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Disciplina: Língua Portuguesa e Literatura Brasileira II

Professora Larissa Scherer

Atividade avaliativa 1ª etapa

1) Leias os textos a seguir:

A literatura sempre buscou referências na própria literatura, ou seja, os escritores sempre


retomaram textos clássicos e também contemporâneos para criarem seus textos. A troca entre os
textos é constante e as relações que se estabelecem entre eles recebe o nome de
intertextualidade. É um fenômeno que se manifesta no território das artes em geral e é
extremamente importante no estudo da literatura, possibilitando sempre novas descobertas e
novos horizontes nos estudos da área da literatura comparada.
Retomando o que estudamos sobre intertextualidade, procure assinalar algumas
ocorrências intertextuais entre a “Carta de Achamento” de Pero Vaz de Caminha e as poesias de
Cassiano Ricardo, Murilo Mendes e Oswald de Andrade (poetas do modernismo brasileiro). Após
a leitura, aponte semelhanças e diferenças bem como possíveis efeitos de sentidos decorrentes
da intertextualidade.

TEXTO A

Vários trechos da composição poética de Cassiano Ricardo estabelecem diálogos com a Carta de
Pero Vaz de Caminha. Leia-a com atenção:

Os nomes dados a terra descoberta

Por se tratar de uma ilha deram-lhe o nome


de ilha de Vera-Cruz.
Ilha cheia de graça
Ilha cheia de pássaros
Ilha cheia de luz.

Ilha verde onde havia


mulheres morenas e nuas
anhangás a sonhar com histórias de luas
e cantos bárbaros de pajés em poracés batendo os pés.

Depois mudaram-lhe o nome


pra terra de Santa Cruz.
Terra cheia de graça
Terra cheia de pássaros
Terra cheia de luz.

A grande terra girassol onde havia guerreiros de tanga e


onças ruivas deitadas à sombra das árvores
mosqueadas de sol

Mas como houvesse em abundância,


certa madeira cor de sangue, cor de brasa
e como o fogo da manhã selvagem
fosse um brasido no carvão noturno da paisagem,
e como a Terra fosse de árvores vermelhas
e se houvesse mostrado assaz gentil,
deram-lhe o nome de Brasil.

Brasil cheio de graça Brasil


cheio de pássaros
Brasil cheio de luz.

Fonte: RICARDO, Cassiano. Os nomes dados a terra descoberta.


http://www.jornaldepoesia.jor.br/cricardo.html#osnomes>
Acesso em: 16 nov. 2017.
Imagem disponível em: https://www.academia.org.br/academicos/cassiano-ricardo/biografia. Acesso em 09
jul. 2022.

Vocabulário:

Anhangás: de acordo com o Tupi, são espíritos que protegem os animais contra caçadores e
pescadores. Para os jesuítas são espíritos do mal.

Poracés: dança dos índios.

TEXTO B

Carta de Pero Vaz

A terra é mui graciosa,


Tão fértil eu nunca vi.
A gente vai passear,
No chão espeta um caniço,
No dia seguinte nasce
Bengala de castão de oiro.
Tem goiabas, melancias,
Banana que nem chuchu.
Quanto aos bichos, tem-nos muitos.
De plumagens mui vistosas.
Tem macacos até demais.

Diamantes tem à vontade,


Esmeralda é para os trouxas.
Reforçai, Senhor, a arca.
Cruzados não faltarão,
Vossa perna encanareis,
Salvo o devido respeito.
Ficarei muito saudoso
Se for embora d’aqui.

Fonte: MENDES, Murilo. História do Brasil. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 1991. p. 13.
Imagem disponível em: http://www.elfikurten.com.br/2013/08/murilo-mendes-colecionador-de-tempos-e.html.
Acesso em 09 jul. 2022.

Vocabulário - Castão: remate de metal, ou outra matéria, que se aplica como ornamento no
punho das bengalas.

