Você está na página 1de 46

CRIMES EM ESPÉCIE

DOS CRIMES CONTRA


A HONRA
- Módulo 4 -

Prof. Bruno Ribeiro


I – INTRODUÇÃO
DOS CRIMES  Honra é o complexo ou conjunto de
CONTRAA PESSOA prejudicados ou condições da pessoa que
DOS CRIMES CONTRAAHONRA lhe conferem consideração social e
estima própria.
Diferença

A “HONRA OBJETIVA” diz respeito


à reputação do indivíduo, ou seja, ao
A “HONRA SUBJETIVA”, por sua
conceito que os demais membros da
vez, representa o sentimento ou a
sociedade têm a respeito da vítima,
concepção que temos a nossa próprio
especialmente quanto a seus atributos
respeito.
morais, éticos, culturais, intelectuais,
físicos ou profissionais.
II – CALÚNIA (art. 138, CP)
 (a) Conceito: caluniar alguém é imputar falsamente fato definido como
crime, ou, ainda, nas mesmas circunstâncias, propalar ou divulgar tal
imputação.
 (b) Sujeitos Ativo e Passivo: qualquer um.
 (c) Requisitos do Crime:
 i) imputação de determinado fato definido como crime;
 ii) falsidade da imputação (que pode ser quanto à própria existência do fato
DOS CRIMES ou simplesmente sobre o verdadeiro autor);
CONTRAA PESSOA  iii) elemento subjetivo especial ou específico (animus caluniandi),
consistente no especial fim de caluniar, ou seja, desejar o agente ofender ou
DOS CRIMES CONTRAAHONRA denegrir a honra do ofendido.

 (d) Consumação: ocorre quando o conhecimento da imputação falsa


chega a uma terceira pessoa, ou seja, quando se cria a condição
necessária para lesar a reputação da vítima. Difere da injúria, pois nesta
o ofensa é à honra subjetiva, consumando-se no momento em que a
vítima toma conhecimento da ofensa.
 (e) Tentativa: é possível (ex.: calúnia por carta, sendo o autor
interceptado no caminho da agência dos correios pelo próprio ofendido).
 (f) Classificação: é crime formal (há previsão de
resultado, mas não há necessidade de que haja
efetivamente dano significativo à honra do ofendido),
DOS CRIMES comum, instantâneo e comissivo (exige uma conduta
CONTRAA PESSOA positiva: propalar ou divulgar).
DOS CRIMES CONTRAAHONRA
 (g) Elemento Subjetivo: somente o dolo (não há
previsão de culpa).
i) Calúnia reflexa: ocorre quando a imputação atinge duas vítimas
(ex.: corrupção ativa ou passiva. Nesta caso, a falsa imputação
atinge o funcionário público inocente e o terceiro que teria
oferecido a propina).
ii) Imputação falsa de contravenção: não há crime.
iii) Denunciação caluniosa: se da imputação resultar investigação
policial ou processo judicial, o autor responderá por denunciação
caluniosa (art. 339, CPB);
(h) Casuísticas: iv) Erro de tipo: ocorre quando o sujeito está convencido que a
imputação é verdadeira (art. 20, caput, CP). Exclui o dolo, não há
crime.
v) Morto: não é sujeito passivo do crime. O objeto tutelado no § 2º
é, na verdade, a memória que os familiares e amigos tem do
falecido. Reconhece-se, pois, que há interesse na preservação da
dignidade e da reputação da pessoa falecida.
vi) Animus narrandi: limitada a intenção do sujeito em
relatar o ocorrido, inexiste animus caluniandi, e, sim,
animus narrandi, o que exclui o fato típico.
vii) Difamação: o que difere, fundamentalmente, os
crimes de calúnia e difamação é que, naquele (calúnia),
há imputação falsa de fato definido como crime,
enquanto neste (difamação), a imputação é de qualquer
(h) Casuísticas: fato ofensivo à honra objetiva do sujeito,
independentemente de sua falsidade (o sujeito ativo
não se preocupa com a falsidade do fato ofensivo na
difamação).
viii) Advogado: a imunidade do advogado não abrange
o crime de calúnia, apenas a difamação e a injúria.
Precedentes do STJ e STF.
•(i) Exceção da verdade (exceptio veritatis): significa
a possibilidade que tem o sujeito ativo de provar a
veracidade do fato imputado (art. 138, § 3º, CP). O
DOS CRIMES
procedimento está previsto no art. 523 do CPP. Caso a
CONTRAA PESSOA
imputação seja verdadeira a conduta do sujeito ativo é
DOS CRIMES CONTRAAHONRA
atípica, uma vez que estará ausente a elementar
“falsamente”.
 Não se admite a exceção da verdade em três hipóteses (art. 138, §
3º):
i) nos crimes de ação privada, quando o ofendido não foi
condenado por sentença irrecorrível (inciso I); Hungria,
esclarecendo a posição assumida pela lei penal, diz: “A primeira
exceção explica-se pelo raciocínio de que é um simples corolário
do próprio critério de política criminal que informa o instituto da
ação privada. Se, no tocante a certos crimes, a lei, para evitar ao
ofendido maior escândalo ou desassossego com o strepitus judicii,
DOS CRIMES ou para ensejar sua reconciliação com o ofensor, deixa ao seu
exclusivo arbítrio a iniciativa ou prosseguimento da ação penal,
CONTRAA PESSOA não se compreenderia que fosse outorgada a terceiros a faculdade
de proclamar o fato coram populo e comprová-lo coram judice.
DOS CRIMES CONTRAAHONRA Incidiria a lei em flagrante contradição, se tal permitisse. A ratio
essendi da proibição da exceptio veritatis, aqui, somente cessa
quando já sobreveio condenação irrecorrível do sujeito passivo.
Não há falar-se, no caso, em cerceamento de defesa. Se,
contrabalançando os interesses em jogo, a lei entendeu em vedar
a demonstratio veri, não era dado ao réu ignorar a ressalva legal
e, se não se abstém de formular a acusação, incorrendo na sanção
penal, imputet sibi.”
B comete (em tese) crime de ação privada
B contra C; mas C não abre o processo
contra B (ou até abre, mas não há decisão C
definitiva ainda)

