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Crimes em espécie: os crimes contra o sentimento religioso e


contra o respeito aos mortos e os crimes contra a dignidade sexual. Conheça aqui os
principais tipos penais previstos no título V e VI da parte especial do Código Penal.
 
Aprenda sobre os crimes contra a liberdade sexual, dos crimes sexuais contra vulneráveis,
sobre os delitos de lenocínio e trafico de pessoas para fins de exploração sexual, e os delitos
de ultraje público ao pudor.  Estude também sobre os delitos contra o sentimento religioso e
contra os respeitos aos mortos.

1. Dos crimes contra o sentimento religioso e


contra o respeito aos mortos 
Os crimes contra o sentimento religioso e contra o respeito aos mortos estão localizados no
título V do Código Penal (CP), que é dividido em dois capítulos. Antes do advento da
República, esses crimes eram considerados atentados contra a ordem estatal, pelo fato de o
Estado brasileiro não ser laico. Com o advento da Constituição republicana de 1988, o Estado
brasileiro passa a ser laico, que “admite e respeita todas as vocações religiosas” (MASSON,
2016).
Atualmente, os tipos penais visam a assegurar o exercício do sentimento religioso, e o
respeito aos mortos, que, de acordo com Masson (2016), também se reveste de cunho
religioso. Esses direitos são constitucionalmente assegurados no art. 5°, VI, da Constituição
da República: "é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre
exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e as
suas liturgias” (BRASIL, 1988).
Dessa forma, no capítulo I, são tutelados os crimes contra o sentimento religioso, que possui
apenas um tipo penal, qual seja: o  ultraje a culto e impedimento ou perturbação de ato a ele
relativo, e, no capítulo II, localizam-se os delitos contra o respeito aos mortos, dentre os quais
se destacam o delito de violação de sepultura, destruição, subtração ou ocultação de cadáver
e vilipêndio ao cadáver.
1.1 Ultraje a culto e impedimento ou perturbação de ato a
ele relativo (CP, art. 208)
O delito o  ultraje a culto e impedimento ou perturbação de ato a ele relativo é previsto no
art. 208 do Código Penal nos seguintes termos: Art. 208 - Escarnecer de alguém
publicamente, por motivo de crença ou função religiosa; impedir ou perturbar cerimônia ou
prática de culto religioso; vilipendiar publicamente ato ou objeto de culto religioso: Pena -
detenção, de um mês a um ano, ou multa”. Deve-se destacar que, se a conduta do agente é
feita com emprego de violência, a pena é aumentada de um terço, sem prejuízo da
correspondente à violência (BRASIL, 1940, art. 208, parágrafo único).
O tipo penal descreve três condutas típicas:
Ridicularizar alguém por motivos de crença (fé) ou função (ocupação, ministério) religiosa. Para que a
conduta seja penalizada, é necessário que a ridicularização seja levada a efeito em público (GRECO,
2017). Neste caso, a conduta típica se consuma com a simples ridicularização, independente da vítima
se sentir ofendida ou não.
Impedir (fazer com que não se realize) ou perturbar (fazer com que se realize mal) a cerimônia
(solenidade, como o casamento) ou culto (rito de adoração habitual). A consumação do delito ocorre
quando a cerimônia ou culto é impedida ou interrompida.
Vilipendiar objeto de culto religioso. Segundo Rogério Greco (2017), vilipendiar pode ser
definido como: “menoscabar, desprezar, enfim, tratar como vil, publicamente, ato ou objeto
de culto religioso”. A conduta consuma-se quando ocorrido o vilipêndio.
Cada uma dessas ações configura a elementar típica, de forma que, praticando duas delas,
por exemplo, o agente deverá responder por dois crimes. Em todas as hipóteses narradas
também é admissível a tentativa.
Quanto ao elemento subjetivo do delito, dispõe Masson (2016) que: 
Elemento subjetivo: é o dolo. Não se admite a modalidade culposa. Na primeira figura criminosa,
exige-se ainda um especial fim de agir, consistente em atuar "por motivo de crença função religiosa':
Na segunda conduta basta o dolo eventual. Na terceira conduta também se reclama um especial fim
de agir: o propósito de vilipendiar, de ofender o sentimento religioso, ultrajando-o”.

Trata-se de crime comum, que pode ser exercido por qualquer pessoa, não exigindo
nenhuma característica específica. Já o sujeito passivo é aquele que foi ridicularizado por
suas crenças, ou no exercício de função religiosa; na segunda conduta, aquele que foi
impedido ou tenha realizado mal cerimônia ou culto; e, na terceira conduta, todos aqueles
que estavam ligados ao ato ou objeto de culto religioso que foi profanado, vilipendiado pelo
agente. 
1.2 Violação de sepultura (CP, art. 210)
O delito previsto no art. 210 consiste em “violar ou profanar sepultura ou urna funerária”,
sendo apenado com reclusão, de um a três anos, e multa.
Segundo a doutrina de Hungria (2016 apud GRECO 2017), o termo violar consiste em “abrir
ou devassar arbitrariamente”, enquanto profanar significaria o ato de “tratar com
irreverência, conspurcar, degradar”. Já a sepultura, pode ser descrita como:
O termo ‘sepultura’ deve ser entendido em sentido amplo: não é apenas a cova onde se acham
encerrados os restos mortais, o lugar onde está enterrado o defunto, senão também tudo quanto lhe
é imediatamente conexo, compreendendo o túmulo, isto é, a construção acima da cova, a lápide, os
ornamentos estáveis, as inscrições. A lei não distingue entre a vala comum e o mausoléu. A sepultura
do pária desconhecido merece tanto respeito quanto a do herói celebrado. Expressamente
equiparada à sepultura é a urna funerária, que é não só aquela que guarda as cinzas (urna cinerária)
como a que encerra os ossos do defunto (urna ossuária). (HUNGRIA, 2016 apud GRECO, 2017)

Neste caso, se o agente pratica as duas condutas descritas, responderá apenas por um
delito, pois se trata de tipo misto alternativo. O tipo penal é comum, não exigindo do sujeito
ativo nenhuma característica especial. O sujeito passivo é a coletividade, mais especialmente,
a família do morto (GRECO, 2017).
O delito se consuma quando a sepultura é violada, sendo admissível a modalidade tentada.
Deve-se registrar que se a sepultura estiver vazia, será configurado crime impossível, ante a
ineficácia absoluta do objeto.

Se a intenção do agente, ao violar sepultura for subtrair pertences do morto, Hungria se


posiciona a favor do reconhecimento do concurso material de delitos, respondendo o agente
tanto pela violação da sepultura quanto pelo delito de furto (HUNGRIA, 2016 apud GRECO,
2017).
Já Rogério Greco (2017) acredita que o agente deverá responder somente pelo delito de
violação, uma vez que “objetos que foram ali deixados pela família do morto não pertencem
mais a ninguém, tratando-se, pois, de res derelicta".
1.3 Destruição, subtração ou ocultação de cadáver (CP,
art. 211)
O delito de destruição, subtração, ou ocultação de cadáver é descrito no art. 211 do Código
Penal, traduzindo a conduta de “destruir, subtrair ou ocultar cadáver ou parte dele”, apenada
com reclusão, de um a três anos, e multa (BRASIL, 1940).
Greco (2017) explica que o objeto material do delito é o cadáver, caracterizado por ser um
“corpo humano morto, enquanto mantida a sua aparência como tal”, excluindo-se a figura
dos restos esqueléticos, ou da múmia.
Já as condutas típicas podem ser: destruir (aniquilar), subtrair (retirar do local original) ou
ocultar (fazer desaparecer). A distinção entre as condutas de ocultar e de subtrair é que a
primeira ocorre antes do sepultamento, enquanto a segunda, depois dele. Deve-se registrar
que se trata de tipo misto alternativo, o que implica dizer que, ocorridas duas ações típicas, o
agente responderá por um só delito (GRECO, 2017).
Igualmente aos demais crimes do mesmo título, o sujeito passivo não requer nenhuma
condição penal, e o sujeito passivo é a família do cadáver e toda a coletividade. A
consumação delitiva, por sua vez, ocorre com a destruição, subtração ou ocultação do
cadáver, ainda que parciais. A tentativa é possível diante da possibilidade de fracionamento
do iter criminis.
É interessante, por fim, a observação trazida pela doutrina de Cleber Masson (2016), que
sugere a hipótese de ocorrer a ocultação do cadáver para fins de esconder o objeto material
de um homicídio, por exemplo. Nesse sentido, o doutrinador entende que:
O homicida que, para ocultar o cadáver, apaga ou elimina vestígios de sangue, não pode ser
denunciado pela prática, em concurso, dos crimes de fraude processual penal e ocultação de cadáver,
senão apenas deste, do qual aquele constitui mero ato executório. (MASSON, 2016)

