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SOBRE A AUTORA:
Cinzia Arruzza é professora associada de filosofia na New School for Social
Research, na cidade de Nova York.Foi uma das principais organizadoras da Greve
Internacional das Mulheres nos Estados Unidos e integra o coletivo editorial da
Viewpoint Magazine.
Traduzido e publicado em 2019 pela Usina Editorial aqui no Brasil [Merlin Press,
2013];
Nos dois primeiros capítulos é feita uma discussão sobre as experiências históricas
importantes no processo de organização das mulheres e também a
vinculação/confronto desse processo com o movimento operário;
1. ERA UM VEZ
Utiliza alguns teóricos que vão desenvolver algumas respostas a essas perguntas -
Simone de Beauvoir
Engels
Eleanor Leacock
Stephanie Coontz
Simone de Beauvoir - O Segundo Sexo
As mulheres não nascem, mas se tornam, no sentido de identificar o caráter social,
cultural e histórico da construção da mulheridade;
“Uma vez que são os homens que historicamente escrevem, compõem música,
pintam, pregam e governam, não existe uma definição de mulher e daquilo que seria
sua essência que não seja ao mesmo tempo um produto desse monopólio
masculino e de sua paralela e sistemática exclusão. As mulheres ‘são’ o que os
homens decidiram que elas deveriam ser em um mundo de fantasia de definições
contraditórias.” (p.91)
Aponta que Beauvoir se limita a constatar que a exclusão sistemática das mulheres
e a consequente criação da “mulheridade” pelos homens sempre existiram;
Aponta que essa teoria se baseia nos estudos antropológicos de Lévi-Strauss, que
utilizando uma metodologia estruturalista aos estudos etnológicos, elabora uma
teoria sobre o nascimento da cultura baseada nas estruturas invariáveis e universais
de trocas
meio pelo qual a humanidade confronta a natureza, estabelecendo em oposição a
esta, a cultura ou seja, a sociedade.
Beauvoir - “este mundo sempre pertenceu aos homens” reflete a tese de Strauss,
implicando que os laços de reciprocidade estabelecidos através do matrimônio não
era realizado entre um homem e uma mulher, mas entre homens e a mulher é um
objeto de troca;
laços entre homens sobre a distribuição das mulheres (p.93)
Aponta que nesses termos, a resposta para a pergunta se a opressão das mulheres
sempre existiu é afirmativa, pois define uma estrutura fora do âmbito social e
histórico, e reflete uma forma universal e imutável (a-histórica, biológica…)
Baseia-se no mito sobre a existência de um matriarcado, pois é algo que nunca foi
provado e contestado pela maioria dos antropólogos modernos;
além disso, tem uma leitura equivocada por não fazer a distinção entre matriarcado e
linhagem/descendência matrilinear, pois essa forma de descendência não implica
necessariamente em um poder maior das mulheres em determinada sociedade;
Além disso, ele recorre a alegação de um instinto masculino para perpetuar a sua
própria linhagem e controlar a reprodução das mulheres;
Eleanor Leacock -
divisão sexual do trabalho entre o grupo de caçadores-coletores era menos rígida e
por si só não levava a relações hierárquicas entre os sexos;
O confronto, entre os colonizadores e coletores, tem um impacto que gera ao
desequilíbrio econômico, haja vista que as mulheres deixam de controlar o próprio
trabalho de produção;
No nível cultural isso vai ser empregado pela introdução de rigidez moral nos
costumes sexuais e de matrimônio;
Aponta que apesar de não haver razões do ponto de vista teórico para se chegar a
esse tipo de conclusão, a tendência de criar hierarquias entre opressão e exploração
sempre esteve presente dentro do movimento operário;
Perspectiva de que a superação do capitalismo implica automaticamente no fim da
opressão das mulheres, além de compreender a organização feminina de maneira
autônoma uma ameaça a unidade de classe;
Esse tipo de perspectiva contribuiu para o divórcio entre o movimento operário e o
feminista;
A independência econômica das mulheres é uma condição para a sua emancipação,
mas as as estruturas patriarcais são mais arraigadas do que estavam sendo
compreendidas, e as experiências de sociedades pós-capitalistas vão confirmar que
a mudança societal não superou o processo de opressão;
“ A privatização da esfera de reprodução, incentivada e utilizada pelo capitalismo,
