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CRIMES CONTRA A HONRA

1 – INTRODUÇÃO

Os povos primitivos sempre conferiram especial ênfase à proteção da


honra. O código de Manu previa severas punicões para as imputações
difamatórias e para as expressões injuriosas. Desde as mais remotas épocas, a
honra era havida como um direito público dos cidadãos, de modo que todos os
fatos ofensivos a esse direito inseriam-se na noção ampla de injúria. Esta, por sua
vez, compreendia qualquer lesão voluntária e ilegítima à personalidade, em seus
três aspectos: corpo, condição jurídica e honra.

O Direito dos povos germânicos traçou de forma ainda incipiente a distinção


entre as lesões à honra e à integridade corporal. Não obstante, apenas
recentemente os crimes contra a honra adquiriram autonomia, em razão do bem
jurídico tutelado. Coube ao Código Penal francês (arts. 367 a 377) a diferenciação,
feita pela primeira vez, entre calúnia e injúria, significando aquela a imputação de
fato delituoso ou difamatório falso ou não comprovado verdadeiro, e esta a
expressão de caráter ultrajante. Ao depois, a Lei de Imprensa de 17 de maio de
1819 substituiu o termo calúnia por difamação e eliminou o requisito da falsidade
do fato imputado. A nota diferencial entre difamação e injúria passou a residir,
então, na determinação do fato atribuído. Enquanto a difamação consistia na
imputação de fato determinado lesivo à honra, a injúria era toda expressão
ultrajante ou de desprezo dirigida a outrem. Essa distinção – mantida pela lei de
29 de julho de 1881 – foi acolhida, com poucas modificações, pela maioria das
legislações penais subseqüentes.

Na Alemanha, o Código Penal de 1870 denominava os crimes contra a


honra, genericamente, como “injúria”, subdividida em injúria simples, difamação e
calúnia. A diferença entre calúnia e difamação era tão-somente probatória, isto é,
se naquela o fato desonroso imputado era objetiva e subjetivamente falso, nesta
(difamação) o fato atribuído não era comprovado verdadeiro (embora pudesse sê-
lo).

No Brasil, o código Criminal do Império (1830), inspirado pelo modelo


francês de 1810, tipificava a calúnia e a injúria (arts. 229 e 236, respectivamente).
De semelhante, o Código Penal de 1890 ocupava-se também da calúnia e da
injúria, distinguindo-as em seu Título XI (Dos crimes contra a honra e a boa fama).
A lei de Imprensa de 1934 manteve essa sistemática, suprimindo apenas, na
caracterização da injúria, o “gesto ou sinal insultante na opinião pública”.

O Código Penal atual (1940) disciplina os crimes contra a honra em seu


Capítulo V, distinguindo a calúnia (art. 138), a difamação (art. 139) e a injúria (art.
140). A calúnia – entendida como a falsa imputação de fato definido como crime –
não foi equipara à denunciação caluniosa (art. 339) – como fez, aliás, o Código
Penal Italiano – corretamente inserida entre os crimes contra a administração da
justiça (Título XI, Capítulo III).
No Capítulo V do Código Penal estão definidos os crimes que atentam
contra a honra, ou seja, os que atingem a integridade ou incolumidade moral da
pessoa humana. A honra pode ser conceituada como o conjunto de atributos
morais, intelectuais e físicos referentes a uma pessoa ou, como o "complexo ou
conjunto de predicados ou condições da pessoa que lhe conferem consideração
social e estima própria". Nos termos do art. l1 da Convenção Americana sobre
Direitos Humanos (Pacto de São José da Costa Rica), promulgada pelo Decreto
nº 678, de 6-11-92, "toda pessoa tem direito ao respeito de sua honra e ao
reconhecimento de sua dignidade".

Como a honra é um valor da própria pessoa, é difícil reduzi-la a um conceito


unitário, o que leva os estudiosos a encará-la a partir de vários aspectos.