1.4 Vilipêndio a cadáver (CP, art. 212)


O delito de vilipêndio a cadáver, descrito no art. 212 do Código Penal, descreve a conduta do
autor que “vilipendiar cadáver ou suas cinzas”, atribuindo-a pena de detenção, de um a três
anos, e multa (BRASIL, 1940).
A conduta típica consiste em “aviltar, ultrajar, tratar com desprezo”, o cadáver ou suas cinzas.
Embora haja controvérsia doutrinária, Rogério Greco entende não ser necessário nenhum
dolo especial, bastando que, objetivamente, a conduta seja de vilipêndio ao cadáver.
Novamente, o sujeito passivo não requer nenhuma condição penal, e o sujeito passivo é a
família do cadáver e toda a coletividade. A consumação, por sua vez, ocorre com o ato de
vilipendiar, sendo possível a tentativa.
Sobre o consentimento do falecido, Masson (2016) adverte sobre a impossibilidade de isso
afastar a ilicitude do comportamento do sujeito, entendendo que “subsiste o delito quando o
falecido, em disposição de última vontade, autorizou o vilipêndio do seu cadáver. Tutela-se
um interesse de ordem pública, representado pelo sentimento ético-social de respeito aos
mortos”.

2. Crimes à dignidade sexual


Os crimes contra a dignidade sexual encontram-se descritos no título VI do Código Penal, e
tem como bem jurídico tutelado a dignidade sexual do ser humano, segundo Greco (2017)
essa dignidade pode ser traduzida como:
A dignidade sexual é uma das espécies do gênero dignidade da pessoa humana. Ingo Wolfgang Sarlet,
dissertando sobre o tema, esclarece que a dignidade é “a qualidade intrínseca e distintiva de cada ser
humano que o faz merecedor do mesmo respeito e consideração por parte do Estado e da
comunidade, implicando, neste sentido, um complexo de direitos e deveres fundamentais que
assegurem a pessoa tanto contra todo e qualquer ato de cunho degradante e desumano, como
venham a lhe garantir as condições existenciais mínimas para uma vida saudável, além de propiciar e
promover sua participação ativa e corresponsável nos destinos da própria existência e da vida em
comunhão com os demais seres humanos”. (GRECO, 2017)

Segundo Cleber Masson (2016), O fundamento de validade dos crimes contra a dignidade
sexual repousa no art. 1º, inc. III, da Constituição Federal, que prevê a dignidade da pessoa
humana como um dos fundamentos da República Federativa do Brasil. O autor ainda leciona
que: “a dignidade da pessoa humana não gera reflexos apenas nas esferas físicas, morais e
patrimoniais, mas também no âmbito sexual”, sendo dever do Estado “assegurar meios para
todos buscarem a satisfação pessoal de forma digna, livre de violência, grave ameaça ou
exploração”.
Estudaremos, a seguir, os delitos previstos no capítulo I, em que o bem jurídico tutelado é a
liberdade sexual. A liberdade sexual é definida por Masson (2016) como: 
[...] o direito inerente a todo ser humano de dispor do próprio corpo. Cada pessoa tem o direito de
escolher seu parceiro sexual e com ele praticar o ato desejado no momento que reputar adequado,
sem qualquer tipo de violência ou grave ameaça. O Código Penal protege o critério de eleição sexual
que todos desfrutam na sociedade.

Dentre os delitos que atentam contra a liberdade sexual, explicaremos sobre os delitos de
estupro, violação sexual mediante fraude, importunação sexual e assédio sexual.
2.1 Estupro (CP, art. 213)
O delito de estupro está previsto no art. 213 do Código Penal, que descreve a conduta de
“constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a ter conjunção carnal ou a
praticar ou permitir que com ele se pratique outro ato libidinoso”, sendo a pena imputada a
figura delitiva de reclusão, de seis a dez anos (BRASIL, 1940).
A primeira conduta típica consiste em obrigar alguém, mediante violência (força física) ou
grave ameaça (imprimir temor à vítima), a ter conjunção carnal. Segundo Greco (2017), o
Código Penal adotou o conceito restrito ao caracterizar a conjunção carnal, que pode ser
definida, nas palavras de Hungria (2016 apud GRECO, 2017): “a cópula secundum naturam, o
ajuntamento do órgão genital do homem com o da mulher, a intromissão do pênis na
cavidade vaginal”.
Já a segunda conduta típica, incorpora ao delito de estupro a realização de outros atos
libidinosos, que podem ser assim definidos: “todos os atos de natureza sexual, que não a
conjunção carnal, que tenham por finalidade satisfazer a libido do agente” (GRECO, 2017). Os
atos devem possuir especial gravidade, considerando a pena mínima cominada ao crime:
Esses atos devem possuir alguma relevância, pois, caso contrário, estaríamos punindo o agente de
forma desproporcional com o seu comportamento, uma vez que a pena mínima cominada ao delito
de estupro é de seis anos de reclusão. Nesse sentido, com precisão, afirma Cezar Roberto Bitencourt
que ‘passar as mãos nas coxas, nas nádegas ou nos seios da vítima, ou mesmo um abraço forçado,
configuram [...] a contravenção penal do art. 61 da lei especial, quando praticados um lugar público
ou acessível ao público’. (GRECO, 2017)
Quanto aos sujeitos do delito, Greco (2017) adverte que “quando a finalidade for a conjunção
carnal, poderá ser tanto o homem quanto a mulher. No entanto, nesse caso, o sujeito
passivo, obrigatoriamente, deverá ser do sexo oposto, pressupondo uma relação
heterossexual”, quando a finalidade for a prática de outro ato libidinoso , o delito admitirá
qualquer sujeito passivo ou ativo.
Quanto à consumação, ela também é diferente no caso em que a finalidade é a conjunção
carnal ou ato libidinoso. No primeiro caso, Greco explica que: “o delito de estupro se
consuma com a efetiva penetração do pênis do homem na vagina da mulher, não
importando se total ou parcial, não havendo, inclusive, necessidade de ejaculação” (GRECO,
2017). Quanto ao segundo caso, explica que:
Consuma-se o estupro no momento em que o agente, depois da prática do constrangimento levado a
efeito mediante violência ou grave ameaça, obriga a vítima a praticar ou permitir que com ela se
pratique outro ato libidinoso diverso da conjunção carnal. (GRECO, 2017)

A tentativa, por sua vez, é possível em ambas as finalidades. Quanto ao dolo, Greco ensina
que a prática do crime de estupro independe de qualquer finalidade especial pretendida pelo
sujeito, assim dispondo:
Não há necessidade de que o agente atue com a finalidade especial de saciar sua lascívia, de
satisfazer sua libido. O dolo, aqui, diz respeito tão somente ao fato de constranger a vítima com a
finalidade de, com ela, ter a conjunção carnal ou praticar ou permitir que com ela se pratique outro
ato libidinoso, não importando a motivação. Se o agente agiu com a finalidade, por exemplo, de
humilhar ou mesmo vingar-se da vítima, tal fato é irrelevante para efeitos de configuração do delito,
devendo ser considerado, no entanto, no momento da aplicação da pena. (GRECO, 2017)

