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Margaret Mead
Funcionalismo
Friedan demonstra que, sobre esse disfarce científico do funcionalismo, criou-se o que
ela chama de “protesto feminino”. Pessoas de ambos os sexos manifestavam-se contra
a igualdade sexual como forma de proteger a mulher deste “malefício”, por meio de
teorias freudianas, da antropologia cultural e do funcionalismo.
Citando C. P. Snow, Betty afirma que a ciência volta-se para o futuro, entretanto, a
ciência social, sob a ótica funcionalista, tornara-se escrava do presente, da explicação
dos fenômenos sem análise crítica, visando uma verdade mais profunda, tornando o
que é em deveria ser. O funcionalismo reduziu, assim, as capacidades femininas,
defendendo que o que define a mulher é a sociedade.
Porém, Betty Friedan explicita que o funcionalismo perdeu força como pensamento
científico dentro do próprio campo atualmente, citando Kingsley Davis:
"Durante mais de trinta anos a "análise funcional" vem sendo debatida entre
sociólogos e antropólogos... Por mais estratégica que tenha sido no passado,
tornou-se agora mais um empecilho que um impulso ao progresso científico...
A afirmação de que o funcionalismo não pode realizar transformações sociais
porque supõe uma sociedade estática integrada é verdadeira por definição..."
Margaret Mead
Ela cita Margaret Mead, então, como uma das propagadoras intelectuais dessa visão.
Mead defende, em Marriage for Woman Moderns (Casamento ara a Mulher
Moderna), uma visão complementar do casamento:
“Os sexos são complementares. E' o mecanismo do relógio que move os
ponteiros e me permite ver as horas. Serão os mecanismos mais importantes
que o mostrador? ... Nenhum dos dois é superior, nem inferior. Cada qual deve
ser julgado em termos de suas funções. Juntos formam uma unidade em
funcionamento. Cada qual isolado é, de certo modo, incompleto. São
complementares... Quando o homem e a mulher se dedicam às mesmas
ocupações, ou executam funções comuns, o relacionamento complementar
talvez se rompa.”
Este livro era ensinado nas escolas. Tal livro apresenta a visão de que a conciliação da
profissão com o casamento, geralmente, é difícil, ou seja, se uma mulher trabalhar,
provavelmente não casará. Assim, define quais serão os papéis das mulheres enquanto
mães, esposas e donas de casa, sob o viés funcionalista e complementarista.
Para Friedan, Margaret foi um paradoxo. Esta importante intelectual possuía tanta
relevância e influência para as mulheres de seu tempo e do passado. Ela conseguia
apresentar uma visão emancipatória da mulher, as quais abordara em uma obra sobre
três sociedades primitivas: Arapesh, Mundugumor e a Tchambulli. Ela aborda a
igualdade sexual e a liberdade das mulheres em uma sociedade livre de preconceitos.
Contudo, não é essa a visão que perdurou na autora, nem influenciou a mística
feminina. Friedan afirma que
Betty cita Male and Female (Macho e fêmea) como pedra angular da mística feminina.
A obra traz a importância das diferenças sexuais para a sociedade e cultura, sendo que
todo tipo de civilização possuía essas distinções entre os gêneros. Na obra,
influenciada pela visão freudiana, Margaret consegue fundamentar visões sobre o
homem e a mulher a partir de uma perspectiva dos papéis na reprodução sexual,
perpetuando a ideia de que "anatomia é destino".
Betty Friedan cita também a obra sobre as sociedades primitivas como uma forma de
reduzir as discussões sobre os dilemas da mulher moderna à respostas encontradas
em culturas antigas, totalmente distintas da sua. Margaret, ao ver de Friedan, baseou
neles seus preconceitos contra a emancipação feminina, ao invés de usá-los como um
propulsor para a evolução da mulher.
Apesar disso, Betty Friedan relata que a americana deveria não ouvir os escritos dessa
socióloga, mas seguir o seu exemplo de vida. Mead foi uma mulher contestadora, que
não se submeteu a imagem da mulher dos seus tempos, penetrando espaços vistos
como masculinos, contribuindo para o conhecimento científico. Ela colocou em cheque
a visão degradante da mulher, afirmando a singularidade do sexo feminino e não um
homem que falta algo, como na visão de Freud. Porém, ao ser influenciada por ele,
defendeu a mística feminina, os velhos papéis das mulheres, a partir de uma visão da
reprodução sexual.
A autora vê a grande obra da socióloga como algo complexo, que revela uma mulher
que luta contra os dilemas que o seu sexo sofre, entretanto confusa e insegura. Conta
que, na década de 60, Margaret começou a questionar o retorno das mulheres a vida
doméstica, enquanto o mundo se desenvolvia tecnologicamente. A própria Margaret
foi beneficiada pelos direitos da mulher, como também seus antepassados. Sua vida
tornou-se assim num protesto contra a dita visão ultrapassada do seu sexo.
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