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INTEGRIDADE E RESPEITO
CAPACITISMO:
A invisibilidade do autismo feminino
Arthur Sena;
João Pedro Puça;
Maria Malfetano;
Maria Clara Alves;
Matheus Madaleno;
Rebecca Mendes.
Macaé - RJ
2023
1. INTRODUÇÃO
Antes de mais nada, para debater sobre autismo e adentrar nas questões de gênero que nosso
projeto propõe(autismo feminino) e entender como essa doença age, é necessário observar o
que os portadores desse tipo de doença(neuro divergentes) sofrem no dia a dia, que é a
questão do capacitismo.De acordo com estudo realizado pelo Grupo Croma publicado em
novembro de 2020, 71% das pessoas com deficiência entrevistadas acreditam que as
empresas têm preconceito em contratar pessoas com deficiência. Além disso, 32% já sofreram
discriminação por apresentar alguma deficiência. Mas o porquê disso? O que de fato é o
capacitismo? E por que ele deve ser combatido? A seguir apresentaremos um texto para
responder essas perguntas.
Esperamos que durante a realização deste trabalho possamos abordar e entender melhor:
a) O capacitismo e seus malefícios;
b) Dificuldade das pessoas portadoras de deficiência na sociedade no geral;
c) Dificuldade das mulheres na sociedade no geral;
d) Dificuldade das mulheres com TEA;
e) Inclusão desta parcela da população na sociedade:
.
2. CAPACITISMO
O capacitismo pode ser classificado como qualquer tipo de descriminação com pessoas que
possuem deficiência (PCD’s), seja ela física ou mental, esse termo é pautado em uma
construção social de que existe um corpo padrão ideal, e que a inadequação a esse padrão
torna as pessoas incapazes de realizar atividades na sociedade. Então, as pessoas deficientes
acabam tendo sua capacidade e aptidão subestimadas,gerando assim um constrangimento e
um sentimento de inferioridade no portador de deficiência . De acordo com o IBGE, 8,4% da
população brasileira acima dos dois anos possui algum tipo de deficiência, o que equivale a
aproximadamente 17,3 milhões de pessoas. Mesmo com esse número tão expressivo de
portadores de deficiência essa questão no Brasil não é tão difundida e essa luta é muito
recente, vemos isso pela data de criação de algumas leis que asseguram os direitos dos
deficientes tais como: a lei de cotas (1991) e o estatuto da pessoa com deficiência (2015). Além
disso, vemos como o próprio capacitismo e o estigma dos deficientes dificultam os mesmos na
área da educação,por exemplo no terceiro trimestre de 2022, a taxa de analfabetismo para as
pessoas com deficiência foi de 19,5%, enquanto que entre as pessoas sem deficiência essa
taxa foi de 4,1%. Vemos também que o rendimento médio real habitualmente recebido pelas
pessoas ocupadas com deficiência foi de R$1.860, enquanto o rendimento das pessoas
ocupadas sem deficiência era de R$2.690.Esses eventos têm o poder de afetar a qualidade de
vida dessas pessoas, tendo em vista que o mesmo promove a exclusão social e a falta de
oportunidades, o que geralmente pode levar ao isolamento dessas pessoas e até mesmo a
marginalização, resultando assim em menor participação na sociedade. Por isso cabe a nós
fazer com que esse tema seja cada vez mais debatido e comentado no corpo social, a fim de
dar visibilidade às questões que envolvem a inclusão e equalização de oportunidades.
3. A MULHER NA SOCIEDADE
Simone de Beauvoir, filósofa francesa, discorre em sua obra “O segundo sexo” sobre a
condição da mulher ocidental em meados do século XX. Ela abordava extensivamente a
questão das mulheres na sociedade e explorou a construção social do gênero. Beauvoir
criticava a ideia de uma “natureza feminina”, intrínseca e universal, e argumentava que
a noção de uma “essência” feminina era um mito que foi historicamente utilizado como
justificativa para a opressão das mulheres. Ela sustentava que as características vistas
como parte dessa natureza eram, na verdade, construções sociais moldadas pela
cultura e pelas expectativas sociais. Para ela, as mulheres não nasciam com natureza
predeterminada, mas que, em vez disso, eram moldadas por suas experiências,
educação e o contexto social em que viviam.
Utilizando como base a ideia de que a construção social dos gêneros levou à
invisibilidade e à marginalização das mulheres ao longo da história, as mulheres com
autismo também enfrentam desafios semelhantes em relação à sua visibilidade na
sociedade. Muitas vezes, o autismo foi historicamente concebido com base em
estereótipos masculinos, o que levou a uma falta de diagnósticos e apoio adequados
para as mulheres autistas. Isso resultou em uma invisibilidade generalizada das
experiências autistas femininas.