Tem-se distinguido a honra dignidade, que representa o sentimento da


pessoa a respeito de seus atributos morais, de honestidade e bons costumes, da
honra decoro, que se refere ao sentimento pessoal relacionado aos dotes ou
qualidades do homem (físicos, intelectuais e sociais), qualidades indispensáveis à
vida condigna no seio da comunidade. Atinge-se a honra dignidade quando se
afirma que alguém é estelionatário ou que praticou determinado furto; macula-se a
honra decoro quando se diz que a vitima é um aleijão, ignorante, sovina etc.

Distinguem os autores a honra subjetiva, que se traduz no apreço próprio,


na estima a si mesmo, o juízo que cada um faz de si, que pensa de si, em suma, o
auto-respeito, da honra objetiva, que é a consideração para com o sujeito no meio
social, o juízo que fazem dele na comunidade. Em sentido contrário à distinção
pronuncia-se Fragoso, afirmando que a honra é a pretensão "ao respeito da
própria personalidade" e que os delitos a serem estudados atingem essa
pretensão, "interpenetrando-se os aspectos sentimentais e ético-sociais da
dignidade humana". Embora se admita essa simbiose, a distinção esquemática
pode ser útil à compreensão do conteúdo dos tipos penais.

Fala-se, por fim, em honra comum, peculiar a todos os homens, e em honra


especial ou profissional, que é aquela referente a determinado grupo social ou
profissional, cuja sensibilidade, às vezes, se reveste de contornos diversos da
média. Há crimes que atingem essas pessoas em relação aos seus deveres
particulares, profissionais, em seus peculiares pontos de honra. Assim, como diz
Marcelo Fortes Barbosa, "é algo de muito mais sério chamar-se um militar de
covarde, do que referir-se dessa maneira a um cidadão do povo, que não tem no
destemor nenhum centro de convergência de atividades. O mesmo, dizer-se que
um advogado é "coveiro de causas", que o médico é um “açougueiro”, que um
motorista é um "barbeiro" etc.

Vejamos ainda o que diz Fernando Capez (xxxxxx):

a) Honra objetiva: diz respeito ä opniao de terceiros no tocante ao s


atributos físicos, intelectuais, morais de alguém;
b) Honra subjetiva: refere-se à opinião do sujeito a respeito de si
mesmo, ou seja, de seus atributos físicos, intelectuais e morais;
em suma, diz com o seu amor-próprio.

Capez comenta também que a doutrina distingue a honra dignidade da


honra decoro, vejamos:

a) Honra dignidade: compreende aspectos morais, como a


honestidade, a lealdade e a conduta moral como um todo;
b) Honra decoro: consiste nos demais atributos desvinculados da
moral, tais como a inteligência, a sagacidade, a dedicação ao
trabalho, a forma física, etc.

De acordo ainda com Capez, distingue a doutrina a honra comum da honra


profissional:

a) Honra comum: é aquela que todos os homens possuem;


b) Honra profissional: diz respeito a determinado grupo profissional ou
social, por exemplo, chamar um médico de açougueiro.

De acordo ainda com Capez, a previsão de crimes contra a honra não se


exaure no código Penal; também a legislação penal extravagante dispõe sobre
esses mesmos delitos, mas cometidos em condições especiais. Dessa forma,
primeiramente devemos sempre analisar se a ofensa à honra se enquadra em um
dos tipos penais previstos nas leis especiais, e só depois tentar enquadrar o fato
em um dos tipos do Código Penal. Podemos citar as seguintes leis especiais:

a) Lei de Imprensa (Lei nº 5.250/67);


b) Código Eleitoral;
c) Lei de Segurança Nacional;
d) Código Militar.

2 – CLASSIFICAÇÃO DOS CRIMES

De acordo o Código Penal Brasileiro atual, podemos classificar os crimes


contra a honra em:
a) Calúnia (art. 138);
b) Difamação (art. 139);
c) Injúria (art. 140).

