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Brasília, 31 de agosto de 2020 | ano 2 | número 15

do centro do centro do Brasil


texto | Roberto Piva
bomba atômica
Na última entrevista concedida à grande imprensa nos meados dos anos 50, o filósofo Martin Heidegger,
perguntado sobre o que ele achava da Bomba Atômica, respondeu: "Qual delas? Esta de agora, ou
aquela que explodiu há 2 mil anos?". "Como assim?", perguntaram os jornalistas atônitos. Heidegger
acrescentou: "Pois quando Cristo falou: 'Meu reino não é deste mundo', ele detonou a primeira bomba
Atômica".

De fato, a visão do mundo judaico-cristã, com seu Deus situado fora do Tempo & Espaço imobilizado na
Eternidade, representa a concepção mais antiecológica de que temos notícia. "Meu reino não é deste
mundo" significa que o mundo poderá estar entregue a todo tipo de devastação, quer por bombas,
agrotóxicos, industrialização etc., pois para este ponto de vista o planeta Terra é um lugar de passagem,
um "vale de lágrimas", um lugar de expiação.

Não é sem motivo que os romanos perseguiam os cristãos sob a acusação de que eram ateus, pois não
adoravam os deuses do panteão romano cada um deles representando uma paixão humana ou deusas
agrárias representando a fertilidade & generosidade da Terra, como Ceres & Cibele, sem falar de Baco
(Dionísios para os gregos), deus da uva, do vinho & das bacanais que na Grécia & Roma tinham um
sentido religioso. Com o advento do Cristianismo, ocorreu a dessacralização do mundo, que para os
pagãos era povoado de deuses. "O que for feito à Terra, recairá sobre os filhos da Terra" diz o ditado dos
índios peles-vermelhas, adoradores do peiote, do Sol, da Lua, do coiote & do falcão.

Amnésico & anestesiado pela civilização urbana industrial, robotizado em seus sentimentos, limitado em
sua visão pelos edifícios & muros das cidades, o homem moderno não sente mais alegria cósmica &
pagã de participar de um nascer do sol, de um crepúsculo, do silêncio das ilhas perfumadas, do instinto,
da imensidão dos mares silenciosos, das estrelas. Reprimindo a criança que existe nele, o homem
moderno aniquila os deuses do júbilo em seu coração. Deixa de improvisar sua vida, enquadrando-se na
marcha uniforme da sociedade organizada & vestida.
texto | Victor Cruzeiro
a bordo do eveline

Com a notícia de que uma editora nacional Martins Taíde está sendo comparado (sempre há
finalmente vai publicar A bordo do Eveline, livro uma comparação!) ao misterioso M. Agueev,
único de Martins Taíde, em pleno mês nacional do russo que publicou, em Paris, um único romance
escritor, um grito entalado na literatura brasileira é em 1934. Contudo, Agueev sempre foi russo, e
finalmente solto. A obra narra as desventuras de acreditou-se até ser um pseudônimo de Nabokov.
um certo Felisberto que, não se sabe por qual Ora, nunca houve quem sugerisse que Martins
motivo, encontra-se em Cork, Irlanda, no início do Taíde é um pseudônimo de José de Alencar ou
século XIX, e regressa para o Brasil a bordo de um Raul Pompeia – de quem se aproxima bastante.
barco chamado Eveline, onde trabalha na Não. O livro sequer era conhecido, nem mesmo
cozinha. A maioria da narrativa se passa durante a por estudiosos de literatura brasileira na Irlanda.
viagem, onde acompanhamos um magistral
trabalho de escultura dos tipos psicológicos e É sintomático que para cada louvor a Grande
uma certa análise moral de um tempo que faria os Sertão ou Memórias Póstumas tenhamos que
russos chorarem. enterrar cinco outras obras anônimas, como se
nossa biblioteca fosse pequena demais, com
Fora isso, o livro é parco em descrições, de modo lugares contados, sem espaço para o novo. Como
que é incerto mesmo se Felisberto é negro, se nossa literatura fosse um quadro bonito com
embora seja muito provavelmente mestiço, pelo uma moldura grande demais, que chama mais a
enfrentamento que tem com um tal marinheiro atenção que a própria pintura! Como se fosse só
Purcell, que leva os dois a trocarem socos no uma decoração, um capricho, uma vaidade.
convés. Tampouco se sabe muito sobre Martins Lemos pouco demais... e esquecemos mais
Taíde, ou mesmo porque o livro se passa na ainda. Esquecemos de buscar, lá longe, a nossa
Irlanda. A hipótese que trata-se de um própria imaginação que voa alto. Afinal, se
pseudônimo dificulta muito precisar mesmo se é imaginamos e criamos Ariano, Clarice, Hilda,
um autor ou autora e, ainda que uma corrente Érico, Oswald e Orides, por que diabos não
afirme ser o autor um Vicente Trindade, nascido conseguimos imaginar e criar um mundo inteiro?
em Porto Alegre, em 1800, e que realmente viveu
na Irlanda, não há certeza. Não deixem nossa literatura morrer. É a nossa
única chance de sair daqui.
Mais ainda, o fato do livro se passar na Irlanda fez
com que o livro fosse publicado lá desde 1902, e
somente agora, mais de um século depois, esteja
chegando ao Brasil. Isso é extremamente
sintomático. E triste.

Há uma seara de autores que, como pequenas


ostras perdidas no mar, dão a inacreditáveis
pérolas, que ficariam perdidas no fundo do
oceano, se não viessem à praia durante uma
tempestade. Penso não apenas quantas pérolas
nunca sairão do fundo do mar, das gavetas e das
próprias cabeças, mas quantas vão adornar
pescoços de madames em cafés aristocráticos,
ao invés de ornar um enfeite de cabelo de uma
adolescente que olha tímida para seu amado
embaixo de um jacarandá.

Centro de Invenção @centrodeinvencao


colando os cartazes “Revolta Mateira” no SCS.
Leia o Manifesto Cerratense em centrodeinvencao.com

fotografia | Isabel Gandolfo @kiddotrixx


texto | Gabriel Santos Carvalho

Cairão quando ouvirem o grito do Dragão.

É o Leopardo que se aproxima,


sagaz e insaciável.

Os olhos trêmulos
adiantam o futuro próximo:
são eles incapazes de interromper a força de nossa pulsão.

Golpe de espada, grito de guerra,


não fujo da luta,
meu corpo é forte,
minha reza me firma.

Eles se tremem, sem chão.

Vejo o destino se abrir, se desdobrar –


a verdade, a justiça, o belo,
tudo aflora.

Antes do futuro,
o último sacrifício:

Varrer o mundo com os cantos das lavas ancestrais,


incendiando os olhos medrosos dos inimigos ocidentais,
ratos imundos, corjas coloniais.

arte | Gabriel Luan @gabrieluan

arte | Bruna Santos @abrunalis


texto | Repórter anônima para o @jornaljararaca

brasil, terra de salvadores, messias e enviados, 16 de agosto de 2020

Uma legião de homens e mulheres, denominados Salvadores, tentaram invadir um hospital na tarde deste
domingo, segundo eles, para evitar um grande mal, uma barbárie, um ataque contra a vida. Eles e elas
querem impedir o assassinato deliberado de outro ser vivo, um incapaz que ainda não existe. A homicida
em questão [palavras dos Salvadores], uma criança de dez anos está grávida do próprio tio, que a
estuprava desde que ela tinha seis. Os Salvadores querem impedir a criança de abortar o feto. O feto é
muito importante, veja bem. Se preciso for, eles disseram, eles invadem o hospital, matam os médicos,
raptam a criança e a escondem. Já está tudo planejado, disse uma mulher loira de saia longa que não quis
ser identificada.

Vão prender a criança numa casa suficientemente confortável e garantir que a gestação ocorra até o final.
Vão até realizar o parto sozinhos. Alguns médicos de longa carreira aceitaram a nobre missão. Outros vão
se fantasiar, colocar roupas brancas e máscaras, meio imitando anjos, meio imitando doutores sem
doutorado e por fim todos cantarão seu louvor quando a criança sair do corpo da outra criança. Eles me
disseram que essa vai ser uma história gloriosa para contar aos netos. Muitos ali acreditam na família,
querem muitos netos brancos.

Depois do parto, um pastor, líder do movimento me confessou: vão embrulhar o bebê em um pano rosa
ou azul, a depender do sexo, vestir a outra criança, a menina, com um belo vestidinho rosa claro, um laço
na cabeça, e deixá-los na porta de alguma casa, ou na rua mesmo, afinal, ele me disse, eles não são
responsáveis por nenhuma dessas vidas. “A menina que se vire, quem mandou ser estuprada? Muito
provavelmente seduziu o tio, as mulheres tem essa malícia, sabe, desde Eva desvirtuando pobres homens
a serviço do senhor…”.

arte | Adriana Marto @adrianamarto


texto | Mestre Mioju
capoeira

Dia 3 de agosto foi dia do capoeirista (e da capoeirista Ao longo do século XX a capoeira se organizou em grupos,
também). A capoeira é uma energia viva que se manifesta geralmente com uma liderança centralizada (o mestre). No
nos praticantes. Ela vibra na roda e merece todas as final da década de 1960 alguns aventureiros se jogaram na
homenagens possíveis. Dito isso, e apesar de ter volta do mundo e criaram as primeiras turmas fora do Brasil,
pesquisado, não encontrei o motivo dessa data específica: inicialmente na Europa, principalmente Portugal, Inglaterra
3 de agosto. Não há na tradição oral nenhuma referência a e França, e na sequência, nos Estados Unidos. O caminho
essa data. mostrou-se sem volta.

