1) Feminicídio é definido como o assassinato de mulheres motivado por razões de gênero, como violência doméstica e menosprezo à condição feminina.
2) Dados mostram que no Brasil uma em cada 13 mulheres é assassinada a cada dia, e a taxa de feminicídio é a quinta maior do mundo.
3) A violência contra mulheres, incluindo feminicídio, é um problema sistêmico ligado ao machismo e desigualdade de gênero na sociedade.
1) Feminicídio é definido como o assassinato de mulheres motivado por razões de gênero, como violência doméstica e menosprezo à condição feminina.
2) Dados mostram que no Brasil uma em cada 13 mulheres é assassinada a cada dia, e a taxa de feminicídio é a quinta maior do mundo.
3) A violência contra mulheres, incluindo feminicídio, é um problema sistêmico ligado ao machismo e desigualdade de gênero na sociedade.
1) Feminicídio é definido como o assassinato de mulheres motivado por razões de gênero, como violência doméstica e menosprezo à condição feminina.
2) Dados mostram que no Brasil uma em cada 13 mulheres é assassinada a cada dia, e a taxa de feminicídio é a quinta maior do mundo.
3) A violência contra mulheres, incluindo feminicídio, é um problema sistêmico ligado ao machismo e desigualdade de gênero na sociedade.
das, estranguladas, agredidas brutalmente até o mo-
mento em que perdem a vida. A palavra feminicídio
passou a ser usada para designar um crime no Brasil Feminicídio é uma palavra nova para uma a partir de 2015, pois existe nele uma particularidade. prática antiga, uma vez que mulheres morrem de for- Vamos falar sobre feminicídio? mas trágicas todos os dias no Brasil: são espanca-
tipo de violência em algum momento de suas vidas.
Feminicídio é uma palavra que define o ho- Em 2016, um terço das mulheres no Brasil – 29% – micídio de mulheres como crime hediondo quando relataram ter sofrido algum tipo de violência. Delas, envolve menosprezo ou discriminação à condição de apenas 11% procuraram uma delegacia da mulher e mulher e violência doméstica e familiar. A lei define em 43% dos casos a agressão mais grave foi no do- feminicídio como “o assassinato de uma mulher co- micílio. metido por razões da condição de sexo feminino” e a Esses são alguns dados de muitos outros – pena prevista para o homicídio qualificado é de reclu- sobre os quais falaremos adiante – e que ilustram são de 12 a 30 anos. pontos-chave para entendermos a diferença entre feminicídio e homicídio de mulheres. O principal motivo para o uso da palavra fe- minicídio é de que o crime é diferente por si só, por “Trata-se de um crime de ódio. O conceito surgiu ser um crime de discriminação, cometido contra uma na década de 1970 com o fim de reconhecer e mulher pelo fato de ela ser mulher. Essa discrimina- dar visibilidade à discriminação, opressão, desi- ção provém no machismo e do patriarcado, que são gualdade e violência sistemática contra as mu- maneiras culturais de a sociedade colocar a mulher lheres, que, em sua forma mais aguda, culmina num lugar de inferioridade, submissão e subserviên- na morte. Essa forma de assassinato não cons- cia; de acordo com essa lente, a autoridade máxima titui um evento isolado e nem repentino ou ines- é exercida pelo homem e automaticamente a mulher perado; ao contrário, faz parte de um processo se torna um ser desimportante, que deve dedicar sua contínuo de violências, cujas raízes misóginas vida à servir (principalmente os homens). caracterizam o uso de violência extrema. Inclui uma vasta gama de abusos, desde verbais, fí- sicos e sexuais, como o estupro, e diversas for- mas de mutilação e de barbárie.” Eleonora Menicucci - ministra-chefe da Secreta- ria de Políticas para as Mulheres da Presidência. Um terço dos homicídios de mulheres no mundo – 35% – são cometidos por seus companhei- ros, de acordo com a Organização Mundial da Saú- de, enquanto 5% dos assassinatos de homens são cometidos por suas parceiras. A projeção da Orga- nização das Nações Unidas é que 70% de todas as mulheres no mundo já sofreram ou irão sofrer algum Por vezes, mulheres sofrem diversos tipos de violência de gênero – sexual, psicológica, moral, físi- 4.762 só em 2013. Em 2015 o número diminuiu, mas ca, doméstica – até que lhe seja tirada a vida. A exis- pouco: 4.621 mulheres foram assassinadas no Bra- tência dessas formas de violência na vida de tantas sil, contabilizando 4,5 mortes para cada 100 mil mu- mulheres chama a nossa atenção para o fato de que lheres, de acordo com o Atlas da Violência de 2017. o feminicídio pode ser evitado, por muitas vezes ser A pesquisa do Fórum Brasileiro de Segurança o ápice de um processo de violência contínua e que Pública de 2017 sobre a violência contra a mulher muitas vezes está dentro de casa. indica que 29% das entrevistadas afirmou ter sofrido algum tipo de violência no último ano. Os tipos de violência sofridas são: - 67% das entrevistadas disseram já ter sofrido agressão física; - 47% delas sofreu violência psicológica; - 36% delas foram vítimas de violência moral; - 15% sofreram violência sexual. Houve um aumento perceptivo de mulheres que declaram ter sido violentadas sexualmente. Em 2011, eram 5% das mulheres; em 2017 passou para 15%. Assim como aumentou o número de mulheres que dizem conhecer alguma mulher que já sofreu violência doméstica ou familiar praticada por um ho- mem: em 2015 era de 56%; já em 2017 passou para 71% (dados de 2017). Aí fica uma reflexão: será que a violência contra a mulher realmente aumentou ou as mulheres estão falando mais a respeito? Há de se considerar
