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A DOUTRINA DA PROTEÇÃO INTEGRAL

TRAZIDA PELO ESTATUTO DA CRIANÇA


E DO ADOLESCENTE E AS PROPOSTAS
DE REDUÇÃO DA MAIORIDADE PENAL
ÍNDICE
1. 1. RESUMO
2. 2. INTRODUÇÃO
3. 3. EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA RESPONSABILIDADE
JUVENIL
1. 3.1 Etapa penal indiferenciada:
2. 3.2 Etapa tutelar:
3. 3.3 Etapa garantista:
4. 4. SISTEMA DE RESPOSTA PENAL ADOTADO PELO
ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE – ECA
1. 4.1 Imputabilidade ou impunidade?
2. 4.2 Princípios e garantias individuais adotados pelo ECA:
3. 4.3 Medidas socioeducativas e sua natureza jurídica.
4. 4.4 Espécies de medidas socioeducativas:
5. 5. MEDIDA SOCIOEDUCATIVA DE INTERNAÇÃO E SUAS
IMPLICAÇÕES
1. 5.1 Hipóteses de aplicação da medida de Internação:
2. 5.2 Propostas de Redução da Maioridade Penal.
1. 5.2.1 Posicionamentos favoráveis:
2. 5.2.2 Posicionamentos contrários à redução da
maioridade penal:
6. 6. CONCLUSÃO
7. 7. REFERÊNCIAS
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1. RESUMO
O presente trabalho versa sobre o artigo 228 da Constituição Federal vigente, que
garantiu a inimputabilidade aos menores de 18 anos em conflito com a lei, e o
advento do Estatuto da Criança e do Adolescente, que consolidou a Doutrina da
Proteção Integral. Procurou-se elencar os princípios que regem esta Doutrina, bem
como estabelecer as similitudes do processo penal e do procedimento
socioeducativo, mediante análise precisa das medidas socioeducativas, que são a
resposta penal aos adolescentes que praticam atos infracionais, trazendo,
inclusive, o conhecimento adquirido em estágio na 17ª Promotoria da Infância e
Juventude de Maringá/PR. Discute-se, em essência, as propostas de emenda à
Constituição 171/93 e 33/2012, que visam a redução da maioridade penal, onde
são apresentados argumentos favoráveis e contrários às propostas, procurando
identificar se a redução da idade penal está de acordo com a Doutrina da Proteção
Integral consolidada no ECA, e se seria a solução ao problema da criminalidade
juvenil. Argumenta-se sobre o caráter de cláusula pétrea do artigo 228 da Carta
Magna e a eminente inconstitucionalidade das referidas propostas, dentre outras
razões de caráter social. A presente monografia, portanto, busca discorrer sobre a
existência de um Direito Penal Juvenil e as implicações negativas de uma possível
redução da maioridade penal.

Palavras-chave: Adolescentes em conflito com a lei; Imputabilidade; Medidas


Socioeducativas; Redução da maioridade penal.
ABSTRACT
This article aims an analysis about article 228 of the 1988 Federal Constitution,
which guaranteed that minors under 18 years of age aren't imputable, and the
advent of the Statute of the Child and Adolescent, which consolidated the Doctrine
of Integral Protection. It seeks to establish the principles governing the Doctrine of
Integral Protection, as well as to establish similarities in the criminal process and
socio-educational procedure, through a precise analysis of socio-educational
measures, which are the criminal response to adolescents who commit infractions,
including the knowledge acquired in an internship at the 17th Prosecutor's Office
for Childhood and Youth in Maringá/PR. It discusses, especially, the 171/93 and
33/2012’s proposals for amendments to Constitution, which seek to reduce the age
of criminality, presenting its favorable and contrary arguments, and tries to
identify whether the reduction of the criminal age is in agreement with the
Doctrine of Integral Protection, and if it would be the solution to the problem of
juvenile crime. It argues about the character of the stony clause in Article 228 of
the Constitution and the imminent unconstitutionality of these proposals, among
other social reasons. This monograph, therefore, seeks to discuss the existence of
a juvenile criminal law and the negative implications of a possible reduction of the
criminal majority.

Key words: Adolescent offenders; Imputability; Socio-educational measures;


Reduction of the criminal majority.
2. INTRODUÇÃO
Muito se discute atualmente acerca do tema da responsabilidade penal juvenil. Tal
discussão não somente afeta a sociedade, mas de igual proporção o ordenamento
jurídico, vez que a proteção das crianças e adolescentes se encontra prevista no
diploma constitucional de 1988, com advento do Estatuto da Criança e do
Adolescente – ECA, apenas dois anos depois, em 1990.

Essa proteção trazida pelo ECA passou por inúmeras evoluções ao longo dos
séculos, começando com um sistema indiferente às peculiaridades das crianças e
adolescentes, equiparando-os aos adultos; depois passando pelo sistema de
caráter tutelar, que institucionalizou o termo ''menor'' para se referir a
adolescentes infratores e abandonados, sem diferenciá-los, até chegar, enfim, à
etapa garantista, com a promulgação da Constituição e do Estatuto da Criança e do
Adolescente. No primeiro capítulo, portanto, busca-se a análise destas etapas
históricas para se entender o desenvolvimento até os preceitos atuais.

No segundo capítulo, procura-se demonstrar as diferenças do sistema de


responsabilização de crianças e adolescentes que cometem crimes, que inicia
desde logo pela denominação das condutas. Os atos infracionais, que são condutas
equiparadas aos tipos penais e às contravenções penais, têm uma resposta penal
chamada de medida socioeducativa, inexistindo a cominação de penas como no
Código Penal. Nota-se que, por se tratar de pessoas ainda em desenvolvimento, a
aplicação das medidas socioeducativas não se determina tão somente pelo crime
praticado, como são as penas cominadas aos tipos penais; cabe observar a
capacidade do adolescente de cumprir a medida, além das circunstâncias e a
gravidade da infração, conforme o §1º do artigo 112 do ECA.

Em razão desse sistema especial, é comum o pensamento popular no sentido de


que há impunidade dos adolescentes infratores, sendo o termo frequentemente
confundido com a categoria da inimputabilidade, na qual se enquadram os
menores de 18 anos. Talvez pela ausência de condenação em uma pena de prisão,
exista a impressão geral de que adolescentes saiam impunes das práticas
criminosas, porém tal pensamento não se observa na prática, nem pode ser
ensejador de mudanças radicais no sistema juvenil, vez que este tem finalidade
protetora, acima de tudo. Importante ressaltar que essa proteção, desde o início,
tem sido questionada e atacada pelo Legislativo nas Propostas de Emendas
Constitucionais, sendo a mais recente a PEC 171/93, que visa a diminuição da
imputabilidade penal para 16 anos, quando da prática de crimes considerados
hediondos, do homicídio doloso e da lesão corporal seguida de morte,
determinando a criação de estabelecimentos especiais para cumprimento de pena.
A votação em segundo turno da alteração do artigo 228 da Constituição Federal
aprovou a emenda, em agosto de 2015, que atualmente aguarda análise pelo
Senado Federal, e será discutida no terceiro capítulo.
Neste trabalho, portanto, procura-se desmitificar o Estatuto da Criança e do
Adolescente e seu sistema de responsabilização juvenil diferenciado,
demonstrando que existe, de fato, a apuração dos atos infracionais praticados por
crianças e adolescentes, e que a sensação de impunidade experimentada pela
aparente ausência de ''resultado prático'' não pode ser descontada nestes
indivíduos, vez que o Estado assumiu na Carta Maior a obrigação de protegê-los,
acima de tudo, do próprio abuso estatal.

Para o presente trabalho, foram utilizados os métodos histórico/comparativo, e


teórico, que consiste na pesquisa de obras doutrinárias, artigos de periódicos, de
legislação nacional pertinente, de jurisprudência e documentos eletrônicos que
tratam do assunto, bem como de análise empírica, em decorrência da realização de
estágio na 17ª Promotoria de Justiça de Maringá/PR, por mais de dois anos,
proporcionando um contato direto com crianças e adolescentes atendidos pelo
sistema socioeducativo.

3. EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA RESPONSABILIDADE JUVENIL


Atualmente, tem-se uma sensação generalizada de que os jovens estão
mergulhados na criminalidade e que não há nenhum modo de responsabilização.
No entanto, há muito existe a responsabilização penal de crianças e jovens, que é
definida por dois grandes momentos, segundo os historiadores: o primeiro,
quando havia um tratamento indiferenciado de adultos e jovens; e o segundo, no
qual a idade do autor do fato ilícito passa a ser fator distinto no que concerne à
imputabilidade.

Em Roma, a Lei das Doze Tábuas (449 a.C.) já fazia distinção entre o menor púbere
e o impúbere, garantindo ao segundo uma atenuação da pena, em razão de
considerá-lo incapaz de possuir discernimento completo de seus atos1. Esse
critério de discernimento para determinação da responsabilidade penal persistiu
no período medieval: o Direito Canônico assinalava a menoridade como causa de
isenção de pena (até os 07 anos), enquanto dos 07 aos 12 (para mulheres) e dos 12
aos 14 anos (para homens), a responsabilidade era duvidosa, devendo obedecer ao
critério do discernimento, havendo a atenuação das penas.2 No final do período
medieval, consagrou-se a criação do primeiro tribunal espanhol para realizar o
julgamento dos menores, tanto os infratores quanto os abandonados, chamado de
‘’Padre de Huérfanos’’, que foi o mais famoso antecedente dos tribunais de tutela
de menores do século XX.
Quanto ao direito brasileiro, o primeiro diploma legal efetivamente utilizado no
âmbito penal, em relação ao menor, foram as Ordenações Filipinas (1603).
Havendo naquele tempo um Estado cuja jurisdição era presidida pela Igreja
Católica, e considerando que a ‘’idade da razão’’ era alcançada aos sete anos, este
era o marco da responsabilidade penal.3 A única garantia reservada aos menores
de 17 anos era a vedação da pena de morte, constante do Título CXXXV do Livro
Quinto das Ordenações Filipinas, enquanto que os jovens entre 17 e 20 anos
ficavam a mercê do arbítrio do julgador para dar-lhes pena total ou diminuída, em
um sistema de ‘’jovem adulto’’, segundo Saraiva.4 Neste diploma legal, a
maioridade plena era alcançada aos 21 anos.
Passamos a analisar a doutrina de Sérgio Salomão Sheicara, que dividiu a tutela
penal juvenil em três momentos distintos: a etapa penal indiferenciada, a etapa
tutelar e a etapa garantista.

3.1. ETAPA PENAL INDIFERENCIADA:


Começa com o nascimento dos códigos penais liberais do século XIX até as
primeiras legislações do século XX, e se caracteriza por considerar os menores de
idade da mesma maneira que os adultos, sem distinção de tratamento. Com a
proclamação da independência, o Brasil avançou ao criar sua primeira Constituição
em 1824, que previa a criação de um Código Criminal fundado nas bases da justiça
e equidade, que extinguiria os suplícios e as penas difamantes e cruéis, além de
estabelecer que a pena não passaria da pessoa do condenado (artigo 179 e incisos).
Com esse novo pensamento, o Código Criminal de 1830 substituiu as penas
corporais pela pena de prisão, e inovou ao fixar a idade da imputabilidade penal
em 14 anos. No entanto, caso se entendesse que os inimputáveis agiram com
discernimento na prática do crime, estes deveriam ser recolhidos às casas de
correção, sem tempo determinado, não excedendo a idade de 17 anos.5
Nota-se que o Código passa a adotar um critério biopsicológico para determinar a
possibilidade de punição do menor. Quanto às casas de correção, ainda que
consideradas uma inovação, inclusive para inspiração do Código Espanhol de 1848,
ficaram somente no papel, visto que não foram implementadas pelo governo
brasileiro, de forma que o recolhimento dos menores infratores ocorria nas prisões
dos adultos, em ‘’deplorável promiscuidade’’, nas palavras de
Sheicara.6 Importante ressaltar que, na mesma época, era instituído o
procedimento da roda dos expostos, que ficou a cargo das Santas Casas de
Misericórdia em 1828, e culminou em um processo de abandono de órfãos em
massa, que terá ligação direta na formação da identidade criminosa juvenil.
Passamos ao advento do Brasil Republicano, que edita o Código Penal de 1890 e
inova outra vez ao definir a inimputabilidade plena aos 09 anos (no Código
Criminal vigorava a idade dos 07 anos). Dos 09 aos 14 anos continuou sendo
adotado o critério do discernimento, submetendo as crianças e adolescentes à
avaliação do magistrado, de acordo com o artigo 27, §2º do referido diploma. Se o
entendimento fosse da capacidade de entender o ilícito, os menores deveriam
ficam recolhidos em estabelecimentos disciplinares industriais por tempo que
parecesse adequado ao Juiz, desde que não excedesse a idade de 17 anos.
Entretanto, esclarece Sheicara, ‘’assim como as casas de correção previstas no
Código do Império não saíram do papel, da mesma forma o estabelecimento
disciplinar industrial foi letra morta’’.7
A Etapa Indiferenciada do Direito Penal Juvenil, segundo Karyna Batista Sposato,
se caracteriza basicamente por três critérios principais: o tratamento jurídico
dispensado às infrações cometidas por menores de idade no âmbito das mesmas
legislações e diplomas legais que regulam a responsabilidade penal dos adultos, a
imposição das mesmas sanções jurídico-penais (mesmas penas cominadas aos
adultos), ainda que com atenuantes, e a execução e cumprimento das sanções nos
mesmos estabelecimentos penais de adultos.8
Seguindo esta linha ressalta-se que, no período compreendido entre os dois
primeiros códigos brasileiros e o início do século XX, havia grande embate entre o
pensamento clássico e o positivista. O primeiro, que considerava a categoria do
livre arbítrio como determinante das condutas, e o segundo, que via a
periculosidade como atributo de criminoso anormal e preconizava a defesa social,
influenciaram muito o pensamento da época, tendo como exemplo a tipificação dos
crimes de vadiagem e capoeira (artigos 399 e 402 do Código Penal de 1890).

3.2. ETAPA TUTELAR:


Essa etapa se destaca pela insurgência da Doutrina da Situação Irregular, que
consagrava o binômio carência/delinquência, nas palavras de Saraiva9 (pg. 39). Em
decorrência da indignação social pelo tratamento indistinto entre crianças e
adultos, encarcerados todos no mesmo ambiente, sujeitos a mesma inflexão da lei
penal, começaram a surgir as jurisdições especializadas, primeiramente nos
Estados Unidos (Juvenile Court Act de Illinois), espalhando-se então para a Europa
e a América Latina.
No pensamento de Emilio Garcia Mendez, a nova doutrina do menor tem forte
relação com o projeto de reformadores e com o positivismo filosófico, no sentido
de que o menor não infringe a norma por sua própria vontade, mas por
circunstâncias que lhe fogem do controle, de modo que precisa de uma resposta
diversa daquela oferecida aos adultos, com medidas especializadas de caráter
educativo (e, indiretamente, curativo).10 Com estes fundamentos, criou-se a ideia
de que o Juiz deveria ser investido de um poder familiar, uma vez que os jovens
delinquentes não necessitavam apenas de correção, mas principalmente, de
alguém que exercesse a figura de ‘’pai’’. Interpretando as palavras de Karyna
Batista Sposato, bastava o juiz ser um bom pai de família, julgando com o amor
necessário, e envolver-se para compreender o que era mais importante para o
menor. Assim, legitimou-se a adoção de medidas desprovidas de legalidade, sem
respeito ao devido processo legal, fundadas na discricionariedade do magistrado e
valendo-se desse sentimento de que ‘’o pai sabe o que é melhor para o filho’’.11
Neste contexto, em 1923 surgiu no Brasil o primeiro Juizado de Menores no
Distrito Federal, tendo como titular o Magistrado José Cândido Albuquerque Mello
Mattos, que participou inclusive do Código de Menores – Decreto 17.943/27. Como
destacado no início, esse código foi marcado pelo binômio carência/delinquência,
uma vez que não distinguia as crianças abandonadas dos infratores na aplicação
das medidas ou na forma de tratamento. Cabia ao Juiz de Menores decidir a medida
mais adequada ao caso, e sob o pretexto de ‘’proteção do menor abandonado’’,
muitas vezes determinava sua institucionalização em hospitais, asilos ou demais
estabelecimentos, que em nada contribuía para seu desenvolvimento.

