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1. Teórico
a) a formação do preconceito
A partir do documentário O silêncio dos Homens, percebemos como os homens são
ensinados desde cedo a ficarem calados e não expressarem suas opiniões frente ao pai. Pois esse
é quem manda. O universo masculino é permeado de crenças que sustentam que homem de
verdade é aquele que é: viril, não chora, competitivo, forte, arrimo da família e mantém a sua
mulher no lugar dela. Essas expressões que podem até mostrar que são potências imbatíveis,
apenas mostram o medo de se revelar vulnerável e frágil. Assim, a não sensibilidade dos
homens, faz com que os mesmos deixem todas as suas emoções trancafiadas dentro de si. Desta
forma, por não saberem lidar e nomear seus sentimentos, descarregam suas emoções na
violência, como forma de linguagem.
Mas já que a masculinidade não se resume à virilidade, força e competitividade. O que é
ser homem? No documentário, é ressaltado como a falta de referências em diversas áreas, para
essa construção da identidade masculina, resulta em sofrimento. O homem não sabe lidar com
suas emoções e assim, não saberá entender as emoções das outras pessoas e de seus futuros
filhos. Portanto, os homens sofrem, mas sofrem calados e sozinhos. Desta forma, os mesmos são
impostos a seguir um padrão. São ensinados desde cedo com xingamentos (bixa, viado…), que
sair desse padrão é errado. No livro de Almeida (2018), podemos perceber como as
discriminações e preconceitos estão nos mais diversos âmbitos da sociedade, sejam eles no nível
individual, institucional e estrutural. Assim, a homofobia está além do âmbito individual, está
presente na estrutura dessa sociedade Muitas vezes, a pessoa não tem consciência de que está
sendo homofóbica como piadas, embora isso não diminua sua contribuição na manutenção dessa
estrutura.
Como visto no documentário, o preconceito permeia nossa sociedade em vários âmbitos,
sejam no âmbito individual ou social. Assim, a homofobia é um fenômeno complexo e
multifacetado, com dimensões psicológicas e sociais que se processam na experiência individual
dos sujeitos, mas que não se encerram na individualidade, processando-se no âmbito das relações
sociais também (Perucchi, Brandão & Vieira, 2014). Desta forma, rescindir com o modelo
heteronormativo e homofobico assimilado durante gerações, é uma forma de cortar a ideia de
que há um conjunto de valores considerados corretos, valores estes que inviabilizam que a
vivência homossexual seja considerada uma vivência legítima. Assumir a legitimidade das
experiências homoafetivas, possibilita um reposicionamento na própria história individual e
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coletiva desses sujeitos, visto que os valores morais são constituidores das identidades e das
culturas (Pereira, Dia, Lima & Souza, 2017).
Em termos gerais, a homofobia, como a etimologia do nome sugere, seria a aversão a
orientação afetiva/sexual entre pares do mesmo sexo. De acordo com Fernandes (2012), o autor
Borrillo explica que a homofobia pode ser caracterizada como uma atitude hostil em relação aos
homossexuais, baseada em uma premissa de designar o outro como, anormal, inferior e
desviante. Mas porque a homoafetividade seria considerada como antinatural? Segundo Rubin
(1984), essa ideia é consequência de uma relação social intrinsecamente associada à
heteronormatividade, que resultou em uma hierarquia de sexualidade. Desta forma, a pessoa ser
homoafetiva lhe confere um lugar à margem da sociedade, uma vez que relações heteroafetivas
tem um status de superioridade. Importante salientar que a heteronormatividade é estabelecida
como um conjunto de normas, valores, atitudes de conduta e dispositivos, por meio da qual a
heterossexualidade é instituída como a única possibilidade legítima e natural de expressão
identitária e sexual.
Fernandes (2012), explicita em sua obra que o processo de naturalização da homofobia foi
sendo construído historicamente, principalmente nas religiões cristãs. Assim, a
heterossexualidade enquanto normalidade para Deus e o casamento monogâmico como
responsável pela procriação. Para legitimar isso, como visto no documentário, a monogamia e os
“papéis de gênero” são extremamente marcados, já que cada indivíduo (o homem e a mulher)
possui um papel importante na “formulação da vida”. Assim, a homossexualidade, durante
muitos anos, foi vista como uma mistura de pecado, doença e crime, que infelismente permeia
em muitos discursos atuais.