Coisas da capoeira, arte misteriosa, cheia de mandingas e Regressando ao Brasil de 2020. Pandemia do coronavírus.
segredos. Encantadora. É a libertação do corpo e da mente. Atividades coletivas suspensas devido ao risco de contágio.
A libertação da pessoa dela mesma. Depois de Grupos de capoeira migram para os ambientes virtuais em
absolutamente perseguida enquanto uma manifestação aplicativos que possibilitam reuniões digitais e tentam se
escrava por pelo menos 200 anos, e criminalizada após a manter em atividade. Em atividade. Mas, sem roda, há
abolição, se tornou patrimônio cultural da humanidade. capoeira? O que sairá dessa fase atual de encontros digitais
Hoje, é a maior difusora da língua portuguesa, e da cultura de capoeira? Impossível responder a essa pergunta, mas eu
brasileira pelo mundo afora. Centros de capoeira ponderaria sobre o que não existe no ambiente virtual.
espalhados pelo mundo são consulados do Brasil Releia o terceiro parágrafo desse texto modesto e rude. A
verdadeiro. Com suas contradições, defeitos e virtudes. falta de elementos fundamentais rompe com a continuidade
da corrente ancestral sobre a qual citei há pouco. Os grupos
Tradição oral, transmitida de geração em geração. Já foi provavelmente sobreviverão após a pandemia, afinal,
dito que a capoeira é passada pelo hálito do Mestre, onde observo esforços absolutos no sentido de manter a
os princípios são revelados aos poucos, os fundamentos articulação entre membros. Há alguns grupos que já estão
são firmados ao longo do tempo de convívio com o mais se arriscando a voltar a treinar de forma presencial em meio
velho. O Mestre de capoeira ensina pegando pela mão. A ao pior momento da pandemia no DF. Compreendo as
presença do afeto e da empatia são características do motivações, uma vez que as limitações dos ambientes
processo de ensino-aprendizagem. A capoeira é uma arte virtuais não permitem que a capoeira seja, de fato,
artesanal. Há grandes grupos que congregam milhares de vivenciada. Mas vale o risco? Acho que não.
praticantes, e há grupos que não somam duas dezenas de
afiliados. A capoeira encontra-se na roda. A rua é seu palco Sei que o mundo dá volta. E é na volta do mundo que eu
principal. Seu berço e sua maternidade. É na roda de rua vou. A pandemia vai abrandar. A capoeira vai sobreviver.
que encantam-se aqueles que serão os continuadores Devagar também é pressa.
dessa corrente ancestral a partir da observação da
vadiação e da vibração.

Capoeira no Setor Comercial Sul

fotografias | Isabel Gandolfo @kiddotrixx


nana bittencourt: Bote é uma coluna nova do Jararaca.
A ideia é colocar pessoas de Regiões Administrativas
diferentes e de linguagens diferentes para se conhecer,
conhecer os trabalhos do um do outro, trocar
experiências, refletir sobre a cena local, dialogar sobre
as formas como cada um viabiliza as coisas aqui e tal.
Queremos noticiar e exaltar as coisas feitas aqui no DF,
bem como promover trocas e fortalecer um sentimento
de cena, de coletividade, para que a gente lute, se
organize e se reconheça enquanto grupo. Partindo
dessa ideia inauguramos a coluna convidando vocês,
Bel e Murica, que apesar de não se conhecerem e
serem de áreas diferentes, tem alguns pontos em
comum: curtem muito RAP, tem influências parecidas e
estão botando o trabalho pra frente usando o que tem
nas mãos. “Viver do que sonhamos fazendo com o que
temos”. E é isso.

murica: É isso, né? Murica Sujão, é um prazer, Bel! Eu


da minha perspectiva do rap nacional e amante nas
horas vagas da fotografia, te pergunto: porque a
fotografia pra você se expressar? Porque a foto? O que
é a fotografia pra você, por qual motivo você a
escolheu?

bel gandolfo: Talvez seja porque sempre foi o que


sempre esteve mais perto de mim. As câmeras
analógicas que eu tenho eu herdei, então acho que é
uma coisa meio familiar. Mas também acho que foi
minha forma de estar perto de uma parada que eu gosto
e admiro. Se for colocar numa perspectiva maior, acaba
sendo sempre o RAP. E o palco, que é o que eu mais
gosto de fazer. Palco de artista que eu gosto. Acho que
acaba sendo uma troca mais sólida quando tenho afeto
por quem estou fotografando. Ter acesso a uma pessoa
e conseguir registrar ela. Porque "tirar foto é fácil",
quero ver quem retrata os outros, né?

m: No processo criativo dos álbuns, tanto do "Fome"


quanto do "Sede", eu escolhi o retrato justamente por
isso. Porque é muito fácil tirar uma foto. Mas você
retratar o conceito de cada álbum na fotografia... Criar
isso junto com meus amigos que são fotógrafos, pensar
na cor, nos elementos e eles virem com a perspectiva
deles, foi enriquecedor pra caramba. Trouxe da minha
parte - que é fazer RAP -, das palavras, pro imagético.
Pra mim, a relação é essa. É do caralho ter um amigo
fotógrafo no palco. Muda o clima do show, tá ligado?
b: E você escolheu a palavra porque? Dessas possibilidades
de se representar simbolicamente, porque você escolheu a
palavra, e dentro da palavra, o RAP?

m: Eu sinto como uma missão. É meio até épico assim, brega


demais, mas eu sinto realmente como uma missão grandiosa
que foi me dada, e não pergunto porque. Mas falo. Eu sinto a
necessidade de falar e não sei muito porque… Eu imagino
como o primeiro homem no meio do mato que sentiu fome.
Como ele foi interpretar esse sentido visceral? No meio do
mato, foi descobrir que tinha que caçar e tal… É igual a
palavra, né? Pra mim foi uma loucura que veio e saiu na palavra
de algum jeito, e é isso que eu prezo. Ainda que eu faça
música, que no caso do RAP é Ritmo e Poesia, a Poesia, na
minha opinião, é 90% do que tenho a dizer. Eu escolhi a
palavra porque eu tenho algo a dizer, sacou? Não tenho algo a
dizer porque eu escolhi a palavra, mas o “tenho algo a dizer”
vem primeiro, antes de eu pensar em escolher a palavra eu
tenho algo a dizer. Aí você diz na foto e eu na palavra.

m: Você acha importante analógico por revisitar essa


perspectiva do passado, esse filtro… Como eu posso dizer…
Essa película do passado? Por que fazer fotos analógicas? Por
ter esse sentimento de nostalgia do passado?

b: Eu acho que é muito pessoal… Mas pessoalmente, foi


querer estar em contato com todas as etapas do que eu to
fazendo. De passar pro corpo, de passar pra uma coisa física.
Chacoalhar o tanque pra sair a foto, trocar um químico pelo
outro, sentir pela minha mão se a temperatura tá certa… É uma
coisa física pra caramba e me encantou muito quando eu
percebi que eu tinha que estar presente. Eu não posso estar
em nenhum outro lugar quando to revelando foto. Eu tenho que
estar no agora, eu tenho que ser o agora, real. Porque qualquer
coisa que eu faça errado, eu perco o filme inteiro. Então me
botou no presente num ponto que foi diferente pra mim.

m: Eu sou desses bregas do analógico. Muita gente faz música


hoje em dia digitando mensagem de texto no celular né, vei…
Eu ainda prefiro a forma analógica, o papel na caneta.
Escrever, pra mim, é um ato místico e tem que ser analógico,
solitário e visceral. Por isso analógico, para tornar visceral, pra
não estar fazendo outra coisa além do que você se dispôs a
fazer no momento.

b: Eu sempre fotografei, mas não profissionalmente. Sou


psicóloga não praticante, ex-psicanalista não praticante. É
parte do meu pano de fundo. Eu não tiro nenhuma foto sendo
a Isabel-só-fotógrafa. Tudo que eu aprendi sobre inconsciente,
sobre a palavra e pipipi, tudo isso se imprime na fotografia.
Mas enfim, outra parada sobre analógico é que você não tem o
feedback imediato e tem tipo 36 poses... Você tem que fazer
certo, sacou? Se não fizer certo, perde a foto… E não pode
tirar um milhão também. Então é aquela parada: a presença
quando você tá fazendo, a presença quando você tá
revelando. É difícil estar no presente, né? Ainda mais agora…
Agora tudo que a gente quer é estar lá atrás ou lá na frente...
b: Fome é a vontade de querer ganhar seu espaço com seu
bando e a vontade de rodar o mundo fazendo som… E a
sede é o que?

m: A Sede é o segundo ato da Fome. É o “tudo bem, agora


eu consegui ganhar meu espaço, agora eu to com meu
bando, mas agora a gente quer comer e beber, agora a
gente quer vestir, agora gente quer ser feliz, agora a gente
quer não se preocupar em fazer a compra do mês e não
faltar nada". Abundância, né… Abundância acho que é a
palavra que mais traduz "sede" no que eu quis dizer. Na
abundância de coisas melhores. Por que não? Na esfera
econômica, na esfera espiritual, na esfera mental…
Abundância em todos os aspectos da vida.

b: A fartura alegra o sofredor, né?

m: É… Quem vive de música no Brasil e faz arte


independente, sabe a luta que é fazer um álbum, um
trabalho completo. A gente vive uma luta muito grande para
realizar música e quando a glória vem, ela é muito digna. A
gente faz questão - principalmente no rap - de que todos
vejam, para que a molecada veja na gente um caminho de
vencer, de fazer arte, de ganhar o seu espaço.

b: Você acha que aqui em BSB é mais difícil isso? Tem


alguma parte do álbum que você fala que aqui é seco e isso
me remeteu muito à secura não num sentido de escassez
de cultura aqui, mas de que ela não é exaltada da forma
certa. Como você vê sua relação com BSB, com o entorno?

