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Crimes Contra a Honra: O

que você precisa saber


O CP (norma geral) traz os tipos penais gerais dos crimes contra a honra, mas
existem outros crimes contra a honra em leis especiais.

Exs.: Lei de Imprensa (não recepcionada pela CF/88 – ADPF 130 – por isso, os
crimes praticados por meio da imprensa são abrangidos pela norma geral);
Código Brasileiro de Telecomunicações; Código Eleitoral, Código Penal Militar;
Estatuto do Idoso.

by Christiane Kalb
Por pior que seja a fama ou o auto conceito
de alguém, sempre haverá espaço para a
tutela penal.
Honra – conjunto de qualidades da pessoa humana, conferindo-lhe respeitabilidade social e estima própria.

Honra objetiva – refere-se à fama ou reputação de alguém perante o meio em que vive. Reside na opinião dos
demais a respeito da pessoa.

Honra subjetiva trata-se da noção que alguém possui acerca de si próprio, de seus atributos morais, físicos e
intelectuais.
Tipos de Crimes Contra a Honra
Calúnia Difamação Injúria

Difamação falsa de alguém, Quando alguém ofende a Ofensa à dignidade ou


imputando-lhe um crime. reputação de outra pessoa decoro que atinge a
com fato verdadeiro ou integridade moral, como
boato. xingamentos, insultos e
palavras depreciativas.
Crime Conduta Honra protegida

Calúnia (art. 138, CP). Imputar fato previsto como Honra objetiva (reputação,
crime, sabidamente falso. imagem perante terceiros).

Difamação (art. 139, CP). Imputar fato desonroso, não Honra objetiva (reputação,
importando se verdadeiro ou imagem perante terceiros).
falso.

Injúria (art. 140, CP). Atribuir qualidade negativa - Honra subjetiva (dignidade,
xingamento. decoro, autoestima).
CALÚNIA

Art. 138 - Caluniar alguém, imputando-lhe falsamente fato (DETERMINADO) definido como crime:

Pena - detenção, de seis meses a dois anos, e multa.

§ 1º - Na mesma pena incorre quem, sabendo falsa a imputação, a propala ou divulga.

§ 2º - É punível a calúnia contra os mortos. [ parentes serão sujeitos passivos ]

Ex: João entrou na minha casa e roubou o som do meu carro ontem à noite.
Casos Excepcionais: Exceção da Verdade

Defesa da Verdade Comunicação Indevida Jornalismo

Quando o acusado de calúnia Quando a divulgação de Quando a calúnia, difamação ou


prova a veracidade das suas comunicação sigilosa for injúria forem cometidas em
declarações na forma do artigo necessária à defesa do acusado. organizaçoes de imprensa, desde
138, parágrafo terceiro, do que no exercício da atividade
Código Penal, tendo o ônus da jornalística e dentro do contexto
prova. da matéria.
Exceção da verdade - possibilidade que
tem o sujeito ativo de poder provar a
verdade do fato imputado – procedimento
incidental
§ 3º - Admite-se a prova da verdade, salvo:

I - se, constituindo o fato imputado crime de ação privada, o ofendido não foi condenado por sentença
irrecorrível;

II - se o fato é imputado a qualquer das pessoas indicadas no nº I do art. 141 - presidente;

III - se do crime imputado, embora de ação pública, o ofendido foi absolvido por sentença irrecorrível.
1. CONCEITO: falsa imputação de crime a alguém
2. OBJETO JURÍDICO - O ataque pode tanto ofender a honra pessoal de alguém quanto a honra profissional.
3. SUJEITO ATIVO E PASSIVO – qq. pessoa (exceção – imunidade)
4. TIPO OBJETIVO - A falsidade é presumida (presunção relativa).

Se for contravenção será difamação.

Exige que a narrativa consista na descrição de um fato. É fundamental que a imputação seja falsa.

Requisitos: imputação de fato determinado qualificado como crime; falsidade da imputação; animus
caluniandi.

Não se faz necessário que um número indeterminado de pessoas tome conhecimento da


imputação; é suficiente que se comunique a outrem mesmo que em caráter confidencial.
5. TIPO SUBJETIVO – dolo, sendo imprescindível ofender a honra objetiva da
vítima.

