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O TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA

Ligantes: Débora Stela De Almeida Barbosa e Ysllariane Nieslley Bezerra Santos

1. Concepções gerais, Tratamento e Família

O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é classificado como transtorno do


neurodesenvolvimento de início precoce na infância; de curso crônico; causas multifatoriais e
com etiologia, até o presente momento, inconcludente.
A Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS), afirma que o autismo afeta 1
em cada 160 crianças no mundo. Quando relacionado aos níveis de incidência, há uma
predominância de serem do sexo masculino.
Segundo o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5), as
características essenciais do transtorno do espectro são prejuízo na comunicação social,
interação social e padrões restritos e/ou repetitivos de comportamento, interesses ou
atividades.
Em contrapartida, tais comportamentos atípicos do público do TEA podem ser
sinalizados através de maneiras heterogêneas. Lampreia (2004, p. 111), cita que dentro do
espectro poderá ter "crianças que falam e outras que não falam; crianças com pouco ou
nenhum tipo de contato social e outras com um tipo bizarro de relacionamento."
As intervenções em relação a estimulação da criança com TEA devem ser
realizadas de forma multidisciplinar e com profissionais especializados. Além disso, é
importante ressaltar que o diagnóstico e tratamento precoce dentro do Transtorno do Espectro
Autista é caracterizado como um fator determinante perante o desenvolvimento da criança,
uma vez que, tais fatores influenciarão na qualidade de vida desse indivíduo quando adulto.
Entretanto, de acordo com Vasconcelos (2009), normalmente o que ocorre é que
os familiares das crianças com TEA somente começam a se preocupar quando o atraso na
fala já é persistente, na maioria das vezes, na fase de escolarização da criança.
Diante da necessidade do atendimento multiprofissional, a área da psicologia
deve está inserida de forma imperativa no tratamento das crianças com TEA, não apenas
através do diagnóstico, mas no acolhimento da rede familiar e sobretudo, na garantia de
direitos e efetivação das políticas públicas voltadas para o público com Transtorno do
Espectro Autista.
Partindo do pressuposto que o indivíduo é um sujeito social, construído a partir de
contatos múltiplos, e a família, por sua vez, é o primeiro âmbito que a criança é inserida após
o seu nascimento, torna-se irrefutável, que o contexto familiar permeia por um papel
extremamente importante no desenvolvimento e contribuições para com o sujeito.
Um feto desde o útero da mãe, ainda em formação, será exposto a um grande
número de transferências, projeções e anseios por parte dos familiares, sejam por motivos de
preferência de gênero do bebê, menino ou menina; características físicas; temperamentais ou
aspectos de saúde.
Essas idealizações, antes mesmo do nascimento da criança, permeiam sempre por
uma lógica positiva, sendo visível perceber que a deficiência não é algo desejado e esperado,
como a saúde é. Em consonância a isso Serra (2010, p. 43), expõe que “a frase ‘não importa
se é menino ou menina, e sim que venha com saúde’ está presente em muitos ciclos de
conversa nos quais há a presença de uma grávida.”
Com a chegada de um novo integrante no seio familiar, de forma natural e
imediata, ocorrerá mudanças nas configurações e dinâmicas do casal e da família como um
todo. Entretanto, quando a criança que chega traz consigo uma deficiência, as mudanças serão
ainda mais palpáveis, visto que, “trata-se de um luto pela perda da fantasia do filho perfeito,
da criança sadia (FIAMENGHI; MESSA, 2007, p. 239).”
Nessa chegada da criança com deficiência, a família poderá permear por um
processo simbólico de luto onde "os sentimentos da família sobre a deficiência de seus filhos
são cíclicos e podem transitar entre a aceitação e a negação, especialmente nas mudanças de
fases da criança (SERRA, 2010, p. 46)."
Desse modo, a família do portador de Espectro Autista, mais especificamente,
passará por processos de adaptações para com o "novo", desde adaptações na comunicação;
mudanças na rotina; necessidades de atendimentos especializados para com a criança, dentre
outros. Tais aspectos, podem influenciar não somente a dinâmica familiar, como também em
relação aos níveis de estresse e sobrecargas de cuidados.
Sendo a comunicação social um fator imperativo de maior déficit em portadores
de TEA, no ambiente familiar essa "ausência da troca afetiva e da comunicação costuma ser a
maior dificuldade (SERRA, 2010, p. 46)." Contudo, Kuperstein, Biazus e Pires (2018, p. 43),
cita que “a família é o apoio fundamental na intervenção do indivíduo com TEA, pois esse
transtorno prevalece a vida inteira, afetando a qualidade de vida de todos os envolvidos.”
É importante ressaltar, que além dos processos cíclicos de aceitação, a família
segundo Mapelli et al. (2018), sentem perante a sociedade dificuldades na inclusão de suas
crianças e afirmam que o preconceito e a rejeição social são fatores presentes. Desse modo, a
inclusão do público do Espectro Autista deve ser efetivo dentre a sociedade, a fim que os
direitos sejam estabelecidos e preservados.

