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CENTRO UNIVERSITÁRIO FAESA

ASBEL LUCIO MOREIRA


FELIPE SAULO SILVA

RESENHA CRÍTICA: ESTIGMA NO TEMPO DA INCLUSÃO

VITÓRIA
2023

Desde os primórdios tem-se ciência de relatos da existência de pessoas com


deficiência. Em outros tempos não muito distantes, eram considerados pela sociedade
como portadores de necessidades especiais. Mas de especiais estas pessoas não
possuem nada, são somente limitados a algumas funções, sejam elas por: patologias
congênitas ou adquiridas ao longo dos anos (por doença ou acidente) e também por
variações ambientais. Chegou-se nos tempos atuais a denominação de PCD -
Pessoas com Deficiência. Estes sofrem com uma vida além de limitada a determinada
a sua condição a uma dura realidade vegetativa. Não é uma vida vegetativa no
sinônimo de invalidez, até porque uma PCD não é uma pessoa inválida, mas é dita no
sentido de viver recluso em seu próprio lar, impossibilitado de seguir com um percurso
normal.
Em 2015, na gestão do Governo da ex-presidente Dilma Roussef foi instaurado um
decreto, a Lei nº 13.146, onde sanciona condições de igualdade e exercício dos
direitos e das liberdades fundamentais para as Pessoas com Deficiência perante a
sociedade brasileira. Neste mesmo estatuto, Brasil (2015) define que uma PCD é
quem possui impedimentos físicos, mentais, intelectuais ou sensoriais que
prejudiquem sua participação plena na sociedade.
Estas pessoas são definidas como um desvio aos padrões sociais, impostos pela
própria sociedade. Justamente esta quem deveria ajudar na promoção de seus
direitos garantindo condições de igualdade conforme tal estatuto sancionado. Desvio
no artigo apresentado para estudo é definido por Omote (2004) como um fenômeno
social, construído para pôr em evidência o caráter negativo atribuído a determinadas
qualidades de uma pessoa, com base nas quais esta é desacreditada e
segregada. Durante anos viveram institucionalizadas, mas não deixaram de transitar
entre o restante da população não considerada um desvio social. Eram pouco vistos
nas ruas, devido a vida reclusa em suas casas, e por isto não tem como esconder que
esta parcela da população vive segregada em meio a nós.
Viver de forma reclusa pode ser considerado como uma forma de violência. De acordo
com Maffesoli (1987) a violência pode ser entendida como manifestações
comportamentais provenientes de opiniões e concepções pessoais e/ou grupais que
buscam impor modelos de pensar e se comportar, transformando o ambiente, a
sociedade ou as outras pessoas. Esta violência defendida por Maffesoli nos leva ao
automaticamente ao conceito de estigma.
O termo estigma de acordo com Omote (2004) é utilizado para definir a condição social
de desgraça e descrédito, e não à evidência corporal de inferioridade moral de uma
pessoa. O estigma na verdade é a forma mais clara de colocar um rótulo em uma
pessoa, igual aos produtos que são expostos em um mercado por exemplo. É como
se estas pessoas tivessem toda uma descrição estampada em sua fisionomia do que
elas representam como pessoa. Ainda conforme Omote (2004) o estigma trata-se de
uma marca de inferioridade social e esse descrédito resulta de julgamentos mais ou
menos consensuais das pessoas da comunidade. Complementando este conceito, o
estigma é uma modalidade de opressão vivida por pessoas com deficiência (MENDES
et al., 2022).
A marca social que o estigma impacta na vida destas pessoas entende-se que é mais
para uma forma de controle, conforme defendido no artigo. É para rotular quem de
fato deve ser abrangido aos estatutos como este que o Governo Federal instituiu para
garantir condições igualitárias de direito à vida. Na verdade, estes mesmos estatutos
nem deveriam existir de fato, mas infelizmente precisam existir para politizar a maior
parte da população. Esta fatia maior é a que rotula as pessoas deficientes, criando
suas marcas sociais. Acredita-se que por entender que as PCD são deficientes em
sua totalidade. Talvez este pensamento seja por ignorância, preconceito ou
simplesmente indiferença, mas aqui não cabe este julgamento e sim levantar alguns
pontos para reflexão.
Entende-se que a discussão sobre estigmas de uma forma geral, é complexa e ao
mesmo tempo delicada. Se diz complexa, pois envolve vários pontos de vista sobre o
que é de fato uma opressão ou violência; e é delicada porque toca em um ponto íntimo
de cada indivíduo em entender como estas agressões não verbais, e também verbais,
atingem ao outro. Esta reflexão pode ser retratada em reportagens, notícias,