Em qualquer desses crimes o bem jurídico tutelado será sempre a honra.

2.1 – CALÚNIA

2.1.1 – Conceito:
Calúnia é uma afirmação falsa e desonrosa a respeito de alguém, inclusive
mortos. Consiste em atribuir, falsamente, a alguém a responsabilidade pela prática
de um fato determinado definido como crime, feita com má-fé. Pode ser feita
verbalmente, de forma escrita, por representação gráfica ou internet.

2.1.2 – Objeto Jurídico:

Nesse crime o objeto jurídico é a honra objetiva (a reputação, o conceito em


que cada pessoa é tida).

2.1.3 – Ação Nuclear:

A ação nuclear é o verbo caluniar, que significa imputar falsamente fato


definido como crime. O agente atribui a alguém a responsabilidade pela prática de
um crime que não ocorreu ou que não foi por ele cometido. Trata-se de crime de
ação livre, que pode ser praticado mediante o emprego de mímica, palavras
(escrita ou oral), ressalvando-se que, se realizada através de meios de informação
(serviço de radiodifusão, jornais, etc.), constitui crime previsto na Lei de Imprensa.
E quando a calúnia for lançada em propaganda eleitoral, o fato será enquadrado
no código Eleitoral.

2.1.4 – Sujeito Ativo e Passivo:

Tanto o sujeito ativo quanto o passivo será qualquer pessoa. O sujeito


passivo também pode ser atribuído aos de má fama e os irresponsáveis (loucos
ou menores); estes últimos apenas não poderào ser vítimas no crime de injúira,
caso lhes falte o necessário entendimento. Os mortos também podem ser
caluniados e seus parentes serão sujeito passivo.

2.1.5 – Tipicidade objetiva e subjetiva:

Duas são as figuras ou formas previstas no tipo objetivo:


a) imputar falsamente (art. 138, caput) – imputar é atribuir;
b) propalar ou divulgar sabendo falsa (§ 1º) – propalar é propagar,
espalhar, e divulgar é tornar público, bastando para tanto que se
dê conhecimento a uma só pessoa, pois não se pode confundir o
ato (divulgar) com o seu resultado (divulgação).

Podemos atribuir ao tipo subjetivo o Dolo de dano e o elemento subjetivo do


tipo (proposto de ofender). Na figura fundamental, o dolo direto ou eventual.

2.1.6 – Consumação:

No momento em que chega ao conhecimento de uma terceira tem-se a


consumação. Não basta o próprio ofendido. É necessário haver publicidade (basta
que uma pessoa tome conhecimento), pois apenas desse modo atingir-se-á a
honra da pessoa (reputação). Se houver consentimento do ofendido, inexiste o
crime. O consentimento do representante legal é irrelevante.

2.1.7 – Tentativa:

Nesse crime a tentativa depende do meio usado. Trata-se de um crime


formal ou de simples atividade. A calúnia verbal, que se perfaz em um único ato,
por se tratar de crime unissubsistente, não admite tentativa; ou a imputação é
proferida e o fato está consumado, ou nada se diz e não há conduta relevante. A
calúnia escrita admite a tentativa, pois é um crime plurissubsistente; há um iter,
que pode ser fracionado ou dividido.

2.1.8 – Inimputáveis:

Para os causalistas, como os menores de 18 anos de idade e outros inimputáveis


não cometem crime, não poderiam ser vítimas de calúnia, já que para a
caracterização deste crime é necessário atribuir à vitima a responsabilidade pela
prática de crime.
Por outro lado, para os seguidores da teoria finalista, que retira o elemento
culpabilidade do conceito de crime, os inimputáveis poderiam sim ser vítimas de
calúnia.

