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Editorial

Quando se atua em qualidade da água para consumo humano, surge a necessidade de


conhecer, estabelecer, estudar e controlar o conjunto de características que fazem (ou não)
com que ela seja considerada adequada para este fim. No trabalho Controle Dinâmico da
Qualidade da Água é apresentado como a Sanepar controla a qualidade do produto que
distribui. As atividades de controle constituem balizamento fundamental aos processos
produtivo e distributivo, pois permite que os mesmos sejam ajustados sempre que a qualidade
da água se apresentar diferente da estabelecida.

A qualidade da água distribuída pela Sanepar foi avaliada pela Universidade Federal. Observou-
se que nenhum dos 16 locais de coleta de água apresentou positividade para coliformes totais e
fecais, revelando que se trata de água própria para o consumo.

A qualidade da água distribuída pode ter vinculação com a qualidade do manancial. Nesta
edição da Sanare - Revista Técnica da Sanepar é avaliada a situação da bacia do Rio
Pirapó, utilizada com o manancial de abastecimento para a cidade de Maringá. Buscou-se
identificar os fatores que contribuíram para a degradação ambiental daquela bacia. Conclui-se
que diante das condições observadas quanto ao trato do solo e à disposição das áreas urbanas,
a degradação está se acentuando rapidamente, podendo em breve tornar-se inviável a sua
utilização para o abastecimento público.

A Companhia de Saneamento Básico de São Paulo (Sabesp) está investindo em novas


tecnologias para monitoramento de qualidade das águas de seus mananciais. O objetivo é obter
respostas rápidas e confiáveis para evitar que possíveis variações bruscas na qualidade da água
nas represas possam provocar impactos no tratamento e atingir o consumidor final. Por meio
de um sistema de estações remotas e unidades de recepção de dados, o monitoramento é feito
em tempo real. Desde meados da década de 70, a Sabesp controla a densidade das algas nas
suas represas. O sistema rastreia em intervalos pré-determinados as condições do manancial.
Caso ocorram alterações, por meio de sinais de rádio é dado o alarme aos técnicos que operam
o sistema, que assim podem tomar providências imediatas.

Na Europa e nos Estados Unidos muitas organizações adotam o menor custo inicial de compra
como determinante em seus processos de aquisição de equipamentos. No trabalho
Apresentando o modelo Life Cycle Cost (custo de propriedade) aplicado a sistemas de bombas
são apresentados aspectos de custos que, se considerados no momento de aquisição ou
melhoria, podem auxiliar a aumentar a competitividade e a eficiência dos processos produtivos
das empresas, inclusive das regidas pela Lei 8.666.

O tratamento do esgoto doméstico e a destinação adequada dos resíduos do tratamento, os


biossólidos, também constituem um grande desafio para o setor de saneamento. Nesta edição
são apresentados três estudos sobre o assunto: Valoração de biossólidos como fertilizantes e
condicionadores de solos; Argila nodulizada versus carvão ativado como leitos, suporte de filtros
biológicos no tratamento de esgotos domésticos e Agressividade de sulfetos ao concreto de
reatores tipo Ralf.
OPINIÃO

AS PERSPECTIVAS DA RECIRCULAÇÃO DAS ÁGUAS DE


LAVAGEM DE FILTROS EM ESTAÇÕES DE TRATAMENTO DE
ÁGUA

Marcelo Libânio

Luiz Gustavo P. L. Carneiro

A progressiva deterioração dos corpos d´água superficiais passíveis de serem empregados para
abastecimento público tem acarretado a recorrente opção, pelos administradores dos sistemas
de abastecimento, por mananciais mais distantes dos centros de consumo. Desta forma,
prioriza-se a qualidade da água bruta, fator preponderante na definição da tecnologia de
potabilização, em detrimento da redução dos custos de implantação e operação do sistema
adutor.

Para os sistemas de abastecimento nos quais verificam-se problemas de escassez ou custos


elevados de adução da água bruta, em grande monta materializados no dispêndio de energia
elétrica, descortina-se o reaproveitamento das águas de lavagem dos filtros, usualmente da
ordem de 2,0 a 5,0 % do volume tratado. Aliado a uma análise econômica - contemplando o
custo das instalações de recirculação e da água tratada, o percentual de perdas do sistema de
distribuição e a tarifa praticada - alguns fatores podem ser arrolados.

Inicialmente, vale mencionar que a pequena alteração nos parâmetros hidráulicos balizadores
dos processos e operações unitárias inerentes à potabilização, devido ao aumento da vazão
afluente, não constitui fator com relevância suficiente para inviabilizar a recirculação. A esta
perspectiva relacionam-se outros fatores como o nível de proteção do manancial, a tecnologia
de tratamento, o(s) método(s) de lavagem do meio filtrante e, quando pertinente, a eficiência
das operações de floculação e decantação.

O nível de proteção do manancial influencia na perspectiva de trans-missão das doenças de


veiculação hídrica e na contaminação da água bruta por defensivos agrícolas. Desta forma, o
reaproveitamento das águas de lavagem constitui-se alternativa mais viável para estações cujos
mananciais estão localizados em bacias hidrográficas imunes às atividades pecuárias – o gado
constitui-se em um dos reservatórios da criptosporidiose – e agrícolas nas quais o emprego de
pesticidas seja corriqueiro. A delimitação da área de proteção do manancial usualmente
restringe-se à área a montante da captação, quando a mesma ocorre diretamente dos cursos
d’água, ou às cercanias do açude ou reservatório de acumulação. Contudo, tal controle
freqüentemente inviabiliza-se quando a área da bacia hidrográfica excede oslimites do
município abastecido, ultrapassando por vezes até, como para a cidade de São Paulo, os limites
do próprio Estado. Os recentes comitês de bacias hidrográficas surgiram no bojo desta
limitação.

A recirculação da água de lavagem pode ser aplicada a estações de filtração direta – em


escoamento ascendente ou descendente – ou tratamento convencional. Em relação às
primeiras, a principal limitação consiste na possibilidade de potencialização microbiológica do
afluente, pois a totalidade das partículas suspensas presentes na água bruta, e os
microrganismos às mesmas associados, retorna ao início do tratamento. Um eventual erro de
operação pode acarretar queda de qualidade do afluente ao tanque de contato, pois o tempo
de detenção no interior da unidade de tratamento é significativamente inferior comparado às
estações convencionais. A existência da unidade de decantação, na qual parcela significativa
das partículas suspensas serão removidas, minimiza esta limitação, além do maior tempo para
correção de eventuais erros de operação, pois o tempo de detenção nestas estações
freqüentemente é superior a 3 horas quando do emprego de decantadores de escoamento
horizontal.

Uma exitosa implementação do reuso das águas de lavagem dos filtros ocorre em uma das
maiores estações de tratamento no País de Gales, na cidade de Swansea, com vazão média da
ordem de 2 m3 /s, atingindo até 3 m3/s nos períodos de maior demanda. Esta unidade
potabilizadora utiliza a tecnologia da filtração direta – em escoamento descendente, velocidades
de aproximação da ordem de 170 m/dia e meio filtrante de areia e antracito -, com pré-
desinfecção e floculação hidráulica. A água bruta é oriunda de duas barragens em cascata, a
primeira construída em meados do século XIX, concorrendo para afluir, por gravidade, à
estação ao longo de todo ano água bruta com turbidez inferior a 10 uT. A coagulação sucede-
se com sulfato de alumínio e polieletrólito como auxiliar. As águas de lavagem das unidades
filtrantes são acondicionadas em dois tanques e retornam ao início do tratamento respondendo
por 2 a 3% da vazão afluente. Todavia, vale mencionar que, aliado às baixas taxas de filtração,
a localização dos mananciais favorece a elevada qualidade bacteriológica da água bruta e a
produção de efluente com turbidez inferior a 0,5 uT.

Nas estações convencionais a eficiência da floculação e decantação interferem paradoxalmente


na perspectiva de recirculação das águas de lavagem. Se fundamentado no conceito de
múltiplas barreiras para remoção de microrganismos, especialmente cistos e oocistos de
protozoários, a eficiência destas operações unitárias confere maior segurança sanitária ao
efluente da estação de tratamento de água, por outro lado quanto mais longas forem as
carreiras de filtração – conseqüência da menor carga de sólidos afluente – menos relevante
torna-se o reaproveitamento destas águas no volume total produzido. No mesmo viés da
redução do volume despendido na lavagem das unidades filtrantes inserem-se as lavagens
superficial e auxiliar com ar. A título de ilustração, levantamento realizado pela American Water
Works Association (AWWA) em 1999 concluiu, para um universo amostral de 543 estações, que
20% e 70% das estações empregavam, respectivamente, lavagem auxiliar com ar e lavagem
superficial.

Por fim, para as estações convencionais os períodos do ano de baixa turbidez da água bruta
propiciam a recirculação das águas de lavagem, elevando a concentração de partículas e
favorecendo a formação dos flocos. Recente pesquisa em escala piloto avaliou o impacto na
eficiência do tratamento convencional na remoção de oocistos de Criptosporidium, quando do
reaproveitamento, sem qualquer tipo de pré-tratamento, das águas de lavagem dos filtros para
taxas de recirculação de 4.3, 10 e 20%. A turbidez da água natural permaneceu inferior a 5,0
uT, durante cinco das oito semanas do trabalho experimental, atingindo picos de 40 a 50 uT no
restante do período. Os oocistos de Criptosporidium eram inoculados no início do tratamento a
concentrações da ordem de 200 mil oocistos/100 L. A coagulação realizou-se com sulfato de
alumínio e cloreto de polialumínio e a vazão afluente acarretou um tempo de detenção na
unidade piloto de 6 horas.

Ao longo dos ensaios a turbidez da água decantada variou entre 1,0 e 2,0 uT produzindo água
filtrada com média de 0,03 uT – cujas unidades filtrantes operaram com taxa superior a 350
m/dia – não apresentando alteração significativa com ou sem a recirculação das águas de
lavagem. A remoção de oocistos de Criptosporidium apresentou-se ligeiramente superior
quando da recirculação de 10% das águas de lavagem, comparada às três demais situações.
Como mencionado anteriormente, os autores creditam, a despeito da temperatura da água
bruta ter variado de 1,0 a 12,5o C, ao aumento da eficiência das etapas de coagulação,
floculação e sedimentação a melhora da qualidade do filtrado quando do reaproveitamento das
águas de lavagem dos filtros, fato especialmente notável para águas de baixa turbidez.
Todavia, outras características porventura presentes na água bruta tais como, carbono orgânico
total, manganês e alguns subprodutos da desinfecção podem inviabilizar tal operação.

Autores

Marcelo Libânio,

engenheiro civil, mestre em Engenharia Sanitária e

doutor em Hidráulica e Saneamento, professor adjunto do Departamento de Engenharia


Hidráulica

e Recursos Hídricos da UFMG, pesquisador do CNPq

Luiz Gustavo P. L. Carneiro,

acadêmico do 4.o ano de

graduação em Engenharia Civil e monitor do Departamento de Engenharia Hidráulica e


Recursos Hídricos da UFMG.
OPINIÃO

PROBLEMAS ECOLÓGICOS,

TENTATIVAS DE SOLUÇÃO

Enio Neth de Goss

Um ecossistema consiste em um sutil equilíbrio entre forças contraditórias e de cooperação. Tal


sistema se desenvolveu durante de milênios e foi moldado na luta pela sobrevivência. Quando
os seres humanos intervêm e alteram qualquer elemento desse sistema equilibrado, a
interferência tem conseqüência em todo ele – alguns morrem e outros aumentam a números
alarmantes, porque ou a sua fonte natural de comida é escassa ou eliminada, ou os seus
inimigos naturais são enfraquecidos ou mortos. O que era antes um sistema harmonioso,
operante, autocorregidor e autolimitador pode tornar-se um tipo de câncer, desenvolvendo-se
desproporcionalmente ou pode ainda murchar e morrer. De qualquer forma, a interferência
humana criou mais problemas do que resolveu. Tal é a lição que só agora estamos aprendendo
– e mesmo assim, com uma penosa lentidão.

Os problemas ecológicos são problemas sociais porque ameaçam a sobrevivência humana; são
problemas sociais porque são causados pelos padrões institucionalizados da atividade humana,
padrões do pensamento humano e dos valores humanos. Assim, para que as soluções para as
crises ecológicas sejam eficientes, devem atacar não só o problema do meio ambiente violado –
mas também as causas – os padrões do comportamento humano que sustentam e legitimam a
violação.

Há quatro maneiras pelas quais os problemas ecológicos podem ser atacados: por meio de
movimentos sociais, intervenção política, inovação tecnológica e autocorreção institucional.

Movimentos sociais

Talvez a maior aquisição para o movimento ecológico tenha sido a conscientização crescente,
por parte da sociedade ocidental de que algo precisa ser feito a favor do meio ambiente. Este
elemento de conscientização é essencial para o melhoramento de um problema social.
Compreendemos que o uso impróprio do meio ambiente tem sido, em potencial social, por
muitos séculos. Mas somente há poucos anos tem havido interesse público amplo pela
qualidade do meio ambiente.

Organizações civis dedicadas à qualidade ambiental foram organizadas por toda sociedade
ocidental. Muitas delas se dedicaram à educação do cidadão, ou seja, à criação de valores
novos para o meio ambiente e seus problemas, por meio de campanhas de cartas, petições e
assim por diante. Outras exerceram pressão com táticas de grupos de pressão em nível local:
interrogando candidatos a cargos públicos e publicando os resultados da votação ambiental
daqueles, exercendo cargos públicos. Outras táticas incluíram antigas leis que não estão sendo
cumpridas, mas que são potencialmente úteis na luta para salvar o meio ambiente. As táticas
do grupo de pressão resultaram na elaboração de novas leis e, em alguns casos, no mínimo
para colocá-las em vigor, de forma eficaz.

Se bem que poucas pessoas poderiam negar que o movimento ambiental dos últimos anos
tenha tido impacto significante na opinião pública; pouca evidência existe para sugerir que esta
tenha mudado em um plano mais fundamental, ou seja, tenha alcançado uma disposição em
abandonar alguns "confortos materiais" para conseguir um meio ambiente melhor. Um
governador de estado se compromete a aumentar a industrialização e assim criar novos
empregos, bem como a melhorar a qualidade da água. E a primeira promessa, na maioria dos
casos, é reforçada pela pressão de grupos mais poderosos que a última.

Os criminosos reais por trás dos problemas ambientais, então, são os padrões de hábitos e as
maneiras institucionalizadas de fazer as coisas. Embora o movimento ambiental tenha
conseguido sensibilizado muitas pessoas a ver os problemas em termos de suas causas
verdadeiras, de fato, pouco foi realizado para resolver esses problemas.

Intervenção política

Desde o desenvolvimento do movimento ambiental, os homens e órgãos do governo têm


desempenhado um papel maior do que anteriormente em legislar contra a poluição e fazer
vigorar tal legislação. A eficácia desta legislação varia muito.

Considere o exemplo típico de um grupo de fábricas lançando fuligem ao ar e resíduos em


riachos e lagos próximos. Um regulamento local proíbe tais práticas de poluição, mas o mesmo
não vigora há décadas. Nos últimos anos, grupos atentos à poluição, com freqüência
consistindo de voluntários de várias organizações antipoluição, trouxeram essas violações à
atenção dos homens da lei, e insistiram quanto à execução do regulamento. Entretanto, mesmo
quando o grupo de cidadãos obtêm êxito, as penalidades pela violação, embora severas para
um indivíduo, são muitas vezes demasiado pequenas para uma companhia. Na verdade, a
economia representada pela poluição do ar e da água tornou consideravelmente mais barato
para as indústrias sujarem o meio ambiente e pagarem as penalidades do que corrigir o
problema. Numa localidade, por exemplo, uma grande fábrica de alumínio estava poluindo um
rio límpido da montanha e o seu divisor de águas rio abaixo. Quando a pressão foi realmente
imposta, a fábrica simplesmente ameaçou desmontar tudo e ir embora. Vindo virtualmente do
único grande empregador de uma vasta área do país, a ameaça teve um efeito muito real. A
fábrica ainda está lá, e poluindo o rio.

É concebível que os interesses mútuos do governo e da indústria irão eventualmente funcionar


em benefício dos defensores do meio ambiente. Se o movimento ambiental tornar politicamente
impossível que um homem público ignore os interesses públicos, então a indústria poderá ser
responsabilizada pelo problema da poluição. E se as soluções tecnológicas para os problemas
da poluição forem praticáveis, ou até possíveis, a pressão governamental poderá ser usada
para forçar a indústria a providenciá-las.

Inovação tecnológica

e autocorreção institucional

Uma maneira pela qual poderia ser desenvolvida a habilidade da tecnologia e da ciência em
suavizar os problemas da poluição seria por meio da criação de "missões" com tarefas
orientadas. Iniciadas por comissões planejadoras e mantidas pelo dinheiro de impostos, estes
seriam projetos especiais traçados para estudar e resolver aspectos específicos do problema
ambiental. Em forma, elas assemelhariam a das missões destinadas a colocar as pessoas na lua
e a criar a bomba atômica.

O que está ocorrendo é que as indústrias estão recebendo dinheiro de impostos, ou usando os
lucros excedentes para desenvolverem "soluções" tecnológicas para problemas do meio
ambiente de muito pouco alcance.

Como salientado sobre movimentos sociais e ação política, a solução da crise ecológica exige
uma transformação social e cultural da sociedade. Sintetizando o problema e fornecendo um
argumento contra a solução tecnológica para a poluição, Rex Campbell e Jerry Wade afirmam:

"Não só a fé na tecnologia nos ofusca para as bases não-tecnológicas da crise ambiental, como
também tende a resultar em um método inadequado para resolver o problema. Este método foi
bem-sucedido para colocar o homem na lua; era uma questão técnica e, com esforço
apropriado, um americano foi o primeiro na lua. Esta abordagem, de fato, consegue uma
solução. A atitude assumida de que podemos obter uma solução para qualquer problema se
apenas aplicarmos bastante dinheiro funciona muito bem, contanto que a solução seja o
desenvolvimento e o uso de aparelhagem técnica. Alguns tentariam definir a qualidade
ambiental como este tipo de problema. Entretanto, o ponto de vista aqui é que a poluição e a
população são basicamente problemas humanos e não tecnológicos. O problema abrange
pessoas, recursos naturais limitados, ecossistemas desequilibrados e sistemas mantenedores da
vida".

Os problemas pertinentes ao meio ambiente foram abordados por meio de movimentos sociais,
intervenção política, inovação tecnológica e autocorreção institucional. Mas apesar das soluções
propostas para a crise do meio ambiente, a grande maioria dos habitantes do mundo ocidental,
depende dos produtos da tecnologia moderna que são os responsáveis pela poluição. Assim,
embora defendendo, "da boca para fora" o objetivo de conservação, as pessoas, em sua
maioria, estão de fato relutantes em sacrificar o estilo de vida "civilizado". Portanto, esses
problemas relativos à poluição do meio ambiente, afetam toda área de vida humana – meios de
ganhar a vida, os confortos físicos, a recreação e os valores sociais.