Imputação deve ser falsa – pois se verdadeira, é atípico.


Se agente acredita que é verdade, mas não é, por engano, erro de tipo.

6. CONSUMAÇÃO E TENTATIVA - dá-se quando a imputação se torna conhecida


por outrem que não o sujeito passivo. Não se consuma quando somente o
sujeito passivo toma conhecimento. Independentemente do dano à
reputação do ofendido, bastando a potencialidade lesiva. É delito formal (3º
precisa ficar sabendo).

Pode haver tentativa – envio de carta interceptada.

Meios de execução

verbal, escrita, gestual, simbólica (charge, escultura, encenação)


Quanto aos menores inimputáveis
poderem ser vítimas de calúnia, há 2
correntes.
.Sabendo que o menor de 18 anos não pratica crime, não se lhe pode imputar a prática de delito, não
sendo vítima de calúnia, mas sim de difamação.

.Majoritária: o crime de calúnia consiste na falsa imputação de fato definido como crime. O menor pode
praticar fato definido como crime, chamado de ato infracional. Logo, pode ser vítima de calúnia.
Pessoa jurídica vítima de calúnia: 3
correntes.
-Com o advento da Lei 9605/98 (crimes ambientais e responsabilidade penal da pessoa
jurídica), existe corrente entendendo que a pessoa

jurídica, nessas hipóteses, pode ser autora de crime e, portanto, vítima de calúnia.

-Pessoa jurídica não pratica crime, apesar de poder ser responsabilizada penalmente. Não
pode ser vítima de calúnia, mas somente de difamação.

-O CP protege a honra da pessoa física e não da jurídica. Logo, pessoa jurídica não pode ser
vítima de qualquer crime contra a honra.
DIFAMAÇÃO – H. objetiva - o que outros pensam
Art. 139 - Difamar alguém, imputando-lhe fato (DETERMINADO) ofensivo à sua reputação:

Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa.

Exemplos:

Trabalhador estava embriagado ao prestar serviço; empregado dorme no serviço; juiz não
leu o processo que decidiu; uma mulher casada está transando com o vizinho; que a vizinha
trabalha na casa de prostituição Y; Fulano estava fumando maconha; Maria vende para fora o
jogo do bicho.

Não se exige que a imputação seja falsa

– CUIDE DE SUA VIDA!!


Exceção da verdade – NÃO CABE
Parágrafo único - A exceção da verdade somente se admite se o ofendido é funcionário público e a
ofensa é relativa ao exercício de suas funções.
1. CONCEITO: é a ofensa à reputação objetiva.
2. OBJETO JURÍDICO – HONRA OBJETIVA
3. SUJEITO ATIVO E PASSIVO – qq pessoa (exc: imunidades)
4. TIPO OBJETIVO - Imputar fato desonroso, sem revestir de caráter criminoso determinado (não imputa
fato criminoso determinado, que seria calúnia).

Obs.: porém, imputar contravenção penal, mesmo que determinada, é difamação, e não calúnia, pois o tipo
penal da calúnia exige imputação de fato determinado definido como crime. O fato pode ser verdadeiro ou
não.

É indispensável que a imputação chegue ao conhecimento de outra pessoa que não o ofendido.

Pessoa jurídica: os Tribunais Superiores entendem que pode ser vítima de difamação, pois pessoa jurídica tem
reputação a ser preservada.
5. TIPO SUBJETIVO - não cabe a vítima o ônus de provar que o fato desonroso tenha sido
praticado intencionalmente, mas quem o imputou deve demonstrar a ausência do animus
diffamandi. Não há modalidade culposa.

6. CONSUMAÇÃO E TENTATIVA - É indispensável a publicidade e que chegue ao conhecimento da


vítima. Não é necessária a produção efetiva do resultado, isto é, que haja desabono à reputação
da vítima.

Tentativa – só possível se carta - extraviada

MEIOS DE EXECUÇÃO – IDEM CALÚNIA

Montagem de fotos e posterior divulgação na internet – meio simbólico


INJÚRIA – honra subjetiva - autoestima
Art. 140 - Injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade ou o decoro:

Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.