m: Eu nasci em Brazlândia, uma cidade do DF, não em


Brasília… Eu não frequentei Brasília, não a vivi na minha
infância, eu vivi o DF,. Morei na Samambaia, morei em
Brazlândia… Eu cresci na periferia, moto passando o tempo
inteiro… Quando eu entrei na universidade tive contato
com essa Brasília moderna, com prédios bonitos da Asa
Sul, árvores… Isso me impactou muito… "Caraca, essa
cidade existe"… Nem parece que era aqui, nem parece que
era acessível. Porque é programado pra periferia viver um
sistema de trabalho-e-volta-pra-casa, né? Quando eu fui
morar em Brasília, aprendi a quebrar vários preconceitos da
minha perspectiva periférica, de pessoas da classe média…
Porque no final das contas pessoas são pessoas, né? Todo
mundo tem alguma coisa a dizer, eu acredito. Todo mundo
tem seu valor, tem seu espaço. Hoje, voltando pra Ceilândia
- onde a gente fez "Sede", onde a gente fez "Rataria
Popular Brasileira" -, eu percebo o valor das duas vivências,
dos dois locais. Mas meu amor pela periferia é maior que
eu, porque é minha origem, é onde eu nasci. Aí eu vou ter
que concordar com Max Maciel que diz que a periferia é o
centro. É a gente que move muita coisa em Brasília. São
nossas mães, nossos pais. Mas é muito inspirador. Brasília
pra mim é do caralho, uma cidade bonita pra caramba,
arquitetura linda pra caramba. Mas a secura, quando eu falo
em sede, também quer dizer a secura das pessoas. Percebi
essa diferença. Na periferia as pessoas davam bom dia o
tempo inteiro, sempre estão dispostos a conversar e em
Brasília as pessoas não te olham. Todo mundo na sua
bolha, todo mundo muito seco, né, véi. Mas eu amo os dois
lugares. Acho que depende muito da gente, de como a
gente ocupa o espaço. É isso que interessa.
m: Mas falando de rap, o que você gosta? Rap nacional, top m: Quem você fotografou que você admirava, do rap?
5 fundamental?
b: Black Alien… A gente acabou virando amigo, eu acho.
b: Caralho, muito difícil botar um top 5… Acho que Black Contar da vida, filosofar, perguntar das músicas… Ele é
Alien… Racionais… Puts, é difícil excluir os outros… uma pessoa que eu gosto muito de fotografar porque eu
Síntese… Acho o Neto um grande poeta… Sabotagem e fotografo com muito carinho… Acho que esse é o
Criolo… Acho que são os meus cinco… E os seus? segredo… A foto é um autorretrato, eu acho… O Gustavo é
um recorte com carinho do que eu to vendo dele.
m: Muitos em comum… Racionais… O Emicida.. O que ele
fez foi além do RAP no Brasil. É muita aula de m: O seu olhar da vida diz muito mais sobre você às vezes
empreendedorismo periférico, e várias outras coisas… O do que sobre quem ta sendo fotografado...
Racionais, o Emicida, o Marechal…
b: É a mesma coisa com a fala. Quando João fala de Maria,
b: Porra, o Marechal é outro brabo também. Tinha que ter sabe-se mais de João do que da Maria… Aí enfim, teve o
uma lista de 10 para contemplar os que eu realmente Gustavo que eu vou atrás de fazer show dele, mando
gosto... mensagem pra produtora (Marina, maravilhosa, que
também produz o Don L) e consigo colar. Marechal, que
m: O Síntese é uma história muito bonita, porque eu ouvi ele autorizou uma foto pra gente vender pelo No Setor… O D2
muito novo e me emocionei. Vi uma verdade. Aquela parada eu fotografei esse ano fazendo backstage do Flamengo
religiosa quase… Mostrou uma sensibilidade que eu tinha e com Adidas… Não consegui fotografar Racionais porque
não sabia que tinha. Me vi contemplado. Aprendi muito com minha câmera pifou no dia. Foi palha demais. Fotografei
o Síntese e fui fazendo rap… O hip hop é foda por causa show do Criolo, o Emicida na audição do "Amarelo". Mas
dos encontros. Pude encontrar o Neto, pude conhecer ele. chego com a câmera e fotografo, não costuma ser
Já trombamos algumas vezes, sempre foi um carinho muito combinado… Aí Filipe Ret, BK, Luccas Carlos… o Jonas do
grande. Ele viu que a verdade é a mesma com que a gente Pirâmide Perdido… Cabelinho… Grande Cabelinho… O
faz música, a identificação foi instantânea… Pra mim eu cara é brabo… E tem uns que eu quero muito fazer ainda…
tenho como um professor mesmo, um mestre. A gente pôde Hot e Oreia quero muito fazer… Djonga… O Neto também
fazer um show lá em São Paulo e ele colou, fez um show nunca fiz, quero muito fazer… Pra quem você gostaria de
com o Nego Max e foi mágico. Poder estar perto de quem a abrir um show hoje? Neto de novo?
gente tanto aprendeu…
m: Hmmmm… Pro Síntese… Seria uma honra né vei,
b: Acho que minha parada da fotografia vai um pouco por pretendo… Pra Flora Mattos… Embaçada pra caralho, uma
aí, porque são as pessoas que eu mais admiro e quero estar das mulheres que eu mais escuto, braba… Ainda mais por
perto delas de alguma forma. Unir, criar uma ponte com o ser de Brasilia… Foda. Acho que é isso.
Marechal por exemplo, com o Gustavo, com o Neto… Que
no fim das contas são pessoas acessíveis…
b: Você falou ainda mais por ser de Brasília… Por quê? n: Vocês tavam falando do centro e da periferia e tal. O Setor
Qual a importância disso? Comercial ta no centro mas não é do centro porque é
constituído basicamente de pessoas de outras regiões. Boa
m: Por essa representatividade… Um Barril de Rap… O parte das pessoas que trabalham lá levam em média 45
que o Froid, Yank e o Sampa fizeram nessa época foi um minutos para se deslocar de casa até lá, o que significa que
boom. Eu posso dizer porque, pro meu ciclo de amizade, moram fora do Plano. Ao mesmo tempo, é uma das maiores
pra gente que tava frequentando as batalhas, foi surreal. convergências de gente de lugares diferentes da cidade.
Foi uma inspiração. Os caras daqui conseguiram realizar Como é que vocês enxergam isso? É o centro por uma
um álbum, conseguiram ganhar uma visibilidade, questão geográfica, mas principalmente por uma questão
conseguiram fazer um RAP… Deu pra chegar em várias logística da cidade. E está se tornando um centro cultural,
pessoas. Olha como isso é possível… E aí essa inspiração digamos assim … Quem ocupa a cidade é quem faz a
ocorre natural, de plantar a semente no coração de várias cidade, né? Vocês se sentem parte disso? Esse lugar dialoga
outras pessoas sonhadoras que tão na mesma sintonia. culturalmente de fato com a cidade?

b: Porque você acha que aqui é mais difícil emplacar isso? m: Porra, foda total. Eu acho que tem vários lugares assim,
tipo o Setor. É uma iniciativa muito bonita. O Setor, a própria
m: Porque a cidade é nova né, vei… O rap aqui na Nova Íris - um lugar que eu morei na asa norte - são pólos de
Ceilândia inclusive é uma história foda… O japão do viela, resistência emocional. O jeito que as pessoas se relacionam
o DJ Jamaica e tal… Tem uma história muito foda. Mas emocionalmente nesse lugar é mais orgânico, mais sincero.
ainda assim, em São Paulo o rap era feito há muito mais Por estarem lidando com arte, por estarem lidando com
tempo em vários outros lugares. Eu sinto que Brasília ainda sensibilidade. Acho que sempre resistem esses navios
é uma página em branco, a gente é a terceira ou quarta piratas assim… O setor, Nova Íris, o Mercado Sul que tem em
geração de Brasilia, então tá ai pra ser escrita. É uma tela Taguatinga, o Galpão Complexo Criativo lá em Goiânia...
em branco, a gente tá começando a escrever a história. Eu Essas iniciativas são reflexos de resistência, dialoga pra
vejo como uma dificuldade mas ao mesmo tempo como caramba e tem que existir. Ocupar locais -
uma oportunidade de escrever a história nova, que ainda principalmente abandonados - e fazer de forma diferente já é
nao rolou. Tem muito espaço pra fazer o novo. O espaço é uma resistência, ainda mais promovendo arte, ainda mais
amplo. Né não? promovendo jornal, entrevista, palavra, foto, encontro...

b: Eu tava morando no Rio, voltei pra cá por causa da b: Eu acho que O Setor é uma possibilidade de florescer uma
pandemia e acho que vou ficar. Lá tem um hype que existe, parada orgânica de dentro pra fora. Brasília não tem tantos
coisas que eu não teria feito se não fosse por ser lá… Mas espaços em que isso é possível. Tanto com a lei do silêncio,
então por que não fazer as paradas aqui? Trazer pra cá? tanto com precisar de alvará, autorizações…
Valorizar a cena local para que a cena local seja valorizada Burocracias que acabam impedindo a cultura popular, o
por outras cenas… feirante, camelô, enfim. O setor permite que aconteça,
permite trocas orgânicas, permite que a cidade seja vivida de
m: A melhor forma de valorizar a cena local é fazendo o seu uma outra forma. Tem um pensamento um pouco mais…
melhor na sua cena local. É o mais efetivo. Por que nao
tem arte de qualidade em Brasília? Porque ninguém faz. Se m: … Efetivo, né? De ocupar de verdade, né?
você fizer arte de qualidade em Brasília, Brasília começa a
se tornar um lugar de arte de qualidade… Então eu acho b: Sim… Tem um quê de cuidar do espaço como se o
que o melhor remédio é fazer bem feito, né? público fosse de todos, e não de ninguém.

b: ao invés de reclamar, né?


n: Vocês se sentem parte?

m: Total. Só de saber que existe assim. só de


saber que é a mesma geração que a minha eu
me sinto parte.

b: Com certeza. É como se tivesse um lugar que


representa o que eu idealizo para uma cidade em
vários níveis… Pelo menos na utopia.

m: Onde é possível a utopia, né, vei. O setor é


um desses lugares, com certeza. Aqui em casa é
um desses lugares. Eu sou muito grato por viver
nesses lugares em que a gente pode ter o tempo
que for e todos os espaços pra fazer o que a
gente quer fazer, o que a gente quer materializar,
que é arte, né? Os álbuns, as músicas, as fotos.
Porra, é do caralho. Manter, enquanto tiver.
Aquela coisa que eu falei de plantar a semente:
enquanto a gente tiver inspirando pessoas a
construírem esses outros navios piratas, daqui a
uns dias todo mundo vira pirata e todo mundo
começa a se entender melhor…

b: De dentro pra fora né?

m: De dentro pra fora… Num processo bonito


quando se tem um espaço disponível... Porque
nao é facil ter uma estrutura mínima pra fazer
arte… Fazer arte é coisa de kamikazi, né, véi?
Independente, então, suicida.. Mas a gente vai…

b: Ainda bem, né?


