Você está na página 1de 6

GÊNERO, PATRIARCADO E VIOLÊNCIA – HELEIETH SAFFIOTI

JAMILLY SANDES

1. CITAÇÕES

- “[...] As maiores preocupações dos brasileiros, aparecem infelizmente, o


desemprego e a violência.” (2015, pág.11)
- “Hoje se produz em consequência da necessidade de menor dispêndio com
salários de trabalhadores, a fim de aprofundar o processo de exploração –
dominação e, desta maneira, tornar mais rentáveis seus empreendimentos.”
(2015, pág. 12)
- “O poder não se aplica aos indivíduos, passa por eles. O indivíduo não é o
outro do poder, é um de seus primeiros efeitos. O poder passa através do
indivíduo que ele constituiu.” (Foucault, 1981)
- “Sem a concretização desta verdadeira lei, acumulação e miséria, o capitalismo
não se sustentaria, ou melhor, nem seria capitalismo.” (2015, pág. 14)”
- “Trata-se da violência como ruptura de qualquer forma de integridade da
vítima: integridade física, integridade psíquica, integridade sexual, integridade
moral.” (2015, pág.18)
- “O abuso sexual deixa feridas na alma, que sangram, no início sem cessar, e,
posteriormente, sempre que uma situação ou um fato lembre o abuso sofrido.”
(2015, pág. 19)
- “Trata-se, em sua maioria esmagadora de mulheres, que representam cerca de
90% do universo de vítimas.” (2015, pág. 20)
- “As mulheres agressoras sexuais estão entre 1% e 3%, enquanto a presença
masculina está entre 97% e 99%.” (2015, pág. 20)
- “As mulheres são treinadas para sentir culpa. Ainda que não haja razões
aparentes para se culpabilizarem, culpabilizam-se, pois vivem numa civilização
da culpa.” (2015, pág. 24)
- “Outras mães tentam culpabilizar as filhas, pois, a seu ver, as meninas
seduziram seus pais.” (2015, pág. 24)
- “O argumento de quem justifica, se não defende, a conduta de agressores
sexuais reside no tipo de sexualidade masculina, diferente da feminina.” (2015,
pág. 28)
- “A mulher foi socializada para conduzir-se como caça, que espera o “ataque”
do caçador.” (2015, pág. 28)
- “O poder é macho, branco e, de preferência, heterossexual.” (Saffioti, 1987,
pág. 33)
- “Poucas mulheres questionam sua inferioridade social.” (2015, pág. 37)
- “Isto consiste em uma “amputação”, pois há emoções e sentimentos capazes de
se expressar somente pelo choro” (2015, pág. 38)
- “O patriarcado, quando se trata de coletividade, apoia-se deste desequilíbrio
resultante de um desenvolvimento desigual de animus e de anima e,
simultaneamente o produz.” (2015, pág. 39)
- “8% mencionaram a conquista de direitos políticos, o que é verdadeiro desde a
constituição federal de 1988, e a igualdade de direitos em relação aos homens.”
(2015, pág. 46)
- “O problema reside na prática, instância na qual a igualdade legal se
transforma em desigualdade, contra a qual tem sido sem trégua a luta feminista.”
(2015, pág. 46)
- “7% das interrogadas manifestam seu desagrado com o desnível de salários
entre homens e mulheres.” (2015, pág. 46)
- “Enquanto categoria histórica, o gênero pode ser concebido em várias
instâncias: como aparelho semiótico; como símbolos culturais e vocadores de
representações, conceitos normativos como grade de interpretação de
significados, organizações e instituições sociais, identidade subjetiva; como
divisões e atribuições assimétricas de características e potencialidades; como,
numa certa instância, uma gramática sexual, regulando não apenas relações
homem-mulher, também relações homem-homem e relações mulher-mulher.”
(2015, pág. 47)
- “O poder como já foi escrito, tem duas faces: a da potência e a da impotência.”
(2015, pág. 54)

COMENTÁRIOS/PESQUISAS: No Brasil os indicies de violência só aumentam. Na


grande maioria dos casos, a violência é sofrida pelas mulheres. Nestes casos, há leis que
teoricamente deveriam amparar estas vítimas, o que notoriamente em algumas situações
não acontece.
Em decorrência dessas questões, notamos que o capitalismo age diretamente
nesses elevados níveis de violência. A acumulação de riquezas X a miséria, é o que
sustenta o capitalismo e consequentemente, privilegia uns (em sua maioria homens,
brancos, cis e heteros), deixando outros nas margens.