A inimputabilidade plena foi definida em 14 anos, sendo que qualquer criança


abaixo dessa idade não poderia ser submetida a nenhum tipo de processo. Entre os
14 e 18 anos, haveria um processo penal de natureza especial, porém sem qualquer
observância dos princípios inerentes ao processo, sendo que mesmo que
absolvido, o adolescente poderia ser submetido a alguma medida imposta pelo Juiz,
constante do artigo 73 do Código de Menores de 1927. Em relação às penas
privativas de liberdade, ainda que o código proibisse o recolhimento dos menores
às prisões comuns, a prática demonstrava o contrário, pois não havia ainda uma
política de atendimento que se preocupasse com o cumprimento da pena pelos
menores de 18 anos, nem com os estabelecimentos especiais definidos em Lei.

Sheicara aduz que, nessa etapa de caráter tutelar, evidenciou-se um sistema de


controle social formal, devido às medidas institucionalizadoras sem o devido
processo legal, bem como um direito penal do autor, em razão da aplicação das
sanções levarem em consideração o adolescente, e não o fato em si.12
Em 1940, com o advento do Código Penal, em sua exposição de motivos percebe-
se que se adotou o caráter puramente biológico para definir a responsabilidade
juvenil, considerando a condição de imaturidade do menor, colocando-os em
situação similar aos inimputáveis por doenças mentais.13 Em 1984, a Parte Geral
do Código Penal passou por uma reforma, sendo assim transcrito em sua exposição
de motivos:
Manteve o projeto a inimputabilidade penal ao menor de 18 (dezoito) anos.
Trata-se de opção apoiada em critérios de Política Criminal. Os que preconizam
a redução do limite, sob a justificativa da criminalidade crescente que a cada
dia recruta maior número de menores, não consideram a circunstância de que
o menor, ser ainda incompleto, é naturalmente antissocial na medida em que
não é socializado ou instruído. O reajustamento do processo de formação do
caráter deve ser cometido à educação, não à pena criminal. De resto, com a
legislação de menores recentemente editada, dispõe o Estado dos instrumentos
necessários ao afastamento do jovem delinquente, menor de 18 (dezoito) anos,
do convívio social, sem sua necessária submissão ao tratamento do delinquente
adulto, expondo-o à contaminação carcerária.14
Importante notar que a reforma trouxe o critério de política criminal para se
manter a inimputabilidade penal aos menores de 18 anos, não se fundamentando
na capacidade ou não do adolescente entender o caráter ilícito de seus atos, mas
sim da não utilização do sistema penal dos adultos em razão do reconhecimento
do princípio da condição peculiar de pessoa em desenvolvimento.15
O segundo momento da etapa tutelar se deu com o Código de Menores de 1979,
que consolidou a Doutrina da Situação Irregular, definida por Saraiva como ‘’aquela
em que os menores passam a ser objeto da norma quando se encontrarem em
estado de patologia social’’, que pode derivar tanto da conduta pessoal (quando
pratica infrações penais ou pelo desvio de conduta), como de maus tratos
familiares, quanto do abandono.16 Neste sentido, transcreve-se o artigo 2º do
referido diploma legal:
Art. 2º Para os efeitos deste Código, considera-se em situação irregular o
menor:
I - privado de condições essenciais à sua subsistência, saúde e instrução
obrigatória, ainda que eventualmente, em razão de:
a) falta, ação ou omissão dos pais ou responsável;
b) manifesta impossibilidade dos pais ou responsável para provê-las;
Il - vítima de maus tratos ou castigos imoderados impostos pelos pais ou
responsável;
III - em perigo moral, devido a:
a) encontrar-se, de modo habitual, em ambiente contrário aos bons costumes;
b) exploração em atividade contrária aos bons costumes;
IV - privado de representação ou assistência legal, pela falta eventual dos pais
ou responsável;
V - Com desvio de conduta, em virtude de grave inadaptação familiar ou
comunitária;
VI - autor de infração penal.
Parágrafo único. Entende-se por responsável aquele que, não sendo pai ou mãe,
exerce, a qualquer título, vigilância, direção ou educação de menor, ou
voluntariamente o traz em seu poder ou companhia, independentemente de ato
judicial.17
Nota-se que não se estabelece qualquer distinção entre o ‘’menor abandonado’’ e o
‘’menor infrator’’, sendo ambos submetidos à Justiça de Menores e podendo ser
condenados ao mesmo estabelecimento, vez que inclusos na mesma situação
irregular. Novamente se evidencia todo o poder concedido ao Juiz, que em seu
prudente arbítrio, agindo como um bom pai de família, poderia determinar outras
medidas diversas das previstas no Código de 1979, caso assim entendesse (artigo
8º), não havendo previsão de intervenção do Ministério Público, do advogado de
defesa, ou da observância dos preceitos fundamentais do processo legal.
Em razão da situação irregular, evidenciou-se que, no tempo de vigência do Código
de Menores, aproximadamente 80% da população infanto-juvenil recolhida nas
entidades de internação do sistema FEBEM no Brasil era formada por ‘’menores’’
que não cometeram qualquer delito. Assim, desenvolveu-se um processo de
criminalização da pobreza, vez que qualquer criança ou adolescente que se
encontrasse em situação de desamparo, familiar ou financeiro, era tratada como
delinquente, acabando por sujeitar-se ao controle total do Estado.18
3.3. ETAPA GARANTISTA:
Esta última etapa tem início com a Constituição Federal de 1988, que substituiu o
paradigma da ‘’situação irregular’’ pelo princípio da ‘’proteção integral’’, e tem
origem em documentos internacionais que consagraram os direitos das crianças e
adolescentes, tendo como principal a Convenção das Nações Unidas de Direito da
Criança, de 1989. A doutrina da proteção integral representou uma verdadeira
ruptura com o antigo sistema, trazendo a criança e o adolescente para uma
condição de sujeitos de direito em razão de suas condições peculiares de pessoa
em desenvolvimento, e consagrando o abandono do termo ‘’menor’’19.
Os direitos fundamentais presentes no diploma maior passam a ser observados no
processo de apuração de delitos cometidos pelos jovens, como a presunção de
inocência, o direito de defesa técnica, do pleno conhecimento da acusação, da
privação da liberdade como medida excepcional, todos englobados no devido
processo legal. No mesmo contexto, o Juiz de Menores perde sua conotação de
‘’bom pai’’ e passa a exercer o papel de julgador, no exercício legal da jurisdição,
limitado pelas garantias processuais.20
Na opinião de Mário Volpi21, a Doutrina da Proteção Integral, além de contrapor-se
ao tratamento que historicamente reforçou a exclusão social, apresenta-nos um
conjunto conceitual, metodológico e jurídico que nos permite compreender e
abordar as questões relativas às crianças e adolescentes sob a ótica dos direitos
humanos, dando-lhes a dignidade e o respeito do qual são merecedores. A
Convenção dos Direitos da Criança propôs, nesse sentido, limites ao poder de
restringir a liberdade da pessoa no que tange ao infrator da lei penal, abraçando a
Doutrina da Proteção Integral, que significa, em essência, a proteção do
adolescente das perdas pela imposição da medida socioeducativa.22
O Estatuto da Criança e do Adolescente, consagrado na Lei. 8.030/1990, firmou os
princípios traçados pela Constituição, garantindo a observância e possibilidade de
se exigir os direitos fundamentais concedidos a criança e adolescente, que se
tornam sujeitos de direitos aos olhos da nova legislação. Afonso Armando Konzen
afirma que a mudança no paradigma da Situação Irregular para o da Proteção
Integral reside no reconhecimento destes direitos processuais dispensados ao
infrator adulto, bem como na construção de um sistema de responsabilidade
diverso, que entende a existência de capacidades diferenciadas do adolescente e
do imputável. 23
O ECA, nas palavras de Kátia Luciana Nolêto de Araújo Dantas24, não trata o ato
infracional como desvio de conduta e sim como uma conduta descrita como crime
ou contravenção penal. Isso traz garantias ao adolescente, vez que este só poderá
ser processado como infrator se praticar uma das condutas criminosas constantes
da Lei Penal, e não apenas por abandono ou perambulação, como preconizava o
Código de Menores.
No entanto, apesar de elencar as medidas socioeducativas passíveis de aplicação
aos adolescentes infratores, o Estatuto não trouxe o modo de execução destas
medidas, de forma que, em 2012, foi editada a Lei 12.594, que instituiu o SINASE –
Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo, cujo objetivo principal foi de
regulamentar a execução das medidas socioeducativas. De acordo com Sheicara,
esta lei representa o mais recente documento aprovado no âmbito da etapa
garantista até então. 25
4. SISTEMA DE RESPOSTA PENAL ADOTADO PELO
ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE – ECA
A Lei 8.069/90, como já explicitado, consolidou a Doutrina da Proteção Integral,
colocando crianças e adolescentes como sujeitos de direitos, ao invés de meros
objetos do direito penal, e preconizando o tratamento diferenciado desses
indivíduos, por se tratarem de pessoas em desenvolvimento. Como bem define
Saraiva,26 o Estatuto da Criança e do Adolescente se assenta no princípio de que
todas as crianças e adolescentes, sem exceções, desfrutam dos mesmos direitos e
sujeitam-se a obrigações compatíveis com sua peculiar condição de pessoa em
desenvolvimento, exterminando a ideia de que os Juizados de Menores somente
atenderiam aos pobres desamparados, como era a concepção da doutrina da
situação irregular.
Tal proteção surgiu no âmbito da Constituição Federal vigente, e começa com a
norma considerada pela maioria como cláusula pétrea (apesar de objeto de
controvérsia), que estabeleceu a idade de maioridade penal aos 18 anos,
consolidada no artigo 228 do referido diploma.27 Desta feita, quis o legislador
separar as crianças e adolescentes dos adultos, estabelecendo que estes ficassem
sujeitos à norma especial, respeitadas as suas peculiaridades de pessoas em
desenvolvimento, com objetivo de garantir-lhes a tão estimada proteção integral.
Isso se verifica já nos primeiros artigos do Estatuto, que além de garantir aos
protegidos pela lei a observância dos preceitos fundamentais constitucionais,
estabelece que nenhuma criança ou adolescente deve receber tratamento diferente
de seus semelhantes, como forma de preconceito. Assim transcrito:

Art. 1º Esta Lei dispõe sobre a proteção integral à criança e ao adolescente.


Art. 2º Considera-se criança, para os efeitos desta Lei, a pessoa até doze anos
de idade incompletos, e adolescente aquela entre doze e dezoito anos de idade.
Parágrafo único. Nos casos expressos em lei, aplica-se excepcionalmente este
Estatuto às pessoas entre dezoito e vinte e um anos de idade.
Art. 3º A criança e o adolescente gozam de todos os direitos fundamentais
inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral de que trata esta
Lei, assegurando-se-lhes, por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e
facilidades, a fim de lhes facultar o desenvolvimento físico, mental, moral,
espiritual e social, em condições de liberdade e de dignidade.
Parágrafo único. Os direitos enunciados nesta Lei aplicam-se a todas as
crianças e adolescentes, sem discriminação de nascimento, situação familiar,
idade, sexo, raça, etnia ou cor, religião ou crença, deficiência, condição pessoal
de desenvolvimento e aprendizagem, condição econômica, ambiente social,
região e local de moradia ou outra condição que diferencie as pessoas, as
famílias ou a comunidade em que vivem.(incluído pela Lei nº 13.257, de
2016)28
O parágrafo único do artigo 3º, incluído posteriormente em 2016, representa uma
referência ao princípio da isonomia, demandando uma nova forma de ver e
entender os indivíduos em situação de vulnerabilidade, de modo a evitar que, sob
o pretexto de ‘’proteger’’ qualquer deles, o Estado desrespeite suas garantias
fundamentais, como ocorria na vigência do Código de Menores29.
4.1. IMPUTABILIDADE OU IMPUNIDADE?
Antes de se diferenciar o modelo socioeducativo do modelo penal, é necessária a
eliminação da confusão entre os termos imputabilidade e impunidade. Não é
segredo que o desconhecimento do sistema leva a conclusões precipitadas e
midiáticas, e que o aumento da violência de forma geral não contribui com a
mudança de pensamento, mas não há qualquer semelhança naqueles dois termos
a não ser a gramatical.

A imputabilidade, segundo Bitencourt30, foi definida por exclusão no Código Penal


Brasileiro, vez que define as situações em que haverá a inimputabilidade, ou seja,
ausência de responsabilização penal do indivíduo que se enquadrar em uma de
suas hipóteses (artigo 26, caput, do CP). Dentre os critérios fixadores da
inimputabilidade, o diploma legal adotou o sistema biopsicológico, como regra
geral, sendo exceção o menor de dezoito anos, cujo critério é puramente biológico
e foi acolhido pela Constituição Federal.
Neste sentido:
No que diz respeito aos menores de 18 anos, os requisitos e efeitos da
inimputabilidade são, claramente, distintos. Para o menor de idade, o critério
biológico, isoladamente, esgota o conceito de inimputabilidade, porque, por
presunção constitucional (art. 228 da CF e art. 27 do CP), o menor de dezoito
anos é incapaz de culpabilidade, ou, na velha terminologia, irresponsável
penalmente, pelo menos no âmbito do Direito Penal de adultos. Com efeito, é
suficiente que se faça a comprovação da idade do menor, isto é, do aspecto
puramente biológico, para “isentá-lo de pena”. Isso não significa, contudo, que
o menor de 18 anos não seja responsabilizado de alguma forma pela infração
cometida. De acordo com a Lei n. 8.069/90, que dispõe sobre o Estatuto da
Criança e do Adolescente, este último, o adolescente (pessoa maior de 12 e
menor de 18 anos, nos termos do art. 2º) poderá responder individualmente
pelo seu ato infracional (conduta descrita como crime ou contravenção, nos
termos do art. 103 do ECA), sendo-lhe aplicável, como sanção, uma das medidas
socioeducativas previstas no art. 112 do referido Estatuto.31
A imputabilidade é uma categoria necessária à definição da culpabilidade do
agente, e inicia-se aos dezoito anos, seguindo um critério puramente biológico,
ignorando os sistemas anteriores que preconizavam a responsabilização penal
com base no critério do discernimento. Já na exposição de motivos do Código Penal
de 1940 foi justificada essa adoção, considerando o menor como ser naturalmente
antissocial, cujo caráter deve ser formado pela educação, e não por punição.32
Com razão, a idade mínima de responsabilização criminal refere-se à idade em que
o Estado admite que uma criança seja punida com pena privativa de liberdade em
razão da prática de ilícito criminal, no âmbito da chamada Justiça Juvenil, sob a
regência de leis especiais e em estabelecimentos de internação próprios para
adolescentes com nítida função educadora e ressocializadora. No Brasil, essa idade
mínima é de 12 anos, nos termos do arts. 20 e 112, ambos do ECA.

Já a idade mínima da maioridade penal refere-se à idade a partir da qual o


indivíduo responde pelos seus crimes perante a Justiça Penal dos adultos e com as
penalidades a eles aplicadas. No Brasil, essa idade foi fixada em dezoito anos, nos
termos do art. 228 da Constituição Federal.

