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Texto Semana 16

O que é o capacitismo e como ele se apresenta na sociedade

Cerca de 24% da população brasileira têm algum tipo de deficiência, segundo o último Censo do IBGE. São
mais de 45 milhões de pessoas que possuem algum impedimento de médio ou longo prazo de natureza física, mental,
intelectual ou sensorial e que estão sujeitas a diversos tipos de preconceito, refletindo em menores condições de
igualdade e oportunidades na sociedade em geral.

Tal forma de discriminação também pode ser enquadrada como capacitismo. Um conceito bastante amplo e
que se apresenta de diversas formas. Em muitas situações, essa ideia está tão enraizada na sociedade que temos
dificuldade de perceber o preconceito por trás de comentários ou atitudes. “É a ideia torta de que pessoas com
deficiência são inferiores a pessoas sem deficiência”, define LauPatrón em sua apresentação O futuro é anti-capacitista
no TEDxSão Paulo.”

O que diz a lei

No dia 21 de setembro é comemorado o Dia Nacional de Luta da Pessoa com Deficiência. A data foi instituída
por iniciativa de movimentos sociais, em 1982, e oficializado pela Lei Nº 11.133, de 14 de julho de 2005, e é
importante para propor uma reflexão sobre capacitismo, dar visibilidade às pessoas com deficiência e buscar por novas
soluções para construir um futuro mais inclusivo.

A Lei Brasileira de Inclusão (ou Estatuto da Pessoa com Deficiência), entrou em vigor em 2016, como uma a
adaptação da Convenção sobre os Direitos da Pessoa com Deficiência da ONU à legislação brasileira e trata da
acessibilidade e da inclusão em diferentes aspectos da sociedade.

A LBI traz avanços importantes no campo da educação inclusiva, como a proibição da cobrança pelas escolas
de valores adicionais pela implementação de recursos de acessibilidade. Todas as crianças têm o mesmo direito à
educação, e por isso as metodologias, espaços e materiais devem ser capazes de atender a todos, e não serem
elaborados separadamente para as pessoas com deficiência.

As diversas formas de capacitismo

A estudante Luísa Pitanga é natural de Cachoeiro de Itapemirim no Espírito Santo e portadora de uma doença
genética rara que lhe causa limitação de movimentos. Ela costuma definir o capacitismo de três formas. “A primeira é
a partir da ideia do incapaz. Você subestima a capacidade intelectual e física da pessoa porque ela tem uma
deficiência”, explica. Isto acontece em repetidas situações, como nas atividades diárias. “Você está na rua, encontra
uma pessoa com deficiência executando uma tarefa normal e oferece ajuda”.

Luísa enfatiza que a pessoa com deficiência (PCD) pode desenvolver habilidades para uma vida funcional
como qualquer outra e o fato dela desenvolver a atividade diferente de uma pessoa sem deficiência não a torna
incapaz.

A segunda forma do capacitismo se apresentar ao tratar a deficiência como uma doença e, consequentemente,
a pessoa com deficiência como alguém que procura cura.

A terceira é tratar a pessoa com deficiência como um exemplo de superação. A estudante lembra que é muito
comum circularem na internet vídeos de pessoas com deficiência fazendo alguma atividade e uma mensagem
motivadora no título, algo como: “se ele consegue, você também consegue”. “Naturalizam o sofrimento para se
motivarem. Ninguém deveria precisar da minha dor para se motivar. Eu não tenho esse papel na sociedade”, afirma.
Segundo Luísa, a discussão sobre capacitismo ainda não tem muito espaço, mesmo com a ajuda da tecnologia
para disseminar novos pensamentos e debates contra qualquer tipo de discriminação. “O capacitismo coloca na cabeça
das pessoas que a gente não tem capacidade de opinar, de se impor, de falar. E por isso a luta é muito silenciada.
Porque as pessoas crescem com esta ideia e por isso não dão voz pra gente”, comenta. “Agora a luta está começando a
ganhar visibilidade principalmente por causa das redes sociais”.

Educação anticapacitista

É muito comum que crianças com deficiência tenham experiências conturbadas na escola, como bullying ou
exclusão das atividades recreativas e pedagógicas. Com Luísa não foi diferente. “Eu estudava em uma escola de três
andares que não tinha acessibilidade. Quando chovia eu não podia descer para lanchar, por exemplo. E aí eu me
isolava socialmente, porque eu não tinha como participar”.

