Você está na página 1de 10

Cadeira: Direito Penal I

Regente: Paulo Sousa Mendes

Bibliografia:

- Código Penal comentado, Pinto de Albuquerque;

- Direito Criminal, Eduardo Correia;

- Lições de Direito Penal, Cavaleiro de Ferreira;

- Figueiredo Dias (muito utilizado, até pela jurisprudência);

- Taipa de Carvalho;

- Augusto Silva Dias (livro de homenagem com participação do regente)


Aula nº2 – 16/09/2022

Definição formal de Direito Penal – é abstrata e genérica, mas não universal


(conceção que se aproxima da conceção romano-germânica, que se expandiu);

– é um ramo de Direito que associa a imputação de factos descritos na lei


como crimes (num sentido amplo) a certas consequências jurídicas e
exclusivas do ramo: as penas criminais, desde que fique demonstrada a culpa
do imputado; ou então que associa à imputação dos factos descritos nas leis
medidas de segurança quando, não demonstrada a culpa, ainda assim
demonstrada a perigosidade do imputado;

Nota: tratando-se de uma medida de segurança privativa de liberdade, esta


destina-se a inimputáveis, ou seja, pessoas que não podem ter culpa (p.e.
internamento – 91.º/1 CP; 501.º ss. CPP; Lei 36/98)

- Diz-se que não é universal porque o Direito Penal resulta da imputação de


factos descritos na lei, o que não é possível nos países com base no common
law, o direito que não está necessariamente legislado, ainda que nesses países
exista muita legislação que descreve crimes (ex.: EUA)

Definição formal de crime – é um conceito que antecede todas as fontes


deste Direito (no nosso, caso as fontes legisladas), tendo de ser abstrata e
genérica;

- segundo o regente, esta definição não é científica, não é normativa, não tem
força jurídica, mas sim heurística e instrumental, que ajuda a organizar as
categorias a aplicar aos casos da vida num dado ordenamento, com uma base
ético-política;

- existem dois modelos de definição formal de crime: um para o direito de


origem romano-germânica e outro para o common law - definição formal de
crime no quadro da teoria da infração criminal, de origem alemã =/ Teoria da
ofensa criminal, de origem inglesa
Definição formal de crime alemã – ação antijurídica, culposa e punível –
antijuridicidade é visto como um facto ilícito objetivo e culpabilidade é visto
como a parte subjetiva (no sentido psicológico) > outro autor, em 1906,
adicionou um quarto elemento: a tipicidade, que facilitou a conceção, porque
permitia que, olhando para a ação típica, se descrevesse o facto de uma forma
neutra e objetiva, tendo os juízos de valor indo para a ilicitude e a subjetividade
para a culpa > em 1930, o mesmo autor aperfeiçoou a sua definição – o crime
passou a ser uma ação típica, ilícita, culposa e, eventualmente, punível (têm de
se reunir condições de punibilidade, porque o crime pode não ser punível, não
obstante já ocorrer) – nota: estes 3 ou 4 requisitos são os que o professor
segue

Nota: a definição de crime relacionada com o direito alemão, que é a seguida


em Portugal, olha apenas para o Direito Penal material, colocando de parte a
parte processual (como é caso a prova) =/ no common law, a conceção de
crime é muito mais processual

Definição formal de crime inglesa – a ofensa criminal (ação típica) tem dois
elementos: o facto objetivo, ou seja, a ação do impugnado; e a sua atitude
mental. Do outro lado, temos as defesas, o que indica que ocorre no processo,
que podem ser de várias naturezas: impugnação de factos; defesas por
exceção, etc.;

Tem uma base processual e organiza o crime entre o modelo da ofensa e da


defesa (tem sido cada vez mais seguido, porque efetivamente há um modelo
dos dois lados)
Aula nº 3 - 19/09/2022

Questão: determinar a responsabilidade criminal dos intervenientes, de acordo


com os factos meramente estipulados no enunciado. Não são admitidas sub-
hipoteses “ah e se…”: tem de estar provado. Só são admitidas alternativas
doutrinárias ou jurisprudenciais sobre a resolução concreta, optando-se no fim
qual a que será escolhida (apresentar sempre duas ou três) = leitura +
esquema:

 Definição formal de crime tripartida: típica, ilícita e culposa (punível está


fora), tendo de se verificar se estas elementos estão inseridos na ação.
A tipicidade significa verificar, positivamente, se existe uma ação
naquele espaço de tempo, que indicie alguma coisa ilícita e culposa.
Quanto à ilicitude, terá de se verificar se existem faltas de causas para
justificar o facto (= exclusão de ilicitude). Por fim, a culpa abrange,
também, a verificação de exclusão de culpa. A punibilidade pode ser
excluída ou isenta.