* Norte e Nordeste disparam no ranking de violência.

Quando ouvimos falar em violência contra as mulheres, imediatamente


imaginamos a violência física. Todavia, não podemos resumir a isto, ou à somente isto.
Ao estar em um relacionamento abusivo, por exemplo, muitas mulheres passam
pelas violências: psíquica, moral, sexual e física, quase sempre respectivamente. O fato
de haver casos em que não há notificações destas violências nos órgãos competentes, é
porque muitas destas mulheres não conseguem ou não sabem identificar outras
violências que não seja a física. Além disso, há por parte das esmagadoras autoridades
policiais, uma falta de preparo para atender as vítimas, provocando, desta forma, o
desencorajamento e o silêncio destas.
Ao longo dos anos foi adotado por muitos, a utilização da palavra “mimimi”,
referindo-se as queixas principalmente de assédio por parte dos homens para com as
mulheres. Para a nossa sociedade machista e patriarcal, nós mulheres, utilizamos dessas
nossas vivências diárias como vitimização.
Para exemplificar melhor o assunto, trago aqui dados recentes sobre a violência
contra a mulher no Brasil.

Brasil 536 casos por hora.


Fonte: BBC News Brasil, 2019

74% das vítimas conheciam o agressor.


Fonte: BBC News Brasil, 2019.

52% não denunciaram.


Fonte: BBC News Brasil, 2019.

Violência física 10%


Violência sexual 17%
Violência moral 65,4%
Violência patrimonial 60,8%
Violência psicológica 58,8%
Fonte: Instituto de segurança pública do Rio, 2020.

*Com a pandemia muitas mulheres não conseguiram denunciar pois residiam com seus
agressores.
*Lembrando também que, há mulheres que não possuem informações sobre os tipos de
violências sofridas por elas, afetando diretamente nos casos notificados.

É notório perceber que no Brasil, vítimas de abuso sexual são por vezes
silenciadas. Uma das consequências disso, é a sua própria culpabilização e os traumas
herdados do ato. O fato de mais da metade das mulheres abusadas não denunciarem, é
justamente porque são desacreditadas pela sociedade.
No Brasil não há uma aplicabilidade incisiva das leis para amparar as vítimas.
Todas nós estamos à mercê da violência e do violentador. Levando em consideração que
grande parte dos abusos sexuais e estupros ocorrem dentro de casa, sendo as vítimas
muitas vezes crianças e adolescentes, faz com que os casos não sejam notificados para
as autoridades competentes.
O Brasil é conhecido por ser um país miscigenado por conta da “colonização”.
Mesmo sendo um país em que boa parte das pessoas são de descendência africana,
notamos o racismo velado e naturalizado na nossa sociedade.
A meritocracia explanada quase sempre por pessoas de posições sociais
privilegiadas, na verdade não existe. Talvez existisse, caso tivéssemos igualdade social,
racional e de gênero. Entretanto, sabemos que no Brasil ambas as igualdades são
consideradas uma conquista longínqua, pois diante das estatísticas conseguimos ter
noção do quão preconceituoso é a nossa sociedade.
Animus e anima são descritos na escola de psicologia analítica de Carl Jung
como parte de sua teoria do inconsciente coletivo. Jung descreveu o animus como o
lado masculino inconsciente de uma mulher, e anima como o lado feminino
inconsciente de um homem, cada um transcendendo a psique pessoal.