A imputa o crime a B (antes ofensor;

A agora ofendido)
B
(ofendido)

B processa A por calúnia; por sua vez, A pretende


provar a verdade ajuizando exceção da verdade

B contra B (não cabe: ou porque C nem queria ou

(ofendido)
porque não se tem decisão definitiva e a exceção
anteciparia o mérito do outro processo) A
FGV - 2020 - OAB - Exame de Ordem Unificado XXXI - Primeira Fase

Durante uma reunião de condomínio, Paulo, com o animus de ofender a honra objetiva do
condômino Arthur, funcionário público, mesmo sabendo que o ofendido foi absolvido daquela
imputação por decisão transitada em julgado, afirmou que Artur não tem condições morais
para conviver naquele prédio, porquanto se apropriara de dinheiro do condomínio quando
exercia a função de síndico. Inconformado com a ofensa à sua honra, Arthur ofereceu queixa-
crime em face de Paulo, imputando-lhe a prática do crime de calúnia. Preocupado com as
consequências de seu ato, após ser regularmente citado, Paulo procura você, como
advogado(a), para assistência técnica. Considerando apenas as informações expostas, você
deverá esclarecer que a conduta de Paulo configura crime de

A - difamação, não de calúnia, cabendo exceção da verdade por parte de Paulo.


B - injúria, não de calúnia, de modo que não cabe exceção da verdade por parte de Paulo.
C - calúnia efetivamente imputado, não cabendo exceção da verdade por parte de Paulo.
D - calúnia efetivamente imputado, sendo possível o oferecimento da exceção da verdade por parte

C de Paulo.
 Não se admite a exceção da verdade em três hipóteses (art. 138, § 3º):
 ii) nos crimes contra o Presidente da República ou Chefe de Governo
estrangeiro (inciso II); Conforme esclarecimentos de Cezar Roberto
Bitencourt: Aqui, com essa ressalva, pretende-se somente proteger o cargo
e a função do mais alto mandatário da Nação e dos chefes de governos
estrangeiros. A importância e a dignidade da função de chefe da Nação
asseguram-lhe uma espécie sui generis de ‘imunidade’, garantindo que
somente poderá ser acusado de ações criminosas pelas autoridades que
tenham atribuições para tanto e perante a autoridade competente.
Estende-se o mesmo tratamento ao chefe do governo estrangeiro,
DOS CRIMES abrangendo não apenas o chefe de Estado, mas também o chefe de
CONTRAA PESSOA governo (primeiro-ministro, presidente de conselho, presidente de governo
etc.). A imputação da prática de fato criminoso, mesmo verdadeiro,
vilipendiaria a autoridade que desempenha e exporia ao ridículo o
DOS CRIMES CONTRAAHONRA presidente da República, além de levá-lo a um vexame incompatível com a
grandeza de seu cargo. Na verdade, o chefe de Estado ou o chefe de
governo de um país, de certa forma, personifica o Estado que representa, e
as boas relações internacionais não admitem que qualquer cidadão de um
país possa impunemente atacar a honra de um chefe de governo
estrangeiro, mesmo que os fatos sejam verdadeiros, coisa que deve ser
resolvida nos altos escalões diplomáticos; em caso contrário, pode
sobrevir até mesmo o rompimento de relações diplomáticas.”
 Não se admite a exceção da verdade em três hipóteses (art. 138, §
3º):

