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ALGUMAS REFLEXÕES SOBRE A PESSOA PORTADORA DE

DEFICIÊNCIA E SUA RELAÇÃO COM O SOCIAL

QUINTÃO, D. T. R. Psicologia e Sociedade: Algumas reflexões sobre a pessoa


portadora de deficiência e sua relação com o social. Canoas/RS: Centro Clínico
Thiago Würth - Instituto Pestalozzi , 2005.

Denise Teresinha da Rosa afinal de contas a lei apenas obriga que


Quintão, psicóloga especialista em uma demanda seja cumprida, mas a
Psicologia Organizacional e do assistência a ser prestada nesse sentido
Trabalho, traz nessa obra algumas ainda é precária. A sociedade ainda
reflexões histórico-sociais e políticas possui muita dificuldade na realização
sobre a pessoa portadora de deficiência, da inclusão, seja ela no campo
apontando as dificuldades da inclusão comunitário ou corporativo, pois
vividas em diversos contextos sociais. algumas deficiências são mais
As leis relacionadas à inclusão e “preferíveis” que outras. Um exemplo
proteção social (ECA, Lei de Diretrizes disso, que a autora traz no texto, são as
e Bases da Educação Nacional, Leis empresas escolherem contratar pessoas
trabalhistas e etc.) por si só, na visão da com uma deficiência “visível”, um
autora, possuem um caráter “portador”, pois assim é mais fácil de
discriminatório e/ou segregador. identificar essas pessoas. Mas a gente se
Partindo desse ponto de vista, pergunta, o que de fato está por trás
concordamos que para existir inclusão dessa escolha? Seria, talvez, o fato de
social é necessário haver o principio de que essas pessoas devam ser tratadas de
exclusão. O fato é que, durante muito forma melhor ou pior do que os tidos
tempo, todo aquele dito “diferente”, como “normais”? Ou simplesmente para
“especial” ou mesmo “anormal” é mostrar que possuem colaboradores
vitimizado, excluído e considerado deficientes e cumprem seu “papel
incapaz perante a sociedade, quando na social”?
verdade é apenas um sujeito que possui Ainda na contemporaneidade,
suas limitações, sejam elas físicas ou Quintão coloca que, o surgimento de
mentais. ONGs (mantidas através de doações e
Nos tempos atuais a prática da trabalhos voluntários) que prestam
inclusão (principalmente nas atenção aos portadores de deficiência é
instituições, como indústrias e escolas) uma demonstração de um sintomas de
ainda não é levada tão a sério, há (pré)conceitos sociais distorcidos, visto
sempre uma necessidade de revisar que as verbas advindas das autoridades
essas práticas, pois as instituições visam governamentais “garantidas” por leis
apenas inserir o sujeito no local sem demoram a chegar, e esta situação
prestar nenhuma atenção para suas apenas reflete a desvalorização, por
necessidades e/ou demandas. Aqui parte das autoridades, para com essas
estamos vendo os princípios da pessoas necessitadas. Aqui fica nossa
exclusão agindo de forma silenciosa, critica aos órgãos do governo que se
dispõe a gerir os recursos financeiros também uma ruptura de paradigmas
pilares de instituições que prestam estéticos impostos. Assim, concordamos
atenção aos portadores de deficiência, e e reforçamos a ideia de que a “esquiva”
que são negligentes frente à realidade da sociedade para com pessoas
social vivenciada nas comunidades do deficientes é uma forma de restaurar um
país inteiro. As ONGs, ao nosso ver, ideal de perfeição social, então o ato de
proporciona uma interação social e cria excluir o diferente é apenas um reflexo
vínculos com a comunidade, mas, ao de afastar aqueles que não
mesmo tempo, retira do Estado uma correspondem às caricaturas utópicas e
função que é direito de cidadania dessas padronizadas de cada sociedade. Vale
pessoas. lembrar que o questionamento do
Quintão traz alguns autores, como contrário (como o deficiente vê a