Ela defende que a educação é o primeiro passo para a construção de uma sociedade inclusiva e anticapacitista.

“Eu acredito que as pessoas não reproduzem o capacitismo porque são cruéis, e sim por falta de informação.
Educação é a base de tudo, temos que ensinar a nova geração a crescer de uma forma diferente”, diz Luísa.

A ONG Mova-se, onde a sua mãe, Mônica Pitanga, é presidente costuma fazer trabalhos de conscientização
nas escolas. Eles conversam com as crianças sobre a importância de respeitar as diferenças e se colocar no lugar do
outro.

Capacitismo institucional

Somente 1% das pessoas com deficiência no Brasil tem trabalho de carteira assinada, segundo dados da
Relação Anual de Informações Sociais (Rais). Destes, a maioria se enquadrana Lei de Cotas para Deficientes, que
prevê que empresas com 100 ou mais funcionários tenham entre 2 e 5% dos trabalhadores portadores de deficiência.

Ainda assim, Luísa questiona o papel a responsabilidade das empresas contratantes para combater esse
cenário. “Empregam uma pessoa que tem um dedo amputado, mas uma pessoa com paralisia cerebral não é
contratada”, reflete. “É preciso preparar as outras pessoas para conviver com esta diversidade, porque elas não foram
ensinadas a isto. Fica bonito colocar no seu anúncio que você é inclusivo, mas na prática são poucas empresas que
realmente são”, complementa a jovem.

Relações amorosas e afetivas

“Pessoas com deficiência sentem desejo e prazer como qualquer pessoa. Elas se apaixonam, têm problemas
emocionais e afetivos e questões com a sua autoimagem. No entanto, as relações vividas por PCD ainda são vistas por
uma ótica preconceituosa”, comenta Luísa.

Para a jovem, o capacitismo também reflete nas relações amorosas e afetivas, já que as pessoas com
deficiência costumam ser deixadas de lado ou até infantilizadas.

“O capacitismo fez a sociedade acreditar que a pessoa com deficiência era um fardo. Então, qualquer pessoa
que se relaciona com gente, é como se ela estivesse fazendo um grande favor. A gente vê muitas pessoas com
deficiência sendo limitadas a namorar apenas outra pessoa com deficiência. E quando elas namoram alguém que não
tem deficiência, essas pessoas são supervalorizadas”, finaliza a jovem.
(https://fundacaotelefonicavivo.org.br/noticias/o-que-e-o-capacitismo-e-como-ele-se-apresenta-na-
sociedade/. Adaptado. Acessado em 24.06.2022.)

É capacitismo quando: não vemos pessoas com deficiência em novelas, filmes e seriados

3 de dezembro é Dia Internacional da Pessoa com Deficiência, data que visa criar uma reflexão sobre a falta de
oportunidades e de tratamento igualitário para essas pessoas.

Para chamar a atenção para a questão, um movimento foi iniciado na internet com a hashtag
#ÉCapacitismoQuando, que visa explicar como se dá a discriminação contra pessoas com deficiência, já que ela nem
sempre acontece de maneira explícita (assim como tantas outras).

Coletivamente, todos poderíamos fazer algo para tornar a sociedade mais inclusiva e mais respeitosa, como
cobrar rampas nas calçadas para pessoas que usam cadeiras de rodas, parar de definir alguém por conta de sua
deficiência (chamar de ‘cadeirante’, por exemplo) ou usar imagens de pessoas com deficiência ‘motivá-lo’ a parar de
reclamar da vida e buscar seus sonhos. Este último é bem problemático, especialmente porque transforma esses
indivíduos como objetos de inspiração.

Como bem explicou a falecida jornalista australiana Stella Young, em uma palestra na plataforma TED:

“Neste caso, estamos objetificando as pessoas com deficiência em benefício das pessoas sem deficiência. O
propósito dessas imagens é inspirar você, motivar você, para então podermos olhar para elas e pensar: ‘bem, por pior
que seja a minha vida, poderia ser pior. Eu poderia ser aquela pessoa’. Mas e se você for aquela pessoa?”