As soluções, sem dúvida alguma, difíceis de serem achadas de comum acordo e certamente
serão executadas muito devagar.

Autor

Enio Neth de Goss, sociólogo.


ANÁLISE BACTERIOLÓGICA DA ÁGUA NA UNIVERSIDADE
FEDERAL DO PARANÁ – SUBSEDE DO SETOR DE CIÊNCIAS DA
SAÚDE, JARDIM BOTÂNICO - CAMPUS III

Eliane Rose Serpe Elpo

Eliane Carneiro Gomes

Heloísa Máximo Espínola

Resumo

Avaliou-se a qualidade microbiológica da água, destinada ao consumo humano distribuída pela


Companhia de Saneamento do Paraná (Sanepar) na Subsede do Setor de Ciências da Saúde
(Jardim Botânico) da Universidade Federal do Paraná. Utilizou-se o método de fermentação em
tubos múltiplos que determina o Número Mais Provável (NMP) de bactérias coliformes totais e
fecais/100 ml. Os resultados obtidos para as 48 amostras de água, correspondentes aos 16
pontos de coleta, registraram valores inferiores a 1,1 bactérias coliformes totais e fecais/ 100ml
de água analisada. Concluiu-se que a água, sob o ponto de vista bacteriológico, está de acordo
com a legislação vigente. O trabalho foi realizado no laboratório da disciplina de Saúde Pública
do curso de Farmácia da Universidade Federal do Paraná (UFPR).

Abstract

The microbiological quality of water destined for human consumption distributed by


Companhia de Saneamento do Paraná (Sanepar) at the Health Sciences Sector Unit (Jardim
Botânico) was evaluated. The method employed was based on fermentation in multiple tubes,
determining the Most Probable Number (MPN) of coliform and fecal bacteria per 100 ml. The
results obtained for 48 samples of water, corresponding to 16 collection points, registered
values below 1.1 total coliform and fecal bacteria per 100 ml of analyzed water. It was
concluded that the water, from the bacteriological viewpoint, is in accordance with existing
legislation. Measurements were performed in the laboratory used for the Public Health course
for the Pharmacy undergraduate program at the Federal University of Paraná (UFPR).

Introdução

Nas águas, do ponto de vista sanitário, o que realmente põe em risco a saúde pública é a
ocorrência de poluição fecal, pela possibilidade de estarem presentes também microrganismos
patogênicos intestinais, como bactérias, vírus, protozoários e ovos de helmintos, agentes
freqüentemente responsáveis por doenças de veiculação hídrica (GELDREICH, 1974). É claro
que isto somente é verdadeiro se forem excluídos deste grupo de enfermidades os
envenenamentos ocasionados por substâncias químicas, que normalmente são oriundas de
despejos industriais (ROCHA, 1974).

No entanto, a evidência direta daqueles agentes patogênicos na água é tecnicamente bastante


difícil. Por estes motivos, empregam-se métodos indiretos na investigação da presença ou não
de poluição de origem fecal nas águas, pesquisando-se bactérias indicadoras de poluição fecal.
Para isto são pesquisadas rotineiramente as bactérias do grupo coliforme, pois, geralmente,
elas estão presentes quando ocorre poluição de origem fecal e ausentes quando não ocorre tal
poluição (BRANCO,1972; CRISTOVÃO et al., 1974; GELDREICH, 1974; NYSDH, 1971 ). Deste
modo, verificando-se a presença de bactérias coliformes em uma água pode-se considerar que
ela recebeu matéria fecal e passa a ser potencialmente perigosa à saúde humana, pelo fato de
ser capaz de veicular microrganismos patogênicos intestinais, que são também eliminados
habitualmente com as fezes (AMERICAN WATER WORKS ASSOCIATION, 1970; BRANCO,1974;
CRISTOVÃO et al., 1974; CETESB, 1993).

O presente trabalho teve como objetivo avaliar a qualidade microbiológica da água destinada
ao consumo humano distribuída pela Sanepar na Subsede do Setor de Ciências da Saúde
(Jardim Botânico) da Universidade Federal do Paraná (UFPR), empregando o método de
fermentação em tubos múltiplos que determina o Número Mais Provável (NMP) de bactérias
coliformes/100 ml.

Material e métodos

Material

Empregaram-se para a análise bacteriológica da água, da Subsede do Setor de Ciências da


Saúde da UFPR os materiais indicados pela APHA (1992) e CETESB (1993).

Métodos

Coleta da amostra

A metodologia para coleta de águas tratadas baseou-se nos padrões estabelecidos por SOUZA e
DERISIO (1977), pela APHA (1992) e pela CETESB (1993).

Amostragem

A amostragem compreendeu 16 pontos de coleta, na Subsede do Setor de Ciências da Saúde


da UFPR sendo coletadas 3 amostras de 100 ml em cada ponto, num total de 48 amostras.

Transporte, preservação e prazo para análise das amostras

As amostras foram transportadas em caixa de isopor com gelo e conservadas até o momento
das análises em temperatura inferior a 10ºC.
O tempo decorrido entre a coleta das amostras e o início do exame bacteriológico foi, em
média, de meia hora, não se ultrapassando o limite de armazenamento das mesmas, que é de
24 horas (Standard Methods).

Meios de cultura empregados

• Caldo lauril triptose-CL (g/l) Concentração dupla (Laboratórios Britania)

No preparo deste meio foi seguida a técnica recomendada pelo fabricante, que consiste em
dissolver 71.2 g do meio desidratado em 1000 ml de água destilada fria, sob agitação e
posterior repouso por 5 minutos. Foram distribuídos 10 ml do meio em tubos de ensaio,
contendo tubos de Durham, os quais foram tampados com tampões de algodão hidrófilo e
esterilizados em autoclave a 121º C, por 15 minutos. O caldo foi resfriado, imediatamente, após
a esterilização, apresentando pH final 6,8 + 0,2 e, estocado em temperatura ambiente até o
momento do uso (REINHARDT,1984; CETESB,1993).

• Caldo lactosado verde brilhante-VB (g/l) Concentração simples (Biobrás S.A.)

Conforme as instruções do fabricante foram adicionadas, 40 g do produto desidratado em 1000


ml de água destilada. Após sua dissolução completa, o meio foi distribuído em volumes de
aproximadamente 10 ml , em tubos de ensaio, contendo em seu interior o tubo invertido de
Durham. Os tubos foram tampados com tampões de algodão hidrófilo e, em seguida,
esterilizados em autoclave a 121º C, por 15 minutos. O caldo esterilizado apresentou pH final
7,2 + 0,2, sendo estocado em temperatura ambiente e ao abrigo da luz, até o momento do uso
(REINHARDT, 1984; CETESB,1993).

• Caldo EC(g/L) – Concentração simples (Laboratórios Britania)

Para preparar este meio, segundo as recomendações do fabricante, foram dissolvidos 37,4 g do
produto desidratado em 1000 ml de água destilada. Aqueceu-se o meio sob agitação freqüente
até sua completa dissolução. Volumes de 10 ml do meio foram distribuídos em tubos de ensaio
medindo 16 x 150 mm, contendo em seu interior tubo invertido de Durham. Após a distribuição
do meio, os tubos foram tampados com tampões de algodão hidrófilo e esterilizados em
autoclave a 121ºC por 15 minutos, o meio apresentou pH final 6,9 + 0,1, sendo estocado em
temperatura ambiente até o momento do uso (REINHARDT, 1984; CETESB,1993).

Procedimento

O exame bacteriológico da água seguiu a metodologia descrita pela APHA (1992), baseada no
Método de Fermentação em Tubos Múltiplos, que determina o Número Mais Provável (NMP) de
coliformes/100ml de amostra de água. O NMP corresponde a uma estimativa da densidade
destas bactérias pesquisadas a partir da combinação de resultados positivos e negativos
(CETESB,1993).

Pesquisa de coliformes

A pesquisa de coliformes na água foi executada segundo a AWWA (1970), a APHA (1992) e
CETESB (1993).
Neste trabalho, realizou-se apenas a prova de presunção, já que não houve crescimento
microbiano. Para tanto, 10ml da água, devidamente, homogeneizada foram assepticamente
inoculados em 10 tubos de caldo lauril triptose (CL), contendo tubo de Durham, os quais foram
incubados em estufa a 35ºC por 24-48 horas.

Resultados e discussão

Os resultados das análises da água são apresentados na tabela 1. Comparando os dados


obtidos com o índice NMP/100 ml (APHA,1992) observou-se que nenhum dos 16 locais de
coleta de água apresentou positividade para coliformes totais e fecais, revelando que se trata
de água própria para o consumo.

De acordo com o Ministério da Saúde, água potável é aquela que apresenta a qualidade
adequada ao consumo humano, respeitando-se os padrões de potabilidade, quanto às
características físicas, organolépticas, químicas, radioativas e bacteriológicas. Para esta última
característica, o Ministério da Saúde recomenda que água potável deve apresentar ausência de
bactéria do grupo coliforme / 100 ml (BRASIL,1990). Assim, a água fornecida para a Subsede
do Setor de Ciências da Saúde, representada pelo ponto de entrada (PE) recebeu tratamento
adequado pela Companhia de Saneamento do Paraná (Sanepar).

E, a água dos demais pontos de coleta, proveniente das cisternas (C1, C2), bebedouros (BO,
BCA, BN, BF), laboratórios (LP, TA, CQ, SM, NA), cozinhas(CA,CB) e copa (CO), também é de
boa qualidade, demonstrando que houve manutenção e limpeza adequadas das cisternas. Além
disso, mostra que não houve infiltrações nas tubulações de distribuição nos locais de coleta.

Isto é esperado, pois a Sanepar tem uma programação de 10 parâmetros, que representam o
índice de qualidade da água distribuída na Região Metropolitana de Curitiba, correspondentes
as análises de pH, turbidez, cor, oxigênio consumido, Ferro, Cloro Residual, Flúor, Manganês,
coliformes totais e fecais. Estas, são coletadas diariamente em reservatórios e em locais críticos
da rede, perfazendo um total de 420 amostras ao mês. Dados obtidos junto a este órgão,
indicam que não há presença de coliformes totais e nem fecais, nas amostras correspondentes
a esta região em que se localiza esta subsede da UFPR , bem como nos demais pontos
analisados, na Região Metropolitana de Curitiba, demonstrando que a qualidade da água sob o
ponto de vista sanitário, é satisfatória (SANEPAR,2001).

Por outro lado, VASCONCELOS; AQUINO (1995) realizaram levantamento das condições
sanitárias da água consumida em escolas públicas de conjuntos habitacionais da zona oeste de
Manaus (Amazonas). Analisaram bacteriologicamente 66 amostras de água oriundas de poços e
da Companhia de Saneamento do Amazonas (Cosama), mediante a técnica da membrana
filtrante para os coliformes totais e fecais e da contagem padrão em placa para microrganismos
mesófilos. Estes autores verificaram que a água fornecida pela Cosama nas 11 escolas eram
poluídas por coliformes de origem fecal, com exceção de duas, que apresentaram coliformes
provenientes do solo e/ou de vegetais.

Também, com relação ao tratamento de água pela Cosama, na Ponta do Ismael (no Rio Negro),
foi efetivo no controle de coliformes e está de acordo com os padrões de potabilidade
estabelecidos pelo Ministério da Saúde. Assim, é possível que a fonte de contaminação da água
fornecida pela Cosama aos colégios, seja devida a infiltrações na tubulação de distribuição.
Outra causa provável, pode ser atribuída à falta de limpeza e manutenção periódica dos
reservatórios das escolas, assim como a troca das velas dos bebedouros. Além disso, a ausência
de filtro observada em algumas escolas, pode explicar a elevada contaminação por coliformes
da água distribuída pela Cosama (NORMANDE ,1992).
Conclusão

Os resultados obtidos neste trabalho indicaram que a água utilizada na Subsede do Setor de
Ciências da Saúde da Universidade Federal do Paraná mostrou-se própria para o consumo
humano, sob o ponto de vista bacteriológico. A água fornecida pela Sanepar recebeu
tratamento adequado, assim como houve correta manutenção e limpeza de cisternas.
Referências

AMERICAN WATER WORKS ASSOCIATION. Standard methods for examination of water


and wastewater. 18.th. Washington : American Public Health Association. 1992. p. 9-13; 9-
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Centro de Pesquisa e Processamento de Alimentos, v. 13, n. 2, p. 119-124, jul/dez.
1995.

Autores

Eliane Rose Serpe Elpo,

farmacêutica bioquímica, professora adjunta do curso de Farmácia do

setor de Ciências da Saúde da UFPR

Eliane Carneiro Gomes,

farmacêutica bioquímica, professora assistente da disciplina de Saúde Pública do curso de


Farmácia da UFPR

Heloísa Máximo Espínola,

farmacêutica em estágio

em Basel, Suíça.
CONTROLE DINÂMICO DA QUALIDADE DA ÁGUA

Edvaldo Kulcheski

Élvio M. Silva Giongo

Chisthian Thomaz Patulski

Adriane Rezende Mercer

Emerson Luís Strapasson

Carlos Chiarello

Resumo

Quando se pensa em qualidade da água para consumo humano, surge a necessidade de conhecer,
estabelecer, estudar e controlar o conjunto de características que fazem (ou não) com que ela seja
considerada adequada para este fim. É fundamental conhecer essas características com o objetivo de
saber quais são e por que representam a condição pretendida; estabelecê-las para evidenciar a opção
por determinada qualidade; estudá-las, a fim de aperfeiçoar seu conhecimento e, controlá-las, visando
garantir sua adequação ao consumo humano.

A água no seu estado de pureza total não existe; deve-se imaginá-la como uma substância que se
manifesta sob a forma de numerosas dispersões aquosas, de composição muito variável, que lhe
conferem, em conseqüência, características que nem sempre são aquelas que representam a condição
desejada.

A norma técnica estabelece a qualidade que o produto deve apresentar para poder satisfazer às
necessidades do consumidor.

O controle da qualidade objetiva fundamentalmente a qualidade de conformidade para o produto.

Essa conceituação, absolutamente, não implica que o controle da qualidade constitua o conjunto de
atividades que geram as características de qualidades desejadas; estas são obtidas desde a escolha da
fonte de matéria-prima até as fases de projeto, execução, operação e manutenção dos processos
produtivos e distributivo.

As atividades de controle da qualidade apenas visam saber se o produto se mantém com a qualidade
desejada, limitando-se, portanto, a constituir o balizamento fundamental que permite que os processos
produtivo e distributivo sejam reajustados sempre que seu funcionamento conduzir a uma qualidade
diferente da estabelecida. Com o controle da qualidade não se obtém qualidade; esta é inerente ao
produto e prevista nos processos produtivo e distributivo. O controle não agrega qualidade ao produto.
É um erro crer que a qualidade é um assunto de exclusiva incumbência das Áreas de Controle da
Qualidade. Todos os setores da Empresa devem viver o problema da qualidade.

O produtor é o responsável pela qualidade e não o controle da qualidade. O controle da qualidade não
resolve os problemas dos processos produtivo e distributivo; somente dá as razões para estudá-los.

As decisões devem ser baseadas em dados reais. Os dados devem ser compatíveis e estar dispostos de tal
maneira que permita sua análise.

Denomina-se controle Dinâmico da Qualidade ao controle efetuado durante as etapas sucessivas que
caracterizam o processo produtivo.

É o controle efetuado com o objetivo de instruir as decisões no sentido de manter o processo produtivo
em condições de obter regularmente a qualidade desejada do produto. O controle dinâmico objetiva
conhecer e ajustar o processo produtivo, pois o produtor tem a chance de corrigir o processo, se
necessário.

Portanto, não tem sentido se pretender controlar a qualidade se o processo produtivo não estiver sob
controle.

Como um exemplo extremo, não verificado na prática, se determinado processo apresentasse uma
certeza de 100% de que não sairia do estado de controle, não seriam necessárias as análises de
laboratório e medições das características de qualidade do produto (para fins de controle dinâmico); se
houvesse uma forma de se saber se o processo está ou não sob controle, que não dependesse do
conhecimento das características de qualidade dos produtos em processamento, não seria necessário o
"laboratório de controle dinâmico da qualidade". Tais condições ideais não existem e é sempre
necessária a existência do laboratório de controle da qualidade; estas considerações visam apenas
enfatizar o caráter de atividade essencialmente "meio" das determinações de laboratório.

Abstract

When one thinks about quality of water for human consumption, it becomes necessary to know, establish,
study and control a set of characteristics that cause it to be (or not be) considered adequate for that
purpose. It is fundamental to know these characteristics with the objective of knowing what they are and
why they represent the desired condition; establish them to emphasize the choice for a particular quality;
study them, in order to perfect our understanding of them; and control them, with an aim to assuring
their suitability for human consumption.

Water in its totally pure state does not exist; one must imagine it as a substance that manifests
itself as numerous aqueous dispersions, with quite variable composition. This endows it with
characteristics that are not always those that represent the desired condition.

Technical norms establish the quality a product must present in order to satisfy consumer
needs.

Quality control aims fundamentally at the quality of conformity for the product.

This conception does not in any way imply that quality control constitutes the set of activities
that generate the desired qualities; these are obtained starting with the choice of source for
raw materials and extending to all phases of planning, execution, operation and maintenance of
production and distribution processes.

Quality control activities aim only at determining whether the product maintains the desired
quality, limiting itself, therefore, to establishing the fundamental guidelines that allow the
production and distribution processes to be readjusted whenever they function in ways that
lead to quality that departs from requirements. Quality control does not produce quality; it must
be inherent in the product and foreseen in the distribution and production processes. Control
does not add quality to the product. It is a mistake to believe that quality is an issue that is
incumbent only upon the areas of Quality Control. All sectors of the company must immerse
themselves in the problem of quality.

The producer, not quality control, is responsible for quality. Quality control does not solve the
problems that may be present in the production and distribution processes; it merely supplies
reasons for studying them.

Decisions must be based on real data. The data must be compatible and should be arranged in
such a manner as to allow their analysis. Dynamic Quality Control is the name given to control
effected in the successive stages that characterize the production process.

It is a control process that is conducted with the goal of instructing decisions in the sense of maintaining
the production process, since the producer has a chance of correcting the process if necessary.

Therefore, it makes no sense to try to control quality if the production process is not under control.

As an extreme example, not observed in practice, if there were 100% certainty that a particular process
would not depart from the control state, laboratory analyses and measurements of the quality
characteristics of the product would not be necessary (for the purpose of dynamic control); if there were
a way of knowing whether the process is or isn’t under control, and if that did not depend on knowledge
of the quality characteristics of the products being processed, there would be no need for a "dynamic
quality control laboratory" (these ideal conditions never exist and it is always necessary to have a quality
control laboratory; these considerations aim only at emphasizing the essentially "means" character of
laboratory determinations).

