Você está na página 1de 5

PENSANDO NA CULTURA BRASILEIRA NA GESTÃO EMPRESARIAL

Por que devemos pensar na cultura brasileira na gestão empresarial? Sabemos


que povos diferentes vivem de formas diferentes, tem alimentação, festas,
roupas, línguas, símbolos, heróis diferenciados. Muito já foi escrito sobre o
caráter nacional, as características do povo brasileiro e os traços típicos
encontrados em nossa sociedade. A preocupação maior desta literatura está
em analisar cada aspecto de forma individualizada, buscando suas raízes em
componentes de nossa historia, geográfica, formação étnica e outros
elementos.

Nossa proposta de pensar na cultura brasileira busca outro ângulo do tema. É


preciso compreender a ação cultural de forma integrada. É sobre esta
perspectiva que propomos aqui um modelo da ação cultural brasileira na
gestão empresarial – um modelo do estilo brasileiro de administrar, que retrata
um sistema cultural com varias facetas, mas que age simultaneamente através
de seus vários componentes.

Outro aspecto em relação à forma de pensar a cultura brasileira está


relacionado ao universo representativo, que pode dar legitimidade à
especificação desta cultura. Na verdade dentro desta mesma concepção de
visão sistêmica, o modelo proposto considera estes dois universos. Mesmo que
cada um tenha traços próprios, eles geram uma ação simbiótica e, dessa
forma, podemos agregar à cultura traços que surgem como resultado de sua
interação. O mesmo ocorre se pensarmos a cultura sobre a ótica da forma e
informal? Qual enfoque deve ser mais privilegiado como o mais natural e
significativo da cultura brasileira? Novamente, nosso modelo visualiza os dois
universos e, mais do que isto, aquilo que emerge da relação entre eles.

UM NOVO MODELO DO SISTEMA DE AÇÃO CULTURAL BRASILEIRO

Dentro da perspectiva definida de se pensar na cultura brasileira, o modelo


proposto de ação cultural brasileira, conforme nossas pesquisas pode ser
caracterizado como um sistema composto de quatro subsistemas: o
institucional (ou formal) e o pessoal (ou informal), e os dos lideres e liderados,
apresentando traços culturais em comum e traços especiais, que articulam o
conjunto como um todo. O Institucional esta relacionados com os traços
culturais que encontramos no espaço da “rua”, como defini DaMatta (1987),
enquanto os traços típicos do espaço da “casa” compõem o subsistema
pessoal.

O Subsistema dos lideres faz corte, reunindo traços encontrados naqueles que
detêm o poder, enquanto o subsistema dos liderados abrange os aspectos
culturais mais próximos daqueles subordinados ao poder. Admitida tal
estrutura, como opera no dia-a-dia estes quatros sistemas? Surge ai algumas
possibilidades de relações, de convivência entre indivíduos e pessoa, lideres e
liderados.

É importante perceber que neste conjunto de traços culturais pode sobrepor-se


com maior ou menor intensidade, chegando ate a formar um único conjunto
que tem outro como subconjunto. Chamamos de englobamento este fenômeno,
podendo existir influencia nos dois sentidos: tanto o individuo contaminando as
pessoas, como as pessoas contaminando o indivíduo.

Neste ponto, queremos ressaltar que, mais do que a estrutura cultural, será
fundamentalmente seu processo de fundamento que estará definindo o sistema
de ação cultural brasileiro. Esses subsistemas apresentam interseções entre si,
encontrando-se traços culturais comuns. São quatro interseções caracterizadas
pela concentração do poder, pelo personalismo, pela postura de espectador e
pelo evitar conflito, distribuídas da seguinte forma:

1. Concentração de poder na interseção dos subsistemas lideres e formal;


2. Postura de espectador na interseção dos subsistemas liderados e
formais;
3. Personalismo na interseção dos subsistemas lideres e pessoal;
4. Evitar conflito na interseção dos subsistemas liderados e pessoal.

A combinação de todos os traços citados é que constitui e opera o modelo


proposto, aqui denominado “Sistema de Ação Cultural Brasileiro”.

DESCRIÇÃO DO MODELO PROPOSTO: SUBSISTEMAS DOS “LIDERES”

Na dimensão institucional, o que existe é a concentração do poder. A seu lado,


surge o extenso personalismo, presente na dimensão pessoal de nossa
sociedade. O terceiro elemento surge, articulando essas duas dimensões e que
dá o perfil do estilo brasileiro de liderar, é o personalismo. A ele será dada
especial atenção, já que gera vários desdobramentos de nossa cultura.

Valor atribuído aos laços entre os membros de uma sociedade: Em sociedades


com laços frágeis, soltos: cada um deve cuidar de seu próprio interesse. Os
relacionamentos são baseados na mútua utilidade, pela troca objetiva. Existe
uma maior permeabilidade à agregação de novos membros junto à sociedade.

Em sociedade com laços muitos estreitos: as pessoas nascem em coletividade


ou grupos que podem ser uma extensão de sua família. Cada um deve cuidar
dos interesses de seu grupo, que o fiscalizará e protegerá. Existe uma forte
integração e impermeabilidade da sociedade.

A sociedade brasileira dá mais valor ao seu grupo de “pertença” do que ao


individuo. A referência para a decisão é a importância ou a necessidade da
pessoa envolvida na questão, sobrepondo-se às necessidades do sistema no
qual a questão esta inserida. Na sociedade brasileira, o patriarca tudo pode e
aos membros dos clãs só cabe pedir e obedecer, sob pena de sua exclusão do
âmbito das relações.

