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“…o importante não era saber se éramos bem vistos, etc., mas conhecer a
qualidade do trabalho feito, se era juridicamente exato, se era
humanamente adaptado, se era… Ora, isso não é levado absolutamente
em consideração; pelo contrário, o fato de não usar gravata, por exemplo -
pessoalmente não ligo para isso - era uma revolução; houve reuniões
realizadas antes de assumir o primeiro cargo para o qual fui nomeado em
que o procurador reuniu todo o ministério público para dizer: "Cuidado, há
um juiz maluco que está chegando e que não usa gravata", etc. Enfim,
como se fosse verdadeiramente... No lado oposto, o próprio procurador
retirava informações dos processos selados, falsificava documentos sem
parar, pedia aos policiais para falsificarem documentos; ora, se a
hierarquia estivesse estado à escuta, não podia deixar de saber que isso
era verdade; mas ele nunca foi importunado. Sim, globalmente, o fato de
que a honestidade não compensa…” - o trecho em destaque revela o não
pertencimento, na totalidade, ao campo
“Quanto mais é rejeitado pela instituição, tanto mais se agarra a ela, nem
que seja sob o modo simbólico: sua reabilitação social passa pela
reabilitação dessa instância. Até mesmo o próprio conteúdo das reformas
propostas traz a marca do sistema de valores que ele encarna. A partir do
que está no fundamento de sua rejeição, faz um projeto que só pode ser o
seu e deve ser reconhecido como tal porque é o único meio, a seu ver, de
conseguir reconciliar-se plenamente com um universo que é toda a sua
vida e paixão.”
● Conclusão: essa passagem deixa claro o trabalho que Bourdieu levou à cabo ao
longo de toda a sua construção teórica. O poder simbólico tão associado aos
campos - nesse caso, o campo jurídico - é tão sutil quando internalizado, que
impede a visualização clara, pelo indivíduo, de sua posição, o que só contribui para
a manutenção das coisas tal como são. O poder simbólico é um poder conservador.
O campo do Direito, atuando a partir de suas próprias hierarquias e regras, produz
marginalização a partir de duas dimensões - externa e interna, com quem está de
fora e entre seus próprios membros - criando o que parece, para nós, uma figura
quase irreal: a elite marginalizada.