Introdução

Para agilizar o processo de controle dinâmico da qualidade, a Sanepar, por meio da Unidade de
Serviços de Ava-liações e Conformidades (Usav) em conjunto com a Unidade de serviços de
Tecnologia (Usti), baseada na Portaria Vigente do Ministério da Saúde que estabelece os
procedimentos e responsabilidades relativos ao controle e vigilância da qualidade da água para
consumo humano, desenvolveu e disponibilizou o Sistema de Qualidade (SQA). Este sistema é
on-line, em ambiente de grande porte (Mainframe), aproveitando a estrutura da rede de
informática da Sanepar. Está na linguagem de programação Natural e tem como gerenciador de
banco de dados o Adaptable Data Base System (Adabas).

O SQA possibilita uma sistemática dinâmica para a gestão do controle operacional da qualidade
do produto, facilitando que os resultados laboratoriais possam ser consultados assim que
estejam digitados, começando obrigatoria-mente por quem produz, pelos níveis operacionais,
tático e estratégico, permi-tindo agilidade na apuração de responsa-bilidades e,
conseqüentemente de mu-danças nas tomadas de decisões, e a as-sunção dos problemas
qualitativos.
Com este Sistema foi possível des-centralizar as análises bacteriológicas e os parâmetros físico-
químicos que constam do Índice de Qualidade da Água Distribuída (Iqad), garantindo a
manutenção integral do atendimento à legislação vigente.

Objetivos do controle dinâmico da qualidade por meio da descentralização:

- promoção do controle dinâmico da qualidade, com rapidez de resposta frente a necessidades de


alterações operacionais;

- comprometimento da equipe de produção e equipe de manutenção de rede/controle da qualidade com


os resultados da qualidade;

- otimização dos recursos técnicos nas estações de tratamento;

- desenvolvimento de pessoal por meio de aprendizado de novas técnicas laboratoriais normatizadas;

- inovação de suas operações trazendo maior confiança e superação das metas perante a comunidade e
órgãos municipais (Secretaria Municipal de Saúde);

- gerenciamento do controle operacional – Iqai-Iqap-Iqad-Iqet;

- redução de custos.

Os dados abaixo demonstram que a Sanepar teve redução em suas despesas operacionais:

- sem a descentralização, em 1999 o custo da Sanepar com análises laboratoriais previsto para atender a
legislação em vigor era de 1,6 % da despesa operacional da Empresa;

- com a descentralização, o custo com análises laboratoriais realizadas em 1999 foi de 1,1 % da despesa
operacional da Empresa;

- em 2000 o custo com análises laboratoriais realizadas foi de 1,2 % da despesa operacional da
Empresa.

Com o desenvolvimento do SQA viabilizou-se a descentralização das análises. Como a descentralização


era apenas das análises bacteriológicas e físico-químicas em atendimento aos índices de qualidade e as
demais análises continuariam sendo realizadas pela Usav, unidade responsável pelos laboratórios,
tornou-se necessário criar um sistema on-line que permitisse que tanto as unidades de negócio como a
Usav pudessem registrar os resultados e disponibilizar para consultas, resultados, emissões dos laudos e
relatórios pertinentes à qualidade do produto.

Objetivo

O SQA é um sistema on-line e tem por objetivo permitir que os responsáveis pelos processos produtivo e
distributivo, em qualquer local onde esteja instalada a rede de teleprocessamento da Sanepar, possam de
modo rápido e eficiente:

– registrar os resultados das aná-lises;

– cadastrar os parâmetros que deverão ser analisados;


– cadastrar os parâmetros que são utilizados para a obtenção dos Índices;

– emitir relatórios dos Índices de Qualidade (Iqai-Iqap-Iqad-Iqet);

– emitir laudos dos resultados analisados;

– relacionar e consultar as amostras que não atenderam a Portaria;

– utilizar tabelas (unidades, sistemas, cadastros de ETEs, níveis de acesso);

? consultar (amostras digitadas, totais, médias, gráficos, relatórios).

Descrição dos módulos do sistema

Registro dos resultados

É neste módulo que se tem as opções para o registro, consulta e alterações dos resultados obtidos nas
análises laboratoriais.

Os parâmetros que constam do SQA estão baseados nas Portarias 36/1990 e 1.469/2000 do Ministéro da
Saúde que dispõem sobre procedimentos e res-ponsabilidades inerentes ao controle e à vigilância da
qualidade da água para con-sumo humano e estabelecem seu padrão de potabilidade. Os parâmetros que
cons-tam do SQA estão distribuídos nos se-guintes tipos de análises :

- Físico-químico de água:

Exame físico da água feito para determinar suas características físicas e químicas, tais como: turbidez,
cor, odor, pH, alcalinidade, Cloro, etc.

- Físico-químico de esgoto:

Exame físico do esgoto feito para determinar suas características físicas e químicas, tais como: DBO,
DQO, OD, Sólidos, etc.

- Absorção atômica:

Exame espectrofotométrico da água feito para determinar a presença ou ausência de metais, tais como:
Ferro, Manganês, Bário, Chumbo, Cobre, etc.

- Bacteriológica:

Exame físico da água feito para determinar a presença, número e identificação de bactérias, tais como:
coliformes totais e fecais, colônias atípicas, cólera, etc.

- Hidrobiológica:

Exame físico da água feito para determinar a presença, número e identificação de microrganismos e
outros organismos vegetais e animais, tais como: algas, protozoários, etc.
Parâmetros de análise

É neste módulo que se definem os parâmetros que devem ser analisados em atendimento ao controle
operacional e as legislações vigentes. É neste módulo que são incluídos no SQA os parâmetros que
devem ser analisados, de acordo com o tipo de análise que pertencem, físico-químico de água e esgoto,
absorção atômica, cromatográfico, bacteriológico e hidrobiológico.
Parâmetros de índices

É neste módulo que se definem os parâmetros que constam dos Índices de Qualidade.
Também é neste módulo que se definem as faixas e os pesos para cada parâmetro.

Índices
É neste módulo que se tem as opções de impressão dos Índices de Qualidade. Os índices podem ser
impressos por Unidade, Local, Divisão, Data, Ponto de Coleta e Geral (neste apenas aparecem os
valores do índice sem os valores dos resultados).

Os índices que constam do SQA são:

- Iqai (Índice da Qualidade da Água in Natura);

- Igap (Índice da Qualidade da Água Produzida);

-Iqad (Índice da Qualidade da Água Distribuída);

- Iqet (Índice daQualidade do Esgoto Tratado);

Com estes índices é obtida a avaliação da qualidade dos mananciais, que é a matéria-prima, a avaliação
da eficiência dos processos de tratamento de água, avaliação da qualidade durante o processo de
distribuição e avaliação da eficiência do processo de tratamento de esgoto, pelo qual é possível
comparar se a qualidade da água que está sendo devolvida ao manancial está melhor em relação a que
foi captada para o tratamento.

Iqai - Índice da Qualidade da Água

in Natura
Definição: O índice destinado a avaliar a qualidade da água in natura denominado Iqai,
procura sintetizar os números resultantes das análises para controle da qualidade.

As curvas de qualidade foram desenvolvidas considerando-se os limites estipulados pela


Resolução n.º 20 de 18/06/1986 do Conselho Nacional do Meio Ambiente, que estabelece a
classificação das águas doces, salobras e salinas segundo seus usos preponderantes. O
delineamento das curvas foi feito a partir da avaliação do corpo técnico da Sanepar, sobre
valores mais adequados para a água in natura.

Metodologia: A estratégia para elaboração do Iqai passou pela definição dos principais
parâmetros a serem monitorados, bem como a influência relativa desses parâmetros na
qualidade da água in natura tanto do ponto de vista estético quanto sanitário.

As diretrizes básicas para a criação do Iqai, foram:

· que o desenvolvimento do Iqai fosse feito tendo como cenário o estipulado na Resolução n.º 20 do
Conselho Nacional do Meio Ambiente;

· que o conjunto dos parâmetros considerados fossem aqueles rotineiramente utilizados pela Sanepar no
monitoramento da qualidade da água in natura.

Resultaram dessas diretrizes os seguintes parâmetros básicos:

· Coliformes totais

· Coliformes fecais

· Cor aparente

· Ferro total

· Manganês

· Alumínio

· DBO

· DQO

· Oxigênio Dissolvido

· PH

· Matéria Orgânica

· Turbidez

O cenário de análise tem como balizamento a Resolução n.º 20 do Conselho Nacional do Meio Ambiente.
Dessa forma, a água poderá estar dentro dos padrões previstos nessa Resolução ou não. Isso significa
que os limites, para cada um dos parâmetros, são os limites previstos nesse instrumento regulamentador.
Iqap - Índice da Qualidade da Água Produzida

Definição: O índice destinado a avaliar a qualidade da água produzida nas estações de


tratamento de água operadas pela Sanepar denominado Iqap, procura sintetizar os números
resultantes das análises para controle da qualidade durante o processo produtivo.

As curvas de qualidade foram desenvolvidas considerando-se os limites estipulados pela


Portaria 036/90 de Ministério da Saúde, que estabelece as normas e padrões de potabilidade da
água destinada ao consumo humano. O delineamento das curvas foi feito a partir da avaliação do
corpo técnico da Sanepar, sobre valores mais adequados para a água distribuída.

Metodologia: A estratégia para elaboração do Iqap passou pela atividade de definição dos principais
parâmetros a serem monitorados, bem como a influência relativa desses parâmetros na qualidade da
água produzida tanto do ponto de vista estético quanto sanitário.

As diretrizes básicas para a criação do Iqap, foram:

· que o desenvolvimento do Iqap fosse feito tendo como cenário o estipulado pela Portaria 036/90, do
Ministério da Saúde;

· que o conjunto dos parâmetros considerados fosse aqueles rotineiramente utilizados pela Sanepar no
monitoramento da qualidade da água produzida.

Resultaram dessas diretrizes os seguintes parâmetros básicos:

· Cloro residual

· Coliformes totais

· Coliformes fecais

· Cor aparente

· Ferro total

· Manganês

· Flúor

· PH

· Matéria orgânica

· Turbidez

É importante ressaltar que o parâmetro Coliforme Fecal é considerado decisivo. Dessa forma, se a
análise da água apontar resultado negativo para esse indicador, será determinado o Iqap da amostra, se
apontar resultado positivo para esse indicador, não será feita a determinação do Iqap, sendo a amostra
considerada fora dos padrões de potabilidade.

O cenário de análise tem como balizamento a Portaria 036/90 do Ministério da Saúde.


Dessa forma, a água poderá estar dentro dos padrões de potabilidade previstos nessa
portaria ou não. Isso significa que os limites de potabilidade, para cada um dos
parâmetros, são os limites previstos nesse instrumento regulamentador.

Iqad - Índice da Qualidade da Água Distribuída

Definição: Este Índice é destinado a avaliar a qualidade da água distribuída à população do


Paraná, denominado Iqad, ele procura sintetizar os números resultantes das análises para
controle da qualidade na rede de distribuição.

As curvas de qualidade foram desenvolvidas considerando-se os limites estipulados pela


Portaria 036/90 de Ministério da Saúde, que estabelece as normas e padrões de potabilidade da
água destinada ao consumo humano. O delineamento das curvas foi feito a partir da avaliação
do corpo técnico da Sanepar, sobre valores mais adequados para a água distribuída.

Metodologia: Para elaboração do Iqad foram definidos os principais parâmetros a serem


monitorados, bem como a influência relativa desses parâmetros na qualidade da água
distribuída tanto do ponto de vista estético quanto sanitário.

As diretrizes básicas para a criação do Iqad, foram:

· que o desenvolvimento do Iqad fosse feito tendo como cenário o esti-pulado pela Portaria
036/90, do Minis-tério da Saúde;

· que o conjunto dos parâmetros considerados fossem aqueles rotineira-mente utilizados pela
Sanepar no monito-ramento da qualidade da água distribuída.

Resultaram dessas diretrizes os seguintes parâmetros básicos:

· Cloro residual

· Coliformes totais

· Coliformes fecais

· Cor aparente

· Ferro total

· Manganês

· Flúor

· PH

· Matéria Orgânica

· Turbidez

É importante ressaltar que o parâ-metro Coliforme Fecal é considerado decisivo. Dessa forma, se
a análise da água apontar resultado negativo para esse indicador, será determinado o Iqad da amostra,
se apontar resultado positivo para esse indicador, não será feita a deter-minação do Iqad, sendo a
amostra con-siderada fora dos padrões de potabilidade.

O cenário de análise tem como balizamento a Portaria 036/90 do Minis-tério da Saúde.


Dessa forma, a água po-derá estar dentro dos padrões de potabilidade previstos nessa
portaria ou não. Isso significa que os limites de potabilidade, para cada um dos
parâmetros, são os limites previstos nesse instrumento regulamentador.

Iqet - Índice da Qualidade do Esgoto Tratado

Definição: O Iqet é destinado ao acompanhamento, monitoramento e avaliação dos níveis de


qualidade do es-goto tratado.

As curvas de qualidade foram desenvolvidas considerando-se os limites estipulados pela


Resolução n.º 20 de 18/06/1986 do Conselho Nacional do Meio Ambiente, que estabelece a
classificação das águas doces, salobras e salinas segundo seus usos preponderantes, e também
pela NBR-9800 da ABNT, que estabelece critérios para lançamento de efluentes líquidos
industriais no sistema coletor público de esgoto sanitário. O delineamento das curvas foi feito a
partir da avaliação do corpo técnico da Sanepar, sobre valores mais adequados para a água in
natura.

Metodologia: A estratégia para elaboração do Iqet passou pela atividade de definição dos
principais parâmetros a serem monitorados, bem como a influência relativa desses parâmetros
na qualidade do esgoto tratado tanto do ponto de vista estético quanto sanitário.

As diretrizes básicas para a criação do Iqet, foram:

· que o desenvolvimento do Iqet fosse feito tendo como cenário o estipulado na Resolução n.º 20 de
18/06/1986 do Conselho Nacional do Meio Ambiente, que estabelece a classificação das águas doces,
salobras e salinas segundo seus usos preponderantes, e também pela NBR-9800 da ABNT, que estabelece
critérios para lançamento de efluentes líquidos industriais no sistema coletor público de esgoto sanitário
.

· que o conjunto dos parâmetros considerados fossem aqueles rotineiramente utilizados pela Sanepar no
monitoramento da qualidade do esgoto tratado.

Resultaram dessas diretrizes os seguintes parâmetros básicos:

· pH

· DQO

· DBO

· Óleos e Graxas

· Sólidos Totais Sedimentáveis

O cenário de análise tem como balizamento a Resolução n.º 20 de 18/06/1986 do Conselho Nacional do
Meio Ambiente e a NBR-9800 da ABNT. Dessa forma, o esgoto poderá estar dentro dos padrões
previstos nessa Resolução e Norma ou não. Isso significa que os limites, para cada um dos parâmetros,
são os limites previstos nesses instrumentos regulamentadores.

Laudo
É neste módulo que se tem as opções de impressão dos Laudos. Os Laudos podem ser impressos por
Unidade, Sistema, Divisão, Data, Ponto de Coleta e por Amostra.

Amostras fora da Portaria


É neste módulo que se obtém a relação das amostras e os respectivos parâmetros que não atenderam os
Valores Máximos Permitidos (VMP) pela legislação em vigor.

Neste módulo tem-se as opções de consulta em tela ou da impressão das amostras e dos parâmetros que
não atenderam os VMP.
Tabelas
Neste módulo obtém-se as seguintes informações:

- relação das Unidades de Negócio e os respectivos códigos contábeis;

- relação dos sistemas operados pela Sanepar e os respectivos códigos contábeis;

- relação das estações de tratamento de esgoto e as respectivas condições de Operação;

- relação dos usuários do SQA e os respectivos níveis de acesso ao sistema;

Consultas
Neste módulo obtém-se as seguintes informações:

- relação das Análises digitadas que constam do banco de dados;

- consulta aos totais de parâmetros analisados em determinado período especificado;

- gráfico de todas as faixas (não avaliado, não atende, precária, aceitável, boa ótima); por índices (Iqai-
Iqap-Iqad-Iqet);

- gráficos por faixa por Índices;

- consulta às médias dos parâmetros analisados em determinado período especificado (esta informação é
para ser utilizada para a Divulgação da Qualidade aos clientes);

- consulta às informações que são encaminhadas à Secretaria Estadual da Saúde (Sisagua).


Recomendação

O Sistema da Qualidade da Água (SQA) quando alimentado com os resultados assim que sejam
obtidos, possibilitará ao corpo gerencial e operacional da Empresa analisar em tempo real e
tomar as medidas que se fizerem necessárias para eliminar as causas que porventura estejam
comprometendo ou venham a comprometer o estado de controle. Recomenda-se aos gerentes
que fiquem atentos quanto à utilização correta desta ferramenta importantíssima para o
controle dinâmico da qualidade.

Conclusões

O Sistema de Qualidade (SQA) permite às Unidades de Negócio rapidez de resposta frente às


necessidades de alterações operacionais, comprometimento das equipes de produção e equipes
de manutenção de rede/controle da qualidade com os resultados da qualidade e o
gerenciamento do controle operacional por meio dos Índices – Iqai-Iqap-Iqad-Iqet.

A descentralização ainda propiciou o desenvolvimento dos operadores de tratamento de água


em novas técnicas laboratoriais para executarem a verificação de presença ou ausência de
coliformes totais e fecais em amostras de água tratada pelo método enzimático.

Referências

BATTALHA, B. L.; PARLATORE, A. C. Controle da Qualidade da Água para Consumo


Humano. São Paulo: Cetesb, 1977.
BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria n. 36, de 19 de janeiro de 1990. Dispõe sobre as normas
e o padão de potabilidade da água destinada ao consumo humano, a serem observados em
todo o território nacional. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília,
p.1651, 23 jan. 1990. Seção 1.

BRAS IL. Ministério da Saúde. Portaria n. 1469, de 28 de dezembro de 2000. Estabelece os


procedimentos e responsabilidades relativos ao controle e vigilância da qualidade da água para
consumo humano e seu padrão de potabilidade. Diário Oficial da República Federativa do
Brasil, Brasília, 29 dez. 2000. Seção 1.

Agradecimento
Ao engenheiro Carlos Eduardo Pierin pelo apoio e incentivo para a realização deste projeto.