Pensando nessa formação histórico-cultural da homofobia, a sociedade tende a expressar
seus pensamento a partir de estereótipos do senso comum. Assim, de acordo com Pereira, Torres
e Almeida (2003),
Não se trata de respostas que um indivíduo emite em relação a um
estímulo do meio social, mas das maneiras como os grupos sociais
constroem e organizam os diferentes significados dos estímulos do
meio social e as possibilidades de respostas que podem
acompanhar esses estímulos ( p.96).
Portanto, em síntese a homofobia é o resultado de uma construção normativa pela
sociedade “dominante” que repercute através de discriminações e violências. Estas práticas têm
por finalidade executar repressão e rebaixamento dos homossexuais. Podendo estar presente em
todo contexto social como: no trabalho, na escola, na família, manifestadas através de atitudes
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que levam ao desrespeito e, muitas vezes, à exclusão total (Souza, Costa, Barretto, Amorim,
Moura & Silva, 2009).
Do ponto de vista do estudo dos processos representacionais, a teoria das representações
sociais são um conjunto de pré-codificações da realidade, que determinam um conjunto de
antecipações e expectativas em relação a um objeto social. Desta forma, as representações
selecionam informações, definem o que é tolerável, o que é lícito ou inadmissível numa dada
situação. Desta foma, as representações sociais sobre a natureza da homossexualidade
partilhadas por pessoas heterossexuais podem estar na base da homofobia. Assim, as
representações sociais exercem uma função fundamental no jogo das relações entre grupos
(Pereira, Dia, Lima & Souza, 2017).
Entretanto, importante salientar que na história dos diversos povos, em todas as épocas e
em todos os meios sociais, a prática da homossexualidade consiste em um dos exercícios da
sexualidade, da mesma forma que a heterossexualidade e a bissexualidade. Como demonstram as
pesquisas da antropologia e da história, há registros da sua prática, ainda que como uma
instituição pedagógica, dentro das tradições da Grécia, Roma e China antigas, bem como entre os
povos indo-europeus, que formaram os europeus (Andrade, 2017).
b) os impactos que incidem sobre os sujeitos que são alvo desse processo
De acordo com a pesquisa de Natarelli, Braga, Oliveira e Silva (2015), os adolescentes por
estarem inseridos em uma sociedade carregada de estereótipos e representações sociais
consideradas normais e anormais, são alvo de diversos tipos de violência. Com maior
preponderancia, pode-se perceber a violencia psicologica/simbolica que está presente no
cotidiano do adolescente homossexual, que vivem situações de preconceito, opressão,
tratamento diferenciado, dentre outras formas de exclusão. Assim, estes adolescentes tendem a
demonstrar uma percepção negativa de si mesmos, que corroboram em negligências em relação
ao autocuidado, impossibilidade de manter hábitos saudáveis e podem até desenvolver ideação
suicida. Importante ressaltar ainda que, de acordo com as falas dos estudantes, os mesmos
relatam a presença de ideais e comportamentos homofóbicos dentro dos serviços de saúde e entre
seus profissionais, tratados como elementos capazes de dificultar o acesso à saúde e a um
atendimento integral.
Desta forma, além de sofrerem violências físicas e psicológicas dentro de seus lares, a fim
de serem “disciplinados”. Os jovens ainda são alvo das mais diversas violências, fora de casa
também, ocasionando ainda mais insegurança, baixa autoestima, exclusão e sentimentos de
inferioridade. Assim, por serem jovens em situações de maior vulnerabilidade, possuem maior
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tendência a precisar de serviços de saúde, sejam elas no quesito físico ou psicológico. Entretanto,
ao serem também alvo de homofobia nesses espaços, acabam por não cuidarem de si e desta
forma acarreta inúmeras consequências para si (Natarelli, Braga, Oliveira & Silva, 2015).
Apesar de a sociedade ter avançado, nos últimos anos, ainda há um longo caminho por
percorrer para que haja igualdade e uma aceitação plena das distintas identidades de
gênero.Assim, muitas pessoas homoafetivas não desfrutam de suas relações afetivas e sexuais
plenamente, sobretudo, por receio de serem rejeitados, julgados e humilhados por amigos,
familiares e conhecidos. Ainda é comum, no Brasil e no mundo, associar a homossexualidade a
algo "inferior", um motivo de vergonha, um comportamento não natural ou uma espécie de
"doença" que precisa ser curada. Desta forma, a dificuldade de se assumir homoafetivo está
intrinsecamente relacionado a um processo de reconhecimento e aceitação de suas próprias
necessidades (Ferreira & Aguinsky, 2013).