Eizirik, Walter Benjamim, Foucault e sociedade) é algo a ser analisado, afinal
Ferreira , para conceituar alguns de contas os “normais” é que são
aspectos de desagregação e deferentes, visto por outra ótica.
esfalecimento social, a fim de A subjetividade entra como um
contextualizar as facetas históricas e ponto interessante, diríamos até
sociais a respeito da aceitação e/ou importante, na construção da identidade
exclusão social frente à problemática do sujeito humano que escreve sua
dos deficientes, que ocupam um “não- história no contexto em que está
lugar”, perante a sociedade. Dito isso, inserido. Apesar de ser uma verdade
concordamos que o portador possui um que a história social se esquece dos
sentimento de exclusão muito grande excluídos, pensamos que este fato é
devido ao histórico social que algo relativo, pois, entre em algumas
carregamos de segregar todo aquele que convenções sociais, trazer a tona
é diferente de nós. histórias de indivíduos esquecidos é um
A problematização das relações ato de generosidade, bondade e mesmo
sociais, frente ao portador de deficiência motivador.
física e/ou mental, começa em um A autora dessa obra caminha
principio de simples nomenclaturas brevemente em contextos históricos
designadas a esses sujeitos. Aqui a diferentes e critica algumas “formações
autora traz a ideia de que o sujeito sociais da mente”. Tendo uma visão
“portador” é aquele que leva, carrega, biopsicosocial, o tema a ser tratado
segura a dor consigo e que a ainda precisa ser muito discutido e
“deficiência” traz a ideia de algo debatido pela sociedade em geral.
imperfeito, falho, defeituoso. Todas Órgãos públicos, instituições e
essas “nomeações” remetem claramente comunidades precisam ater-se aos
a imagem que se formula na cabeça das fatores que foram desenvolvidos ao
pessoas, de um alguém que possui logo do tempo para que chegássemos
imperfeições humanas, em seu corpo onde estamos e de fato passar a olhar o
físico, e que são visíveis sem maiores sujeito como alguém que possui direitos
esforços. Claramente percebe-se não só e deveres, desejos e sonhos, e não
uma imagem narcísica que não é aceita apenas ver suas limitações, sejam elas
socialmente, por ser diferente, mas físicas ou mentais, acolhendo e
respeitando sem olhar de desvalor e autonomia aos sujeitos excluídos, assim,
desvalia. Acreditamos que esta é a nossa fazendo com que eles sejam cada vez
função quanto Psicólogos, por isso é mais ativos e construam sua própria
necessário que textos mais acessíveis história como cidadãos participantes.
sejam escritos e debates sejam feitos, Recomendamos esse texto para
para que o portador de deficiência profissionais ou estudantes das áreas
consiga enfim se relacionar com o meio sociais e de ensino (assistente social,
em que vive de forma livre, se psicólogo, professor), e pessoas que
expressando sem que necessariamente possuam algum entendimento técnico a
haja um olhar julgador ou condenador respeito do tema abordado, devido a sua
sobre ele. linguagem um pouco rebuscada, e
Entendemos a necessidade de tenham interesse no tema.
atentar-se para a visão do portador de E por fim deixamos queremos
deficiência perante a sociedade como ressaltar que o texto trata de uma
uma forma empática de pensar sobre o reflexão histórica sobre as concepções
tema e vemos que é preciso sensibilizar sociais, a cerca dos portadores de
a população para que esta se mobilize deficiência, que refletem diretamente no
na realização de uma inclusão comportamento das pessoas frente as
humanizada, agregando e dando aceitações de si mesmos e dos outros.

Ana Jessica de Oliveira Lima, Rafaela Andrade de Oliveira são acadêmicas do


curso de Psicologia pela União Metropolitana de Educação e Cultura, UNIME.

Itabuna – BA
Setembro de 2016

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