Autores
Edvaldo Kulcheski,

técnico químico, coordenador técnico da Unidade de Serviços de

Avaliações de Conformidades

Élvio Marlus Silva Giongo,

analista de sistemas, coordenador de Desenvolvimento de Sistemas Comerciais da Unidade de Serviço da


Tecnologia da Informação

Cristhian Thomaz Patulski,

analista de sistemas da Unidade de Serviço da Tecnologia da Informação e

responsável técnico do projeto

Adriane Rezende Mercer,

analista de sistemas da Unidade de Serviço da Tecnologia

da Informação

Emerson Luís Strapasson,


analista de sistemas da Unidade de Serviço da Tecnologia

da Informação

Carlos Chiarello,

analista de sistemas da Unidade de Serviço da Tecnologia

da Informação.
MONITORAMENTO EM TEMPO REAL

DA QUALIDADE DA ÁGUA DOS MANANCIAIS

DA REGIÃO METROPOLITANA DE

SÃO PAULO (RMSP)

Armando Perez Flores

Edvaldo Sorrini

Resumo

De toda a água produzida pela Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo
(Sabesp) na Região Metropolitana de São Paulo (RMSP), 99,5% é proveniente de reservatórios
superficiais, que em grande parte se localizam em áreas que estão sendo atingidas pela
mancha urbana dessa região. A despeito das restrições impostas pela Lei de Proteção de
Mananciais, a ocupação das bacias de contribuição desses reservatórios vem ocorrendo de
forma descontrolada, comprometendo seriamente a qualidade das suas águas. Neste cenário, a
Sabesp está investindo em novas tecnologias para monitoramento de qualidade das águas de
seus mananciais, de forma a obter respostas rápidas e confiáveis, visando evitar que possíveis
variações bruscas na qualidade da água nas represas possam provocar impactos no tratamento
e atingir o consumidor final.

Abstract
Of all the water produced by the Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) or
Basic Sanitation Company of the State of São Paulo in the Metropolitan São Paulo Area (MSPA), 99.5%
is drawn from surface reservoirs, which to a large extent are located in areas that are being reached
by the urban stain (urban advance) of this area. Despite restrictions imposed by the Water
Source Protection Law, occupation of the basins that contribute to these reservoirs has been
taking place in an uncontrolled manner, seriously compromising water quality. Given this
scenario, Sabesp is investing in new technology for monitoring water quality at its sources, in
order to obtain fast and reliable answers, with an aim to avoiding the possibility that abrupt
variations in water quality at the dams will have an impact on treatment and reach the final
consumer.

Introdução

O abastecimento de água potável para a Região Metropolitana de São Paulo (RMSP), exige atualmente
uma vazão em torno de 63 m3/s. Desse total, 99.5% é proveniente de reservatórios superficiais, que em
grande parte se localizam em áreas que estão sendo atingidas pela mancha urbana da RMSP. A despeito
das restrições impostas pela Lei de Proteção de Mananciais, a ocupação das bacias de contribuição
desses reservatórios vem ocorrendo de forma descontrolada, comprometendo seriamente a qualidade das
suas águas.

A degradação da qualidade da água vem ocorrendo de forma acelerada em alguns reservatórios, tais
como Guarapiranga, Rio Grande e Baixo Cotia e de forma menos dramática, mas nem por isso menos
preocupante no reservatório Paiva Castro pertencente ao Sistema Cantareira. Quanto aos demais,
exclui-ndo-se aqueles reservatórios localizados em áreas protegidas, como as represas do Alto Cotia e
Rio Claro, a tendência é de comprometimento crescente da qualidade da água, em função da pressão por
espaço urbano, aliado à falta de uma política integrada e eficaz de uso do solo na região.

Monitoramento da qualidade da água na RMSP

Dentro deste contexto, a Sabesp introduziu, nos seus programas de monitoramento da qualidade da
água, os reservatórios de abastecimento da RMSP.

Assim, desde meados da década de 70 vem sendo feito um controle das densidades de algas nos
reservatórios, que inclui a identificação e contagem dos gêneros de algas presentes no reservatório, e,
em alguns casos, como no Guarapiranga e Rio Grande, a aplicação de algicidas.

A partir de 1987, o monitoramento nos reservatórios passou a incluir pontos de amostragem nos rios
contribuintes, para que se pudesse avaliar as cargas poluentes recebidas nesses reservatórios, bem como
identificar as possíveis fontes de poluição, para subsidiar as ações de proteção desses mananciais.

Neste monitoramento as freqüências com que são amostrados os mananciais vão de duas vezes por
semana, no caso do controle das algas, até trimestrais. O monitoramento mais abrangente, aquele que
fornece dados mais completos sobre qualidade da água, entretanto, é feito com uma freqüência máxima
mensal. Em alguns casos, naqueles em que o reservatório é protegido e, portanto, com uma água de
qualidade boa e estável, essa freqüência permite um controle eficaz. Naqueles, entretanto, em que a
qualidade da água está comprometida e, portanto, sujeita a variações que podem trazer problemas para
o tratamento, essa freqüência se revela insuficiente, muito aquém do que seria o ideal para se ter um
acompanhamento das oscilações de qualidade da água, que muitas vezes prenunciam problemas e que,
portanto, devem ser detectados a tempo.

Um fator que agrava essa limitação do monitoramento, diz respeito ao fato de que as
amostragens são feitas sempre no período diurno, pela dificuldade de se coletar
amostras, que exigem o uso de barco, à noite. Dessa forma, oscilações que ocorrem no
período noturno (as variações nictemerais) não são detectadas. E essas variações
podem, às vezes, ocasionar oscilações significativas na qualidade da água.

Necessidade do monitoramento contínuo


Um reservatório, embora cons-tituído por uma massa considerável de água, pode, como já foi dito,
sofrer oscilações bruscas de qualidade da água, em função de fenômenos como a in-versão térmica, a
ressolubilização de substâncias presentes nos sedimentos do fundo, variações nic-temerais, etc.

Em muitos casos, essas alterações podem afetar seriamente a qualidade da água, e se manifestam em
alguns dias. É necessário, portanto, que o monito-ramento tenha capacidade de detectar essas
alterações, para que o tratamento da água não seja, ou seja, minimamente, afetado.
Existem indicadores que permitem avaliar a situação potencial de alterações na qualidade da água num
reservatório. É o caso, por exemplo, do Oxigênio Dissolvido (OD), que está relacionado com a
ressolubilização de substâncias a partir do sedimento de fundo. Baixos teores, ou ausência, de OD no
fundo podem acarretar esse fenômeno de ressolubilização. Um monitoramento contínuo do teor de OD
no fundo, então, permite detectar situações potenciais de alteração na qualidade da água, a tempo de
prevenir a área de tratamento ou, se houver essa possibilidade, tomar medidas de reaeração artificial no
fundo.

Fica clara, portanto, a necessidade de se monitorar esses parâmetros de forma contínua, ou no mínimo,
com uma freqüência horária. Com isso, dois importantes benefícios poderão ser conseguidos:

· fenômenos que provocam alterações bruscas na qualidade da água poderão ser detectados a tempo de
prevenir o tratamento;

· amplia-se significativamente o conhecimento sobre o comportamento do reservatório, em termos da


qualidade da água, permitindo dirigir melhor o monitoramento de rotina (não-contínuo) para períodos e
áreas críticas, o que poderá resultar numa redução da quantidade de amostras, e, portanto, numa
redução equivalente nos custos desse monitoramento.

O monitoramento contínuo, ou em tempo real, da qualidade da água em rios, lagos, reservatórios, etc é
uma prática que vem sendo introduzida em muitos países que convivem com problemas ambientais, ou
mais especificamente, riscos de contaminação das suas águas. Esse tipo de monitoramento permite
aumentar significativamente a eficiência dos Sistemas de Vigilância, e em conseqüência reduzir os riscos
sanitários, quando a água é utilizada para abastecimento, ou riscos ambientais, no caso mais geral.

Monitoramento em tempo real

No caso da Sabesp, este projeto consiste de um sistema de monitoramento de dados de


qualidade de água, em tempo real, em pontos pré-determinados em reservatórios que
abastecem a RMSP.

Este sistema é constituído essencialmente, de estações remotas e unidades de recepção de


dados. As estações remotas são compostas de módulos de coletas de dados, programa de
coleta de dados, módulos de armazenagem de dados, módulos de alimentação e suporte de
energia, módulos de comunicação de dados e de sensores de aquisição de dados.

Descrição do sistema
O sistema é baseado nas descrições apresentadas a seguir:

· Operação

O sistema foi concebido para operar automaticamente com a supervisão direta de técnicos da Sabesp.

A estrutura esquemática da operação do sistema é a seguinte:

· Estação Remota

Realiza a leitura dos sensores e armazenagem dos dados gerados e a transmissão via sinal de rádio
desses dados gerados, em intervalos pré- determinados de tempo, para as unidades de recepção
correspondentes.
É capacitada para a transmissão de alarmes de qualidade, para a unidade de recepção, a qualquer
instante de tempo, permitindo a consulta manual remota, em tempo real, pelos técnicos que operam o
sistema.

· Unidade de Recepção

Mantém um programa gerenciador capacitado para a operação automática ou manual do sistema,


permitindo:

· A recepção dos dados das estações remotas correspondentes;

· Transferência automática dos dados via linha telefônica para a Unidade Central de Recepção;

· Visualização gráfica dos dados válidos das últimas 24 horas, das unidades remotas do sistema
correspondente.

· Unidade Central de Recepção

Mantém um programa gerenciador capacitado para a operação automática ou manual do sistema,


permitindo:

Consulta de dados por item monitorado, data e/ou período:

· Visualização gráfica dos dados

· Realiza a comunicação automática com as Unidades de Recepção de dados para a obtenção de dados
em situação de alarmes;

· Mantém o banco de dados central do sistema.

Parâmetros de qualidade monitorados

São medidos diretamente no local, por meio de uma sonda multiparâmetro, com os seguintes sensores
instalados:

· pH;

· Turbidez;

· Condutividade;

· Potencial de Oxi-redução

· Oxigênio Dissolvido;

· Temperatura;

A quantidade de sondas de qualidade instaladas no sistema varia de acordo com a


profundidade do local monitorado, variando de três (superfície, meio e fundo), até uma única
sonda para locais de pouca profundidade, conforme apresentado na figura 1.
Mananciais

monitorados
Estão sendo monitorados atual-mente por meio deste sistema, cinco represas utilizadas pela Sabesp
para captação e tratamento de água, a saber:

· Represa Guarapiranga com duas bóias;

· Represa Billings com três bóias;

· Represa Rio Grande com duas bóias;

· Represa Taiaçupeba com duas bóias;

· Represa Jundiaí com uma bóia;

No total são 10 locais monitorados. Considerando-se as várias profundidades dependendo de


cada ponto onde está localizada a unidade remota tem-se 17 pontos monitorados.

Descrição geral do sistema

Região M A descrição geral do sistema de monitoramento em tempo real da qualidade água


dos mananciais da etropolitana de São Paulo (RMSP) é apresentada na figura 2.

Resultados obtidos no monitoramento

Este sistema está programado para realizar uma leitura a cada 10 minutos. Com esta programação, são
gerados diariamente, 144 dados por parâmetro/ponto monitorado, isto dá uma massa mensal de dados
muito grande. Considerando 6 (seis) parâmetros por sonda, são 25.920 dados/mês por sonda. A melhor
forma de visualização de toda essa quantidade de dados, é por meio de gráficos.

Os gráficos a seguir mostram exemplos de informações que podem ser obtidas por meio deste sistema.

No gráfico 3, se pode observar claramente as variações de OD ocorridas ao longo de períodos de 24


horas. No período diurno, ou seja, onde há a incidência de luz, observa-se um incremento de até 3,0
mg/L provocado pela fotossíntese das algas presentes no reservatório.
Conclusões

Este sistema tem se apresentado até o momento, como uma excelente ferramenta de vigilância dos
mananciais. É importante observar que seu objetivo, não é a precisão dos resultados, mas as variações
significativas que podem ocorrer, de forma a indicar que alguma anomalia está ocorrendo no
reservatório. A Sabesp, juntamente com a empresa que implantou o sistema, tem feito grandes esforços
para corrigir eventuais problemas técnicos e operacionais encontrados, não deixando de ressaltar que se
trata de um sistema inovador e em fase experimental.

A intenção da Sabesp, é ampliar este sistema de monitoramento para os demais mananciais da RMSP.

Referências

COMPANHIA DE SANEAMENTO BÁSICO DO ESTADO DE SÃO PAULO. Divisão de


Monitoramento e Informações Ambientais. Relatório resumo monitoramento em tempo
real. 2000.

COMPANHIA DE SANEAMENTO BASICO DO ESTADO DE SÃO PAULO. Divisão de Monitoramento


e Informações Ambientais. Relatórios mensais monitoramento em tempo real.
2000/2001.

Autores

Armando Perez Flores,


bacharel em Química

pela Faculdade de

Filosofia Ciências e Letras

Professor Carlos Pasquale,

especialista em engenharia de saneamento básico, gerente

da Divisão de Monitoramento

e Informações Ambientais da Produção daCompanhia

de Saneamento Básico do

Estado de São Paulo (Sabesp)

Edvaldo Sorrini,

bacharel em Biologia pela

Universidade Mackenzie,

especialista em saneamento

ambiental, biólogo na Divisão

de Monitoramento

e Informações Ambientais

da Produção da Sabesp.
FATORES DA DEGRADAÇÃO AMBIENTAL

DA BACIA DE CAPTAÇÃO DE ÁGUA PARA

A CIDADE DE MARINGÁ - RIO PIRAPÓ

Lorenso Cassaro

Manoel Francisco Carreira

Resumo

A bacia do Rio Pirapó, na região de captação de água para a comunidade de Maringá, sofreu nas
últimas décadas uma crescente degradação ambiental. Tal situação pode comprometer a condição deste
manancial de abastecimento, caso não cesse o processo de degradação.

Neste trabalho buscou-se identificar os fatores que contribuíram para a degradação ambiental desta
bacia de captação. Evitando-se a degradação ambiental, os processos de tratamento de água para
abastecimento terão seus custos minimizados e a qualidade da água preservada.

Abstract
The basin of the Pirapó river, in the water collection area for the community of Maringá, has suffered an
increasing environmental degradation in the last few decades. This situation could compromise the
condition of this source of water, unless the degradation process is halted.

In this research, an identification was sought for the factors that contribute to the environmental
degradation of this water collection basin. By avoiding environmental degradation, the cost of water
supply treatment processes will be minimized and water quality preserved.

Introdução

A região de Maringá experimentou, a partir da década de 40, o desbravamento de suas exuberantes


matas, criando-se a cidade e abrindo-se espaço para exploração da agricultura. O solo era de ótima
qualidade, e assim as notícias e informações correram o mundo, provocando a migração de famílias
inteiras em busca de sustento e prosperidade.

A estratégia da modernização da agricultura visava a produção intensiva e extensiva de grãos para


gerar excedentes, e foi baseada na criação de grandes complexos agroindustriais. Tal situação gerou
uma rápida eliminação das matas para a ocupação agrícola do solo e foi a partida para o desequilíbrio
ambiental, gerando graves problemas de erosão, pois deixou de existir a proteção natural do solo, que
era feita pelas matas ciliares. Como conseqüência ocorrem assoreamento dos rios e a deterioração dos
mananciais e rios, cujas águas abastecem as cidades e se prestam a outras finalidades e
empreendimentos.

O Rio Pirapó é a única fonte de abastecimento de água para a comunidade de


Maringá, e se encontra dentro do contexto acima apresentado, sofrendo as ações da
degradação verificada na região como um todo.

Caracterização
A bacia do Rio Pirapó está localizada na Região Norte do Paraná e apresenta uma área de drenagem de
5.023 km2. Sua nascente está localizada no município de Apucarana e possui uma extensão de 168 km
até sua foz, no Rio Paranapanema. São 55 km de extensão até o ponto de captação de água para a
cidade de Maringá.

Conhecem-se as características de um rio sabendo-se o que existe nas suas margens. Por isso é
necessário analisar o histórico da região quanto à utilização do solo.

Segundo CORREIA (1991), uma das primeiras utilizações agrícolas do solo na Região Norte do Paraná
foi a cultura do café, praticada como monocultura. Tal prática agrícola tem seus riscos, e no Norte do
Paraná não foi diferente. Em decorrência das contínuas geadas das décadas de 60 e 70, a cultura
cafeeira na região sofreu uma grande decadência. As novas culturas implementadas exigiram
modernização de técnica e mecanização do solo e promoveram verdadeira revolução na produção
agrícola no Norte do Paraná. Quase triplicou a produção de grãos, que de 6,4 milhões de toneladas em
1970, passou a 17,5 milhões de toneladas em 2000 (SEAB – 2000). Com o desenvolvimento da tecnologia
em todos os campos de atividades agrícola, a mão-de-obra rural passou por um rápido processo de
substituição pelos equipamentos e máquinas. Este processo acentuou o êxodo rural, contribuindo para o
adensamento da população urbana, como demonstra a figura 1.

Segundo a publicação Perfil da Cidade de Maringá (1996), o processo de crescimento populacional no


início da fundação de Maringá foi motivado pela implantação da cultura cafeeira, já que o solo e clima
eram bastante propícios para a obtenção de grandes colheitas. Nas décadas que se sucederam às geadas,
as taxas de crescimento foram menores, todavia sempre positivas: de 10,4% na década de 50 e 3,29 nas
décadas de 80 e 90 (IBGE - 2000).

É importante observar na figura 1 que durante a década de 50 a população rural era significativamente
superior à urbana; na década de 60 os percentuais das populações rural e urbana se equivalem; a partir
da década de 70 se caracteriza o êxodo rural. Causa deste fenômeno foi a mecanização do solo agrícola
e implantação de culturas de curto ciclo produtivo.

A desvantagem deste tipo de cultura é utilizar um solo com baixa compactação, exigindo excelente
manejo do solo por meio de microbacias para evitar a lixiviação do solo.
Metodologia

Por meio de pesquisa de campo na bacia, análise visual da paisagem e informações técnicas obtidas
junto aos órgãos públicos municipais, estaduais e federais vinculados ao meio ambiente, primeiramente
buscou-se identificar os impactos ambientais que a bacia vem sofrendo ao longo dos últimos anos. Feito
isso, procedeu-se a uma análise pontual em relação a cada um dos impactos para posteriormente
identificar os fatores que contribuíram para a degradação ambiental desta bacia.

Impactos Ambientais

Os principais conflitos entre o uso e a aptidão das terras desta bacia estão relacionados com a
utilização de terras com agricultura intensiva, provocando a degradação do solo, com reflexos na
qualidade ambiental da área, e afetando como conseqüência os recursos hídricos, já que, conforme
dados da Engefoto (2000), 56% da área da bacia é agricultável. A bacia do Rio Pirapó é bordejada por
áreas urbanas que interferem seriamente nos sistemas naturais. A vulnerabilidade ambiental está
centrada nos processos erosivos e escoamentos superficiais e interfere na qualidade das águas
superficiais.

As legislações ambientais existentes nos âmbitos federais, estaduais e municipais são em grande número,
atendendo a todas as necessidades, entretanto apresentam-se fragilizadas em sua aplicabilidade.

O desenvolvimento tecnológico provocou um incremento no consumo de água e conseqüente poluição


dos rios; aumento no grau de dificuldade para o tratamento das águas de abastecimento e produziu em
alguns casos a caracterização de reuso de água. Esta situação ampliou também a necessidade de
caracterizar adequadamente as águas, visando não só estabelecer metodologia analítica, mas também a
proteção à saúde e ao patrimônio da população. A caracterização de águas é uma matéria complexa e
dinâmica, requerendo cuidados, critérios e metodologias confiáveis para sua realização.

