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A difícil tarefa de escolher a profissão

José Leão da Cunha Filho (Professor e diretor de escola)

Sobre suas cabeças paira uma espada. Essa é uma expressão ruidosa, porém,
realista, quando se trata da escolha da profissão por jovens. A escolha da profissão nunca
foi algo tranquilo. Há indecisões próprias da idade, outras motivadas pelo desconhecimento
das profissões e mercado de trabalho, e há aquelas produzidas pela pressão dos pais,
quando resolvem escolher pelos filhos.
Atualmente, soma-se a essas outra ainda mais séria: os tempos são de mudanças
inesperadas e rápidas. Assim, profissões viram fumaça de um dia para o outro. Especialistas
dizem que profissões do futuro ainda nem se desenharam no horizonte. Ano passado,
desenvolvi uma oficina de orientação para escolha da profissão com dez alunos do último
ano do Ensino Médio. Apenas um havia já feito uma escolha. Quatro estavam indecisos
entre duas possibilidades. A outra metade se debatia com a aproximação do vestibular e as
diferentes pressões recebidas: dos pais, para que acatasse as indicações deles; dos colegas
de sala, para que resolvesse logo, livrando-se do rótulo dos que “não sabem o que querem”;
e, por fim, da escola, interessada em que fizesse a escolha por cursos com nota de corte
alta. E quais eram as próprias dificuldades dos estudantes? Todos eles se diziam
preocupados apenas em fazer uma escolha que possibilitasse autorrealização e segurança
financeira.
Para eles, não se tratava apenas de decidir como ganhar o pão de cada dia. Tratava-
se de decisão sobre uma razão para viver. O que desejavam era fazer uma escolha que
possibilitasse atuar no mercado de trabalho, oferecendo à sociedade uma contribuição
valiosa e obtendo, como consequência, prestígio profissional e sucesso financeiro. No
entanto, o bom profissional possui razões mais nobres que simplesmente ganhar dinheiro.
Os problemas ainda não acabaram. Convém mencionar, também, outra dificuldade:
a escolha da universidade. Não serve qualquer uma. Além disso, os jovens, às vezes,
ignoram que não basta escolher a profissão, pois há carreiras possíveis a serem definidas.
Outras vezes, ignoram como funciona o dia a dia da profissão desejada. Lembro-me de um
garoto cujo pai gostaria de que ele fizesse Direito, mas o jovem queria mesmo era
Comunicação. Dizia que sentia tédio somente ao imaginar que teria de passar o dia inteiro
dentro de um terno, “oprimido por uma gravata”.
Eis o calvário do estudante na escolha da profissão. Tudo isso deve ser levado em
conta pelos pais e educadores, caso realmente se interessem pelo bem-estar dos filhos e
educandos, a fim de contribuir para aliviar o peso da espada pendente sobre as cabeças
deles.
Nesse sentido, algumas sugestões são importantes: pais e escola devem se unir
para oferecer aos jovens os melhores subsídios relativos à orientação para a escolha da
profissão; há a necessidade de se conversar bastante com os estudantes sobre o sentido
da escolha de uma profissão e de como ela pode contribuir para que se realizem
plenamente; os jovens precisam conhecer as rotinas das profissões. Para tanto, colocá-los
em contato com profissionais das áreas desejadas é muito útil; os estudantes devem
conhecer os diferentes mercados para as profissões que desejam, em quais há maior oferta
de empregos e de melhores salários. Mais que isso, talvez, em quais há grandes desafios e
maior concentração de profissionais de excelência, bem como oportunidades para
empreender; por fim, os jovens precisam saber onde estão as melhores universidades para
as profissões que almejam.
Por tudo isso, a escolha da profissão deve começar cedo e não termina com o
vestibular. Essa escolha deve ser feita no tempo de cada um. E, se errar, sempre é tempo
de recomeçar.

Disponível em: https://cpp.org.br/informacao/ponto-vista/item/9566-a-dificil-tarefa-de-


escolher-a-profissao

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