TEXTO C

No poema "A descoberta", de Oswald de Andrade, podemos perceber, claramente, uma


relação intertextual. Se na Carta, predominava o aspecto informativo, na retomada poética que
Oswald faz dela, surgem novos sentidos. Procure identificá-los a partir da leitura.

A descoberta

Seguimos nosso caminho por este mar de longo


Até a oitava da Páscoa
Topamos aves
E houvemos vista de terra
Os selvagens

Mostraram-lhes uma galinha


Quase haviam medo dela
E não queriam pôr a mão
E depois a tomaram como espantados

Primeiro chá

Depois de dançarem
Diego Dias
Fez o salto real

As meninas da gare

Eram três ou quatro moças bem moças e bem gentis


Com cabelos mui pretos pelas espáduas
E suas vergonhas tão altas e tão saradinhas
Que de nós as muito bem olharmos
Não tínhamos nenhuma vergonha

Oswald de Andrade. Pau-Brasil [1925]

Fonte: Blog Aeroplanos da Birmânica. Disponível em: https://wp.ufpel.edu.br/aulusmm/2017/05/09/pero-vaz-


caminha-oswald-de-andrade/. Acesso em 17 de fev 20.
Imagem disponível em: https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/noticia/2022/02/13/escritor-oswald-de-andrade-
precursor-da-semana-de-22-passou-ultimos-anos-de-vida-em-sitio-em-ribeirao-pires-no-grande-abc.ghtml.
Acesso em 09 jul. 2022.

2) Para compreender a relação de intertextualidade entre a Carta de Achamento do Brasil e o


documentário “Guerras da Conquista”, responda às seguintes perguntas:

1- Como os índios foram descritos na Carta (traga trechos para exemplificar)?


2- Quais as reflexões que o documentário suscita a respeito do impacto da chegada dos
portugueses para as nações originárias?
3- Como podemos relacionar o documentário à carta escrita por Pero Vaz de Caminha?

3) Leia o trecho a seguir, do livro “Amanhã não está à venda”, de Ailton Krenak.

“Parei de andar mundo afora, cancelei compromissos. Estou com a minha família na aldeia
Krenak, no médio rio Doce. Há quase um mês, nossa reserva indígena está isolada. Quem estava
ausente regressou, e sabemos bem qual é o risco de receber pessoas de fora. Sabemos o perigo
de ter contato com pessoas assintomáticas. Estamos todos aqui e até agora não tivemos
nenhuma ocorrência.
A verdade é que vivemos encurralados e refugiados no nosso próprio território há muito tempo,
numa reserva de 4 mil hectares — que deveria ser muito maior se a justiça fosse feita —, e esse
confinamento involuntário nos deu resiliência, nos fez mais resistentes. Como posso explicar a
uma pessoa que está fechada há um mês num apartamento numa grande metrópole o que é o
meu isolamento? Desculpem dizer isso, mas hoje já plantei milho, já plantei uma árvore…
Faz algum tempo que nós na aldeia Krenak já estávamos de luto pelo nosso rio Doce. Não
imaginava que o mundo nos traria esse outro luto. Está todo mundo parado. Quando engenheiros
me disseram que iriam usar a tecnologia para recuperar o rio Doce, perguntaram a minha opinião.
Eu respondi: ‘A minha sugestão é muito difícil de colocar em prática. Pois teríamos de parar todas
as atividades humanas que incidem sobre o corpo do rio, a cem quilômetros nas margens direita e
esquerda, até que ele voltasse a ter vida’.
Então um deles me disse: “Mas isso é impossível’. O mundo não pode parar. E o mundo parou.
Vivemos hoje esta experiência de isolamento social, como está sendo definido o confinamento,
em que todas as pessoas têm de se recolher. Se durante um tempo éramos nós, os povos
indígenas, que estávamos ameaçados da ruptura ou da extinção do sentido da nossa vida, hoje
estamos todos diante da iminência de a Terra não suportar a nossa demanda. Assistimos a uma
tragédia de gente morrendo em diferentes lugares do planeta, a ponto de na Itália os corpos
serem transportados para a incineração em caminhões.
Essa dor talvez ajude as pessoas a responder se somos de fato uma humanidade. Nós nos
acostumamos com essa ideia, que foi naturalizada, mas ninguém mais presta atenção no
verdadeiro sentido do que é ser humano. É como se tivéssemos várias crianças brincando e, por
imaginar essa fantasia da infância, continuassem a brincar por tempo indeterminado. Só que
viramos adultos, estamos devastando o planeta, cavando um fosso gigantesco de desigualdades
entre povos e sociedades. De modo que há uma subhumanidade que vive numa grande miséria,
sem chance de sair dela — e isso também foi naturalizado.”

