16.2. Colocação em Família Substituta

Nos termos do apresentado no art. 25 do ECA, segue a mesma orientação do art. 226,
§ 3º e § 4º da CF que ampliou o conceito de família, passando a incluir os conceitos de família

86
extensa ou ampliada. Tanto é assim que o parágrafo único do referido dispositivo prestigia a
afinidade e a afetividade como conceito integrante de família.

No âmbito de família natural, o art. 26 trata do reconhecimento de filhos que possui


regulamentação própria nos arts. 1.607 e 1.617 do CC e art. 1º da Lei nº 8.560/92 (Lei de
Investigação de Paternidade).

Em continuidade, o art. 27 afirma ser o reconhecimento um direito personalíssimo,


indisponível e imprescritível (Súmula nº 149 do STF).

Porém, há duas exceções:

a) o caráter personalíssimo do reconhecimento foi derrogado pela Lei


nº 8.560/92, em seu art. 2º, § 4º e 5º, que arrola o Ministério Público
como legitimado para promover ação de investigação de
paternidade;
b) o art. 1.606 do CC, por sua vez, também traz outros legitimados
ativos (herdeiros dos filhos).

Outro ponto de grande relevância é de que a prioridade é o mantimento da criança e


do adolescente no seio de sua família natural e somente de modo excepcional deve a criança
ou o adolescente ser colocado em família substituta (art. 19 do ECA).

Porém, tendo em vista o atual status de falência de determinadas entidades familiares,


em que não há o mínimo de acomodação para o atendimento sadio quanto à convivência
familiar, se faz necessária a acomodação do infanto em uma família substituta.

As modalidades para colocação em família substituta estão definidas no art. 28 do ECA


a saber: guarda, tutela e adoção.

Seguindo a elucidação da colocação em família substituta e objetivando atender ao


princípio da proteção integral da criança e do adolescente, bem como buscando a lisura no
procedimento de colocação em família substituta, deve-se observar os seguintes critérios
gerais (art. 28 do ECA):

a) prestigiar a vontade da criança e do adolescente: quando


possível, a criança ou o adolescente será previamente ouvido por equipe
interprofissional quanto ao seu interesse na colocação em família
substituta. Tal situação respeitará seu estágio de desenvolvimento e grau

87
de compreensão sobre as implicações da medida, devendo ter sua
opinião devidamente considerada;

Vale observar o seguinte dispositivo: “Art. 28. [...]. § 2º. Tratando-se de maior de 12
(doze) anos de idade, será necessário seu consentimento, colhido em audiência; [...].

No caso especial do adolescente, tratando-se de adoção, deve prestar o seu


consentimento, pois são eles os titulares do direito em questão, que vem previsto no art. 227,
caput da CF que trata do direito à convivência familiar em que deverá conter a manifestação
de vontade que envolve, inclusive, a eventual alteração do prenome, quando do caso de
adoção (art. 28, § 1º do ECA).

Porém, conforme bem coloca a doutrina, o magistrado não se vincula à manifestação


do mesmo, pois, ainda que o consentimento seja colhido em audiência, referida situação é
somente mais um elemento probatório, podendo ser dispensado se os outros elementos mais
relevantes forem preponderantes para o deferimento da colocação em família substituta
(MACIEL, 2019).

b) prioridade da família ampliada, afinidade e afetividade: inicialmente, cumpre-se


registrar que as relações de afinidade e afetividade pré-existentes entre a criança e o
adolescente e a nova família não podem ser descartadas (art. 28, § 3º do ECA);

Tal situação minimiza os traumas da ruptura com a família natural, dispensando a


necessidade de consulta de demais interessados junto à Vara da Infância e Juventude.

Como exemplo, podemos citar a colocação da criança junto à sua família extensa, também
chamada de família ampliada (como o tio, o primo mais velho etc.).

c) os grupos de irmãos: serão colocados sob adoção, tutela ou guarda da mesma família
substituta, preferencialmente, salvo se comprovada existência de risco de abuso ou
outra situação que justifique plenamente a excepcionalidade de solução diversa (art.
28, § 4º do ECA).

Vale enfatizar que as crianças e adolescentes provenientes de quilombos devem,


preferencialmente, ser colocadas no seu âmbito social para preservação de sua cultura, bem
como as provenientes de grupos indígenas, assegurando-lhes a intervenção no processo do
órgão oficial que zela por seus interesses, v. g., a própria Fundação Nacional do Índio (FUNAI)
atuar no processo.

88
Em relação à aptidão dos requerentes, a verificação da família para o acolhimento da
criança e do adolescente tem como base os elementos subjetivos. Todavia, o mais relevante
é a intenção de constituir uma família, bem como a não colocação em ambientes
desfavoráveis, como expostos aos riscos de crimes sexuais, violência doméstica e alcoolismo
(art. 29, ECA).

Tratando-se de adoção, nos termos do art. 43 do ECA, a família substituta deverá atender
aos motivos legítimos e apresentar reais vantagens para o adotado.

O art. 29 do mesmo estatuto fixa os impedimentos da colocação em família substituta. No


art. 167, encontram-se os meios pelos quais é possível avaliar as condições da provável
família substituta, o que será feito através de estudos sociais ou de perícia, após os quais,
pode-se concluir pela inadequação da medida.

O art. 30 prevê as hipóteses de perda da condição de família substituta que se dará


obrigatoriamente por ordem do juiz, decisão que pressupõe a instauração de procedimento
judicial revestido de garantia do contraditório (o representante da família terá o direito de se
opor).

O art. 93 do estatuto supracitado dispõe que as entidades podem, em casos excepcionais,


abrigar criança ou adolescente independentemente de autorização judicial, o que se dará em
forma transitória. A comunicação do fato deve ser feita em 24 horas.

O art. 100 do ECA arrola os princípios que devem ser observados na aplicação das
mencionadas medidas. Dentre eles ressalta-se a participação do menor no processo de
colocação em família substituta. Também caberá ao juiz analisar as circunstâncias do caso
concreto.

A conjugação desses critérios gerais e ainda dos critérios específicos de cada forma de
colocação em família substituta permitirão a escolha da família mais adequada à criança e ao
adolescente.

Deverão ser respeitadas as raízes culturais da criança e do adolescente. Sempre que


possível, eles serão colocados em famílias substitutas da mesma comunidade (por exemplo:
menores indígenas ou remanescentes de quilombos).

A colocação em família substituta não admitirá que haja transferência da criança ou do


adolescente a terceiros ou a entidades governamentais ou mesmo as não-governamentais,
sem que haja a autorização judicial para praticar tal ato (art. 30, ECA).

89
No mais, a colocação em família substituta estrangeira constitui medida excepcional e
somente será admissível na modalidade de adoção (art. 31, ECA).

16.3. Habilitação para Adoção

Inicialmente, toma-se o rol de requisitos quanto ao adotante, quais sejam:

a) a adoção é ato pessoa, ou seja, personalíssimo, dependendo do


comparecimento pessoal do adotante, em especial quando de
providências específicas como estudo psicossocial, sendo vedada a
adoção por procuração (art. 39, § 2º, ECA);

Não obstante, nada impede a adoção através de advogado constituído em procuração


ad judicia, embora já se exigiu que os adotantes subscrevessem conjuntamente a inicial. O
art. 166 do ECA autoriza aos requerentes que formulem o pedido diretamente em cartório,
sem necessidade de assistência do advogado quando não há litigiosidade, porém, isso é mera
liberalidade legal.

b) a idade mínima para adotar é de 18 anos (art. 42, ECA), bem como
a distinção de idade entre adotante e adotado deverá ser de, no mínimo,
16 anos (art. 42, § 3º, ECA). No caso de cônjuges, quando um deles
não cumprir esse requisito mínimo, as condições do outro poderá suprir
a referida necessidade;
c) os casais em matrimônio ou em união estável podem adotar
conjuntamente, desde que tenham estabilidade conjugal, condição que
será comprovada principalmente pelo estudo técnico realizado pelo
juízo ao tempo da habilitação e durante o processo de adoção (art. 42,
§ 2º, ECA);

Nesta seara, a jurisprudência, de forma muito tímida, já havia deferido a possibilidade


da adoção por casais homoafetivos sob o fundamento na família socioafetiva e na
necessidade da criança e do adolescente.

Porém, quanto a essa impossibilidade, entende-se que tal discussão se encontra


sepultada, tendo em vista o julgamento da Arguição de Descumprimento de Preceito
Fundamental (ADPF) 132/RS pelo STF, em que estende todas as regras relativas à união
estável heterossexual e às uniões homoafetivas.