Nos últimos anos,entretanto, houve um reconhecimento crescente dessa questão e um
esforço para compreender melhor o autismo nas mulheres. Isso inclui a compreensão
de como as mulheres autistas podem manifestar seus sintomas de maneira diferente
dos homens e como estereótipos de gênero podem influenciar o diagnóstico e o apoio.
Portanto, enquanto "O Segundo Sexo" não aborda especificamente o autismo, suas
discussões sobre a construção social do gênero podem ajudar a contextualizar a
invisibilidade do mesmo na classe feminina e a importância de superar esses
estereótipos de gênero para uma compreensão mais precisa e inclusiva.
6. AUTISMO
De forma resumida e prática, o autismo é um transtorno do neurodesenvolvimento,
identificável ainda na primeira infância, durante o primeiro semestre de vida. Ele é
caracterizado por alterações em três grandes áreas: a comunicação, a interação social
e o comportamento.Vale ressaltar que o autismo apresenta diferentes níveis de
gravidade e como consequência uma variedade de sintomas, por isso mesmo nenhum
autista é igual ao outro. Mas por que o TEA se desenvolve? A etiologia do transtorno
do espectro autista ainda permanece desconhecida. Evidências científicas apontam que
não há uma causa única, mas sim a interação de fatores genéticos e ambientais. A
interação entre esses fatores parecem estar relacionadas ao TEA, porém é importante
ressaltar que “risco aumentado” não é o mesmo que causa fatores de risco ambientais.
Os fatores ambientais podem aumentar ou diminuir o risco de TEA em pessoas
geneticamente predispostas. Embora nenhum destes fatores pareça ter forte correlação
com aumento e/ou diminuição dos riscos, a exposição a agentes químicos, deficiência
de vitamina D e ácido fólico, uso de substâncias (como ácido valproico) durante a
gestação, prematuridade (com idade gestacional abaixo de 35 semanas), baixo peso ao
nascer (< 2.500 g), gestações múltiplas, infecção materna durante a gravidez e idade
parental avançada são considerados fatores contribuintes para o desenvolvimento do
TEA. De acordo com Segundo dados do Centro de Controle de Doenças dos Estados
Unidos, a maioria das crianças autistas passam a ser investigadas depois dos 4
anos de idade. E isso significa que elas podem estar perdendo um tempo valioso que,
certamente, tem efeito no rendimento escolar, social e familiar. Eles acreditam que esse
diagnóstico tardio é dado muitas vezes pela falta de conhecimento dos familiares.
Quando a família tem dúvida, muitas vezes precisa lidar com a falta de conhecimento
tanto dos pais, quanto dos mais próximos; se deparam com o preconceito quando a
palavra ‘autista’ é citada; com a dificuldade estrutural de colocar a criança em um
sistema de saúde amplo que tenha tudo ou boa parte do que a criança precisa para
que o autismo seja investigado; com a falta de escolas e creches inclusivas; e até
com o próprio medo de pensar que o sonho da maternidade e paternidade, talvez não
aconteça como idealizaram. Tendo isso em mente é possível dizer então que é crucial
que o autista tenha tratamento de forma precoce pois com isso pode-se melhorar o
desenvolvimento geral, ajudando essa criança a aprender novas habilidades que
vão gerar mais independência ao longo da vida.
7. DIAGNÓSTICO EM MULHERES
O TEA se manifesta de forma distinta em homens e mulheres, portanto, a
subnotificação de mulheres autistas não se dá somente pelo masking(basicamente um
comportamento adotado por mulheres autistas para esconder esse quadro, muitas
vezes sem ser proposital). De acordo com o estudo Behavioral and Cognitive
Characteristics of Females and Males With Autism in the Simons Simplex Collection,
publicado no National Center for Biotechnology Information, mulheres autistas têm
melhores habilidades de comunicação e são melhores em externalizar problemas,
enquanto os homens possuem níveis maiores de interesses restritos e maior habilidade
cognitiva. O estudo aponta, ainda, que a identificação de mulheres com TEA está
melhorando conforme a população e os profissionais de atenção primária à saúde
adquirem conhecimento sobre autismo.