Para Guilherme Dezem, Flávio Martins e Paulo Henrique Fuller,33 a


inimputabilidade penal por idade não significa a indiferença ou impunidade, mas
apenas a impossibilidade de imposição de sanções do direito penal comum (penas
e medidas de segurança). O renomado Desembargador Antônio Fernando do
Amaral e Silva pensa da mesma forma:
Sendo a imputabilidade (derivado de imputare) a possibilidade de atribuir
responsabilidade pela violação de determinada lei, seja ela penal, civil,
comercial, administrativa ou juvenil, não se confunde com a responsabilidade,
da qual é pressuposto. [...] Não se confundindo imputabilidade e
responsabilidade, tem-se que os adolescentes respondem frente ao Estatuto
respectivo, porquanto são imputáveis diante daquela lei. Aos adolescentes (12
a 18 anos) não se pode imputar (atribuir) responsabilidade frente à legislação
penal comum. Todavia, podendo-se-lhes atribuir responsabilidade com base
nas normas do Estatuto próprio, respondem pelos delitos que praticarem,
submetendo-se a medidas socioeducativas, com inegável caráter penal
especial.34
Outrossim, a inimputabilidade, causa de responsabilidade específica do direito
penal dos adultos, não elimina a responsabilidade pessoal do adolescente que
comete ato infracional e nem pode ser chamada de impunidade, cuja definição se
assenta na ‘’falta de punição’’, muito usada para definir a justiça brasileira no geral,
e não somente no âmbito juvenil. É evidente que a falta de solução dos inquéritos
policiais, o aumento da violência e a demora nos processos judiciais contribui para
um acréscimo da visão pessimista em relação à efetividade do direito penal e seu
sistema de responsabilização, mas o argumento da falta de punição aos
adolescentes infratores não subsiste quando analisado o sistema socioeducativo.
Para isso, é necessária a construção do modelo juvenil, como será realizado a
seguir.
4.2. PRINCÍPIOS E GARANTIAS INDIVIDUAIS ADOTADOS
PELO ECA:
Na opinião de Saraiva, o Estatuto da Criança e do Adolescente, de forma inegável,
instituiu no Brasil um sistema diferenciado de responsabilização, que pode ser
definido como Direito Penal Juvenil:

Não se pode ignorar que o Estatuto da Criança e do Adolescente instituiu no


país um sistema que pode ser definido como de Direito Penal Juvenil. Estabelece
um mecanismo de sancionamento, de caráter pedagógico em sua concepção e
conteúdo, mas evidentemente retributivo em sua forma, articulado sob o
fundamento do garantismo penal e de todos os princípios norteadores do
sistema penal enquanto instrumento de cidadania, fundado nos princípios do
Direito Penal Mínimo.35
Anteriormente, o Autor define como Doutrina do Direito Penal Mínimo aquela que,
reconhecendo a necessidade da prisão para determinados crimes, admite também
a aplicação de penas alternativas, reservando as penas privativas de liberdade para
situações de risco social efetivo.36 Neste contexto, cita as lições de Luigi
Ferraioli37 sobre o sistema do garantismo penal, que guarda semelhança com o
Direito Penal Mínimo, na medida que ambos defendem uma minimização da
violência da intervenção punitiva por meio de limites impostos ao poder do Estado,
para assegurar os direitos dos indivíduos.38
A existência de um Direito Penal Juvenil também é defendida por Sheicara, quando
estuda os princípios adotados pelo ECA, dentre eles o superior interesse da criança
e do adolescente, para que se respeite sua condição de pessoa em
desenvolvimento.39 Ressalta-se que o próprio doutrinador entende que a
concepção de um direito penal juvenil não é pacífica entre os autores brasileiros.
Entretanto, a não-admissão deste sistema de caráter sancionatório, para Saraiva,
representa um apego aos antigos ditames do ‘’menorismo’’, que não reconhecia as
crianças e adolescentes como sujeitos de direito, pugnando pela manutenção da
doutrina da situação irregular, que ignorava os preceitos
fundamentais.40 Portanto, o reconhecimento de um novo sistema de
responsabilização dos adolescentes infratores, pautado nas garantias
fundamentais cedidas à pessoa humana, é um avanço necessário para o estudo
preciso do Estatuto da Criança e do Adolescente.
Adotando a posição defendida pelos doutrinadores, consagrando a existência de
um Direito Penal Juvenil, trazido pela Constituição Federal e consolidado no ECA,
que criou um novo modelo jurídico de responsabilização penal aos adolescentes
infratores, veremos a adequação de alguns princípios caros ao Direito Penal e
Processual Penal aplicáveis à matéria.

Primeiramente, o ECA estabelece a distinção entre a criança e o adolescente no


artigo 2º, definindo que ‘’considera-se criança a pessoa até 12 anos de idade
incompletos, e adolescente aquela entre 12 e 18 anos de idade’’. Essa distinção é
importante no que concerne às medidas aplicáveis quando da prática de atos
ilícitos por esses indivíduos.
O princípio da legalidade se verifica ao estabelecer o Estatuto que as medidas
socioeducativas poderão ser aplicadas ao adolescente que cometer ato infracional,
nos dizeres do artigo 112 do diploma, sendo ato infracional definido como a
conduta descrita como crime ou contravenção penal.41 Desta forma, só poderá ser
sancionado o adolescente que praticar um ato ou omissão definidos como crime e
contravenção penal, que necessariamente são condutas típicas, ilícitas e culpáveis.
Sobre isso, leciona Sheicara:
O principal é que se assegure, quando da imputação de ato infracional ao
adolescente, que se lhe dê o direito de um juízo de tipicidade (pois, se o fato é
atípico, não há ato infracional); de um juízo de ilicitude (pois, se o fato é
amparado pelo direito, não há crime, nos termos do art. 23 do CP); de um juízo
de averiguação dos elementos da culpabilidade.42
No mesmo sentido, o pensamento de Saraiva:
Desde o advento do Estatuto da Criança e do Adolescente, vige o princípio da
legalidade ou da anterioridade penal. [...] Ou seja, somente haverá medida
socioeducativa se ao adolescente estiver sendo atribuída a prática de uma
conduta típica. A conduta, além de típica, há de ser antijurídica, ou seja, que
não tenha sido praticada sob o pálio de qualquer das justificadoras legais, as
causas excludentes de ilicitude previstas no artigo 23 do Código Penal. [...]
Igualmente não haverá ato infracional se sua conduta não for culpável,
excluindo-se do conceito de culpabilidade o elemento biopsicológico da
imputabilidade penal.43
Percebe-se, portanto, que foi atribuída nova nomenclatura ao ato ilícito praticado
pelo adolescente, mas como este equivale aos crimes e contravenções penais,
também sustenta todas as características pertinentes a eles. As medidas
socioeducativas, definidas no artigo 112 do ECA, somente poderão ser aplicadas
diante da ocorrência do ilícito definido em lei.

Haverá situações, entretanto, que o ato infracional praticado ensejará uma


resposta estatal não na forma de sanção, mas consistente em uma das medidas de
proteção previstas no artigo 101 do Estatuto,44 como o acolhimento institucional,
inclusão em programa de auxílio a alcoólatras e toxicômanos, requisição de
tratamento médico, psicológico ou psiquiátrico, entre outros. Essas medidas
poderão ser determinadas pelo Juízo tanto em razão da conduta do adolescente,
quanto decorrente de ação ou omissão do Estado, dos pais ou do responsável pelo
menor de idade45. Na opinião de Saraiva, a medida nesse caso não decorre
especificamente da conduta do agente, mas sim de certa circunstância pessoal
deste que o pratica.46
Quanto às crianças (até 12 anos de idade incompletos) que, por ventura,
praticarem atos infracionais, o artigo 105 é claro ao estabelecer que somente
poderão receber as medidas de proteção, em respeito à sua condição de pessoa em
desenvolvimento. Sobre a natureza destas medidas, Sheicara entende que não
possuem caráter punitivo, caracterizando-se pela ‘’desjudicialização’’, posto que
podem ser aplicadas pelo Conselho Tutelar, de ofício, exceto nos casos de
acolhimento institucional, inclusão em programa de acolhimento familiar e
colocação em família substituta, aplicáveis apenas pelo magistrado.47
Na opinião de Wilson Donizete Liberati48, as crianças são tanto penalmente
inimputáveis como também penalmente irresponsáveis, a elas cabendo somente
aplicação de medidas de proteção quando da prática de ato infracional. Já os
adolescentes são penalmente inimputáveis, porém penalmente responsáveis nos
termos da legislação especial do Estatuto.
Essa breve e tênue disposição das medidas socioeducativas e medidas de proteção
carrega outros princípios, como exemplo o do superior interesse do adolescente,
aliado com o da condição peculiar de pessoa em desenvolvimento. Esses ditames
envolvem o reconhecimento da criança e do adolescente como sujeitos de direito,
destinatários de todas as benesses garantidas aos adultos, bem como de um
tratamento ainda mais garantista, respeitada sua condição peculiar. No
pensamento de Guilherme Madeira Dezem49, ‘’as condições que a família, a
sociedade e o Estado tiverem ofertado ao sujeito serão marcantes na sua formação,
razão pela qual as medidas aplicadas a ele deverão considera-lo como sujeito
especial de direito que está vivenciando um momento único, próprio de quem está em
pleno processo de formação’’.
O artigo 6º do ECA, ao estabelecer os preceitos de interpretação da lei especial,
reconheceu a desigualdade existente entre o adolescente e o adulto, sendo que o
primeiro não pode ser tratado com o rigor despendido ao segundo, tampouco pode
ser tratado como criança, merecendo uma resposta diferenciada, levando em
consideração sua condição pessoal.50
Hão de ser consideradas também as garantias individuais asseguradas aos
adolescentes autores de ato infracional, como a observância do devido processo
legal que vem definida explicitamente no artigo 11051 do Estatuto da Criança e do
Adolescente, que inicia o Capítulo III, do Título III, denominado Garantias
Processuais. O dispositivo faz clara menção ao previsto no inciso LIV52 da
Constituição Federal, ao dizer que ‘’nenhum adolescente será privado de sua
liberdade sem o devido processo legal’’.
Neste sentido:

Há que se existir a percepção que o Estatuto impõe sanções aos adolescentes


autores de ato infracional, e que a aplicação destas sanções, aptas a interferir,
limitar e até suprimir temporariamente a liberdade dos jovens, há que se dar
dentro do devido processo legal, sob princípios extraídos do direito penal, do
garantismo jurídico, e, especialmente, da ordem constitucional que garante os
direitos de cidadania.53
De igual maneira, o artigo 106 garante que ‘’nenhum adolescente será privado de
sua liberdade senão em flagrante de ato infracional ou por ordem escrita e
fundamentada da autoridade judiciária competente’’, assegurando ao apreendido
a identificação dos responsáveis, a comunicação imediata de sua apreensão aos
pais e à autoridade judiciária, bem como a flagrância apenas nas hipóteses
definidas nos artigos 302 e 303 do CPP.54
Outras garantias individuais vêm definidas no artigo 111 do ECA, como a defesa
técnica por advogado, a igualdade na relação processual, e o pleno conhecimento
da atribuição de ato infracional por citação ou outros meios admitidos.

4.3. MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS E SUA NATUREZA


JURÍDICA.
Retomando o já explicitado, as medidas socioeducativas consistem na resposta
estatal aos adolescentes que praticarem atos infracionais (condutas típicas, ilícitas
e culpáveis), no sistema estabelecido pelo ECA, garantido às crianças infratoras a
aplicação, no máximo, das medidas de proteção. O rol de medidas socioeducativas
está previsto no artigo 112 do Estatuto da Criança e do Adolescente, enumeradas
em grau crescente de severidade e pertencem a um rol taxativo, portanto não
haverá aplicação de nenhuma outra medida além da previsão do artigo que seja
considerada socioeducativa:
Art. 112. Verificada a prática de ato infracional, a autoridade competente
poderá aplicar ao adolescente as seguintes medidas:
I - advertência;
II - obrigação de reparar o dano;
III - prestação de serviços à comunidade;
IV - liberdade assistida;
V - inserção em regime de semi-liberdade;
VI - internação em estabelecimento educacional;
VII - qualquer uma das previstas no art. 101, I a VI.
§ 1º A medida aplicada ao adolescente levará em conta a sua capacidade de
cumpri-la, as circunstâncias e a gravidade da infração.
§ 2º Em hipótese alguma e sob pretexto algum, será admitida a prestação de
trabalho forçado.
§ 3º Os adolescentes portadores de doença ou deficiência mental receberão
tratamento individual e especializado, em local adequado às suas condições.
As medidas de advertência, obrigação de reparar o dano, prestação de serviços à
comunidade e liberdade assistida são executadas em meio aberto, sendo as duas
últimas acompanhadas por uma equipe multidisciplinar, que irá elaborar um Plano
Individual de Atendimento do adolescente, nos termos da Lei do SINASE (Lei
12.594/12), levando em consideração suas peculiaridades para o cumprimento
efetivo da medida.55
Já as medidas de semiliberdade e internação são consideradas privativas de
liberdade, e só podem ser determinadas pela autoridade judiciária mediante
decisão fundamentada. Da mesma forma, serão elaborados Planos Individuais de
Atendimento aos adolescentes privados de liberdade, observados os princípios da
brevidade e excepcionalidade da medida.56
Importante observar os ditames do §1º do artigo 112, que estipula ao órgão
aplicador da medida (autoridade judiciária ou Ministério Público, no caso da
remissão) a observância das peculiaridades do adolescente em conflito com a lei,
considerando a capacidade deste de cumprir a medida, as circunstâncias e a
gravidade da infração. No mesmo sentido, o artigo 35 da Lei 12.594/2012 – SINASE
estabelece que a execução da medida socioeducativa deve considerar a idade,
capacidade e circunstâncias pessoais do adolescente, bem como sustentar
proporcionalidade em relação à ofensa cometida e buscar o fortalecimento da
família durante a execução da medida.57 Nota-se que não há uma medida
socioeducativa padrão para um tipo de delito, diferente do modo como ocorre no
Direito Penal aplicado aos imputáveis, em que a pena foi estipulada pelo legislador
desde o início.
Antes de explicitar brevemente cada uma das medidas socioeducativas, importante
sustentar posição acerca da natureza jurídica destas, vez que a adoção de um ou
outro pensamento influencia todo o sistema novo trazido pelo Estatuto.

Sérgio Salomão Sheicara58 explica que, quando do advento do ECA (1990), negava-
se o caráter sancionatório das medidas socioeducativas, por estas ‘’decorrerem do
desvalor social que marca a conduta infracional, de modo que pressupõem o
reconhecimento do erro e a declaração de reprovabilidade da conduta,
ultrapassando a prevenção geral e especial e alcançando a pessoa em
desenvolvimento, interferindo na produção de valores’’. O resultado era o
pensamento geral de que, mesmo as medidas privativas de liberdade, eram
utilizadas para o ‘’bem’’ do adolescente, na intenção de trata-lo e reeduca-lo para a
sociedade, não possuindo assim um caráter punitivo, de repressão.
De opinião semelhante, Antônio Fernando do Amaral e Silva59 explica que, sob o
pretexto de um sistema dito protetor, que diz buscar o melhor interesse do
adolescente através da aplicação de medidas socioeducativas (inclusive privativas
de liberdade), fundadas em um caráter essencialmente pedagógico, ocorria a
supressão das garantias oriundas do processo penal, como exemplo os critérios da
legalidade e proporcionalidade.
Por outro lado, os doutrinadores que defendem o Direito Penal Juvenil aceitam a
natureza de sanção da medida socioeducativa, ainda que esta detenha
essencialmente um caráter pedagógico. Na opinião de João Batista Costa Saraiva:

A segunda razão apresentada diz respeito à própria natureza da medida


socioeducativa, eis que, tanto quanto a sanção penal, a medida se constitui em
um mecanismo de defesa social. Embora se distinga da pena pela prevalente
carga pedagógica, em detrimento do punitivo, faz-se inequívoco seu
igualmente caráter retributivo.60
Do mesmo modo pensa Silva:

É cediço que a expressão pena pertence ao gênero das respostas sancionatórias


e que as penas se dividem em disciplinares, administrativas, tributárias, civis,
inclusive socioeducativas. São classificadas como criminais quando
correspondem a delito praticado por pessoa de 18 anos ou mais, imputável
frente ao Direito Penal comum. Embora de caráter predominantemente
pedagógico, as medidas socioeducativas, pertencendo ao gênero das penas, não
passam de sanções impostas aos jovens.61
É inegável, portanto, que o pensamento atual reconhece o caráter sancionatório
das medidas previstas no Estatuto, afirmando sempre, no entanto, que sua
finalidade pedagógica deve sobressair-se à finalidade retributiva, sob pena de
desrespeitar o princípio da condição peculiar de pessoa em desenvolvimento
conferido ao adolescente.