A situação atual de degradação da bacia de captação de água do Rio Pirapó pode ser observada nas
figuras 2, 3, 4, 5 e 6. A figura 2 mostra as condições do Rio Pirapó na sua nascente, no perímetro urbano
da cidade de Apucarana, ponto em que recebe lançamentos de afluentes líquidos de diversas
características físicoquímicas e biológicas, como: carga orgânica de frigorífico, detergentes de diversas
indústrias, águas pluviais contaminadas com efluentes industriais, além de estar assoreado, dada à falta
de proteção natural (matas ciliares).
O lixão municipal da cidade de Apucarana, mostrado na figura 3, encontrase nas proximidades da
nascente do Rio Ipiguá, que é afluente do Rio Pirapó. Essa localização e a característica da
disponibilização dos resíduos sólidos e líquidos existentes favorecem a lixiviação e o escoamento do
chorume, de forma que estes resíduos atinjam as águas do Rio Ipiguá. Observa-se na figura acima que o
leito do Rio Vitória, que pertence à bacia do Rio Pirapó, está totalmente desprotegido e em processo de
assoreamento progressivo, dada à ausência de matas ciliares e falta de manejo do solo em toda a sua
extensão.

Na figura observa-se o grau de degradação dos rios que se encontram dentro dos perímetros urbanos
das cidades pertencentes à bacia de captação de água do Rio Pirapó para a comunidade da cidade
Maringá. Esses rios são receptores de efluentes com resíduos líquidos e sólidos de diferentes origens,
como por exemplo: óleos e graxas dos postos de serviços de lavagem e lubrificação automotivos,
despejos industriais, lixos orgânicos, materiais inertes de difícil degradação e lixo em geral. Todos esses
poluentes contribuem para que os rios tenham um aspecto parecido com do Rio Guaiapó, mostrado na
figura anterior.

A vista aérea do ponto de captação de água de Maringá ilustra bem a carência de matas ciliares e a
predominância de áreas agricultáveis nas margens dos rios da bacia do Pirapó.

Conclusão
Diante das condições observadas quanto ao trato do solo e à disposição das áreas urbanas, constata-se
que sua degradação está se acentuando rapidamente, podendo em breve tornar-se inviável a sua
utilização para o abastecimento público.

A identificação dos fatores geradores da degradação ambiental da bacia de captação de água da


comunidade de Maringá – Rio Pirapó possibilita concluirse que os problemas desta bacia estão
centrados em dois aspectos principais.

O primeiro é quanto à vocação da região a utilizar o solo agricultável com culturas de curto ciclo
produtivo, o que gerou o desmatamento deso rdenado e conseqüentemente a eliminação das matas
ciliares. Tais fatores geraram condições de degradação do solo e assoreamento dos mananciais. Estes
impactos ambientais podem ser mitigados por meio de programas de manejo do solo e reposição de
matas, programas hoje existentes e que precisam apenas de ser priorizados.
O segundo aspecto está centrado na atuação dos órgãos públicos municipais, estaduais e federais, pois
os fatores identificados poderão ser minimizados por meio de programas e projetos que priorizem a
recuperação ambiental desta bacia. Para que haja a implementação destas ações é necessário vontade
política dos órgãos públicos já mencionados.

A recuperação e preservação da bacia do Rio Pirapó deve ser prioritária e urgente, com um projeto
abrangente, passando por forças políticas dos municípios desta bacia e principalmente de Maringá, em
conjunto com diversos órgãos constituídos. Somente com um plano de manejo e gestão de bacia ou
comitê de bacia para gerenciar os problemas dos mananciais, ter-se-ia o processo de degradação
ambiental amenizado.

Referências

ABREU, L. S. Impactos sociais e ambientais na agricultura: estudo de caso. Brasília, DF.:


EMBRAPA, 1994.

CORRÊA, JR., J. A. O trem de ferro. Maringá : Editora 5 de abril, 1991.

ENGEFOTO ENGENHARIA E AEROLEVANTAMENTOS. Plano integrado de gerenciamento de


mananciais: relatório de elaboração dos mapas temáticos da Sanepar. Curitiba, 2000.

GOVERNO DO ESTADO DO PARANÁ. Coletânea de legislação: federal e estadual. Curitiba:


Sesu 1991.

LUZ, F. O fenômeno urbano numa zona pioneira: Maringá. Maringá : Prefeitura Municipal,
1997.

PEREIRA, P. S. Conflitos jurídicos, econômicos e ambientais. Maringá : UEM, 1999.

PREFEITURA MUNICIPAL DE MARINGÁ. Perfil da cidade de Maringá: relatório. 1996.

SOARES, P. F. Estimativa da erosividade da chuva na bacia hidrográfica do Rio


Pirapó. Maringá, 1989. Monografia (Especialização). Universidade Estadual de Maringá.

SUDERSHA. Qualidade das águas interiores do Paraná. Curitiba, 1995.

NE: Os autores já estão elaborando um estudo da série histórica das condições e


características do manancial e da qualidade da água, para avaliar o crescimento do custo
operacional do tratamento de água, em função da poluição.

Autores

Lorenso Cassaro,
químico, especialista em Controle e Gestão Ambiental, gestor ambiental da Sanepar, coordenador de
Meio Ambiente da Urma - Maringá

Manoel Francisco Carreira,

engenheiro químico, mestre

em Engenharia Civil (Hidráulica

e Saneamento) USP/EESC,

professor da Universidade Estadual de Maringá, doutorando em Gestão Ambiental EPS/UFSC.


APRESENTANDO O MODELO LIFE CYCLE COST (CUSTO DE
PROPRIEDADE) APLICADO A SISTEMAS DE BOMBAS

Tânia Mara Pereira Marques

Resumo

Este artigo mostra uma visão geral do modelo LCC (Custo de Propriedade), um dos temas das
palestras apresentadas na conferência internacional - Partners in Water and Waste Water. A
estrutura do trabalho inicia com a apresentação do modelo LCC aplicado a sistemas de bombas
desenvolvido pela Europump (The European Association of Pump Manufacturers) e HI (The
American Hydraulic Institute), apresentando na seqüência a abordagem desenvolvida pela
Thames Water e finalizando com as conclusões. Por meio do estudo de caso da Thames Water
Utilities, espera-se mostrar resultados efetivos da utilização do modelo LCC (Life Cicle Cost). No
caso da empresa Thames Water Utilities a variante do modelo adotada foi batizada de LWLC
(Menor Custo de Propriedade) e foi definida em função do cenário que ela apresentava antes
da privatização. O objetivo principal deste artigo é divulgar alternativas que possibilitem a
redução dos custos totais envolvidos na implantação ou melhoria de sistemas componentes da
cadeia produtiva, contribuindo para aumentar a competitividade das empresas de saneamento
em relação ao mercado.

Abstract

This article shows a general view of the LCC (Life Cycle Cost) model, one of the subjects of
lectures presented at the Partners in Water and Waste Water International Conference. The
structure of this report begins with a presentation of the LCC model applied to pump systems,
as developed by Europump (The European Association of Pump Manufacturers) and HI (The
American Hydraulic Institute), moving ahead to a presentation of the approach developed by
Thames Water and ending with conclusions. By means of the case study of Thames Water
Utilities, it is hoped to show effective results when using the LCC (Life Cicle Cost) model. In the
case of the Thames Water Utilities, a variant of the model was adopte d and named LWLC
(Least Whole Life Cycle), having been defined as a function of the scenario present prior to
privatization. The main objective of this article is to disclose alternatives that will allow the
reduction of total costs involved in the implementation or improvement of the productive chain
components, contributing to increase the competitiveness of sanitation companies in relation to
the market.

Introdução

O presente trabalho é resultante da participação da Sanepar na conferência internacional


Partners in Water and Waste Water que ocorre a cada 2 anos, sob o patrocínio da Grundfos,
tradicional fabricante de bombas. O evento é realizado na Dinamarca, em Bjerringbro, e a
última foi nos dias 8 e 9 de novembro de 2000.
Participaram da conferência representantes de diversas universidades e empresas do segmento
de saneamento, entre as quais: Generale des Eaux, Saur, Cranfield University, Thames Water
Utilities, Yates Meter Company, Helsinki Water, Warsaw Waterworks, Águas de Portugal, Water
Supply Salalah, Sewage Projects Committee Abu Dhabi, Aquaclear Technology, Roskilde
University Centre. Participaram também representantes das seguintes empresas brasileiras:
Sanepar, Sabesp, Geoplan, Copasa.

Foram apresentadas 12 palestras abordando os seguintes temas: Gerenciamento de Recursos,


Qualidade da Água em Áreas da Costa, Sistemas de Intercepção de Sal na Austrália, O Modelo
LCC da Europump, Ferramentas para o Suporte à Monitoração de Custo de Propriedade,
Impacto de Tecnologias e Equipamentos Utilizados.

Na Europa e EUA, muitas organizações adotam o menor custo inicial de compra como fator
determinante em seus processos de aquisição de equipamentos. A adoção desta regra se
originou de diversos fatores, entre os quais se destaca um procedimento que ainda é muito
freqüente: a falta de gestão efetiva do pós-implantação, que resulta no desconhecimento de
componentes de custo operacionais e de manutenção gerados por falhas no momento de
aquisição. Este cenário, porém, está mudando.

Pressionadas pela crescente competitividade dos mercados locais e globalizado, as empresas


estão sendo forçadas a gerenciar todos os seus componentes de custo para garantir a
rentabilidade de suas operações. No momento em que buscam a redução contínua de custos,
os equipamentos das linhas de produção passam a ter particular importância, especialmente
sob os aspectos de redução de consumo de energia e redução de tempos de parada com perda
de produção.

O modelo LCC surgiu da necessidade de avaliar custos de sistemas e equipamentos de forma


mais efetiva, garantindo a escolha da alternativa de menor custo ao longo de toda a sua vida
útil, resultando em maior rentabilidade do processo em que o equipamento ou sistema fosse
aplicado. Embora o modelo tenha surgido em função da aquisição de novos equipamentos ou
sistemas, a sua aplicação em sistemas instalados vem apresentando excelentes resultados
porque são sistemas que sofrem alterações em função do tempo de operação e geralmente não
estão otimizados para trabalhar sob estas novas condições.

Atualmente, não são apenas as razões econômicas que levam à utilização do modelo: a
preocupação ambiental está fazendo com que muitas organizações considerem a eficiência no
uso de energia como meio de preservação de recursos naturais.

Em 1998, considerando o cenário de pressão de mercado por maior competitividade e a


crescente preocupação com o meio ambiente, a Europump (The European Association of Pump
Manufacturers) e a HI (The American Hydraulic Institute) decidiram formar um grupo de
trabalho para desenvolver recomendações e material de treinamento sobre o modelo LCC. Pela
primeira vez, duas representativas organizações do segmento de bombas europeu e americano
trabalharam juntas no desenvolvimento de um documento técnico, que resultou no relatório
denominado: A Guide to LCC Analysis for Pumping Systems: Pump Life Cycle Costs – Global
Best Practices, um guia para a análise LCC aplicada a sistemas de bombas.

Razões para utilizar LCC – Europump e HI

A análise para a adoção do modelo LCC em sistemas de bombas se baseou em estudos de


custos ao longo da vida útil de equipamentos e sistemas, por meio dos quais foi possível
mapear os componentes de custo de maior impacto. Estes estudos revelaram a real dimensão
dos custos pós-implantação, onde se verificou uma predominância dos custos de consumo de
energia e de manutenção, consolidando a validade da aplicação do modelo LCC. Nas figuras 1 e
2 pode-se visualizar a distribuição típica de custos para bombas de pequeno e grande porte,
resultantes deste mapeamento.

Na figura 3 estão discriminados os componentes de custo do modelo LCC. Cada um destes


elementos será detalhado, com sugestões do Guia LCC de Análise para Sistemas de Bombas.
Cic – Custos iniciais

Neste item, geralmente estão incluídos os custos de projeto de engenharia, processo de


compra, inspeção e testes, peças sobressalentes, treinamento e equipamentos auxiliares.

Cin – Custos de instalação e comissionamento

Onde se incluem os custos de obra civil, instalação física do equipamento, conexão à tubulação,
conexão elétrica e instrumentação, conexão de sistemas auxiliares e custo de avaliação de
performance no start-up.

Ce – Custos de energia

O consumo de energia é calculado por meio do monitoramento da saída do sistema. É


necessário obter dados de performance de cada bomba/sistema, considerado no range de saída
monitorada. Devem ser considerados todos os fatores que afetam o consumo de energia, por
exemplo, a utilização de válvulas de controle ou inversores de freqüência. Por meio do
monitoramento se estabelece um padrão de consumo. Com o custo de Kwh conhecido, se
obtém o custo total de energia para aquele equipamento/sistema.

Co – Custos de operação

São os custos relacionados à operação de um sistema de bombas. A operação eficiente de um


sistema depende de um monitoramento eficiente dos indicadores de performance, tais como:
vibração, temperatura, ruído, pressão.

Cm – Custos de manutenção

Embora não se possa prever falhas precisamente, elas podem ser estimadas estatisticamente
através do MTBF e de dados históricos da planta. Devem constar neste item os custos de
rotinas de manutenção preventiva, manutenção corretiva, custos de gestão de fornecedores e
todos os demais custos originados da necessidade de garantir a disponibilidade do sistema.

Cs – Custos de paradas

com perda de produção

São os custos de paradas do sistema com perda de produção e dependem do grau de


importância de cada sistema.O impacto depende de onde o sistema de bombas está ou será
instalado e deve ser avaliado caso a caso.

Cenv – Custos ambientais

Estes custos dependem significativamente da natureza do fluído. Quanto mais agressivo for o
produto, maiores serão os investimentos para evitar a contaminação do meio ambiente. Aqui
devem ser incluídos também os custos de inspeções ambientais.

Cd – Custos de desinstalação

Onde devem ser considerados todos os custos de desinstalação, incluindo a restauração do


local onde o sistema estava instalado.

Conclusão da apresentação do modelo LCC da Europump e HI

O modelo LCC define os componentes de custo que precisam ser considerados para uma
melhor avaliação de alternativas no momento de aquisição ou melhoria de sistema instalado. Os
itens a incluir em cada componente da equação devem ser definidos pelas empresas, em
função dos custos pós-implantação que tragam maiores impactos à sua produção.

Estudo de caso – Thames Water Utilities

A Thames Water Utilities é uma empresa do segmento de saneamento, privatizada em 1989. A


área de abrangência de serviços se situa na região sudeste da Inglaterra, onde atende a 12
milhões de clientes. As operações internacionais abrangem 23 milhões de clientes. Logo após o
processo de privatização, a empresa avaliou os seus processos e as novas exigências de
mercado, e detectou a necessidade de profundas mudanças. Na tabela 1, pode-se visualizar as
resultantes do cenário mapeado.
Necessidade de mudança – Primeiros passos

Definição das primeiras diretrizes e ações

• Foco na vantagem comercial através da Compra por Volumes.

• Início de um trabalho de Padronização de Produtos & Serviços em todas as áreas da empresa


(1992).

• Início do trabalho de Especificação Técnica de Bombas baseada em LWLC (1993).

Primeiros Desafios

• Definir claramente o modelo LWLC;

• Custo inicial das bombas era maior do que o custo inicial anterior à privatização;

• Como provar que o custo era efetivo a longo prazo;

• Necessidade de mudar a cultura da empresa;

• Muitos fornecedores não estavam familiarizados com o conceito LWLC.

Primeira abordagem LWLC


Na sua primeira etapa de adoção do modelo LWLC, a empresa assumiu os custos de consumo
de energia, de manutenção e inicial de compra, como componentes de custo do modelo.

Nos custos de manutenção estavam incluídos os seguintes custos: relativos a recursos (pessoal,
equipamentos), relativos à distância dos sistemas até a base de manutenção e relativos à
facilidade de acesso ao equipamento.

Com este formato, o modelo LWLC foi utilizado no período de 1994 a 1999.

Resultados da primeira etapa de utilização do modelo LWLC

• Redução nos custos de manutenção e consumo de energia, aumento da confiabilidade e


disponibilidade dos sistemas.

• A experiência inicial provou que a estratégia LWLC era o melhor caminho, porém era
necessário refinar o processo, pois ainda havia muita dificuldade na comparação entre bombas
de diferentes fornecedores.

• 16 milhões de libras esterlinas em bombas compradas segundo os critérios LWLC .

Refinando o processo – etapa atual (desde 1999)

Buscando meios mais efetivos para especificar o modelo, a empresa assumiu algumas
premissas, entre as quais se destacavam: incluir novos fatores com base na experiência
adquirida, especificar melhor estes fatores buscando benchmarking em outras indústrias e obter
informações mais detalhadas dos custos dos processos da empresa (especialmente os custos de
manutenção).

Pela avaliação dos componentes de custos, a Thames Water chegou à distribuição de custos
apontada na figura 4.

A etapa de refinamento do modelo resultou na definição de uma equação que está sendo
utilizada pela Thames Water desde 1999. Na tabela 3, pode-se visualizar os componentes de
custo da nova equação, que incluem todos os custos considerados pela empresa como sendo
críticos durante a vida útil dos equipamentos/sistemas.

Entre as diretrizes do modelo, estão as seguintes sugestões:

• na avaliação de alternativas, considerar sempre os custos de consumo de energia, de


manutenção, de gestão de fornecedores e os custos operacionais;
• considerar o desperdício de energia quando do uso de válvulas de controle;

• não superdimensionar bombas;

• monitorar regularmente a efetividade do sistema de bombas;

• analisar continuamente os sistemas instalados, buscando oportunidades de otimização.

Conclusão

A visão geral do modelo LCC e o estudo de caso aqui apresentados não esgotam as
possibilidades de aplicação do modelo. O trabalho foi proposto como meio de divulgação de
aspectos de custos que, se considerados no momento de aquisição ou melhoria, podem auxiliar
a aumentar a competitividade e a eficiência dos processos produtivos das empresas. Espera-se
com esta iniciativa abrir um espaço de discussão de possíveis aplicações do modelo em
empresas regidas pela Lei 8.666.

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Agradecimentos

À Diretoria da Sanepar, ao gerente engenheiro Mário Roberto da Cunha D’Ávila e à Grundfos


por viabilizarem a participação na Conferência.