iii) se o ofendido foi absolvido do crime imputado por sentença


irrecorrível (inciso III). Explica Greco que ”no inciso III do § 3º
do art. 138 do Código Penal, proíbe-se a prova da verdade
quando o ofendido tiver sido absolvido em sentença irrecorrível
DOS CRIMES do crime que lhe atribuiu o agente. Como bem ressalvado por
Fragoso, “trata-se de respeitar o pronunciamento judicial (res
CONTRAA PESSOA judicata pro veritate habetur), cuja veracidade está protegida por
presunção absoluta, que não admite prova em contrário.”
DOS CRIMES CONTRAAHONRA
 Obs.: Greco e Paulo Queiroz discordam deste entendimento, aduzindo
que: “Os incisos I e II não foram recepcionados pela Constituição de
1988, por afrontarem, em especial, o direito ao contraditório e à ampla
defesa e, pois, possibilitarem a condenação de pessoa inocente e por
fato que, a rigor, não configura crime algum.”
 (j) Causas de Aumento: serão estudadas à parte.
 (k) Pena: detenção, de 6 meses a 2 anos e multa.
 (l) Ação Penal: em regra a ação penal é de natureza
PRIVADA (art. 145, CP). Será PÚBLICA
DOS CRIMES CONDICIONADA quando (art. 145, parágrafo único,
CONTRAA PESSOA CP): i) for praticada contra o Presidente da República
ou contra Chefe de Governo estrangeiro (sujeita-se à
DOS CRIMES CONTRAAHONRA requisição do Ministro da Justiça); e ii) for
praticada contra funcionário público no exercício das
suas funções (sujeita-se à representação do
ofendido).
Compete à Justiça Federal processar e
julgar os crimes praticados contra funcionário
público federal, quando relacionados com o
exercício da função (Súmula 147, STJ).

Observações
É concorrente a legitimidade do ofendido,
mediante queixa, e do ministério público, Importantes
condicionada à representação do ofendido,
para a ação penal por crime contra a honra de
servidor público em razão do exercício de
suas funções (Súmula 714, STF).
FGV - 2024 - OAB - Exame de Ordem Unificado - 40º - Primeira Fase

Luís Vicente, secretário de fazenda do Município Alfa, foi ofendido por Iório,
secretário de fazenda do Estado Beta, que, durante discurso na tribuna da Câmara
dos Vereadores, afirmou que “Luís Vicente comete peculato, desviando recursos do
caixa municipal em proveito próprio e de seus familiares!” Luís Vicente procurou
você, como advogado(a), para que você o oriente sobre a medida cabível para
responsabilizar Iório pela ofensa à sua honra. Nesse contexto, é correto afirmar
que Luís Vicente

A) só pode ajuizar uma queixa-crime em face de Iório, pois o delito contra a honra
desafia ação penal privada.
B) pode oferecer representação contra Iório ao Ministério Público, pois sua qualidade
de servidor público impõe a ação penal pública na defesa de sua honra.
C) pode optar entre ajuizar queixa-crime em face de Iório ou oferecer representação ao
C Ministério Público.
D) não pode fazer nada a respeito, diante da imunidade material de Iório, pela sua
qualidade de ocupante de cargo político.
III – DIFAMAÇÃO (art. 139, CP)

 (a) Conceito: difamar é imputar a alguém fato


DOS CRIMES ofensivo à reputação de outrem.
CONTRAA PESSOA
 (b) Reputação: é a estima moral, intelectual ou
DOS CRIMES CONTRAAHONRA profissional de que alguém goza em seu meio (é
um conceito social).
 (c) Sujeitos Ativo/Passivo: qualquer um.
i) falsidade do fato: é irrelevante.
ii) fato ofensivo: deve ser um fato concreto/determinado
(segundo Nucci, “é preciso que o agente faça referência a
um acontecimento que possua dados descritivos como
ocasião, pessoas envolvidas, lugar, horário, entre outros,