Ao se fazer tal afirmação, não se busca a elevação da cultura punitiva aplicável aos
adultos, muito menos a redução da medida privativa de liberdade em sanção
somente retributiva, mas sim preconiza a humanização da resposta estatal, na
medida que se obtenha do processo socioeducativo as mesmas garantias
individuais e coletivas observadas no processo penal, além de buscar frear aqueles
que acreditam que a punição é essencial e necessária para a proteção do
adolescente em conflito com a lei.62
4.4. ESPÉCIES DE MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS:
A primeira das medidas a ser aplicada é a Advertência, que está prevista no artigo
115 do Estatuto da Criança e do Adolescente, e consiste em uma admoestação
verbal, que será reduzida a termo e assinada pelo adolescente, pelo representante
do Ministério Público e pelo magistrado, quando da prática de atos infracionais de
pequena gravidade. O § único do artigo 114 admite que a advertência seja aplicada
quando houver prova da materialidade e indícios suficientes de autoria, porém
alguns autores entendem que essa disposição é inconstitucional.

Dezem, Fuller e Martins explicam que ‘’a advertência não deveria ser aplicada em
sentença sancionatória sem a comprovação da autoria, em face da regra derivada
do princípio da presunção de inocência e dos efeitos secundários da medida
socioeducativa, como a internação por reiteração no cometimento de outras
infrações graves’’.63 No mesmo sentido dispõe Marcos Bandeira, ao afirmar que a
advertência possui caráter sancionatório, ainda que de maioria pedagógico, e que
a interferência estatal na esfera individual deve se valer somente quando houver
justa causa e a observância dos princípios do contraditório, ampla defesa e
presunção de inocência.64
A segunda medida prevista no artigo 112 é a obrigação de reparar o dano, quando
se tratar de ato infracional com reflexos patrimoniais e houver possibilidade do
adolescente de promover o ressarcimento do dano, a restituição da coisa ou a
compensação da vítima, de outra forma. Sheicara pontua que essa medida foi
instituída dentro de um contexto da vitimologia, em que se busca dar à vítima um
protagonismo no processo penal. Esclarece, ainda, que a reparação só deve ser
aplicada se o adolescente tiver condições de cumprir a medida, não sendo entregue
o ônus ao seu representante legal, sob pena de perder o caráter pedagógico da
medida socioeducativa. 65
Como terceira hipótese de medida socioeducativa, o Estatuto trouxe a prestação de
serviços à comunidade, prevista no artigo 117 do respectivo diploma. Assim
transcrito:
Art. 117. A prestação de serviços comunitários consiste na realização de tarefas
gratuitas de interesse geral, por período não excedente a seis meses, junto a
entidades assistenciais, hospitais, escolas e outros estabelecimentos
congêneres, bem como em programas comunitários ou governamentais.
Parágrafo único. As tarefas serão atribuídas conforme as aptidões do
adolescente, devendo ser cumpridas durante jornada máxima de oito horas
semanais, aos sábados, domingos e feriados ou em dias úteis, de modo a não
prejudicar a freqüência à escola ou à jornada normal de trabalho.66
Essa medida é considerada a principal alternativa às penas privativas de liberdade,
tanto no caso dos adolescentes quanto aos adultos, surgindo na Reforma da parte
geral do Código Penal e ampliada pela Lei 9.714/1998, para depois ser reproduzida
pelo ECA. Sérgio Salomão Sheicara entende que, ‘’se bem aplicada a prestação de
serviços, ela induz no adolescente infrator a ideia de responsabilidade, de apego às
normas comunitárias, de respeito pelo trabalho, atendendo assim aos interesses
da prevenção geral positiva.''67
O prazo máximo de aplicação da referida medida é de seis meses, a ser cumpridos
nos dias úteis, sem que interfiram nos estudos do adolescente, aos fins de semana
ou feriados, por até oito horas diárias. A execução se dará nos termos da Lei
12.594/12, que instituiu o Sistema de Atendimento Socioeducativo – SINASE, onde
dispõe que será constituído processo de execução para cada adolescente, a ser
encaminhado para fiscalização do órgão gestor, que elaborará o Plano Individual
de Atendimento – PIA.68
Por fim, a mais grave das medidas em meio aberto, a Liberdade Assistida, encontra-
se prevista nos artigos 118 e 119 do Estatuto, e será adotada sempre que se
mostrar a mais adequada para fins de acompanhar, auxiliar e orientar o
adolescente, com prazo mínimo de seis meses (diferentemente da prestação de
serviços à comunidade, cujo prazo máximo é de seis meses), podendo ser revista a
qualquer tempo.
A Liberdade Assistida é considerada ideal para crimes de média gravidade, por não
ter os inconvenientes das reprimendas institucionais. É reconhecida como
substitutiva penal, semelhante ao sistema da suspensão condicional do processo,
aplicada para os imputáveis.69 Quando houver sua imposição, a autoridade
designará pessoa capacitada para acompanhar o jovem, o orientador, que será
responsável por promover a inserção do adolescente e sua família em programas
comunitários de auxílio e assistência social, por meio de um trabalho dinâmico,
devendo ser permitido ao assistido escolher seu próprio projeto de vida, em busca
da efetiva socialização.
Na opinião de Sheicara, a Liberdade Assistida é a pedra de toque do sistema de
medidas socioeducativas:

Se os programas não contarem com instrumentos adequados, ou se a medida


constituir-se exclusivamente de um controle passivo das atividades cotidianas
do adolescente, é provável que a reincidência venha a ocorrer. Sabendo os
adolescentes da falta eventual de fiscalização, a liberdade assistida poderia ser
até mesmo a porta de entrada para o regime institucional. Por isso é
fundamental que os programas, comunitários e assistenciais, sejam eficazes no
acompanhamento das atividades do jovem e que ele saiba de sua existência.70
No mesmo sentido ensina Ana Maria Freitas, quando atribui a necessidade da
participação ativa do orientador durante a execução da medida, não devendo ser
meramente formal ou burocrática, na busca de atingir a finalidade da medida, que
se concentra na socioeducação do adolescente. Pressupõe ainda a criação de um
vínculo entre o técnico (orientador) e o adolescente e seus familiares, para criar
um espaço honesto e produtivo de trabalho.71
Entretanto, devido à inexistência de recursos humanos para suprir a demanda de
adolescentes em conflito com a lei, não sendo possível na maioria dos casos
designar um orientador para cada jovem, muitas vezes se designa a própria equipe
interprofissional em exercício na Vara da Infância e Juventude para realizar o
atendimento e acompanhamento, sendo esta a elaborar o Plano Individual de
Atendimento – PIA respectivo.72
Em caso de descumprimento da medida aplicada em sentença, o magistrado
poderá substituí-la por outra medida mais grave, a convencionada ''internação-
sanção'' (art. 122, III do ECA), que será estudada dentro das medidas privativas de
liberdade, após oitiva do jovem, seu Advogado, e parecer do Ministério Público.
Aqui também sustenta ligação com o sistema penal dos adultos, considerando que
é possível a regressão da medida, se descumpridas as regras da Liberdade
Assistida.

A próxima medida prevista pela Lei 8.069/90 é a Semiliberdade, que, como o nome
diz, caracteriza-se pela privação parcial da liberdade do adolescente, devendo este
se recolher na instituição durante a noite, e frequentar a escola ou atividade
profissionalizante durante o dia, sempre que possível. Estas atividades externas
devem ser realizadas independentemente de autorização judicial, de acordo com
entendimento do STF73, no intuito de minimizar os efeitos institucionalizantes que
a restrição da liberdade impõe.
Nos termos do artigo 120 do Estatuto:

Art. 120. O regime de semi-liberdade pode ser determinado desde o início, ou


como forma de transição para o meio aberto, possibilitada a realização de
atividades externas, independentemente de autorização judicial.
§ 1º São obrigatórias a escolarização e a profissionalização, devendo, sempre
que possível, ser utilizados os recursos existentes na comunidade.
§ 2º A medida não comporta prazo determinado aplicando-se, no que couber,
as disposições relativas à internação.
O caput do artigo, na opinião de Sheicara, guarda forte semelhança com o regime
progressivo de cumprimento de penas, previsto nos artigos 33 e ss. do Código
Penal,74 vez que a semiliberdade pode ser aplicada como forma de transição para
o meio aberto, quando se apurar que o adolescente, após um período de internação,
ainda necessita de certo controle antes de voltar de vez à sociedade.
Ainda, pode ser aplicada a denominada ‘’semiliberdade invertida’’, que consiste na
adoção de regime oposto: a permanência na unidade de atendimento
socioeducativo seria cumprida durante o dia, podendo o adolescente pernoitar na
residência de sua família, principalmente quando isso facilitar o deslocamento do
jovem para participar de cursos técnicos, de capacitação e ensino obrigatório.75
A essência da medida socioeducativa de Semiliberdade, portanto, se concentra na
hipótese de realização de atividades externas pelo adolescente, que não
prescindem de autorização judicial, ainda que seja possível a restrição de tais
atividades pelo magistrado, em decisão fundamentada.

Para Sheicara, ‘’a importância do regime de semiliberdade está no fato de que a


reinserção social deve se dar de forma gradativa. A evolução do quadro do
adolescente, ao cumprir medida de internação, pode ser gradativamente avaliada
com a progressão do regime, onde não há total privação do contato com os
familiares e amigos, no intuito de minimizar os efeitos do encarceramento’’.76
Por fim, o artigo 120 estabelece que a medida não comporta prazo determinado,
aplicando-se, no que couber, as disposições relativas à medida de Internação, tais
como: reavaliação da medida a cada seis meses, com elaboração de relatório
multidisciplinar pela unidade, além da medida não poder exceder o prazo de 03
anos (art. 121, §§2º e 3º e art. 42, caput, Lei 12.594/2012)77.
Em relação à medida de Internação, prevista nos artigos 121 e 122 do ECA, será
analisada em capítulo próprio, em decorrência de suas inúmeras peculiaridades.

5. MEDIDA SOCIOEDUCATIVA DE INTERNAÇÃO E SUAS


IMPLICAÇÕES
Obedecendo uma certa gradação, como já explicitado, o artigo 112 do ECA traz
como última medida socioeducativa a Internação, vez que é a mais grave dentre as
outras, e deve atender a uma série de requisitos e princípios para ser aplicada
necessariamente pelo magistrado. Nestes termos:

Art. 121. A internação constitui medida privativa da liberdade, sujeita aos


princípios de brevidade, excepcionalidade e respeito à condição peculiar de
pessoa em desenvolvimento.
§ 1º Será permitida a realização de atividades externas, a critério da equipe
técnica da entidade, salvo expressa determinação judicial em contrário.
§ 2º A medida não comporta prazo determinado, devendo sua manutenção ser
reavaliada, mediante decisão fundamentada, no máximo a cada seis meses.
§ 3º Em nenhuma hipótese o período máximo de internação excederá a três
anos.
§ 4º Atingido o limite estabelecido no parágrafo anterior, o adolescente deverá
ser liberado, colocado em regime de semi-liberdade ou de liberdade assistida.
§ 5º A liberação será compulsória aos vinte e um anos de idade.
§ 6º Em qualquer hipótese a desinternação será precedida de autorização
judicial, ouvido o Ministério Público.
§ 7o A determinação judicial mencionada no § 1o poderá ser revista a qualquer
tempo pela autoridade judiciária. (Incluído pela Lei nº 12.594, de 2012)(Vide)
Art. 122. A medida de internação só poderá ser aplicada quando:
I - tratar-se de ato infracional cometido mediante grave ameaça ou violência a
pessoa;
II - por reiteração no cometimento de outras infrações graves;
III - por descumprimento reiterado e injustificável da medida anteriormente
imposta.
§ 1o O prazo de internação na hipótese do inciso III deste artigo não poderá ser
superior a 3 (três) meses, devendo ser decretada judicialmente após o devido
processo legal. (Redação dada pela Lei nº 12.594, de 2012)(Vide)
§ 2º. Em nenhuma hipótese será aplicada a internação, havendo outra medida
adequada.
Art. 123. A internação deverá ser cumprida em entidade exclusiva para
adolescentes, em local distinto daquele destinado ao abrigo, obedecida
rigorosa separação por critérios de idade, compleição física e gravidade da
infração.
Importante observar que, antes de qualquer disposição, o legislador determinou
que a Internação deve obedecer aos princípios da brevidade, excepcionalidade e
respeito à peculiar condição de pessoa em desenvolvimento, sendo esse último um
dos principais objetivos do Estatuto da Criança e do Adolescente.

