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CRIMES EM ESPECIE

PROFESSOR: RICARDO AMAURY VASCONCELOS


ADVOGADO
DOS CRIMES CONTRA O SENTIMENTO RELIGIOSO
E CONTRA O RESPEITO AOS MORTOS

• Dos crimes contra o sentimento religioso, expresso no art.208, do código penal e que divide-se em três
modalidades de crimes, sendo a primeira o Ultraje ao culto por motivo de religião: Escárnio de alguém
publicamente por motivo de crença ou função religioso, a segunda modalidade o Impedimento ou perturbação
de cerimônia ou prática de culto religioso e a terceira o Vilipêndio público de ato ou objeto de culto religioso.
Já no segundo capítulo deste título, que aborda o respeito aos mortos, existe quatro possibilidades de crimes
uma delas é o Impedimento ou perturbação de cerimônia funerária, o qual está presente no art.209, do código
penal, já no art.210 deste capitulo, consta a Violação de Sepultura, no art.211, trata-se do crime de Destruição,
subtração ou ocultação de cadáver, e no art. 212, Vilipêndio a cadáver.  
• Ensina Fernando Capez que “A primeira modalidade do primeiro crime citado, o qual tem por objeto jurídico a
defesa da Liberdade individual de crenças e que segundo o doutrinador Fernando Capez, tutela-se a liberdade
individual do homem ter uma crença, bem como exercer o ministério religioso”.
Segundo Mirabete, em relação ao objeto jurídico, protege-se com o dispositivo em exame o sentimento
religioso. Interesse ético-social em si mesmo, bem como a liberdade de culto. Por tipo objetivo, tem o núcleo
em escarnecer com o significado de troçar, zombar em público, de pessoa determinada, devido à sua crença (fé
religiosa) ou sua posição (função) dentro de um culto, (padre, frade, freira, pastor, rabino etc.), presente ou
não o ofendido.
•  A liberdade de culto exterioriza-se com a prática do corpo doutrinário e de seus ritos, com
suas cerimônias, manifestações, hábitos, tradições, na forma que indicada para a religião
escolhida. (art. 5º, VI, CF).
Artigo 208 do CP

Art. 208 - Escarnecer de alguém publicamente, por motivo de crença ou função religiosa;
impedir ou perturbar cerimônia ou prática de culto religioso; vilipendiar publicamente ato
ou objeto de culto religioso:
Pena - detenção, de um mês a um ano, ou multa.
Parágrafo único - Se há emprego de violência, a pena é aumentada de um terço, sem
prejuízo da correspondente à violência.
Objeto jurídico: Tutela-se a liberdade individual do homem de ter uma crença, bem
como exercer o ministério religioso.
Ação nuclear: A ação nuclear típica da 1ª parte do art. 208 consubstancia-se no verbo escarnecer,
que significa zombar, ridicularizar, de forma a ofender alguém, em virtude de crença ou função
religiosa.
Sujeito ativo: Qualquer pessoa pode praticar o delito em tela, inclusive aquelas que creem em
determinada religião e os seus ministros.
Sujeito passive: É a pessoa que crê em determinada religião ou que exerce o ministério religioso
(padre, pastor, freira etc.). Deve necessariamente ser pessoa determinada.
Consumação e tentative: Consuma-se com o ato de escarnecer publicamente. A tentativa somente é
inadmissível na forma verbal do escárnio.
Artigo 208 do CP

• IMPEDIMENTO OU PERTURBAÇÃO DE CERIMÔNIA OU PRÁTICA DE CULTO RELIGIOSO: Tutela-se também aqui


a liberdade individual de professar uma crença religiosa e a liberdade de culto, as quais estão plenamente
asseguradas na Constituição Federal (art. 5º, VI). A liberdade de culto protegida é a permitida pelo Estado,
por não atentar contra a moral ou os bons costumes..
• Ação nuclear: As ações nucleares da 2ª parte do art. 208 consubstanciam-se nos verbos: (i) impedir –
consiste em não permitir o início ou prosseguimento da cerimônia ou prática de culto religioso, por exemplo,
pregar estacas de madeira na porta da igreja para que nenhum fiel entre; ou (ii) perturbar – consiste em
atrapalhar, perturbar, tumultuar a cerimônia ou culto religioso. Admite-se o dolo eventual.
• VILIPÊNDIO PÚBLICO DE ATO OU OBJETO DE CULTO RELIGIOSO: A ação nuclear típica da parte final do art.
208 consubstancia-se no verbo vilipendiar, isto é, tratar com desprezo, desdém, de modo ultrajante o ato ou
objeto de culto religioso.
• Objeto material O objeto material do crime é, portanto, o ato ou objeto de culto religioso. Ato religioso
compreende a cerimônia ou a prática de culto religioso. Comete, portanto, o crime aquele que, durante o
ato religioso, o vilipendia publicamente.
• Segundo E. Magalhães Noronha, a expressão usada pela lei abrange a que em si é objeto de culto (imagens), a
que a ele é consagrada (igreja, altares, cálice etc.) e a que obrigatoriamente serve a sua manifestação (livros
litúrgicos)
• Ressalva Hungria: “é preciso que tais objetos estejam consagrados ao culto: não serão especialmente
protegidos quando, por exemplo, ainda expostos à venda numa casa comercial”
• CAUSA DE AUMENTO DE PENA E CONCURSO DE CRIMES (ART. 208, PARÁGRAFO ÚNICO) - Dispõe o parágrafo
único do art. 208 do Código Penal: “Se há emprego de violência, a pena é aumentada de um terço, sem
prejuízo da correspondente à violência”. – Ação pública e incondicionada
Artigo 209 do CP