TIPICIDADE (10º a 39º): terá de se determinar o tipo legal de crime (concurso


de normas), onde esse tipo pode ter elementos subjetivos ou objetivos. Ex:
homicídio (131º) e ofensa à integridade física aparece no mesmo caso
(determina-se um), de dentro desse ramo escolhe-se o concreto.

Os elementos do tipo objetivos correspondem ao agente (“quem/o


funcionário”), que se pode dividir em crime comum ou específico, onde este
último pode ser próprio ou impróprio, à conduta do agente (mão própria, mera
atividade, resultado, forma livre e forma vinculada), características do objeto da
ação (coisa móvel ou imóvel, própria ou alheia, de valor elevado ou diminuto:
202º a 204º CP), identificação de crime por ação ou omissão (própria ou
imprópria – 10º CP, causalidade hipotética), caso o resultado não seja
consumido, tentativa (não consumação, execução, inidónea ou impossível,
negligência).

Nota: se o crime for de resultado, tem de preencher o resultado típico, o nexo


de causalidade e de imputação objetiva.
Os elementos do tipo subjetivos são o intelectual, onde se pode incluir o erro
(16º/1 CP), e o volitivo, ou seja, dolo (direito, necessário, eventual), sem
prejuízo dos especiais de ilicitude, como a intenção de apropriação no furto. Tal
não esquecendo que ainda existe a negligência (consciente ou inconsciente).

Por outro lado, ainda termos a autoria ou a comparticipação no crime: autoria


imediata, mediata ou coautoria.

ILICITUDE: as causas de exclusão, legalmente previstas, são a legítima


defesa, o direito de necessidade, o conflito de deveres e o consentimento do
ofendido ou presumido. Por outro lado, temos ainda a ação direta, direito de
retenção, colisão de direito (ordenamento jurídico no global e não concreto no
penal), ou causas supralegais. Após a eventual identificação de uma causa de
exclusão, terá de se verificar os pressupostos da mesma, já que pode estar em
causa um erro.

CULPA: avaliar a exclusão, nomeadamente, a inimputabilidade (idade ou


anomalia psíquica), falta de consciência de ilicitude (17º CP, diferente do erro
do artigo 16º/1/parte final) e causas de desculpa (medo, etc.).

PUNIBILIDADE: avaliar as faltas de exclusão, como rixas, causas pessoas de


isenção (imunidade diplomática) ou material (desistência e arrependimento) ou
responsabilidade.

CONCURSO DE CRIME: especialidade, subsidiariedade ou consumpção;


crime continuado.
Aula nº4 – 23/09/2022

Conceito material de crime

Existem 5 teorias:

- Teoria do bem jurídico

- Teoria do dano (princípio da ofensividade)

- Teoria funcionalista (segundo o professor, a visão que prevalece no DUE)

- Teoria democrática mitigada pela proporcionalidade

- Teoria moralista

Nota: em Portugal, a maioria da doutrina segue a teoria do bem jurídico, pelo


que não existe uma discussão tão óbvia

Entre a Teoria do Bem Jurídico e o Princípio da Ofensividade existem elos de


ligação: ambas afastam aspetos da vida privada como forma de criminalização,
permitindo uma base objetiva de criminalização que respeitassem a vida
privada de todos, desde que não interferissem com a vida dos outros

Teoria do Bem Jurídico

A Teoria do Bem Jurídico surgiu na Alemanha, no séc. XIX, e opôs-se à teoria


anterior, que dizia que a base da criminalização assentava em ofensas a
direitos subjetivos, o que levantava o problema de criminalizar ações que não
comportassem a lesão de direitos subjetivos – seriam considerados apenas
delitos de polícia, não ações que se enquadrassem no Direito Penal =/ era
incomportável não existir criminalização de bens supra individuais (porque
existia sempre um portador individual do direito que estava a ser violado).
Bindi, autor alemão, vai falar de bens jurídicos como as realidades que o
legislador decidiria valorizar como invioláveis e enquadráveis no Direito Penal,
devendo decidir o que era crime e que penas lhe responderiam.

