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São Luís - MA
2022
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Nesta obra, Judith Butler se inspira em Simone Beauvoir, que explica que ser mulher
dentro do patriarcado causa incógnitas e mistério, e também utiliza da genealogia de Michel
Foucault, a fim de formular uma teoria feminista. Debatendo com as pautas do feminismo
contemporâneo sobre o conceito de gênero, suas problematizações causam a sensação de que,
se não resolvido o "problema", poderia resultar no declínio ou fracasso do feminismo. O texto
busca ressignificar o conceito de identidade de gênero e entender que essa pauta pode
restringir as políticas de gênero. No primeiro capítulo, Sujeitos do sexo/gênero/desejo, é
exposto que existe uma identidade, a categoria de "mulheres" como sujeito do feminismo.
Segundo Butler, esse recorte pode restringir as políticas de gênero, pois
O termo “mulheres" pode não significar uma identidade comum dentro do feminismo.
Ser mulher não é a categoria superior de identidade, não é tudo que uma pessoa é. É
necessário também considerar que o gênero se continue de maneira diversa nos diferentes
contextos culturais e históricos, Butler pontua que existem "interseções com modalidades
raciais, classistas, étnicas, sexuais e regionais discursivamente constituídas" (p. 21, 2017).
Assim, podemos observar, através da leitura, que reivindicar o sujeito "mulher" para o
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Butler, após fazer uma série de perguntas a cerca da afirmação de teóricas feministas
de que o gênero é construído culturalmente ou que ele é uma interpretação cultural do sexo,
discorre que, em algumas interpretações, a ideia de que gênero é construído sugeriria “um
certo determinismo de significados do gênero, inscritos em corpos anatomicamente
diferenciados” (p. 26, 2003), corpos estes que seriam entendidos como meios passivos de
uma lei cultural inflexível (ou um conjunto delas), representando, assim, um instrumento que
é relacionado, de forma externa, com um grupo de significados culturais; tem-se a impressão,
dessa maneira, de que o gênero é fixo e determinado, com a cultura tornando-se um
“destino”, assim como a biologia. Dado isso, a filósofa problematiza a noção de “construção
cultural” e a distinção entre sexo e gênero, que atribui o sexo ao domínio da natureza e filiava
o gênero à questão social, sendo este último uma “interpretação cultural” do sexo, algo
secundário a ele (o indivíduo nasceria com um sexo e aprenderia a “ser” homem ou mulher).
Butler, então, expõe que a ideia de natureza é uma construção social, uma produção
discursiva, e que o discurso que produz a existência da cultura é o mesmo que elabora a
existência de uma natureza. O indivíduo, por exemplo (a partir das práticas, discursos e
vivências individuais dentro da sociedade), aprende a “ser” mulher e atribui suas
“características femininas” a uma “natureza feminina”, o que também vem a ser uma
construção social. Posteriormente, baseando-se em Nietzsche, a autora norte-americana
critica a metafísica da substância, que alega, basicamente, que tudo o que o sujeito fizesse na
vida se daria em virtude de uma coerência com aquilo que ele é; entretanto, para Butler, o
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que, na realidade, pode acontecer é justamente o contrário disso: aquilo que o sujeito “é” é
algo posterior e clara consequência daquilo que ele faz. Logo após discorrer e trazer reflexões
acerca das divergentes visões sobre gênero de Simone de Beauvoir e Luce Irigaray, Butler
concluí:
A circularidade problemática da investigação feminista sobre o gênero é sublinhada pela presença, por
um lado, de posições que pressupõem ser o gênero uma característica secundária das pessoas, e por
outro, de posições que argumentam ser a própria noção de pessoa, posicionada na linguagem como
‘sujeito’, uma construção masculinista e uma prerrogativa que exclui efetivamente a possibilidade
semântica e estrutural de um gênero feminino. (BUTLER, 2003, p. 30-31).
a identidade assegurada por conceitos estabilizados de sexo, gênero e sexualidade e a própria noção de
pessoa se veria questionada pela emergência cultural daqueles seres cujo gênero é incoerente ou
descontínuo, os quais parecem ser pessoas, mas não se conformam às normas de gênero da
inteligibilidade cultural pelas quais as pessoas são definidas (BUTLER, 2003, p. 38).
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Ademais, a autora traz ao livro outros estudiosos, para embasar as suas ideias ou para
trazer um contraste entre os seus próprios posicionamentos, como, por exemplo, a questão do
poder disciplinar, sendo o Foucault um dos estudiosos citados nessa questão. Portanto, Butler
elucida o poder disciplinar como um poder que "que não vem de cima" propriamente dito ou
do estado, é um poder que exerce à um nível micro, estabelecido, principalmente, nas
relações cotidianas, familiares, instituições de ensino e, até mesmo, instituições religiosas;
assim sendo, o poder é encarregado da disciplina que cria essas determinadas identidades. A
partir disso, Butler explica que o homem é efeito desse poder, tanto quanto a mulher, é a
percepção que essa espécie de poder cria as noções que nós entendemos por homens e
mulheres, cria-se até uma certa naturalização ao longo das gerações e essas construções são
transmitidas fortemente. “É natural o pensamento de que o homem deve prover o sustento da
família e a mulher seja acometida apenas a cuidar do lar e dos filhos?” é um dos
questionamentos que a própria Butler expõe implícita e explicitamente em suas problemáticas
que nos levam a refletir sobre esse sistema de poder e a problematizá-lo. Desse modo, a partir
dessas questões, a autora possibilita o entendimento desses fatores e concluí que "a
sexualidade sempre é constituída nos termos do discurso e do poder, sendo o poder em parte
entendido em termos das convenções culturais heterossexuais e fálicas" (p. 55, 2003) e
declara, partindo das considerações abordadas em Problemas de gênero, esse teor
heteronormativo da sociedade, o gênero como uma espécie de imitação persistente que passa
como real, tentando desconstruir esse discurso performativo e, por consequência, afirmando,
ainda, que "a mulher é um termo em processo" (p. 58, 2003).