2. Os Direitos dos Portadores de TEA


A Constituição Federal de 1988, nos garante em seu art. 5°, caput, que:
“Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se
aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à
vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes.”
Se pararmos para analisar de fato, veremos que o que acontece em nossa
sociedade está longe de ser tão perfeito como é o texto da Magna Carta. Vivemos num
ambiente onde as desigualdades imperam e que é preciso tratar os desiguais de modo desigual
para que, pensando num objetivo futuro, talvez possamos construir uma nação melhor. Afinal,
vivemos numa democracia, onde somos nós, cidadãos, que, teoricamente, exercemos a
soberania.
Não tem como falar em desigualdades e não lembrar das minorias, que são os
grupos que mais sofrem com tal descaso, seja pelo cerceamento de seus direitos, ou pelo
preconceito e ignorância social que atinge boa parte da população. Mas aqui, quero me deter a
um grupo específico: os Autistas, ou, num termo mais técnico, ao Portadores do Transtorno
do Espectro Autista (TEA).
Por ser um “grupo” quase que esquecido pela sociedade, e por não ter causas
definidas, muita coisa não era feita para assegurar melhores condições de vida (alguns
pequenos passos foram dados desde a Constituição de 1988, mas a informação, o acesso e o
cumprimentos desses Decretos e Leis, eram escassos), e tratamentos dignos, levando em conta
que os que existem são repletos de incertezas. Mas, devido ao crescimento populacional de
Autistas, pais, médicos, servidores da educação, pessoas interessadas na causa, começaram a
cobrar dos governadores que medidas fossem tomadas. Condicionando assim, que a igualdade
prevista pela CF fosse alcançada.
Os portadores de TEA são, como classifica o Art. 2°, da Lei 13.146/2015
(Estatuto da Pessoa com Deficiência - EPD):
“Pessoa com deficiência que tem impedimento de longo prazo de natureza física,
mental, intelectual ou sensorial, o qual, em interação com uma ou mais barreiras,
pode obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de
condições com as demais pessoas.” (grifo nosso)
Foi por causa dessa Lei que ocorreu a mudança no Código Civil de 2002, onde
em seu art. 3°, II, colocava como absolutamente incapazes os que: “por enfermidade ou
deficiência mental, não tiverem o necessário discernimento para a prática desses atos”. Assim
a norma positivada hoje, pelo CC/02, modificou o art. 3°, dizendo que são absolutamente
incapazes, apenas, os menores de 16 anos.
Já é um bom passo não ser tratado como uma pessoa totalmente incapaz; com isso
a sociedade começa a entender que, apesar de ser portador de uma deficiência, aquela pessoa
pode se desenvolver e exercer atividades como se fosse uma pessoa “normal”; claro que, para
isso, muito trabalho, por parte dos conviventes, deve ser realizado, e faz-se necessário
recursos básicos. Mas, a mudança, especificamente para o Autista, não começou em 2015. Em
2012 surge a Lei n° 12.764, também conhecida como Lei Berenice Piana; em seu Art. 1°, §2°,
estabelece que: “A pessoa com transtorno do espectro autista é considerada pessoa com
deficiência, para todos os efeitos legais.”, isso muda muito a visão que a sociedade tem e o
modo como tratam os Autistas.
A Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com deficiência,
ratificada pelo Brasil em 1° de agosto de 2008; prevê em seu art. 24, item 2, “c”, “d” e “e”; as
formas como se procederam a oferta da educação para as pessoas com deficiência, entre elas,
o Autista. Essas garantias vão desde adaptações de acordo com as necessidades, transporte
escolar gratuito, até apoio individual, tudo para proporcionar um bom desenvolvimento a tais
indivíduos. Em seu art. 2°, quando fala: “para os propósitos da presente convenção”, aponta
que:
“Adaptação razoável” significa as modificações e os ajustes necessários e adequados
que não acarretem ônus desproporcional ou indevido, quando requeridos em cada
caso, a fim de assegurar que as pessoas com deficiência possam gozar ou exercer,
em igualdade de oportunidades com as demais pessoas, todos os direitos humanos e
liberdades fundamentais.”
Quanto ao Direito à Saúde, a ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar)
estabelece um número de terapias a serem ofertadas de acordo com o tipo específico para o
paciente. O que muitos pais não sabem é que, esse número estabelecido, é um número
mínimo, devendo, se necessário, serem ofertadas mais seções. O medicamentos são gratuitos
ao portador de TEA, podendo ser incluídos remédios de alto custo e os que, por ventura, não
estejam disponíveis na rede pública.
Os deficientes de baixa renda têm direito ao Benefício de Prestação Continuada
(BPC), que equivocadamente confunde-se com uma aposentadoria, mas dela se difere. É
válido ressaltar que tal benefício não é para custear as terapias e os remédios, pois que estes já
são responsabilidade do Sistema Único de Saúde (SUS), mas sim para ajudar com o sustento
do mesmo.
Recentemente foi incluído na Lei n° 12.764, art 3°-A que: “É criada a Carteira de
Identificação da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista (Ciptea), com vistas a garantir
atenção integral, pronto atendimento e prioridade no atendimento e no acesso aos serviços
públicos e privados, em especial nas áreas de saúde, educação e assistência social.”, com isso,
é possível perceber uma abordagem diferente para com as pessoas com deficiência. Estão
sendo elas, mais vistas e cada vez mais sendo compreendidas, principalmente os Portadore do
TEA.

REFERÊNCIAS

AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. Manual de Diagnóstico e Estatístico de


Transtornos Mentais: DSM-5. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2014.

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Henrique Pereira; VIANA, Emmanuelle da Silva; GOMES, Fábio da Costa Batista;
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