Neste sentido, a medida deve ser aplicada como ultima ratio, reconhecendo que a
privação de liberdade, em especial aplicada ao indivíduo em fase de
desenvolvimento, pode provocar cicatrizes na formação da identidade e nas
relações do jovem, podendo inclusive surtir efeitos contrários, que nada
interessam à sociedade.78 Enquanto medida pacificadora, a prisão é um
instrumento muito agressivo, cabendo a todos evitar que perdure por mais tempo
que o deva. Assim, ainda que a Internação não comporte prazo mínimo estipulado,
deve ser reavaliada a cada seis meses, até o máximo de 03 anos.
O princípio da excepcionalidade se verifica ainda no artigo 45 da Lei do SINASE,
onde estabelece que atos praticados posteriormente pelo adolescente, que
ensejariam nova internação, ficam absorvidos pelos referentes à privação de
liberdade já aplicada.79 Quanto ao respeito à condição peculiar de pessoa em
desenvolvimento, observados todos os argumentos já explicitados anteriormente,
infere-se que a escolha da medida a ser aplicada deve ser permeada pela
personalidade do adolescente, suas condições sociais, bem como a avaliação de que
é a única medida naquele momento capaz de imputar um sentimento de
responsabilização no jovem, por meio da restrição de sua liberdade.
O §1º do art. 121 aponta que poderão ser admitidas atividades externas pelo
magistrado, mas não é o comum. Diferentemente do que ocorre com a
semiliberdade, em que apenas excepcionalmente pode ser proibida a sua
realização.
Os demais parágrafos versam sobre o prazo da internação, que, da mesma forma
que na medida anterior, é indeterminado, devendo sua manutenção ser reavaliada
a cada seis meses, no máximo. A despeito da ausência de prazo determinado, a
internação nunca pode superar o máximo de três anos, em consideração aos
princípios já explicitados, porém tal disposição deve ser analisada com cuidado,
para evitar o pensamento de que o Estatuto da Criança e do Adolescente é uma
legislação permissiva.80
Isto porque, de acordo com os ditames do §4º do art. 121, o magistrado tem três
opções: liberar o adolescente, entendendo que as finalidades da medida de
internação foram cumpridas, ou poderá lhe conceder a progressão para a medida
de semiliberdade ou liberdade assistida, considerando as peculiaridades do caso e
a necessidade de socioeducação do adolescente. Assim, se entender que a
gravidade do crime é considerável e mantê-lo internado por três anos, o período
máximo de cumprimento da medida, e depois conceder a progressão para a
semiliberdade, por mais três anos, a restrição de liberdade deste adolescente
acabaria excedendo aquela que adulto normalmente cumpriria.81
Para Calderoni, a indeterminação do prazo da Internação se dá em razão da
finalidade de prevenção especial da medida socioeducativa, ou seja, a tentativa de
evitar a reincidência, a vulnerabilidade do adolescente e sua marginalização
secundária. Deste modo, a medida seria vinculada não à gravidade da infração, mas
sim ao desenvolvimento do adolescente durante seu cumprimento.82
De qualquer sorte, o adolescente deve ser liberado compulsoriamente quando
atingir 21 anos, se ainda estiver em cumprimento de medida socioeducativa,
qualquer que seja, em razão da denominada prescrição etária, que é a perda do
direito de impor medida socioeducativa em razão da idade.83
5.1. HIPÓTESES DE APLICAÇÃO DA MEDIDA DE INTERNAÇÃO:
Como a medida privativa de liberdade deve ser a ultima ratio, o Estatuto da Criança
e do Adolescente elencou hipóteses em que ela poderá ser aplicada, procurando
evitar uma completa discricionariedade do magistrado no momento da
condenação. O artigo 122 elenca três comportamentos que podem ensejar a
aplicação da Internação, nestes termos:
Art. 122. A medida de internação só poderá ser aplicada quando:
I - tratar-se de ato infracional cometido mediante grave ameaça ou violência a
pessoa;
II - por reiteração no cometimento de outras infrações graves;
III - por descumprimento reiterado e injustificável da medida anteriormente
imposta.
§ 1o O prazo de internação na hipótese do inciso III deste artigo não poderá
ser superior a 3 (três) meses, devendo ser decretada judicialmente após o
devido processo legal. (Redação dada pela Lei nº 12.594, de 2012) (Vide)
§ 2º. Em nenhuma hipótese será aplicada a internação, havendo outra medida
adequada.
O rol é taxativo, não podendo ser decretada a Internação fora destas hipóteses.84 O
inciso I diz respeito aos atos infracionais cometidos com violência ou grave ameaça
contra a pessoa, como o homicídio, o roubo/latrocínio, o estupro. Na opinião de
Dezem, Fuller e Martins, deve ser obedecido o princípio da legalidade, sendo a
grave ameaça e a violência componentes do preceito primário do tipo penal
remetido (definição legal da conduta).85
Não são quaisquer crimes que ensejam a medida, como uma briga escolar entre
adolescentes que envolva violência, por se tratarem de condutas relativamente
comuns, recorrentes.86 Da mesma forma, a prática de um ato infracional
considerado grave, mediante ameaça ou violência, não implica necessariamente na
privação de liberdade, vez que o inciso I do art. 122 institui uma regra de
possibilidade, e não de obrigatoriedade.87
Existe muita discussão sobre a possibilidade de aplicação da Internação aos atos
infracionais equiparados aos crimes de tráfico de drogas, mas grande parte da
doutrina é contrária,88 por entender que a violência de que se trata o inciso deve
ser contra a pessoa, somente, sendo descabida qualquer assertiva no sentido de
uma violência contra a sociedade, sob pena de se fazer uma analogia in malam
partem, vedada pelo Direito Penal.
Sobre isso, o Superior Tribunal de Justiça pacificou sua jurisprudência no sentido
de não ser o tráfico de drogas ato capaz de ensejar a medida de internação,
editando a Súmula 49289, em 2012, versando sobre o assunto, porém alguns
tribunais ainda mantém o entendimento de que sim, o tráfico também é hipótese
de privação de liberdade. Ainda que o tema seja polêmico e mereça melhor análise,
não haverá um aprofundamento por não ser objeto específico do presente
trabalho.
O inciso II do artigo 122 determina que poderá ser submetido à medida mais
extrema aquele adolescente que reiterar na prática de outros atos infracionais
graves, não necessariamente da mesma espécie. Aqui, o entendimento é de que
essas infrações graves não são as mesmas do inciso anterior (cometidas mediante
violência ou grave ameaça), como o tráfico de drogas, o furto, o porte de arma.90
Da mesma maneira, entende-se por grave aqueles atos infracionais equiparados
aos crimes que a lei penal comina pena de reclusão.91 Quanto à reiteração, esta
difere do fenômeno da reincidência (prática de novo crime após trânsito em
julgado de sentença condenatória de crime anterior), porque significa apenas
‘’fazer de novo’’, ‘’repetir’’ o que já foi praticado, sendo este o posicionamento do
STF, que entende que bastam dois atos infracionais graves para que se possa
aplicar a medida.92
Já a orientação no STJ, até 2015, era de que necessitavam, no mínimo, três atos
infracionais graves para ensejar o disposto no artigo 122, II do ECA (HC 57.641/SP,
5ª T., Rel. Ministra Laurita Vaz, DJ 16/10/2006; HC 108.466/SP, 5ª T., rel. Ministro
Feliz Fischer, DJ 13/10/2008)93. Entretanto, a partir da decisão do HC 342.943/SP,
pelo Ministro Reynaldo Soares da Fonseca, o entendimento equiparou-se ao da
Suprema Corte, salientando que o Estatuto da Criança e do Adolescente não
estipulou um número mínimo de atos infracionais graves para justificar a
internação do adolescente infrator, de modo que devem ser consideradas as
peculiaridades de cada caso.
Nestes termos:

HABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO DE RECURSO PRÓPRIO. IMPROPRIEDADE DA


VIA ELEITA. ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE. ATO INFRACIONAL
EQUIPARADO AO DELITO DE TRÁFICO ILÍCITO DE ENTORPECENTES. MEDIDA
SOCIOEDUCATIVA DE SEMILIBERDADE IMPOSTA EM RAZÃO DAS
PECULIARIDADES DO CASO CONCRETO. REITERAÇÃO NO COMETIMENTO DE
ATO INFRACIONAL. CIRCUNSTÂNCIA QUE PERMITIRIA, INCLUSIVE, A
APLICAÇÃO DA MEDIDA MAIS GRAVOSA DE INTERNAÇÃO. AUSÊNCIA DE
PREVISÃO LEGAL DE NÚMERO MÍNIMO DE ATOS INFRACIONAIS
ANTERIORES. PRECEDENTES DESTA CORTE E DO STF. HABEAS CORPUS NÃO
CONHECIDO. 1. O Supremo Tribunal Federal, por sua Primeira Turma, e a
Terceira Seção deste Superior Tribunal de Justiça, diante da utilização
crescente e sucessiva do habeas corpus, passaram a restringir a sua
admissibilidade quando o ato ilegal for passível de impugnação pela via
recursal própria, sem olvidar a possibilidade de concessão da ordem, de ofício,
nos casos de flagrante ilegalidade. 2. Esta Quinta Turma, na esteira da
jurisprudência da Suprema Corte, firmou o entendimento de que o Estatuto da
Criança e do Adolescente não estipulou um número mínimo de atos infracionais
graves para justificar a internação do menor infrator, com fulcro no art. 122,
inciso II, do ECA (reiteração no cometimento de outras infrações graves).3.
Consoante a nova orientação, cabe ao Magistrado analisar as peculiaridades
de cada caso e as condições específicas do adolescente, a fim de melhor aplicar
o direito, definindo a medida socioeducativa mais adequada à hipótese dos
autos. Precedentes deste Tribunal e da Suprema Corte. 4. In casu, o paciente
não estuda, não exerce atividade lícita, é usuário de drogas, possui outra
passagem pela Vara da Infância e da Juventude por tráfico de entorpecentes e
descumpriu medida de liberdade assistida anteriormente aplicada, elementos
que permitiriam, inclusive, a aplicação da medida mais gravosa de internação,
nos termos do acima expendido. Entretanto, o Tribunal a quo, seguindo o
pedido formulado pelo Parquet no recurso de apelação, aplicou a medida de
semiliberdade, mais benéfica, portanto, ao paciente. 5. Habeas corpus não
conhecido. (HC 342.943/SP, Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA,
QUINTA TURMA, julgado em 10/03/2016, DJe 16/03/2016)
A reiteração no cometimento de outras infrações graves pressupõe a comprovação
de autoria e materialidade da conduta anterior, reconhecida em sentença
condenatória transitada em julgado, respeitado assim o princípio constitucional da
presunção de inocência (art. 5º, LVII da CF).

A última hipótese de Internação, constante do inciso III, considera possível quando


do descumprimento reiterado e injustificável de medida anteriormente imposta,
denominada de internação-sanção, por ser um mecanismo de coerção do
adolescente ao cumprimento da medida anterior.94 O prazo máximo dessa medida
é de três meses, conforme §1º do art. 122, e só pode ser determinada judicialmente
após o devido processo legal, com a oitiva do adolescente infrator, vez que devem
ser apuradas as causas do descumprimento.95
Nos termos de Wilson Donizete Liberati, ‘’por exigir o descumprimento
injustificável da medida anteriormente imposta, a internação-sanção deve ser
precedida de designação de audiência, para oportunizar a apresentação de
justificativas, produção de provas e manifestação do Ministério Público e da
defesa’’.96
Sobre a reiteração no descumprimento, adota-se o entendimento do inciso
anterior, de que é necessário pelo menos outro descumprimento anterior da
medida para que possa ser aplicada a internação-sanção. Ademais, não é regra
aplicar-lhe, se puder ser cominada medida socioeducativa menos gravosa (no caso
de descumprimento de liberdade assistida, regredir para semiliberdade, por
exemplo).
Por último, a doutrina e jurisprudência entendem que a medida aplicada deve ser
a decorrente de sentença condenatória, não sendo admitida a internação-sanção
nas hipóteses em que for descumprida medida concedida em sede de remissão
(suspensão do processo), porque estas ensejam a continuação da ação
socioeducativa, que resultará em sentença (arts. 186, §4º e 189, do ECA).97
Do exposto, importante ressaltar e reiterar que a medida socioeducativa,
principalmente a privativa de liberdade extrema, a internação, não deve ser
olvidada de seu caráter sancionatório, sob pena de voltar aos ditames da doutrina
da situação irregular, que acreditava na ‘’proteção do adolescente’’ por meio do
encarceramento.98
Nas sábias palavras de João Batista Costa Saraiva, aqueles que optam pela negação
do Direito Penal Juvenil acabam por admitir a minimização dos efeitos garantistas
do processo, acreditando na sanção como um bem em si mesma, um remédio, como
na concepção equivocada de Carnelutti, passando a aceitar decisões díspares que
ferem os princípios elencados no Estatuto e voltam ao Código de Menores, com a
concepção paternalista do direito.99 Ressalta-se que não há espaço para
ambiguidades no trato com crianças e adolescentes, consideradas pessoas em
desenvolvimento, e que a doutrina da proteção integral deve ser aplicada em seu
máximo, buscando consolidar os ditames trazidos pelo ECA.
5.2. PROPOSTAS DE REDUÇÃO DA MAIORIDADE PENAL.
É inegável o que se discute hoje em todos os meios de comunicação existentes:
houve um aumento significativo da violência em todos os âmbitos, e da sensação
generalizada de que o Estado não consegue exercer seu papel fundamental na
garantia de segurança pública, levando a população a pensar que deve se proteger
sozinha, inclusive levantando a hipótese de descriminalização da compra de armas,
como se opera nos Estados Unidos. Mas esse não é o enfoque do presente trabalho,
que busca desmitificar o pensamento cada vez mais comum de que os adolescentes
são responsáveis por esse aumento no número de crimes e da violência urbana.
Ainda que o tema tenha se difundido com mais força nos últimos anos, observa-se
que algumas propostas legislativas de mudança da idade de imputabilidade penal
são antigas, inclusive, uma delas data apenas cinco anos após a promulgação da
Constituição de 1988, tempo em que não houve sequer discussão do tema para
ensejar esse pensamento extremo. Fala-se da Proposta de Emenda Constitucional
171, de 1993, cuja autoria é do Deputado Benedito Domingos, a qual estão
apensadas diversas outras PECs para trâmite conjunto, cada qual com uma redação
diferente para o artigo 228 da CF, mas todas pretendendo a redução da idade penal.
Seu texto final foi aprovado em julho de 2015 na Câmara dos Deputados, e
encaminhado para deliberação no Senado Federal, aguardando espaço na pauta.100
Portanto, mesmo o debate tendo se tornado acalorado nos presentes dias,
importante lembrar que a redução da maioridade penal sempre foi levantada pelas
casas legislativas, independentemente do aumento da violência, visando agravar a
punição aos adolescentes em conflito com a lei, como se ignorando as propostas e
princípios trazidos pelo Estatuto da Criança e do Adolescente de que estes são
sujeitos em peculiar condição de desenvolvimento e merecem, sim, maior cautela
em seu trato. No decorrer deste último capítulo, serão demonstrados os principais
argumentos contrários e favoráveis à redução da maioridade penal.

5.2.1. Posicionamentos favoráveis:


Como já explicitado, a PEC 171/93, proposta na Câmara dos Deputados, sofreu
inúmeros adendos e agora foi aprovada em votação, sendo encaminhada para
deliberação no Senado Federal, ainda sem data para tal. Foi realizada uma análise
do voto do Deputado Laerte Bessa, o relator da Comissão Especial que proferiu
parecer final à PEC, elegendo os principais argumentos utilizados pelo Deputado
para declarar-se favorável à redução da maioridade penal. São estes:101
1) A redução é viável vez que o modelo atual não corresponde mais à idade mental
dos adolescentes, considerando a facilidade de acesso à informação, a liberação
sexual, a emancipação e independência dos filhos, além da liberdade política para
exercer o direito do voto a partir dos 16 anos de idade (direito trazido pela
Constituição, reconhecendo a aptidão biopsíquica e intelectual destes jovens para
decidir sobre o destino do País;

2) Entendimento de que a legislação do ECA é muito benéfica para os jovens


infratores e funciona como um incentivo para que sejam aliciados por maiores de
idade para as associações criminosas;

3) Que existe grande clamor popular no sentido da maior punição dos adolescentes
que praticam crimes mais graves e restariam impunes, com a legislação em vigor;

4) Que nenhum direito fundamental é absoluto, pois todos eles são relativos e
mutáveis e sofrem a influência dos contextos histórico e social em que se
encontram inseridos;

5) O número de adolescentes internados no Sistema SINASE não pode ser utilizado


como referência para avaliar a real dimensão da criminalidade juvenil no Brasil,
porque não existem dados oficiais acerca do déficit de vagas nesse Sistema ou do
quantitativo dos registros das delegacias e varas da infância e da juventude em
todo o País;

6) Outras democracias admitem a maioridade penal para adolescentes de 16 e de


17 anos, e que a redução no Brasil não afronta qualquer parâmetro ou tratado
internacional de direitos das crianças e dos adolescentes, tampouco viola o
princípio da proteção integral da criança ou qualquer outro postulado previsto na
Constituição Federal;

7) Que o Direito Penal deve atuar, ainda que de modo excepcional e como ultima
ratio, quando tanto o Estado quanto a família do adolescente falham em prestar os
cuidados básicos para essa pessoa em desenvolvimento, para garantir os direitos
da coletividade à ordem pública e à pacificação social, e melhorar o equilíbrio entre
os direitos fundamentais do adolescente e da população em geral;
8) Enfim, a essência da proposta é que o adolescente entre 16 e 18 anos responda
a uma pena criminal, e não medida socioeducativa, com a ‘’vantagem’’ de se aplicar
a circunstância atenuante do art. 65 do Código Penal, sendo a pena cumprida em
local diverso dos adultos e com uma finalidade educacional e ressocializante, nos
termos da lei.102
Como se verifica, são diversas as razões apontadas pelo Deputado que traduzem a
ânsia de se ter reduzida a idade penal, e todas apresentam algum fundamento,
ainda que possam ser desconstruídas. No mesmo sentido, fez-se análise da
Proposta de Emenda à Constituição 33/2012 que tramita no Senado Federal, ao
qual foram apensadas inúmeras outras PECs, e identificou-se que são os mesmos
motivos já explicitados que tornam os senadores favoráveis à redução.