Vídeo da entrevista disponível a n: Vocês, como artistas atuando aqui, mas também tendo
partir do dia 15/09/2020 no IGTV tido atuações em outros lugares e descobrindo como são
do @jornaljararaca outros contextos: O que falta pro DF ser um lugar de onde
não precisamos sair para “dar certo”?

m: Eu penso em sair, conquistar e voltar. Porque assim, me


parece que aqui é possível uma calma que em alguns
outros lugares não é possível. Por exemplo, São Paulo, Rio
de Janeiro, são lugares em que o fluxo industrial
(principalmente pro meu ramo), o ritmo de festa, de show,
de coisas que movimentam o rap, é muito maior. Mas é um
fluxo muito constante, umas coisas que não dá pra respirar.
Em Brasília eu sinto que chega uma hora que tudo fica
calmo. É possível respirar. Por exemplo, a capital não tá tão
longe daqui. Eu tô aqui na periferia, mas pego um ônibus
que, por mais que seja uns 40 minutos, não é igual a São
Paulo que eu tenho que atravessar quase que um estado.
Acho a intenção de quando construíram Brasília muito
bonita. O Lúcio Costa, Niemeyer, foram inspirados em
ideais muito bonitos. Só essa tentativa já me emociona. A
tentativa de criar um lugar onde seja possível a utopia já me
emociona. Pretendo migrar por vários lugares do país e
conhecer o mundo, mas com certeza vou voltar pra cá. Eu
gosto muito daqui. Gosto da Chapada que é bem ali...

b: Eu não quero ficar, acho ficar muito pequeno. Quero ir,


aprender, voltar, ver o que dá pra aplicar, o que dá pra
aprender pra transformar esse lugar num lugar melhor pra
geral... Acesso à cultura, acesso a dignidade… Eu não
quero ficar em lugar nenhum. Só vou ficar quando eu
morrer. Quero pipocar por aí, voltar, fazer um milhão de
coisas aqui. Minha casa.

m: Signo?

b: Eita, será que é o mesmo? Chuta.

m: Não sei… Peixes?

b: Não vei… Sagitário… O seu é Peixes?

m: Eu sou Câncer com ascendente em Peixes.

b: Água, água, água, água...

m: Câncer com ascendente em Peixes e a Lua em


Escorpião.

b: É só água na real... É.... Você é um cara sensível, né?

coluna Isabel Gandolfo e Nana Bittencourt


@jornaljararaca

convidados Isabel Gandolfo @kiddotrixx


Murica Sujão @murica_sujao

fotos analógicas Isabel Gandolfo @kiddotrixx

vídeo João Santiago @joaovsanti


Nana Bittencourt @nanabttncrt

agradecimentos MK @beatdomk
Gustavo Peres @prsoperes

locação Morro do Galo, Ceilândia (DF)


| Ian Viana @jornaljararaca

Pisar em todas as encruzilhadas, escutar a cantiga das


crianças que brincam no haiti, amar de todas as
formas, pelos terreiros todos, segurando tuas mãos
distantes em idade, distantes em distância, distantes
em medo, mas seguindo.

Seguindo como quem alcança o cume, como quem


dorme e sonha n'uma canga estendida na frente do
mar, como quem lutará sempre pelo Encanto, pagando
o preço que for.

Tendo medo de estar louco. Querendo a flauta de


Krishna, o olhar das horas vagas, os fogos da China, os
tambores de Salvador, as brigas do subúrbio, as
torcidas organizadas, as inseguranças dos ditadores,
os sonhos que não se contam, os orgasmos que criam
vida própria e caminham por aí, balançando a Ordem
dos Dias.

texto | João Farias @revistaatoa


para yasmin
Eu sou uma força do Passado, digo pensando em Pasolini
enquanto te apresento o quarto cheio de delícias
me alimento de Antínoo & Adriano
Eu sinto todas as paixões vibrarem em mim
vai, anjinho, rasga com fogo todos os caminhos do meu coração
quando você chega purpurinas explodem do céu
como um OVNIS em azul florescente dando oi pra uma criança
eu vou catando lantejoulas mágicas que ornam teu corpo magro
morri em vida centenas de vezes, só agora conheci meu pós-vida
o meu Paraíso, o meu Céu, o meu jardim do Éden, a minha beleza de Cobra-coral, a
minha fruta doce, o meu melhor pecado, o meu Carnaval...
eu toquei a fleur du Mal com meus dedos tortos
eis aqui o meu espírito em vida
me encantei & me iludi como um pirata naufragando seu amor por uma sereia
ousei ir até a taberna mais escura
atrás do desejo mais cabeludo
o meu coração aberto, pálido e velho estava sufocado
como a alma de Dorian Gray presa naquele quadro decadente
mas aquele seu suspiro divino transpassando a minha pele parda
como Deus na criação
introduziu uma semente em minha boca de adolescente
me colocou em vida & me trouxe pro fogo do êxtase da paixão avalanche
Não concebo uma obra de arte dissociada da vida
até os mais distraídos sabem
e eu vi navios flutuando no meio das estrelas
enquanto os planetas se alinhavam com o meu coração
na órbita estelar do céu de sua boca
rogo que do hoje para a eternidade as nossas almas possam se cruzar sempre
desemprego geral (46)

falta de oportunidades
por ser ex-detento (12)

problemas familiares (27)


nasceu na rua ou
está há muito tempo
na rua (4)
falta de acesso ao auxílio (1)

desemprego por doença,


deficiência ou incapacidade doença (1)
física (4) pandemia
coronavírus (2)
tratamento (1)

vulnerabilidade (14)
principais
motivos para
a situação de rua
do SCS
FONTE: Sistema de Informações dos Moradores (SIM) do No Setor
maio a agosto / 2020 perdeu a casa (1)
* alguns moradores relataram mais de um motivo

problema com drogas


ou bebida (22) tráfico (1)
perdeu a família (2)

foi roubado (1)

Esses são os principais motivos pra situação de rua dos


moradores do Setor Comercial Sul. Essas informações Ajude o No Setor a retirar, cada vez mais, as
quebram vários esteriótipos, principalmente (o mais pessoas da situação de rua.
errado) de que os irmãos estão na rua por vontade própria.
Qualquer doação é válida:
A falta de oportunidades de emprego, problemas Instituto Social e Cultural No Setor
familiares e problemas com álcool/droga são os motivos CNPJ: 36.139.498/0001-15
mais citados, mas várias pessoas citaram mais de um Banco Sicoob - 756
motivo pra essa situação. Isso mostra, também, que um Ag.: 4221
motivo pode estar ligado a outro numa espécie de cadeia Cc.: 9674-1
de acontecimentos.
No site nosetor.com.br existem outros formatos
É por isso que é tão importante defender as instituições de de doação além da transferência direta.
apoio aos moradores em situação de rua. Os problemas
podem ser individuais, mas a falta de solução é estrutural. @nosetor
dia nacional do folclore

A substância da obra de Câmara Cascudo é a espinha


"Queria saber a história de todas as cousas do
dorsal do Brasil. Seus escritos reúnem aquilo que
campo e da cidade. Convivência dos humildes,
sustenta a narrativa das semelhanças, das crenças,
sábios, analfabetos, sabedores dos segredos
dos causos, de um país ordenado pela palavra
do Mar das Estrelas, dos morros silenciosos.
encantada, corpórea e viva. Seu empenho em mapear
Assombrações. Mistérios. Jamais abandonei o
a oralidade brasileira finca uma trincheira em nosso
caminho que leva ao encantamento do
tempo que, como diz Ian, é uma máquina de moer
passado. Pesquisas. Indagações. Confidências
sacis. Cascudo é leitura incontornável na disputa pelo
que hoje não têm preço."
Brasil que fomentamos, é o meio do caminho, o
caminho e o meio; onde os horizontes da pindorama
confluem. Nossos ouvidos modernos calcificam o
folclore, pintam seus corpos de ficção azul-piscina,
enquanto suas filigranas de matéria orgânica tecem a
realidade em fascinação.

