Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
O gênero pode ser entendido como um significado assumido por um corpo que já é
diferenciado sexualmente, mas, esse significado só é possível em relação ao seu
significado oposto. Nesse sentido, algumas teorias feministas afirmar ser o gênero
uma relação, e não um atributo individual. Outras, argumentam que apenas o
gênero feminino é marcado, sendo a pessoa universal e o gênero masculino um só
gênero, definindo as mulheres de acordo com o sexo deles e enaltecendo os
homens como portadores de uma pessoalidade universal que consegue transcender
sua corporalidade.
Wittig estabelece que a restrição binária que estrutura o sexo obedece objetivos
reprodutivos de um sistema de heterossexualidade compulsória; e a derrubada da
heterossexulidade compulsória poderia ocasionar um real humanismo da “pessoa” livre da
categoria sexo. Ela sugere que a difusão de uma economia erótica não falocêntrica é capaz
de banir as ilusões do sexo, gênero e identidade. E parece ser “a lésbica” o terceiro gênero
que transcenderia a restrição binária do sexo, por acreditar que a lésbica é o conceito que
está além das categoria de sexo. Sobre isso, Butler afirma:
Para a autora, O corpo lésbico seria entendido como uma leitura “invertida”
dos Três ensaios sobre a teoria da sexualidade, de Freud, obra na qual o “invertido”
os homossexuais, deixam de “atingir” a norma genital. Ao considerar esses
aspectos da obra freudiana, Wittig, ao elaborar a crítica política da genitalidade,
adota a “inversão” como prática de leitura crítica, e valoriza os aspectos da
sexualidade não desenvolvida, designada por Freud, inaugurando a “política pós-
genital”. Butler argumenta que a crítica de Wittig
Wittig também articula sua crítica destacando uma sexualidae subversiva que
se constituiria antes da imposição da lei, após seu declínio ou durante sua vigência.
A esse respeito, Foucault afirma que a sexualidade e o poder coexistem, então a
postulação de uma sexualidade subversiva livre da lei é refutada. Para o autor, o
poder, além de abranger funções jurídicas (proibitivas e reguladoras), também
abarca as funções produtivas, e a sexualidade que emerge nessa matriz de
relações de poder não é apenas a duplicação da lei em si, mas essas produções se
desviam de seus propósitos e mobilizam “sujeitos” que além de ultrapassarem os
limites da inteligibilidade cultural, expandem as fronteiras do que é culturalmente
inteligível. Ainda sobre isso, Butler apresenta que:
Nesse sentido, a autora ainda afirma que o sexo como unidade, a coerência
do gênero e a estrutura binária para o sexo e para o gênero, são consideradas
ficções reguladoras, as quais possibilitam a consolidação e naturalização de
regimes de poder de opressão masculina e heterossexista.
Ao afirmar que o Outro a quem falta o Falo é aquele que é o Falo, Lacan
sugere claramente que o poder é exercido por essa posição feminina de
não ter, e que o sujeito masculino que “tem” o Falo precisa que esse Outro
confirme e, consequentemente, seja o Falo em seu sentido “ampliado” (p.
74 - 75).
Ser o Falo é insatisfatório, visto que as mulheres jamais poderão refletir a lei
de maneira plena, sendo que algumas feministas argumentam que para isso seria
necessário que as mulheres renunciassem ao próprio desejo, representando a
expropriação desse desejo como não sendo nada além do reflexo. Lacan argumenta
ainda que a posição das mulheres é de um parecer, que substitui um ter, para de
um lado protegê-lo, e do outro mascarar sua falta no outro.
Esse “parecer” o Falo que as mulheres acabam tendo que representar é uma
mascarada.
Stephen Heath apresenta sobre isso ainda, em “Joan Riviere and the
Mascarade” que a feminilidade é a mascarada, e com isso, a postulação de que a
libido é masculina e dela brota toda a sexualidade possível. Ela conclui que a
feminilidade é a negação dessa libido.
Ora, a perda não poderia ser compreendida como perda, a menos que a
própria irrecuperabilidade do prazer em questão não designe um passado
barrado do presente pela lei interditora. [...] o passado pré-jurídico do gozo
é incognoscível a partir do interior da língua falada; isso não quer dizer,
todavia, que esse passado não tenha realidade (p. 89).
Além disso, Butler apresenta dois pontos da tese de Kristeva dos quais
ela discorda, sendo o primeiro a falta de clareza a respeito do relacionamento
primário com o corpo materno ser um constructo viável em termos de suas teorias
linguísticas. As pulsões múltiplas que constituem o semiótico são uma economia
libidinal pré-discursiva que são conhecidas por meio da linguagem, mas que
preserva um status ontológico anterior à linguagem. O segundo ponto é o fato da
fonte libidinal de subversão não ser mantida na cultura, sendo que sua presença no
âmbito cultural induz a psicose e o colapso da vida cultural. Nesse sentido, Kristeva
postula e nega o semiótico como um ideal emancipatório, admitindo que é um tipo
de linguagem que não pode ser mantido de maneira coerente.
pdf 72
livros 144