2.1.9 – Exceção da verdade:

Nos termos do parágrafo 3o do artigo 138, o agente pode agir em sua


defesa a exceção da verdade, provando a veracidade do fato imputado ao
caluniado, excluindo dessa forma a tipicidade, já que o artigo exige a falsidade da
informação para a perfeita formação do crime. Não caberá a exceção da verdade
quando a lei atribuir presunção juris et de jure, como no caso de calúnia contra o
Presidente da República ou chefe de estado estrangeiro.

2.1.10 – Extinção da punibilidade:

Ocorrerá a extinção da punibilidade sempre que o agente fizer uma


retratação completa, satisfatória e incondicional, reconhecendo publicamente seu
erro. É ato unilateral, pessoal e que independe da anuência do ofendido, devendo
ser realizada até a publicação da sentença de primeiro grau, sendo que após este
momento a retratação perde sua eficácia como forma de extinção da punibilidade.

2.1.11 – Pena e ação penal:

As penas cominadas para quem calunia alguém, imputando-lhe falsamente


fato definido como crime, ou, sabendo falsa a imputação, a propala ou divulga, são
de detenção, de seis meses a dois anos, e multa.

A ação penal nos delitos contra a honra é privada. No crime de calúnia,


portanto, somente se procede mediante queixa, salvo se praticado contra o
presidente da República, chefe de governo estrangeiro ou funcionário público, em
razão de suas funções (art. 141, I e II, CP), hipóteses em que a ação penal é
pública condicionada à requisiÇão do ministro da Justiça ou à representação do
ofendido, respectivamente (art. 145, parágrafo único, CP).

2.2 – DIFAMAÇÃO

2.2.1 – Conceito:

Difamação é um termo jurídico que consiste em atribuir à alguém fato


determinado ofensivo à sua reputação, honra objetiva, e se consuma, quando um
terceiro toma conhecimento do fato. De imputação ofensiva que atenta contra a
honra e a reputação de alguém, com a intenção de torná-lo passível de descrédito
na opinião pública. A difamação fere a moral da vítima, a injúria atinge seu moral,
seu ânimo.

2.2.2 – Objeto Jurídico:

Nesse crime o objeto jurídico é a honra objetiva (o conceito, a reputação em


que cada pessoa é tida).

Tal como o crime de calúnia, protege-se a onra objetiva, ou seja, a


reputação, a boa fama do indivíduo no meio social. Interessa, sobretudo, a
coletividade preservar a paz social, evitando que todos se arvorem no direito de
levar ao conhecimento de terceiros fatos desabonadores de que tenham ciência
acerca de determinado indivíduo, ainda que tais fatos sejam verdadeiros.

2.2.3 – Ação Nuclear:

O núcleo do tipo é o verbo difamar, que consiste em imputar a alguém fato


ofensivo à reputação. Imputar consiste em atribuir o fato ao ofendido. A reputação
concerne à opinião de terceiros no tocante aos atributos físicos, intelectuais,
morais de alguém. É o respeito que o indivídio goza no meio social. A calúnia e a
difamação ofendem a honra objetiva, pois ainguem o valor social do indivíduo.

2.2.4 – Sujeito Ativo e Passivo:

Trata-se de crime comum. O sujeito ativo (quem comete) pode ser qualquer
pessoa humana (ser humano). Sujeito passivo (quem sofre) pode ser qualquer
pessoa humana ou jurídica (Súmula 227 do Superior Tribunal de Justiça).

2.2.5 – Tipicidade objetiva e subjetiva:

A conduta é imputar (atribuir). O fato deve ser determinado, mas não


precisa ser especificado em todas as suas circunstâncias. A Imputação não
necessita ser falsa: ainda que verdadeira, haverá o delito (exceção: o fato
verdadeiro, atribuído a funcionário público em razão de suas funções). A atribuição
dever chegar ao conhecimento de terceira pessoa, não se caracterizando o delito
se é o próprio ofendido quem a leva ao conhecimento de outrem. O delito é
comissivo e pode ser praticado por qualquer meio.

