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PSICOLOGIA SOCIAL

Pessoa com Deficiência e outros Determinantes Sociais


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PESSOA COM DEFICIÊNCIA E OUTROS DETERMINANTES SOCIAIS

RELEMBRANDO
A pessoa com deficiência é um ser biopsicossocial com desejos, vontades, identidades,
interações. A deficiência é apenas uma das identidades vivenciadas pela pessoa e não a
única. A deficiência tem uma série de situações que são completamente distintas. Nem toda
deficiência é igual, nem toda vivência de deficiência é igual e cada característica pessoa
vai trazer uma identidade, uma construção, uma vivência específica para cada pessoa.

DEFICIÊNCIA E OUTROS ELEMENTOS SOCIAIS

A deficiência é muitas vezes compreendida como o oposto de saúde, de eficiência e


da plena capacidade para algo, ou seja, o deficiente é visto como um doente. A deficiência
traz certo grau de limitação, mas que não significa incapacidade. Esse entendimento está
fortemente ancorado em modelo biomédico, associado à doença, e, portanto, passível de
tratamento e/ou cura.
É óbvio que, se é possível proporcionar à pessoa com deficiência uma condição melhor
de vida, isso precisa ser trabalhado. No entanto, não é trazer uma condição de normalidade,
a partir de uma norma institucionalizada, que coloca uma universalização do comportamento.
As pessoas têm diferenças, que precisam ser respeitadas, porque é onde estão nossas
capacidades e potencialidades.
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Quando se trata da pessoa com deficiência, é preciso entender que esta categoria não
contempla a totalidade do indivíduo. Ou seja, antes de tudo, a pessoa com deficiência é uma
pessoa e não uma deficiência. O foco não deve ser sempre no sintoma, no que rompe com
a normalidade, mas o foco deve ser na pessoa, com suas necessidades, angústias, desejos,
ambições. Esta é a ruptura que se traz: pensar na pessoa, e não na doença.
Vários outros elementos sociais configuram-se transversalmente para a constituição do
sujeito. Ou seja, não existe uma hierarquia de valor, os elementos sociais vão passar na
pessoa como um todo e ajudar na sua constituição. Gênero, raça, classe social e idade são
alguns desses elementos. Ao compreender a deficiência desta maneira, escapa-se de um
determinismo reducionista (primeiro um deficiente depois uma pessoa), substituído por uma
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percepção mais abrangente e socialmente contextualizada - uma pessoa acima de tudo e a


deficiência é mais um elemento presente na vida dessa pessoa. A deficiência passa a não ser
mais vista como o único critério definidor do sujeito.

DEFICIÊNCIA E O CORPO IDEALIZADO

Nossa sociedade está estruturada sob uma concepção da busca por um ideal de perfeição
física e mental, que associa o sucesso, bem-estar e felicidade ao corpo em plenitude. Isso
não se resume somente a pessoa com deficiência. Todo corpo considerado imperfeito estaria
condenado à infelicidade ou insucesso. Deste modo, as “imperfeições” e as deficiências são
percebidas como características impeditivas para uma vivência plena e feliz.
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Em uma sociedade que valoriza a questão do belo, definição que é construída socialmente
e que pode mudar, fala-se de um corpo perfeito, que é, muitas vezes, inexistente ou idealizado.
Todas as pessoas que não se adequam a esse corpo perfeito são pessoas em condição de
deficiência, porque não atingem esse ideal de perfeição. A ideia de que a imperfeição ou a
deficiência leva a uma infelicidade ou incapacidade de plenitude está presente na questão
do preconceito.
Em um primeiro momento, a pessoa com deficiência é vista como uma pessoa que está
fadada à infelicidade e uma não condição de plena vivência satisfatória. A ditadura do corpo
perfeito e idealizado precisa ser rompida, para que se entenda que cada corpo tem a sua
própria potencialidade, sendo vivida na experiência pessoal. Não existe uma condição em
que o ideal de perfeição seja o único critério para definir o que é bom ou ruim, adequado ou
inadequado. A pessoa com deficiência não tem um corpo danificado ou imperfeito, ela tem o
seu corpo e precisa encontrar a sua potencialidade.

