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All content following this page was uploaded by Priscila Jaeger Lucas on 04 May 2023.
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Mestrando em Ciências Sociais, UNISINOS - vagner85garcia@gmail.com
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Mestranda em Ciências Sociais, UNISINOS - pjaegerlucas@gmail.com
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ANAIS DO VIII SIMPÓSIO INTERNACIONAL DESIGUALDADES, DIREITOS E POLÍTICAS PÚBLICAS:
NOVOS ATIVISMOS E PROTAGONISTAS NA REINVENÇÃO DA SOLIDARIEDADE SOCIAL
PORTO ALEGRE-RS – UNISINOS, 16 A 18 DE NOVEMBRO DE 2022
validar pontos de vista que até então ficaram de fora do centro de produção. Ou
olhar para outros aspectos do mesmo problema. Dessa forma traremos o tema de
capacitismo e racismo sobre um prisma interseccional, levando em conta a trajetória
dos autores enquanto uma mulher autista e um homem negro. Além de trazer a
vivência de autistas negros e suas dificuldades de diagnóstico, bem como seu processo
de construção de identidade na importância do entendimento enquanto sujeito de
direitos. Mesmo com o aumento das pesquisas do assunto em todas as áreas do
conhecimento, a estrutura que perpetua o racismo através dos séculos permanece
gerando um ciclo, a baixa prevalência dos estudos na academia científica deixa
lacunas importantes, a ausência dessa epistemologia é refletida no despreparo de
profissionais. Por essa razão, pretendemos contribuir para ampliação dessa discussão,
possibilitando novas olhares, bem como trazendo novos atores para centralidade do
debate.
Palavras-chave: capacitismo; racismo; interseccionalidade
INTRODUÇÃO
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está preparado para atender a demanda e as projeções são que grande parte dos
autistas no Brasil não possuem diagnóstico, adiante a dificuldade do processo do
diagnóstico será melhor explicada. Mesmo que reconheçamos os mecanismos
capacitistas que sustentam essa ignorância profissional, quando se trata da
neurodiversidade, seria necessário dedicar um trabalho exclusivamente a esse tema,
que não é o intuito deste artigo.
Alguns estudos sobre a dificuldade de diagnóstico trazem pontos importantes
na discussão. Segundo SILVA (2022):
A idade em que o TEA é diagnosticado varia com a combinação de capacidade
intelectual, comprometimento cognitivo e gravidade dos sintomas do autismo.
Crianças identificadas como tendo deficiência intelectual moderada a grave ou que
foram diagnosticadas com um distúrbio congênito podem ser diagnosticadas com
autismo aos dois anos de idade. Independentemente da inteligência, as crianças que
exibem dificuldades claras e prejudiciais associadas ao TEA, incluindo adesão a rotinas
complexas ou rígidas, resistência à mudança e fortes interesses ou aversões sensoriais,
geralmente levantam preocupações com os pais, que podem discutir essas preocupações
com os profissionais do primeiro ano. No entanto, em comparação com pais de
crianças com dificuldades de aprendizagem ou atrasos de desenvolvimento que não
foram diagnosticados com TEA, pais de crianças com TEA podem ser inicialmente
atendidos com respostas tranquilizadoras e menos proativas.
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CAPACITISMO
A maior parte dos estudos que tratam dos tópicos citados neste estudo
dedicam-se a pesquisar os tópicos individualmente o que cria uma lacuna temática
que acaba invizibilizando vivências e por consequência impedindo a real evolução na
construção do conhecimento científico, por isso a intersecção é de vital importância
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para que tais tópicos sejam abordados trazendo a tona novas dimensões temáticas e
possibilidade de estudos futuros. Nesse contexto (COLLINS, pg 76, 2020) diz que,
Uma análise interseccional revela não apenas como a violência é entendida e praticada
dentro de sistemas fechados de poder, mas também como constitui um fio comum que
liga racismo, colonialismo, heteropatriarcado, nacionalismo e capacitismo.
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entendeu o motivo da reação do meio externo a sua presença e essa reação ditou a
percepção que ela tem do mundo e de si por toda a vida.
Aqui vamos trazer a história de Regina, mulher negra que teve diagnóstico
de autismo aos 48 anos. O título deste capítulo faz referência a uma fala de Conceição
Evaristo, quando comenta sobre as escrevivências, contar as histórias não mais para
adormecer a Casa Grande, como tinham a função de fazer as pretas escravizadas, mas
para acordá-los dos seus sonhos injustos (EVARISTO, 2017). A autora coloca o
conceito como um mote de criação, justamente a vivência. Traremos aqui a vivência
de Regina e as nossas também, não apenas um apanhado de referências de homens
brancos, que afinal não compreendem nada da nossa realidade.