(d) mas não um simples insulto. Dizer que uma pessoa é


caloteira configura uma injúria, ao passo que espalhar o

Casuísticas: fato de que ela não pagou aos credores “A”, “B” e “C”,
quando as dívidas X, Y e Z venceram no dia tal do mês tal
do ano tal, configura difamação.” (Código Penal
Comentado).
iii) terceiros: é indispensável que o fato chegue o
conhecimento de terceiros.
 (e) Elemento Subjetivo: é o dolo, consistente em difamar, ou seja,
deseja-se ofender ou denegrir a honra do ofendido (animus
difamandi). O simples animus narrandi exclui o crime.
 (f) Consumação: ocorre quando o conhecimento da imputação
ofensiva chega a uma terceira pessoa (assim como na calúnia).
DOS CRIMES
 (g) Tentativa: é possível (assim como na calúnia).
CONTRAA PESSOA
 (h) Classificação: é crime formal (há previsão de resultado, mas
DOS CRIMES CONTRAAHONRA não há necessidade de que haja efetivamente dano significativo à
honra do ofendido), comum, instantâneo e comissivo (exige uma
conduta positiva: propalar ou divulgar).
 (i) Causas de Aumento: estudo à parte.
 (j) Exceção da verdade (exceptio veritatis): é inadmissível
(ninguém pode ter o direito de comprovar a desonra de outrem). Há
apenas uma exceção: quando cometido contra funcionário público
no exercício de suas funções, pois, neste caso, há interesse da
Administração Pública em averiguar a idoneidade moral de seu
funcionário. Segundo Nelson Hungria, “ao funcionário público não
basta ser honesto: é-lhe indispensável um conjunto de virtudes e
DOS CRIMES
aptidões que o tornem digno do cargo que ocupa.”
CONTRAA PESSOA
 (k) Exceção de Notoriedade: parte da doutrina a admite. Assim, se
DOS CRIMES CONTRAAHONRA o fato ofensivo é de domínio público, ou seja, fato notório, não há
mais o que se preservar.
 (l) Pena: detenção, de 3 meses a 1 ano e multa.
 (m) Ação Penal: em regra a ação penal é de natureza privada (art.
145, CP). Aplicam-se as mesmas regras estudas na calúnia.
IV – INJÚRIA (art. 140, CP)

 (a) Conceito: injúria é ofender a dignidade ou o


decoro de outrem (diz respeito, pois, à honra
DOS CRIMES subjetiva). Exemplos doutrinários: ladrão, corno,
CONTRAA PESSOA
anta, imbecil, ignorante, etc.
DOS CRIMES CONTRAAHONRA
 (b) Sujeitos Ativo e Passivo: qualquer um, exceto
a pessoa jurídica (pois aqui se trata de honra
subjetiva, diferentemente dos crimes de calúnia e
difamação).
(c) Espécies:

i) injúria imediata: quando é proferida pelo próprio agente.

ii) injúria mediata: quando há utilização de outro meio para propagá-la (ex.: criança).

iii) injúria explícita: quando é induvidoso o animus injuriandi.

iv) injúria implícita/equívoca: quando há incerteza, dubiedade.


 (d) Elemento Subjetivo: é o dolo (ou seja, vontade de
ofender a honra subjetiva de terceiro – animus injuriandi).
 (e) Consumação: ocorre quando a ofensa chega ao
conhecimento do ofendido.
 (f) Tentativa: é possível (em certos casos; na injúria verbal,
DOS CRIMES pex, não é admitida).
CONTRAA PESSOA
 (g) Classificação: crime comum, formal, instantâneo e
DOS CRIMES CONTRAAHONRA comissivo.
 (h) Exceção da Verdade: não é admissível em hipótese
alguma (nem mesmo contra funcionário público no exercício
das suas funções). Não há, pois, interesse na apuração de
qualidades internas do indivíduo.
 (i) Perdão Judicial: é possível, nas seguintes
hipóteses:

DOS CRIMES i) quando o ofendido, de forma reprovável,


CONTRAA PESSOA
provocou a injúria (art. 140, § 1º, I, CP);
DOS CRIMES CONTRAAHONRA
ii) quando houver retorsão imediata que
consiste em outra injúria (art. 140, § 1º, II,
CP);
i) se a injúria é praticada com violência ou
vias de fato: detenção, de 3 meses a 1 ano
e multa + pena pela violência.