A mídia e o entretenimento podem fazer muito para discutir e dar visibilidade às questões das pessoas com
deficiência, além de humanizar esses indivíduos a partir das histórias que são contadas. Contudo, infelizmente, assim
como a sociedade em geral, elas falham na representação de pessoas com deficiência.

Em tempos de pedidos por mais diversidade em novelas, filmes e seriados, essa demanda deveria incluir o
grupo, que vale dizer, corresponde a 23,9% (45,6 milhões) da população brasileira, segundo uma pesquisa do IBGE.
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), 1 bilhão de pessoas no mundo vivem com algum tipo de
deficiência.

E ainda assim, quando ligamos nossas televisões ou vamos aos cinema, nós ainda não vemos essas pessoas, o
que faz com que pensemos a deficiência como uma coisa distante ou menos comum do que realmente é.

De acordo com um estudo realizado sobre diversidade nos filmes, realizada pela Iniciativa de Mídia,
Diversidade e Mudança Social, da Escola Annenberg de Jornalismo e Comunicação, da Universidade do Sul da
Califórnia (USC), apenas 2,4% dos personagens das 100 maiores produções de 2015 eram pessoas com deficiência,
um percentual muito baixo quando comparado à proporção de pessoas que vivem com alguma deficiência nos Estados
Unidos: 18,7% da população americana. E ainda dentro desse recorte há outro problema: além da maioria ser
secundária, sem grande peso para a narrativa, 81% dos personagens eram homens, 71,7% eram brancos e nenhum era
LGBT.

Ou seja, as mensagens transmitidas são de que: a) pessoas com deficiência não merecem ter suas histórias
contadas; b) para Hollywood, mulheres só podem ser vistas se forem jovens, magras, brancas e sem nenhuma
deficiência; c) pessoas de minorias étnicas que vivem com deficiência não enfrentam nenhum desafio ou sequer
ganham a oportunidade de ver suas histórias; d) LGBTs com deficiência não existem (ps: eles existem, sim!).

Uma outra pesquisa, feita neste ano pela ONG GLAAD, mostra que somente 1,7% dos personagens nas séries
de televisão possuem algum tipo de deficiência, e segundo um levantamento da Ruderman Family Foundation, 95%
das pessoas sem deficiência interpretam esses personagens. Isso no faz pensar que, não bastasse não verem suas
histórias na TV, esses indivíduos também não conseguem trabalho.
Embora eu não tenha conseguido achar pesquisas sobre representação de pessoas com deficiência nas novelas
brasileiras, é seguro afirmar que nem de longe estamos vendo-as nas nossas produções nacionais. E quando finalmente
fazem parte das tramas, também há problemas: suas histórias são reduzidas à deficiência que o personagem possui, ou
para elevar a narrativa do personagem que não a possui. Igualmente ruim: muitas vezes a deficiência vem como
“castigo” para tornar a pessoa que era ruim em um ser humano melhor. Basta lembrar, por exemplo, da personagem
Luciana, de Alinne Moraes, em “Viver a Vida”. Antes do acidente que a deixou tetraplégica, ela era uma moça egoísta
e mimada, mas que foi redimida, em seguida, por conta da deficiência.

É por isso que, não somente hoje, Dia Internacional da Pessoa com Deficiência, mas todos os outros dias do
ano, precisamos lutar e pedir pela visibilidade desse grupo, que carece não só de representação, mas de direitos e
respeito.

(https://prosalivre.com/e-capacitismo-quando-nao-vemos-pessoas-com-deficiencia-em-novelas-filmes-e-
seriados/.Adaptado. Acessado em 24.06.2022.)

PROPOSTA DE REDAÇÃO / ENEM

A partir da leitura dos textos motivadores e com base nos conhecimentos construídos ao longo de sua formação, redija
um texto dissertativo-argumentativo, em norma-padrão da língua portuguesa, sobre o tema A sociedade brasileira e o
capacitismo, apresentando proposta de intervenção que respeite os direitos humanos. Selecione, organize e relacione,
de forma coerente e coesa, argumentos e fatos para defesa de seu ponto de vista. Redija um texto entre 20 e 30 linhas.

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