Relato: "Meu filho de 28 anos, hiperfoco em TEA, começou a estudar, ver vídeos sobre
funcionamento neurológico, como são diagnosticadas as pessoas com TEA... ele já
tinha diagnóstico de TDAH. Começou a observar a irmã e me chamou a atenção sobre
o comportamento dela”
Assim como muitos adultos que não tiveram o acesso ao diagnóstico, Regina
relata que o recebeu após a observação de seus filhos, aos 48 anos, se analisarmos a
idade de diagnóstico a partir de uma observação empírica este tem uma diferença
gritante com os diagnósticos de pessoas brancas. É importante entender o contexto
em que esse diagnóstico ocorreu, pois não foi um processo iniciado com um
profissional. A partir da identificação das características de comportamento da irmã
menor, o processo de busca por uma explicação foi iniciado, e ao longo do tempo
Regina e seus filhos receberam o diagnóstico.
Como mulher autista trago aqui um ponto importante: apesar das
semelhanças na vivência atípica trago aqui uma reflexão comparativa do meu
diagnóstico e do de Regina. Ao procurar um profissional de saúde a fim de entender
o que havia de “errado” comigo, a progressão natural das interações levou ao
diagnóstico do autismo, o privilégio da branquitude fez com que meu diagnóstico
acontecesse aos 24 anos a exata metade da idade em que Regina recebeu o
diagnóstico.
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Regina, através de seu relato, reflete sobre as primeiras interações com o meio
social. A experiência de uma vida de inadequação no espaço social então se tornou
uma reflexão que envolveu voltar a sua infância e observar seu desenvolvimento até
a vida adulta.
Relato: "Quando eu era criança sempre fui e me senti diferente. Não obstante me sentir
diferente como pessoa, estudava em uma escola com 100 alunos. E somente 3 negros,
eu era uma. Em meados de 70, o Black Power era completamente discriminado. E
vivia de cabelos presos em Maria Chiquinha, e tranças grossas. Sempre fui grande. A
maior da turma. Ou era a primeira da fila ou a última. Ser a última não me
incomodava, porque eu podia ver o que os/as colegas faziam e "espelhava". Geralmente
não dava certo."
Esse relato reflete uma realidade que persiste nas escolas particulares e centrais
brasileiras, onde os alunos negros são minoria, mesmo nas escolas públicas a evazão
escolar de alunos negros é maior. Outro aspecto importante aqui é a tentativa da
mulher negra se adaptar, ou se sentir parte do ambiente, mas logo ela descobre que é
diferente. Nós pretos e pretas tivemos essa experiência algum dia, e entendemos que
“o preto é diferente’’, e sabemos muito bem que essa diferença não é positiva.
Relato: “Tive problemas com ciências na 3ª série. Todas as meninas amavam o
professor. Mas ele olhava nos olhos e eu não gostava. Me reprovou por 3/10. Mamãe
foi ao conselho escolar e refiz a prova, que não foi passada por ele. Tirei 10”.
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INVALIDAÇÃO E VULNERABILIDADE
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
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REFERÊNCIAS
GUGEL, Maria Aparecida. Mulher com deficiência – medidas adequadas para o seu
desenvolvimento, avanço e empoderamento. In: GUGEL, Maria Aparecida (org.). Diálogos
aprofundados sobre os direitos das pessoas com deficiência. São Paulo: RTM, 2019.
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https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/2591382/mod_resource/content/1/colonialidade_do
_saber_eurocentrismo_ciencias_sociais.pdf Acesso em: 01/11/2022.
MENDES, Rodrigo Hübner. Capacitismo: raro em nosso vocabulário, comum em nossa atitude.
Uol, 11 jun. 2021. Opinião. Disponível em: https://www.uol.com.br/ecoa/colunas/rodrigo-
mendes/2021/06/11/capacitism....
SCHWARCZ, Lilia. Previsões são sempre traiçoeiras: João Baptista de Lacerda e seu Brasil
branco. Fontes: Periódicos UNIFESP. v.18, n.1, jan.-mar. 2011, p.225-242.
VIVA BEM. Mulheres autistas omitem traços do transtorno, mas isso afeta saúde
mental.Disponível em:
https://www.uol.com.br/vivabem/noticias/redacao/2022/03/22/mulheres-autistas-omitem-
tracos-do-transtorno-mas-isso-afeta-saude-mental.htm. Acesso em Novembro de 2022
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