(k)
Para incidir a qualificadora, o
Qualificadoras: animus injuriandi deve envolver
também a violência (o agente quer
através da violência humilhar a
vítima) - art. 140, § 2º, CP.
 § 3º Se a injúria consiste na utilização de
elementos referentes a religião ou à condição de
pessoa idosa ou com deficiência: Pena - reclusão,
de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa. (Lei nº
14.532/2023). Excluiu-se a injúria preconceituosa
DOS CRIMES com viés racial.
CONTRAA PESSOA
Lei nº 7.716/89 – Lei de Racismo. “Art. 2º-
DOS CRIMES CONTRAAHONRA A Injuriar alguém, ofendendo-lhe a
dignidade ou o decoro, em razão de raça,
cor, etnia ou procedência nacional. Pena:
reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e
multa”.
HC 154248, Relator(a): EDSON FACHIN, Tribunal
Pleno, julgado em 28/10/2021, PUB. 23-02-2022
HABEAS CORPUS. MATÉRIA CRIMINAL. INJÚRIA RACIAL (ART. 140, § 3º, DO CÓDIGO PENAL). ESPÉCIE DO
GÊNERO RACISMO. IMPRESCRITIBILIDADE. DENEGAÇÃO DA ORDEM. 1. Depreende-se das normas do texto
constitucional, de compromissos internacionais e de julgados do Supremo Tribunal Federal o reconhecimento objetivo do
racismo estrutural como dado da realidade brasileira ainda a ser superado por meio da soma de esforços do Poder Público e de
todo o conjunto da sociedade. 2. O crime de injúria racial reúne todos os elementos necessários à sua caracterização
como uma das espécies de racismo, seja diante da definição constante do voto condutor do julgamento do HC 82.424/RS,
seja diante do conceito de discriminação racial previsto na Convenção Internacional Sobre a Eliminação de Todas as Formas
de Discriminação Racial. 3. A simples distinção topológica entre os crimes previstos na Lei 7.716/1989 e o art. 140, § 3º, do
Código Penal não tem o condão de fazer deste uma conduta delituosa diversa do racismo, até porque o rol previsto na
legislação extravagante não é exaustivo. 4. Por ser espécie do gênero racismo, o crime de injúria racial é imprescritível. 5.
Ordem de habeas corpus denegada.

Art. 5º, CF:


XLII - a prática do racismo constitui crime inafiançável e imprescritível, sujeito à pena de reclusão,
nos termos da lei; (...)
XLIV - constitui crime inafiançável e imprescritível a ação de grupos armados, civis ou militares,
contra a ordem constitucional e o Estado Democrático;
 (l) Pena do tipo-base: detenção, de 1 a 6 meses ou multa.
 (m) Ação Penal: em regra a ação penal é de natureza privada (art. 145,
CP). Será pública condicionada quando (art. 145, parágrafo único, CP):
i) for praticada contra o Presidente da República ou contra Chefe de
DOS CRIMES Governo estrangeiro (sujeita-se à requisição do Ministro da Justiça); ii)
CONTRAA PESSOA for praticada contra funcionário público no exercício das suas funções
(sujeita-se à representação do ofendido); e iii) se a injúria consiste na
DOS CRIMES CONTRAAHONRA
utilização de elementos referentes a religião ou à condição de pessoa
idosa ou com deficiência (sujeita-se à representação do ofendido – art.
140, § 3º, c/c art. 145, parágrafo único – Lei n. 14.532/2023) . Por sua
vez, será pública incondicionada quando se tratar de injúria real com
lesão corporal (art. 140, § 2º, CP).
 (a) Causas de Aumento de Pena (art. 141, CP  1/3):

 I - contra o Presidente da República, ou contra chefe de governo


estrangeiro;
 II - contra funcionário público, em razão de suas funções, ou contra
os Presidentes do Senado Federal, da Câmara dos Deputados ou do
Supremo Tribunal Federal;
DOS CRIMES  III - na presença de várias pessoas, ou por meio que facilite a
CONTRAA PESSOA divulgação da calúnia, da difamação ou da injúria.
 IV - contra criança, adolescente, pessoa maior de 60 (sessenta)
DOS CRIMES CONTRAAHONRA anos ou pessoa com deficiência, exceto na hipótese prevista no § 3º
do art. 140 deste Código.
 § 1º - Se o crime é cometido mediante paga ou promessa de
recompensa, aplica-se a pena em dobro.
 § 2º Se o crime é cometido ou divulgado em quaisquer
modalidades das redes sociais da rede mundial de
computadores, aplica-se em triplo a pena.
 (b) Excludentes de ilicitude (art. 142, CP): incidem apenas na injúria e
na difamação.
i) ofensa em juízo (imunidade judiciária).
ii) opinião desfavorável da crítica (animus criticandi).
iii) conceito desfavorável emitido por funcionário público no
cumprimento de seu ofício (imunidade funcional).

