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CAPACITISMO

Aluno: João Paulo Alves da Silveira

Disciplina: Comportamento Organizacional 2023.2

O capacitismo, assim como o racismo e o sexismo, é uma forma insidiosa de


discriminação que permeia nossa sociedade. Trata-se da discriminação e preconceito
direcionados a pessoas com deficiência, sejam elas físicas, sensoriais, intelectuais ou
cognitivas. Muitas vezes, o capacitismo passa despercebido ou é minimizado,
tornando-se um problema que merece atenção e reflexão. Esta resenha busca
explorar o capacitismo sob diferentes perspectivas, usando referências de filmes,
textos, livros, documentários e músicas para iluminar essa questão complexa e
destacar a importância de combater essa forma de discriminação.

No podcast "Central PCD", um espaço aberto para educar, elucidar e aprender


sobre a experiência das pessoas com deficiência, o apresentador Acauã Pozino
conduz uma conversa com Marco Antonio Gaverio, doutorando em Sociologia pela
Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). Gaverio é uma figura destacada nos
estudos sobre deficiência no Brasil e neste programa, eles discutem sobre o
capacitismo, incluindo a origem do termo.

Ao abordar a origem do capacitismo, Gaverio ressalta a complexidade que


envolve o desenvolvimento dos conceitos. Ele enfatiza que muitas vezes, os conceitos
não surgem de maneira linear. Ele destaca a importância de entender a etimologia
arqueológica de um termo e como ele evoluiu ao longo do tempo. No caso do
capacitismo, Gaverio afirma que é um conceito relativamente recente.

Ele compara o surgimento do termo capacitismo com outros "ismos" sociais,


como o racismo e o machismo, que foram reconhecidos e discutidos muito antes do
capacitismo. De acordo com Gaverio, o conceito de capacitismo emergiu nos países
do norte global a partir de grupos que lutam contra o "ableism" ou capacitismo. No
Brasil, o termo foi traduzido mais recentemente, nos últimos anos da década de 2000
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e início de 2010, por meio do trabalho da antropóloga Anahí Guedes de Mello, que se
baseou em autoras portuguesas que abordavam questões de gênero e sexualidade.

Gaverio também sugere que, em português, o termo mais apropriado para


descrever o conceito de capacitismo seria "deficientismo," derivado do termo em
inglês "disablism." O deficienteismo se refere à discriminação ou injúria direcionada a
um indivíduo devido a uma característica corporal considerada uma deficiência.

No entanto, Gaverio ressalta que o capacitismo, ou deficientismo, vai além da


discriminação contra pessoas com deficiência. Ele pode ser comparado ao racismo
estrutural, pois está presente na própria estrutura social. Segundo essa concepção, o
capacitismo não é uma anomalia ou patologia, mas sim o resultado do funcionamento
"normal" da sociedade. Essa visão destaca que a luta contra o capacitismo não se
limita a denunciar atos de discriminação, mas também envolve a transformação das
estruturas sociais que perpetuam essa forma de preconceito.

Em resumo, a discussão sobre a origem e natureza do capacitismo, conforme


apresentada por Marco Antonio Gaverio no podcast "Central PCD," ressalta a
complexidade do conceito e a importância de reconhecê-lo como uma forma de
discriminação que vai além de atitudes individuais, estendendo-se à estrutura social
em si. A conscientização sobre o capacitismo é essencial para promover a inclusão e
a igualdade das pessoas com deficiência na sociedade.

O capacitismo também está enraizado na cultura popular, muitas vezes de


maneira sutil e imperceptível. Filmes, programas de televisão, livros e música
frequentemente refletem e perpetuam estereótipos prejudiciais em relação às pessoas
com deficiência.

No filme "Rain Man" (1988, vencedor de 4 estatuetas do Oscar), dirigido por


Barry Levinson e estrelado por Dustin Hoffman e Tom Cruise, vemos um exemplo de
representação de uma pessoa com autismo. Embora o filme tenha sido elogiado por
trazer a questão do autismo para o centro das atenções, também foi criticado por
retratar o personagem de Hoffman como um "gênio autista" com habilidades
extraordinárias. Isso pode reforçar a ideia equivocada de que todas as pessoas com

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autismo possuem habilidades especiais, desconsiderando a diversidade das
experiências autistas.

Um exemplo mais recente de capacitismo na cultura popular é a série de TV


"The Good Doctor," que narra a história de um cirurgião com autismo e síndrome de
Savant (uma condição rara em que a pessoa tem habilidades extraordinárias
relacionadas a memória). A série foi elogiada por sua representação de um
protagonista com deficiência, mas também recebeu críticas por usar o autismo como
um dispositivo de enredo para criar drama e entretenimento.

No entanto, é importante observar que nem todas as representações de


deficiência na cultura popular são negativas. Por exemplo, o filme "Intocáveis" (2011),
dirigido por Olivier Nakache e Éric Toledano, apresenta uma relação afetuosa entre
um cuidador e um tetraplégico, destacando a importância da inclusão e do apoio. Essa
abordagem positiva da deficiência é um passo na direção certa para a representação
mais inclusiva.