Por todo o mundo conseguimos ver a desigualdade salarial, principalmente


referente ao gênero. No Brasil não seria diferente, já que somos um país capitalista e
patriarcal, resultando nas desigualdades de gênero. Questões como essas nos levam a
questionar os direitos que por lei foram conquistados: porque há pouca aplicabilidade
dessas leis no nosso país? Arrisco em afirmar que o capitalismo e o patriarcado estão
diretamente ligados à essas questões, afinal, ambos são alicerces da nossa sociedade
machista, sexista e desigual.

“Apesar de um estudo recente, a instituição OIT (Organização Internacional do


Trabalho), constatou que houve redução nas diferenças salariais de 30% para 23%.
Ainda se precisará de mais de 70 anos para suprir essa disparidade, que implica
também, na cobertura previdenciária da mulher, em consonância com o percentual anual
de redução (OIT, 2016), o que concorre para a “crescente feminização da pobreza”.
Rev. Estad. Fem. vol. 26. Florianópolis, 2018.

“A média salarial dos admitidos com ensino superior completo é de R$ 4.640 para
homens, e de R$ 3.287 para mulheres.”
* Diferença de 41% a menos nos salários do sexo feminino.

“Levantamento do Sindicato das Entidades Mantedoras de Estabelecimentos de Ensino


Superior no Estado de São Paulo (SEMESP), aponta que o Brasil mantém desigualdade
de gênero no mercado de trabalho.” (RAMOS, Roseli. 2020)
No Brasil o machismo está cada vez mais tomando proporções catastróficas. De
um lado temos mulheres que a partir do conhecimento de um relacionamento abusivo,
tentam se desvencilhar desta violência, e do outro, homens que não aceitam a não
submissão das mulheres.
Em uma sociedade patriarcal como a nossa, nossas vidas enquanto mulheres,
está sempre em constante perigo. Os efeitos causados pelo patriarcado estão muito além
do convívio familiar, como cita a autora. Um caso em particular que tomou bastante
proporção midiática, além de ser recente, mostra como o machismo não se limita ao
âmbito familiar, mas também nas esferas públicas. Este caso é o de Mariana Ferrer que
em 2018 foi dopada e estuprada por André Aranha em um café na cidade de
Florianópolis (SC). Além das provas materiais, como suas vestimentas sujas de sangue,
prints de conversas de WhatsApp, gravações de câmera de segurança e a confirmação
por corpo de delito. Mesmo com todas as provas apresentadas, dois anos depois do
crime, o juiz Rudson Marcos alegou que houve “estupro culposo, quando não há
intenção de estuprar” – o que não tem fundamento e legalidade dentro das leis que
regem o país. Durante toda a audiência, Mariana foi humilhada por Claudio Gastão
Filho advogado do estuprador.
Mesmo com uma grande visibilidade do caso, André Aranha foi absolvido do
crime que segue impune. Embora a justiça não tenha sido feita, em dezembro de 2020 a
câmara aprovou o projeto de lei PL 5091/20 que torna crime a violência institucional.
Esta é uma vitória para as mulheres, que são diariamente assediadas, estupradas,
desacreditadas e mortas.

4.519 mulheres assassinadas em 2018.


68% das vítimas eram negras.
1 mulher é assassinada a cada 2 horas no
Brasil.
Fonte: Atlas da Violência.

Em 2015 entrou em vigor a lei do feminicídio (Lei 13.104/15), uma conquista recente e
necessária. O feminicídio está diretamente ligado ao assassinato de mulheres, justamente por
serem mulheres. Segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), o Brasil ocupa o 5º lugar no
ranking de violência contra a mulher. Mesmo com a nova lei implementada e a lei Maria da
Penha de 2006 (Lei 11.340/06) os casos de violência contra a mulheres só aumentam. O que
está diretamente ligado a esses aumentos, é a falte de aplicabilidade das leis que em teoria
existem para nos proteger e amparar. Cada vez que uma mulher é vitima de qualquer tipo de
violência, ela passa a ser desacreditada e humilhada pela sociedade e pelas instâncias que são
predominantemente sexistas e misóginas.
*Cerca de 70% das vítimas de violência não denunciam. Fonte: O Globo.com

Você também pode gostar