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O ABANDONO AFETIVO DE IDOSOS E A EXIGUIDADE PRÁTICA DA

LEGISLAÇÃO BRASILEIRA

Kawana Queiroz de Souza - Centro Universitário Filadélfia - UniFil


Orientador - Prof. Esp. João Ricardo Anastácio - Centro Universitário Filadélfia - UniFil

Resumo: Este trabalho visa dissertar sobre o abandono afetivo de idosos, a


violabilidade das leis perante o devido assunto, o dever de cuidado dos familiares e
as decorrências que a ausência deste traz tanto para a pessoa idosa, quanto para a
sociedade. Procura-se, por meio de conscientização, e de maneiras para que a lei
possa ser cumprida e verdadeiramente aplicada, combater este nefasto problema que
causa danos físicos e psicológicos aos idosos.
Palavras-Chave: Velhice, Violabilidade da lei, Negligência.
Abstract: This paper aims to discourse about emotional abandonment of elderly
people, law violation towards the subject, the duty of care by immediate family and the
consequences that its absence brings to the elderly as well as to society. It intends,
through awareness and through ways that law may be enforced and truly applied, to
fight this nefarious problem which causes physical and psychological damage to the
elderly.
Keywords: Old Age, Law Violation, Negligence.

A Constituição Federal de 1988 (mais conhecida como Constituição Cidadã) e


o Estatuto do Idoso, uma legislação infraconstitucional, admitem a vulnerabilidade dos
idosos e visam assegurar proteção a essa parcela da população. Sabe-se também
que muitos idosos são vítimas de abandono por seus familiares, e no presente
trabalho será abordado o abandono afetivo, em especial.

Segundo o artigo 230 da Constituição Federal: “A família, a sociedade e o


Estado têm o dever de amparar as pessoas idosas, assegurando sua participação na
comunidade, defendendo sua dignidade e bem-estar e garantindo-lhes o direito à
vida.” Portanto, os familiares e a sociedade brasileira tem o dever de cuidar com esse
público.

O artigo 3º do Estatuto do Idoso, Lei 10.741, fortalece que:

É obrigação da família, da comunidade, da sociedade e do Poder Público


assegurar ao idoso, com absoluta prioridade, a efetivação do direito à vida, à
saúde, à alimentação, à educação, à cultura, ao esporte, ao lazer, ao
trabalho, à cidadania, à liberdade, à dignidade, ao respeito e à convivência
familiar e comunitária.

No entanto, é imprescindível averiguar o cumprimento da mesma, pois a


realidade que se enxerga é um desprezo, desatenção, indiferença, abandono e até
mesmo violência para com os idosos, do governo, da sociedade e da família.

Há também uma obrigação determinada no artigo 98 do Estatuto do Idoso, que


afirma:

Art. 98. Abandonar o idoso em hospitais, casas de saúde, entidades de longa


permanência, ou congêneres, ou não prover suas necessidades básicas,
quando obrigado por lei ou mandado:
Pena - detenção de 6 (seis) meses a 3 (três) anos e multa.

Conforme o artigo constitucional 229 caput (BRASIL, 1988) os filhos maiores tem o
dever de ajudar e amparar os pais na velhice, carência ou enfermidade.

Entretanto, a prática desses mesmos artigos não é uma realidade nos dias
atuais e cada vez mais os idosos são deixados de lado por seus familiares em asilos
ou, até mesmo, vivendo da esmola alheia. Isso ocorre, pois, a família transgrediu o
seu dever de proteção e cuidado, manifestando o abandono afetivo.

O fato da sociedade se tornar capitalista acarretou no isolamento social do


idoso, pois o mesmo não consegue participar da produção diretamente como o jovem,
que, de modo frequente, tem mais habilidades e facilidade de aprender com rapidez
as inovações tecnológicas.

A grande questão não é simplesmente pelo fato deles serem abandonados,


mas pela razão de que eles sofrem com isso e acabam perdendo a vontade, de
alcançar seus objetivos, seus sonhos e a vontade de viver, o que causa a depressão,
que está cada vez mais recorrente entre eles, e até mesmo o suicídio, ocasionando
desequilíbrio na sociedade. Há uma estimativa de 15% e idosos no Brasil desenvolvem
depressão morando em suas residências e 30% nos que moram em instituição de longa
permanência (globo, 2017). Portanto, é preciso solucionar de forma prática esse
problema.
É preciso que se estabeleça respeito pelo idoso (Angela, 2005), reconhecendo
ele enquanto ser humano, que apresenta diminuição das suas habilidades físicas e
sensoriais, possuindo outras qualidades que podem ser igualmente importantes. Nota-
se também que a velhice decorre mais da luta de classes que de conflito de gerações,
pois não é permitida a participação do idoso nas relações interpessoais, de forma que
este ator social tem compartilhado seu lugar de exclusão com outros grupos que
também são discriminados, como: os negros, os índios, deficientes físicos, especiais.

O apoio emocional para com os idosos é de grande importância, mas para isso
não é necessário apenas estar ao seu lado, mas também a aproximação de seus filhos
e da família em geral, para que os mesmos sejam capazes de cuidar e suprir as
necessidades básicas de afeto e necessidades sociais do idoso.

Em vista disso, observa-se que com este fato ocorrendo, fere-se um princípio
constitucional, ou seja, há a violabilidade do PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA
HUMANA, visto que o artigo 1º, inciso III da Constituição Federal de 1988 (BRASIL,
1988) prevê como princípio fundamental, e ato inviolável.