Viva a obra de Câmara Cascudo e viva o folclore brasileiro!

fonte dos amores


Onde se estende o Passeio Público, do Rio de Dom Luiz, bem contra a sua vontade, enterneceu-se.
Janeiro, refletiam-se ao sol as águas estagnadas da Jurou mentalmente, que faria melhor serviço a Deus,
lagoa do Boqueirão, terrenos do Campo da Ajuda, com protegendo um casalzinho jovem, que conquistando uma
orla de lama e orquestra de sapos. mocinha pobre. Sem fazer rumor, sempre com Mestre
Para o alto, na direção do morro de Santa Tereza, Valentim, recuou, ganhou o piso sinuoso da estrada,
erguia-se uma casinha romântica, ao lado de uma montou a cavalo e voltou para o Paço, sonhando as
palmeira ornamental. Morava aí a linda Suzana, a moça compensações que Vicente Peres merecia.
mais bonita e mais pobre dos arredores, com sua velha No outro dia mandou-o chamar. Nomeou-o
avó. secretário de Frei Veloso, que estava classificando o
Suzana era noiva de Vicente Peres, auxiliar de material brasileiro da “Flora Fluminense”, e mais uma cargo
botânica de Frei Conceição Veloso, apaixonado e na Alfândega; quando terminasse a tarefa.
ciumento. E, meses depois, acompanhou Suzana e Vicente ao
Dom Luiz de Vasconcellos e Souza, décimo- altar, na manhã do casamento, como padrinho e protetor.
segundo Vice-rei do Brasil, governava. A lagoa do Boqueirão foi vencida pelos trabalhos que
Vez, por outra, passeando, o futuro Conde de Mestre Valentim chefiava, sob a palavra animadora do
Figueiró encontrava Suzana, parando para admirá-la. E Vice-rei. Sobre o terreno consolidado plantou-se um horto,
acabou desejando por sua a menina carioca, descuidada e dezenas de árvores cobriram de sombra agasalhadoras o
e simples, moradora na solidão da lagoa sinistra. que dantes era lodo e cisco. Nascera, por mais de cem
Cheio de planos de reforma, Dom Luiz fazia-se anos, o mais popular e querido dos logradouros do Rio de
acompanhar pelo seu executor fiel nas construções e Janeiro.
sonhos, Valentim da Fonseca e Silva, Mestre Valentim, Mestre Valentim, sob comando, concebeu e realizou
mestiço, fusco e genial, cujos modelados orgulham a uma fonte monumento, a FONTE DOS AMORES, nome de
torêutica brasileira. mistério que a lembrança de Suzana presidia e explicava.
O Vice-rei e Mestre Valentim, ocultos numa touceira Acostada ao muro do lado do mar, via-se uma
de bambus, espreitavam Suzana, surpreendendo-a em cascata. No cimo, alta e esguia, subia uma palmeira de
idílio com o enamorado Vicente Peres. bronze, representando aquela que cobrira a choupana
O noivo soubera dos encontros com Dom Luiz, e desaparecida. Entre as pedras, irregulares e artísticas,
lamentava a traição ingrata da futura esposa. A menina pisavam três garças de bronze, leves, airosas, ignorantes
defendia-se, defendendo o Vice-rei, tão longe e tão do perigo oculto, materializado em dois grandes jacarés,
próximo. de caudas entrelaçadas, fauces abertas, de onde caía, em
- Não deve acusar nem desconfiar de mim. Dom continuidade sonora, as águas límpidas.
Luiz é um coração de ouro, pai dos pobres, justiceiro e As garças eram Suzana, Vicente e a avozinha. Os
valente. Nunca oprimiu nem perseguiu ninguém. Deus o dois jacarés personalizavam o próprio Vice-rei e seu
protege porque ele é forte e generoso. Em vez de você companheiro, o modelador do fontenário, inaugurado em
pensar que ele está contra a nossa felicidade, deve, bem 1783.
antes, procurá-lo e pedir-lhe a proteção. Estou O tempo derrubou a palmeira de bronze, lembrança
convencida de que tudo ficará melhor para nós. Tenha da tranquilidade primitiva e bucólica. As três garças,
confiança nele como eu tenho... memória das vidas doces e confiadas, desapareceram.
Quem for visitar o Passeio Público, e olhar a “Fonte
dos Amores”, verá que somente os dois jacarés, símbolo
da cobiça astuciosa, resistiram e estão vivendo,
texto | Câmara Cascudo mandíbulas abertas, através dos séculos
texto | Fred Zero Quatro (1992)
manifesto do mangue - carangueijos com cérebro
mangue - o conceito manguetown - a cidade mangue - a cena
estuário. parte terminal de um rio ou A larga planície costeira onde a cidade Emergência! Um choque, rápido, ou o
lagoa. porção de rio com água salobra. do Recife foi fundada, é cortada pelos Recife morre, de infarto. Não é preciso
em suas margens se encontram os estuários de seis rios. Após a expulsão ser médico pra saber que a maneira
manguezais, comunidades de plantas dos holandeses, no século XVII, a (ex) mais simples de parar o coração de um
tropicais ou subtropicais inundadas cidade “maurícia” passou a crescer sujeito é obstruir suas veias. O modo
pelos movimentos das marés. pela desordenadamente a custa do mais rápido, também, de infartar e
troca de matéria orgânica entre a água aterramento indiscriminado e da esvaziar a alma de uma cidade como
doce e a água salgada, os mangues destruição dos seus manguezais, que Recife é matar os seus Rios e aterrar
estão entre os ecossistemas mais estão em via de extinção. os seus Estuários. O que fazer então
produtivos do mundo, apesar de Em contrapartida, o desvario para não afundar na depressão crônica
serem sempre associados a sujeira e irresistível de uma cínica noção de que paralisa os cidadãos? Há como
podridão. “progresso”, que elevou a cidade ao devolver o ânimo / deslobotomizar /
estima-se que duas mil espécies de posto de “metrópole” do Nordeste, recarregar as baterias da cidade?
microorganismos e animais não tardou a revelar a sua fragilidade. Simples, basta injetar um pouco de
vertebrados e invertebrados estejam Bastaram pequenas mudanças nos energia na lama e estimular o que
associados às 60 plantas de mangue. “ventos” da História para que os ainda resta de fertilidade nas veias do
os estuários fornecem áreas de desova primeiros sinais de “esclerose” Recife.
e criação para 2/3 de produção anual econômica se manifestassem, no Em meados de 91 começou a ser
de pescado do mundo inteiro. pelo início dos anos 60. Nos últimos 30 gerado / articulado em vários pontos
menos 80 espécies comercialmente anos a síndrome da estagnação, aliada da cidade um organismo / núcleo de
importantes dependem dos alagadiços à permanência do mito / estigma da pesquisa e produção de ideias pop. O
costeiros. “metrópole”, só têm levado ao objetivo é engendrar um “circuito
não é por acaso que os mangues são agravamento acelerado do quadro de energético” capaz de conectar
considerados um elo básico da cadeia miséria e caos urbano. alegoricamente as boas vibrações dos
alimentar marinha. apesar das O Recife detém hoje o maior índice de mangues com a rede mundial de
muriçocas, mosquitos e mutucas, desemprego do país. Mais da metade circulação de conceitos pop. Imagem
inimigos das donas de casa, para os dos seus habitantes moram em favelas símbolo: uma antena parabólica
cientistas os mangues são tidos como e alagados. E segundo um instituto de enfiada na lama. Ou um caranguejo
símbolos de fertilidade, diversidade e estudos populacionais de Washington, remixando “ANTHENA” do kraftwerk,
riqueza. é hoje a quarta pior cidade do mundo no computador.
para se viver.

Os mangueboys e manguegirls são indivíduos interessados


em: Teoria do Caos, World Music, Legislação sobre meios
de comunicação, Conflitos Étnicos, Hip Hop, Acaso, Bezerra
da Silva, Realidade Virtual, Sexo, Design, Violência e todos
os avanços da Química aplicada no terreno da alteração /
expansão da consciência.
Mangueboys e Manguegirls freqüentam locais como o “Bar
do Caranguejo” e o “Maré Bar”.
Mangueboys e Manguegirls estão gravando a coletânea
“Caranguejos com Cérebro”, que reúne as bandas Mundo
Livre S/A, Loustal, Chico Science & Nação Zumbi e Lamento
Negro. O disco será lançado pelo selo Chamagnathus
granulatus sapiens.
texto | Matheus Peleteiro
no tribunal de exceção de suas consciências