O delito de estupro ainda prevê modalidades qualificadas pelo resultado que, em ambos os
casos, somente podem ocorrer a título de culpa sendo, portanto, hipóteses de crimes
preterdolosos.
No parágrafo primeiro do mesmo dispositivo, o legislador previu maior pena (reclusão de
oito a doze anos) quando do estupro resultar lesão corporal de natureza grave ou se a vítima
for menor de 18 ou maior de 14 anos. Deve-se notar que se do estupro resultar lesão leve,
ela será absorvida pela figura do caput, sendo considerada consequência do emprego da
violência ou grave ameaça. Se da conduta resultar morte, a pena será de reclusão, de 12 a 30
anos, nos termos do art. 213, § 2º do Código Penal.
Em ambos os casos, Greco (2017) defende a possibilidade de tentativa, ainda que se trate de
crime preterdoloso, quando não se consumar a conjunção carnal e outro ato libidinoso e se
configurar o resultado morte ou lesão grave.
O Código Penal prevê, ainda, causas especiais de aumento de pena em seu artigo 226:

Amenta-se em metade se o agente é ascendente, padrasto ou madrasta, tio, irmão, cônjuge,


companheiro, tutor, curador, preceptor ou empregador da vítima ou por qualquer outro
título tiver autoridade sobre ela, em 1/3 a 2/3 se o crime é praticado mediante concurso de
dois ou mais agentes (estupro coletivo) ou para controlar o comportamento social ou sexual
da vítima (estupro corretivo).
Quanto à hipótese de estupro coletivo, deve-se registrar que o Código Penal, antes da
redação dada pela Lei previa aumento de ¼, sendo a atual redação prejudicial ao agente e,
portanto, não retroagindo. Greco (2017) entende que, para incidir a majorante, os agentes
devem praticar, conjuntamente, atos de execução tendentes à prática do delito sexual.
O artigo 234-A traz ainda outra causa de aumento de pena, exasperando de metade a 2/3, se
do crime resulta gravidez, e de 1/3 a 2/3 se o agente transmite à vítima doença sexualmente
transmissível de que sabe ou deveria saber ser portador, ou se a vítima é idosa ou pessoa
com deficiência. 

Segundo a nova redação do art. 225 do Código Penal, o processamento do delito de estupro
ocorrerá mediante ação penal pública incondicionada.
2.2 Violação sexual mediante fraude (CP, art. 215)
O delito de violação sexual mediante fraude é descrito no art. 215 do CP como a conduta de
“ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com alguém, mediante fraude ou outro
meio que impeça ou dificulte a livre manifestação de vontade da vítima” (BRASIL, 1940). A
conduta é apenada com reclusão, de dois a seis anos e, se praticado com o fim de se obter
vantagem econômica, aplica-se também multa.
Neste caso, o núcleo do tipo penal consiste em ter conjunção carnal ou outro ato libidinoso
mediante fraude. O que diferencia a conduta do estupro é que o ato é praticado mediante
fraude, sendo assim compreendida:
A fraude faz com que o consentimento da vítima seja viciado, pois que se tivesse conhecimento,
efetivamente, da realidade não cederia aos apelos do agente. Por meio da fraude, o agente induz ou
mantém a vítima em erro, fazendo com que tenha um conhecimento equivocado da realidade.
(GRECO, 2017)

Não é à toa que o delito ficou popularmente conhecido como “estelionato sexual”. Greco
exemplifica a figura típica com exemplos interessantes, como na “troca de pessoas tratando-
se de irmãos gêmeos idênticos, ou, ainda, o médico ginecologista, que, sem necessidade,
realiza exame de toque na vítima, somente para satisfazer seu instinto criminoso” (GRECO,
2017).
Deve-se, porém, registrar que “a fraude utilizada na execução do crime não pode anular a
capacidade de resistência da vítima, caso em que estará configurado o delito de estupro de
vulnerável (art. 217-A do CP)” (CUNHA, 2016 apud GRECO, 2017). Assim, a manifestação de
vontade da vítima deve ser apenas dificultada.
O delito também se configura quando o agente faz uso de qualquer artifício ardil (outras
fraudes) para consumá-lo. Esse artifício pode consistir em:
 
 palavras, gestos ou atos; ser ostensivo ou tácito;
 explícito ou implícito;
 exteriorizar-se em ação ou omissão.

Os sujeitos ativo e passivo não exigem qualquer característica especial, sendo certo que no
caso da conjunção carnal, apenas exige-se que se trate de relação heterossexual.
O delito se consuma com a prática da conjunção carnal ou do ato libidinoso, sendo
admissível a tentativa. Porém, Greco (2017) adverte que:
É importante frisar, no entanto, que, dada a gravidade da pena prevista para essa infração penal,
somente aqueles atos que importem em atentados graves contra a liberdade sexual é que poderão
ser reconhecidos como característicos do tipo penal em estudo. Assim, por exemplo, utilizar-se de
fraude para beijar a vítima, mesmo que seja um beijo prolongado, não se configura no delito em
questão, devendo o fato ser considerado atípico.
Deve-se registrar que se o agente, mediante fraude, pratica a conjunção carnal
conjuntamente com outro ato libidinoso com a vítima, deverá responder por uma única
infração penal, e não pelo concurso de crimes. Aplicam-se também no presente caso, as
causas de aumento previstas no art. 226 e no art. 234, todos do Código Penal (BRASIL, 1940).
2.3 Importunação sexual (CP, art. 215-A)
O delito previsto no art. 215-A do Código Penal foi inserido pela Lei n. 13.718, de 2018 e
consiste em: “praticar contra alguém e sem a sua anuência ato libidinoso com o objetivo de
satisfazer a própria lascívia ou a de terceiro”, sendo a conduta reprimida com pena de
reclusão, de um a cinco anos, se o ato não constitui crime mais grave (GRECO, 2017).
Segundo o Conselho Nacional de Justiça (CNJ), “antes da norma, a conduta era considerada
apenas uma contravenção penal, punida com multa, e quando se tratava de estupro, era
prisão em flagrante ou preventiva” (BRASIL, [s.d.]). Também conforme o CNJ, o caso mais
comum do delito é o assédio sofrido por mulheres em meios de transporte coletivo, mas
também enquadra ações como beijos forçados e passar a mão no corpo alheio sem
permissão.
A conduta típica consiste em praticar ato libidinoso contra alguém, sem que a vítima tenha
anuído para a prática de tal ato. Dessa forma, não deve ser empregado pelo agente violência
ou grave ameaça, sob pena de caracterizar o delito de estupro. Lado outro, exige-se que
esteja presente a “vontade dirigida a satisfazer da própria lascívia ou de terceiros, não
bastando o simples toque ou ‘esbarrão’ no metrô, por exemplo” (LOPES JUNIOR; ROSA, 2018).
Aury Lopes Junior e Alexandre Morais da Rosa (2018) fazem uma consideração sobre a
conduta de estupro, mediante a prática de atos libidinosos, e a prática de importunação
sexual, esclarecendo que:
Agora, pelo princípio da proporcionalidade, os atos libidinosos foram “divididos”, até mesmo em
respeito às vítimas que tiveram suas liberdades sexuais ofendidas em nível máximo. Agora, “o passar
de mãos lascivo nas nádegas”, “o beijo forçado”, aquilo que antes tinha que se adequar ao
estupro para não ficar impune (mesmo todo mundo sabendo dessa desproporcionalidade!) “ganha”
nova tipificação: o crime de importunação sexual. Não há mais dúvida: é crime! Dessa forma, verifica-
se um tratamento mais adequado aos casos do mundo da vida e às hipóteses de absolvição forçada
dada a única opção (estupro). Qualifica-se o âmbito de proteção normativo.