O patriarcalismo, a face supridora e afetiva do pai, atendendo ao que dele


esperam os membros do clã, e o patrimonialismo, a face hierárquica e absoluta
impondo com a tradicional aceitação, a sua vontade aos seus membros,
convivem lado a lado em nossa sociedade. A cultura paternalista se encontra
em paises que combinam um alto índice de concentração de poder com baixo
individualismo. Fenômenos de dependência social (interação entre os lideres e
liderados):

1. Controle do comportamento: exercido pela perda/recompensa das


relações sociais criadas, seja pelo grau de parentesco, amizade ou
intimidade;
2. Controle do destino: exercido pela perda/recompensa de uma posição
com e suas conseqüências econômicas.

SUBSISTEMA INSTITUCIONAL

A liberdade individual e o grau de autonomia estão na base da dinâmica do


subsistema institucional, que compõe o sistema de ação cultural brasileiro.
Consciência da realidade:

1. Consciência intransitiva: centralização de interesses do homem em


formas mais vegetativas de vida;
2. Consciência transitivo-ingênua-ingênua: aumenta o diálogo com outros
homens e seu mundo. Caracteriza-se pela simplicidade na interpretação
dos problemas e na aceitação de explicações mágicas e fabulosas.

Funcionamos, reflexivamente, orientados pela autoridade externa. Nosso


centro de gravitação, com raríssimas exceções, sempre esteve numa
referência de poder externo dominadora, que limita a nossa consciência crítica.
O caráter brasileiro:

1. Aceitação passiva da realidade: o povo é qualificado como incapaz e em


função disso tomam-se as decisões por ele, o que o deixa novamente
sem praticar e sem possibilidades de crescimento. Existe um processo
de infantilização onde, mesmo havendo maior liberdade de atuação, não
se saiba o que se quer, não há vontade própria; assim, envolvido em um
clima de perplexidade, o libertado sente-se novamente forçado a
conformar sua conduta às expectativas da autoridade externa;
2. Transferência de responsabilidade: se o poder não esta comigo, não
estou incluído nele e não sou eu quem tomo a decisão, a
responsabilidade também não é minha;
3. Capacidade de realização por autodeterminação reduzida: o brasileiro
age “para o gasto” ou o suficiente para a manutenção do estado atuais
ou no máximo, pequenas reformas sem avanços significativos.

O formalismo caracteriza na maneira pela qual os povos se comportam em


relação ao desconhecido, que gera incertezas e riscos.

1. Baixo índice de controle da incerteza: algumas sociedades socializam


seus membros para aceitarem e tolerarem os eventos tal qual eles se
apresentam. Suas pessoas são relativamente tolerantes ao
comportamento e às opiniões que diferem de suas próprias, pois não
sentem ameaças em função dessas divergências;
2. Alto índice de controle da incerteza: algumas sociedades socializam
seus membros no sentido de combater e vencer o futuro. Isso gera
maior ansiedade entre as pessoas que deverão estar de prontidão para
enfrentar surpresas. O clima é mais tenso e se envolve de uma maior
emocionalidade e agressividade.

O brasileiro apresenta códigos de uma socialização do tempo que o colocaria


próximo de uma sociedade pouco preocupada com o futuro. A busca de
resultados imediatos e de uma capacidade de provisionamento mostra uma
postura sem ansiedade para o que possa vir depois. Como conseqüência,
surge uma capacidade de elaboração de leis, regulamentos, normas, como
meio de regular comportamentos futuros.

O grau de impunidade brasileiro fecha o elo de traços no meio social. Os


líderes sempre no seu poder, conseguem sempre uma atenuação, e a lei
propriamente dita é aplicada para poucos, esses que não possuem
conhecimento, nem tão pouco defesa, ficando concentrada a lei com todos os
seus direitos na mão da minoria. Essa situação só aumenta nosso estado de
“visão vitrine”, que deixa a punição se encher de prêmios de impunidade.

SUBSISTEMA PESSOAL

Articulando os subsistemas líderes e liderados está a lealdade pessoal. Esse


componente tão importante faz com que os integrantes de um grupo depositem
sua confiança a um líder, e mais comumente nos lugares onde há alta
dependência do controle, ficando altamente prejudicada a autonomia do grupo.
Uma das soluções para que a lealdade não venha a ter conflitos com o
formalismo dentro do ambiente brasileiro é transformar a rigidez institucional
em redes de relacionamentos pessoal.

Devido à alta desigualdade de poder e a dependência nas relações,


ocasionalmente podem gerar conflitos, e uma das soluções brasileiras de
enfrentar tal problema é de certa forma usar a lealdade em uma pessoa que
possa intermediar com os líderes, virando um próprio triângulo. Na forma de
líder-liderado, o líder não se preocupa em evitar o conflito, pois a estrutura já
definida proporciona tal atitude, já premeditando a reação do liderado em
procurar soluções indiretas.

SUBSISTEMA DOS LIDERADOS

Agindo na articulação entre os subsistemas institucional e pessoal, um dos


mais importantes traços é a flexibilidade. Esse traço é a adaptação ao
ambiente de meios e subterfúgios originais para a aquisição de um benefício
próprio, e a nossa incrível criatividade até aclamada pelo exterior. A
Adaptabilidade pode ser vista de varias maneiras, não só em adaptações como
do tipo econômico, como também na própria terra estrangeira. Nossa
criatividade aparece em nossas festas como o carnaval, em manifestações, na
arquitetura de Brasília etc.

Dentro desse conjunto de trações forma o que chamam de Sistema de Ação


Cultural Brasileiro, um jeito todo diferente de se administrar, diferente de todos
os outros modelos brasileiros.

Você também pode gostar