Era um escritor desconhecido no tempo da caça aos pensadores e aos pensantes. Período que, embora
aos racionais parecesse lógico que logo seria superado e tido socialmente como retrógrado e
provinciano, delineava as linhas do futuro. Quando a censura bateu em sua porta, de forma repentina,
ainda que já a esperasse há alguns dias, surpreso e decepcionado, escondeu o pen drive em que
armazenava os seus livros atualizados no lugar onde combinara com os seus amigos: dentro de um
souvenir vintage em formato de máquina de escrever, que possuía uma abertura para guardar joias e
minúsculas bugigangas. Naquele período, não havia mais papel. Não por proibição, mas porque as obras
estavam agora guardadas e protegidas em e-mails, dispositivos portáteis e nuvens que o escritor não se
sentia à vontade para utilizar.
No momento em que teve a sua porta arrombada, lhe veio à cabeça a certeza de que morreria
invariavelmente; que a sua dor era um reflexo da violência praticada ao seu corpo, e lhe acometeu a ideia
de que a sua mente seria capaz de qualquer coisa diante tamanha aflição. “Isso não significa que
sucumbirei ao desespero”, aduziu.
Certo de que, diante tais circunstâncias, seria capaz de qualquer loucura, se convenceu a encarar a dor
que sofreria com o desdém selvagem do cão que morre rosnando e cuspindo. Assim, durante os fatos
que se sucederam, em momento algum cogitou confessar onde estavam guardadas as suas obras. Sentiu
os choques afetando o seu juízo, a banheira de gelo lhe congelara até os ossos, encarou o alicate que lhe
arrancava os dentes, os metais que lhe tirava as unhas, e a faca que lhe cortava o saco; desmaiou.
Desmaiou diversas vezes. Era difícil ficar acordado naquelas circunstâncias. Entretanto, durante os
poucos minutos em que esteve desperto e sóbrio, gargalhou.
“O medo é uma prisão! Podem me torturar, façam o que quiserem comigo, seus imbecis! Eu vou perecer
gargalhando da tolice e da pequenez de vocês. Vocês são vermes! Cortem a minha língua, arranquem o
meu pau, tentem o que quiserem, mas o façam sabendo que morrerei mandando-os, todos, à merda,
seus filhos da puta ridículos!”
Os soldados sabiam que ele não sairia dali vivo. Ele também sabia. No entanto, em seu estado de delírio
selvagem e consciente, o escritor mantinha a alma tranquilizada pela convicção de que, assim que
soubessem da sua morte, pessoas de sua confiança compartilhariam seus escritos em meios digitais, e
exporiam o seu trabalho, permitindo, mesmo depois de ter o corpo devorado por bactérias, que
desdenhasse de todo o governo, e de todas as convenções e demais imbecilidades alheias que o regime
militar do seu país pregava e promovia a ascensão.
Tolos, porém, experientes, os militares sabiam que sua obra não estava exclusivamente em sua posse.
Por isso, a seguir, pretendiam ir atrás da sua família, e dos nomes que ele delataria durante a tortura.
Contudo, também sabiam que, caso ele não abrisse o bico e dedurasse os seus amigos e familiares para
os quais havia pedido o favor de compartilhar o seu trabalho em caso de eventuais infortúnios, seria tarde
demais. Em uma semana de desaparecimento já dariam sua morte como certa e começariam as
divulgações.
Ao ter metade do antebraço torrado no fogão e não conseguir impedir que gritos fossem expelidos,
decidiu se distrair e optou por dar um pouco de humor à situação:
“Tudo bem, eu vou falar, eu vou falar!”, declarou.
Um sargento tirou o seu braço do forno e o colocou em um barril de gelo.
“A lista de quem possui o livro está em um pen drive guardado dentro do lixo do banheiro. Escondi
quando chegaram”, confessou, forjando uma expressão de piedade digna de um grande um artista
enganador.
Os generais foram ao lixo, retiraram fragmentos de papéis higiênicos sujos de fezes, embalagens de
pasta de dente, cotonetes e pentelhos, entretanto, não encontraram pen drive algum.
“Não tem pen drive nenhum aqui”, bradou o general. “Veja bem, se cooperar conosco, prometo que terá
uma morte rápida. Vou perguntar só mais uma vez: onde está a porra do pen drive?”
Mesmo padecendo de uma insuportável agonia, o escritor se concentrou na lucidez da insanidade,
pensou em Charles Manson a conceder entrevistas e, com muito esforço para não desmaiar, sorriu.
“Talvez esteja no rabo da sua mãe, aquela galinha dos ovos podres!”
O último choque não permitiu que acordasse novamente. Os soldados vasculharam a sua casa inteira,
mas a mini máquina de escrever permaneceu intacta. Assim como os seus textos, era indestrutível.
Após a morte do desconhecido e censurado autor, um burburinho foi responsável pela divulgação do seu
trabalho. Depois de publicado, com uma bela nota de apresentação evidenciando o contexto histórico em
que fora escrito, o livro se tornou um sucesso. A partir da repercussão, os torturadores e os seus colegas
foram humilhados pelo povo, sobretudo graças ao positivo alcance da obra no cenário exterior.
Durante os seus julgamentos, no Tribunal de Exceção de suas consciências, foram condenados a,
enquanto dormissem, escutar a última gargalhada do assassinado que os tornou vítimas.
reportagem
| Repórter anônima para o @jornaljararaca
o primeiro discoporto do mundo é brasileiro e barragarcense
Nesta edição do Jararaca, enviamos uma correspondente para a cidade de Barra do
Garças, para desvendar os mistérios ufológicos da cidade.

Projeto aprovado em setembro de 1995 e construído em Ufólogos e parapsicólogos afirmam que Barra do
1997, sem a utilização do dinheiro público, o primeiro Garças é um dos maiores pontos de aparições de
discoporto do mundo foi idealizado pelo então vereador ovni’s do Brasil. A cidade é o berço da serra do
na época, Valdon Varjão. O aeroporto para disco Roncador, assim chamada por produzir uivos quando
voadores foi levantado com doações do próprio Valdon o vento lhe atravessa. A serra em questão por si só
e está localizado no Parque Serra Azul, na cidade de tem tantas histórias e lendas que dariam infinitos
Barra do Garças. textos, mas se tratando de visitas extraterrestres, é lá
o point preferido.
É claro que a ideia, bem como a construção, gerou muita
notoriedade para a cidade, tendo trazido para Barra do Além disso, em Barra do Garças também se atravessa
Garças inúmeros veículos de comunicação importantes, o Paralelo 15, o mesmo da Chapada dos Veadeiros.
bem como é fonte para muitos vídeos e documentários Mas como a cidade não brinca em serviço, é possível
facilmente encontrados na internet. A questão é que ver um enorme número 15 incrustado nas paredes
grande parte desses materiais tratam o Discoporto com rochosas da serra. Não é por acaso no fim das contas
sarcasmo e chacota, mas para os moradores desta que Varjão tenha decidido instalar um aeroporto para
cidade rodeada por uma serra que literalmente fica azul, disco voadores na cidade. Visionário, o homem queria
não só o discoporto, mas toda essa história de ovni é mesmo era dar boas-vindas
levada muito a sério por aqui.

Barra do Garças tem um imã natural para o misticismo,


aqui acontece de tudo e mais um pouco. Caso sua
curiosidade seja atiçada, é garantia minha: procure e
você não se frustrará com a infinidade de material que
essa cidade, bem como suas lendas, histórias e
mistérios já rendeu. Mas isso é assunto pra outra edição,
vamos nos concentrar no discoporto.

Os mistérios dessa cidade simplesmente permeiam o


dia-a-dia da população. Aqui, se aprende a falar
ouvindo as histórias das visitas inesperadas - nem
tanto - desses amigos interplanetários. Eu não me
surpreenderia se quando de fato uma nave pousasse
na Terra, ela escolhesse Barra do Garças. Não só por
já ter onde estacionar, mas pela imensa receptividade
que teriam. Mesa com café, bolo, pamonha e muita
curiosidade e vontade de conversar por parte dos
barragarcenses.

Volto, quem sabe, numa próxima edição para cumprir


a custosa, porém deliciosa tarefa de explicar esse
lugar - literalmente - no centro do Brasil.
o que é o amor? Mai'she, amor. Conhecer, respeitar e
acreditar. O GRANDE ESPÍRITO, conheci-
Fizemos essa pergunta para várias pessoas do, respeitado e amado. Amar é defender
diferentes nesta edição do Jararaca. alguém. A mãe e o pai amam os filhos.
Tome a medicina que terá mirações.
ABRAÇOS.

Amor é sentir, assim mas


sentir mesmo, sabe, tipo
O amor é uma agonia assim, uma coisa que vem lá
Vem de noite, vai de dia do fundo do coração
É uma alegria
E de repente
Uma vontade de chorar
O amor é quando tudo tudo
tudo dança e quando você
vê, descobre que é um
grande pé de valsa. as
O amor transcende o pedras também dançam.
entendimento mas é
racional

amor é o mistério das emoções

lembrei de quando fazia um


trabalho voluntário em um O amor é um gol do vasco
asilo e tinha um casal de numa tarde quente de domingo
idosos com uns 87 anos e
ele contava a mesma
história pra ela há 30 anos,
todos os dias, não deixava Amor é força. Força que move
passar um dia sequer. ela as pessoas e transmuta vazio
esquecia todos os dias por em imensidão, "eu" em "nós" e
conta do alzheimer. isso é linhas frágeis que ligam as
amor pra mim pessoas em uma grande teia
forte e resistente. O amor é o
balbuciar incessante dentro de
nós que diz: vale a pena
continuar.

Com uma frase eu não consigo


definir nem chocolate imagina
amor

Poetas são conhecidos, artistas são conhecidos por se


apaixonarem quase todos os dias. O amor deles é como
uma rosa. Enquanto ela está lá ela é tão perfumada, tão é quando sangra e eu odeio e quero morrer
viva, dançando no vento, na chuva, no sol, afirmando mas não consigo parar
sua beleza. Mas ao anoitecer ela pode ir embora, e você
não pode fazer nada para impedi-la. O mais profundo
amor do coração é como uma brisa que vem em seu
quarto, traz seu frescor, ela é amena, e depois se vai.
O amor é o olhar de Ricardo Marujo para Luiza Gogoia.

putz me veio tanta coisa e ao mesmo tempo nada


5 fases das mães/pais de plantas na texto | Bruno C. de Macedo, a.k.a. Buba
pandemia
“ Amo não menos o homem, mas mais a natureza... “
Lord Byron

As ferramentas de busca mostram um aumento vertiginoso A procura da batida perfeita:


em assuntos como: “plantas em apartamento”, “ kit horta “ Assim como o D2, você segue procurando a sua batida
ou “como montar uma horta orgânica”. Uma busca literal, perfeita. É aquela planta que se adaptou super bem à sua
seja por um contato direto com a natureza, uma válvula de casa, que você pegou o jeito na hora de cuidar e que
escape para distrair do tédio ou até mesmo um tão sonha- mesmo com todos os percalços da jornada, continua do
do hobby, que não era possível devido a uma vida muito seu lado, ainda que você tenha esquecido de molhá-la vez
agitada. ou outra.