postagem nas redes sociais e em qualquer forma de comunicação nos sistemas
existente na atualidade. É muito comum, e não deveria ser, de ler notícias sobre
pessoas com deficiência sendo estigmatizadas socialmente e também de forma
internalizada. Como é o caso de uma mulher com nanismo diastrófico, que em sua
infância abandonou os estudos no ensino fundamental e somente quase 45 anos
depois retomou a sua alfabetização. Este processo aconteceu depois de sofrer com
estigmas que foram internalizados e que colocaram sua incapacidade intelectual e
moral em prova através de comunicações não preconceituosas. De acordo com Adelle
e Pereira (2022) a história de Jucelaine Rosa uma mulher com nanismo, nos retrata
claramente do que esta marca social pode impactar na vida das pessoas a
condenarem a uma vida de forma vegetativa. Existem outros fatores que também
contribuíram, como a questão de uma acessibilidade adequada para se locomover de
casa até a escola, conforme foi apontada na reportagem. Sabe-se que pessoas com
nanismo diastrófico, possuem suas limitações físicas, entretanto o objetivo de
comparar este caso ao artigo é a forma como as PCD no geral são vistas pela
sociedade e como isto pode refletir em sua vida social. No caso da Jucelaine Rosa,
foram 45 anos “paralisados” em sua vida o que a impediu de seguir socialmente com
uma vida mais bem estruturada, como uma carreira profissional especializada por
exemplo.
O preconceito existe e sabemos que em outros tempos vividos no passado era ainda
maior e hoje por causa destas políticas que são instituídas tem contribuído para
afirmar o papel destas pessoas que são e foram segregadas pela sociedade. Casos
como de Jucelaine Rosa, que tem levado em torno de 45 anos para superar traumas,
que não deveriam ter existido, é somente um diante de tantos outros que não são de
nosso conhecimento. Estas marcas sociais precisam ser tratadas junto a sociedade,
mas também devem ser quistas pelo próprio individuo o quanto breve, para que essa
vida oprimida seja mais saudável. As políticas públicas precisam continuar a existir
sim como uma forma de afirmação, educação e manutenção do preconceito
internalizado oriundo da população em geral. Muitas das vezes, são crenças de
educação vindas por gerações e que com a quebra da tradicionalidade se desfaz os
padrões. A educação de um modo geral, é a grande impulsionadora para essa inércia
social ser deixada como herança.
A educação pode sim, ser uma forma de inclusão inteligente, entretanto o papel da
escola precisa ser realizado em conjunto com a administração pública e a sociedade.
A convivência em sociedade é refletida nas instituições de ensino. E esta convivência
deve ser também um dos pilares de sustentação na formação do indivíduo mais
humanizado desde a sua infância. Infelizmente, não é o que se tem visto, lido ou
ouvido por aí. Existe uma inclusão, que ainda é uma segregação maquiada de
integração, ou seja, há uma política que inclui o indivíduo PCD no papel com as suas
sanções; uma escola que integra com os recursos que são ofertados, e que na maioria
são escassos falando-se de instituições públicas e nas privadas que visam o lucro; e
uma sociedade que segrega impondo suas marcas através de seus valores e crenças
enraizados em seus berços, na convivência em sociedade e também pela própria
política pública. Sim, a mesma política que institui a inclusão. E para acontecer de fato
a inclusão das PCD por exemplo, precisam os três caminhares juntos: política,
educação e sociedade.

Referências Bibliográficas
ADELLE, G; PEREIRA, L. G1, 2022. Mulher com nanismo retoma estudos após
trauma por preconceito: 'Falavam que lugar de deficiente era em casa'. Disponível em:
<https://g1.globo.com/sp/campinas-regiao/noticia/2022/09/08/mulher-com-nanismo-
retoma-estudos-apos-trauma-por-preconceito-falavam-que-lugar-de-deficiente-era-
em-casa.ghtml>. Acesso em: 07 de setembro de 2023.
BRASIL. Estatuto da pessoa com deficiência. Lei Brasileira de Inclusão. Lei nº 13.146
de 6 de julho de 2015. Presidência da República, Brasília, 2015.
OMOTE, S. Estigma no tempo da inclusão. Revista Brasileira de Educação Especial,
Marília, n. 3, v. 10, p. 287-308, 2004.
MAFFESOLI, M. Dinâmica da violência. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais,
1987.
MENDES, M. J. G.; DENARI, F. E.; COSTA M. P. R. Preconceito, discriminação e
estigma contra pessoas com deficiência: uma revisão sistemática de literatura. Revista
Eletrônica de Educação, São Carlos, v. 16, p. 1-20, 2022.

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