A tipificação do feminicídio como crime de gê-
nero se faz necessária por estar diretamente ligado à violência de gênero e por ser um crime passível de ser evitado – principalmente às vítimas de violência doméstica, que podem ter suporte e seus agressores punidos conforme prevê a lei. De acordo com o Atlas da Violência e outros relatórios, “os dados apresen- tados [sobre violência contra a mulher e feminicídio] revelam um quadro grave, e indicam também que muitas dessas mortes poderiam ter sido evitadas. Em inúmeros casos, até chegar a ser vítima de uma vio- lência fatal, essa mulher é vítima de uma série de ou- tras violências de gênero, como bem especifica a Lei Maria da Penha (Lei 11.340/06). A violência psicoló- gica, patrimonial, física ou sexual, em um movimento de agravamento crescente, muitas vezes, antecede o desfecho fatal.”
O panorama de feminicídio no Brasil é grave:
a cada dia, 13 mulheres são assassinadas no Bra- sil. Há diversas pesquisas, relatórios e estudos que mostram esse comportamento sistêmico não só no Brasil, mas no mundo. O Brasil tem a quinta maior taxa de femini- cídios no mundo: 4,8 homicídios para cada 100 mil mulheres – de acordo com a Organização Mundial da Saúde. O Mapa da Violência de 2015 que trata sobre o homicídio de mulheres mostra que 106.093 mulhe- res foram assassinadas entre 1980 e 2013, sendo a existência da Lei Maria da Penha, que visa a pu- menos privilégios um grupo de mulheres tem, mais nir violência doméstica, e de maneiras de denunciar sofrerá com a violência e mais altos serão os núme- essa violência – como o número 180 ou em delega- ros de feminicídio. São poucas as pesquisas que cias da mulher, que são iniciativas oficiais do gover- segmentam as entrevistadas por uma perspectiva de no. renda, por exemplo, o que pode ser um impeditivo de uma leitura mais ampla do problema. Não há ou- tros recortes feitos por essas pesquisas que tragam dados sobre feminicídio de mulheres lésbicas, bisse- O recorte de realidade precisa ser feito tam- xuais, transsexuais, travestis, nem cruzem as suas bém quando tratamos de mulheres negras com re- demais características, como as de ser uma mulher lação a mulheres brancas: em dez anos, de 2003 a negra e lésbica, por exemplo. 2013, o número de homicídio de mulheres brancas caiu 9,8% – de 1.747 para 1.576 – e o de mulhe- res negras cresceu 54,2%, passando de 1.864 para Ainda é um desafio mundial criar leis que ti- 2.875 (Mapa da Violência, 2015). Dentre as mulheres pifiquem o crime de feminicídio, conforme feito no que declararam ter sofrido algum tipo de violência, Brasil, o que consequentemente diminui o problema enquanto o percentual de brasileiras brancas que so- da invisibilidade e inicia uma discussão. Na América freram violência física foi de 57%, o percentual de Latina, 15 países têm leis específicas contra o femi- negras (pretas e pardas) foi de 74%. (DataSenado, nicídio, com diferentes tipos de penalidade. 2017). Mas muitos países não penalizam sequer a Além de a taxa de mortalidade de mulhe- violência contra a mulher, quanto mais o feminicídio. res negras ter aumentado, cresceu a proporção de Dos 193 países, 140 têm leis contra a violência do- mulheres negras entre mulheres vítimas de mortes méstica. As regiões no mundo com menos punição por agressão: em 2005 era de 54,8% e em 2015 era para a violência contra a mulher estão na África Sub- 65,3% (Atlas da Violência, 2017). Resumindo, 65,3% saariana, no Oriente Médio e Norte da África (um em das mulheres assassinadas no Brasil no último ano cada quatro), de acordo reportagem do El País. eram negras, evidenciando que a combinação entre Atualmente, 140 países no mundo punem a desigualdade de gênero e racismo é um ponto funda- violência doméstica e 46 não o fazem. Alguns países mental para compreendermos a violência letal contra têm quebrado a lógica da região em que estão inse- a mulher no país. ridos: na Tunísia, o parlamento criou uma lei contra a violência de gênero, a mais abrangente dentro da região árabe, que pune todo tipo de agressão sexista e assédio sexual. Já a Rússia, que é um país consi- derado hostil às mulheres – a cada 40 minutos, uma mulher é assassinada lá – descriminalizou a violência de gênero. Uma pessoa que seria presa por cometer tal crime, hoje só recebe uma multa.