DOS CRIMES  (c) Retratação (art. 143, CP): é possível até a sentença, mas apenas nos
CONTRAA PESSOA crimes de calúnia e difamação, pois estes dizem respeito a “fatos”. É
também chamada de “declaração da verdade”. A retratação é causa
DOS CRIMES CONTRAAHONRA excludente de culpabilidade, excluindo os efeitos penais (os cíveis
permanecem). Nos casos em que o querelado tenha praticado a calúnia
ou a difamação utilizando-se de meios de comunicação, a retratação
dar-se-á, se assim desejar o ofendido, pelos mesmos meios em que se
praticou a ofensa (Lei nº 13.188/2015)
 (d) Interpelação Judicial (art. 144, CP): é o pedido de explicações
formulado em Juízo pelo ofendido.
 (e) Divulgação de imagens depreciativas ou injuriosas à
pessoa do idoso: O art. 105 da Lei nº 10.741/03, que dispõe
sobre o Estatuto do Idoso, prevê uma pena de detenção de 1
DOS CRIMES
(um) a 3 (três) anos e multa para aquele que exibe ou veicula,
CONTRAA PESSOA
por qualquer meio de comunicação, informações ou imagens
DOS CRIMES CONTRAAHONRA depreciativas ou injuriosas à pessoa do idoso, ou seja, aquele
que, de acordo com o art. 1º do mencionado estatuto, tem idade
igual ou superior a 60 anos.
GONÇALVES, Victor. Direito
Penal Esquematizado. Parte
Especial. São Paulo: Sarava,
2011.
FGV - 2017 - OAB - Exame de Ordem Unificado - XXIII - Primeira Fase

Roberta, enquanto conversava com Robson, afirmou categoricamente que


presenciou quando Caio explorava jogo do bicho, no dia 03/03/2017. No
dia seguinte, Roberta contou para João que Caio era um “furtador”. Caio
toma conhecimento dos fatos, procura você na condição de advogado(a) e
nega tudo o que foi dito por Roberta, ressaltando que ela só queria atingir
sua honra. Nesse caso, deverá ser proposta queixa-crime, imputando a
Roberta a prática de

A - 1 crime de difamação e 1 crime de calúnia.


B - 1 crime de difamação e 1 crime de injúria.
C - 2 crimes de calúnia.

B D - 1 crime de calúnia e 1 crime de injúria.


 “ARGUIÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO
FUNDAMENTAL (ADPF). LEI DE IMPRENSA.
ADEQUAÇÃO DA AÇÃO. REGIME CONSTITUCIONAL DA
‘LIBERDADE DE INFORMAÇÃO JORNALÍSTICA’,
(f) A Questão da Lei de EXPRESSÃO SINÔNIMA DE LIBERDADE DE IMPRENSA.
Imprensa: No que diz respeito  A ‘plena’ liberdade de imprensa como categoria jurídica
ao fato de não ter sido a Lei de proibitiva de qualquer tipo de censura prévia. A plenitude da
Imprensa recepcionada pela liberdade de imprensa como reforço ou sobretutela das
nova ordem constitucional,
liberdades de manifestação do pensamento, de informação e de
assim decidiu o STF:
expressão artística, científica, intelectual e comunicacional.
Liberdades que dão conteúdo às relações de imprensa e que
se põem como superiores bens de personalidade e mais direta
emanação do princípio da dignidade da pessoa humana.
 O capítulo constitucional da comunicação social como segmento
prolongador das liberdades de manifestação do pensamento, de informação e
de expressão artística, científica, intelectual e comunicacional. Transpasse da
fundamentalidade dos direitos prolongados ao capítulo prolongador.
Ponderação diretamente constitucional entre blocos de bens de
STF. ADPF 130/ DF. Rel. personalidade: o bloco dos direitos que dão conteúdo à LIBERDADE
Min. Ayres Britto, DE IMPRENSA e o bloco dos DIREITOS À IMAGEM, HONRA,
INTIMIDADE E VIDA PRIVADA. Precedência do primeiro bloco.
Tribunal Pleno, julg. 30/ 4/ Incidência a posteriori do segundo bloco de direitos, para o efeito de
assegurar o direito de resposta e assentar responsabilidades penal, civil
2009, e administrativa, entre outras consequências do pleno gozo da liberdade
de imprensa. Peculiar fórmula constitucional de proteção a interesses
DJe. 6/ 11/ 2009 privados que, mesmo incidindo a posteriori, atua sobre as causas para inibir
abusos por parte da imprensa. Proporcionalidade entre liberdade de
imprensa e responsabilidade civil por danos morais e materiais a
terceiros. Relação de mútua causalidade entre liberdade de imprensa e
democracia. Relação de inerência entre pensamento crítico e imprensa livre.
 A imprensa como instância natural de formação
da opinião pública e como alternativa à versão
oficial dos fatos. Proibição de monopolizar ou
STF. ADPF 130/ DF. Rel. oligopolizar órgãos de imprensa como novo e
Min. Ayres Britto, autônomo fator de inibição de abusos. Núcleo da
Tribunal Pleno, julg. 30/ 4/ liberdade de imprensa e matérias apenas
2009, perifericamente de imprensa. Autorregulação e
DJe. 6/ 11/ 2009 regulação social da atividade de imprensa. Não
recepção em bloco da Lei nº 5.250/1967 pela
nova ordem constitucional. Efeitos jurídicos da
decisão. Procedência da ação”
Exercícios de
Fixação
(Ministério Público/SP — 78º concurso) Assinale a alternativa correta em relação aos seguintes
enunciados:I. Os crimes de calúnia e difamação consumam-se no momento em que a ofensa chega ao
conhecimento de terceiro, enquanto o crime de injúria consuma-se no momento em que a ofensa chega
ao conhecimento da vítima.II. Imputar falsamente ao proprietário de uma casa lotérica a prática diária
de jogo do bicho em seu estabelecimento comercial configura o crime de calúnia.III. A exceção da
verdade nos crimes contra a honra somente é admitida nos crimes de calúnia e nos crimes de injúria
cometidos contra funcionários públicos.