Art. 209 - Impedir ou perturbar enterro ou cerimônia funerária:


Pena - detenção, de um mês a um ano, ou multa.
Parágrafo único - Se há emprego de violência, a pena é aumentada de um terço, sem
prejuízo da correspondente à violência.
•OBJETO JURÍDICO: Protege-se o sentimento de respeito pelos mortos. Afirma Noronha: “É a
piedade que se tem para com eles, sentimento individual e coletivo que cerca os túmulos, cemitérios e
as coisas que servem ao seu culto”.
•Ação nuclear: As ações nucleares típicas são similares às previstas na 2ª parte do art. 208, caput,
quais sejam, impedir ou perturbar, no caso, enterro ou cerimônia fúnebre. Pode ser praticado por
qualquer meio executório.
•Segundo a doutrina, o enterro consiste na trasladação do corpo para o local onde será
sepultado ou cremado. A cerimônia fúnebre consubstancia-se em ato por meio do qual o
defunto é assistido ou homenageado, por exemplo, velório, embalsamento, honras fúnebres,
amortalhamento etc. Não deve ela ter caráter religioso, pois, do contrário, o crime será
enquadrado no art. 208 do Código Penal.
•Sujeito ativo: Qualquer pessoa pode praticar o delito em tela.
• Sujeito passivo: Cuida-se de crime vago, isto é, tem por sujeito passivo entidade sem
personalidade jurídica, como a coletividade, a família e os amigos do morto.
Artigo 209 & 210 do CP

•TENTATIVA: Se, apesar de terem sido empregados todos os meios idôneos, não se logra a concretização
desses resultados, estamos diante da forma tentada do crime em estudo.
•Majorada (art. 209, parágrafo único): Está prevista no parágrafo único. “Se há emprego de violência, a pena
é aumentada de um terço, sem prejuízo da correspondente à violência”. Trata-se aqui da violência física
contra a pessoa ou coisa. O mesmo parágrafo, portanto, prevê o concurso material de crimes. Vide
comentários ao art. 208, parágrafo único. – Ação penal pública e incondicionada.

•Art. 210 - Violar ou profanar sepultura ou urna funerária:


•Pena - reclusão, de um a três anos, e multa.
•Destruição, subtração ou ocultação de cadáver
•OBJETO JURÍDICO: É o mesmo do artigo antecedente: protege-se o sentimento de respeito pelos mortos.
•Ação nuclear: As ações nucleares do tipo estão consubstanciadas nos verbos: (i) violar – devassar, abrir,
descobrir, destruir, no caso, sepultura ou urna funerária. Com a violação, o cadáver ou as cinzas do defunto
devem ficar expostos, mas não há necessidade de que sejam removidos; ou (ii) profanar – tratar com
desprezo, ultrajar, macular, aviltar, por exemplo, jogar excrementos sobre a sepultura ou urna funerária,
destruir os ornamentos, escrever palavras injuriosas. O crime pode ser praticado por qualquer meio executivo.
art. 210

• A lei faz menção a sepultura ou urna funerária. Sepultura, segundo E. Magalhães Noronha,
“abrange o sepulcro, a tumba e o túmulo. É o lugar onde se acha inumado um cadáver humano ou
suas partes. Não é apenas a cova ou vala, mas compreende também o que se acha construído sobre
ela – os adornos fixados, a lápide, as inscrições etc., tudo, em conjunto, formando a última morada”
• É o dolo, consubstanciado na vontade livre e consciente de violar ou profanar sepultura ou urna
funerária. Exige-se o elemento subjetivo do tipo? A figura penal não exige o chamado elemento
subjetivo do tipo. É irrelevante indagar qual o propósito do agente.
CONCURSO DE CRIMES
(i)Violação e profanação (art. 210):
(ii) Violação de sepultura (art. 210) e crime de calúnia contra os mortos (art. 138, § 2º)
(iii) Violação de sepultura (art. 210) e subtração ou destruição de cadáver (art. 211)
(iv) Violação de sepultura (art. 210) e furto (art. 155)
Art. 210