No voto do Senador Relator Ricardo Ferraço, argumenta-se que o desenvolvimento


dos jovens brasileiros não é mais o mesmo de 1940, e que houve expressivo
aumento da criminalidade entre os adolescentes nos últimos anos, com dados
fornecidos por secretarias de segurança de alguns estados da Federação. Defende,
inclusive, que o artigo 228 da CF/88 não constitui cláusula pétrea, podendo ser
alterado por mera conveniência da política criminal, vez que esta foi a base para
estabelecer a inimputabilidade penal aos 18 anos. A questão de que a idade penal
é reduzida nas demais legislações internacionais também é trazida pelo Relator. 103
A proposta inicial, no caso da PEC 33/2012, visa criar um incidente de
desconsideração da inimputabilidade do adolescente entre 16 e 18 anos que
cometer crimes graves, como homicídio, latrocínio, extorsão, inclusive os
hediondos, a ser proposto pelo Ministério Público,104 e tem Audiência Pública
marcada para novembro de 2017 para discussão.
Os juristas Miguel Reale105 e Guilherme de Souza Nucci106 também sustentavam
posicionamento favorável à redução da maioridade penal no início do século XXI,
acreditando na capacidade do adolescente de entender o caráter ilícito da conduta,
podendo ser então responsabilizados pelos crimes praticados. Ainda que o
primeiro tenha falecido sem alterar seu pensamento, recentemente Nucci
discursou em entrevistas mostrando-se contrário à redução, considerando o caos
do sistema penitenciário brasileiro e a inexistência de uma política criminal
equilibrada. Defendeu, na oportunidade, um meio termo, aumentando-se o tempo
de internação para os adolescentes que cometessem crimes hediondos.107
Conclui-se afirmando que, durante a pesquisa, não foram encontrados outros
posicionamentos favoráveis à diminuição da idade penal por juristas e estudiosos
no cenário atual.

5.2.2. Posicionamentos contrários à redução da maioridade penal:


Interessante ressaltar que o primeiro argumento contrário à redução da
maioridade penal é eminentemente jurídico, por considerar que o artigo 228 da
Constituição Federal108 é cláusula pétrea e não pode ser modificado por meio de
Emendas Constitucionais, por se tratar de direito fundamental garantido às
crianças e adolescentes.
Neste sentido, Sheicara defende que o artigo 228 é uma garantia da não
responsabilização criminal, considerando ser o adolescente uma pessoa em
desenvolvimento físico, psíquico, emocional e social, e que o fato da
inimputabilidade não ter sido incluída no rol do artigo 5º da CF não significa que
não seja um direito fundamental, muito pelo contrário. Os direitos fundamentais,
que constituem cláusula pétrea nos termos do artigo 60, §4º, IV do diploma
constitucional, também se encontram espalhados pela Carta Maior, como prevê o
§2º do art. 5º desta.109
Na opinião do magistrado Eugênio Couto Terra, o legislador assegurou a todos os
menores de 18 anos a condição de inimputáveis diante do sistema penal, que deve
ser respeitada pelo Estado brasileiro ao passo que garante o direito de liberdade a
estas pessoas, que por sua vez está vinculado ao princípio fundamental da
dignidade da pessoa humana.110 Assim, foi garantido às crianças e adolescentes o
direito de não responder um processo criminal por atos infracionais cometidos
antes dos 18 anos, mas sim de serem submetidos à legislação especial do Estatuto
da Criança e do Adolescente, que foi redigido com base nos princípios da proteção
integral e da condição peculiar de pessoa em desenvolvimento.
Para Karina Sposato, não é necessário que o direito ou garantia conste do rol do
artigo 5º da CF para impedir a proposta de emenda constitucional, bastando que
diga respeito diretamente à vida, liberdade, igualdade e até a propriedade para que
seja revestida de inviolabilidade.111 Na medida que a própria Constituição afirma
que os princípios e garantias individuais não se bastam nos incisos do artigo 5º,
mas podem ser encontrados por todo o texto, não há que se propagar a discussão.
Portanto, tem-se que o primeiro óbice a uma redução da idade de
responsabilização criminal reside na inviabilidade material das PECs, vez que
todas elas pretendem modificar ou abolir uma garantia constitucional, considerada
cláusula pétrea para a grande maioria dos estudiosos, visando nada mais que a
aplicação de penas iguais aquelas dos adultos para pessoas ainda em formação, que
gozam de proteção integral.

A tentativa de se abolir essa garantia também está limitada pela comunidade


internacional, vez que o Brasil é signatário de várias normas internacionais que
versam sobre os direitos das crianças e adolescentes, como a Convenção
Internacional dos Direitos da Criança das Nações Unidas (1989), que passou a ser
norma de direito interno, adquirindo força cogente, após aprovação pelo
Congresso Nacional.112
A Convenção é pautada pelo princípio do ‘’interesse superior da criança’’, e
reconhece a esta direitos civis, políticos, sociais, econômicos e culturais,
transformando-a em sujeito de direitos destinatária de proteção integral.
Apresenta normas reguladoras do cuidado com as crianças em conflito com a lei,
assegurando-lhes a legalidade, a dignidade e o respeito por seus direitos humanos,
e considera como criança toda pessoa menor de 18 anos. Nas palavras de Sheicara,
‘’o processo de internacionalização dos direitos como um todo, em especial os
relacionados à criança, fixou limites à intervenção do Estado quanto à
criminalização de seus jovens’’.113
Ainda neste raciocínio, argumentam os favoráveis à redução de que os demais
países responsabilizam os adolescentes mais cedo, o que não se verifica com a mais
simples das pesquisas. De acordo com dados da UNICEF, considerando as
informações de 53 países, 42 deles, sem incluir o Brasil, adotam a maioridade penal
aos 18 anos (dentre eles: Alemanha, China, Espanha, França, Inglaterra...), com a
idade inicial de responsabilização criminal fixada por volta dos 14 anos na maioria
deles (47%).114 Portanto, o Brasil encontra-se em consonância com o sistema
internacional de responsabilização penal juvenil, de modo que esta informação não
se justifica.
Outro ponto trazido à discussão é a questão da aparente impunidade dos
adolescentes em conflito com a lei, e a alegação de que as normas do ECA são por
demais protetivas e não ensejam o sentimento de responsabilização naquele
infrator. Pela leitura do trabalho até então, este é um argumento que pode ser
combatido de pronto, simplesmente ao considerar que as medidas socioeducativas
são semelhantes às penas em conteúdo e forma, apenas com uma nomenclatura
diferente.

O Estatuto determina a aplicação de medidas privativas de liberdade, consistentes


em regime de semiliberdade (uma espécie de semiaberto) e internação (prisão),
assim como medidas não privativas (liberdade assistida, prestação de serviços à
comunidade, advertência e reparação de dano), que guardam forte semelhança
com as penas restritivas de direitos do Código Penal.

O processo de apuração de ato infracional também corresponde em vários pontos


com o processo criminal. Nos dizeres do Promotor de Justiça José Heitor dos
Santos:

‘’Assim, um menor com 12 anos de idade que mata seu semelhante pode, se
necessário, ser internado provisoriamente pelo prazo de 45 dias, internação
esta que não passa de uma prisão, sendo semelhante, para o maior, à prisão
temporária ou preventiva, com a ressalva de que para o maior o prazo da
prisão temporária, em algumas situações, não pode ser superior a 10 dias.
Custodiado provisoriamente, sem sentença definitiva, o menor responde ao
processo com assistência de advogado, tem de indicar testemunhas de defesa,
senta no banco dos réus, participa do julgamento, tudo igual ao maior de 18
anos, mas apenas com 12 anos de idade. Não é só. Ao final do processo, pode ser
sancionado, na verdade condenado, e, em consequência, ser obrigado a
cumprir uma medida, que pode ser a internação, na verdade uma pena
privativa de liberdade, em estabelecimento educacional, na
verdade presídio de menores, pelo prazo máximo de 03 anos. ’’115
Qual seria a impunidade experimentada pelos adolescentes em conflito com a lei,
então, vez que recebem medidas semelhantes às penas quando da prática de atos
infracionais? Somente o desconhecimento do sistema socioeducativo leva a esta
argumentação, incluído aí o chamado ‘’clamor popular’’, que é base das propostas
de emenda à constituição.

Analisando este contexto, as medidas socioeducativas tendem, muitas vezes, a


serem ainda mais rigorosas para os adolescentes que a pena para os adultos. Por
exemplo, para que um imputável chegue a cumprir três anos em regime fechado, a
pena aplicada não poderá ser inferior a 18 anos, devido aos requisitos necessários
para a progressão para o semiaberto, enquanto que um adolescente, ao cometer
qualquer crime mediante violência ou grave ameaça, já pode ser submetido à
medida de internação, e dada suas características, pode ser prorrogada por até três
anos.116
Ocorre que, essa aparente sensação de impunidade caminha ao lado do aumento
da violência, que é noticiada todos os dias pelos mais diversos meios de
comunicação, onde relatam o crescimento do número de roubos, homicídios e
crimes sexuais no país, que não detém uma única causa. É certo que, quando é
noticiado que um desses crimes graves foi cometido por um adolescente, a
indignação é mais que geral, mas talvez pelos motivos errados. Por que indignar-
se com a sensação de que aquele adolescente não será punido severamente, mas
ignorar o fato de que este deveria estar na escola, acompanhado da família, ou
divertindo-se? A questão aqui não é a ‘’defesa do bandido’’, como se diz
popularmente, mas a necessidade de indignar-se com o que fê-lo agir como tal.

Argumenta-se também que os jovens ‘’atuais’’ possuem mais acesso à informação


que quando do advento da Constituição de 1988, o que lhes possibilitaria maior
discernimento em suas escolhas, mas é importante ressaltar que não há
comprovação de que seu amadurecimento prévio se dá com o acesso a essas
informações.

Em importante contribuição, César Barros Leal explica que o critério do


discernimento não foi utilizado na definição da imputabilidade penal, porque até
uma criança de 07 anos consegue diferenciar o certo do errado. O que deve ser
levado em consideração nesse caso, para o Autor, é a ‘’modificabilidade do
comportamento do adolescente e sua potencialidade para beneficiar-se dos
processos pedagógicos, dada sua condição de pessoa em
desenvolvimento’’.117 Neste sentido, entende-se que a mudança de
comportamento advém grande parte das condições sociais, familiares e
psicológicas do adolescente, as quais não mudaram consideravelmente, vez que
muitos permanecem em situação de miserabilidade e fracas perspectivas de
melhora.
Ainda neste debate, foi expedida a Nota Técnica nº 20118, pelo Instituto de Pesquisa
Econômica Aplicada – IPEA em 2015, trazendo dados relevantes ao debate, como
exemplos: faz uma identificação do perfil dos adolescentes em conflito com a lei,
relaciona a desigualdade social com a prática de atos infracionais, informa a
proporcionalidade de aplicação das medidas socioeducativas em cada região do
país, bem como os atos infracionais mais praticados pelos adolescentes. As Autoras
do referido documento ressaltam que as condições de vulnerabilidade social a que
estes jovens estão expostos contribuem para o aumento da criminalidade, na
medida em que não conseguem terminar os estudos, não laboram e geralmente não
tem condições financeiras para o sustento adequado.
Sobre esse assunto, a Comissão Permanente da Infância e Juventude, do Conselho
Nacional de Procuradores-Gerais de Justiça, expediu a Nota Técnica nº 02/2013,
ratificada em 23.03.2015 por maioria, consolidando o entendimento de que o
adolescente deve receber um tratamento diferenciado do adulto, por ser demais
suscetível a mudanças de comportamento nesta fase da vida.119
Ademais, o Ministério Público do Paraná, por meio do Centro de Apoio Operacional
das Promotorias da Infância e Juventude, é manifestamente contrário à redução da
maioridade penal, levando em consideração os aspectos jurídicos (cláusula pétrea)
e os práticos, vez que a existência de uma norma específica como o ECA, que busca
uma intervenção socioeducativa na vida do adolescente, é mais eficaz que a
aplicação pura e simples do Código Penal, dotado de caráter essencialmente
punitivo.120
No mesmo sentido é a posição da Ordem dos Advogados do Brasil do Paraná, que
considera a redução da idade penal um ‘’ataque ao efeito, e não à causa’’. Considera
que muitos dos direitos fundamentais previstos às crianças e adolescentes na
Constituição não são assegurados pelo Estado, o que aumenta a probabilidade de
envolvimento com a criminalidade.121 De mesma opinião é o Presidente da
Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB), que contesta os dados que indicam
o aumento da criminalidade por parte dos adolescentes, bem como a
inconstitucionalidade das propostas que pretendem a redução.122
Vê-se, portanto, que a posição dos órgãos públicos que efetivamente tem contato
com a realidade dos adolescentes em conflito com a lei, é contra a redução da idade
penal, por entenderem que, além da inexistência de base legal para a mudança, não
é a solução para o problema da criminalidade no país.

Na brilhante exposição do Promotor de Justiça Murillo José Digiácomo, percebe-se


que o aumento da punição não é o meio adequado para se diminuir a prática de
crimes, como exemplo o método adotado pela Lei dos Crimes Hediondos, que
somente contribuiu para um super encarceramento, como se vê hoje:

Está mais do que provado que a punição pura e simples, bem como a
quantidade de pena prevista ou imposta, mesmo para o adulto, não é um fator
de diminuição da violência. Exemplo claro é aquele dado pela chamada "Lei
dos Crimes Hediondos" (Lei nº 8.072/90), que através de um tratamento mais
rigoroso com os autores de tais infrações, pretendia diminuir sua incidência.
Ocorre que, nunca foram praticados tantos crimes hediondos como hoje,
estando nossas cadeias e penitenciárias abarrotadas a tal ponto de se estar
estudando a revogação ou modificação dessa lei, de modo a permitir a
progressão para um regime prisional menos severo tal qual previsto para os
crimes comuns.123
Da mesma forma pensa Sheicara, defendendo que a simples redução da idade de
responsabilidade penal não resolveria o problema da chamada impunidade. Nestes
termos:

Se idade fosse o fator decisivo, os maiores de 18 anos não cometeriam crimes,


quando, na realidade, são protagonistas de mais de 90% deles. Em um estudo
retrospectivo pode-se identificar facilmente que muitos adultos foram, a seu
tempo, adolescentes infratores. Isso está a provar que a idade da
imputabilidade penal aos dezoito anos não se constitui, por si só, um freio
inibitório às condutas delinquentes. Caso fosse uma causa de prevenção geral
efetiva, o adolescente cometeria vários atos infracionais e, num passe de
mágica, ao completar dezoito anos, não mais praticaria crimes. Sabe-se que
isso não é real, o que está a demonstrar que as penas – como de resto as
medidas socioeducativas – não têm, por si sós, o efeito de prevenção geral que
muitos alardeiam.124
O Autor continua a exposição, afirmando que o amadurecimento biológico dos
jovens, nesta sociedade pós-industrial, já existe aos dezoito anos, porém o
psicológico não. Defende, inclusive, a criação de um regime de jovens adultos, cuja
faixa etária poderia ir até no mínimo 21 anos, devido a estudos que dizem ser a
maturidade psíquica atingida apenas aos 20 anos. 125
Não é por menos que a população considerada jovem no Brasil, com idades entre
18 e 28 anos, representa quase que 70% da população prisional, o que evidencia
que a existência da pena cominada não exerce o papel de prevenção geral para a
qual foi criada na população jovem, de modo que sua intimidação dos adolescentes
entre 16 e 18 anos seria ínfima, contribuindo apenas para ainda mais superlotação
dos presídios brasileiros.126
Um último ponto a ser levado em análise corresponde às promessas de construção
de estabelecimentos especiais para onde os adolescentes entre 16 e 18 anos seriam
encaminhados quando da prática de crimes ensejadores da restrição da liberdade.
A ideia parece interessante no ínicio, porém não se adequa à realidade vivenciada
pelo Brasil no momento; na verdade, tais disposições legais nunca foram
integralmente cumpridas, tomando como exemplo a criação das Casas de Correção
na época do Código Criminal de 1830, e dos Estabelecimentos disciplinares no
Código Penal de 1890, cuja função seria de acolher os adolescentes em conflito com
a lei, porém não passaram de letra morta da lei.127
Como muito se discute, o sistema carcerário brasileiro passa por extremas
dificuldades, com a ausência de funcionários, a superlotação dos presídios e as
condições degradantes de seus interiores, de modo que cogitar a criação de novos
estabelecimentos penais especiais para abrigar adolescentes entre 16 e 18 anos
beira o absurdo, principalmente quando já existem os Centro Socioeducativos –
CENSE destinados ao cumprimento da medida de internação.

