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INTRODUÇÃO

Tendo em vista a vasta gama elaborativa do campo psicanalítico sobre a temática da


sexualidade, busco através do seguinte ensaio, apresentar e problematizar a questão
concernente ao feminino desenvolvida na psicanálise, em particular, na obra freudiana.
Faz-se necessário, portanto, uma breve exposição e delimitação da temática em questão.
Como afirma Maria Rita Kehl:

“Ao longo de sua vida e na medida em que desenvolvia, baseado na observação


clínica, sua teoria sobre a feminilidade e a sexualidade feminina, Freud não reformulou
fundamentalmente sua concepção sobre o que deveria ser uma mulher. É verdade que
foi ele quem nos alertou para o fato de que não existe alguém que seja desde a origem,
homem ou mulher. Na teoria freudiana se todo homem fica devendo alguma coisa ao
falo que, espera-se, seja capaz de sustentar, também não existe mulher para quem a
"condição feminina" não signifique uma derrota de outras pretensões.” (KEHL, p. 183)

O denominado continente negro, a feminilidade assume o caráter de um enigma para o


pai da psicanálise,como expresso em uma de suas perguntas chave: O que quer uma mulher ?

Em continuidade, tomo como foco a conferência realizada por Freud em 1933, A


feminilidade. Nessa exposição o autor recorre a referência ao saber anatômico-biológico na
definição da divisão entre masculino e feminino: “Masculino é o produto sexual masculino, o
espermatozóide e seus veículos; feminino é o óvulo e o organismo que o abriga”(FREUD,
p.315, conferência). No entanto, também é retratado através desse conhecimento científico “o
fato de que partes do aparelho sexual masculino também são encontrados no corpo da mulher,
ainda que em estado atrofiado, e o mesmo ocorre no outro caso”(FREUD, p.315,
conferência). Elabora-se, portanto, o “tornar-se mulher”. A concepção do desenvolvimento da
menina é feita como uma noção variante do modelo utilizado para o menino, como é
insinuado no texto de 1925, Algumas consequências psíquicas da distinção anatômica entre
os sexos: “Quando investigamos as primeiras formações psíquicas da vida sexual na criança,
tomamos geralmente como objeto a criança do sexo masculino, o menininho. Achávamos que
no caso da menininha tinha de ser semelhante, mesmo que diferente de alguma maneira.”
(FREUD,p.261). Propõe-se, em continuidade, a distinção referente as articulações entres os
complexos de castração e Édipo nos diferentes sexos. No menino, o complexo de castração se
dá posteriormente ao Édipo, esse sendo abandonado em virtude da angústia de castração. Em
contrapartida, na menina, Freud descreve como:

“O complexo de castração prepara o complexo de Édipo em vez de destruí-lo;


através da influência da inveja do pênis a menina é pressionada a desfazer a ligação
com a mãe e entra na situação do Édipo como se essa fosse um porto seguro.” (FREUD,
p.334-335).
Destaca-se, a relação instituída com o pênis, definida como inveja, sendo de enorme
importância na construção teórica apresentada, tendo em vista que a menina estaria, para
Freud, desde sempre castrada.

Nota-se, por fim, a questão da duplicidade, atividade/passividade, o autor


desaconselha a atribuição direta maculino/ativo e feminino/passivo, mas autoriza a
associação de preferência da feminilidade pela passividade.

DESENVOLVIMENTO

Dentre o exposto, faz-se necessário refletir sobre os parâmetros que servem de base
para a constituição da feminilidade no pensamento de Freud. Ao meu ver, o modelo do sexo
único teria enorme influênciado na malha conceitual do autor. Tendo em vista o primeiro,
possuindo como referência o anatomista Galeno, se trata de: “um mundo onde pelo menos
dois gêneros correspondem a apenas um sexo, onde as fronteiras entre masculino e
feminino são de grau e não de espécie, e onde os órgãos reprodutivos são apenas um
sinal entre muitos do lugar do corpo em uma ordem cósmica e cultural que transcende a
biologia.” (LAQUEUR, p.41).

Observa-se a permanência do modelo antigo no discurso médico a partir do próprio


Freud que bebe da fonte e é representante da anatomia de sua época, enaltecendo a distinção
masculino/feminino como fator crucial no conhecimento de um ser humano, mas ainda assim
retomando as noções de Galeno.