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d) casais divorciados, separados judicialmente ou que dissolveram
sua união estável também podem adotar conjuntamente, conforme o
art. 42, § 4º do ECA. Porém, tal situação deve ser aplicada
incidentalmente nas hipóteses em que o adotado já convivia com os
adotantes no tempo em que eram unidos e se verifique entre todos,
relação de afinidade e afetividade;

O casal deve apresentar acordo prévio em relação à guarda e visitas, e a guarda


compartilhada pode ser aplicada se for do interesse do adotado.

e) vantagem para o adotante é requisito fundamental para o processo


de adoção, o que prestigia a doutrina da proteção integral (art. 43, ECA);
f) para adotar os tutores e curadores que queiram adotar deverão
prestar contas de sua administração patrimonial e saldar eventuais
prejuízos (art. 44, ECA);
g) poderá ser deferida a adoção quando o interessado que, após
inequívoca manifestação de vontade, vier a morrer no curso do
procedimento, situação que é denominada de adoção póstuma ou post
mortem, conforme o art. 42, § 6º do ECA.

A referida manifestação poderá ser realizada de forma escrita ou oral. Tem-se como
exemplo a seguinte situação: o interessado subscreveu a petição inicial, foi ouvido em
audiência e já se aceitou a manifestação em processo anterior referente à guarda para fins de
adoção.

Nesta situação, os herdeiros não podem se opor por ausência de legitimidade. A


adoção, neste caso, deve também atender aos demais requisitos legais e apresentar reais
vantagens para o adotado.

Se for feito o pedido para o casal e o supérstite não tem interesse no prosseguimento,
a adoção não pode prosperar unilateralmente porque dependeria, para tanto, da autorização
do cônjuge ou convivente (art. 165, ECA).

Agora, tratemos dos requisitos quanto ao adotado:

a) somente as crianças ou adolescentes podem ser adotadas, nos termos


do art. 2º do ECA. Todavia, o parágrafo único do referido artigo
especifica essa possibilidade entre pessoas com idade de 18 e 21 anos,

91
desde que já estivessem sob a convivência dos adotantes ao tempo da
infância ou adolescência;

Nessa seara, dois são os reflexos importantes: o primeiro deles é que a adoção do
adulto, que em regra era regulada pelo CC, passa a ser regulamentada pelo ECA, no que
couber (art. 1.619), bem como em um segundo momento, quanto ao tocante do nascituro, o
ECA não traz nenhuma referência em relação à sua possibilidade, e sendo assim, resta
impossível o procedimento.

b) o adotando, seja criança ou adolescente, deve manifestar durante o


processo, seu interesse na medida. Porém, conforme o art. 45, § 2º do
ECA, o adolescente, em especial, deve prestar consentimento em juízo;

De qualquer forma, há que se ter cuidado com o acolhimento de sua vontade,


respeitando a sua maturidade e seu grau de desenvolvimento.

c) adotados provenientes de grupos indígenas ou quilombos devem ter


sua situação especial respeitada, na forma da Lei nº 1.210/2009;
d) o adotado, em regra, deve ser criança ou adolescente inscrito no
cadastro da Vara da Infância e apto para ser adotado, tendo se
desvinculado de sua família biológica pela destituição ou extinção do
poder familiar. A exceção se encontra quando há consentimento dos
pais.

Sendo assim, a adoção é um ato personalíssimo, pelo que, não pode ser feita por
procuração. Para indivíduos até 18 anos, processa-se junto à Vara da infância e da Juventude;
para maiores, é da competência da Vara da Família (art. 40).

Pessoas ou casais que queira adotar, deverão, a priori, cadastrar-se perante a Vara da
Infância e da Juventude, nos termos dos arts. 50 (adoção nacional) e 51 (adoção internacional)
do ECA.

Rege-se pela isonomia (art. 41 do ECA e 227, § 6º da CF), restando apenas a restrição
quanto aos impedimentos matrimoniais (art. 1.521 do CC) em relação à família natural.

16.4. Apuração de Ato Infracional Atribuído a Adolescente

O adolescente será submetido a uma atividade persecutória do Estado. Trata-se da


persecução socioeducativa que se desenvolve em duas etapas: pré-processual e processual.

Na etapa pré-processual atual a polícia e o MP em fases subsequentes.


92
Na etapa processual, optou-se pelo sistema acusatório, cabendo ao MP a titularidade
exclusiva da ação socioeducativa, que é sempre pública e ao réu adolescente asseguram-se
os direitos indisponíveis (art. 106 a 109) e as garantias processuais (art. 110 e 111) constantes
no ECA.

O julgamento caberá ao juiz da Infância e da Juventude, cuja competência é firmada


pelo art. 148, I e II do ECA.

Em relação ao procedimento de apuração do ato infracional, divide-se em dois


momentos básicos que devem ser estudados pontualmente: a etapa pré-processual que se
subdivide em fase policial e a fase do MP, bem como a fase processual.

Na etapa pré-processual, conforme apontado, tem dois momentos: a fase policial e a


de preponderância do MP.

Na fase policial, temos as seguintes hipóteses:

a) fora da situação de flagrante: a polícia judiciária, tomando


conhecimento do ato infracional praticado por adolescente, investigará
os fatos e elaborará o relatório na forma do art. 177 do ECA,
encaminhando as peças ao MP através do cartório judicial;

De acordo com o art. 152 do mesmo estatuto, quando o ECA for omisso, aplicam-se as
normas gerais de processo. Portanto, aí sim aplicam-se as normas gerais de processo penal
para disciplinar a investigação criminal pela polícia judiciária.

b) nas situações de flagrante: o adolescente considerado em


flagrante de ato infracional será encaminhado à polícia judiciária, e a
autoridade tomará as seguintes providências:
I. certificar-se da situação de flagrância, nos termos do art. 302
do CPP e se a conduta é típica, aferindo também a
caracterização do ato infracional;
II. formalizar a apreensão (não é prisão) em flagrante.

Então, deve-se formalizar a apreensão em flagrante, mandando lavrar o auto de


apreensão em flagrante, observando os direitos indisponíveis dos arts. 106 a 109 do ECA.
Não havendo violência ou grave ameaça contra pessoa, o auto poderá ser substituído por um
Boletim de Ocorrência (BO) circunstanciado.

93
De qualquer forma, o adolescente está apreendido. Mandará também apreender
objetos e instrumentos da infração, requisitando exames e perícias que forem necessárias.

Deve-se ainda verificar a possibilidade de liberação do adolescente, atento à ordem


pública e a garantia pessoal do adolescente. O delegado dever fundamentar sua decisão,
principalmente se ele não for liberar o adolescente.

No caso de liberação, o adolescente deverá ser entregue aos pais ou responsáveis,


sob o compromisso de apresentação ao MP imediatamente ou no primeiro dia útil.

Não encontrados os pais ou responsáveis, o adolescente tem violado o direito de


convivência familiar (art. 227, caput da CF) e deve ser destinatário de medida de proteção
(acolhimento institucional, conforme art. 101, VII do CF) e, sendo assim, deve ser
encaminhado à instituição através do Conselho Tutelar e, na sua falta, ao juiz da Infância (art.
262 do ECA).

O conselheiro tutear, neste caso, deve acompanhar a formalização da apreensão. No


caso de não ter liberação, o adolescente deve ser encaminhado imediatamente ou no prazo
de 24 horas ao MP, bem como toda a documentação policial.

O encaminhamento não imediato deve ser feito através de instituição adequada; caso
inexiste a permanência em repartição policial, só será possível desde que em local separado
dos adultos.

A condução em compartimento fechado de viatura policial é vedada pelo art. 178 do


ECA, sob pena de eventual caracterização de crime do art. 232 do mesmo estatuto.

16.5. Apuração de Irregularidades em Entidade de Atendimento

O ECA regulamentou o procedimento para apurar as irregularidades das entidades de


atendimento, seja governamental ou não, de forma que estejam vinculados aos programas de
proteção e socioeducativos destinados à criança e ao adolescente, à luz dos princípios
constitucionais e processuais.

O principal objetivo das medidas é a utilização dos mecanismos de segurança e


proteção de forma eficaz e ágil diante da criança ou adolescente que conviva com condições
de agressão ou ameaça.

Sendo assim, o referido procedimento deve ser ágil e eficaz, porém, deverá ter por
objetivo principal a identificação das imperfeições e implementação de medidas eficazes para
o atendimento dos direitos da criança e do adolescente.
94
16.6. Apuração de Infração Administrativa às Normas de Proteção à Criança
e ao Adolescente

Trata-se do procedimento previsto no ECA e à luz da CF, devendo levar em


consideração o princípio da proteção integral e da prioridade do interesse de crianças e
adolescentes, tendo em vista que a regulamentação protetiva e preventiva é o pilar para o
direcionamento, inclusive, dos atos administrativos.