O crime é comum, não exigindo do sujeito, tanto ativo quanto passivo, qualquer
característica especial. O delito se consuma com a prática do ato libidinoso, sendo admissível
a tentativa.
2.4 Assédio sexual (CP, art. 216-A)
O art. 216-A do Código Penal prevê o delito de assédio sexual. A conduta descrita no tipo
penal consiste em “constranger alguém com o intuito de obter vantagem ou favorecimento
sexual, prevalecendo-se o agente da sua condição de superior hierárquico ou ascendência
inerentes ao exercício de emprego, cargo ou função”.  Ao crime é cominada pena de
detenção, de um a dois anos.              
O parágrafo segundo do dispositivo prevê ainda que a pena seja aumentada em até um terço
se a vítima é menor de 18 anos. Lembrando que, para incidir a referida causa de aumento, é
necessário que o agente tenha conhecimento da idade da vítima.
Segundo Rogério Greco, o delito de assédio sexual implica em modalidade especial de
constrangimento ilegal que pressupõe a existência de relações laborais:
No delito de assédio sexual, partindo do pressuposto de que seu núcleo prevê uma modalidade
especial de constrangimento, devemos entendê-lo praticado com ações por parte do sujeito ativo
que, na ausência de receptividade pelo sujeito passivo, farão com que este se veja prejudicado em
seu trabalho, havendo, assim, expressa ou implicitamente, uma ameaça. No entanto, essa ameaça
deverá sempre estar ligada ao exercício de emprego, cargo ou função, seja rebaixando a vítima de
posto, colocando-a em lugar pior de trabalho, enfim, deverá sempre estar vinculada a essa relação
hierárquica ou de ascendência, como determina a redação legal. (GRECO, 2017)

O constrangimento deve ser empregado com o fito de perceber favores sexuais. Ademais,
para a prática do ato, o agente deve ser o superior hierárquico da vítima, assim entendido
como quem exerce hierarquia no âmbito público, ou superior em emprego (denota relações
laborais regidas pela CLT), cargo ou função (relações laborais no âmbito da administração
pública). Greco (2017) ainda ressalta que se o agente possuir posição hierárquica igual ou
inferior à da vítima, não haverá crime.

Algumas relações não podem configurar a subordinação laboral exigível para a tipificação do
delito. Assim, ocorrido assédio sexual nessas relações, o fato será atípico: entre professor e
aluno ou entre líder religioso e seus seguidores. Por outro lado, as “diaristas” ainda que não
possuam relação laboral regida pela CLT podem ser vítimas de assédio (GRECO, 2017).

Os sujeitos ativo e passivo não possuem qualquer qualificação especial, bastando que exista
entre eles uma relação de subordinação do segundo em relação ao primeiro. O delito se
consuma quando o autor constrange a vítima, “não havendo necessidade que esta venha,
efetivamente, a praticar os atos que impliquem vantagem ou favorecimento sexual exigidos
pelo agente que, se vierem a ocorrer, serão considerados mero exaurimento do crime”
(GRECO, 2017), sendo a tentativa admissível.

3. Crimes sexuais contra vulnerável  


Os delitos sexuais cometidos contra vulneráveis são previstos no capítulo II do título IV do
Código Penal. Nesses crimes é reconhecida a vulnerabilidade da vítima e a impossibilidade de
ela consentir com estes atos.
Nesse sentido, explica Masson (2016) que: 
No Capítulo II, o CP tem em vista a integridade de determinados indivíduos, fragilizados em face da
pouca idade ou de condições específicas, resguardando-as do início antecipado ou abusivo na vida
sexual. Para a caracterização destes crimes é irrelevante o dissenso da vítima. A lei despreza o
consentimento dos vulneráveis, pois estabeleceu critérios para concluir pela ausência de vontade
penalmente relevante emanada de tais pessoas. O aperfeiçoamento dos delitos independe do
emprego de violência, grave ameaça ou fraude.

As vítimas, reputadas incapazes nesses delitos são: os menores de 14 anos (critério etário
objetivo), aqueles que, por enfermidade ou deficiência mental, não têm o necessário
discernimento para a prática do ato, aqueles que não podem oferecer resistência por
qualquer causa.
Abordaremos, a seguir, os crimes mais relevantes do capítulo em questão.
3.1 Estupro de vulnerável (CP, art. 217-A)
O estupro de vulnerável foi figura incluída pela Lei n. 12.015, de 2009, no art.217-A, que
contém a seguinte redação: “Ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com
menor de 14 (catorze) anos: pena - reclusão, de 08 (oito) a 15 (quinze) anos” (GRECO, 2017).
Diferentemente do delito de estupro, o tipo penal relativo ao estupro de vulnerável, não
exige que a vítima seja constrangida ao ato, bastando a ocorrência da conjunção carnal ou
ato libidinoso com menor de quatorze anos. Assim, é irrelevante, para a configuração típica a
ocorrência de violência ou grave ameaça, para configurar o constrangimento da vítima
(GRECO, 2017).
É importante ressaltar que, para incidir na figura típica, o agente deve conhecer ou ter meios
de auferir a idade da vítima. Exemplifica Greco (2017) nesse sentido que:
Assim, imagine-se a hipótese em que o agente, durante uma festa, conheça uma menina que
aparentava ter mais de 18 anos, dada à sua compleição física, bem como pelo modo como se vestia e
se portava, fazendo uso de bebida alcoólica etc., quando, na verdade, ainda não havia completado os
14 (catorze) anos. O agente, envolvido pela própria vítima, resolve, com o consentimento dela, levá-la
para um motel, mantêm conjunção carnal. Nesse caso, se as provas existentes nos autos conduzirem
para o erro, o fato praticado pelo agente poderá ser considerado atípico, tendo em vista a ausência
de violência física ou grave ameaça.

O parágrafo primeiro, do mesmo dispositivo, incorre na mesma pena quem pratica as ações
descritas no caput com alguém que, por enfermidade ou deficiência mental, não tem o
necessário discernimento para a prática do ato, ou que, por qualquer outra causa, não pode
oferecer resistência.
Neste caso, novamente o Código Penal adotou o critério biopsicológico, pois, além de a
vítima possuir enfermidade, esta ainda deve ser capaz de impedir que aquela tenha o
discernimento necessário para a prática do ato. Nesse sentido, 
é importante ressaltar que não se pode proibir que alguém acometido de uma enfermidade ou
deficiência mental tenha uma vida sexual normal, tampouco punir aquele que com ele teve algum
tipo de ato sexual consentido. O que a lei proíbe é que se mantenha conjunção carnal ou pratique
outro ato libidinoso com alguém que tenha alguma enfermidade ou deficiência mental que não
possua o necessário discernimento para a prática do ato sexual. (GRECO, 2017)

Porém, a vulnerabilidade também poderá resultar da impossibilidade que a vítima tenha de


oferecer resistência como, por exemplo, “os casos de embriaguez letárgica, o sono profundo,
a hipnose, a idade avançada, a sua impossibilidade, temporária ou definitiva, de resistir”
(GRECO, 2017).
Deve-se registrar que o § 5º do mesmo dispositivo dispõe que as penas deste artigo se
aplicam “independentemente do consentimento da vítima ou do fato de ela ter mantido
relações sexuais anteriormente ao crime” (BRASIL, 1940).
O artigo também prevê as modalidades agravadas pelo resultado. Nesses casos, o resultado
deve ser cometido a título de culpa, ou seja, tratar-se de crime preterdoloso. Assim, nos
termos do parágrafo terceiro, se da conduta resulta lesão corporal de natureza grave, a pena
será de reclusão de 10 a 20 anos.  Se da conduta resulta morte, a pena será de reclusão, de
12 a 30 anos (BRASIL, 1940, art. 217-A, § 4º).
O sujeito ativo do delito pode ser qualquer pessoa, não havendo necessidade de qualificação
especial. Já o sujeito passivo é a pessoa menor de 14 anos, ou acometida de enfermidade ou
deficiência mental, que não tenha o discernimento necessário para a prática do ato, ou que,
por outra causa, não possa oferecer resistência.
 A consumação do delito ocorre com a ocorrência de conjunção carnal ou prática de qualquer
ato libidinoso. Aplicam-se as causas de aumento de pena previstas nos artigos 216 e 234 do
Código Penal.
3.2. Corrupção de menores (CP, art. 218)
O delito previsto no art. 218 do Código Penal consiste em “induzir alguém menor de 14
(catorze) anos a satisfazer a lascívia de outrem”, sendo apenado com reclusão, de dois a cinco
anos (BRASIL, 1940).
A conduta típica pode ser explicada como a ação daquele que incute ou convence a vítima a
satisfazer a lascívia de outrem, o que denota comportamento sexual que não imponha à
vítima a conjunção carnal ou outro ato libidinoso, pois, senão, se estaria diante do delito de
estupro de vulnerável.
Além disso, é necessário que a atuação da vítima seja destinada a satisfazer desejo de
outrem, pessoa ou grupo de pessoas determinadas, pois “se o agente induz a vítima a
satisfazer a lascívia de um número indeterminado de pessoas, o crime passará a ser o de
favorecimento da prostituição” (SANCHES, 2016 apud GRECO, 2017).
Os sujeitos ativo e passivo do delito não exigem nenhuma qualificação especial, sendo
suficiente apenas que a vítima seja menor de 14 anos. Quanto ao momento consumativo,
existe divergência na doutrina, Greco aponta que (2017):
Embora o núcleo induzir nos dê a impressão de que a consumação ocorreria no momento em que a
vítima, menor de 14 (catorze) anos, fosse convencida pelo agente a satisfazer a lascívia de outrem,
somos partidários da corrente que entende seja necessária a realização, por parte da vítima, de pelo
menos algum ato tendente à satisfação da lascívia de outrem, cuidando-se, pois, de delito de natureza
material. Em sentido contrário, Paulo Busato preleciona que: “A consumação do crime se dá com a
produção do resultado de indução, que é o convencimento do menor a realizar o ato que deverá
conduzir à satisfação para a lascívia de terceiro.