Seja lá qual foi o motivo que te levou a comprar uma Encantamento:


verdinha pra chamar de sua, você deve estar passando ou Você ainda não é nenhum Pelé das plantas, mas com
passou por algumas das seguintes fases: certeza não vai cometer os mesmo erros do início do seu
cultivo, mas já sabe a importância da adubação, como
Primeiro contato: descobrir se a planta precisa de água e já pode até
Você comprou uma planta meio que na louca, sem saber distribuir mudinhas para seus vizinhos.
direito se ela pode tomar sol direto ou não. Provavelmente
você deu um nome pra ela ou só chama de filha/filho As plantas são seres vivos geniosos e que tem vontade
mesmo, e o mais importante: Você própria. Ter uma (ou várias) em casa, vai muito além da
gostou desse lance de ter uma planta. questão estética e do seu desejo em decorar a casa. A
jornada de aprendizado que elas nos proporcionam é mais
Obsessão: significativa do que de fato ter plantas exuberantes e sem
Como uma planta não é o suficiente, você compra mais! nenhuma folha amarela. Afinal, a natureza não funciona
Começa a mergulhar em um universo totalmente novo e dessa forma! As plantas nos ensinam a aceitar a
quando percebe já tem 5 pastas no pinterest, está impermanência das coisas, entender e respeitar os
seguindo 12 perfis de plantas no Instagram, tem fotos de processos. As folhas eventualmente irão cair, as formigas
outras verdinhas que você quer salvas no seu celular e se podem aparecer, e aquele fruto irá florescer na época certa,
conseguir, compra planta no mercado, na feira ou em você queira ou não.
qualquer lugar que você encontre-as.
Portanto não se deixe levar pela ansiedade, por ansiar que
Frustração: elas não morram ou pela frustração das suas plantas não
As coisas começam a dar errado! Mesmo você seguindo serem tão lindas quanto as que você vê na internet. A
todas as dicas que vai descobrindo, as plantas começam a internet possui vários filtros que não mostram a realidade,
perder folhas, murcharem e eventualmente começam a às vezes a grama do seu vizinho é mais verde porque é
morrer. É nesse momento que você artificial.
não deve se desesperar, porque nem tudo está perdido.

Acomodação: Cenas dos próximos capítulos:


Agora você se encontra apenas com algumas Na próxima edição, você vai aprender alguns segredos das
sobreviventes, mas não desiste. Vai acomodando as plantas de ambiente interno, para que as suas fiquem cada
plantas em diferentes lugares... Tira aquela samambaia que dia mais bonitas e saudáveis.
estava tomando sol demais e coloca em um cantinho com
luz indireta. Aprende que não precisar molhar a suculenta
todo dia e vai se sentindo cada vez mais segurança no
cultivo!
Em 28 de junho de 2020, os artistas visuais Renato
Moll, Gurulino e Uberaba foram detidos ao começarem
uma pintura na entrada do Lago Norte, em Brasília (DF).
Tiveram seu material de trabalho apreendido e
passaram por diversas humilhações e truculências
pelas mãos dos policiais. Uma versão mais detalhada
do acontecimento foi concedida pelo Gurulino para o
Jornal de Brasília em entrevista. A pintura interrompida
tinha como objetivo a escrita da palavra “Democracia”
em um muro da cidade. Isso foi o suficiente para que,
em meio à pandemia, os artistas fossem expostos ao
vírus de diversas formas durante a abordagem,
obrigados a ficar em uma mesma cela, sem suas
roupas. Nós do Jararaca repudiamos esta e as demais
abordagens violentas da polícia, que nitidamente
possuem viés racista e partidário, como bem esboçado
por um dos policiais envolvidos no caso dos artistas
brasilienses, que disse "se o escrito na parede fosse
“Bolsonaro 17", não teríamos os impedido de
continuar o trabalho". No final, o pouco da palavra que
pôde ser grafada no concreto é uma cirúrgica
expressão do que é democracia no Brasil de hoje.
Democ. Lutemos para que não percamos mais letras.

arte | Renato Moll @renatomoll


Pedro Sangeon @gurulino
Uberaba @uberaba_

Projeto do trabalho que seria pintado no muro:


rio grande do norte

| Júlia Moura @jornaljararaca


você me visitou em sonho
enquanto eu cochilava
na praia do cotovelo
um corpo morno
salgado
rendido na areia
e sua imagem me cobrindo
com a lágrima do sol

molhada
vi o mar
e o tempo do mar

logo pensei em câmara cascudo


e em sua casa na cidade alta
que visitara ontem

vi o homem
e o tempo do homem

cascudo, segundo dhalia


[com quem foi casado por
cinquenta e sete anos]
era viciado em charutos
redes e chocolates
também se recusava a
tirar o pijama para
arte | Daniel Nec @necro.ell.zee13 receber visitas

dhalia conta que lhe amou


até o som do pigarrear
até o passo arrastado no
chão de madeira
no fim da vida
texto | Leonardo Chagas
o tempo do amor

Se és tu que renuncia ao amor um dia


perdoo serei a dália que cresce
não saberia enfim dizer adeus na fenda da falésia
o teu acenar distante me embriaga assistindo-te dormir na praia
de sonho, fúria e esperança vaga
hoje
Se de mim, sem crime, afastas sou a respiração do mar
não choro que não cansa de fazer-te úmido
prendo a lágrima na latrina da pálpebra como pra Santa Rita o impossível
e então aceno de mim minha paixão se exaspera
meus braços chacoalhando, obsceno então triste e encabulado fico
gesto de dizer perdão sabendo que tu não te desesperas

se és o sim oposto ao não Como é possível esse unilateral


divago ardor, tremor e intenso suadouro
e busco acreditar em um talvez sabes esconder o teu amor
te espero na janela enluarada do meu quarto ou trocou seu coração por um de touro
E rezo poesia até mais cedo
E em mim sinto o palpitar do tigre
que se libertou das patas do cordeiro
e assim se perdeu dentro essa mata
no brilho deste seu olhar rasteiro

Felino sempre frágil e incapaz


de por fogo nas ventas como cria
deixa escapar sua fêmea - cio febril
das garras que é mão já tão vazia
texto | Luiza Gogoia para o rio de janeiro
os dias sendo anunciados à sua voz arrepiando as esquinas que
se esforçam pra existir no planalto central
crio vielas de onde meço seu ombro até metade da coxa
e das mãos postas como o redentor,
passeio de uma ponta a outra pra mapear as coordenadas do
nosso abraço
seu corpo despojado
é a moldura durante o ser dois em impar-tes. teu menino escorpião texto | Ricardo Marujo
a psicologia das cores
a cronologia do espaço e a escala do tempo é preciso formatar o cérebro e ainda assim deixar uma
nossos corpos penetrados subestimando a terceira lei de newton foto sua no labirinto dos ouvidos - junto aos tabuiaiás
a assimetria do seio e a proporção do sexo do meu próprio infinito
a sorte de se perder pra azarar o encontro dos eixos que foto guardarei em mim do teu sorriso? - por fim será
a fome do pescador uma única foto melada de dança...
que aposta fotografia que se move na
na isca areia movediça dos dias - dança incomoda que escorre
pra fisgar e me habita por silêncios permeáveis
a fome dos peixes não quero me lembrar do teu cinismo -
nem daquele primeiro e único beijo em nosso virgem
somos tudo que cobre a cama pra além do lençol carnaval - mentira - ainda quero - o carnaval - o beijo -
freático gozo o além
influenciado pelas trombas d’água do cerrado não quero me lembrar quando teus olhos furaram minha
gritos e mordidas carimbando o maior de todos os órgãos coluna e eu chorei largatixinhas - você não viu - Irene
sistema em pulsão erótica é Eros invocando ele mesmo. não viu - só eu
clitoris em chamas pra suplicar o orgasmo em enxurrada qual é mesmo a imagem tua que eu não gosto... ?
fazendo jus à disputa dos elementos sei que tem uma ou várias minhas que te dão no saco...
como o cerrado quando sinaliza emergência ateado-se fogo pra acho que o Marujo trovador bagunceiro - aquele que
excitar a chuva. mete o dedo no cú dos signos dos outros e sai dando
pele é a analogia do mundo elementar. estrelinhas sem noção das horas...
terra. água. fogo. ar. qual a imagem tua que me dá no saco?
e todos seus fenômenos respectivos. não sei - só sei que ela sai dos teus olhos...
você terremoto inundando a erupção do meu vendaval mas ainda assim te amo - sim, te amo. Te amo - mesmo
luz azul nascendo da íris do céu sabendo que você é um filho da puta sem que tua mãe
da boca tenha nada haver com isso
aquela sua que é a ouvinte mais próxima do que calo te amo por que você é um pivete inveterado - e a gente
perdi o rumo já se matou em outra vida - em uma eu roubei tua
quebrei o remo namorada escrevendo poemas sujos e você me caçou
frustrei a rima e arrancou meus olhos com um punhal
em outra você roubou meu coração e eu te matei com a
ele não gosta quando eu fumo cigarras Carabina do barão do cocá
que cantam até explodirem - talvez se pareçam comigo mas não quero me lembrar disso agora...
gosto de catar meus cacos só pra desenhar a cicatriz; disse uma já sei - vou guardar uma fotografia da tua inocência
taça de cristal estimulada pelos dedos úmidos de vinho. apaixonada em um bar de Taguatinga - quando os teus
voz trovão rasgando meus labirintos olhos brilhavam ainda como os de um menino - mas
sinergia é sobre coexistir ao sensível agora você cresceu...
e sincronicidade sobre insistir a atenção ao que só se sabe ao acho que aquele olhar nunca mais voltará...
sentir. somos mesmo efígies de areia...
correm em nossas veias os metais pesados que
não é saber gingar carregamos durante os sonhos mais leves...
é gingar até saber - e é assim que se lida com a saudade os domingos primevos - quanto chumbo nos lábios -
alumínio nas axilas - e essa guerra silenciosa contra
seu suor é a seiva do meu sabe-se lá o que...
e a distância entre dois corpos é a quilometragem em que se vou te guardar.
pensam vou te guardar aqui.
e eu te penso por aqui guarde uma fotografia minha - continuo sendo o teu
no seu chá enquanto bebo meu café amigo viado - poeta punheteiro - músico beirada de
no sol corando meu rosto estrada - junto às pombas giras aidéticas da rodoviária,
e você embaixo da folhagem seca teu menino Escorpião...
eu desvio e você mira
você cospe e eu engulo
grito susurro
ainda melhor que um silêncio ensurdecedor.

voltando do distrito das ilhas de bras.


que já é outra ilha e eu,
uma outra do outro de mim.
texto | @brazil1.99

coletivo barraca itinerante brazil 1.99


Orlando over Olinda. Mcqueen over Herchcovitch. Coq
au vin over pato no tucupi. O que é queo gringo tem?
Esquecemos da baiana?