As referidas normas estão dispostas nos arts. 70 a 85 do ECA, valendo destacar que o
art. 72 prevê que “as obrigações previstas nesta Lei não excluem da prevenção especial outras
decorrentes dos princípios por ela adotados”, bem como no art. 73 que prevê a
responsabilidade destinada à pessoa física ou jurídica quanto às normas protetivas.

Isto posto, entende-se, de forma geral, que a apuração das infrações administrativas
às Normas de Proteção da Criança e do Adolescente, sobretudo, no constante em no art. 6º
do ECA, deve fundar-se nos objetivos sociais, no bem comum, nos direitos e deveres
individuais e coletivos, bem como nas especificidades e necessidades da criança e do
adolescente.

16.7. Infiltração de Agentes para Investigação de Crimes Contra a


Dignidade Sexual de Criança e Adolescente

A Lei nº 13.441/2017 estabeleceu normas e incluiu no ECA os arts. 190-A a 190-E dos
quais determinam a infiltração de agentes para investigação de crimes contra a dignidade
sexual das crianças e adolescentes.

Os referidos dispositivos estabelecem as formas de obtenção probatória, priorizando


os demais meios regulados em lei de forma que a infiltração seja o último recurso. Ou seja,
pela infiltração de agentes, as provas não serão permitidas se existirem outros meios
probatórios. A regulamentação legal restringe o procedimento de infiltração de agentes para
os membros da polícia, não permitindo que outros o façam.

Contudo, como para toda regra há uma exceção, existe um entendimento de que há
possibilidade de atuação de agentes infiltrados, ainda que não seja membro da corporação
policial. Trata-se dos casos específicos de integrantes de organização criminosa com o intuito
de participar das investigações para obter o benefício da colaboração premiada, porém,
mediante autorização judicial para atuar como agente infiltrado.

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Mapa Mental

ECA

Procedimento

Poder familiar

Família substituta

Habilitação para
adoção

Ato infracional do
adolescente

Apuração de
irregularidades em
entidades de
atendimento

Apuração de
infração
administrativa às
normas

Infiltração de
agentes
investigativos

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97
Referências Bibliográficas

MACIEL, Kátia Regina Ferreira Lobo Andrade. Poder familiar. In: MACIEL, Kátia Regina
Ferreira Lobo Andrade. Curso de Direito da Criança e do Adolescente. São Paulo: Saraiva,
2019.

______. Regras gerais sobre a colocação em família substituta. In: MACIEL, Kátia Regina
Ferreira Lobo Andrade. Curso de Direito da Criança e do Adolescente. São Paulo: Saraiva,
2019.

______. Ação de tutela e procedimentos correlatos. In: MACIEL, Kátia Regina Ferreira Lobo
Andrade. Curso de Direito da Criança e do Adolescente. São Paulo: Saraiva, 2019.

98
17. Crimes e Infrações Administrativas

O Título VII, capítulo I do ECA trata das normas legais pertinentes aos crimes e
infrações administrativas mediante a determinação elencada nos arts. 225 ao 258-C, ou seja,
determina e tipifica quais são os crimes e as infrações, bem como estabelece as sanções
respectivas.

Assim, inicialmente, os arts. 225 e 226 introduzem, de forma geral, que os crimes
tipificados e respectivas sanções estão relacionados aos crimes praticados contra a criança e
adolescente em decorrência de atos ou omissões, bem como determina que não haverá
prejuízo no que diz respeito à legislação penal, assim como as normas processuais também
seguirão para esta seara.

É importante destacar que no art. 227 do mesmo estatuto, para todos os crimes
inerentes a essa legislação específica, caberá a ação pública incondicionada.

Esclarecidos os pontos iniciais, seguiremos para o estudo dos crimes praticados contra
a criança e adolescente, e, posteriormente, o estudo das infrações administrativas contra a
criança e adolescente.

17.1. Crimes Praticados contra a Criança e Adolescente

Como dito anteriormente, o ECA estabeleceu normas para tipificar os crimes praticados
contra a criança e adolescente e estão dispostos entre os arts. 228 e 244-B do estatuto.

O art. 228 descreve os atos do agente, caracterizando delito quando este não cumprir
com suas obrigações administrativas no que diz respeito ao atendimento e registro da
parturiente e neonato.

Ocorre que desta situação, o agente está cometendo o crime de omissão, posto que
sob sua responsabilidade está o atendimento e a proteção da criança.

O art. 229 define os atos dos profissionais de saúde ou dirigente do estabelecimento


que envolvem os respectivos profissionais, caracterizando crime de omissão tendo em vista o
não cumprimento da identificação do neonato e da parturiente, ou ainda quando esses
agentes deixam de realizar os exames especificados no próprio estatuto quando do momento
do parto o após o parto.

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O dispositivo supracitado tem por objetivo a preservação do neonato, posto que este
exige uma atenção especial do Estado, logo, os atos de omissão que ocorrem em face do
neonato são caracterizados por crime.

Outro crime tipificado pelo ECA está estabelecido no art. 230 onde trata da privação da
liberdade da criança ou do adolescente em estabelecimentos prisionais ou delegacias, logo,
atos advindos de autoridade policial e seus prepostos.

Vale observar que no parágrafo único do artigo supra, o ECA dispõe que a privação da
liberdade que não respeita as formalidades legais, também caracterizará crime e incidirá na
mesma pena.

Ainda em relação à autoridade policial, o art. 231 do estatuto prevê a punição a este
quanto aos casos em que, em desrespeito à efetivação de direito fundamental da criança e do
adolescente, omitir-se na comunicação junto à autoridade judiciária, bem como à família ou
ao responsável.

Em outros termos, isto significa que esta tipificação penaliza a autoridade responsável
pelo menor apreendido, posto que há omissão tanto diante do juiz, quanto diante da família
ou responsável, no que diz respeito ao ato de apreensão.

Na sequência, importante se faz observar o conteúdo do texto do art. 232 do ECA, pois
trata-se da tipificação diante da conduta da autoridade em relação à criança ou ao
adolescente, com submissão ao constrangimento ou vexame.

Ocorre que em casos de apreensão do infanto-juvenil, por exemplo, é vedado o seu


transporte em ambientes fechados nos veículos das autoridades policiais, bem como é
proibida a publicação de fotos ou nomes dos apreendidos, pois são situações que
caracterizam e expõe os menores ao constrangimento e ao vexame.

O art. 234 do ECA dispõe que a autoridade competente que se omitir acerca de
apreensão ilegal da criança ou adolescente sem que determine a sua imediata liberação,
caracterizará a conduta da qual penalizará o agente.

E, em se tratando de privação de liberdade, o art. 235 do estatuto complementa esse


entendimento, pois, essa tipificação penal envolve a autoridade que não cumprir o prazo para
o procedimento que averigua o ato infracional do adolescente.

100
Vale lembrar que o prazo estabelecido em lei é de 45 (quarenta e cinco) dias para o
adolescente apreendido. Logo, o não cumprimento deste prazo pela autoridade, condição que
priva o adolescente de sua liberdade de ir e vir, resulta em responsabilidade criminal.

Já o art. 236 do mesmo estatuto caracteriza o delito advindo de autoridade judiciária,


membro do Conselho Tutelar ou representante do Ministério Público, diante do exercício de
sua função.

O supracitado dispositivo visa a preservação dos procedimentos das entidades


responsáveis por proteger os interesses da criança ou adolescente. Então, há a punição do
agente quando sua conduta envolver falsidade no fornecimento de dados, fraudes
documentais ou, ainda, qualquer conduta que impeçam ou inviabilizem a correta atuação do
Conselho Tutelar ou Ministério Público, já que, em decorrência disso, serão induzidos ao erro.

Em continuidade aos estudos, o art. 237 do ECA caracteriza o crime que não envolve
somente o agente público, mas envolve também qualquer pessoa que praticar o ato delituoso,
com exceção do responsável pela guarda da criança ou adolescente, enquanto estiver nesta
condição de responsabilidade.

A tipificação delituosa caracteriza-se pela subtração da criança ou do adolescente


quando estes se encontram sob o cuidado dos pais ou responsáveis, porém, com o dolo
específico de inserção em lar substituto, observando quando da ocasião em que haverá a
tipificação constante do art. 249 do Código Penal que trata da subtração de incapazes
(CAPEZ, 2019).