Autora

Tânia Mara Pereira Marques, engenheira eletrotécnica e de telecomunicações (UFPR), pós-


graduada em Processamento de Dados (FAE), em Teleinformática e Redes de Computadores
(Cefet) e em Gerenciamento de Equipes (MBA Executivo – Isae/FGV); treinamento em Business
(University of California, Berkeley), atua na Unidade de Serviço Eletromecânica Sudeste, em
Curitiba.
VALORAÇÃO DE BIOSSÓLIDOS COMO FERTILIZANTES E
CONDICIONADORES DE SOLOS

Rodrigo Studart Corrêa

Anelisa Studart Corrêa

Resumo

A reciclagem de nutrientes e de matéria orgânica de esgotos reside na incorporação de


biossólidos em solos. Problemas sanitários e econômicos norteiam o aproveitamento desses
resíduos. As questões sanitárias podem ser superadas pela compostagem, secagem a calor,
caleação ou insolação natural. A questão econômica é mais complexa, porque há uma série de
custos e benefícios econômicos a serem mensurados. Este trabalho concentra-se na valoração
de biossólidos como fontes de Nitrogênio, Fósforo e matéria orgânica, utilizando-se do método
de mercado de bens substitutos. O valor do lodo fresco atingiu R$22,00/tonelada e os
processos de estabilização empregados foram capazes de elevar esse valor entre 35%-620%. A
compostagem mostrou-se uma alternativa viável em pequena, média e grande escalas. Porém,
a estabilização pela caleação apresentou maiores vantagens econô-micas, devido ao maior valor
agregado ao produto. Todavia, lodos caleados e irradiados apresentam sérias limitações de
estocagem, que refletirão como problema na comercialização. A secagem a calor foi a que mais
agregou valor ao lodo fresco, atingindo R$158,60/tonelada. Entretanto, os custos enegéticos
nesse processo atingem entre 27%-54% do valor intrínseco do produto. Apesar dos valores
significativos atingidos, a consolidação de um mercado estruturado de biossólidos exige o cres-
cimento da demanda por esses produtos.

Abstract

Sanitary issues can be overcome through composting, heat drying, or natural exposure to
sunlight. The economic issue is more complex, since there is a series of costs and economic
benefits to be quantified. This report concentrates on raising the value perceived in biosolids as
sources of Nitrogen, Phosphor, and organic material, using the replacement goods market
method. The value of fresh sludge has reached R$ 22.00/ton and the stabilization processes
employed have been able to raise this value by 35% to 650%. Composting has proven to be a
viable alternative for small, medium and large scale usage. However, the stabilization by liming
showed greater economic advantages, due to the greater value added to the product. Lime-
treated and irradiated sludge present serious limitations for storage, which are reflected as
problems for product trade. Heat drying was the process that added the most value to fresh
sludge, reaching values of R$ 158,60 / ton. However, energy costs in this process reached 27%
to 54% of the product’s intrinsic value. Despite the significant values achieved, the
consolidation of a structured biosolid market requires a growth in the demand for these
products.

Introdução
A crescente produção de resíduos urbanos tem levado ao seu uso como fontes alternativas de
matéria orgânica. A produção constante e inesgotável desses materiais, aliada ao seu baixo
custo de obtenção, tornam-os atrativos para uso na agricultura, florestas e recuperação de
áreas degradadas. Além disso, considerando que a geração de resíduos é por si só um
problema, o reaproveitamento deles contribui para aliviar a pressão sobreo meio ambiente
(PASCUAL et al., 1997).

A reciclagem tem-se mostrado extremamente importante nas sociedades com altas taxas de
consumo de recursos naturais. O crescimento populacional resultou na transferência de
quantidades consideráveis de nutrientes dos solos agrícolas para os resíduos urbanos
(FROSSARD & MOREL, 1995). Cerca de 60% do montante de nutrientes inorgânicos presentes
em alimentos são despejados nos esgotos, após tomarem parte no metabolismo humano
(KVARNSTROM & NILSSON, 1999). Portanto, a reciclagem de nutrientes passa necessariamente
pela utilização de lodos de esgotos.

A conservação dos recursos naturais ganhou importância estratégica nos últimos anos: as
reservas naturais de Fósforo devem durar cerca de 500 anos, frente ao consumo mundial de 10
milhões de toneladas por ano. A total utilização de esgotos tratados em solos acarretaria na
redução do consumo de fertilizantes fosfatados a 40% do atualmente empregado (FRANK,
1998). Além disso, manter níveis mínimos de matéria orgânica nos solos é necessário no
controle de erosão, manutenção da produtividade e na recuperação de áreas e solos
degradados. Sob a óptica da engenharia sanitária, a incorporação de lodos de esgotos nos solos
é o manejo economicamente mais vantajoso, quando comparado a outras alternativas de
disposição de lodo de esgotos e águas residuárias (FRANK, 1998).

A base de reciclagem de nutrientes e de matéria orgânica presente nos esgotos reside na incorporação de
biossólidos em solos (FRANK, 1998). O termo biossólido foi criado e divulgado em todo mundo para
incentivar o uso de esgotos como fertilizantes e condicionadores de solo. Biossólidos são definidos como
qualquer produto orgânico, resultante do tratamento de esgotos, que pode ser reutilizado ou reciclado,
ainda que seja apenas potencialmente utilizável e dependa ainda de mercado e tecnologia apropriada
(USEPA, 1999).

Problemas relacionados à saúde pública e a custos associados ao processamento e transporte de


biossólidos são as questões que invariavelmente norteiam o aproveitamento desses resíduos. As questões
sanitárias podem ser superadas por meio de manejo adequado do lodo fresco ou por meio de processos
que o higienizem e o estabilizem (compostagem, secagem com calor, caleação, insolação natural),
convertendo-os, de fato, em biossólidos. A questão econômica é mais complexa, porque há uma série de
custos a serem mensurados, em contraste com os benefícios econômicos que cada biossólido pode
porporcionar.

Não existe ainda no Brasil indústria estruturada para produção e comercialização de biossólidos. Dessa
forma, a valoração deles é certamente um dos primeiros passos necessários para o estabelecimento de
um mercado. Portanto, este trabalho concentra-se no valor monetário de biossólidos como fon-tes de
Nitrogênio, Fósforo e matéria orgânica, utilizando-se de valores de fertilizantes químicos, estercos e
compostos, cujos mercados no País já estão consolidados.

Material e Métodos
Estabilização do lodo de esgoto

Uma amostra de 0,5 tonelada de lodo de esgoto terciário, originado por tratamento de lodos
ativados e prensado mecanicamente, foi coletado da Coliban Water Treatment Works, em Victoria,
Austrália. O material foi desinfestado e estabilizado de acordo com os Processos para Significantemente
Reduzir Patógenos, definidos pela Agência Norte Americana de Proteção Ambiental (USEPA, 1999). A
compostagem utilizou misturas do lodo fresco com serragem, conforme Corrêa et al. (2000). A caleação
foi realizada com aplicação de cal virgem (CaO) na proporção de 30% do peso de matéria seca presente
no lodo fresco, de acordo com Corrêa et al. (1999). A secagem a calor deu-se em uma fornalha a 200oC,
por uma hora e o tratamento por radiação solar ocorreu ao longo de 15 dias, a céu aberto e sob
condições de verão (14 horas de luz, temperatura média matutina e vespertina de 23oC). Todas as
amostras frescas não utilizadas prontamente foram congeladas (-20oC ± 1 oC) e as processadas
(biossólidos) foram mantidos em uma câmara fria (5oC ± 0,5 oC) até a data das análises laboratoriais.

As análises laboratoriais consistiram na avaliação da água gravimétrica (110oC por 48horas),


densidade global, valor de neutralização (JOHNSON, 1990), Nitrogênio, Fósforo e carbono totais.
Nitrogênio e carbono totais foram analisados em uma auto-analisadora CarboErba NA 150 de
combustão seca, como descrito por NELSON (1996). Os valores de carbono total foram
multiplicados por 1,7 para se obterem as porcentagens de matéria orgânica. Fósforo total foi
avaliado por meio de digestão ácida (HNO3 + H2SO4 ) a 300oC e posterior análise do extrato
em espectofotômetro de absorção óptica (UVV), segundo o método descrito em PIPER (1950).
Os resultados dos parâmetros analisados encontram-se na tabela 1.

Valoração dos biossólidos

Uma das técnicas de valoração mais simples e, portanto, largamente utilizada, é o método da
função de produção. Uma de suas variantes é a valoração de mercado de bens substitutos, que
pode ser empregada sempre que for possível obterem-se preços de mercado para um produto
(SEROA DA MOTA, 1998). O método de valoração de bens substitutos é utilizado quando o
recurso ambiental a ser valorado pode ser um substituto de um insumo comercializado
(SPANINKS & van BEUKERING, 1997). Este método utiliza-se de preços de mercado desse
insumo, para estimar o valor econômico do recurso ambiental (SEROA DA MOTA, 1998). A
utilização de preços de mercado garante uma medida objetiva do valor econômico do recurso
ambiental, uma vez que representam valores reconhecidos no mercado (SEROA DA MOTA,
1998). Porém, SPANINKS & VAN BEUKERING (1997) citam que preços de bens substitutos
tendem a subestimar valores, uma vez que aumentos de demanda são ignorados por esse
método.
Os insumos cotados para fontes de Nitrogênio e Fósforo foram uréia e superfostato triplo,
respectivamente, que são amplamente utilizados como fertilizantes na agricultura. O custo da
uréia (44% de Nitrogênio) foi cotado em

R$ 430,00/tonelada ou R$0,98 o quilo de Nitrogênio. A cotação do superfosfato triplo


(42%P2O5 ou 18% P) foi de

R$ 230,00 ou R$1,28 o quilo de Fósforo. Os grandes projetos de recuperação de áreas


degradadas investem cerca de

R$ 5,00 para a aquisição de cada tonelada de esterco ou composto, independentemente do


poder fertilizante deles. Dessa forma, como estercos e compostos apresentam cerca de 50% de
umidade e 45% de matéria orgânica em sua matéria seca, o valor de cada tonelada de matéria
orgânica foi calculado em

R$ 22,20. Paisagistas e horticultores investem valores bem acima dos aqui adotados. Porém, a
utilização da cotação mínima para matéria orgânica é uma garantia de que a valoração dos
biossólidos não será superestimada. O calcário dolomítico (CaCO3) com 90% de poder de neutralização
(90% PRNT) foi cotado a R$ 170,00 e a tonelada de cal virgem (CaO), utilizada para estabilizar o lodo
de esgoto, custou R$ 140,00/tonelada. As conversões de moedas estrangeiras para o real brasileiro
consideraram US$ 1,00 = R$ 1,80.

Resultados e discussão

Cada tonelada do lodo fresco contém R$ 20,20 em Nitrogênio e Fósforo e apenas R$ 1,80 em
matéria orgânica (tabela 2). O baixo valor dado a matéria orgânica (R$ 22,20/tonelada) e a
grande quantidade de água existente no lado fresco (88%) são as causas disso. O valor do lodo
de esgoto fresco deste trabalho aproxima-se do alcançado por outros autores, que utilizaram
métodos de valo-ração diferentes. WILLET et al. (1983/84) trabalharam com respostas de pro-
dutividade a diferentes taxas de aplicação de lodos em solos. Eles concluíram que 10 t/ha de
lodo de esgoto, contendo 85% de umidade, substituem o equivalente a R$ 240,00 gastos em
fertilizantes nitrogenados e fosfatados. Porém, a melhor relação dose/resposta obtida por eles
foi com a aplicação de 5 t/ha, que pode substituir R$148,00 em fertilizantes. Dessa forma, cada
tonelada de lodo aplicada ao solo equivaleria a valores entre R$ 24,00 e R$ 30,00 em Nitrogênio e
Fósforo, a depender da relação quantidade aplicada/produtividade obtida. A quantidade de água pesa
mais na determinação do valor de biossólidos do que as concentracões de Nitrogênio, Fósforo e matéria
orgânica presentes na matéria seca. Considerando que cerca de 65% da matéria seca de lodos de esgoto
são matéria orgânica, entre 2,1% e 17,6% Nitrogênio e 1,1%-14,3% Fósforo (CAMERON et al. 1996), o
potencial desses materiais é enorme, frente a meios economicamente viáveis de desaguá-los. Esse valor
de 65% é cerca de 20% superior às concentrações de matéria orgânica existente na matéria seca de
estercos e compostos, em geral.

Porém, KVARNSTROM & NILSSON (1999) concluem em seu estudo que o preço do lodo de esgoto
fresco é determinado pela demanda do produto e não pelo valor intrínseco de fertilização. Seus
resultados mostram que apenas aqueles municípios com demanda igual ou maior que a capacidade de
produção de lodos de esgoto são capazes de cobrar pelo biossólido. Nos demais, o lodo de esgoto é
entregue gratuitamente e, em alguns casos, com frete subsidiado, como estratégia de indução de
demanda.

A compostagem de lodos de esgotos exige que eles sejam desaguados até cerca de 60% de umidade
(massa/massa) e que a relação Carbono/Nitrogênio seja elevada de 6:1 para valores entre 20:1 e 30:1
(CORRÊA et al., 2000). A adição de 2 kg de serragem seca (<10% de umidade), como fonte de Carbono,
para cada quilo de matéria seca do lodo de esgoto (fonte de Nitrogênio e umidade) permite que os dois
critérios acima citados sejam satisfeitos. Porém, haverá diluição de nutrientes na matéria seca e,
conseqüentemente, o lodo compostado contém apenas 38% do Nitrogênio e 32% do Fósforo contido na
matéria seca do lodo fresco.

Todavia, ao longo do processo de compostagem, a respiração de microorganismos libera cerca de 30%


do Carbono originalmente presente na mistura, sob a forma de CO2 (tabela 1). A liberação de CO2 e
sulfatos gasosos elevou a concentração de Nitrogênio em 0,5% e a de Fósforo em 0,3% na matéria seca
do lodo compostado. Considerando ainda 38% de massa de água perdida por evapotranspiração ao
longo do processo, a compostagem é capaz de desinfetar, es-tabilizar e desaguar lodos de esgoto de uma
só vez. Como resutado, a tonelada de lodo compostado passou a equivaler a R$ 31,20 em Nitrogênio,
Fósforo e matéria orgânica; uma agregação de 42% sobre o valor do material original.

FAHY (1990), trabalhando com valoração de contigente, mostrou que os preços de comercialização de
lodos compostados nos Estados Unidos alcançariam valores de mercado de R$ 23,00/t para horticultura,
R$ 17,00/t para jardinagem, R$ 6,00/t para recuperação de áreas degradadas e apenas R$ 2,00/t para
culturas agrícolas, contra custos

de produção variando entre R$ 9,00 e

R$ 14,00 (GOLUEKE, 1975). Dessa forma, mais uma vez, o valor de comer-cialização seria determinado
pela demanda do produto e não pelo valor intrínseco do lodo compostado. Com base no custo de
produção de R$ 9,00/to-nelada e no valor máximo de comercialização de R$ 23,00, o usuário do lodo
compostado se beneficiaria de R$8,20/tonelada em superávit de nutrientes e matéria orgânica, enquanto
o produtor contaria com um lucro de R$14,00 em cada tonelada comercializada. O custo de R$
9,00/tonelada refere-se à uma produção mínima de 350 toneladas/dia. Para o custo de R$14,00/t, a
produção poderia ser reduzida a 160 t/dia, com redução de lucro para R$ 9,00/tonelada.

De acordo com o cenário exposto, conclui-se que lodos compostados, como produto de mercado, são
preferencialmente regidos por relações de de-manda e economia de escala do que pelo valor intrínseco
do produto. A atividade de compostagem de lodos se viabilizaria por meio de setores, cujas demandas
possam fazer frente à produção mínima e, ao mesmo tempo, esses setores teriam que estar dispostos a
pagar pelo produto valores acima dos de produção, que por sua vez, são inversamente proprocionais à
quantidade produzida.

O processo de higienização por meio da aplicação de 30% de CaO causou a diluição da matéria seca do
lodo fresco e a volatilização de parte do Nitrogênio, Carbono e Enxofre presentes. Conseqüentemente,
houve redução da concentração de nutrientes e matéria orgânica imediatamente após a caleação em
mais de 1/3. Entretanto, a caleação do lodo seguida de 15 dias de pousio, como recomendado no
processo higienização, permitiu a perda de água por drenagem e evaporação correspondente a 325
litros/tonelada de lodo fresco. Cerca de 80% da água perdida ocorreu nos primeiros quatro dias após a
caleação. Até o sexto dia, 94% de toda água perdida já havia sido drenada ou evaporada, acarretando
na redução de cerca de 35% do volume original do lodo e na duplicação da concentração de sólidos na
massa úmida.

Essa perda de água permitiu uma elevação de 46% no valor do lodo caleado em relação ao lodo fresco
(tabela 2). O Fósforo contribui com 60% dessa valorização, Nitrogênio com 32% e matéria orgânica
com apenas 9%. Fósforo não é perdido por volatilização durante o processo de caleação e possui valor
de mercado 31% superior ao Nitrogênio. Considerando que ainda há R$ 9,10 de equivalente em
calcário/tonelada de lodo caleado, a diferença de valores entre lodo fresco e caleado sobe para 87,3%
(tabela 2).

Há locais em que é proibida a aplicação nos solos de lodos não estabilizados. Por isso, várias estações
de tratamento de esgotos utilizam cal para estabilizá-los e comercializá-los pelo valor de neutralização
contido no biossólido. Nesse processo de higienização, para cada R$ 5,10 gastos com CaO, recuperase
R$ 9,10 em equivalente-calcário (tabela 2). Portanto, os custos de estabilização são pagos e ainda se
economiza com taxas de disposição de lodo em aterros sanitários. Ao consumidor do biossólido, resta um
superávit de R$ 32,10/tonelada em fertilizantes e matéria orgânica.

O lodo irradiado aumentou seu valor devido à perda de cerca de 390 litros de água/tonelada de lodo e
conseqüente concentração de sólidos: o volume do lodo foi reduzido a quase metade do original, ao
longo de 15 dias de exposição solar. As perdas de água atingiram 73% nos primeiros quatro dias e a
partir do nono dia, tornaram-se insignificantes. Perda de água é o fator que mais contribuiu para a
valorização de biossólidos e é tanto mais importante, quanto mais umidade um lodo possuir. Pequenos
aumentos de concentrações de matéria seca representam ganhos significativos em valores monetários em
biossólidos. Por exemplo: o aumento na concentração de matéria seca de um lodo, que contenha 99% de
umidade, de 1% para 2%, acarretaria na sua duplicação de valor. Esse aumento de concentração de
sólidos, de 1% para 2%, só é possível com perda da metade da água existente nesse lodo. No caso do
lodo usado neste trabalho, com cerca de 88% de umidade (tabela 1), a perda de cerca de 6% de água
(massa/massa) proporcionou um aumento de 36% no valor do produto (tabela 2). O valor da tonelada do
lodo fresco subiu de R$ 22,00 para R$ 30,00, com emprego de apenas espaço, para manter o lodo, e
tempo, para que houvesse perda de água e ação dos raios ultravioletas para desinfestá-lo.

Dentre os biossólidos estabilizados, o lodo seco a calor (peletes contendo 10% de umidade) atingiu o
maior valor dentre todos os considerados neste trabalho: R$158,60 em Nitrogênio, Fósforo e matéria
orgânica por tonelada de produto. Os peletes apresentam cerca de 7 vezes mais valor que o lodo fresco,
cerca de 5 vezes mais valor que o lodo irradiado e o compostado e 4 mais que o lodo caleado (tabela 2).
Diferentemente do lodo caleado, a contribuição do Nitrogênio, Fósforo e matéria orgânica para o
aumento de valor dos peletes ocorreu em porções proporcionais às presentes no lodo fresco. Não houve
perdas de matéria orgânica e nutrientes no processo de secagem a calor, mas apenas a evaporação de
água, esterilização e concentração de sólidos.