Além dos filmes, a música tem sido uma poderosa ferramenta na luta contra o
capacitismo e na promoção da inclusão. Tomemos como exemplo a canção "Another
Brick in the Wall, Part 2" do álbum "The Wall" da banda Pink Floyd. Embora "The Wall"
seja um álbum conceitual que aborda uma ampla gama de temas, esta música aborda,
em minha opinião, o capacitismo em suas letras. A música faz uma crítica contundente
ao sistema educacional rígido e desumanizador que rotula as crianças como "apenas
mais um tijolo no muro" e negligencia suas necessidades individuais. Essa mensagem
é uma denúncia à uniformização e à falta de atenção às necessidades das crianças
com deficiência.

Embora o termo "capacitismo" possa não ser amplamente reconhecido no


Brasil, a discriminação contra pessoas com deficiência é uma triste realidade que
permeia a sociedade do país. Essa discriminação toma diversas formas, desde a falta
de acessibilidade em espaços públicos até o preconceito e a exclusão social.

No episódio #13 do "Sede de Mais Podcast," um grupo de mães se reuniu para


discutir o capacitismo e como ele afeta a vida de seus filhos. Essa conversa é de
grande importância nos tempos atuais, pois busca explorar as origens e

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manifestações do capacitismo no contexto brasileiro. As mulheres que participaram
da discussão compartilharam suas vivências, desafios enfrentados e destacaram
como as crianças com deficiência muitas vezes são vítimas de discriminação e
preconceito, especialmente nas áreas críticas da educação e inclusão social. Elas
também enfatizaram a necessidade de conscientização pública e da luta pelos direitos
das pessoas com deficiência no Brasil.

Além dessas mães, diversos ativistas brasileiros têm contribuído de forma


significativa para a discussão do capacitismo no país. Um exemplo notável é o
Consultor de Diversidade e Inclusão, Guilherme Bara, que apresentou um discurso
marcante no evento TEDxCampinas. Em sua apresentação, ele abordou o
capacitismo de maneira impactante e compartilhou uma mensagem poderosa: "Não
quero garantia de igualdade no ponto de chegada. O que eu quero é o respeito pelas
minhas singularidades ao longo do caminho." Bara compartilhou suas experiências
como pessoa com deficiência visual e explorou as representações sociais que cercam
a deficiência no Brasil.

Essas conversas, por serem baseadas em experiências reais e por serem mais
acessíveis e populares do que textos acadêmicos, são extremamente eficientes na
conscientização da população, lançando luz sobre como o capacitismo afeta a vida
cotidiana das pessoas com deficiência no país.

É fundamental reconhecer que a luta contra o capacitismo no Brasil está em


andamento, com diversas organizações, ativistas e acadêmicos dedicados a
promover a inclusão e conscientização sobre questões relacionadas à deficiência. A
promulgação da Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Estatuto da
Pessoa com Deficiência) em 2016 representa um avanço significativo na garantia de
direitos e na promoção da igualdade para as pessoas com deficiência.

No entanto, o capacitismo persiste como um desafio a ser superado. É


fundamental continuar a discussão sobre o tema, promover a educação e a
conscientização e lutar incansavelmente por uma sociedade mais inclusiva e justa
para todas as pessoas, independentemente de suas habilidades. Além disso, é
importante destacar o papel da cultura popular na perpetuação ou no combate ao
capacitismo no Brasil e em todo o mundo. A representação de pessoas com

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deficiência nas mídias e na cultura desempenha um papel crucial na forma como a
sociedade as enxerga e trata.

Em resumo, o capacitismo no Brasil tem raízes históricas profundas, mas há


um crescente reconhecimento e discussão sobre o tema. Autores, pesquisadores e
ativistas brasileiros têm contribuído para a compreensão e enfrentamento desse
preconceito. A conscientização e a luta pelos direitos das pessoas com deficiência
continuam a ser fundamentais para combater o capacitismo e promover uma
sociedade mais inclusiva e equitativa.

Bibliografia e referências:

- https://podcasters.spotify.com/pod/show/centralpcd/episodes/Capacitismo--parte-1-com-
Marco-Antonio-Gaverio-
eh9ldn?fbclid=IwAR1SPdZ9mK62JnUThuB3Joq0QlVGA41CkqYp4Cq5HaZK9IdnPc7L2_j8koo

- https://podcasters.spotify.com/pod/show/centralpcd/episodes/Capacitismo--parte-2-com-
Marco-Antonio-Gaverio-ehjlkq?authuser=0

- https://www.youtube.com/watch?v=rpyyK0NMkZs Sede de mais Podcast -


CAPACITISMO COMO EVITAR ? ACESSIBILIDADE E INCLUSÃO COM 3 MÃES ATÍPICAS -
EXPERIÊNCIAS REAIS | #13)

- https://www.youtube.com/watch?v=GURgzMcTgrA Na conversa do respeito e da


inclusão, todos somos heróis e vilões | Guilherme Bara | TEDxCampinas

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