Outro dispositivo relacionado ao referido anteriormente é o art. 238 do ECA, pois, por
este fica tipificado o crime que tem por fundamento o ato em que os pais ou responsáveis
submetem a criança ou o adolescente à condição de sua entrega a terceiros mediante o
pagamento ou uma recompensa.

O mesmo artigo também faz referência, em seu parágrafo único, ao sujeito que paga o
valor ou a recompensa ao pai ou responsável que entrega a criança ou adolescente. Logo, o
estatuto pune tanto o agente ativo, quanto o passivo.

Ainda relacionado à submissão da criança e adolescente à entrega ilegal a terceiros, o


art. 239 do estatuto tipifica e penaliza a conduta daquele que dá assistência ou promove a
efetivação do envio da criança ou adolescente para o exterior, conduta que pode ser do agente
público mediante um pagamento.

101
É importante destacar que, além da gravidade da conduta, se o crime se caracterizar
pelas qualificações advindos dos atos compostos por violência ou grave ameaça, a pena
determinada para este crime é aumentada.

Em se tratando de violência e abuso contra criança e adolescente, o art. 240 do ECA


traz em seu texto a tipificação criminal fundada na violência sexual ou pornografia.

O dispositivo tipifica o crime diante de qualquer agente que praticar ato de produção,
reprodução, direção, fotografia, filmagem ou registro de qualquer espécie e meio que envolva
cena de sexo explícito ou pornografia infantil.

Isto posto, o art. 241 do ECA é inerente ao referido artigo anterior, pois, diante do crime
de violência sexual e pornografia de criança e adolescente, o comércio dos produtos de
reprodução dos atos criminosos também é tipificado, uma vez que confere o crime da pedofilia.

Por sua vez, o art. 241-A do estatuto complementa a tipificação criminosa, tendo em
vista que considera também crime contra criança e adolescente a retenção do material
pornográfico bem como a promoção e divulgação do mesmo, considerando também, agente
passível de pena, aquele que viabiliza o acesso a este material por redes de comunicação,
seja por computadores ou outros.

Nesta mesma toada, o art. 241-B do ECA determina que a mera aquisição, posse ou
armazenamento do material supracitado tipifica o crime, contudo, nesta específica condição,
a pena poderá ser reduzida em adequação à proporcionalidade quantitativa do material.

Vale observar que, em se tratando de armazenamento ou posse com o intuito de


realizar a denúncia às autoridades acerca da conduta criminosa, não caracterizará o crime de
tráfico de material pornográfico dos infanto-juvenis, como é o caso da apreensão realizada por
agentes públicos, entidades legalmente constituídas, representantes legais e funcionários de
serviços informáticos e relacionados.

Acrescenta-se ainda que, em conformidade com o art. 241-C do ECA, aquele que
promover a falsa participação de crianças ou adolescentes em cenas de sexo ou pornografia
mediante adulteração, montagem ou alteração de imagens também se enquadrará na
tipificação criminosa, bem como se houver a comercialização deste material.

O art. 241-D do estatuto tipifica a conduta do agente ativo e do agente que viabiliza o
ato pertinente ao aliciamento, assédio e indução, independentemente do meio de
comunicação utilizado com o objetivo de praticar ato libidinoso com a criança ou adolescente.

102
Em esclarecimento à caracterização dos crimes tipificados no estatuto quanto à
expressão “cena de sexo explícito ou pornográfica”, o art. 241-E do ECA abarca toda situação
que envolver criança ou adolescente em atividades inerentes a estes atos, não importando se
de fato ocorreu ou se houve simulação, ainda que seja por exibição de suas partes genitais
com intenções sexuais.

Em continuidade a tipificação de conduta criminosa que envolve criança e adolescente,


o estatuto, em seu art. 242, prevê a penalização para o agente que fizer por qualquer meio,
gratuitamente ou não, a entrega de arma, munição ou explosivo, posto, devido à situação de
exposição ao extremo perigo, o legislador prevê a proteção ao infanto-juvenil diante de
equipamentos de risco.

E não somente diante dos riscos de armas de fogo ou explosivos, o ECA também prevê
a tipificação delituosa em seu art. 243, quando o agente expõe a criança ou o adolescente,
gratuitamente ou não, ao acesso à produtos alcoólicos, bem como produtos compostos por
agentes causadores de dependência física ou psíquica.

O art. 244 do estatuto caracteriza crime o fornecimento de qualquer espécie de fogos


de artifício ou estampido, mediante pagamento ou não, salvo as condições em que os fogos
tenham seu potencial reduzido, com incapacidade de causar qualquer dano físico quando
utilizado inadequadamente pela criança ou adolescente.

E, por fim, os arts. 244-A e B do ECA cuida de penalizar os agentes criminosos que
atuaram na corrupção de menores de dezoito anos, bastando para tanto, que a conduta
criminosa se faça presente, não requerendo elemento subjetivo, mesmo que a prática ocorra
em ambiente virtual.

17.2. Infrações Administrativas contra a Criança e Adolescente

Em continuidade ao estudo dos assuntos inerentes ao ECA, os arts. 245 a 258-C trata
das infrações administrativas contra a criança e adolescente, cujos textos serão analisados a
seguir.

Assim, antes de iniciarmos o estudo ao tema em tela, torna-se relevante destacar que,

[...] os princípios aplicáveis às infrações administrativas são os princípios de


direito administrativo, tangenciando o direito penal privado e o direito
processual. Ressalta-se, ainda, que, em se tratando de infrações
administrativas previstas no Estatuto da Criança e do Adolescente, necessário
compatibilizar com os princípios próprios desse ramo do direito, tais como o da
proteção integral e o da prioridade absoluta dos interesses das crianças e
adolescentes (RAMOS, 2019).

103
Inicialmente, temos o art. 245 do ECA que caracteriza e penaliza o profissional de
saúde, de educação ou responsável pela educação e saúde da criança e do adolescente que
se omitir na comunicação à autoridade responsável quando tiver conhecimento da existência
confirmada de violência por maus-tratos.

Essa responsabilização ocorre devido ao fato de que a família, os pais, responsáveis


pela educação e saúde, bem como a sociedade e o Estado têm obrigação de proteger à
criança e ao adolescente, justamente por conta de sua situação peculiar de vulnerabilidade,
posto ser um indivíduo em fase de desenvolvimento.

O artigo seguinte, nº 246 do estatuto é pertinente às infrações administrativas


praticadas em face do adolescente privado de liberdade, nas condições previstas no art. 124,
também do ECA.

Assim, o ato infracional supracitado é inerente ao responsável ou funcionário da


entidade de atendimento, no exercício de suas funções, impedir ou inviabilizar as condições
previstas para o adolescente internado, em conformidade com o art. 124, sobretudo, por se
tratar de atividades pedagógicas obrigatórias.

Já o art. 247 do ECA caracteriza e penaliza os atos administrativos, seja parcialmente


ou em sua totalidade, bem como por qualquer forma de comunicação e sem permissão
advinda de autoridade competente, em que venha a publicar dados pessoais, bem como
documentos dos procedimentos de cunho policial, administrativo e judicial pertinentes à
criança ou ao adolescente a quem foi atribuída a prática de ato infracional.

Em seguida, o art. 248 do estatuto prevê ato infracional administrativo quando da


conduta da autoridade judiciária se tratar de agente que não apresentar o adolescente de
outra comarca para que este realize a prestação de serviço doméstico.

Em outros termos, isto significa dizer que comete ato infracional administrativo o agente
que, na responsabilidade de apresentar o adolescente para cumprir com seu trabalho
doméstico, omite-se e não o faz, sob pena de multa com multiplicadores do valor salarial e
sujeito ao dobro da mesma pena quando houver reincidência do caso.

Diante dos artigos dispostos no ECA, de extrema importância é destacar o art. 249
postos se tratar da responsabilidade e da penalidade decorrente do descumprimento dos
deveres pertinentes ao poder familiar ou da tutela ou guarda.

104
O referido artigo trata de caracterizar a infração diante do descumprimento dos
cuidados e assistência incumbidos aos responsáveis pelo sustento, educação, zelo, guarda e
demais interesses que envolvem toda a esfera de convivência da criança e do adolescente.

Vale observar que o sujeito ativo é, não somente os pais ou a família, mas também o
responsável pela tutela ou guarda, bem como, também, qualquer pessoa que, diante de uma
determinação judiciária ou de autoridade pertinente, ou do Conselho Tutelar, descumpra com
a obrigação decorrente do poder familiar.