Portanto, analisando os posicionamentos favoráveis e contrários à redução da


maioridade penal, possibilitando melhor discussão do tema, tem-se que a medida
não é viável por diversas razões, considerados o aspecto jurídico de cláusula pétrea
do artigo 228 da CF/88, o parâmetro internacional da idade penal, os princípios da
peculiar condição de desenvolvimento e da proteção integral garantidos pela Carta
Magna, a ineficácia de punições mais severas como forma de prevenção geral e a
necessidade de se atacar as causas da criminalidade, como a desigualdade social, a
pobreza e a desetruturação familiar, na busca de uma solução que não infrinja os
direitos conquistados pelas crianças e adolescentes.

6. CONCLUSÃO
Com o tema da responsabilidade penal de crianças e adolescentes em alta,
verificou-se que esta ocorre desde o Brasil Império, com o advento do Código
Criminal de 1830 e posteriormente o Código Penal de 1890, já no período
republicano, onde o critério adotado para se determinar a responsabilização ou
não do indivíduo menor era biopsicológico, usando a categoria do discernimento
(capacidade de entender o ilícito) para se autorizar a aplicação de uma pena.

Devido ao nascimento do Juizado de Menores no Distrito Federal, deu-se início à


Doutrina da Situação Irregular, consolidada no Código de Menores (1927 e 1979),
que legitimou a aplicação de medidas sem observância do devido processo legal,
tanto aos menores que praticassem crimes quanto aos
abandonados/desamparados, sob o pretexto de proteção destes, valendo-se de um
magistrado discricionário que exercesse a função de ‘’pai’’.

O Código Penal de 1940 adotou o critério biológico para definir a imputabilidade


penal aos 18 anos, mas somente com a Constituição Federal de 1988 que houve
uma mudança de pensamento, dando início à Doutrina da Proteção Integral,
consolidada no Estatuto da Criança e do Adolescente – 1990. Adotou-se os
princípios inerentes ao processo, respeitando a condição peculiar de pessoa em
desenvolvimento das crianças e adolescentes, garantindo-lhes proteção frente ao
abuso estatal.

A categoria da inimputabilidade por vezes é confundida com impunidade, porém


não há qualquer similitude entre ambas, senão gramatical, vez que crianças e
adolescentes podem ser responsabilizados por seus atos através das medidas de
proteção e medidas socioeducativas trazidas pelo ECA, sendo-lhe resguardado
somente a garantia de não sofrerem as sanções do direito penal comum.

O ECA estabeleceu um Direito Penal Juvenil ao atribuir ao processo socioeducativo


as garantias previstas no processo penal, porém sem olvidar-se de caráter
sancionatório, vez que existe a cominação de medidas diante dos atos infracionais
praticados. Dentre os princípios acolhidos, destaca-se o da legalidade, que
estabelece que são atos infracionais as condutas definidas como crime ou
contravenção penal, sendo necessária a auferição da tipicidade, ilicitude e
culpabilidade definidoras da conduta ilícita para determinar a responsabilização
do adolescente.

Os princípios do superior interesse do adolescente e da condição peculiar de


pessoa em desenvolvimento regem as disposições do Estatuto, garantindo aos
destinatários o devido processo legal, e reconhecendo que crianças e adolescentes
merecem um tratamento diferenciado dos adultos por estarem em processo de
formação.

As medidas socioeducativas são a resposta estatal aos adolescentes que praticam


atos infracionais, previstas no artigo 112 do ECA, divididas entre medidas em meio
aberto (advertência, obrigação de reparar o dano, prestação de serviços à
comunidade e liberdade assistida) e privativas de liberdade (semiliberdade e
internação), que guardam forte similitude com as penas aplicadas aos adultos,
levando à discussão quanto ao caráter sancionatório e retributivo destas medidas,
ao invés de meramente pedagógico.

Dentre as medidas em meio aberto, a liberdade assistida é a mais dispendiosa,


considerada ideal para crimes de média gravidade, com prazo mínimo de seis
meses, destinada a acompanhar e auxiliar o adolescente, com intermédio de uma
equipe socioeducativa e a nomeação de um orientador para cada jovem, o que não
é possível muitas vezes devido à inexistência de demanda suficiente, e a elaboração
do Plano Individual de Atendimento – PIA para acompanhar a execução da medida.

Quanto às medidas privativas de liberdade, a internação é a mais gravosa, devendo


ser aplicada respeitados os princípios da excepcionalidade e brevidade da medida,
autorizada somente nos casos específicos do artigo 122 e incisos do ECA: em caso
de crime cometido com violência ou grave ameaça; em caso de reiteração em
outros atos infracionais graves, ou diante de descumprimento reiterado de medida
anterior (internação-sanção).

Necessário ressaltar que a privação de liberdade do adolescente não pode ser


entendida como uma ‘’proteção do adolescente’’, como um ‘’bem em si mesma’’, sob
pena de se voltar à doutrina da situação irregular com uma concepção paternalista
do direito, desrespeitando-se as garantias conquistadas pelos adolescentes até
então.

Desde o advento da CF/88, surgiram inúmeras propostas de emenda à constituição


para reduzir a maioridade penal, entre elas, a PEC 171/93, votada em segundo
turno pela Câmara dos Deputados e enviada para análise do Senado Federal, e a
PEC 33/2012, que encontra-se na Comissão de Constituição e Justiça para
deliberação. Ambas visam, de modo diverso, a redução da idade penal para 16 anos,
em casos de crimes considerados graves, e a criação de estabelecimentos especiais
para encaminhar esses jovens entre 16 e 18 anos para cumprimento das medidas
privativas de liberdade.

Dentre os argumentos utilizados para justificar a redução, tem-se o clamor popular


devido ao aumento da violência, a ideia de que as normas do ECA são benéficas e
facilitam o recrutamento de adolescentes para organizações criminosas, que o
direito da inimputabilidade penal não é absoluto, e a redução não infrigiria
nenhuma norma infraconstitucional ou internacional, dentre outros.
O posicionamento de grande parte dos doutrinadores, entretanto, é contrário à
redução, bem como as posições oficiais da OAB/PR, do MP/PR e da AMB, por
considerarem primeiramente que a redução da maioridade atingiria cláusula
pétrea da CF, que só pode ser alterada pelo poder constituinte originário. Da
mesma forma, entendem que isso não resolveria o problema da criminalidade, que
foi construído no País devido à grande desigualdade social, à desestruturação
familiar e o baixo investimento em políticas públicas.

O direito encontra-se pautado na média internacional inclusive, vez que a maioria


dos países adota como idade penal os 18 anos, obedecendo os princípios trazidos
pela Convenção Internacional dos Direitos da Criança das Nações Unidas (1989).
Ademais, as medidas socioeducativas detém inegável caráter sancionatório e
muito se assemelham às penas cominadas pelo Código Penal, prevendo inclusive a
restrição de liberdade aos adolescentes, motivo pelo qual o aumento da punição
não se justifica.

Conclui-se, portanto, que a redução da maioridade penal não é viável, por


desrespeitar os direitos garantidos às crianças e adolescentes pela Constituição, e
não ser a causa do aumento da criminalidade, devendo o poder público empenhar-
se em investir em políticas públicas efetivas de combate à evasão escolar, ao
abandono familiar e à desigualdade social, que são as reais causas ensejadoras, em
sua maioria, da prática de atos infracionais, buscando a aplicação correta e efetiva
do Estatuto da Criança e do Adolescente.

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1 SHEICARA, Sergio Salomão. Sistema de garantias e o direito penal juvenil. 2ª ed. rev. e atual. São Paulo: Editora

Revista dos Tribunais, 2015, p. 23.

2 Ibidem, p. 25.

3 SARAIVA, João Batista Costa. Adolescente em conflito com a lei: da indiferença à proteção integral: uma

abordagem sobre a responsabilidade penal juvenil. 3ª ed. rev. atual. Porto Alegre: Livraria do Advogado Editora,

2009, p. 28.

4 SARAIVA, João Batista Costa. Op. cit., p.29.


5 SPOSATO, Karyna Batista. Elementos para uma teoria da responsabilidade penal de adolescentes. 2011. 227 f.

Tese (Doutorado em Direito). Universidade Federal da Bahia, Bahia. 2011. p. 19.

6 SHEICARA, Sérgio Salomão. Op. cit., p. 30.

7 Ibidem, p. 33.

8 SPOSATO, Karyna Batista. Op. cit., p. 21.

9 SARAIVA, João Batista Costa. Op. cit., p. 39.

10 MENDEZ, Emílio Garcia. Infância e Cidadania na América Latina. São Paulo: Hucitec, 1998, p. 52.

11 SPOSATO, Karyna Batista. Direito Penal Juvenil. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2006, p. 36-37.

12 SHEICARA, Sérgio Salomão. Op. cit., p. 39.

13 SARAIVA, J. B. C. Op. cit., p. 45.

14 BRASIL. Exposição de Motivos nº 211, de 09 de maio de 1983. Decreto-Lei 2.848, de 07 de dezembro de 1940.

Disponível em <http://www2.camara.leg.br/legin/fed/declei/1940-1949/decreto-lei-2848-7-dezembro-1940-

412868-exposicaodemotivos-148972-pe.html>. Acesso em: 02 de agosto de 2017.

15 SPOSATO, Karyna Batista. Op. cit., p.28.

16 SARAIVA, João Batista Costa. Op. cit., p.50-51.

17 BRASIL. Código de Menores. Lei 6.697, de 10 de outubro de 1979. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/1970-1979/L6697impressao.htm>. Acesso em: 10 de agosto de 2017.

18 SARAIVA, J. B. C. Op. cit., p. 54.

19 Ibidem, p. 60.

20 Ibidem, p. 61.

21 VOLPI, Mário apud SARAIVA, 2011, pg. 64.

22 KONZEN, Afonso Armando. Justiça Restaurativa e Alteridade – Limites e Frestas para os Porquês da Justiça

Juvenil. Revista IOB de Direito Penal e Processual Penal, Porto Alegre, vol. 9, n. 49, ab./maio 2008, p. 178-198.

23 Ibidem.

24 DANTAS, Kátia Luciana Nolêdo de Araújo. A aplicabilidade e eficácia da medida socioeducativa de internação

na realidade piauiense. 2012. Disponível em:

<http://www.semec.pi.gov.br/revista/index.php/marcas_educativas/article/view/28>. Acesso em: 11 de agosto de

2017.

25 SHEICARA, Sérgio Salomão. Op. cit., p. 49.


26 SARAIVA, João Batista Costa. Op. cit., p.85.

27 ‘’Art. 228. São penalmente inimputáveis os menores de dezoito anos, sujeitos às normas da legislação especial.’’

Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm> Acesso em: 20 de

julho de 2017.

28 BRASIL. Estatuto da Criança e do Adolescente. Lei 8.069, de 13 de julho de 1990. Disponível

em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8069Compilado.htm. Acesso em: 15 de agosto de 2017.

29 DIGIÁCOMO, Murillo José e Ildeara Amorim. Estatuto da criança e do adolescente anotado e interpretado. 7ª

edição. Curitiba: Centro de Apoio Operacional das Promotorias da Criança e do Adolescente, 2017, p. 6, livro digital.

30 BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal – Parte Geral. 17ª ed. rev., ampl. e atual. de acordo com a

Lei n. 12.550, de 2011. – São Paulo: Saraiva, 2012, p. 407, livro digital.

31 BITENCOURT, Cezar Roberto. Op. cit., p. 408.

32 BRASIL. Exposição de Motivos nº 211, de 09 de maio de 1983. Decreto-Lei 2.848, de 07 de dezembro de 1940.

Disponível em <http://www2.camara.leg.br/legin/fed/declei/1940-1949/decreto-lei-2848-7-dezembro-1940-

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33 DEZEM, Guilherme Madeira, MARTINS, Flávio, FULLER, Paulo Henrique Aranda. Estatuto da Criança e do

adolescente: difusos e coletivos. 3ª ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2013, Coleção

elementos do direito – volume 14, p. 96.

34 SILVA, Antonio Fernando do Amaral. O mito da inimputabilidade penal e o Estatuto da criança e do

adolescente. Revista IN VERBIS: Instituto dos Magistrados do Brasil, vol. 14. Disponível em:

<http://www.amaralesilva.com.br/artigo/-o-mito-da-inimputabilidade-penal-e-o-estatuto-da-crianca-e-do-

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35 SARAIVA, João Batista Costa. Op. cit., p. 95-96.

36 Ibidem, p. 94.

37 Cf. FERRAIOLI, Luigi. Direito e Razão: teoria do Garantismo Penal. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2002.

38 ÁVILA, Gustavo Noronha de. O debate entre Luigi Ferrajoli e os abolicionistas: entre a sedução pelo discurso

do medo e as práticas libertárias. Revista Jurídica Cesumar, maio/ago. 2016, v. 16, n. 2, p. 543-561.

39 SHEICARA, Sergio Salomão. Op. cit., p. 154.

40 SARAIVA, João Batista Costa. Op. cit, p. 99.


41 Art. 103. Considera-se ato infracional a conduta descrita como crime ou contravenção penal. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8069Compilado.htm>. Acesso em: 18 de julho de 2017.

42 SHEICARA, S. S. Op. cit., p. 160.

43 SARAIVA, J. B. C. Op. cit., p. 102-103.

44 Art. 101. Verificada qualquer das hipóteses previstas no art. 98, a autoridade competente poderá determinar, dentre

outras, as seguintes medidas: I - encaminhamento aos pais ou responsável, mediante termo de responsabilidade; II -

orientação, apoio e acompanhamento temporários; III - matrícula e freqüência obrigatórias em estabelecimento oficial

de ensino fundamental; IV - inclusão em serviços e programas oficiais ou comunitários de proteção, apoio e promoção

da família, da criança e do adolescente;(Redação dada pela Lei nº 13.257, de 2016) V - requisição de tratamento médico,

psicológico ou psiquiátrico, em regime hospitalar ou ambulatorial; VI - inclusão em programa oficial ou comunitário de

auxílio, orientação e tratamento a alcoólatras e toxicômanos; VII - acolhimento institucional; (Redação dada pela Lei nº

12.010, de 2009); VIII - inclusão em programa de acolhimento familiar; (Redação dada pela Lei nº 12.010, de 2009); IX

- colocação em família substituta. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) [...] Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8069Compilado.htm>. Acesso em: 18 de julho de 2017.

45 Art. 98. As medidas de proteção à criança e ao adolescente são aplicáveis sempre que os direitos reconhecidos nesta

Lei forem ameaçados ou violados: I - por ação ou omissão da sociedade ou do Estado; II - por falta, omissão ou abuso

dos pais ou responsável; III - em razão de sua conduta. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8069Compilado.htm>. Acesso em: 18 de julho de 2017.

46 SARAIVA, J. B. C. Op. cit., p. 105.

47 SHEICARA, S. S. Op. cit., p. 174.

48 LIBERATI, Wilson Donizete apud DEZEM, Guilherme Madeira, 2013, p. 97.

49 DEZEM, FULLER e MARTINS. Op. cit., p. 36.

50 SHEICARA, S. S. Op. cit., p. 166.

51 Art. 110. Nenhum adolescente será privado de sua liberdade sem o devido processo legal. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8069Compilado.htm>. Acesso em: 20 de julho de 2017.