a) Nenhum dos enunciados é correto.


b) Somente os enunciados I e III são corretos.
c) Somente os enunciados II e III são corretos.
d) Somente os enunciados I e II são corretos.
e) Somente um dos enunciados é correto.

Resposta: “e”. Apenas o enunciado I está correto. O enunciado II está errado porque a imputação de
jogo do bicho constitui difamação, pois se trata de imputação de fato contravencional. O enunciado III
está errado porque não existe exceção da verdade na injúria.

Fonte: Gonçalves, Victor. Direito Penal Esquematizado. Parte Especial. São Paulo, Saraiva.
(Ministério Público/SP — 78º concurso) Assinale a alternativa correta em relação aos seguintes
enunciados:I. Os crimes de calúnia e difamação consumam-se no momento em que a ofensa chega ao
conhecimento de terceiro, enquanto o crime de injúria consuma-se no momento em que a ofensa chega
ao conhecimento da vítima.II. Imputar falsamente ao proprietário de uma casa lotérica a prática diária
de jogo do bicho em seu estabelecimento comercial configura o crime de calúnia.III. A exceção da
verdade nos crimes contra a honra somente é admitida nos crimes de calúnia e nos crimes de injúria
cometidos contra funcionários públicos.

a) Nenhum dos enunciados é correto.


b) Somente os enunciados I e III são corretos.
c) Somente os enunciados II e III são corretos.
d) Somente os enunciados I e II são corretos.
e) Somente um dos enunciados é correto.

Resposta: “e”. Apenas o enunciado I está correto. O enunciado II está errado porque a imputação de
jogo do bicho constitui difamação, pois se trata de imputação de fato contravencional. O enunciado III
está errado porque não existe exceção da verdade na injúria.

Fonte: Gonçalves, Victor. Direito Penal Esquematizado. Parte Especial. São Paulo, Saraiva.
(Delegado de Polícia/SP — 2001) A retratação não é cabível,
nos crimes de:
a) calúnia.
b) injúria.
c) difamação.
d) calúnia e injúria.

Resposta: “b”. De acordo com o art. 143 do Código Penal,


a retratação só gera efeito nos crimes de calúnia e
difamação.
Fonte: Gonçalves, Victor. Direito Penal Esquematizado.
Parte Especial. São Paulo, Saraiva.
(Magistratura Federal/3ª Região — 6º concurso) Nos crimes de calúnia, difamação e injúria, se o
ofendido é funcionário público e a ofensa é relativa ao exercício de suas funções:
a) admite-se, em qualquer caso, a exceção da verdade.
b) admite-se a exceção da verdade apenas no crime de calúnia.
c) admite-se a exceção da verdade nos crimes de calúnia e difamação.
d) admite-se a exceção da verdade no crime de injúria real, se o funcionário público, de forma
reprovável, provocou diretamente a ofensa.

Resposta: “c”. A exceção da verdade é cabível na calúnia


como regra e, na difamação, se for contra funcionário
público e a ofensa for feita em razão de suas funções.
Fonte: Gonçalves, Victor. Direito Penal Esquematizado.
Parte Especial. São Paulo, Saraiva.
(Magistratura Federal/1ª Região) Sobre os crimes contra a honra, assinale a alternativa correta:I. Não constitui
injúria a ofensa irrogada em juízo, na discussão da causa, pela parte ou por seu procurador.II. É possível a
retratação quando o Ministério Público ingressa com ação penal, após representação movida pelo funcionário
público, ofendido em razão das suas funções.III. Não constitui calúnia a opinião desfavorável emitida por
funcionário público, em apreciação ou informação que preste no cumprimento de dever de ofício.IV. Paulo está
sendo processado por Pedro pela prática do crime previsto no art. 161, inc. II, § 3º, do Código Penal, crime de ação
privada, com processo tramitando na 3ª Vara Criminal. Houve sentença condenatória de que recorreu Paulo, cujo
recurso ainda não foi julgado. Ocorre que Antonio, amigo de Pedro, afirmou em uma festa que Paulo havia
praticado o esbulho, tal como está no processo que ele responde. Paulo, indignado com essa afirmação, ingressou
com queixa-crime contra Antonio acusando-o da prática de calúnia. Nesse caso, Antonio pode promover exceção
da verdade.
a) Somente a I está correta.
b) A I e a IV estão corretas.
c) A II e a III estão corretas.
d) Somente a IV está correta.