O coletivo barraca itinerante Brazil 1,99 procura estudar


as diversas formas como o brasileiro vive a realidade
nacional e como essa vivência é traduzida em produto,
narrativa e cultura overall. Procura questionar, por meio
do audiovisual, da moda e de relatos dos brasileiros
reais, porque costumamos dar mais valor ao externo se o
interno é tão rico e multicolorido.

E não foi necessário ir longe para começar a pesquisa.


Na feira de qualquer estado, em qualquer cidade do
continente Brasil percebemos uma amostra desse lugar.
Encontramos a geografia, o bioma e a cultura
materializados de múltiplas formas e em movimento: à
venda - preço de banana, baby.

A feira é, então, a síntese desse projeto: como é que o


brasileiro compra (assimila) e vende (propaga) a cultura
popular brasileira?

Direção criativa: @saviodrew @phermano


Direção: @elvis___sven
Fotos: @luizaherdy
Texto: @phermano

texto | Savio Drew @saviodrew

no dia 25 de agosto comemora-se


o dia nacional do feirante
Falar da feira popular brasileira nunca foi tão urgente e simbólico pra
nós do brazil 1,99, sobretudo em meio à crise que estamos vivendo.
Pesquisando nesse espaço tão rico percebemos a força de um classe
que sustenta um cultura tão pouco explorada. Fomentar o trabalho dos
vendedores de frutas informais ou não é respeitar a nossa história, é
acima de tudo preservar um dos bens nacionais mais importantes. Nas
feiras é possível encontrar o Brasil verdadeiro vivo, o Brasil das Marias
e dos Josés, os feirantes que adoçam nosso país todos os dias e nos
mostram a força de um povo forjado na dureza e na beleza das ruas.
arte | Dnego Justino @dnegojustino
áries (21/03 a 20/04)
horóscopo | João Quinto @joaoquintoastrologia
Muitas portas já foram derrubadas
porque você perdeu as chaves, a
paciência e as estribeiras. Mas the
Life snakes meu amigo e no
chocalho da cascavel a gente
prova do próprio veneno. É nessa
curvatura que o momento te
chama a parar, pensar esperar o
trem passar e não derrubar
nenhuma porta até o fim do ano.

leão (22/07 a 22/08) touro (21/04 a 20/05) câncer (21/06 a 21/07)


O tempo passou, a roda girou, A vida chama no conforto, e a As marés se movimentam e
mas o Sol é o mesmo e brilha no beleza é encontrada no passado, derrubam barcos, mas o canto da
centro. Nem vem querer fixar o mas misifí… quem vive de sereia é permanente em alto mar e
presente que todo mundo tem passado é museu, e o tempo é de sempre tem marinheiro querendo
umbigo e o artista só aprende olhar pra frente, tomar um tento e se iludir. Seja sereia ou marinheiro,
quando também é platéia. seguir fazendo. Respeita os saiba nadar nas próprias águas e
Observe o seu redor, que cada ombros que você pisa e lembra do guarda um pouco de ar pro canto
grão de areia conta na jornada da seu lugar ao Sol. Touro precisa de chegar do outro lado do mundo.
vida e esses vão te dar boas novas raiva pra sair do lugar… as vezes é Sabe-se lá se a tripulação usa
no fim do mês. só assim mesmo. Pois pega a fones de ouvido!
raiva e seja útil nesse mundo!

sagitário (22/11 a 21/12) virgem (23/08 a 22/09) gêmeos (21/05 a 20/06) escorpião (23/10 a 21/11)
Já foi mais fácil atirar a flecha e ver A mente movimenta o silêncio e Entre lá e cá houve muito o que Volte três casas, jogue os dados e
o fogo queimar sem se preocupar. agora aprende que palavra serve refletir, agora pega a onda da fique uma rodada no canto da sala
Ainda assim o alvo está ali pra ser escutada. Não adianta realidade e segura firme nas suas repensando o movimento. Tem
pedindo atenção e te olhando com viajar sem coragem de sair do ferramentas que a deusa ajuda coisas que não são simples, mas
força. Pisa firme no seu chão, hotel. As aventuras se constroem quem cedo madruga e ainda que toda praticidade será louvada
centre-se no seu foco e não se com o desconhecido e ainda que haja motivo pra preguiça o corre tá frente a tempestade em copo
perde no labirinto que uma hora não haja certeza, o barato é justo ali do ladinho seduzindo seu d’água. E de qualquer forma, você
ele acaba, o segredo é sair vivo. esse - Renovar, Refazer, ouvido. Agora é sua vez de nem vai ter tempo pra isso. Olhe
Faz de si o Minotauro! Re(e)xistir e construir um futuro do aprender a seduzir o corre. Fala pra essência da sua alma e
que te abre os olhos. Abreu seu baixinho e com carinho que ele te lembre-se de quem luta do seu
ano, abra seu jogo! escuta e ainda te dá uns pega! lado.

capricórnio (22/12 a 20/01) libra (23/09 a 23/10) peixes (20/02 a 20/03)


No bate-rebate a obra se constrói Entre tapas e beijos, ternuras e A cachoeira de certezas se desfaz
pros andares serem altos e a pressões a gente descobre o e abre fluxo pra outros rio
mirada ser distante, mas mesmo verdadeiro eu que se pinta no correrem nas pedras. Nada é duro
em meio tanto tijolo, toda cabra espelho. Ainda que o desejo seja demais que não possa amolecer,
precisa se envolver sentido o pelo mundo, tem afeto que é mas tem escama que precisa de
sangue pulsar. Não fuja dos seus nosso e a gente sabe o nome. armadura, tem guelra que precisa
órgãos internos quando eles se Segura suas pontas, seus de reparo e tem peixe que precisa
sentirem sensíveis. É nas vísceras contratos e suas peças no xadrez, se despegar do cardume pra
que a gente sabe quando que a mas não fuja do conflito que às cruzar o próprio Atlântico. Se você
vida move a nossa montanha… E vezes é a gente que precisa dar o fosse um barco, você iria pra
ela vai ser movida, então pega xeque-mate. onde?
logo sua pá!

aquário (21/01 a 19/02)


Tudo tem ritmo, movimento e
repetição. Os circuitos se
completam quando as portas se
abrem certas, e as vezes é melhor
entrar pela janela. Saber olhar,
fazer silêncio e esperar é
essencial pra fisgar a isca e não
cair em armadilha. “O homem que
diz tô não tá, porque quem tá
mesmo não diz” nos diria Tom
Jobim. Ainda que haja muita
sede, mate-a com água.
jararaca indica
ouça assista

Alana - Casulo (LP Prod) Underfiles DF


https://bit.ly/33oiReX Violator ao vivo No Setor
@alanaamonteiro (09.11.19)
https://bit.ly/3hooDC4
Kurup - Máscaras de @underfilesdf
Ketu (2020)
https://spoti.fi/2ZqcXss Rua Para Quem?
@kuruppp Documentário sobre o

| Daniel Nec @necro.ell.zee13


amadurecimento do
Sequência movimento neo-fanfarrista
podcast sobre quadrinhos em Brasília
com Lucas Gehre e https://bit.ly/32jXWu0
Lovelove6
https://spoti.fi/2FpAxyy Revolta Mateira ComVida
@6lovelove6 @lucasgehre lives de 11 a 25/09
@centrodeinvencao

leitura
arte
campanhas sociais

Revista À Toa
@revistaatoa Ajude os Mestres e
Mestras de Capoeira
Revista Caminhos Angola durante a
@revivendoexodos pandemia
https://bit.ly/3kaFtGA
Revista Traços @cultivandoaraiz
linktr.ee/revistatracos
@revistatracos Projeto Nós
Rede de apoio e
Report capacitação de mulheres em
Breu (@breubss) grafitando a parede do banheiro público do SCS

“Pequenos Artistas e o macramê


Novo Mercado da @projeto.nos_
Influência”
@buzzmusiccontent Campanha Paiter:
linktr.ee/buzzmusiccontent Povos da floresta contra
COVID-19
Manifesto Cerratense catarse.me/paitercontracovid
Centro de Invenção
| Isabel Gandolfo @kiddotrixx

@centrodeinvencao
centrodeinvencao.com
editais e oportunidades

estabelecimentos
Motim
Inscrições abertas para a
edição 2020
O Barco
linktr.ee/edicoesmotim
Estúdio e laboratório
@edicoesmotim
fotográfico
fotografia

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Labuta Tattoo
Estúdio de tatuagem Caio Dutra Nana Bittencourt
Érica Cidade
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