PERDÃO JUDICIAL [ Somente para o crime de injúria. ]

§ 1º - O juiz pode deixar de aplicar a pena:

I - quando o ofendido, de forma reprovável, provocou diretamente a injúria;

II - no caso de retorsão imediata, que consista em outra injúria.


INJÚRIA REAL
§ 2º - Se a injúria consiste em violência ou vias de fato, que, por sua natureza ou pelo meio empregado, se
considerem aviltantes:

Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa, além da pena correspondente à violência.
INJÚRIA PRECONCEITUOSA (QUALIFICADA)
§ 3o Se a injúria consiste na utilização de elementos referentes a religião ou à condição de pessoa idosa ou
com deficiência:
Pena - reclusão de um a três anos e multa. (depende de repr. Ofendido)

*A injúria com elementos referentes a raça, cor, etnia ou procedência nacional passou a ser prevista como
espécie de racismo, nos termos do art. 2º-A da Lei 7.716/89:

“Art. 2º-A Injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade ou o decoro, em razão de raça, cor, etnia ou procedência
nacional.

Pena: reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa.

Parágrafo único. A pena é aumentada de metade se o crime for cometido mediante concurso de 2 (duas) ou
mais pessoas.”
Injúria Racial Agora Crime de Racismo
A injúria racial passou a ser crime de racismo com a entrada em vigor da Lei nº 9.459/97 e agora mais
recentemente com a lei 14.532/2023. Racismo é um crime inafiançável e imprescritível. Cabe ação penal
pública incondicional.

-A injúria racial, prevista no § 3º do art. 140 do CP, segundo entendimento inicial da jurisprudência e da doutrina,
não se confundia com o crime de racismo, previsto na Lei 7.716/89, uma vez que a configuração do racismo
depende necessariamente da existência de marginalização em função de raça, cor, etnia, religião ou
procedência nacional.

-Ocorre, entretanto, que a jurisprudência do STJ e do STF mudou de posicionamento, passando a considerar a
injúria racial como modalidade do crime de racismo, trazendo, como principal consequência, sua
imprescritibilidade.

-Em razão desse movimento da jurisprudência, a Lei 14.532/23 alterou a redação do §3º do art. 140 do CP, para
excluir da qualificadora as ofensas referentes à raça, cor, etnia ou procedência nacional, transportando a injúria
racial para a Lei 7.716/89.
Não há mais dúvida, portanto, que a injúria em razão de raça, cor, etnia ou procedência nacional passou a
ser considerada espécie de racismo, sendo, portanto: imprescritível, inafiançável e de ação penal pública
incondicionada - MP.

Importante destacar, ainda, que a injúria racial abrange também a ofensa preconceituosa contra
homossexuais e transexuais, - homotransfobia

nos termos da decisão proferida pelo STF na ADO 26.


1. OBJETO JURÍDICO – honra subjetiva

Atribuir característica negativa – xingamento, insulto

DIGNIDADE – MORAL

DECORO – Físico / INTELECTUAL

2. SUJEITO ATIVO E PASSIVO: Não é crime quando o agente chama um menor de tenra idade de “acéfalo”,
p.ex., pois ele não tem condições de entender que está sendo ofendido na sua dignidade e no seu decoro
(honra subjetiva).

Pessoa jurídica: não possuindo honra subjetiva, não pode ser sujeito passivo de injúria.

3. TIPO OBJETIVO Abrange o atributo moral (ladrão) físico (gordo), intelectual (burro) ou social (corrupto).
Autoinjúria: em regra, não existe o delito de autoinjúria, salvo quando a expressão ultrapassa a órbita da
personalidade do indivíduo, atingindo terceiros. Exs.: “sou filho de 'meretriz” – essa autoofensa atingiu
também a mãe do indivíduo; “sou corno” – essa expressão atingiu também a esposa do indivíduo, pois a taxou
de adúltera.
4. TIPO SUBJETIVO - faz necessário o elemento subjetivo especial do tipo, representado pelo especial fim de
injuriar, ofender, de atingir a honra do ofendido.