O tipo subjetivo é o Dolo de dano (direto ou eventual) e o elemento


subjetivo do tipo (propósito de ofender).

2.2.6 – Consumação:

Consuma-se no instante em que terceiro, que não o ofendido, toma ciência


da afirmação que macula a reputação. É prescindível que várias pessoas tomem
conhecimento da imputação.

2.2.7 – Tentativa:

Não se admite a tentativa quando o caso for de difamação perpetrada pela


palavra oral (hipótese de crimes unissubsistente, em que não há um iter criminis a
ser fracionado); por meio escrito, é plenamente possível a tentativa (hipótese de
crime plurissubsistente, havendo um iter criminis que comporta fracionamento),
por exemplo: sujeito passivo que consegue interceptar a correspondência antes
que ela chegue ao seu destinatário.

2.2.8 – Inimputáveis:

Os menores e os doentes mentais podem ser sujeitos passivos do delito de


difamação, uma vez que a honra é um bem inerente à personalidade humana.

2.2.9 – Exceção da verdade:

Como para este tipo de crime o dano ocorrerá independentemente da


veracidade da afirmação, somente se admite a exceção da verdade (alegação do
réu de que o fato imputado é verídico) como defesa se a difamação for contra
servidor público e a ofensa é relativa ao exercício de sua funções (parágrafo
único, art. 139 do CP).

2.2.10 – Extinção da punibilidade:

Ocorrerá a extinção da punibilidade sempre que o agente fizer uma


retratação completa, satisfatória e incondicional, reconhecendo publicamente seu
erro. É ato unilateral, pessoal e que independe da anuência do ofendido, devendo
ser realizada até a publicação da sentença de primeiro grau, sendo que após este
momento a retatação perde sua eficácia como forma de extinção da punibilidade.

2.2.11 – Pena e ação penal:


As penas cumulativamente cominadas para aquele que difama alguém,
imputando-lhe fato ofensivo à sua reputação, são de detenção, de três meses a
um ano, e multa.

A ação penal nos delitos contra a honra é privada (art. 145, caput, 1ª parte,
CP). De conseguinte, no crime de difamação, somente se procede mediante
queixa, salvo se praticado contra o presidente da República, chefe de governo
estrangeiro ou funcionário público, em razão de suas funções (art. 141, I e II, CP),
hipóteses em que a ação penal é pública condicionada à requisição do ministro da
Justiça ou à representação do ofendido, respectivamente (art. 145, parágrafo
único, CP).

À difamação se aplicam também causas específicas de aumento da pena


do art. 141 do CP, in verbis:

"Art. As penas cominadas neste Capítulo aumentam-se de um terço, se


qualquer dos crimes é cometido:
I - contra o Presidente da República ou contra chefe de governo
estrangeiro;
II - contra funcionário público, em razão de suas funções;
III - na presença de várias pessoas, ou por meio que facilite a divulgação da
calúnia, da difamação ou da injúria;
IV - contra pessoa maior de 60 (sessenta) anos ou portadora de deficiência,
exceto no caso de injúria.
Parágrafo único. Se crime é cometido mediante paga ou promessa de
recompensa, aplica-se a pena em dobro."''

2.3 – INJÚRIA

2.3.1 – Conceito:

Injúria do latim injuria, de in + jus = injustiça, falsidade.

Injúria é um termo jurídico que consiste em atribuir à alguém qualidade


negativa, que ofenda sua honra, dignidade ou decoro. É um crime que consiste
em ofender verbalmente, por escrito ou fisicamente (injúria real), a dignidade ou o
decoro de alguém, ofendendo o moral, abatendo o ânimo da vítima.

2.3.2 – Objeto Jurídico:

O objeto jurídico é a Honra subjetiva (sentimento que cada pessoa tem a


respeito de seu decoro ou dignidade). Ao contrário dos delitos de calúnia e
difamação, que tutelam a honra objetiva, o bem protegido por essa norma penal é
a honra subjetiva, que é constituída pelo sentimento próprio de cada pessoa
acerca de seus atributos morais (chamados de honra-dignidade), intelectuais e
físicos (chamados de honra-decoro).