Trecho disponível em: KRENAK, Ailton. O amanhã não está à venda. São Paulo: Companhia das Letras,
2020. p.1-2.
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Proposta de produção textual – Carta narrativa

Após ter lido e refletido sobre esses textos, escreva uma carta endereçada a um(a)
amigo(a), narrando alguns aspectos sobre a situação atual dos povos indígenas no Brasil,
estabelecendo relações com o que você aprendeu sobre o período da Literatura Informativa (dos
Viajantes) e as leituras realizadas.
Para auxiliar, leia o texto abaixo sobre o gênero Carta narrativa:
“A carta narrativa é um documento formal escrito que relata uma história a um certo
destinatário. O primeiro documento oficial de literatura registrado no Brasil foi a carta de Pero Vaz
de Caminha ao Rei D. Manoel I de Portugal. Nesta carta, Caminha relata os principais
acontecimentos da expedição comandada por Pedro Álvares Cabral às Índias e a chegada da
frota à nova terra, descrevendo o que encontraram e os costumes dos indígenas. É um gênero
textual bem antigo e muito utilizado por todos os povos, com diversas finalidades.

1. Faça o cabeçalho, a saudação e o vocativo.


2. Coloque uma frase ou pergunta que atraia a atenção no parágrafo inicial da carta narrativa.
3. Comece a contar a história no segundo parágrafo da carta narrativa. Mantenha o formato
comum de uma história, como se estivesse escrevendo um livro curto. Faça isso em um ou dois
parágrafos. A história deve ter início, meio e fim muito claros.
4. Encerre a carta narrativa voltando à frase ou à pergunta inicial. Ligue-a à história e ao motivo
pelo qual está escrevendo a carta para o destinatário.
5. Conclua a carta agradecendo pelo tempo do leitor em ler sua história.
Podem se dividir as cartas pessoais nas seguintes partes:
1. Cabeçalho – Na margem superior esquerda escrevem-se tanto o local como a data em que a
carta é redigida.
2. Saudação e vocativo – Coloque na margem do parágrafo e separe por vírgula. Pule uma linha
para o início do texto. Há várias formas de expressar a saudação, em geral utiliza-se:
“Querido/querida”; “Caro/cara”, ou dependendo do grau de intimidade: “Oi, tudo bem?”; até
saudações formais: “Estimado/ estimada”.
3. Corpo do texto- Nessa parte se redige a informação que se quer transmitir. Normalmente, inicia-
se com um parágrafo introdutório sobre o objetivo da carta. Coloque uma frase ou pergunta que
atraia a atenção no parágrafo inicial da carta narrativa.
Comece a contar a história no segundo parágrafo da carta narrativa. Mantenha o formato comum
de uma história, como se estivesse escrevendo um livro curto. Faça isso em um ou dois
parágrafos. A história deve ter início, meio e fim muito claros.”
Disponível em: https://proenem.com.br/enem/redacao/carta-
narrativa/#:~:text=Uma%20carta%20narrativa%20%C3%A9%20um,Manoel%20de%20Portugal. Acesso em:
09 jul. 2022.

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