A tentativa é admitida, haja vista a possibilidade de fracionamento do iter criminis. 


A tentativa é admitida, haja vista a possibilidade de
fracionamento do iter criminis. 
O art. 218-B do Código Penal tipifica a conduta de submeter, induzir ou atrair à prostituição
ou outra forma de exploração sexual alguém menor de 18 (dezoito) anos ou que, por
enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário discernimento para a prática do
ato, facilitá-la, impedir ou dificultar que a abandone”, sendo tal conduta apenada com
reclusão, de 04 (quatro) a 10 (dez) anos. Ademais, se o crime é praticado com o fim de obter
vantagem econômica, aplica-se também multa (BRASIL, 1940, art. 218-B, §1º).
Segundo Greco (2017), a exploração sexual da vítima pode ocorrer em quatro frentes:
prostituição, turismo sexual, pornografia e tráfico para fins sexuais. Dessa forma, o delito se
configura quando o agente submeter (obrigar), induzir (incutir a ideia) ou atrair (estimular) a
prática dessas ações, ainda que dessa conduta não resulte lucro. Nesse sentido, merece
destaque o comentário do autor quanto à prática de prostituição:
As instituições (governamentais, não governamentais, internacionais), profissionais, pesquisadores e
estudiosos da exploração sexual vêm questionando o termo prostituição de crianças e adolescentes,
por considerarem que estes não optam por este tipo de atividade, mas que a ela são levados pelas
condições e trajetórias de vida, induzidos por adultos, por suas carências e imaturidade emocional,
bem como pelos apelos da sociedade de consumo. Neste sentido, não são trabalhadores do sexo,
mas prostituídos, abusados e explorados sexualmente, economicamente e emocionalmente.        

Também é típica a conduta daquele que favorece a prática de exploração sexual de menores
(lenocínio assistido), ou de quem dificulta a interrupção da exploração, no sentido de impedir
que a vítima saia da situação, ou criar-lhe embaraços (GRECO, 2017).
O sujeito passivo do delito é a criança (até 12 anos) o adolescente (de 12-18 anos) ou o
vulnerável (menor de 14 anos ou aquele que tem a capacidade de discernimento reduzida
em razão de doença mental e não pode dar consentimento ou oferecer resistência). Já o
sujeito ativo poderá ser qualquer pessoa.
O delito admite a modalidade tentada, se consumando, no entender de Rogério Greco (2017)
quando:
Dá-se início ao comércio carnal, ou seja, às atividades próprias características da prostituição, com a
colocação de seu corpo à venda, mesmo que não tenha, ainda, praticado qualquer ato sexual com
algum ‘cliente’; ou, ainda, (...) quando a vítima é, efetivamente, explorada sexualmente, mesmo sem
praticar o comércio carnal. (...) No que diz respeito à facilitação, entende-se por consumado o delito
com a prática, pelo agente, do comportamento que, de alguma forma, facilitou, concorreu para que a
vítima praticasse a prostituição ou fosse, de qualquer outra forma, explorada sexualmente. Consuma-
se também a figura típica mediante impedimento ao abandono da prostituição, quando a vítima, já
decidida a deixar o meretrício, de alguma forma é impedida pelo agente, permanecendo no comércio
carnal. Da mesma forma aquela que quer se livrar da exploração sexual a que vem sendo submetida
e é impedida pelo agente. O delito também restará consumado quando ficar provado que o agente,
de alguma forma, dificultou, criando problemas para que a vítima abandonasse a prostituição ou a
exploração sexual a que estava sujeita.

O parágrafo segundo do mesmo dispositivo, ainda prevê que, incorrerá nas mesmas penas
quem pratica conjunção carnal ou outro ato libidinoso com alguém menor de 18 e maior de
14 anos na situação descrita no caput deste artigo. Nesse caso, o agente deverá ter
conhecimento sobre a idade da vítima, ou o proprietário, o gerente ou o responsável pelo
local em que se verifiquem as práticas.
No último caso, o proprietário deve conhecer o fato de que o imóvel e destinado à
prostituição de menores e vulneráveis, sendo que, ocorrendo essa conduta será efeito
obrigatório da condenação a cassação da licença de localização e funcionamento do
estabelecimento (BRASIL, 1940, art. 218-B, §3º).
Ademais, segundo entendimento assente da jurisprudência pátria, “o crime de favorecimento
a prostituição ou outra forma de exploração sexual de vulnerável deve ser absorvido pelo
crime de estupro de vulnerável” (GRECO, 2017).

4. Lenocínio e do tráfico de pessoa para fim


de prostituição ou outra forma de exploração
sexual 
O capítulo V, do título VI do Código Penal compreende os delitos de lenocínio e do tráfico de
pessoa para o fim de prostituição ou exploração sexual. Segundo Masson (2016), o lenocínio
pode ser definido como:
O lenocínio consiste em prestar assistência à libidinagem de outrem ou dela tirar proveito. Difere-se
dos demais crimes sexuais porque opera em torno da lascívia alheia. Esta é a nota comum entre os
delitos definidos neste capítulo: os proxenetas (ou alcoviteiros), os rufiões e os traficantes de pessoas
para fim de exploração sexual atuam em favor da libidinagem de outrem, ora como mediadores,
fomentadores ou auxiliares, ora como aproveitadores. O lenocínio pode ser principal (mediação para
satisfazer a lascívia de outrem- art. 227 do CP) ou acessório (conceito que engloba os demais crimes
previstos neste capítulo). Embora não se reclame no lenocínio o ânimo lucrativo, a prática demonstra
ser isto o que normalmente acontece, ensejando o chamado lenocínio mercenário ou questuário.

4.1 Favorecimento da prostituição ou outra forma de


exploração sexual (CP, art. 228)
A prostituição é conceituada por Enrique Orts Berenguer, citado por Greco (2017) como:
A satisfação sexual que uma pessoa dá a outra em troca de um preço. Dois são, pois, os ingredientes
desta atividade: uma prestação de natureza sexual, entendida esta em um sentido amplo,
compreensivo de qualquer variante que possa ser solicitada, não somente das mais convencionais; e
a percepção de um preço, de uns honorários em contraprestação ao serviço prestado.

A prática da prostituição é um indiferente penal no Brasil, pois tal conduta não é tipificada
como crime. Dessa forma, o país filia-se a corrente abolicionista, em que o ato de se
prostituir não é considerado crime, mas as pessoas que contribuem para esse exercício têm
suas condutas tipificadas no Código Penal.
Explica Rogério Greco (2017) que atualmente há três sistemas de repressão à prostituição,
sendo um deles o da regulamentação, outro o da proibição, e por fim o abolicionista. O autor
explica que:
Dissertando sobre o tema, com precisão, esclarece Luiz Regis Prado: “O sistema da regulamentação
tem por escopo objetivos higiênicos, a fim de prevenir a disseminação de doenças venéreas e
também a ordem e a moral públicas. Por este sistema a prostituição fica restrita a certas áreas da
cidade, geralmente distantes do centro, onde as mulheres sujeitam-se a um conjunto de obrigações,
como a de submeterem-se periodicamente a exames médicos. É criticável o sistema em epígrafe,
uma vez que, além de estigmatizar a prostituta, o seu fim higiênico é de resultado restrito, já que
controla apenas parte da atividade.” 101 Nesse sistema de regulamentação, as pessoas que se
prostituem trabalham, em geral, com carteira assinada, possuem plano de saúde, aposentadoria etc.,
tal como ocorre na Holanda. No sistema em que predomina a proibição, a exemplo dos países árabes
e Estados Unidos, a prostituição é considerada infração penal. No entanto, tem prevalecido o sistema
conhecido como abolicionista. Assim, deixa-se de responsabilizar criminalmente aquele que pratica a
prostituição; no entanto pune-se as pessoas que lhe são periféricas e que de alguma forma
contribuem para o seu exercício, como ocorre com os proxenetas, rufiões, cafetões etc.