Criado na Grécia Antiga, o termo misoginia
(infelizmente) ainda é muito atual. Mas, afinal, o que é misoginia? Do grego, ela tem origem em duas pa- lavras: miseó, que siginifica “ódio”, e gyné, que sig- nifica “mulher”. Nos dicionários, ela está relacionada ao ódio ou aversão às mulheres. Hoje, entende-se que a misoginia pode se Essa disparidade pode ser observada nas manifestar de diversas formas, como através da ob- respostas à pergunta sobre ter visto algum tipo de jetificação, da depreciação, do descrédito e dos vá- violência mulheres no seu bairro no último ano prati- rios tipos de violência contra a mulher, seja física, cada por companheiros, maridos ou namorados (atu- moral, sexual, patrimonial ou psicologicamente. ais ou não): 26% das mulheres negras respondeu que sim, em oposição a 22% das mulheres brancas. Raiz do problema Quando questionadas sobre ter visto essa violência Há séculos, a misoginia tem dado as caras na casa de suas vizinhas, 42% das mulheres negras na história humana. Desde a Grécia Antiga, é possí- afirmou ter visto, assim como 30% das mulheres vel identificar uma série de ideias que corroboravam brancas. (FBSP, 2017). a hipótese de que mulheres eram inferiores aos ho- Os números nos levam a concluir que quanto mens. Ao considerá-las “homens imperfeitos”, Aristó- teles é um dos mais antigos pensadores a serem cri- defesa e sobrevivência. ticados, hoje, por suas ideias misóginas. E a lista não para por aí. Hobbes, Descartes, Rousseau, Hegel, Nietzsche e Freud também colaboraram de alguma forma para sustentar a ideia da inferioridade feminina e alimentar a repulsa por mulheres. O filósofo alemão Arthur Schopenhauer, por exemplo, criticou a “natureza feminina” diversas ve- zes em seus ensaios, como quando alegou que as mulheres eram “por natureza destinadas a obede- cer”. Até mesmo Charles Darwin defendeu ideias como a de que mulheres, crianças e “selvagens” ti- nham cérebros menores e, consequentemente, me- nos intelecto. Apesar de já terem sido contestadas e derru- badas pela ciência, ideias como essa sustentam atos de violência e assédio até hoje.
São três conceitos que estão interligados e
sustentam a ocorrência da violência contra a mulher. A misoginia é um sentimento de aversão patológico pelo feminino, que se traduz em uma prática compor- tamental machista, cujas opiniões e atitudes visam o estabelecimento e a manutenção das desigualda- des e da hierarquia entre os gêneros, corroborando a crença de superioridade do poder e da figura mascu- lina pregada pelo machismo. O sexismo, por sua vez, pode ser definido como um conjunto de atitudes discriminatórias e de objetificação sexual que buscam estabelecer o papel social que cada gênero deve exercer, para isso são utilizados estereótipos de como falar, agir, pensar e até mesmo o que vestir.
O constante estímulo de comportamentos es-
tereotipados impacta ambos os gêneros, visto que exige amostras de uma cruel virilidade no homem e total subserviência na mulher. Quando a expectativa comportamental não ocorre, a violência eclode em uma escala ascendente de gravidade, iniciando com as piadas depreciativas, assédios, abusos, estupros e culmina com o feminicídio. As bases misóginas do pensamento ocidental geram a banalização da violência ao feminino que se estende pelos vários aspectos da vida da mulher, como o social, o psicológico, econômico e político, tornando difícil identificar os traços nocivos mais su- tis. Desta forma, homens e mulheres reproduzem atos e expressões machistas quase que de forma inconsciente, com a mulher adotando, muitas vezes, Sites consultados: como mecanismo de sobrevivência na cultura opres- https://www.politize.com.br/misoginia/ sora, uma aparente passividade que não deve ser https://revistagalileu.globo.com/Sociedade/noti- entendida como a aceitação das situações que lhe cia/2020/02/o-que-e-misoginia.html ferem a dignidade, mas sim como um mecanismo de https://www.politize.com.br/feminicidio/