E, em se tratando de crianças e adolescentes, o art. 250 do ECA determina que estes


não podem permanecer em estabelecimentos como hotéis, pensões, motéis ou similares
quando da ocasião em que não estiverem presentes os pais ou responsável, ou
desacompanhado de autorização expressa ou autoridade judiciária.

A infração administrativa incorrerá em pena de multa, responsabilizando o proprietário


do estabelecimento ao qual o infanto-juvenil se encontra hospedado. O objetivo aqui é
direcionar os atos em conformidade com a previsão legal.

Isto posto, vale ressaltar a necessidade que se tem de garantir a segurança e proteção
às crianças e adolescentes, sobretudo no que concerne ao seu transporte.

Assim, o art. 251 do ECA caracterizou a infração administrativa diante do transporte do


infanto-juvenil seja qual meio for, desde que não observados os requisitos de autorização
determinados pelos arts. 83 a 85 do estatuto.

O objetivo deste dispositivo é amparar a criança e adolescente de forma a protegê-los


de qualquer situação em que os coloquem na disposição de sofrer violência física ou moral,
além de alertar que estes devem estar acompanhados de seus pais ou responsáveis, posto o
grande risco de sequestros e tráfico de menores.

Outra infração administrativa imposta no ECA se encontra no art. 252, posto que
penaliza o responsável pelas atividades de diversão e espetáculo público, quando não afixado
de forma clara e acessível a todos quanto a natureza do evento, bem como a restrição etária.

Trata-se, portanto, da garantia aos direitos fundamentais da criança e do adolescente, posto


que a estes, os atos devem pautar-se à luz do princípio da proteção integral, prevista no
estatuto (BORDALLO, 2019).

Neste mesmo sentido, o art. 253 do estatuto penaliza o responsável que deixar de
respeitar o direito ao lazer, à educação e à cultura dos infanto-juvenis, quando não anunciar

105
eventos sem as mesmas limitações e acessibilidade constantes no artigo anterior, tendo em
vista que se trata de direitos fundamentais do indivíduo em desenvolvimento.

O art. 254 do ECA é também o caso de responsabilidade, porém, direcionada às


transmissoras de rádio e televisão, pois, devem anunciar previamente a sua classificação
etária e respeitar aos horários autorizados legalmente, sob pena de multa e, no caso de
reincidência, a suspensão da programação da emissora.

Com esse norte, o art. 255 do estatuto se preocupou com os anexos aos eventos, caso
de trailer, amostra ou similares, cuja característica classificatória é determinada em sua
adequação pelo órgão competente.

As programações gravadas também serão objeto de infração administrativa, e segundo


o art. 256 do ECA, desde que esteja em desacordo com a classificação determinada pelo
órgão competente.

Já para os meios impressos como é o caso das publicações em revistas e similares,


também terão seu conteúdo material observado, tendo em vista que o art. 257 do Estatuto
prevê o ato infracional e responsabiliza as editoras que não cumprirem o estabelecido nos
arts. 78 e 79 da mesma lei, sob pena de multa e sem prejuízo de ocorrer a apreensão do
material veiculado.

Ainda em relação ao responsável pelo estabelecimento ou empresário, o art. 258 do


ECA determina que incorrerá em infração aquele que não observar o disposto nesta Lei quanto
às normas determinadas para com o acesso de criança ou adolescente nos locais de lazer ou
envolver a sua participação, sob pena de multa e, quando reincidente, poderá ocasionar em
fechamento temporário do estabelecimento.

O legislador, preocupado com a garantia de proteção integral à criança e ao


adolescente, não deixou de determinar as condições de infração administrativa advindas da
autoridade judiciária respectiva à comarca ou do foro regional, posto que estes, conforme o
art. 258-A do ECA, estão incumbidos do registro dos infanto-juvenis que se encontrarem em
condições de adoção, bem como das pessoas interessadas e habilitadas à adoção.

Já no artigo seguinte, nº 258-B do estatuto, determina que comete a infração


administrativa o profissional de saúde ou dirigente de estabelecimento de atenção à saúde da
gestante que se omitir em comunicar à autoridade competente quanto ao conhecimento de
mãe ou gestante que tenha intenção de entregar seu filho para adoção.

106
Trata-se de direito resguardado a mãe ou gestante que queria entregar o seu filho para
ser adotado, bem como tem direito de ter a assistência da sua saúde física e psicológica com
o objetivo de elevar o nível de sua saúde quando do período do puerpério.

Por fim, e não menos importante, temos o art. 258-C do ECA que penaliza o agente
que deixar de cumprir as normas restritivas e constantes do art. 81, II do mesmo Estatuto, pois
trata da vedação à comercialização de qualquer espécie de bebidas alcoólicas a crianças e
adolescentes.

Mapa Mental
CRIMES E INFRAÇÕES ADMINISTRATIVAS

Crimes praticados contra a criança e o


adolescente

Infrações administrativas contra a criança e o


adolescente

107
Referências Bibliográficas

BORDALLO, Galdino Augusto Coelho. Parte III - Das Infrações Administrativas. In: MACIEL,
Kátia Regina Ferreira Lobo Andrade. Curso de Direito da Criança e do Adolescente. São
Paulo: Saraiva, 2019.

CAPEZ, Fernando. Dos crimes contra o pátrio poder, tutela ou curatela. In: MACIEL, Kátia
Regina Ferreira Lobo Andrade. Curso de direito penal, parte especial: arts. 213 a 359-H.
17ª ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2019.

RAMOS, Patrícia Pimentel de Oliveira Chambers. Infrações Administrativas. In: MACIEL, Kátia
Regina Ferreira Lobo Andrade. Curso de Direito da Criança e do Adolescente. São Paulo:
Saraiva, 2019.

108
18. Medidas de Proteção
As medidas de proteção destinadas à criança e aos adolescentes estão previstas no
ECA, entre os arts. 98 ao 102, e são “definidas como providências que visam salvaguardar
qualquer criança ou adolescente cujos direitos tenham sido violados ou estejam ameaçados
de violação” (TAVARES, 2019).

Como visto, em conformidade ao art. 98 do ECA, as medidas de proteção devem ser


aplicadas quando da ameaça ou violação aos seus direitos do infanto-juvenil, diante de atos
ou omissões sociais ou estatais ou, ainda, quanto a ausência, omissão ou abuso dos pais ou
responsáveis, sobretudo, quando resultante de sua própria conduta, como segue:

Art. 98. As medidas de proteção à criança e ao adolescente são aplicáveis


sempre que os direitos reconhecidos nesta lei forem ameaçados ou violados:

I – por ação ou omissão da sociedade ou do Estado;

II – por falta, omissão ou abuso dos pais ou responsável;

III – em razão de sua conduta.

É importante destacar que o legislador se preocupou em efetivar as medidas protetivas


da criança e do adolescente de forma mais abrangente, ou seja, segundo o art. 99 do estatuto,
as medidas de proteção têm por objetivo impor o cumprimento dos direitos, de forma que
poderão ser aplicadas isoladamente e cumulativamente, tendo em vista a compatibilidade
existente entre as condições previstas na lei. Como se vê: “Art. 99. As medidas previstas neste
Capítulo poderão ser aplicadas isolada ou cumulativamente, bem como substituídas a
qualquer tempo.”.

Não somente isso, as medidas poderão ser substituídas, se de alguma forma não
atingirem o seu objetivo, posto se trará de meios cuja natureza é cautelar e tendo em vista a
presunção da existência de violação ou ameaça aos direitos da criança e adolescente. Logo,
devem ser imediatamente aplicadas e posteriormente postas em discussão de seu mérito.

Isto posto, nota-se que no art. 100 do ECA está determinado que as garantias
fundamentais destinadas à criança e ao adolescente e constantes do estatuto em tela têm por
base os princípios constitucionais, cuja peculiaridade é o fato de serem indivíduos em fase de
desenvolvimento (AMIN, 2019) e, portanto, que requerem cuidado e proteção especial.

109
O dispositivo supracitado visa o fortalecimento dos vínculos existentes entre os
familiares e as comunidades, determinando que, dado a instituição legal, as crianças e
adolescentes são titulares dos direitos previstos na nossa Carta Maior e nas demais
legislações, tendo por fundamento principal a proteção integral e prioritária do infanto-juvenil.

Nesta toada, os incisos do art. 100 do estatuto arrolam os princípios norteadores e


reguladores das medidas protetivas, quais sejam: proteção integral e prioritária;
responsabilidade primária e solidária do poder público; interesse superior da criança e do
adolescente; privacidade; intervenção precoce; intervenção mínima; proporcionalidade e
atualidade; responsabilidade parental; prevalência familiar; obrigatoriedade da informação; e
oitiva obrigatória e participação.