Em razão da adoção do sistema abolicionista é que se tem no ordenamento jurídico a


conduta tipificada no art. 228 do Código de Penal, que incrimina o favorecimento da
prostituição ou outra forma de exploração sexual nos seguintes termos: “Induzir ou atrair
alguém à prostituição ou outra forma de exploração sexual, facilitá-la, impedir ou dificultar
que alguém a abandone: Pena - reclusão, de 02 (dois) a 05 (cinco) anos, e multa” (BRAISL,
1940).
Segundo Rogério Greco (2017), a conduta típica consiste em induzir (fazer incutir a ideia) ou
atrair (estimular a pessoa) alguém a se prostituir (intuito comercial) ou ser de outra forma
explorada sexualmente (refere-se ao “ramo de negócios no qual há a produção e a
comercialização da mercadoria – serviços e produtos sexuais”). Nessa modalidade, o delito se
consuma com o início das atividades próprias à prostituição ou exploração sexual, “mesmo
que não tenha, ainda, praticado qualquer ato sexual com algum ‘cliente’” (GRECO, 2017).
Greco (2017) ainda expõe que a prostituição independe de habitualidade e de contato físico
entre a vítima e o “cliente”:
O que o “comprador” deseja é a realização de seus prazeres sexuais, que lhe são oferecidos pela (o)
prostituta (o), haja ou não contato corporal. Assim, por exemplo, o que ocorre com disk- -sexo, em
que uma pessoa entra em contato com outra, via telefone, a fim de ver realizados seus sonhos e
desejos eróticos. Simula-se, até mesmo, uma situação de relação sexual. Nesse caso, segundo
entendemos, poderíamos considerar a atividade daquela (e) que presta serviços sexuais a alguém em
troca de preço como característica da prostituição.

O delito também se amolda à conduta do nomeado lenocínio assessório, que ocorre quando
o agente facilita essas formas de exploração sexual. Essa conduta diferencia-se das demais,
pois “na facilitação, o agente permite que a vítima, já entregue ao comércio carnal, nele se
mantenha com o seu auxílio, com as facilidades por ele proporcionadas” (GRECO, 2017). O
delito, nessa modalidade, consuma-se com a prática de qualquer ato de facilitação.
Por fim, subsiste a conduta típica de dificultar que a vítima abandone a prostituição ou outras
formas de exploração sexual, que consiste em “atrapalhar, criar embaraços, com a finalidade
de fazer com que a vítima sinta-se desestimulada a abandonar a prostituição ou outra forma
de exploração sexual” (GRECO, 2017). Nesta hipótese, o crime se consuma quando o agente
pratica qualquer ato que impeça ou crie embaraços para que a vítima deixe aquela profissão.
Trata-se de crime comum, não sendo exigível do sujeito ativo ou passivo qualquer
característica especial. A tentativa é admissível pela possibilidade de fracionamento da
execução delitiva (GRECO, 2017).
Em seus parágrafos, o artigo ainda traz hipóteses qualificadas do delito. Em princípio, o
parágrafo primeiro dispõe que se o agente é ascendente, padrasto, madrasta, irmão,
enteado, cônjuge, companheiro, tutor ou curador, preceptor ou empregador da vítima, ou se
assumiu, por lei ou outra forma, obrigação de cuidado, proteção ou vigilância, a pena será de
reclusão, de três a oito anos.
Já o parágrafo segundo dita que se o crime, é cometido com emprego de violência, grave
ameaça ou fraude, a pena será de reclusão, de quatro a dez anos, além da pena
correspondente à violência.
 Por fim, o parágrafo terceiro leciona que se o crime é cometido com o fim de lucro, aplica-se
também multa.
4.2 Casa de prostituição (CP, art. 229)
O delito descrito no art. 229 do Código Penal descreve a conduta de “manter, por conta
própria ou de terceiros, estabelecimento em que ocorra exploração sexual, haja, ou não,
intuito de lucro ou mediação direta do proprietário ou gerente”, sendo referida conduta
apenada com reclusão, de dois a cinco anos, e multa. Segundo Rogério Greco (2017), a
conduta de “manter” exige habitualidade, ou permanência. Nesse caso, o agente deve
possuir “a finalidade de que aquela situação se prolongue”.
O mesmo autor ainda leciona que o agente que faz a mediação direta, ou mesmo o
proprietário ou gerente do local também respondem pelo delito, entendendo que:
A manutenção pode ocorrer por conta própria ou de terceiros, querendo isso significar que o próprio
agente é quem pode arcar com as despesas de manutenção do local (estabelecimento em que ocorra
a exploração sexual), ou que terceira pessoa, mesmo sabendo da finalidade ilícita do lugar, contribua
para a sua manutenção, devendo, também, responder pelo delito, a título de coautoria. Se,
porventura, o terceiro desconhecer a finalidade ilícita do local para o qual contribui para a sua
manutenção, o fato, para ele, será atípico, por ausência de dolo. (GRECO, 2017)

Ainda é necessário que o estabelecimento se destine à exploração sexual. Essa finalidade,


por sua vez, não precisa ser exclusiva, podendo o estabelecimento também servir, por
exemplo, como moradia ou comércio. Deve-se registrar que, quanto a hotéis e motéis, a
conduta somente se amoldará ao tipo penal se “ficar demonstrado que o estabelecimento
hoteleiro destinava-se à exploração sexual, o que não é incomum em determinadas regiões
do país” (GRECO, 2017).
Por outro lado, é necessário que o agente dirija sua ação à prática reiterada da exploração
sexual naquele local, ou seja, “o elemento subjetivo deve abranger o caráter duradouro do
comportamento, não se destinando, por exemplo, a uma única ocasião” (GRECO, 2017).
A consumação do delito ocorre com a prática de qualquer ato que indique a abertura de
estabelecimento com o fim de exploração sexual, por exemplo, a “abertura de um bordel, a
nosso ver, já configuraria a consumação do delito, independentemente, até mesmo, de que
algum casal já tenha ali se relacionado sexualmente” (GRECO, 2017). Porém, há quem
entenda que, por se tratar de delito habitual, a consumação depende da ocorrência reiterada
de condutas de exploração sexual no local (BITENCOURT, 2016 apud GRECO, 2017).
A admissibilidade da tentativa é também controversa. Greco (2017) entende pela sua
possibilidade, diante do fato de ser possível fracionar o iter criminis. Já a doutrina majoritária,
entende que a tentativa não é admissível em razão de se tratar de crime habitual.
O delito descrito neste artigo é merecedor de críticas por parte da doutrina. Entende-se que a
prostituição, por ser conduta atípica, tem que ocorrer em algum lugar. Dessa forma, não faria
sentido a punição de quem mantenha o estabelecimento destinado à sua prática, haja vista
que, como o artigo não exige o aferimento de lucro, sequer pode-se dizer que o agente
explore a vítima. Nesse sentido, se posiciona Rogério Greco (2017):
Acreditamos que o controle social informal, praticado pela própria sociedade, seria suficiente para
efeitos de conscientização dos males causados pela prática de determinados comportamentos que
envolvem a prostituição, não havendo necessidade de sua repressão por parte do Direito Penal, que
deve ser entendido como extrema ou ultima ratio.