• O art. 163 do Código de Processo Penal autoriza a exumação para exame cadavérico. Conforme já
estudado no capítulo relativo ao crime de homicídio, exumar significa desenterrar, no caso, o
cadáver. O exame cadavérico é realizado, como já visto, após a morte da vítima e antes de seu
enterramento. Contudo, pode acontecer que, uma vez sepultada a vítima, haja dúvida acerca da
causa de sua morte ou sobre a sua identidade: procede-se, então, à exumação. Nessa hipótese,
aquele que realizar a violação da sepultura em conformidade com a determinação judicial não
comete o crime em tela, pois age no estrito cumprimento de um dever legal. O Diploma
Processual não faz qualquer menção a autorização judicial para se proceder à exumação, contudo,
sem aquela, esta pode implicar a configuração dos delitos previstos nos arts. 210 e 212 do Código
Penal (violação de sepultura e vilipêndio a cadáver). Da mesma forma, na lição de Hungria, não
comete o crime em tela, por agir no exercício regular do direito, aquele que procede a mudança do
cadáver ou de seus restos mortais para outra sep. ultura, mediante as formalidades legais.
• AÇÃO PENAL PÚBLICA E INCONDICIONADA
• Atenção: o ato de inumar ou exumar cadáver, com infração das disposições legais,
caracteriza contravenção penal (LCP, art. 67)
Art. 211
• Art. 211 - Destruir, subtrair ou ocultar cadáver ou parte dele:
• Pena - reclusão, de um a três anos, e multa.

• Ação nuclear: Trata-se de crime de ação múltipla ou conteúdo variado, de forma que a prática de
qualquer uma das ações previstas na figura típica configura o delito em estudo. As ações nucleares
típicas consubstanciam-se nos seguintes verbos: (i) destruir – tornar a coisa insubsistente, ou seja,
atentar contra a existência da coisa, por exemplo, queimar ou esmagar o cadáver ou parte dele; não é
necessária a destruição total; (ii) subtrair – significa tirar o cadáver ou parte dele da esfera de
proteção ou guarda da família, amigos, vigias do cemitério; ou (iii) ocultar – significa esconder, mas
sem que isso implique destruição do cadáver ou parte dele. Há apenas o desaparecimento do objeto do
crime, por exemplo, após o atropelamento, o agente esconde a vítima no interior de uma mata ou a
joga em um rio ou a esconde em sua residência. A ocultação somente pode ocorrer antes do
sepultamento.
• Objeto material: É o cadáver ou parte dele. Cadáver é o corpo privado da vida, mas que
ainda conserva a forma humana. Assim, não se considera cadáver o esqueleto humano ou as
suas cinzas; quanto a estas, constituem objeto material do crime previsto no art. 212..
Admite-se a TENTATIVA.
Art. 211
• REMOÇÃO DE ÓRGÃOS, TECIDOS E PARTES DO CORPO HUMANO PARA FINS
DE TRANSPLANTE E TRATAMENTO (LEI N. 9.434/97)
• Estabelece a Lei n. 9.434/97 em seu art. 1º: “A disposição gratuita de
tecidos, órgãos e partes do corpo humano, em vida ou post mortem, para
fins de transplante e tratamento, é permitida na forma desta Lei”. Os arts.
14 a 20 do mencionado diploma legal preveem condutas criminosas relacionadas à
disposição de órgãos e partes do corpo humano em desacordo com seus preceitos.
Por ser uma norma específica, ela será aplicada se preenchidas todas as elementares
típicas.
• CONCURSO DE CRIMES: Haverá concurso material de crimes se o agente
matar a vítima e depois destruir ou ocultar o seu cadáver (CP, arts. 121 e
211). Se o agente para destruir ou subtrair o cadáver tiver de violar a sua
sepultura (CP, art. 210), haverá crime único. – Ação pública e
incondicionada.
ART. 212

Art. 212 - Vilipendiar cadáver ou suas cinzas:


Pena - detenção, de um a três anos, e multa.

Ação nuclear: Consubstancia-se no verbo vilipendiar, isto é, ultrajar, tratar com desprezo, no caso, o
cadáver ou suas cinzas. Difere, portanto, do crime previsto no art. 208, pois neste o vilipêndio atinge ato
ou objeto de culto religioso. O vilipêndio pode ser praticado de diversos modos, por exemplo, atirar
excrementos no cadáver, proferir palavrões contra ele, praticar atos sexuais com ele. Deve, portanto, a
ação criminosa se dar sobre ou junto ao cadáver ou suas cinzas

A notícia de destaque hoje no portal R7 é essa do título: (em 20/6/2015 às 00h10 atualizado em
20/6/2015 às 10h16)
A Polícia Civil do Paraná registrou ao menos quatro casos suspeitos de necrofilia neste ano. A prática acontece,
geralmente, em cemitérios, onde os túmulos são violados para que os suspeitos pratiquem sexo com o cadáver.
O número de crimes desse tipo pode ser maior, porque nem sempre a família do morto regista um BO (Boletim
de Ocorrência).
Um dos casos de necrofilia aconteceu no cemitério de Paranavaí, em maio deste ano, onde o corpo de uma
professora foi encontrado fora do caixão com sinais de abuso sexual. A professora, que morreu de
câncer, havia sido sepultada menos de 24 horas antes do crime. – AÇÕ CIVIL PUBLICA E
INCONDICIONADA

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