Já no art. 101 do ECA estão elencadas quais medidas devem ser providenciadas tão
logo seja constatada qualquer hipótese prevista no art. 98, inicialmente referenciado.

Ocorre que as medidas protetivas são de cunho excepcionalista, tendo em vista a sua
forma de aplicação e a relatividade com a medida de acolhimento, pois a proteção da criança
ou adolescente deverá ocorrer através dos programas sociais e políticas públicas, já
analisadas nas aulas anteriores, com vistas a implementação educacional, de saúde e
habitacional que estão garantidas a toda sociedade (TAVARES, 2019).

Ao se estabelecer qual medida protetiva deverá ser implementada ao jovem infrator e


advinda da autoridade judiciária, entrará em ação o Conselho Tutelar, posto ter a
responsabilidade de providenciar todos os meios e recursos para que as medidas sejam
efetivadas, seja mediante o a reintegração do jovem à sua família biológica, como também
pela família substituta.

Por fim, o art. 102 do estatuto determina que as medidas protetivas em tela deverão ter
acompanhamento mediante a regularização do registro civil, ou seja, a criança ou adolescente
deverão ter seus registros públicos regularizados e assegurados, sendo que, no caso de não
existir tais registros, a autoridade judiciária deverá ordenar que seja lavrado com base nos
dados a que possuem e em conformidade ao determinado no art. 148, parágrafo único do
ECA, valendo transcrever o referido texto:

Art. 148. A Justiça da Infância e da Juventude é competente para:

[...]

110
Parágrafo único. Quando se tratar de criança ou adolescente nas hipóteses do
art. 98, é também competente a Justiça da infância e da Juventude para o fim
de:

[...]

h) determinar o cancelamento, a retificação e o suprimento dos registros de


nascimento e óbito.

Mapa Mental

Ameaça ou violação dos


MEDIDAS DE PROTEÇÃO

direitos

Isolada e/ou
cumulativamente

Implicação da
ROL E PERTINÊNCIAS
autoridade judiciária

Providências do
Conselho Tutelar

Acompanhamento da
Justiça da Infância e da
Juventude

111
Referências Bibliográficas

AMIN, Andréa Rodrigues. Doutrina da proteção integral. In: MACIEL, Kátia Regina Ferreira
Lobo Andrade. Curso de Direito da Criança e do Adolescente. São Paulo: Saraiva, 2019.

TAVARES, Patrícia Silveira. A política de atendimento. In: MACIEL, Kátia Regina Ferreira
Lobo Andrade. Curso de Direito da Criança e do Adolescente. São Paulo: Saraiva, 2019.

______. As medidas de proteção. In: MACIEL, Kátia Regina Ferreira Lobo Andrade. Curso
de Direito da Criança e do Adolescente. São Paulo: Saraiva, 2019.

112
19. Lei nº 13.431 de 2017 – Sistema de Garantia de Direitos da
Criança e do Adolescente Vítima ou Testemunha de Violência
Com o objetivo de coibir a violência contra a criança e adolescente diante da condição
de vítima ou testemunha de violência, a lei nº 13.431/2017 foi constituída à luz da Constituição
Federal, em conformidade com os arts. 227, caput e § 4º, bem como o art. 226, caput e § 8º,
in verbis:

Art. 226. A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado.

[...] Entende-se, também, como entidade familiar a comunidade formada por


qualquer dos pais e seus descendentes.

[...]

Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao


adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à
alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade,
ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-
los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência,
crueldade e opressão.

[...]

§ 8º. A lei estabelecerá:

I – o estatuto da juventude, destinado a regular os direitos dos jovens;

II – o plano nacional de juventude, de duração decenal, visando à articulação


das várias esferas do poder público para a execução de políticas públicas.

Nota-se que o intuito legal é a imposição de medidas que aprimorem as estruturas de


atendimento já existentes (TAVARES, 2019), bem como a adequação dos sistemas de fluxos
e protocolos que visem a otimização da atuação dos órgãos e agentes responsáveis e de
competência municipal e estadual, com vistas a atuar harmônica e coordenadamente para
que se alcance com maior plenitude o princípio da proteção integral e prioritária nas atuações
destinadas às crianças e adolescentes (AMIN, 2019), sobretudo, vítimas ou testemunhas de
violência.

Assim, o legislador observou e instituiu as regras para que a organização e a


sistematização de atenção e proteção à criança e ao adolescente tenha como prioridade, a
identificação das suas necessidades, bem como a criação de um órgão específico que ficará

113
incumbido de realizar o atendimento à essas vítimas ou testemunhas, em conformidade com
o art. 7º da Lei nº 13.431/2017, para administrar as ações pertinentes com o objetivo de
atender à todas as necessidades e fazer cumprir os direitos destes indivíduos, assim como
determina o art. 14, § 2º da mesma lei.

Art. 7º. Escuta especializada é o procedimento de entrevista sobre situação de


violência com criança ou adolescente perante órgão da rede de proteção,
limitando o relato estritamente ao necessário para o cumprimento de sua
finalidade.

[...]

Art. 14. [...]

§ 2º. Nos casos de violência sexual, cabe ao responsável da rede de proteção


garantir a urgência e a celeridade necessárias ao atendimento de saúde e à
produção probatória, preservada a confidencialidade.

[...]

Neste sentido, no que diz respeito ao sistema processual, o legislador também se


preocupou em especializar o atendimento para a demanda, tanto é que determinou um rol de
diretrizes e direitos com o objetivo de proteger as crianças e adolescentes vítimas ou
testemunhas de violência quanto à sua exposição e ao tratamento desumano, no sentido de
se tornarem meros instrumentos probatórios, ou em decorrência das provas, serem abordadas
por diversas vezes pelos agentes sem preparo e qualificação técnica para tal ato.

Desta forma é que a Lei nº 13.431/2017 estabeleceu normas e arrolou as formas de


violência dispondo em seu art. 4º a denominada violência institucional, posto a constatação
da prática de abordagem frequente e inadvertido quando os órgãos e agentes deveriam
respeitar os princípios fundamentais que norteiam a proteção da criança e do adolescente,
sobretudo, vítimas ou testemunhas de violência.

Art. 4º. Para os efeitos desta Lei, sem prejuízo da tipificação das condutas
criminosas, são formas de violência:

I – violência física, entendida como a ação infligida à criança ou ao adolescente


que ofenda sua integridade ou saúde corporal ou que lhe cause sofrimento
físico;

II – violência psicológica:

[...]

114
III – violência sexual, entendida como qualquer conduta que constranja a
criança ou o adolescente a praticar ou presenciar conjunção carnal ou qualquer
outro ato libidinoso, inclusive exposição do corpo em foto ou vídeo por meio
eletrônico ou não, que compreenda:

[...]

IV – violência institucional, entendida como praticada por instituição pública ou


conveniada, inclusive quando gerar revitimização.

[...]

Então, preocupado em erradicar os atos que expõem ainda mais a criança e ao


adolescente à violência, sobretudo, aquela institucionalizada decorrente dos atos processuais,
bem como buscar o aprimoramento do atendimento à estas vítimas e agilizar a atuação dos
órgãos pertinente, a lei instituiu duas formas válidas para constituir o conjunto probatório no
que diz respeito ao inquérito policial ou processo judicial de forma humanizada e com o mínimo
de abordagem invasiva e violenta a estas testemunhas.

Conforme o art. 5º da lei, trata-se técnicas que fazem uso da escuta especializada e o
depoimento especial que são realizados por profissionais e qualificados, bem como também
o local de abordagem é adequado e pautado nos princípios fundamentais pertinentes às
crianças e adolescentes (BORDALLO, 2019), tratando, portanto, da escuta sob
responsabilidade da autoridade policial ou judiciária e respeitando o direito do infanto-juvenil.

No mesmo sentido, o legislador buscou reduzir os efeitos decorrentes do decurso


temporal, posto que determinou as normas que visem a celeridade processual, impondo a
realização da técnica probatória mediante a utilização da escuta especializada ou o
depoimento especial como produção probatória antecipada para os casos em que a vítima ou
testemunha de violência ter idade inferior a 07 (sete) anos ou, ainda, quando se tratar de
violência sexual, em conformidade ao art. 11, caput e §§ 1º e 2º, ditando normas severas
quanto à repetição diligencial posto não ter prazo prescricional bem como a criança e o
adolescente devem concordar com o procedimento, in verbis:

Art. 11. O depoimento especial reger-se-á por protocolos e, sempre que


possível, será realizado uma única vez, em sede de produção antecipada de
prova judicial, garantida a ampla defesa do investigado.