4.3 Rufianismo (CP, art. 230)


O delito previsto no art. 230 do Código Penal descreve a conduta de “tirar proveito da
prostituição alheia, participando diretamente de seus lucros ou fazendo-se sustentar, no
todo ou em parte, por quem a exerça”, sendo cominada pena de reclusão, de um a quatro
anos, e multa.
Segundo Rogério Greco (2017), o núcleo do tipo penal consiste em tirar proveito da
prostituição alheia, sendo que essa conduta pode ocorrer de forma ativa, hipótese em que
“participa diretamente dos lucros auferidos com a prostituição alheia”, ou passiva, quando
“se faz sustentar por quem a exerce”.
Dessa forma, o agente deve tirar proveito econômico daquilo que é obtido mediante a
prática da prostituição, não exigindo, entretanto, que essa seja a única fonte de renda do
agente.
O mesmo autor ainda informa que “para efeitos de configuração da mencionada figura típica,
haverá necessidade de constatação do requisito habitualidade, sem o qual o fato se
transforma em um indiferente penal” (GRECO, 2017). O sujeito ativo do delito é qualquer
pessoa, já o sujeito passivo é a coletividade.
O parágrafo primeiro do mesmo dispositivo traz a figura qualificada do delito, entendendo
que “se a vítima é menor de 18 (dezoito) e maior de 14 (catorze) anos ou se o crime é
cometido por ascendente, padrasto, madrasta, irmão, enteado, cônjuge, companheiro, tutor
ou curador, preceptor ou empregador da vítima, ou por quem assumiu, por lei ou outra
forma, obrigação de cuidado, proteção ou vigilância” a pena será de reclusão de 03 (três) a 06
(seis) anos, e multa (BRASIL, 1940).
Mais uma vez, é necessário ressaltar que a figura qualificada pela idade da vítima somente
incidirá se restar comprovado que o agente tinha conhecimento da menoridade daquela.
Por outro lado, o crime também será qualificado se for cometido mediante violência, grave
ameaça, fraude ou outro meio que impeça ou dificulte a livre manifestação da vontade da
vítima, sendo apenado com reclusão, de dois a oito anos, sem prejuízo da pena
correspondente à violência.

Segundo o Superior Tribunal de Justiça quando as práticas de rufianismo e de favorecimento


à prostituição ocorrerem em um mesmo contexto, contra a mesma vítima, “o favorecimento
à prostituição, este delito foi absorvido pelo de rufianismo, pela preponderância do indevido
proveito, consubstanciado na participação nos lucros” (STJ, HC 8.914/MG, Rel. Min. Fernando
Gonçalves, 6ª T., RSTJ, v. 134, p. 525).

4.4 Promoção de migração ilegal (CP, art. 232-A)


O delito de promoção de migração ilegal, previsto no art. 232-A, foi inserido no Código Penal
com a Lei n. 13.445/17 e consiste em “promover, por qualquer meio, com o fim de obter
vantagem econômica, a entrada ilegal de estrangeiro em território nacional ou de brasileiro
em país estrangeiro”, sendo cominada pela de reclusão, de dois a cinco anos, e multa
(GRECO, 2017).  
A doutrina criticou a inserção do mencionado delito entre os crimes sexuais, pois “o crime de
promoção de migração ilegal não tem conotação sexual e não se confunde, de forma alguma,
com o tráfico de pessoas para exploração sexual, que antes da Lei n. 13.344/16 fazia parte do
mesmo Capítulo” (CUNHA, 2017).
Segundo Cunha, o bem jurídico tutelado pelo mencionado delito é a soberania nacional, da
qual deriva toda a disciplina para entrada e saída de pessoas do território brasileiro,
explicando que:
É com base no poder pleno de autodeterminação, ou seja, não condicionado a nenhum outro poder
de origem externa ou interna, que o Estado estabelece as regras para o trânsito de pessoas no
território nacional. Ignorar essas regras atenta, portanto, contra o poder de autodeterminação. São
também objetos jurídicos deste crime, ainda que mediatos, a segurança nacional e a manutenção da
ordem interna, pois a entrada ilegal de estrangeiros em território brasileiro impede que os órgãos de
imigração tomem conhecimento de quem está penetrando no país e a que título (o art. 12 da Lei n.
13.445/17 estabelece cinco espécies de vistos, que por sua vez são divididos em subespécies, cada
uma concedida de acordo com a finalidade para o ingresso e a permanência do estrangeiro no
Brasil).Por fim, como a figura criminosa pune também a promoção de entrada ilegal de brasileiro em
território estrangeiro e a saída ilegal de estrangeiro para outro país, é possível dizer que se tutela a
manutenção da regular relação entre o Brasil e outros países.

A conduta típica consiste em facilitar a entrada de pessoa estrangeira em território nacional


ou de brasileiro em país estrangeiro. Dessa forma, pune-se a conduta de quem qualquer
forma auxilia nesses trâmites como, por exemplo, quem “agencia a vinda do estrangeiro,
quem o transporta para o território nacional, quem o recebe no momento do ingresso ou
quem de qualquer forma pratica algum ato com o propósito de tornar possível a entrada do
estrangeiro sem a observância das disposições legais” (CUNHA, 2017).
O delito possui forma livre e, portanto, “a entrada ilegal pode ocorrer tanto por meio de
desvio dos postos de imigração [...] quanto mediante utilização de meios fraudulentos
perante o controle de imigração (ex.: documentos falsos)” (CUNHA, 2017).
Cunha (2017) ainda explica que, embora o território de um país compreenda tanto o espaço
físico (espaço terrestre, marítimo ou aéreo sujeito à soberania do Estado), quanto o espaço
jurídico (espaço físico por ficção, por equiparação, por extensão ou território flutuante como,
por exemplo, embarcações nacionais a serviço do governo onde quer que se encontrem),
para fins de compreensão do mencionado artigo deve ser considerado apenas o território
físico, pois “somente nesse momento que os órgãos de fiscalização de fronteiras podem
exercer o controle da entrada de pessoas no território”.
Para configuração da conduta, ainda se exige que o agente atue com o dolo específico de
obter vantagem econômica. O crime se consuma com a efetiva entrada no território nacional
ou estrangeiro da pessoa auxiliada pelo agente.
PARÁGRAFO PRIMEIRO: Prevê que “na mesma pena incorre quem promover, por qualquer meio, com
o fim de obter vantagem econômica, a saída de estrangeiro do território nacional para ingressar
ilegalmente em país estrangeiro”. Nessa modalidade, o delito se consuma com a efetiva saída da
pessoa do território nacional. Em ambas as modalidades delitivas são admissíveis a tentativa. Além
disso, o sujeito ativo do delito é qualquer pessoa, não exigindo qualificação especial, já o sujeito
passivo é o Estado (CUNHA, 2017).
PARÁGRAFO SEGUNDO: Traz causa especial de aumento de pena, consistente em exasperação de 1/6
(um sexto) a 1/3 (um terço) quando o crime é cometido com violência; ou a vítima é submetida à
condição desumana ou degradante (CUNHA, 2017).
PARÁGRAFO TERCEIRO: Aduz que a pena prevista para o crime será aplicada sem prejuízo das
correspondentes às infrações conexas, o que afasta a possibilidade de aplicabilidade do princípio da
consunção (CUNHA, 2017). 

5. Do ultraje público ao pudor


O capítulo VI do Código Penal prevê os crimes de ultraje ao pudor público.  Esses crimes
possuem como bem jurídico tutelado o pudor público, assim entendido como (SILVEIRA,
1977): 
A palavra em si expressa um sentimento de vergonha, de mal estar, gerado pelo que pode ferir a
decência, a honestidade ou a modéstia. Sua origem é latina de «pudor-oris», significando vergonha,
pejo, enleio. Porém, há autores que lhe dão origem diferente, como é o caso de NELSON HUNGRIA,
que afirma derivar da palavra latina «putere», significando mal cheiro, podridão. (...) O pudor seria,
portanto, no aspecto sexual, o limite de ação permitido pela sociedade de uma região, para a
conquista amorosa. Este limite surgiria naturalmente, como conseqüência dos costumes, usos,
religiões etc.