Resposta: “a”. O enunciado II está errado porque a ação em andamento é pública e o art. 143 do Código Penal só admite a
retratação em crime de ação privada. O enunciado III está erra­do porque a excludente de ilicitude ali mencionada só existe para
os crimes de difamação­ e injúria (art. 142, III). Por fim, o enunciado IV contém erro porque a exceção da verdade só é possível
após o trânsito em julgado de sentença condenatória (art. 138, § 3º, I).
Fonte: Gonçalves, Victor. Direito Penal Esquematizado. Parte Especial. São Paulo, Saraiva.
(Ministério Público/SP — 82º concurso) Leia atentamente os enunciados abaixo.
I. Admite-se exceção da verdade na difamação, se o ofendido é funcionário público e a ofensa é relativa ao
exercício de suas funções.
II. É admitido perdão judicial em caso de difamação.
III. Na difamação e na calúnia há ofensa à honra subjetiva e, na injúria, à honra objetiva.
IV. Não se possibilita arguição de exceção da verdade na hipótese de injúria.
V. A lei prevê que é punível a difamação da memória dos mortos.
Tendo em vista o que estabelece o Código Penal, pode-se afirmar que:

a) Os enunciados I e IV são incorretos.


b) Somente os enunciados II e V são corretos.
c) Somente o enunciado III é correto.
d) Todos os enunciados são corretos.
e) Os enunciados II, III e V são incorretos.

Resposta: “e”. O enunciado II está errado porque o perdão judicial só existe


na injúria. No enunciado III o erro está na inversão das afirmações. O
enunciado V está errado porque só se pune a calúnia contra os mortos.
Fonte: Gonçalves, Victor. Direito Penal Esquematizado. Parte Especial. São
Paulo, Saraiva.
(Delegado de Polícia/SP — 2003) Quanto aos crimes contra a honra, podemos afirmar:
a) não se pune a calúnia contra os mortos;
b) se, antes da sentença, o querelado se retratar cabalmente da injúria proferida, ficará isento de pena;
c) admite-se a exceção da verdade na difamação, se o ofendido for funcionário público e a ofensa for
relativa a suas funções;
d) as penas cominadas serão aumentadas de um terço, se o crime for praticado contra o Presidente da
República ou contra o Governador de algum dos Estados brasileiros.

Resposta: “c”. Todas as demais alternativas possuem informações incorretas.


Fonte: Gonçalves, Victor. Direito Penal Esquematizado. Parte Especial. São
Paulo, Saraiva.
(Delegado de Polícia/SP — 2008) Agente que, perante uma autoridade policial, declara,
mentirosamente, que sua colega de trabalho, casada, honesta, cometeu adultério consigo durante
recente viagem conjunta a serviço, pratica o crime de:
a) calúnia.
b) difamação.
c) autoacusação falsa.
d) falsa comunicação de crime.
e) denunciação caluniosa.

Resposta: “b”. A imputação de adultério, desde a Lei n. 11.0106/2005, não constitui imputação
de crime, pois referida lei revogou tal ilícito penal. Assim, inviável a tipificação como calúnia ou
denunciação caluniosa. O fato narrado, contudo, é ofensivo à reputação da vítima, configurando
crime de difamação.
Fonte: Gonçalves, Victor. Direito Penal Esquematizado. Parte Especial. São Paulo, Saraiva.
(Magistratura/SP — 2013) A, perante várias pessoas, afirmou falsamente que B, funcionário público
aposentado, explorava a atividade ilícita do jogo do bicho, quando exercia as funções públicas. Ante a
imputação falsa, é correto afirmar que A cometeu o crime de
a) difamação, não se admitindo a exceção da verdade.
b) calúnia, admitindo-se a exceção da verdade.
c) calúnia, não se admitindo a exceção da verdade.
d) difamação, admitindo-se a exceção da verdade.

Resposta: “a”. A imputação de fato definido como contravenção penal configura difamação. Não
é cabível a exceção da verdade, pois a vítima não era mais funcionária pública no momento da
ofensa.
Fonte: Gonçalves, Victor. Direito Penal Esquematizado. Parte Especial. São Paulo, Saraiva.

Você também pode gostar