Por todos esses motivos anteriormente listados, muitas pessoas nas organizações que
trabalham se sentem coibidas de se abrir e se expressar verdadeiramente. Mostrando a presença
da homofobia institucional, que leva os indivíduos a manterem sua orientação sexual “no
armário”, dissimulando sua própria identidade. Segundo Siqueira, Saraiva, Carrieri, Lima &
Andrade (2009),
o indivíduo gay está, em muitos casos, em situação fragilizada nas
organizações, tenha ou não a sua orientação sexual revelada, o que
inclui situações de constrangimento e de humilhação, como piadas
homofóbicas, discriminação e desigualdade de tratamento em
questões associadas à ascensão na carreira (p.450).
Acarretando assim, desdobramentos físicos e emocionais.
Importante salientar, que a sociedade é constituída por muitas representações sociais e
principalmente engendrada por padrões machistas. Desta forma, ainda prevalece uma ideia
tradicional de família, na qual o homem é "macho" e responsável pelo sustento da casa, e a
mulher é quem cria os filhos e cuida do lar. Assim, como pode ser visto no documentário, para
muitos homossexuais, é difícil não cumprir tais expectativas, por medo de ser uma decepção para
muita gente e até mesmo para eles mesmos (já que muitos não aceitam sua homoafetividade).
Por conta da homofobia internalizada, assim como, o sentimento de culpa introjetado pela
argumentação moralizadora, as pessoas vivem uma dissonância cognitiva extrema entre quem ela
é (homoafestivo) e quem a sociedade espera que ela seja (heterossexual), potencializando a
ocorrência de desfechos negativos ou indesejáveis que comprometem a saúde, bem-estar e
relacionamentos sociais do indivíduo. Assim, muitas pessoas encontram no suicídio a solução
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mais plauzivel para o fim desta aflição já que não há como deixar de ser homossexual (Rohm &
Pompeu, 2014). Exemplos disso se encontram em pessoas que fazem parte de comunidades
extremamente religiosas, logo que a essa vivência espiritual condena sua orientação sexual,
gerando uma dissonância cognitiva e causando intensa turbulência emocional.
(2011) acredita que as atividades de pesquisa e extensão desempenham importante papel para dar
às Universidades uma “participação ativa na construção da coesão social, no aprofundamento da
democracia, na luta contra a exclusão social e a degradação ambiental, na defesa da diversidade
cultural” (p.8). Assim, a Universidade deverá promover atividades que promovam a resolução
dos problemas da exclusão e da discriminação sociais, a fim de dar voz aos grupos excluídos e
discriminados.
Além disso, nunca parei pra pensar nos estereótipos que os homens “tem” que alcançar. O
documentário que foi indicado na aula me fez pensar sobre isso, e como muitas vezes apenas
penso pelo lado das mulheres e do público LGBTQIAP+ em geral. Sem considerar o que leva
uma pessoa a ser homofobia, sem levar em consideração todo o enlace social que ela está
envolvida.
No entanto, procuro sempre dar valor aos conteúdos da comunidade LGBTQIAP+. Por
exemplo, meu canal favorito do youtube é de um casal americano homoafetivo masculino. No
canal e nas redes sociais deles, vejo sempre a luta que eles têm que enfrentar. Eles sempre falam
da forma conturbada que suas vidas familiares foram e em como tinham que ficar mentindo para
os amigos e até para si mesmos que não eram gays. E consequentemente, isso resultou em
traumas e bloqueios em diversas áreas da vida deles, mas o que mais me toca é o
companheirismo e amor que eles compartilham. E para mim apenas isso deveria ser importante
na sociedade. Mas infelizmente não é, semana passada mesmo eles tiveram uma foto banida
simplesmente por serem Gays, ou seja, mesmo já tendo evoluído muito, a homofobia está
arraigada na sociedade.
A Psicologia tem muito a agregar na promoção de saúde para essa população para além
do espaço clínico privado, para além da educação e das organizações, mas em especial na saúde
pública. A Psicologia pode ter uma capacidade transformadora especialmente nesse campo.
3. Referências:
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