2.3.3 – Ação Nuclear:

Consubstancia-se no verbo injuriar, que é, conforme a definição de Nélso

2.3.4 – Sujeito Ativo e Passivo:

Trata-se de crime comum. O sujeito ativo é qualquer pessoa, pois o tipo


penal não exige qualquer condição especial do agente.

Qualquer pessoal, inclusive os inimputáveis, desde que tenha capacidade


de discernimento do conteúdo da expressão ou atiturde ultrajante pode ser o
susjeito passivo. Não é punível a injúria contra os mortos, salvo se praticada
através da imprensa (art. 24, Lei nº 5.250/67 – Lei de Imprensa)

2.3.5 – Tipicidade objetiva e subjetiva:

Injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade ou o decoro. Consiste na


atribuição genérica de qualidade negativas ou de fatos vagos e indeterminados.
Prescinde da falsidade a imputação feita. Admite vários meios de exceção
(palavras, gestos, escritos, canções, imagens, caricaturas, etc.). Desnecessária a
presença do sujeito passivo. Na injúria não há a imputação de um fato, mas a
opnião que o agente dá a respeito do ofendido.

O tipo subjetivo é o Dolo de dano (direto ou eventual) e o elemento


subjetivo do tipo que é a intenção de ofender. Para os tradicionais, é o chamado
“dolo específico”. Não há forma culposa.

2.3.6 – Consumação:

Trata-se de delito formal. O crime se consuma quando o sujeito passivo


toma ciência da imputação ofensiva, independentemente de o ofendido sentir-se
ou não atingido em sua honra subjetiva, sendo suficiente, tão-só, que o ato seja
revestido de idoneidade ofensiva. Difere da calúnia e da difamação, uma vez que
para a consumação da injúria prescinde-se que terceiros tomem conhecimento da
imputação ofensiva. A injúria não precisa ser proferida na presença do ofendido;
basta que chegue ao seu conhecimento, po intermédio de terceiro,
correspondência ou qualquer outro meio.

2.3.7 – Tentativa:

Dependo do meio pelo qual é praticada. É possível no caso de meio escrito,


pois há um iter criminis passível de ser fracionado (crime plurissubsistente);
contudo, se a hipótese for de injúria verbal (crime unissubsistente), inadmissível
será a tentativa; afinal, a palavra é ou não proferida, tratando-se de único e
incindível ato.

2.3.8 – Inimputáveis:

A injúria consitui ofensa à honra subjetiva. Quando a ofensa disser respeito


à honra subjetiva, a existência do crime deve ser condicionada à capacidade de o
sujeito ativo perceber a injúria. Assim, os doentes mentais podem ser injuriados,
desde que haja uma residual capacidade de compreender a expressão ofensiva.
De igual modo, os menores podem ser injuriados, dependendo da sua capacidade
de compreensão da expressão ou atitude ofensiva.

2.3.9 – Exceção da verdade:

É inadmissível no crime de injúria. Em primeiro lugar, não interessa ao


Direito comprovar a veracidade de opniões pessoais que consistam em ultrajes
contra alguém, ou seja, não importa verificar se realmente fulano é “cornudo”,
“incompetente”, “bêbado”, “trapaceiro”. No crime de calúnia, pelo contrário, por se
tratar de imputação de fato definido como crime, interessa à Justiça Pública
investigar se tal fato é ou não verdadeiro. Em segundo lugar, não importa para a
configuração do crime de injúria a falsidade das ofensas, ao contrário do crime de
calúnia.

2.3.10 – Extinção da punibilidade:

Não se aplica a retratação ao crime de injúria por não estar previsto no


artigo 143 do CP. Somente é admissível a retratação nos crimes de calúnia e
difamação.