§ 1º. O depoimento especial seguirá o rito cautelar de antecipação de prova:

I – quando a criança ou o adolescente tiver menos de 7 (sete) anos;

115
II – em caso de violência sexual.

§ 2º. Não será admitida a tomada de novo depoimento especial, salvo quando
justificada a sua imprescindibilidade pela autoridade competente e houver a
concordância da vítima ou da testemunha, ou de seu representante legal.

Ademais, a lei determina em seu art. 22 que os órgãos policiais envolvidos deverão
empenhar esforços de cunho investigativo de modo que o depoimento da vítima não seja a
única via probatória em relação ao julgamento do acusado, eis que: “Art. 22. Os órgãos
policiais envolvidos envidarão esforços investigativos para que o depoimento especial não
seja o único meio de prova para o julgamento do réu.”.

Pelo exposto, conclui-se que a Lei nº 13.431/2017 é constituído por disposições que
visam ampliar o alcance efetivo e seguro às crianças e adolescentes vítimas de ameaça ou
violência e, conjuntamente às demais leis, normas e princípios, pode tornar possível um
atendimento mais eficaz, célere e respeitando à dignidade da pessoa humana.

116
Mapa Mental

Lei 13.431/2017

Direito Proteção Organização e Órgão


Constitucional Integral sistematização Específico para
Atendimento

Inquérito policial
e processo
judicial

Escuta
especializada e
depoimento
especial

Segurança,
celeridade e
eficiência

Dignidade da
pessoa humana

117
118
Referências Bibliográficas

AMIN, Andréa Rodrigues. Princípios orientadores do direito da criança e do adolescente. In:


MACIEL, Kátia Regina Ferreira Lobo Andrade. Curso de Direito da Criança e do
Adolescente. São Paulo: Saraiva, 2019.

BORDALLO, Galdino Augusto Coelho. Os princípios constitucionais do processo. In: MACIEL,


Kátia Regina Ferreira Lobo Andrade. Curso de Direito da Criança e do Adolescente. São
Paulo: Saraiva, 2019.

TAVARES, Patrícia Silveira. A política de atendimento. In: MACIEL, Kátia Regina Ferreira
Lobo Andrade. Curso de Direito da Criança e do Adolescente. São Paulo: Saraiva, 2019.

119
20. Lei nº 13.257 de 2016 – Estatuto da Primeira Infância
A Lei nº 13.257 de 08 de março de 2016, denominada Estatuto da Primeira Infância,
trata das disposições legais pertinentes às políticas públicas direcionadas à criança que se
encontra no período da primeira infância, considerada por essa lei aquela que envolve os
primeiros 6 (seis) anos completos ou 72 (setenta e dois) meses de vida, conforme seu art. 2º.

Vale destacar que, à luz do princípio constitucional da prioridade absoluta, previsto no


art. 227 (AMIN, 2019), o supramencionado estatuto exalta, em seu art. 3º, os direitos da
criança, impondo o dever do Poder Público em atuar de forma a garantir o seu
desenvolvimento integral desde o período da primeira infância.

O Estatuto da Primeira Infância traz algumas normas específicas à criança que, por
consequência, promove alterações nas seguintes legislações pertinentes: Estatuto da Criança
e do Adolescente, Consolidação das Leis do Trabalho e Código de Processo Penal.

O Estatuto da Primeira Infância impõe o dever do Estado, através do seu art. 4º, de
determinar as políticas públicas, bem como os planos, programas e serviços destinados à
primeira infância de forma a atender os direitos da criança neste período de desenvolvimento,
mediante o planejamento e a execução de ações com vistas a:

[...]

I – atender ao interesse superior da criança e à sua condição de sujeito de


direitos e de cidadã;

II – incluir a participação a criança na definição das ações que lhe digam


respeito, em conformidade com suas características etárias e de
desenvolvimento;

III – respeitar a individualidade e os ritmos de desenvolvimento das crianças e


valorizar a diversidade da infância brasileira, assim como as diferenças entre
as crianças em seus contextos sociais e culturais;

IV – reduzir as desigualdades no acesso aos bens e serviços que atendam aos


direitos da criança na primeira infância, priorizando o investimento público na
promoção da justiça social, da equidade e da inclusão sem discriminação da
criança;

V – articular as dimensões ética, humanista e política da criança cidadã com as


evidências científicas e a prática profissional no atendimento da primeira
infância;

120
VI – adotar abordagem participativa, envolvendo a sociedade, por meio de suas
organizações representativas, os profissionais, os pais e as crianças, no
aprimoramento da qualidade das ações e na garantia da oferta dos serviços;

VII – articular as ações setoriais com vistas ao atendimento integral e integrado;

VIII – descentralizar as ações entre os entes da Federação;

IX – promover a formação da cultura de proteção e promoção da criança, com


apoio dos meios de comunicação social.

A lei em tela também determina em seu art. 5º quais são os setores que possuem
prioridade para que as políticas públicas destinadas à criança na primeira infância sejam
investidas e, consequentemente, obtenha-se a efetividade assistencial, quais sejam: saúde,
alimentação, nutrição, educação, convivência familiar e comunitária, assistência social
familiar, cultura, lazer, meio ambiente e proteção diante da violência, prevenção de acidentes,
medidas preventivas ao contato precoce à comunicação de cunho mercadológico

Com isto posto, nota-se que o art. 6º do estatuto dispõe acerca do plano de ação e
execução das políticas públicas, posto tratar de planejamento de abrangência nacional,
devendo, portanto, haver a elaboração e implementação através de ações intersetoriais com
vistas a articular as diversas políticas setoriais para que desta forma se tenha uma referência
de alcance aos direitos da criança na primeira infância.

Desta forma, dado os objetivos do estatuto em garantir as ações articuladas no que diz
respeito à proteção e a promoção dos direitos da criança na primeira infância, o art. 7º
estabelece que os entes federativos possam instituir políticas públicas em conformidade com
suas respectivas competências envolvendo a participação da sociedade representada pelos
seus conselhos de direito.

Assim, dispõe o art. 8º do estatuto que a plenitude no respeito e atendimento dos


direitos às crianças da primeira infância envolve o interesse e o intuito de todos os entes
federativos, em conformidade com as competências designadas em nossa CF, visando o
alcance colaborativo no que concerne aos atos da União, dos Estados, Distrito Federal e dos
Municípios.

As ações articuladas, muito mencionada no texto legal do Estatuto da Primeira Infância,


envolve todo o empenho governamental e social, sobretudo, o profissional, tendo em vista que
em seu art. 9º há a determinação de que as instituições destinadas à formação profissional
devam ser adequadas em seus cursos, posto precisar corresponder às necessidades

121
específicas da criança, ou seja, os profissionais deverão ter formação adequada e devem
estar qualificados para que os serviços de atendimento sejam expandidos.

Assim, o art. 10 do estatuto dispõe que todos os profissionais inerentes à execução das ações
destinadas à criança na primeira infância devem ter garantido o acesso prioritário à
qualificação, com vistas a obter a especialização e atualização mediante programas
especificamente criados para atender as necessidades do infanto neste período etário.

Para tanto, o art. 11 do estatuto impõe que as políticas públicas sejam constituídas de
meios de acompanhamento monitorado e sistematização para a coleta e administração de
dados, bem como deve ser os programas implementados, acompanhamento periódico e
avaliativo dos serviços destinados à criança na primeira infância para posterior divulgação dos
resultados obtidos.

Além do mais, o estatuto incumbiu a União à manutenção do sistema de


individualização de registros dos dados pertinentes ao desenvolvimento da criança, de forma
individualizada e que esteja inserida às redes de saúde pública e privada para tais realizações,
assim como deverão ser informadas à sociedade a distribuição dos recursos destinados aos
programas e serviços prestados à primeira infância, bem como os dados orçamentários.

Neste sentido, com o objetivo de obter um maior alcance no atendimento, o art. 12 do


estatuto determina a promoção participativa e solidária da sociedade, da família e do Estado
em busca da efetiva proteção e assistência à criança na primeira infância, tendo por
fundamento o texto constitucional dos arts. 227, caput e § 7º, e 204, II da CF, elencando as
ações da seguinte forma:

I – formulando políticas e controlando ações, por meio de organizações


representativas;

II – integrando conselhos, de forma paritária com representantes


governamentais, com funções de planejamento, acompanhamento, controle
social e avaliação;

III – executando ações diretamente ou em parceria com o poder público;

IV – desenvolvendo programas, projetos e ações compreendidos no conceito


de responsabilidade social e de investimento social privado;

V – criando, apoiando e participando de redes de proteção e cuidado à criança


nas comunidades;

122
VI – promovendo ou participando de campanhas e ações que visem a
aprofundar a consciência social sobre o significado da primeira infância no
desenvolvimento do ser humano.