Dessa forma, são previstos nesse capítulo os delitos de ato obsceno ou de escrito ou objeto
obsceno que estudaremos adiante.        
5.1 Ato obsceno (CP, art. 233)
O delito de ato obsceno é previsto no art. 233 do Código Penal e possui como conduta típica
o ato de “praticar ato obsceno em lugar público, ou aberto ou exposto ao público”, apenado
com detenção, de três meses a um ano, ou multa.
O núcleo do tipo penal consiste na prática de ato reputado obsceno. Trata-se de conceito que
deve ser preenchido mediante interpretação do juízo. Para tanto ele deve julgar quais atos a
sociedade entende ser não adequado. Além disso,  
O princípio da adequação social, por mais que tenha conotação subjetiva, poderá nos auxiliar no
sentido de investigar o sentimento da maioria da sociedade, a fim de descobrir se aquele
determinado comportamento poderá ser considerado adequado, levando-se em consideração o
lugar, a época, a cultura do povo, enfim, dados que serão indispensáveis ao reconhecimento da
conduta como obscena. (GRECO, 2017)

Para que se configure a conduta típica o ato ainda deve ser localizado em local público ou
aberto ou exposto ao público. Greco (2017) diferencia os três ambientes definindo que: 
 Local público
É aquele em que o público tem acesso irrestrito como, por exemplo, ruas avenidas,
praças e parques públicos.
 Local aberto ao público
É aquele que “embora com alguma restrição, o acesso ao público é permitido, como
acontece com os cinemas, teatros, museus, igrejas”.
 Local exposto ao público
É aquele lugar em que “embora podendo ser considerado privado, é devassado a
ponto de permitir que as pessoas presenciem o que nele se passa, como acontece, por
exemplo, com as varandas dos apartamentos”.
O delito é classificado como comum, não exigindo do sujeito ativo ou passivo (que pode ser
pessoa ou grupo específico de pessoas como a própria coletividade) qualquer característica
especial.
A consumação delitiva ocorre com a prática do ato. Em que pese a possibilidade de tentativa
seja controversa na doutrina, Greco (2017) entende pela sua possibilidade, haja vista que
sempre que a conduta puder ser fracionada a tentativa será admissível.

A diferença entre o delito de ato obsceno e o delito de importunação sexual reside no grau
de importância do fato, além de no “delito de ato obsceno, o Código Penal exige a prática de
um ato, ou seja, de um comportamento, de uma expressão corporal entendida como
obscena”, enquanto na importunação meras palavras ou gestos podem tipificar o delito
(GRECO, 2017).

Sobre o concurso de crimes, Cleber Masson dispõe que:


Se, no mesmo contexto fático, o sujeito realiza diversos atos obscenos, estará configurado um único
crime. Se as condutas forem cometidas em locais e em momentos distintos, a ele deverão ser
imputados vários crimes, em concurso material ou em continuidade delitiva, se presentes os demais
requisitos exigidos pelo art. 71, caput, do CP. Também é possível o concurso com algum outro delito.
(MASSON, 2016)

5.2 Escrito ou objeto obsceno (CP, art. 234)


O delito descrito no art. 234 tem como conduta típica “fazer, importar, exportar, adquirir ou
ter sob sua guarda, para fim de comércio, de distribuição ou de exposição pública, escrito,
desenho, pintura, estampa ou qualquer objeto obsceno” sendo cominada pena de detenção,
de seis meses a dois anos, ou multa.
Hungria descreve os verbos das condutas delitivas insertas nesse tipo penal como:
“Fazer é produzir, fabricar, elaborar, dar forma a alguma coisa. Importar é introduzir em qualquer
ponto do território nacional. Exportar, ao contrário, é fazer sair do nosso para outro país. Adquirir é
obter alguma coisa ut dominus, seja a que título for (pouco importando que a res não incida
imediatamente na efetiva posse do agente). Ter sob sua guarda é deter ou possuir, ter a res, própria
ou alheia, em depósito ou à imediata disposição. Vender é transferir, dispor ou entregar, mediante
um preço. Distribuir é entregar a outrem, com ânimo definitivo ou não, a título gratuito ou oneroso
(exemplo: locação lucrativa), franca ou clandestinamente, de modo direto ou mediante despacho, ou
por via postal. Expor à venda é colocar a res à vista de possíveis compradores. Expor ao público é
exibir ou mostrar em lugar público ou em que, embora somente para fim de conhecimento da
exposição, se permita o acesso a tout venant”. (HUNGRIA, 2016 apud GRECO, 2017)

O parágrafo único do mesmo tipo penal prevê ainda outras condutas consideradas obscenas.
No inciso I descreve a conduta de quem “vende, distribui ou expõe à venda ou ao público
qualquer dos objetos referidos neste artigo”, no inciso II de quem “realiza, em lugar público
ou acessível ao público, representação teatral, ou exibição cinematográfica de caráter
obsceno, ou qualquer outro espetáculo, que tenha o mesmo caráter” e no inciso III quem
“realiza, em lugar público ou acessível ao público, ou pelo rádio, audição ou recitação de
caráter obsceno”.
Sobre as condutas equiparadas, Masson (2016) descreve que: 
O inciso I diz respeito à comercialização do escrito ou objeto obsceno. No inciso II, a lei se volta à
representação teatral, à exibição cinematográfica ou qualquer outro espetáculo de caráter obsceno.
Representação teatral é a interpretação para o público, mediante cenas, de história fictícia ou
verídica. Exibição cinematográfica é a mostra de película produzida para o cinema. O legislador se
vale da interpretação analógica (ou intra legem), ao utilizar a expressão "qualquer outro espetáculo",
referindo-se a eventos similares, mas diversos da representação teatral e da exibição
cinematográfica. Todos devem possuir caráter obsceno, ou seja, atentatórios à moralidade pública na
esfera sexual. O inciso III tem como foco a audição (atividade de fazer ouvir) ou recitação (a leitura de
um texto em alto e claro som) de caráter obsceno.

Dessa forma, o delito se consuma com a prática de qualquer um desses comportamentos


que exponha objeto obsceno a público, e a tentativa é admissível. Qualquer pessoa poderá
ser sujeito ativo do delito, que admite como sujeito passivo a coletividade.

É ISSO AÍ!
Nesta unidade, você teve a oportunidade de:
 entender sobre as noções gerais aplicáveis aos crimes contra o sentimento
religioso e contra o respeito aos mortos;
 estudar os delitos contra a dignidade sexual, notadamente os delitos que atentam
contra a liberdade sexual;
 aprimorar seus conhecimentos sobre os delitos sexuais praticados contra
incapazes e vulneráveis;
 conhecer os delitos de lenocínio e do tráfico de pessoas, para fim de prostituição
ou outra forma de exploração sexual; 
 dominar as condutas que caracterizam os delitos de ultraje público ao pudor.

REFERÊNCIAS
BRASIL. Decreto-Lei n. 2.848, de 7 de dezembro de 1940. Código Penal. Brasília, DF:
Presidência da República, 1940. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-
lei/del2848compilado.htm. Acesso em: 24 fev. 2020.
______. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: 1988. Disponível
em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 24 fev.
2020.
______. Conselho Nacional de Justiça. O que é o crime de importunação sexual? CNJ Serviço,
Brasília, [s.d.]. Disponível em: https://www.cnj.jus.br/cnj-servico-o-que-e-o-crime-de-
importunacao-sexual/.  Acesso em: 25 fev. 2020. 
CUNHA, R. S. Crime de promoção de migração ilegal (Lei n. 13.445/17): Breves
considerações. Meu Site Jurídico - Editora Juspodivm, 26 mai. 2017. Disponível
em: https://meusitejuridico.editorajuspodivm.com.br/2017/05/26/crime-de-promocao-de-
migracao-ilegal-lei-no-13-44517-breves-consideracoes/. Acesso em: 18 fev. 2020.
GRECO, R. Código Penal: comentado. 11. ed. Niterói, RJ: Impetus, 2017.
LOPES JUNIOR, A.; ROSA, A. M. da. O que significa importunação sexual segundo a Lei
13.781/18? Consultor Jurídico, 28 set. 2018.  Disponível em: https://www.conjur.com.br/2018-
set-28/limite-penal-significa-importunacao-sexual-segundo-lei-1378118. Acesso em: 28 fev.
2020.
MASSON, C. Código Penal comentado. 4. ed. rev. atual. e ampl. Rio de Janeiro, RJ: Forense;
São Paulo: Método, 2016.  
NUCCI, G. de S. Código Penal Comentado. 11. ed. São Paulo, SP: Revista dos Tribunais, 2012.
SILVEIRA, A. Z. O Pudor perante as contravenções. 18. ed. Belo Horizonte, MG: Revista da
Faculdade de Direito da UFMG, 1977. 

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