A transposição de órgãos sexuais em termos de equivalência parece ser uma herança


de Galeno na psicanálise. Como podemos notar na comparação, por vezes, empregada por
Freud aos atos onanistas infantis do menino com seu pênis e da menina com seu clitóris.
Penso que ao endossar tal concepção, faz-se mais uma vez o acesso ao dito feminino pela via
do masculino, subjuga-se e se limita, portanto, é mais um passo dado a um novo corredor de
um labirinto conceitual a muito tempo adentrado.

Como bem assinala Judith Butler: “Produção do sexo como pré-discurso deve ser
compreendida como efeito do aparato de construção cultural que designamos por gênero”.
(BUTLER, 2003, p.28) Destaco tal citação no intuito de ressaltar enquanto crítica a
constituição ou manutenção de categorias que asseguram dinâmicas de poder e discursos já
estabelecidos. Freud assegura que não é lícito a equivalência ativo/passivo e
masculino/feminino, todavia, sustenta um preceito de preferência, segundo o qual a própria
noção de metas passivas como uma extensão da função sexual para outros campos da vida,
figura atribuições e concepções culturalmente arraigadas e situadas.
CONCLUSÃO

Termino meu ensaio, atestando tais pontos referentes às limitações do modelo em questão, no
entanto reconhecendo o contexto e a influência dos discursos da época para o autor. Freud
pode avançar muito, mas para que possamos continuar a avançar possam se faz necessário a
crítica.

Nesse mundo, a vagina é vista como um pênis interno, os lábios como o prepúcio,
o útero como o escroto e os ovários como os tescículos. O letrado Galeno
citava as dissecações de Herófilo, o anatomista de Alexandria do século III
a.C., para respaldar sua?firrnação de que_a mulher tem tescículos com canais
seminais muito semelhantes aos do homem, um de cada lacto cto útero, com a
Aiferença que os do homem-são coni:idos no escróto e os da mulher não.

Desenvolvimento
.falar do modelo dos dois sexos, os produtos do masculino diferente do feminino e os
caracteres secundários. Também sobre o modelo do sexo único - órgão atrofiados de um
sexo no outro (LAQUEUR)
.Limitação das categorias binárias e concessões teóricas (homem com feminino e mulher
com masculino - questionamento quanto ao caráter definidor do masculino e do feminino)
.Lembrar da crítica lacaniana - O que quer uma mulher, mas ainda não se limitar a isso
.A referência do masculino para pensar o feminino, inveja do pênis.
. Karen Horne, talvez

A cultura européia dos séculos XVIII e XDC produziu uma quantidade inédita de discursos
cujo sentido geral foi o de promover uma perfeita adequação entre as mulheres e o conjunto
de atributos, funções, predicados e restrições denominado feminilidade-; A idéia de ',. ..·' 48
A constituição da feminilidade no século XIX que as mulheres formariam um conjunto de
sujeitos definidos a partir de sua natureza, ou seja, da anatomia e suas vicissitudes,
aparece nesses discursos em aparente contradição com outra idéia, bastante corrente, de
que a "natureza feminina" precisaria ser domada pela sociedade e pela educação para que
as mulheres pudessem cumprir o destino ao qual estariam naturalmente designadas. A
feminilidade aparece aqu~ como o conjunto de atributos próprios a todas as mulheres, cm
função das particularidades de seus corpos e de sua capacidade procriadora; a partir daí,
atribui-se às mulheres um pendor definido para ocupar um único lugar socia

A histeria é a "salvação das mulheres" justamente porque é a expressão (possível) da


experiência das mulheres, em um período em que os ideais tradicionais de
feminilidade (ideais produzidos a partir das necessidades da nova ordem familiar
burguesa) entraram em profundo desacordo com as recentes aspirações de algumas
dessas mulheres enquanto sujeitos. p 182 (p.175)

A recusa das histéricas em aceitar a feminilidade como modelo de subjetivação e de


sexuação deve ter criado uma crise para o próprio Freud, uma vez que - como
veremos na leitura de suas cartas à noiva Marta Bemays - também ele compartilhava
do "ideal admirável a que a natureza destinou as mulheres"

Ao longo de sua vida e na medida em que desenvolvia, baseado na observação


clínica, sua teoria sobre a feminilidade e a sexualidade feminina, Freud não
reformulou fundamentalmente sua concepção sobre o que deveria ser uma mulher. É
verdade que foi ele quem nos alertou para o fato de que não existe alguém que seja
desde a origem, homem ou mulher. Na teoria freudiana se todo homem fica devendo
alguma coisa ao falo que, espera-se, seja capaz de sustentar, também não existe
mulher para quem a "condição feminina" não signifique uma derrota de outras
pretensões.