SEXUALIDADE E DEFICIÊNCIA

Uma ideia equivocada bastante comum é a de que as pessoas com deficiência sejam
assexuadas, desprovidas de desejos ou necessidades sexuais. A identidade sexual e de
gênero também faz parte da constituição da pessoa com deficiência. A pessoa com deficiência
é um ser humano, com uma vivência sexual.
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O entendimento reducionista da sexualidade como sendo exclusivamente genital


ou reprodutiva, traz embutida a concepção de que o sexo é uma prerrogativa dos corpos
“perfeitos e belos” – uma sexualidade estética. A sexualidade da pessoa com deficiência, ou
a ela direcionada, é encarada como fetiche ou desvio sexual, como se não fosse legítima a
necessidade ou o desejo nesse contexto.
A sexualidade não está presa ao corpo. Ainda que estivesse, a pessoa com deficiência
também tem um corpo constituído. A sexualidade é vivência, desejo, atração, ou seja, é um
conceito muito mais amplo. A sexualidade da pessoa com deficiência é tão legítima como
qualquer outra. O problema é que há uma norma heterossexual que estabelece a ideia de
uma sexualidade que precisa ser tradicional. Muitas vezes, a pessoa com deficiência tem
uma sexualidade absolutamente tradicional ou uma vivência muito específica. Ser assexuado
também é uma vivência de sexualidade, por exemplo.
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A MULHER COM DEFICIÊNCIA

As crenças e expectativas da sociedade sobre as mulheres com deficiência muitas vezes


as excluem do direito ao exercício pleno da sexualidade, da maternidade e do trabalho. Os
papéis sociais tradicionais de dona de casa, esposa, trabalhadora e mãe são vistos com
estranhamento ou surpresa, quando desempenhados por uma mulher com deficiência. Esse
estranhamento diz muito acerca da feminilidade como um atributo do corpo.
É como se, de alguma forma, a deficiência retirasse da mulher a plena vivência da
sua feminilidade. Isso não é verdade. Primeiro, a mulher com deficiência é uma pessoa e,
como pessoa, é também uma mulher. Por ser mulher, ela tem a condição de vivenciar a sua
feminilidade sendo mãe ou não, sendo esposa ou não. É uma opção de vivência. A feminilidade
não é perdida quando o corpo não é perfeito, idealizado, esperado. As identidades de gênero
e as sexualidades não se perdem quando se adquire ou se tem uma condição de deficiência.

A VIOLÊNCIA SEXUAL CONTRA A MULHER COM DEFICIÊNCIA

Muitas vezes a mulher com deficiência pode ser alvo de violência e abuso sexual.
Há um entendimento tácito do “direito ao corpo do outro”, em especial quando há uma
condição de vulnerabilidade da vítima. É como se fosse ignorada a sexualidade da mulher
com deficiência. A sexualidade do outro é imposta a essa mulher.
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Essa violência muitas vezes é subnotificada, o que dá ao agressor a sensação de


impunidade e faz com que esta violência possa ser perpetuada.
Também é importante pontuar a violência sexual originada pelos responsáveis pelos
cuidados da pessoa com deficiência, como a família ou cuidadores.
Muitas vezes, esse corpo é desrespeitado, porque é visto como um corpo sem direitos.
O corpo não pode ser usado por outra pessoa e deve ser usado pela própria pessoa e não
pelo outro.

DEFICIÊNCIA E POBREZA

Assim como muitas outras condições de saúde, a deficiência também encontra na


vulnerabilidade econômica e social um agravante.
A maioria das pessoas com deficiência vive na pobreza, o que potencializa uma condição
que já, por si mesma, marginalizada.
A falta de acesso a serviços e recursos, a medicação, tratamento, dificuldade para
locomoção, a precarização do trabalho são alguns dos elementos que se destacam por conta
destes limitadores.
Ou seja, a relação entre deficiência e pobreza potencializa uma condição de dificuldade
para a pessoa com deficiência.

DEFICIÊNCIA E EDUCAÇÃO

A educação para a pessoa com deficiência precisa estar em consonância com as


necessidades e particularidades deste grupo social – deve ser inclusiva.
Crianças com deficiência costumam ter menos acesso à escolarização formal do que as
crianças sem deficiência.
Educação é um fator determinante para a constituição plena do sujeito, porque educação
significa trabalho, que significa dinheiro, que gera uma condição maior de autonomia.
A autonomia financeira, principalmente, traz uma série de benefícios para a pessoa.
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DEFICIÊNCIA E TRABALHO

A inserção da pessoa com deficiência no mercado de trabalho é um fator determinante


na conquista de autonomia e relevância político-social. A pessoa que tem uma condição
financeira e uma visibilidade social maior passa a ter também uma relevância político-
social maior.
As cotas em concursos e em empresas para contratação de pessoas com deficiência
constituiu como um grande avanço dentre as iniciativas nacionais, promovendo a
empregabilidade das pessoas com deficiência.
Entretanto, deve considerar não apenas o acesso à vaga, mas as condições para a
execução plena da atividade para a qual a pessoa foi contratada.
Não adianta apenas contratar a pessoa e não permitir que ela execute o trabalho para
qual foi contratada. A pessoa precisa ter condições de trabalho, ser capaz de produzir, ser útil
para a empresa, contribuir e participar da vivência de trabalho.
Ainda há um caminho longo, pois não são todas as empresas que fazem a contratação
que oferecem condições de trabalho adequadas.