Qualquer indivíduo tem o direito de envelhecer de forma digna. O Estado, junto


da família e da sociedade tem uma enorme responsabilidade na execução desse
processo, porém, sabe-se que na contemporaneidade os dados mostram que a
violência contra os idosos só aumentam, dessa forma, a senilidade não é mais vista
como um direito justamente pelo fato de se encontrarem frágeis e alvos fáceis de
crueldade. Na realidade, eles precisam ser protegidos de qualquer ação de violência,
preconceito, opressão, agressividade ou discriminação.

O artigo 3º, inciso IV (BRASIL, 1988), expressa que um dos objetivos


fundamentais da República Federativa do Brasil é o de impulsionar o bem de todos,
sem nenhuma discriminação ou preconceito perante a idade do cidadão.

Portanto, resta ao Poder Público, à sociedade e a família reverter este processo


de envelhecimento em um acontecimento digno e restaurador, colaborando para a
construção de uma sociedade livre, solidária e principalmente, justa.
No tocante, Alexandre de Moraes (2014) cita:

A desigualdade na lei se produz quando a norma distingue de forma não


razoável ou arbitrária um tratamento específico a pessoas diversas. Para que
as diferenciações normativas possam ser consideradas não discriminatórias,
torna-se indispensável que exista uma justificativa objetiva e razoável, de
acordo com critérios e juízos valorativos genericamente aceitos, cuja
exigência deve aplicar-se em relação à finalidade e efeitos da medida
considerada, devendo estar presente por isso uma razoável relação de
proporcionalidade entre os meios empregados e a finalidade perseguida,
sempre em conformidade com os direitos e garantias constitucionalmente
protegidos.

Houve um enorme avanço em relação a proteção aos direitos dos idosos, que
foi dado pelo constituinte do ano de 1988, certificando, dessa forma, a sua cidadania.
Todavia, lamentavelmente, essa legislação não está sendo aplicada, por
controvérsias dos textos legais e o desconhecimento de sua matéria.

Quanto ao direito à liberdade, para se concretizar realmente, precisa-se de


soluções reais do Estado e da sociedade, junto a independência familiar e social, para
obter prestações previdenciárias e assistenciais verdadeiramente eficazes.

A integridade física deve ser garantida de todas as maneiras possíveis,


inserindo a conscientização da população a respeito das individualidade do
envelhecimento e a educação/ensino social para o cumprimento dos bons modos para
com os idosos. Para isso, é necessário dedicação na divulgação das medidas e na
aplicação da fiscalização de seu cumprimento.

A Constituição Federal, a Política Nacional do Idoso e o Estatuto do Idoso


posicionam a família como parte essencial da proteção do idoso, sendo o seu dever
ligado à proteção, alimentação, respeito e afeto como preceito de sobrevivência,
sendo substancial para o desenvolvimento da sociedade em geral.

Portanto, para que os direitos do idoso sejam garantidos é preciso que


continuem sendo reivindicados e a desigualdade seja debatida em todos os planos
porque se a sociedade se mobilizar constantemente levará os idosos a uma
esperança e um novo olhar sobre o decurso do envelhecimento dos brasileiros, desse
modo mostrando que envelhecer é um direito de qualquer indivíduo.

A conscientização, principalmente entre os jovens, é extremamente importante


para a tentativa de mudança de conceito relacionado a pessoa idosa para que o
envelhecimento seja visto como algo natural.

Denúncias são fundamentais para despertar as autoridades para que, dessa


forma, faça cumprir-se a lei. Mais que isso, o idoso precisa ter oportunidades dentro
da sociedade para que se torne útil e mostre seus conhecimentos de vida, podendo
viver de maneira íntegra em sua totalidade.

Referências:

ARAÚJO, L. F. de; CARVALHO, V. ÂNGELA M. DE L. e. Aspectos Sócio-


Históricos e Psicológicos da Velhice. Mneme - Revista de Humanidades, v. 6, n.
13, 14 jul. 2010. Disponível em https://periodicos.ufrn.br/mneme/article/view/278 Acesso
em: 12/09/2019.

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 05 de outubro de


1988. Disponível em
https://www.senado.leg.br/atividade/const/con1988/CON1988_05.10.1988/art_230_.asp Acesso
em: 03/09/2019.

______. Lei º 10.741 de 01 de outubro. Estatuto do Idoso. Disponível em


http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/l10.741.htm Acesso em: 04/09/2019.

DEPRESSÃO cresce entre a terceira idade. Disponível em http://g1.globo.com/sc/santa-


catarina/noticia/2017/03/depressao-cresce-entre-3-idade-confira-centros-ocupacionais-em-sc.html
Acesso em: 07/09/2019.

GOMES MACHADO, Analiza Maria; LEAL, Láydna Nandhara Barros. A proteção


integral aos idosos e suas implicações na ocorrência de um dano afetivo.
Revista Científica da Academia Brasileira de Direito Civil, Juiz de Fora, v.2, n. 1,
2018. Disponível em https://abdc.emnuvens.com.br/abdc/article/view/15 Acesso em:
23/09/2019.

MORAES, Alexandre de. Direito constitucional / Alexandre de Moraes. - 30. ed. -


São Paulo: Atlas, 2014. Disponível em
https://www.academia.edu/9607078/ALEXANDRE_MORAES_-_Direito_Constitucional_2014_
Acesso em: 07/10/2019.

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