52 Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos

estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade,

nos termos seguintes: […] LIV - ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal.
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm> Acesso em: 20 de

julho de 2017.

53 SARAIVA, J. B. C. Op. cit., p. 101.

54 DEZEM, FULLER e MARTINS. Op. cit., p. 100.

55 SHEICARA, S. S. Op. cit., p. 204.

56 Art. 121. A internação constitui medida privativa da liberdade, sujeita aos princípios de brevidade, excepcionalidade

e respeito à condição peculiar de pessoa em desenvolvimento.’’ Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8069Compilado.htm>. Acesso em: 20 de julho de 2017.

57 DEZEM, FULLER e MARTINS. Op. cit., p. 114.

58 SHEICARA, S. S. Ibidem, p. 188-189.

59 SILVA, Antonio Fernando do Amaral. ‘’Proteção’’ – Pretexto para controle social arbitrário de adolescentes e a

sobrevivência da doutrina da situação irregular. Jurisprudência Catarinense. Florianópolis, v. 25, n. 87, jul/set.

1999.

60 SARAIVA, J. B. C. Op. cit., p. 112.

61 SILVA, Antonio Fernando do Amaral. O mito da inimputabilidade penal e o Estatuto da criança e do adolescente.

Revista IN VERBIS: Instituto dos Magistrados do Brasil, vol. 14. Disponível em:

<http://www.amaralesilva.com.br/artigo/-o-mito-da-inimputabilidade-penal-e-o-estatuto-da-crianca-e-do-

adolescente-> Acesso em: 10 de setembro de 2017.

62 SHEICARA, S. S. Op. cit., p. 194.

63 DEZEM, FULLER e MARTINS. Op. cit., p. 124.

64 BANDEIRA, Marcos Antônio Santos. Atos infracionais e medidas socioeducativas: uma leitura dogmática,

crítica e constitucional. Ilhéus: Editus, 2006. Livro digital. p. 139.

65 SHEICARA, S.S. Op. cit., p. 211.

66 BRASIL. Estatuto da Criança e do Adolescente. Lei 8.069, de 13 de julho de 1990. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8069Compilado.htm>. Acesso em: 30 de agosto de 2017.

67 Ibidem, p. 213.

68 Art. 52. O cumprimento das medidas socioeducativas, em regime de prestação de serviços à comunidade, liberdade

assistida, semiliberdade ou internação, dependerá de Plano Individual de Atendimento (PIA), instrumento de previsão,

registro e gestão das atividades a serem desenvolvidas com o adolescente. Parágrafo único. O PIA deverá contemplar a
participação dos pais ou responsáveis, os quais têm o dever de contribuir com o processo ressocializador do

adolescente, sendo esses passíveis de responsabilização administrativa, nos termos do art. 249 da Lei no 8.069, de 13

de julho de 1990 (Estatuto da Criança e do Adolescente), civil e criminal. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8069Compilado.htm>. Acesso em: 01 de agosto de 2017

69 SHEICARA, S.S. Op. cit., p. 214.

70 Ibidem, p. 216.

71 FREITAS, Ana Maria Gonçalves. In: CURY, Munir (Coord.). Estatuto da Criança e do Adolescente Comentado –

Comentários Jurídicos e Sociais. 5a ed. São Paulo: Malheiros, 2002, p. 390-391.

72 NUCCI, Guilherme de Souza. Estatuto da Criança e do Adolescente Comentado. 1ª ed. Rio de Janeiro: Forense,

out./2014. Livro digital, p. 530.

73 HC 98.518, 2ª Turma, j. 25.05.2010, rel. Eros Grau, DJ 18.06.2010.

74 SHEICARA, S. S. Op. cit., p. 219.

75 RAMIDOFF, Mário Luiz. Sinase: Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo. São Paulo: Saraiva, 2012. P.

42.

76 SHEICARA, S. S. Op. cit., p. 220.

77 Art. 121. [...] § 2º A medida não comporta prazo determinado, devendo sua manutenção ser reavaliada, mediante

decisão fundamentada, no máximo a cada seis meses. § 3º Em nenhuma hipótese o período máximo de internação

excederá a três anos. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8069Compilado.htm>. Acesso em:

01 de agosto de 2017.

Art. 42. As medidas socioeducativas de liberdade assistida, de semiliberdade e de internação deverão ser reavaliadas

no máximo a cada 6 (seis) meses, podendo a autoridade judiciária, se necessário, designar audiência, no prazo máximo

de 10 (dez) dias, cientificando o defensor, o Ministério Público, a direção do programa de atendimento, o adolescente e

seus pais ou responsável. Disponíver em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-

2014/2012/lei/l12594.htm>. Acesso em 01 de Agosto de 2017.

78 CALDERONI, Vivian. Adolescentes em conflito com a lei: considerações críticas sobre a medida de internação.

São Paulo: IBBCRIM, Revista Liberdades, nº 05, set-dez 2010, p. 26.

79 Art. 45. Se, no transcurso da execução, sobrevier sentença de aplicação de nova medida, a autoridade judiciária

procederá à unificação, ouvidos, previamente, o Ministério Público e o defensor, no prazo de 3 (três) dias sucessivos,

decidindo-se em igual prazo. § 1o É vedado à autoridade judiciária determinar reinício de cumprimento de medida
socioeducativa, ou deixar de considerar os prazos máximos, e de liberação compulsória previstos na Lei no 8.069, de 13

de julho de 1990 (Estatuto da Criança e do Adolescente), excetuada a hipótese de medida aplicada por ato infracional

praticado durante a execução. § 2o É vedado à autoridade judiciária aplicar nova medida de internação, por atos

infracionais praticados anteriormente, a adolescente que já tenha concluído cumprimento de medida socioeducativa

dessa natureza, ou que tenha sido transferido para cumprimento de medida menos rigorosa, sendo tais atos absorvidos

por aqueles aos quais se impôs a medida socioeducativa extrema. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8069Compilado.htm>. Acesso em: 03 de agosto de 2017.

80 SHEICARA, S. S. Op. cit., p. 227.

81 Ibidem, p. 226.

82 CALDERONI, Vivian. Op. cit., p. 26.

83 DEZEM, FULLER e MARTINS. Op. cit., p. 137.

84 NUCCI, Guilherme de Souza. Op. cit., p. 544.

85 DEZEM, FULLER e MARTINS. Op. cit., p. 139.

86 SHEICARA, Sergio Salomão. Op. cit., p. 229.

87 DEZEM, FULLER e MARTINS. Ibidem, p. 141.

88 Neste sentido: João Batista Costa Saraiva (Compêndio de Direito Penal, 2006); Sergio Salomão Sheicara (Sistema de

Garantias e o Direito Penal Juvenil, 2016); Karina Batista Sposato (Direito Penal Juvenil, 2011).

89 Súmula 492 STJ: ‘’O ato infracional análogo ao tráfico de drogas, por si só, não conduz obrigatoriamente à imposição

de medida socioeducativa de internação do adolescente.’’

90 SHEICARA, Op. cit., p. 231.

91 MARÇURA, Jurandir Norberto. In: CURY, Munir (Coord.). Estatuto da Criança e do Adolescente Comentado –

Comentários Jurídicos e Sociais. 5ª ed. São Paulo: Malheiros, 2002, p. 518.

92 DEZEM, FULLER e MARTINS. Op. cit., p. 143-144.

93 Ibidem, p. 142.

94 SHEICARA, S. S. Op. cit., p. 232.

95 Súmula 265 STJ: É necessária a oitiva do menor infrator antes de se decretar a regressão da medida socioeducativa.

96 LIBERATI, Wilson Donizete. Processo penal juvenil: a garantia da legalidade na execução da medida

socioeducativa. São Paulo: Malheiros, 2006, p. 195-196.

97 DEZEM, FULLER e MARTINS. Op. cit., p. 149.


98 SHEICARA, S. S. Op. cit., p. 239.

99 SARAIVA, João Batista Costa. Op. cit., p. 119.

100 BRASIL. Proposta de redução da maioridade penal 171/1993. Disponível em:

<http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=14493> Acesso em: 10 de outubro de

2017

101 BRASIL. Voto do Relator Deputado Laerte Bessa pela Comissão Especial destinada a emitir parecer sobre a Proposta

de Emenda Constitucional 171/93. Disponível em:

<http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra?codteor=1350308&filename=Parecer-

PEC17193-17-06-2015>. Acesso em: 10 de outubro de 2017.

102 Redação final aprovada pela Câmara dos Deputados em 08/2015: ‘’Art. 1º O art. 228 da Constituição Federal passa

a vigorar com a seguinte redação: “Art. 228. São penalmente inimputáveis os menores de dezoito anos, sujeitos às normas

da legislação especial, ressalvados os maiores de dezesseis anos, observando-se o cumprimento da pena em estabelecimento

separado dos maiores de dezoito anos e dos menores inimputáveis, em casos de crimes hediondos, homicídio doloso e lesão

corporal seguida de morte.” (NR) Art. 2º A União, os Estados e o Distrito Federal criarão os estabelecimentos a que se refere

o art. 1º desta Emenda à Constituição. Art. 3º Esta Emenda Constitucional entra em vigor na data de sua

publicação.’’ Disponível em:

<http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra?codteor=1375394&filename=Tramitacao-

PEC+171/1993>.

103 Voto em separado do Relator Senador Ricardo Ferraço em parecer sobre a PEC 33/2012 e apensos para a Comissão

de Constituição e Justiça – CCJ. Disponível em: http://legis.senado.leg.br/sdleg-

getter/documento?dm=4427102&disposition=inline. Acesso em: 10 de outubro de 2017.

104 Redação inicial da PEC 171/93: ‘’Art. 1º - O inciso I, do art. 129 da Constituição Federal passa a vigorar com a seguinte

redação: Art. 129 – São funções institucionais do Ministério Público: I - promover, privativamente, a ação penal pública e

o incidente de desconsideração de inimputabilidade penal de menores de dezoito e maiores de dezesseis anos. (NR) Art. 2º

- Acrescente-se um Parágrafo Único ao art. 228 da Constituição Federal com a seguinte redação: “Art. 228 -

.....................................................Parágrafo Único – Lei complementar estabelecerá os casos em que o Ministério Público poderá

propor, nos procedimentos para a apuração de ato infracional praticado por menor de dezoito e maior de dezesseis anos,

incidente de desconsideração da sua inimputabilidade, observando-se: I - Propositura pelo Ministério Público especializado

em questões de infância e adolescência; II - julgamento originário por órgão do judiciário especializado em causas relativas
à infância e adolescência, com preferência sobre todos os demais processos, em todas as instâncias; III - cabimento apenas

na prática dos crimes previstos no inciso XLIII, do art. 5º desta Constituição, e múltipla reincidência na prática de lesão

corporal grave e roubo qualificado; IV - capacidade do agente de compreender o caráter criminoso de sua conduta, levando

em conta seu histórico familiar, social, cultural e econômico, bem como de seus antecedentes infracionais, atestado em

laudo técnico, assegurada a ampla defesa técnica por advogado e o contraditório; V - efeito suspensivo da prescrição até o

trânsito em julgado do incidente de desconsideração da inimputabilidade. VI - cumprimento de pena em estabelecimento

separado dos maiores de dezoito anos. Art. 2º - Esta Emenda Constitucional entra em vigor na data de sua

publicação.’’ Disponível em: <http://legis.senado.leg.br/sdleg-getter/documento?dm=3041940&disposition=inline>.

105 LEIRIA, Cláudio da Silva. Redução da Maioridade Penal: porque não?. Disponível em

http://www.crianca.mppr.mp.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=276. Acesso em: 13 de outubro de

2017.

106 NUCCI, Guilherme de Souza. Código Penal Comentado. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2000, p. 109.

107 Reportagem: Redução da maioridade penal. Disponível em: <https://www.conjur.com.br/2015-jun-

19/reducao-maioridade-penal-nao-reduz-criminalidade-afirma-nucci>. Acesso em: 13 de outubro de 2017.

108 ‘’Artigo 228: São penalmente inimputáveis os menores de dezoito anos, sujeitos às normas da legislação especial.’’

Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm> Acesso em: 13 de

outubro de 2017.

109 SHEICARA, Sergio Salomão. Op. cit., p. 141-142.

110 TERRA, Eugenio Couto. A Idade penal mínima como Cláusula Pétrea. In Revista Juizado da Infância e Juventude,

nº 2. Porto Alegre: CONSIJ/CGJ, 2004, p. 27.

111 SPOSATO, Karina Batista. Direito Penal de Adolescentes: Elementos para uma teoria garantista. São Paulo:

Saraiva, 2013. Livro digital, p. 143-144.

112 SHEICARA, S. Salomão. Ibidem, p. 54.

113 Ibidem, p. 51.

114 SPOSATO, Karyna Batista. Porque dizer não à redução da idade penal. UNICEF, 2007, p. 20. Disponível em:

<http://www.crianca.mppr.mp.br/arquivos/File/idade_penal/unicef_id_penal_nov2007_completo.pdf>. Acesso em:

15 de outubro de 2017.

115 SANTOS, José Heitor dos. Redução da Maioridade Penal. Disponível em: http://www.andi.org.br/infancia-e-

juventude/page/reducao-da-maioridade-penal-0. Acesso em: 18 de outubro de 2017.


116 ESTEVÃO, Roberto. A redução da maioridade penal é medida recomendável para a diminuição da

violência? Revista jurídica: judiciária. 55, n. 361, p. 115–133, nov. 2007.

117 LEAL, César Barros; PIEDADE JÚNIOR, Heitor (Org.). Idade da responsabilidade penal. Belo Horizonte: Del Rey,

2003, p. 91-92.

118 SILVA, Enid Rocha Andrade,. OLIVEIRA, Raíssa Menezes de. Nota Técnica nº 20 – O adolescente em conflito com

a lei e o debate sobre a redução da maioridade penal: esclarecimentos necessários. IPEA, nº 20, 2015. Disponível

em: <http://www.abmp.org.br/media/files/biblioteca/00001847_notatecnica_maioridade_penal.pdf> Acesso em: 20

de outubro de 2017.

119 COPEIJ – Coordenação da Comissão Permanente da Infância e Juventude. Nota Técnica nº 02/2013. Disponível

em: <http://www.crianca.mppr.mp.br/arquivos/File/legis/notas/nota_tecnica_copeij_n02_2013_idade_penal.pdf>

Acesso em: 20 de outubro de 2017.

120 SANTOS, Márcio Teixeira dos., DIGIÁCOMO, Murillo José. Posição oficial: redução da maioridade penal.

Disponível em: <http://www.crianca.mppr.mp.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=206>, Acesso em: 20

de outubro de 2017.

121 Reportagem: OAB PR se manifesta contra a redução da maioridade penal. Disponível em:

<http://www.oabpr.org.br/oab-parana-se-manifesta-contra-a-reducao-da-maioridade-penal/>. Acesso em: 20 de

outubro de 2017.

122 Reportagem: AMB participa de debate sobre a redução da maioridade penal. Disponível em: <

http://www.amb.com.br/amb-participa-de-debate-sobre-reducao-da-maioridade-penal/>. Acesso em: 21 de outubro

de 2017.

123 DIGIÁCOMO, Murillo José. Redução da idade penal: solução ou ilusão? mitos e verdades sobre o

tema. Ministério Público do Paraná, 2009. Disponível em

<http://www.crianca.mppr.mp.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=255>. Acesso em: 21 de outubro de

2017.

124 SHEICARA, Sergio Salomão. Op. cit., p. 142.

125 Ibidem, p. 143.

126 ALVES, Ariel de Castro. Redução da idade penal e criminalidade no Brasil. Ministério Público do Paraná, 2007.

Disponível em: <http://www.crianca.mppr.mp.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=271>. Acesso em: 24

de outubro de 2017.
127 SHEICARA, Sergio Salomão. Ibidem, p. 33.

Publicado por: VICTORIA REGINA JORDÃO JACOVOS

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