Segundo o estudo Finding the True Number of Females with Autistic Spectrum Disorder
by Estimating the Biases in Initial Recognition and Clinical Diagnosis, publicado no
Multidisciplinary Digital Publishing Institute (MDPI), acreditava-se até recentemente que
existia uma proporção de quatro homens autistas para uma mulher. No entanto, o
estudo americano, que foi realizado com 1.711 crianças, mostrou que a verdadeira
proporção seria muito mais igualitária, sendo três mulheres para cada quatro homens.
Apesar disso, o que acontece é que cerca de 80% das mulheres ainda não são
diagnosticadas antes dos 18 anos, o que, segundo o autor da pesquisa, Robert
McCrossin, pode causar danos inimagináveis na saúde mental das jovens.
“Eu gosto de dizer que depois que você tem um diagnóstico, é como se você ganhasse
uma máquina do tempo, como se você pudesse acessar vários momentos da sua vida e
entender o porquê das suas reações naquele momento”.
É assim que Jéssica Borges, de 30 anos, autista e educadora inclusiva, define seu sentimento
em relação ao laudo que recebeu há dois anos
A repetição de palavras (ecolalia), a rigidez cognitiva com padrões de repetição, incluindo a
necessidade de rotina, os prejuízos na comunicação e de interação social, a hipersensibilidade
sensorial, foram algumas das características que levaram Jéssica a procurar novamente por
especialistas.
De acordo com a educadora, que também é ex-diretora do Instituto Lagarta Vira Pupa – voltado
para o acolhimento de pessoas com deficiências e suas famílias -, esse processo pode ser
complicado, pois há um entendimento errôneo de que as mulheres não são acometidas pelo
TEA.
“Não é fácil achar um profissional que avalie de forma criteriosa as mulheres, até porque
os testes [de avaliação] foram feitos com base nos comportamentos masculinos”,
explica.
10. INCLUSÃO
Incluir mulheres autistas na sociedade é um passo importante para promover a diversidade e a
igualdade. É fundamental abordar essa questão considerando tanto o gênero feminino quanto a
condição autista de forma separada, para depois unir essas perspectivas.
Promover a conscientização sobre o autismo, especialmente no que diz respeito às mulheres
autistas. A sociedade precisa compreender as características únicas das mulheres no espectro.
Garantir acesso a uma educação inclusiva e adaptada às necessidades das mulheres autistas
é essencial. Isso pode envolver treinamento para educadores e estratégias de ensino
personalizadas.
Incentivar as mulheres autistas a desenvolver suas habilidades, paixões e interesses é
fundamental. Isso pode ser feito por meio de programas de empoderamento e apoio
psicossocial.
Promover a igualdade de gênero é um objetivo crucial. Isso envolve combater estereótipos de
gênero, criar oportunidades iguais no mercado de trabalho e empoderar as mulheres em todas
as esferas da sociedade.
A inclusão de autistas em geral requer a sensibilização da sociedade para compreender as
necessidades individuais. Isso pode ser feito por meio de programas de treinamento e
campanhas de conscientização.
Criar grupos de apoio que se concentrem nas necessidades específicas das mulheres autistas
pode ser benéfico. Esses grupos podem oferecer um espaço seguro para compartilhar
experiências e buscar soluções juntas.
Governos e organizações devem implementar políticas inclusivas que levem em consideração
a interseccionalidade de gênero e autismo, garantindo que as necessidades de todos sejam
atendidas.
Ao unir essas perspectivas, promovemos a inclusão de mulheres autistas na sociedade,
reconhecendo e respeitando a diversidade de experiências e desafios que cada pessoa
enfrenta. A inclusão é um esforço coletivo que enriquece nossa sociedade e promove a
igualdade para todos.
11. CONCLUSÃO
Durante a elaboração deste trabalho foi possível verificar que o tema abordado ainda é pouco
conhecido por grande parte da população, o que dificulta o diagnóstico e acompanhamento do
portador.
Trazer este tema para discussão, em ambientes escolares por exemplo, talvez seja um dos
primeiros passos para promover o conhecimento, buscando a reflexão que pode levar a
conscientização das pessoas e futuramente tomadas de decisão para que estas pessoas
possam se tornar visíveis e se sentirem acolhidas em quaisquer ambientes onde estejam.
13. AGRADECIMENTOS
Em encerramento, gostaríamos de expressar nossa gratidão pela atenção de todos e pelo
comprometimento com a causa que estamos promovendo. A importância desse assunto não
pode ser subestimada, e nossa determinação em trazê-lo à tona é fundamental. Continuaremos
nossa busca incansável por conscientização e mudança, unidos em prol de um mundo melhor
para todos.