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Tema: Grandeza humana

Blaise Pascal. Pensamentos. São Paulo: Abril.


146, 339, 347, 348, 365, 397, 398, 399, 416 e 418

146. O homem é visivelmente feito para pensar; é toda a sua dignidade e todo o
seu mérito; e todo o seu dever consiste em pensar corretamente. Ora, a ordem do
pensamento é de começar por si, e pelo seu autor e sua finalidade.
Ora, em que pensa o mundo? Apenas em dançar, em tocar alaúde, em cantar, em
fazer versos, em jogar argolinhas, etc ... em bater-se, em tornar-se rei, sem pensar o que
é. ser rei, e o que é ser homem.

339. Posso conceber um homem sem mãos, pés, cabeça (pois só a experiência
nos ensina que a cabeça é mais necessária do que os pés); mas não posso conceber o
homem sem pensamento: seria uma pedra ou um animal.

347. O homem não passa de um caniço, o mais fraco da natureza, mas é um


caniço pensante. Não é preciso que o universo inteiro se arme para esmagá-lo: um
vapor, uma gota de água, bastam para matá-lo. Mas, mesmo que o universo o
esmagasse, o homem seria ainda mais nobre do que quem o mata, porque sabe que
morre e a vantagem que o universo tem sobre ele; o universo desconhece tudo isso.
Toda a nossa dignidade consiste, pois, no pensamento. Daí é que é preciso nos
elevarmos, e não do espaço e da duração, que não poderíamos preencher. Trabalhemos,
pois, para bem pensar; eis o princípio da moral.

348. Caniço pensante - Não é no espaço que devo buscar minha dignidade, mas
na ordenação de meu pensamento. Não terei mais, possuindo terras; pelo espaço, o
universo me abarca e traga como um ponto; pelo pensamento, eu o abarco.

365. Pensamento - Toda a dignidade do homem está no pensamento.


O pensamento é, pois, uma coisa admirável e incomparável por natureza. Fora
preciso que tivesse estranhos defeitos para ser desprezível. Mas tem tais que nada é
mais ridículo.
Como é grande por sua natureza! Como é baixo por seus defeitos!
Mas que é esse pensamento? Como é tolo!

397. A grandeza do homem é grande na medida em que ele se conhece


miserável. Uma árvore não sabe que é miserável. É, pois, ser miserável conhecer- se
miserável; mas é ser grande saber que se é miserável.

398. Todas essas misérias provam sua grandeza. São misérias de grande senhor,
misérias de rei destronado.

399. Não se é miserável sem sentimento. Uma casa em ruínas não o é. Só o


homem é miserável. Ego vir videns.

416. Grandeza e miséria - Como a miséria se infere da grandeza, e a grandeza


da miséria, uns concluíram pela miséria, tanto mais quanto por prova tomaram a
grandeza e como outros concluíram pela grandeza, com tanto mais força quanto
concluíram da própria miséria, tudo o que os primeiros puderam dizer para mostrar a
grandeza só serviu de argumento aos segundos para concluir pela miséria, pois somos
tanto mais miseráveis quanto de mais alto caímos; e outros, ao contrário. Foram levados
uns contra os outros por um círculo sem fim: sendo certo que, à medida que os homens
se esclarecem, tanto acham grandeza como miséria no homem. Numa palavra, o homem
sabe que é miserável. Ele é, pois, miserável, de vez que o é; mas é bem " ~ grande, de
vez que o sabe.

418. É perigoso fazer ver demais ao homem quanto ele é igual aos animais, sem
lhe mostrar a sua grandeza. É ainda perigoso fazer-lhe ver demais a sua grandeza sem a
sua baixeza. É ainda mais perigoso deixá-lo ignorar uma e outra. Mas é muito vantajoso
representar-lhe ambas.

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