Pelo contrário, para Von Liest, austríaco, os bens jurídicos não deveriam ser
determinados pelo legislador, ou seja, a noção material de crime não deveria
caber ao legislador, mas deveria ser retirada dos interesses vitais individuais ou
da sociedade.

Ainda que com visões diferentes do bem jurídico, os dois autores consideram-
se defensores desta teoria.

A Teoria do Bem Jurídico começou a ser considerada liberal na época da


ascensão do Nacional Socialismo, em que os seus apoiantes e líder
começaram a atacar a teoria – isto ocorria porque, para o Direito Penal alemão
autoritário, o que era relevante para determinar a criminalização era a vontade
do povo e a vontade do führer que manifestava a vontade do povo

Nota: a Teoria do Bem Jurídico não sobrevaloriza a liberdade individual em


relação a bens supra individuais, o que faz é colocar tudo ao mesmo nível

Evolução da teoria – teve de se tornar mais abrangente para conseguir abarcar


no mesmo conceito bens que têm natureza tão diferente (isto porque,
atualmente, são criminalizadas situações muito distintas e pouco tangíveis)

A Teoria do Bem Jurídico tem uma capacidade de rendimento para se


conseguir determinar se um facto é crime ou não?

Há um binómio que é o merecimento penal, ou seja, olhar para um interesse e


determinar se é digno de proteção penal E a necessidade penal, ou seja,
perceber se se tem de recorrer ao Direito Penal, já que este é de última ratio –
deve avaliar-se sempre uma atuação como crime ou não crime desta forma.
A Teoria parece só olhar para a primeira parte – ex.: o cartel em Portugal é
uma contraordenação, mas no Brasil é crime > consigo com esta teoria
determinar se deve ser criminalizado ou não? > é fácil dizer que há
merecimento penal, porque há várias normas de proteção de concorrência >
mas é mais difícil dizer se é necessário que seja crime, algo ao qual a Teoria
não consegue responder

METER AS AULAS

10/10/2022

Fins das penas e o sistema de determinação judicial de pena

Fins Das Penas

Platão:

Encontramos na sua obra, as teorias preventivas (relativas- relacionado com 0o


fim que se quer alcançar), e as teorias retributivas (absolutas- não visam obter
um objetivo futuro, mas sim para punir o passado).

teorias preventivas:

 baseia-se na ideia de prevenção geral e de prevenção individual (do


deliquente).
 Era uma intervenção negativa, já que o objetivo era que outros e o
próprio não voltassem a cometer

teorias retributivas

 A segunda é aplicada pela culpa.

Kant:

Teoria retributiva moderna:


 Segue o imperativo categórico de justiça,l isto é, as penas são aplicadas
para serem cumpridas, não tendo utilidade social

Hegel:

Teoria retributiva moderna:

 Tese (norma)- antítese (violação da norma)- síntese (reafirmação do


direito através da pena

Cesare Beccaria:

O primeiro representante das teorias preventivas modernas:

 O fim das penas não é “castigar”, mas apenas impedir que o reu cause
novos danos a outros e demover outros cidadão de agir desse modo

Feuerbach

Teorias preventivas gerais modernas

 Teoria da coação psicológica- ideia de que a pena serve para impedir o


cidadão que queira fazer x, através da ameaça de uma pena tão
gravosa que o vai querer impedir
 Negativa; intimidação

Cesare Lombroso

Teoria preventiva especial moderna

 Positivista cientifico
 Afirmava que os criminosos tinham características inerentes, que
determinavam se eram criminosos natos ou boas pessoas.

Franz Von Liszt

Teoria preventiva especial moderna

 Defendia que a missão da pena era contrariar futuros crimes


(utilitarismo)
 Defendia uma diferenciação tendo em conta o tipo de delinquente
(neutralização do delinquente habitual; intimidação do delinquente
ocasianal)

Evoluçaõ Historica Geral

Você também pode gostar