Ademais, o estatuto dispõe em seu art. 13 as normas que impõem aos entes federativos
o apoio do envolvimento das famílias inseridas nos programas protetivos, bem como
determina em seu art. 14 a forma de execução desse apoio através das políticas públicas e
programas governamentais.

O objetivo principal destas ações é a formação e o fortalecimento dos vínculos


familiares e comunitários, dando prioridade aos riscos e ao desenvolvimento integral da
criança na primeira infância, inclusive, mediante a promoção da paternidade, maternidade e
responsáveis inerentes, abrangendo os setores “de saúde, nutrição, educação, assistência
social, cultura, trabalho, habitação, meio ambiente e direitos humanos” (art. 14, parte final).

Isto posto, nota-se que o art. 15 do estatuto visou também a inclusão nos programas
decorrentes das políticas públicas da elaboração e acesso garantido à criança da primeira
infância às produções culturais.

Ademais, o art. 16 determina a forma de expansão educacional destinada da criança


com idade entre 0 (zero) e 3 (três) anos, sempre de maneira que assegure a qualidade de
oferta e instalações e equipamentos padronizados pelo Ministério da Educação, bem como a
formação da equipe profissional qualificado e materiais pedagógicos, todos em cumprimento
ao Plano Nacional de Educação.

Neste mesmo sentido, o Estatuto da Primeira Infância determina em seu art. 17 que os
entes federativos organizem e estimulem a disposição em locais públicos e privados de
espaços especificamente criados para promover o desenvolvimento e o lazer, com todos os
meios e equipamentos adequados e seguros para as crianças exercitarem sua criatividade.

Elucidados os dispositivos que abrangem as ações de forma geral, agora serão


brevemente analisadas as principais alterações advindas do Estatuto da Primeira Infância,
anunciado introdutoriamente a este estudo, em relação ao Estatuto da Criança e do
Adolescente, Consolidação das Leis do Trabalho e Código de Processo Penal.

a) Estatuto da Criança e do Adolescente:

O Estatuto da Primeira Infância regulamentou, através dos arts. 18 a 36 as novas


normas legais a serem aplicadas ao ECA, com o escopo de ampliar os direitos no sentido de

123
envolver com maior abrangência às crianças e adolescentes, bem como as mulheres inseridas
aos programas de políticas públicas (TAVARES, 2019).

O objetivo das referidas alterações é alcançar a plenitude no atendimento e garantias


de saúde e demais direitos a todos os indivíduos citados, em ambiente nacional, porém, no
sentido de exaltar as ações em caráter constitucional, posto pautar-se, sobretudo, nos
princípios da igualdade e da dignidade da pessoa humana.

Neste sentido, o Estatuto da Primeira Infância alterou o art. 8º do ECA no intuito de


ampliar os direitos que não mais são específicos à gestante, mas também a todas as
mulheres, determinando que estas tenham acesso aos programas e políticas de saúde, bem
como de planejamento reprodutivo.

Ademais, para as gestantes o atendimento passou também a envolver os aspectos


nutricionais, a assistência humanizada durante os períodos gestacional até o puerperal, bem
como no atendimento dedicado à assistência pré-natal até o pós-natal de forma integralizada,
mediante o atendimento realizado pelo Sistema Único de Saúde (SUS).

Outra importante inclusão encontra-se no art. 8º, § 4º do ECA, posto que foi inserida
também a assistência psicológica à gestante e à mãe, nos períodos pré e pós-natal.

Neste sentido, a alteração disposta no art. 11, § 2º do mesmo estatuto incumbiu ao


Poder Público a obrigação de fornecer medicamentos, bem como órteses, próteses e demais
tecnologias pertinentes ao tratamento, com vistas a habilitação e reabilitação de crianças e
adolescentes e em conformidade com as suas necessidades peculiares.

E seguindo esta linha, o art. 12 do ECA determinou que os pais ou responsáveis das
crianças internadas em unidades neonatais, de terapia intensiva e de cuidados intermediários
tenham acesso garantido para realizar o acompanhamento assistencial e humanizada.

Por outro lado, no que diz respeito à violência contra a criança da primeira infância, o
art. 13, § 2º do referido estatuto determinou a prioridade no atendimento e a proteção integral
mediante a assistência dos serviços sociais especializados e realizados pelo Centro de
Referência Especializado de Assistência Social e órgãos do Sistema de Garantia de Direitos
da Criança e do Adolescente.

b) Consolidações das Leis do Trabalho:

Os arts. 37 ao 40 do Estatuto da Primeira Infância alteraram também as normas da lei


trabalhista, tendo em vista envolver os pais ou responsáveis da criança na primeira infância,

124
bem como os profissionais e estabelecimentos envolvidos, sobretudo, diante das ações
advindas dos programas públicos.

Neste sentido, o art. 473 da CLT precisou ser reestruturada para se adequar as novas
normas decorrentes do Estatuto da Primeira Infância no que diz respeito às garantias de direito
ao pai ou responsável pela criança poder acompanhar, diante da ausência no ambiente de
trabalho, a sua esposa ou companheira na realização das devidas consultas e exames, bem
como para com o filho de idade até 6 (seis) anos na realização das consultas médicas
(MARTINEZ, 2019).

c) Código de Processo Penal

Com o objetivo de adequar os procedimentos das ações penais para que estejam em
perfeita consonância ao Estatuto da Primeira Infância, o seu art. 41 determinou a alteração
aos textos do Código de Processo Penal, tornando relevante, porém, destacar as mais
essenciais (CAPEZ, 2019).

Em respeito aos princípios constitucionais, sobretudo, à dignidade da pessoa humana,


uma das principais alterações implica nas fases de inquérito policial e no processo penal,
posto que nestas ações procedimentais, mediante a indicação da pessoa presa, será
necessária que se realize a colheita das informações acerca dos filhos e suas peculiaridades.

Essa atenção especial se faz pelo fato de que é de suma importância que se verifique
e identifique tais informações e laços familiares, tendo em vista que há possibilidade de que a
criança ou adolescente esteja exposta à uma situação de risco, como trata o art. 98 do ECA,
e desta forma, devendo-se encaminhar a informação por vias oficiais à Vara da Infância e
Juventude competente.

Outro fator importante em relação às alterações advindas do Estatuto da Primeira


Infância é dedicado à medida cautelar de prisão domiciliar disposta no art. 318 do CPP, bem
como ao procedimento pertinente ao resguardo e cuidados dedicados ao preso provisório,
seja a mãe gestante, ou seja, o pai com filho.

Trata-se das seguintes condições que passaram a vigorar com as alterações legais: a
inexigência das condições para a gestante, tendo em vista que, a partir do sétimo mês
gestacional ou em se tratando de gravidez de alto risco, o estatuto trata de todas as mulheres
gestantes em iguais condições; a permissão para a mulher cuidar de seu filho com idade até
12 (doze) anos em domicílio; e, o homem, quando se tratar de ser o único responsável pelo

125
cuidado de seu filho, também na mesma faixa etária a que se refere as condições da
assistência domiciliar para a mulher, ou seja, 12 (doze) anos incompletos.

Mapa Mental

Lei 13.257/2016

Proteção integral
Crianças de 0 a 6 anos
Prioridade absoluta Alterações na legislação
completos
Dignidade da pessoa
humana

ECA

CLT

CPP

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Referências Bibliográficas

AMIN, Andréa Rodrigues. Evolução histórica do direito da criança e do adolescente. In:


MACIEL, Kátia Regina Ferreira Lobo Andrade. Curso de Direito da Criança e do
Adolescente. São Paulo: Saraiva, 2019.

CAPEZ, Fernando. Denúncia e queixa. In: ______. Curso de processo penal. 26ª ed. São
Paulo: Saraiva Educação, 2019.

MARTINEZ, Luciano. Suspensão e interrupção contratuais. In: ______. Curso de direito do


trabalho: relações individuais, sindicais e coletivas do trabalho. 10ª ed. São Paulo: Saraiva
Educação, 2019.

TAVARES, Patrícia Silveira. O conselho tutelar. In: MACIEL, Kátia Regina Ferreira Lobo
Andrade. Curso de Direito da Criança e do Adolescente. São Paulo: Saraiva, 2019.

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