DEFICIÊNCIA, RAÇA E ETNIA

Deve-se considerar que as questões raciais e étnicas, quando em associação com a


deficiência, acrescentam uma potencialidade de estigma e discriminação.
Diferentemente de outras condições nas quais a deficiência, de certa forma, “invisibiliza”
outras identidades da pessoa, no caso da raça ou da origem, isso é visto como um fator extra.
Estereótipos negativos são “somados”, vulnerabilizando ainda mais este grupo de
pessoas.
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Quando se trata da deficiência da pessoa negra, por exemplo, isso acrescenta um
potencial maior de vulnerabilidade, de precarização. O Brasil ainda é um país extremamente
preconceituoso com a pessoa com deficiência e com a pessoa negra. Por isso, a pessoa
passa a ter vivências maiores de preconceito e discriminação.

DEFICIÊNCIA E VELHICE

A deficiência pode surgir como consequência do processo de envelhecimento.


Pode-se adquirir alguma condição que afete a cognição como a mobilidade.
Há aqui duas condições socialmente estigmatizadas, ambas relacionadas ao conceito de
incapacidade, inutilidade e/ou perda de autonomia.

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Os estigmas estão relacionados à questão da funcionalidade social, como se a única


função que uma pessoa tem é contribuir de alguma maneira econômica à sociedade, o que
faz com que as pessoas que não tenham como se sustentar seja vistas como um problema
para a família ou para a sociedade.

DEFICIÊNCIA E MAUS TRATOS

Segundo a OMS, um quarto da população com deficiência sofre maus tratos e abusos
violentos. Esses maus tratos podem ser físicos, como agressões, falta de cuidados pessoais
e de higiene, emprego exagerado de restrições, excesso de medicamentos e reclusão.
Maus tratos psicológicos incluem intimidação e ameaças, isolamento social, privações
emocionais, retirada de autonomia, impedir a tomada de decisões próprias.
Muitas vezes essas agressões ocorrem dentro de casa, cometido por familiares ou por
cuidadores. Nem sempre esses maus tratos são denunciados.
Há uma vivência de violência silenciosa e invisível praticada contra a pessoa com
deficiência, especialmente aquela que tem algum tipo de limitação extrema.

CUIDADO E DEPENDÊNCIA

Os cuidados direcionados às pessoas com deficiência não devem estabelecer uma


relação de dependência, na qual o sujeito é percebido como incapaz.
Oferecer condições para que a pessoa com deficiência possa exercer a sua autonomia,
sem que seja necessária uma tutela nas atividades e funções que a pessoa possa executar
Inclusão social da pessoa com deficiência.
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Tratar de inclusão social não significa desconsiderar a necessidade de capacitação das
pessoas com deficiência para o convívio social e o desempenho de diferentes papéis na
comunidade. Entretanto, para que isso de fato ocorra, é necessário que a sociedade também
se ajuste para acolher a pessoa com deficiência, oferecendo-lhe suportes suficientes (social,
econômico, físico) para o acesso e a convivência no espaço comum.
Esse é um processo interativo e bidirecional, no qual a pessoa se capacita e o contexto
social se adapta para se tornar acessível e participativo.
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SOCIEDADE INCLUSIVA

O objetivo de uma sociedade inclusiva e justa é que todo cidadão, independentemente


de sua condição, possa vivenciar uma efetiva participação na vida social, econômica, cultural
e política, tendo respeitados os seus direitos e o pleno exercício da sua cidadania. Portanto,
a pessoa com deficiência só consegue ser integrada a uma sociedade que entenda que ela
também precisa se adaptar e oferecer condições para o pleno exercício de cidadania.

�Este material foi elaborado pela equipe pedagógica do Gran Cursos Online, de acordo com a aula
preparada e ministrada pelo professor Rafael Rodrigues Vieira.
A presente degravação tem como objetivo auxiliar no acompanhamento e na revisão do conteúdo
ministrado na videoaula. Não recomendamos a substituição do estudo em vídeo pela leitura exclu-
siva deste material.
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