5. CONSUMAÇÃO E TENTATIVA - como o tipo de honra protegida é a subjetiva, consuma-se quando a ofensa
chega ao conhecimento da vítima. Também é delito formal.

Na injúria não é necessária a publicidade.

É irrelevante que a injúria seja proferida pessoal e diretamente à vítima, podendo chegar a seu conhecimento
através de terceiro ou de qualquer meio de correspondência.

Sendo o ofendido funcionário público e o fato tendo sido praticado na sua presença e em razão da função,
poderá configurar-se o crime de desacato, desde que o sujeito ativo conheça a circunstância de tratar-se de
funcionário público.

6. EXCEÇÃO DA VERDADE – NÃO CABE

7. PALAVRAS OFENSIVAS DEVEM CONSTAR NA PEÇA INICIAL

8. MEIOS DE EXECUÇÃO – IDEM CALÚNIA


DISPOSIÇÕES COMUNS
Art. 141 - As penas cominadas neste Capítulo aumentam-se de um terço, se qualquer dos crimes é cometido:

I - contra o Presidente da República, ou contra chefe de governo estrangeiro - macular a honra do Presidente
da República é ofender, indiretamente, a honra de todos os cidadãos.;

II - contra funcionário público, em razão de suas funções.

Crime contra a honra de funcionário público Desacato

Ofensa na ausência do servidor. Ofensa na presença do servidor, ainda que


somente ouvindo.

III - na presença de várias pessoas, ou por meio que facilite a divulgação da calúnia, da difamação ou da injúria.
[pelo menos 3]

IV - contra pessoa maior de 60 (sessenta) anos ou portadora de deficiência, exceto no caso de injúria (pq tem
já o art 140 §3 CP).

Parágrafo único - Se o crime é cometido mediante paga ou promessa de recompensa, aplica-se a pena em
dobro.
Possíveis Formas de Exclusão do Crime
Retratação - art. 143 CP

Dependendo do caso, a retratação do agente pode suspender o processo criminal ou até mesmo afastar
a punibilidade. É importante destacar que somente a retratação voluntária pode ter essa consequência.

só cabe para Calúnia e Difamação

É causa extintiva da punibilidade. Porém, a retratação não obsta a ação cível.


Excludentes de Ilicitude

Art. 142 - Não constituem injúria ou difamação punível:

I - a ofensa irrogada em juízo, na discussão da causa, pela parte ou por seu procurador – imunidade judiciária;

II - a opinião desfavorável da crítica literária, artística ou científica, salvo quando inequívoca a intenção de
injuriar ou difamar – imunidade literária, artística ou científica;

III - o conceito desfavorável emitido por funcionário público, em apreciação ou informação que preste no
cumprimento de dever do ofício – imunidade funcional.

Parágrafo único - Nos casos dos ns. I e III, responde pela injúria ou pela difamação quem lhe dá publicidade.
Pedir explicações
Art. 144 - Se, de referências, alusões ou frases, se infere calúnia,
difamação ou injúria, quem se julga ofendido pode pedir explicações em
juízo. Aquele que se recusa a dá-las ou, a critério do juiz, não as dá
satisfatórias, responde pela ofensa.

-É medida preparatória e facultativa para o oferecimento da queixa-crime


quando, em virtude dos termos empregados, não se mostra evidente a
intenção de ofender.

-Facultativa: pede explicações quem quer ou sente necessidade.

-Prevalece que as explicações pretendidas não são obrigatórias.


Ação Penal dos Crimes Contra
a Honra
Art. 145 - Nos crimes previstos neste Capítulo somente se procede
mediante queixa, salvo quando, no caso do art. 140, § 2º, da violência
resulta lesão corporal.

Parágrafo único. Procede-se mediante requisição do Ministro da Justiça,


no caso do inciso I do caput do art. 141 deste Código [ PRESIDENTE ],

e mediante representação do ofendido, no caso do inciso II do mesmo


artigo [ FUNCIONÁRIO PÚB. ] , bem como no caso do § 3o do art. 140 deste
Código [ LESÃO ].

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