Apesar de ser um processo muito eficiente de estabilização de lodos de esgotos e de agregação de valor,
o investimento em infra-estrutura para peletilização de lodos é cerca de dez vezes superior ao gasto em
usinas de com-postagem (VESILIND et al., 1991). A energia necessária para produzir peletes com 10%
de umidade é de cerca de 1.400 x 106 calorias/tonelada de lodo úmido (VESILIND et al. 1991), ou entre
R$ 42,00 e R$ 85,00 para secar cada tonelada, a depender da fonte de energia utilizada. Portanto,
apenas os custos energéticos de produção representam entre 27% e 54% do valor em nutrientes e
matéria orgânica contidos no produto final. Porém, a demanda crescente por esse tipo de biossólido nos
Estados Unidos tem viabilizado cada vez mais a sua produção: cerca de 12% dos lodos gerados nos
EUAs são aplicados em solos, dos quais, mais da metade (7%) sob a forma de peletes produzidos por
secagem a calor (GIROVICH, 1996).

Conclusões

O valor em Nitrogênio, Fósforo e matéria orgânica presente em cada tonelada do lodo fresco
utilizado neste trabalho foi calculado em R$ 22,00. Os processos de estabilização foram capazes
de elevar seu valor entre 35% e 620%. A compostagem do lodo mostra-se uma alternativa
viável de higienização, estabilização e agregação de valor, a ser considerada em pequena,
média e grande escalas. Porém, a estabilização pela caleação apresentou maiores vantagens
econômicas do que a compostagem, devido ao maior valor agregado ao produto. Todavia, lodos
caleados e irradiados apresentam sérias limitações de estocagem que, certamente, refletirão como
problemas na comercialização. A secagem a calor foi a que mais agregou valor ao lodo fresco, atingindo
R$ 158,60/tonelada. Entretanto, os custos energéticos nesse processo atingem entre 27% e 54% do valor
intrínseco do produto final. Apesar dos valores significativos em nutrientes e matéria orgânica que os
biossólidos contêm, a consolidação de seu mercado, seja qual for o processo de produção, exige o
crescimento da demanda por esses produtos. Cortes em subsídios para fertilizantes (KVARNSTROM &
NILSSON, 1999), criação e divulgação de tecnologias são ações essenciais para a promoção do aumento
dessa demanda. Só assim pode-se justificar economicamente a produção de biossólidos em larga escala.

Referências

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Protection Agency, Municipal and Industrial Solid Waste Division, Office of Solid Waste, 1999.
75p.

Willett, I. R.; P. Jakobsen, et al. Effects of land disposal of lime :treated sewage sludge on
soil properties and plant growth. Canberra Australia : CSIRO Institute of Biological Resources,
Division of Water and Land Resources, 1983-1984. 56p.

Autores
Rodrigo Studart Corrêa,

bolsista de PhD do CNPq

na Universidade de Melbourne,

engenheiro agrônomo (UnB)

e engenheiro ambiental (IEA, Austrália) da Secretaria de Meio

Ambiente e Recursos Hídricos

do Distrito Federal

Anelisa Studart Corrêa,

bióloga (UVA) do Centro

de Estudos Sociais e Ambientais.


ARGILA NODULIZADA VERSUS CARVÃO ATIVADO COMO
LEITOS SUPORTE DE FILTROS BIOLÓGICOS NO TRATAMENTO
DE ESGOTOS DOMÉSTICOS

Francisco Ricardo Andrade Bidone

Sérgio Luiz da Silva Cotrim

Ane Lourdes Marques de Oliveira

Resumo

Em experimentos montados em escala de bancada, operados em batelada, foram utilizados


leitos suporte de argila nodulizada e carvão ativado, para filtros biológicos ou percoladores
destinados ao tratamento de esgotos domésticos.

Os filtros biológicos foram precedidos de pré-filtros, com leitos suporte de brita granítica e anéis
plásticos Pall. Os resultados obtidos mostraram que a argila nodulizada, com custo 3,5 vezes
menor que o carvão ativado, apresentou eficiência muito próxima a do carvão na remoção dos
principais parâmetros poluentes analisados.

Representa, por isso, uma interessante alternativa de leito suporte para formação de biofilme
em filtros biológicos, no tratamento de esgotos domésticos. O acompanhamento simultâneo de
filtro biológico com leito suporte de areia grossa (filtro biológico de baixa taxa), precedido de
pré-filtro com leito suporte em anéis Pall, permitiu a comprovação da alta eficiência da argila
nodulizada na remoção de carga orgânica (DQO e DBO), nitrogênio total e nitrogênio amônia.

Abstract

In performing batch experiments on a lab scale, we used sedimentation beds of nodular clay
and activated charcoal as biological or percolating filters to treat domestic sewage.

Biological filters were preceded by pre-filters with broken-granite beds and plastic Pall rings.
The results have shown that nodular clay, 3.5 times less expensive than activated charcoal, was
nealy as efficient in removing the main pollutants analyzed.

Therefore it is an interesting alternative sedimentation bed to form biofil in biological filters, for
the treatment of domestic sewage. The simultaneous follow up of a biologic filter with a grit
sedimentation bed (low-rate biological filter), preceded by a pre-filter with Pall ring
sedimentation bed, enabled us to prove that nodular clay is highly efficient in removing the
organic load (DQO and DBO), total nitrogen, and amonia-nitrogen.
Introdução

A utilização de carvão ativado como leito suporte em filtros rápidos no tratamento de água, e
em filtros biológicos no tratamento de esgotos, tem mostrado a alta eficiência que este material
apresenta, não só do ponto de vista de remoção de carga orgânica, como principalmente na
remoção de elementos e compostos não-biodegradáveis, como os metais pesados.

Isto decorre da sua grande capacidade adsortiva, que é devida à ação de diversos tipos de
forças químicas como ligações de hidrogênio, interações dipolo-dipolo e forças de Van der
Waals (DI BERNARDO, 1993).

A utilização econômica do material depende, no entanto, de um meio eficaz de regeneração,


uma vez que tenha o mesmo alcançado sua capacidade máxima de adsorção (METCALf &
EDDY, 1985). Este é um dos principais aspectos que tem limitado o uso de carvão ativado
granulado como elemento suporte de filtros, pelas concessionárias de saneamento no Rio
Grande do Sul. Em alguns casos esporádicos, quando caracterizada a necessidade de remoção
de poluentes refratários ao tratamento biológico, essas concessionárias têm lançado mão do
carvão ativo em pó, sem regeneração posterior.

Ao mesmo tempo, a bibliografia é escassa no que se refere ao uso de argila nodulizada, ou


expandida, como leito suporte em filtros biológicos. Muito leve e bastante porosa, e ainda,
custando bem menos do que o carvão ativado, pode representar uma interessante e
competitiva alternativa para o uso do carvão, desde que a sua eficiência no tratamento de
esgotos possa atingir níveis próximos aos alcançados por aquele material.

Neste trabalho, observou-se a performance de dois filtros biológicos, um com leito suporte de
carvão ativado e outro com argila nodulizada, ou expandida, tratando esgotos domésticos.
Buscou-se verificar a viabilidade da utilização da argila expandida, bem como a sua eficiência
frente a um afluente de características predominantemente urbanas. Um terceiro filtro, com
leito suporte em areia grossa, foi utilizado para que se pudesse comprovar os resultados
obtidos com aqueles observados em filtros convencionais de areia.

Material e métodos

Montagem do experimento

Os filtros biológicos ou percoladores foram montados precedidos, cada um, de uma unidade de
pré-filtração, que visava reter e degradar possíveis altas concentrações de matéria orgânica,
normalmente encontradas em lixiviados de aterros jovens.
As unidades de pré-filtração foram executadas em tubo plástico com diâmetro de 150 mm,
altura útil de 50 cm, com meio suporte para formação de biofilme composto de brita granítica
de granulometria 01 para os filtros de carvão ativado e areia grossa, e anéis Pall para o filtro de
argila nodulizada. Os pré-filtros tinham o fundo selado por uma chapa plástica colada em sua
borda, e junto à chapa, no nível do fundo, um tubo plástico de 25 mm, que permitia a saída do
efluente pré-tratado; eram abastecidos a partir de um reservatório superior com capacidade
para 10 litros, com o esgoto sendo mantido permanentemente agitado por equipamento
eletromecânico, evitando-se a sedimentação dos sólidos em suspensão. Os pré-filtros
alimentavam por gravidade as unidades de filtração biológica, executadas em tubos plásticos
com diâmetro de 200 mm, altura útil de 100 cm, cujo meio suporte foi composto em um caso
por carvão ativado vegetal de casca de coco, outro por argila nodulizada e outro por areia
grossa ou regular usada na construção civil. Os filtros biológicos tinham o fundo selado com
uma chapa de madeira circular colada, e junto à chapa, no nível do fundo, um tubo plástico de
25 mm, para a coleta do efluente final do sistema. Para evitar entupimentos, colocou-se sobre
o fundo uma camada de 3 cm de brita granítica 01. Os pré-filtros e filtros biológicos foram
montados sobre plataforma de madeira e foram identificados da seguinte forma:

PF.1 - Pré-filtro 1 (leito suporte de brita granítica com granulometria 01);

PF.2 - Pré-filtro 2 (leito suporte de anéis Pall );

PF.3 - Pré-filtro 3 (leito suporte de anéis Pall);

FB.1 - Filtro biológico 1 (leito suporte de carvão ativado);

FB.2 - Filtro biológico 2 (leito suporte de argila nodulizada);

FB.3 - Filtro biológico 3 (leito suporte de areia grossa).

A Figura 1 representa esquematicamente (em corte) o experimento.

Taxa de aplicação de esgotos utilizada


A taxa de aplicação de esgoto sobre as unidades de pré-filtração e filtração biológica foi de 5
litros/dia, resultando nas unidades de pré-filtração uma lâmina de líquido de 28,4 cm/dia, e nas
de filtração biológica de 16 cm/dia, que correspondem a uma taxa de aplicação superficial de
1.600 m3/ha.dia.

Duração do período

de experimentação/esgotos utilizados no estudo

A experimentação teve início em 12.8.96 e foi concluída em 24.9.96, quando os resultados


obtidos apontaram para a estabilidade biológica do processo, durando, assim, 43 dias. Os
esgotos utilizados no estudo foram os afluentes à ETE Arvoredo e EBE Ponta da Cadeia, cedidos
pelo DMAE (Departamento Municipal de Água e Esgotos, de Porto Alegre/RS).

Procedimentos

O procedimento experimental consistiu na aplicação diária (ao longo de 8 horas) de esgoto


bruto nos pré-filtros, durante cinco dias da semana, com descanso para o sistema aos sábados
e domingos, ao longo de todo o período do estudo. O procedimento analítico consistiu na
caracterização do afluente bruto aplicado aos pré-filtros, e dos efluentes dos pré-filtros e filtros
biológicos, sendo analisados DBO5, DQO, pH, Nitrogênio Total de Kjeldahl, Nitrogênio Amônia,
Nitrito, Nitrato, Fósforo Total, Fosfato, Sulfato, Cromo, Zinco e Ferro. As análises foram
realizadas segundo a APHA (1992).

Resultados e discussão

As médias dos resultados obtidos durante a experimentação são os constantes da tabela 1.

Os resultados constantes da tabela 1, permitem o desenvolvimento da discussão em seqüência.


Unidades de pré-filtração
Nas três primeiras semanas de experimentação, observa-se as maiores eficiências na remoção
de DQO total no pré-filtro em brita granítica. É razoável também admitir que o aumento de
eficiência verificado da primeira para a terceira semana decorreu do aumento na concentração
da carga orgânica afluente. Nas quarta e quinta semanas, verifica-se pequeno decréscimo na
concentração de DQO total, embora pouco significativo, para a perda abrupta de eficiência
verificada em todos os pré-filtros; já, nas sexta e sétima semanas, os pré-filtros voltam a
apresentar eficiência na remoção da DQO total, atingindo-se percentuais de 64,1 % no leito
suporte de brita granítica, e 61,3 % e 53,3 % nos de anéis Pall. Em termos de DQO filtrada, a
tendência observada segue aquela constatada para DQO total, sempre com vantagem para o
pré-filtro em brita granítica.

As elevadas eficiências verificadas nos pré-filtros podem ser devidas às prováveis


disponibilidades de Oxigênio dissolvido nos leitos filtrantes e à retenção de sólidos orgânicos em
suspensão no afluente. O incremento significativo de concentração ocorrido nas quarta e quinta
semanas, com perda completa de eficiência em termos de remoção de DQO total, e a baixa
eficiência em termos de DQO filtrada, que atingiu 34,1% no leito em brita granítica, pode ser
provavelmente devida à perda de sólidos orgânicos em suspensão retidos durante as três
primeiras semanas de operação. Já, nas sexta e sétima semanas, surgem indícios da
estabilização do processo, com a recuperação da eficiência em termos de DQO total, que volta
a apresentar percentuais de remoção similares àqueles observados ao início da experimentação.
O leito de brita granítica alcança a mais alta eficiência dentro do período de estudo.
Provavelmente, a nítida vantagem observada para o pré-filtro com este material deveu-se à
maior possibilidade de aderência do biofilme à sua superfície, mais rugosa do que a dos anéis
Pall, plásticas e menos rugosas.

Para a DBO5 (total) observou-se um comportamento similar ao observado para DQO, tendo
sido observada a maior eficiência de remoção ao final da experimentação, com um percentual
de 77,4 %, também no pré-filtro com brita granítica.

O pH do efluente dos pré-filtros manteve-se em uma faixa alcalina, adequada ao tratamento


biológico.

Os resultados obtidos estão em acordo com os referidos por METCALF & EDDY (1985), embora
as eficiências mencionadas por esses autores sejam de filtros biológicos implantados em escala
real, com alturas diversas das utilizadas neste experimento.

Com relação a Nitrogênio Total, Nitrogênio Amônia, Fósforo total e alguns metais pesados
analisados, verifica-se pouca eficiência de remoção, sempre com vantagem para o leito com
brita granítica. Observa-se pequeno aumento nas concentrações de Sulfato, o que vem atestar
a oxidação e a ocorrência de aerobiose no ambiente dos pré-filtros. Em termos dos metais
pesados analisados, verifica-se remoções pouco superiores a 50% de Ferro, e praticamente
nenhuma atenuação de Zinco. Cromo não foi detectado no afluente.

Unidades de filtração

biológica (filtros

percoladores de baixa taxa)


Na primeira semana de experimentação observa-se, em termos de DQO total, eficiências de
57,1%, 21,1% e 65,0% no carvão ativo, na argila expandida e na areia grossa, relativamente
ao efluente dos pré-filtros. Ao mesmo tempo, verifica-se eficiências globais de remoção de DQO
total de 82,11%, 62,91% e 78,81% do afluente bruto para o efluente dos filtros biológicos. Nas
segunda e terceira semanas, os filtros biológico apresentam eficiências de 78,7%, 75,3% e
85,1%, para o efluente dos prés-filtros, na ordem referida anteriormente. Verifica-se eficiências
globais na remoção DQO total de 92,83%, 87,03% e 93,34%, do afluente bruto para o efluente
dos filtros biológicos; para a DQO filtrada, verifica-se para o efluente dos pré-filtros 55,4%,
70,8 % e 83,0 %, e 77,12%, 78,43% e 87,58% do afluente bruto para o efluente final.
Verifica-se uma certa estabilidade nas eficiências em termos de DQO total e filtrada nas quarta
e quinta semanas, com exceção do efluente do filtro com areia grossa, que apresenta uma
elevação atípica de concentração.

Problemas ocorridos com o procedimento analítico na avaliação da DBO5 não permitem um


comentário comparativo. Nas sexta e sétima semanas, os filtros biológicos mantêm relativa
estabilidade nas eficiências observadas na fase imediatamente anterior, o que aponta para o
equilíbrio do sistema. Os resultados obtidos estão em acordo com a bibliografia referenciada
(CETESB, 1982; METCALF & EDDY, 1985).

Em termos de Nitrogênio Total e Nitrogênio Amônia, verifica-se grande percentual de remoção,


o que é ratificado pela grande geração de Nitritos e Nitratos, principalmente destes últimos.
Não se verificam remoções satisfatórias de Fósforo, enquanto o Ferro é significativamente
atenuado.

O pH do efluente do filtro em carvão ativado aumenta, enquanto os efluentes dos demais filtros
apresentam o potencial hidrogeniônico em faixa levemente ácida.

Embora as análises de DQO total mostrem que o efluente do filtro com argila expandida tenha
apresentado geralmente uma concentração superior à observada no leito com carvão ativado, é
razoável admitir que isto poderia ser devido à maior carga orgânica afluente, decorrente da
menor eficiência do pré-filtro em anéis Pall. No entanto, o efluente do leito com areia regular
também era precedido de unidade com anéis Pall, e sua eficiência foi alta, em algumas
observações inclusive mais elevada do que a do próprio carvão ativado. Isto leva à presunção
de que características orgânicas da argila expandida possam ter sido perdidas do leito suporte
pelo efeito da lixiviação e incorporadas ao efluente líquido do filtro. As análises de DQO filtrada
mostram que, embora o efluente do pré-filtro que alimentava o filtro com argila expandida
fosse o mais concentrado, ainda assim este apresentou excepcional capacidade atenuadora,
proporcionando um efluente final com concentração final ao mesmo nível do filtro com carvão
ativado.

Finalmente, o exame dos custos do carvão ativado e da argila expandida, US$ 7,0/kg contra
US$ 2,0/kg (cotação em Porto Alegre/RS, em agosto/1996), aponta para a argila expandida
como sendo uma interessante alternativa econômica de leito suporte para filtros biológicos,
quando operados em baixa taxa.

Conclusões

Neste estudo, foram comparadas as eficiências de filtros biológicos com leito suporte de carvão
ativado e argila expandida, precedidos de pré-filtros, operando em baixa taxa no tratamento de
esgotos domésticos. Comprovou-se que é tecnicamente viável a utilização da argila expandida
como elemento filtrante, já que pelos resultados observados em termos de eficiência na
remoção de DQO (total e filtrada), Nitrogênio Total e Nitrogênio Amônia, e razoável atenuação
nas concentrações de Ferro, o material mostrou-se praticamente tão eficaz quanto o carvão
ativado. Variações para maior nas taxas de aplicação, determinadas pelo incremento de sólidos
orgânicos em suspensão no efluente do pré-filtro, pareceram não interferir na eficiência do leito
com argila, sugerindo neste caso que para as condições em que foi desenvolvido o estudo, a existência
do pré-filtro teve pouca relevância. Economicamente, a vantagem na utilização da argila é inequívoca,
uma vez que seu custo mostrou-se 3,5 vezes menor do que o do carvão ativado.