deu enorme poder aos laços familiares e tornou difícil de imaginar, e ainda mais
difícil de aceitar, a socialização do conjunto de atividades que garantem a
reprodução física, mental e emocional da força de trabalho” (p.99)
O que gerou uma resistência nas sociedades que passaram por um processo
revolucionário para com as tentativas de liberar as mulheres do papel de provedoras
do cuidado, pois estas eram transferidas para realizar as tarefas de reprodução fora
do ambiente familiar (cantinas, creches…);
Aponta que:
a) pensar que a luta de classes por si só resolve o problema da opressão das
mulheres, dissolvendo os laços familiares e mudando seu caráter, sem uma
análise adequada que desafie o papéis sexuais e politize as mulheres é no
mínimo um otimismo cego, na pior das hipóteses uma má-fé na prática
política;
b) Considerar a classe trabalhadora apenas em sua forma masculina significa
não entender ou compreender parcialmente a forma como as relações de
produção e de exploração funcionam e são estruturadas, e
consequentemente, compreender parcialmente como o capitalismo funciona;
c) além disso, é não entender como a opressão de gênero representa uma arma
poderosa na divisão da classe operária, na criação de hierarquias e no
controle ideológico dessa classe;
“O fato de que todos esses serviços, quando não realizados dentro da própria
família, podem ser produzidos e trocados como mercadorias demonstra que nada
justifica a definição do trabalho realizado pelas mulheres dentro da casa como um
trabalho não produtivo. A única razão para ser considerado dessa forma é que ele
não é pago: sua gratuidade ou aparente gratuidade oculta sua verdadeira natureza.”
(p.102)
Contudo, afirmar que o trabalho doméstico produz mais-valia siginifica ignorar algo
central para compreensão do modo como o capitalismo transformou a família
(deixou de ser unidade de produção);
Isto é:
“esse trabalho de reprodução ocorre fora do mercado capitalista, de maneira isolada,
o que torna impossível falar de um trabalho social médio necessário, pois ele não é
nem formal, nem informalmente contratado no capitalismo. Nesse sentido, é difícil
falar de produção de mais-valia justamente porque, por um lado, o capitalismo
afastou a função de unidade de reprodução da família e, por outro, assegurou que a
tarefa de reprodução da força de trabalho ocorresse principalmente dentro dessa
instituição, relegando tal atividade a uma espécie de limbo separado do processo de
produção e circulação de mercadorias”. (p.105)
“[...] para combater a opressão que sofrem, as mulheres devem equiparar-se com
sua própria interpretação de mundo, rejeitando quaisquer ideologias existentes por
serem fruto da supremacia masculina e definir sua própria linha política, colocando
os interesses das mulheres no centro, em oposição aos interesses masculinos”
Dentro do sistema patriarcal, todas as mulheres sofrem opressão por todos os
homens, todos os homens se beneficiam da subordinação das mulheres, e todas as
formas de exploração , hierarquia e supremacia são apenas extensão da
supremacia masculina (p.109)
Como não há nela a ameaça da castração, os laços edípicos com a figura paterna,
que representa a lei, nunca chegam a ser cumpridos, gerando consequências na
estrutura da personalidade feminina: dependência de autoridade, interesse social
diminuto, demanda insaciável por privilégios para compensar a carência do pênis….
Luce Irigaray
Conceito de espelho de Lacan:
As mulheres funcionam como espelho para os homens, porque a superioridade
masculina se reflete na inferioridade da mulher, os homens veriam as mulheres em
referência a si mesmos;
a ideia de speculum (aparelho médico que permite olhar orifícios humanos);
Permite olhar internamente e ver que o órgão genital feminino não possui carência
de algo, não há um vazio a ser preenchido pelo falo;
Julia Kristeva
Concentra-se na fase pré-edípica - que precede a imposição simbólica do pai
(autoridade), a origem da linguagem, como o período da ordem semiótica da mãe,
em que essa estabelece uma relação exclusiva entre o bebê e ela, anterior a
separação do pai e da ameaça da castração;
A ordem simbólica do pai, a linguagem, destrói a ordem semiótica da mãe;