As teses freudianas sobre a mulher e sua sexualidade são tributárias de


uma determinada concepção sobre o feminino, elaborada na aurora da
modernidade europeia, que marcou as sociedades ocidentais. Concepção
que Freud adotou de início, mas que problematizou ao longo de seu
percurso, na medida em que sua experiência clínica apontava os
impasses resultantes do confronto entre essa concepção e as aspirações
e desejos das mulheres em suas vidas.

INTRODUÇÃO

.INVEJA DO PÊNIS COMO FATOR CRUCIAL - castração e Édipo


.A noção de feminino realiza-se a partir da distinção masculino/feminino. Falar da
diferenciação sexual na obra freudiana.
.Na conferência sobre o feminino, fala do desenvolvimento afetivo de modo indiscriminado.

.Para elaborar sua teoria, Freud endossa o discurso anatômico-biológico.Utiliza a


observação biológica para sustentar interpretações sobre o caráter
psicológico-comportamental dos indivíduos
.Quebra da noção de atividade e passividade para o masculino e feminino.
.A menina passa da fase masculina para a feminina
.BIRMAN - Diferenciação da mulher, feminino, histeria e etc.
.Bissexualidade
.O que Freud busca dar conta?
.A questão da sedução na sexualidade feminina
.As histéricas - importante para pensar a psicanálise
AULAS TÓPICOS II

Pasta do drive:
https://drive.google.com/drive/u/0/folders/0B_3iea9RjLT-fnVkdG1xcjJiX0pMei1FdldSWHlNZ3ZxTVIw
dlMxM08wMVJqRTRRVXhMWkE

(AULA 1)
29.01
https://drive.google.com/file/d/1VysR4nZvXrIapCLig4te70wRPdUU_HFB/view?usp=sharing

(AULA 2) A invenção da diferença sexual - modelo sexo único


03.02
https://drive.google.com/file/d/1GtWj9efbgJLsz7dt9YGLFTiXMu5wet4n/view?usp=sharing
(AULA 3) A invenção da diferença sexual - modelo dois sexos
10.02
https://drive.google.com/file/d/1LTpbCpZ4DT7E0-LP4_6XsmkFLzcYf4Ra/view?usp=sharing

(AULA 4)
24.02

(AULA 5) Sexo e sexualidade: uma construção histórica I


03.03
https://drive.google.com/file/d/1Bcht4wO_yz7Tond3vaCIHTM7H6EOuJHH/view?usp=sharing

(AULA 6) A cartografia dos gêneros na obra Freudiana I


10.03
https://drive.google.com/drive/u/2/folders/1fOojor896QIDcNUSGNzJjfz5VAR9K5AO

(AULA 7) A cartografia dos gêneros na obra Freudiana II


17.03
https://drive.google.com/file/d/1ata0yW_BD-2sc-jMaVqEfKiuCZSg5mSv/view?usp=sharing

(AULA 8) A cartografia dos gêneros na obra Freudiana III


24.03
https://drive.google.com/file/d/189nan9KERQO8bhuOAoMbVbFyuWmV1r8G/view?usp=sharing

(AULA 9) A cartografia dos gêneros na obra Freudiana IV


31.03
https://drive.google.com/file/d/1s_IV9s15ZyFTJpUzqeQc_un0kD3UUV46/view?usp=sharing

(AULA 10) A cartografia dos gêneros na obra Freudiana V


07.04
https://drive.google.com/file/d/1IJb4V83JaEBXXzRk1oFW170tUSUCY-uY/view?usp=sharing

(AULA 11) As multiplas faces da Homossexualidade na obra Freudiana I


14.04

.4 páginas com capa e referências (meta pessoal - 3 páginas)


.Utilizar Judith Buttler
.Do que se trata o modelo fálico edípico ? - subjetivação a partir do complexo de édipo e
castração
.O feminino - articulação sócio-histórica, lembre-se de recorrer a laqueur
.Trazer Karen Horne

.Talvez colocar trecho da fala de Paul Preciado

. Falar do recalcado, pedra angular da teoria, só faz sentido conceber a partir das
referências dos complexos.
. O presente ensaio visa apresentar os fundamentos conceituais do modelo falo- édipo e
questioná-los.

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