Julga-se necessário, no entanto, o aprofundamento de estudos no sentido de avaliar com precisão a


possível lixiviação do material, detectada neste trabalho. Deste efeito e da sua abrangência, em função do
tempo de exposição do leito ao esgoto, pode decorrer a perda das características iniciais da argila, com o
comprometimento total da sua eficácia e perda completa do reator.

Referências

AMERICAN WATER WORKS ASSOCIATION. Standard methods for the examination of water and
wastewater. 18 th. Washington, American Public Health Association, 1992. 1193 p.

COMPANHIA DE TECNOLOGIA DE SANEAMENTO AMBIENTAL. Tratamento biológico de resíduos.


São Paulo: CETESB, 1982. 115 p.

DI BERNARDO, L. Métodos e técnicas de tratamento de água. Rio de Janeiro: ABES, 1993. v.1

IMHOFF, K.; IMHOFF, K.R. Manual de tratamento de águas residuárias. São Paulo: Edgard Blucher,
1986. 301 p.

METCAL; EDDY. Ingenieria sanitaria: tratamiento, evacuacion y reutilizacion de aguas residuales. 2.


ed. Barcelona: Labor, 1985. 969 p.
Autores

Francisco Ricardo Andrade Bidone,

professor do Instituto de Pesquisas Hidráulicas - IPH/UFRS

Sérgio Luiz da Silva Cotrim,

doutorando do Instituto de Pesquisas Hidráulicas - IPH/UFRS

Ane Lourdes Marques de Oliveira,

mestranda do Instituto de Pesquisas Hidráulicas - IPH/UFRS.


AGRESSIVIDADE DE SULFETOS AO CONCRETO DE REATORES

TIPO RALF

Carlos Maurício Fortunato

Celso Savelli Gomes

Fabiana de Nadai Andreoli

Miguel Mansur Aisse

Resumo

O presente trabalho apresenta o estudo da agressividade de sulfetos ao concreto em processos


anaeróbios do tipo Reator de Lodo Fluidizado (Ralf). A agressividade ao concreto, basicamente
pode-se afirmar que ocorre de duas maneiras: sob e sobre o nível d’água. Foram visitados três
Ralfs em operação na cidade de Curitiba, projetados e construídos pela Sanepar. Dois são de
concepção recente e moderna, como é o caso do Ralf Padilha no bairro do Xaxim e do Ralf São
João Del Rey II, instalação onde foi realizado um recente monitoramento pelo Isam - PUC/PR. E
o terceiro mais antigo, situado no bairro da Fazendinha, é o Ralf Itatiaia. Nos três Ralfs
visitados, numa primeira etapa foram realizadas observações estéticas a fim da verificar a
existência ou não do problema em questão. Foram utilizados recursos fotográficos. No Ralf
Itatiaia foram realizadas coletas de concreto, sendo amostras foram então enviadas ao
Laboratório de Análises Ambientais do Isam - PUC/PR, para determinação de pH. Com os
resultados visuais e laboratoriais obtidos pôde-se comprovar a agressividade do ácido sulfúrico,
formado por meio de sulfetos, ao concreto das unidades componentes dos sistemas de
tratamento de esgotos anaeróbios. São visíveis os dois tipos de agressividade ao concreto. Uma
das soluções que podem ser apontadas para tal caso, é a pintura dos reatores com borracha
clorada ou epóxi betuminosa, que se constitui numa barreira química para superfícies de
concreto expostas em ambientes de média a alta agressividade, desta forma impedindo a ação
do ácido sulfúrico sobre as paredes de concreto.

Abstract

This report presents a study of the aggressiveness of sulfides on concrete in anaerobic


processes of the kind present in a "Reator de Lodo Fluidizado" or Ralf (Fluidized Sludge
Reactor). The aggressiveness on concrete happens in two manners: above and below the water
level. Three Ralfs currently in operation in the city of Curitiba were visited, all designed and
built by Sanepar. Two are of a recent and modern conception, as is the case of the Padilha Ralf
in the Xaxim neighborhood and the São João del Rey II Ralf, where a monitoring program was
recently effected by the Isam - PUC/PR. The third and older one, located in the Fazendinha
neighborhood, is the Itatiaia Ralf. In each of the three Ralfs visited, an initial phase of aesthetic
observations were conducted to determine the presence or absence of the problem in question.
Photographic resources were employed. At the Itatiaia Ralf samples of concrete were collected,
having been then sent to the Laboratory for Environmental Analysis of the Isam - PUC/PR, for
determination of the pH. With visual and laboratory results obtained, the aggressiveness of
sulfuric acid (formed from the sulfides) was verified on the concrete of components in the
systems for anaerobic sewage treatment. Two types of aggressiveness on the concrete are
visible. One solution that can be pointed out for this case is the painting of the reactors with
chlorinated rubber or a bituminous epoxy, which would constitute a chemical barrier for
concrete surfaces exposed in environments of medium and high aggressiveness, thus impeding
the action of sulfuric acid upon the concrete walls.

Introdução

Compostos sulfurosos tais como o SO2 e o H2S encontram-se em concentrações variáveis no ar


de todas as cidades civilizadas (BRANCO e ROCHA, 1984). Por ser um gás comum em sistemas
de tratamento de esgoto, dar-se-á ênfase maior ao segundo composto supracitado, ou seja, ao
sulfeto de hidrogênio.

O H2S é originado geralmente de atividade biológica, tal como a decomposição anaeróbia de


produtos orgânicos, por bactérias como E. coli, Proteus vulgaris e Pseudomonas pycocyanea.
Este gás, por meio de uma série de reações, produz ácidos, todavia indesejáveis, e que além de
agressivos ao concreto utilizado nas Estações de Tratamento de Esgotos (ETEs), podem
também trazer às áreas residenciais desprendimento de odores desagradáveis.

Com relação à agressividade ao concreto , segundo ANDRADE (s.d.), basicamente pode-se


afirmar que a mesma ocorre de duas maneiras: sob o nível d’água e sobre o nível d’água.

Agressividade sob o nível d’água

As águas residuárias, tanto domésticas quanto industriais carregam consigo uma série de
ácidos orgânicos voláteis que inevitavelmente atritam-se com as paredes de concreto dos
sistemas de tratamento, de pH alcalino e que contêm cálcio na composição original do cimento.
Ocorre então uma reação de neutralização, tendo como produto o acetato de cálcio que é
carregado pelo esgoto. Uma exemplificação mais clara de tal fato pode ser baseada na indústria
de laticínios, onde não se utiliza ou não se recomenda a utilização de rede coletora de concreto,
justamente pelo alto percentual de ácido láctico que este tipo de efluente industrial apresenta.

A visualização de tal fato é facilmente detectada. Abaixo do nível d’água, a superfície agredida
apresenta-se extremamente rugosa (com aspecto de lixa grossa) e com os agregados
aparentes.

Agressividade sobre o nível d’água

Algumas bactérias anaeróbias degradam as proteínas e aminoácidos naturalmente presentes


nos esgotos. Estes compostos orgânicos geralmente apresentam radicais de enxofre em sua
molécula, que são os formadores de gases como o H2S, que fica dissolvido no esgoto. Em
regiões de alta turbulência este gás se desprende, iniciando-se então uma série de reações, que
podem se dar por via química ou biológica, descritas abaixo, e têm como conseqüência a
corrosão do concreto.

A formação de ácido por via química obedece à seguinte seqüência de reações:

H2S + O 2 « H2 O + SO (1)

H2 O + O 2 + SO « H2SO 4 (2)

H2SO 4 + CaCO 3 « CaSO4 + H2CO 3 (3)

Da equação (1), o oxigênio necessário para a reação, vem de pequenas infiltrações nos
reatores anaeróbios, resultando então em enxofre absoluto, que em presença de umidade
(natural do reator), oxida-se a ácido sulfúrico (equação (2)), e em ausência pode-se acumular
como produto de oxidação, nas paredes ou teto do reator. Durante estas etapas de oxidação o
pH baixa drasticamente para aproximadamente 0,5. Na reação (3), a de neutralização, o sulfato
de cálcio formado possui volume molecular maior do que o carbonato de cálcio, ou seja, é mais
expansivo, provocando desta maneira estufamento e desagregação do concreto.

A formação de ácido por via biológica, uma segunda forma de produção de ácido sulfúrico dá-
se por via biológica, por meio de microrganismos como o Thiobacillus concretivorus. A bactéria
é autotrófica, ou seja, possui grande capacidade de crescimento e alta atividade metabólica em
ausência de compostos orgânicos. Estes microrganismos necessitam como nutrientes apenas
alguma fonte de enxofre, neste caso o H2S, e pequenas quantidades de gás carbônico,
oxigênio, sais minerais e água, para que produzam o ácido sulfúrico, que por sua vez reage
com o carbonato de cálcio, originando o estufamento e desagregação como já analisado
anteriormente.

Proteções

Sendo uma etapa inicial do processo de proteção, LIBÓRIO (1990) aconselha a produção de
concreto com resistência química adequada ao caso, com baixa relação água/cimento,
compactação rigorosa e cura apropriada, bem como a escolha de um cimento adequado
(Portland Pozolânico), visando obter desta forma baixa taxa de absorção e permeabilidade.

Outra forma de melhorar ou inibir os efeitos de degradação é por meio de completo isolamento
da estrutura do meio corrosivo, com revestimentos resistentes a ácidos, tais como
termoplásticas, pinturas e processos de ocratização.

Desta forma, a escolha de um revestimento adequado deve-se prender às seguintes questões:


inércia química face aos agentes agressivos; propriedades físicas compatíveis com o substrato,
permitindo acompanhar o encurtamento e a dilatação; resistência à abrasão apropriada; baixa
permeabilidade; durabilidade; custo benefício e facilidade de aplicação.

O presente trabalho tem como objetivo geral avaliar a influência dos sulfetos ao concreto dos
Ralfs, já que estes reatores são amplamente utilizados pela Sanepar no Paraná, e que em
alguns destes reatores, a problemática já é realidade. Partindo-se deste princípio, o mecanismo
de corrosão deve ser esclarecido, bem como soluções devem ser conhecidas e implementadas,
visando a manutenção da integridade física e a eficiência destes sistemas de tratamento
anaeróbio.

Materiais e métodos
Por indicação e após consulta à Gerência de Projetos da Sanepar, foram visitados três Ralfs em
operação na cidade de Curitiba. Dois são de concepção recente e moderna, como é o caso do
Ralf Padilha, no Bairro do Xaxim, e do Ralf São João Del Rey II, instalação onde foi realizado
um recente monitoramento pelo Isam - PUC/PR, no âmbito do Prosab (AISSE et al., 1998). Um
outro já mais antigo, situado no Bairro da Fazendinha, é o Ralf Itatiaia, o qual igualmente já foi
monitorado pelo Isam (BOLLMANN e AISSE, 1987).

Nos três Ralfs visitados, numa primeira etapa foram realizadas observações "estéticas" a fim de
verificar a existência ou não do problema em questão. Neste levantamento usou-se recursos
fotográficos.

No Ralf Itatiaia foram realizadas coletas de concreto sendo que as amostras foram então
enviadas ao Laboratório de Análises Ambientais do Isam - PUC/PR, para determinação de pH,
cuja metodologia encontra-se em KIEHL (1985).

Descrição dos Reatores

· Ralf São João Del Rey II

A estação de tratamento de esgotos do conjunto habitacional Moradias São João Del Rey II é
constituída por uma grade, um desarenador, uma calha Parshall (W=6") comercial e um reator
anaeróbio de fluxo ascendente módulo IX-Tipo. Cumpre citar que o Ralf possui separação das
câmaras de digestão e decantação (parede defletora) em lonil. A aplicação do esgoto bruto no
fundo se dá por múltiplos tubos distribuidores (Figura 1). O reator está em operação há nove
anos e na sua construção foi utilizada argamassa e concreto "normais", sem nenhum
tratamento de superfície para que a corrosão fosse evitada.

· Ralf Padilha

A estação de tratamento de esgotos do conjunto habitacional Moradias Padilha é semelhante ao


São João Del Rey II, diferindo apenas no reator anaeróbio de fluxo ascendente módulo XVI -
Tipo. A figura 1, pode da mesma forma representar o projeto do Ralf Padilha. O reator está em
operação há 10 anos e construído sem nenhum tratamento de superfície.

· Ralf Itatiaia

A estação de tratamento de esgotos do conjunto habitacional Moradias Itatiaia é constituída de


um sistema elevatório (duas bombas submersas instaladas em paralelo, funcionando
alternadamente), um desarenador, uma calha Parshall (W=12"), um reator de fluxo ascendente
e um desgaseificador do efluente (figura 2). Está em operação há 16 anos e possui as mesmas
características de construção dos Ralfs anteriormente citados.

Resultados e discussões

Deu-se ênfase ao Ralf São João Del Rey II, por ser objeto de estudos recentes, e ao Ralf
Itatiaia, que por ser de concepção antiga já sofreu algumas conseqüências claras e facilmente
visíveis da desagregação, fator este que motivou uma coleta de amostras de concreto nos
pontos onde a agressão provocada pelos ácidos foi considerada crítica. No Ralf Padilha deu-se
menor ênfase, pelo fato de apresentar as mesmas carcterísticas de operação e projeto similar
ao Ralf São João Del Rey II.

Os resultados podem ser melhor expressos por meio de ilustrações que foram obtidas durante a
visita aos Ralfs.

A Figura 3 refere-se ao poço de visita do Ralf, permitindo a visualização da parede interna do


reator. São visíveis os dois tipos de agressividade ao concreto. Na parte inferior, lado esquerdo
da imagem, por onde o esgoto escoa, pode-se observar a coloração típica de concreto exposto,
e os agregados já aparentes. Na parte central da figura (sobre o esgoto), observa-se a
coloração típica de oxidação (sulfeto de hidrogênio), sendo que por sob esta camada
superficial, já existe a formação de enxofre elementar, que dá seqüência às reações de
formação de ácido sulfúrico.

A figura 4 refere-se ao Ralf Padilha, de operação e projeto similar ao Ralf São João Del Rey II .
Os problemas detectados neste Ralf são semelhantes.

A figura 5 refere-se à caixa de inspeção, em concreto, do esgoto efluente do Ralf Itatiaia. Neste
reator o ataque pelo ácido sulfúrico é de fácil visualização. A caixa é fechada e o esgoto
apresenta alta turbulência com grande liberação de H2S. As bactérias então agem na formação
de ácido sulfúrico, provocando o estufamento e esfarelamento de grandes pedaços de concreto.
Pode-se observar ainda grumos amarelos de enxofre elementar.

Devido à grande corrosão verificada junto ao Ralf Itatiai e face à incerteza de sua origem,
foram então realizadas coletas de concreto para determinação de pH em laboratório e os
resultados mostraram-se novamente surpreendentes, como mostra a tabela 1.

Em complementação às informações já citadas, FORTUNATO et al. (1998) apresentam um


estudo técnico-econômica para a aplicação de tintas, pesquisadas para a proteção dos reatores
tipo Ralf, notadamente a pintura com borracha clorada ou epóxi betuminosa.
Conclusões e recomendações

Com os resultados de análises visuais e laboratoriais obtidos pode-se comprovar a


agressividade do ácido sulfúrico, formado por sulfetos, ao concreto das unidades componentes
dos sistemas de tratamento de esgotos anaeróbios.

Uma das soluções que pode ser apontadas para tal caso, é a pintura dos reatores com borracha
clorada ou epóxi betuminosa, que se constitui numa barreira química para superfícies de
concreto expostas em ambientes de média a alta agressividade, desta forma impedindo a ação
do ácido sulfúrico sobre as paredes de concreto. Estas pinturas devem ser altamente resistentes
à passagem de gases, visando impedir a formação de ácido sulfúrico sob a película aplicada,
bem como resistir ao ataque ácido concentrado, diminuindo a destruição gradativa do concreto,
ou progressiva ao atingir-se a armadura.

A borracha clorada apresenta o inconveniente da baixa resistência a ácidos graxos vegetais ou


animais; já as epóxi betuminosas são mais resistentes, podendo ser aplicadas com espessuras
maiores e menor número de demãos, bem como possui menor permeabilidade, comparada à
borracha clorada, porém o preço da epóxi betuminosa é mais elevado, o que em certos casos
pode inviabilizar sua aplicação.

Referências

Aisse, M. M.; Fortunato, C. M.; Schafaschek, L. et al. Monitoramento de reatores anae-


róbios tipo Ralf. Curitiba : Isam/PUCPR, 1998. Relatório técnico n. 4.

Andrade, R. D. Corrosão de condutos de concreto para esgotos: causas e remédios. São


Paulo : CETESB, s.d. p. 77-98.

Bollmann, H. A.; Aisse, M. M. Operação Assistida de Reatores Anaeróbios Tipo Ralf,


para tratamento de es-gotos domésticos e produção de gás metano. Curitiba :
Isam/PUCPR, 1987.

Branco, S. M; Rocha, A. A. (1984). Poluição do ar. In: Elementos de Ci-ências do


Ambiente. São Paulo : CETESB, 1984. p. 56-57.

Fortunato, C.M.; Gomes, C. S.; Andreoli et al. Monitoramento de Reatores Anae-róbios tipo Ralf.
In: _____. Agres-sividade de Sulfetos ao Concreto dos Ralf’s. Curitiba, Isam/ PUCPR,
1998. Relatório técnico, n. 5.
Kiehl, E. J. Análise de Fertilizantes Orgâ-nicos. In: Fertilizantes Orgânicos. São Paulo, Ceres,
1985. p. 407- 459.Li-bório, J. B. L. A argamassa armada como tecnologia alternativa na
construção de biodigestores Anaeróbios. In: SEMI-NÁRIO INTERNACIONAL DE DESEN-VOLVI-
MENTO DE REATORES ANAERÓ-BIOS PARA TRATAMENTO DE ÁGUAS RESI-DUÁRIAS. São
Carlos, 1990. Anais... São Carlos, SP. EESC/USP, 1990

Tintas Sumaré. Carta para Miguel M. Aisse. Curtiba, 1997.

Agradecimentos

Ao Prosab - Tema 2, pelo estímulo

e fomento do tema "Tratamento

de Esgotos Sanitários", ocorrido por meio das financiadoras Finep, CNPq, RHAE e CEF. À
Sanepar pelas facilidades oferecidas para

acesso e obtenção de dados.

Autores

Carlos Maurício Fortunato,

acadêmico de Engenharia de

Alimentos da PUC-PR,

bolsista IC/CNPq

Celso Savelli Gomes,

engenheiro civil, mestre em Engenharia Sanitária, engenheiro de projetos da Sanepar,

professor da UFPR

Fabiana de Nadai Andreoli,

engenheira civil, MSc em Engenharia Ambiental, professora e

pesquisadora do Isam/PUC/PR

Miguel Mansur Aisse,

engenheiro civil, doutorando em Engenharia pela Epusp,


professor e pesquisador do

Isam/PUC/PR,

professor da UFPR.

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