2.3.11 – Pena e ação penal:

Comina-se à injúria simples, alternativamente, pena de detenção, de um a


seis meses, ou multa. Se a injúria consiste em violência ou vias de fato, que, por
sua natureza ou pelo meio empregado, se considerem aviltantes (injúria real), as
penas abstratamente previstas são de detenção, de três meses a um ano, e multa,
além da pena correspondente à violência (art. 140, § 2º). A segunda modalidade
qualificada encontra-se insculpida no parágrafo 3º, que comina pena de reclusão,
de um a três anos, e multa, se a injúria consiste na utilização de elementos
referente a raça, cor, etnia, religião ou origem.

A ação penal é privada (art. 145, caput), exceto se a injúria for dirigida ao
presidente da República ou a chefe de governo estrangeiro (pública condicionada
à requisição do ministro da Justiça) ou a funcionário público, em razão de suas
funções (pública condicionada à representação do ofendido) – art. 145, parágrafo
único. Na injúria real, resultante desta lesão corporal grave, a ação penal é pública
incondicionada; se produzidas lesões leves, a ação penal é pública condicionada à
representação (art. 88, Lei nº 9.099/95); na hipótese de vias de fato, a ação é de
natureza privada (art. 145, caput).

2.4 – DIRENÇA ENTRE CALÚNIA, DIFAMAÇÃO E INJÚRIA

Na calúnia, o fato imputado é definido como crime; na injúria, não há


atribuição de fato, mas de qualidade; na difamação, há a imputação de fato
determinado.

A calúnia e a difamação atinguem a honra objetiva; a injúria atinge a honra


subjetiva.

A calúnia e a difamação consumam-se quando terceiros tomam


conhecimento da imputação; a injúria consuma-se quando o próprio ofendido toma
conhecimento da imputação.

A calúnia consiste em imputar falsamente, a alguém, fato definido como


crime. Se acaso o fato for definido como contravenção penal deverá ser
configurada como difamação. A sua caracterização exige os seguintes requisitos:
a) imputação de fato determinado qualificado como crime;
b) pessoa ou pessoas determinadas;
c) falsidade da imputação.

Exemplificando: A acusa B de ter furtado o celular de C, sendo tal acusação


falsa, está configurado o crime de calúnia.

O crime de difamação consiste em imputar à alguém fato ofensivo a sua


reputação, ou seja, o autor do crime profere fatos ofensivos, não definidos como
crime, com a intenção de desacreditar a vítima. Para caracterizar o crime em
questão é necessário os seguintes requisitos:
a) imputação de fato determinado, diferente de crime;
b) pessoa ou pessoas determinadas;
c) fato determinado ofensivo a reputação sendo ele verdadeiro ou falso.

Exemplificando: A espalha no trabalho que B é um assíduo freqüentador de


prostíbulos, sendo este fato verdadeiro ou falso, constitui crime de Difamação,
pois as pessoas não devem tecer comentários desabonadores à respeito de
qualquer que seja a pessoa, sendo eles verdadeiros ou não.

A injúria consiste em ofender a dignidade ou decoro de alguém. O crime de


injúria é praticado através da imputação de uma qualidade negativa à vítima,
sendo este verdadeiro ou não, não havendo assim a necessidade da imputação
de um fato determinado como na calúnia ou difamação. São os requisitos:
a) imputação de qualidade negativa;
b) pessoa ou pessoas determinadas;
c) qualidade negativa verdadeira ou falsa.
Exemplificando: A diz que B é um idiota e um imbecil. Se são verdadeiras
ou não as qualidades negativas imputadas a B, isto não interessa para o
legislador, pois a depreciação da auto-estima de B já foi atingida, configurando
assim crime de injúria.

É importante anotar que os crimes de calúnia e difamação atingem a honra


objetiva da vítima, enquanto a injúria atinge a honra subjetiva.

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