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Arquitetura e Urbanismo

Material Teórico
Introdução aos Estudos Urbanos

Responsável pelo Conteúdo:


Prof.ª Me. Aline Monteiro Campos Garcia

Revisão Textual:
Prof.ª Esp. Kelciane da Rocha Campos
Introdução aos Estudos Urbanos

• Problematização das Cidades Brasileiras.


• Infraestrutura Urbana.

OBJETIVO DE APRENDIZADO
· Apresentar as características do processo de formação urbana, com
enfoque no estudo do urbanismo e do planejamento urbano, bus-
cando evidenciar as relações entre as diferentes subáreas do conhe-
cimento, bem como debater a problemática do fenômeno urbano
contemporâneo e sua relação com a questão ambiental, atrelada à
infraestrutura urbana.
Orientações de estudo
Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem
aproveitado e haja maior aplicabilidade na sua
formação acadêmica e atuação profissional, siga
algumas recomendações básicas:
Conserve seu
material e local de
estudos sempre
organizados.
Aproveite as
Procure manter indicações
contato com seus de Material
colegas e tutores Complementar.
para trocar ideias!
Determine um Isso amplia a
horário fixo aprendizagem.
para estudar.

Mantenha o foco!
Evite se distrair com
as redes sociais.

Seja original!
Nunca plagie
trabalhos.

Não se esqueça
de se alimentar
Assim: e de se manter
Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte hidratado.
da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e
horário fixos como seu “momento do estudo”;

Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma


alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo;

No material de cada Unidade, há leituras indicadas e, entre elas, artigos científicos, livros, vídeos
e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você
também encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão
sua interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados;

Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discus-
são, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o
contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e
de aprendizagem.
UNIDADE Introdução aos Estudos Urbanos

Problematização das Cidades Brasileiras


Característica do Processo de Urbanização
O processo de urbanização é um fenômeno em constante transformação e pro-
gresso, cujas premissas decorrem especialmente da mudança de uma sociedade
de economia baseada na produção agrária para uma sociedade que entra em um
processo de industrialização. Esse evento aconteceu e acontece em todo o mundo
em diversas escalas, gerando concentração espacial, diversidade do uso do espaço
e intensidade nas interações humanas.

O conceito chave desse processo é o espaço, que segundo Santos (2008) é:


[...] algo dinâmico e unitário, onde se reúnem materialidade e ação hu-
mana. O espaço seria o conjunto indissociável de sistemas de objetos,
naturais ou fabricados, e de sistemas de ações, deliberadas ou não. A cada
época, novos objetos e novas ações vêm juntar-se às outras, modificando
o todo, tanto formal quanto substancialmente. (SANTOS, 2008, p. 46.)

No contexto nacional, as cidades sofreram alterações no que diz respeito à con-


formação urbana, de modo que cada uma apresentou suas peculiaridades, con-
forme posição e influência geográfica, bem como aspectos culturais e compor-
tamentais. Essas mutações foram acompanhadas com a evolução populacional e
densidade demográfica, sobretudo em aspectos econômicos, cuja caracterização
foi fortemente demarcada em períodos históricos. Todas essas mudanças já haviam
se processado tanto na Europa quanto nos Estados Unidos, cujas transformações
territoriais e sociais ocorreram no século XIX. Já no Brasil, esse cenário, inicial-
mente, se conforma no final do século XIX e se intensifica no século XX.

No primeiro período (entre 1895 e 1930), os melhoramentos propostos eram


localizados em partes da cidade já existentes. Os profissionais atuantes eram pro-
venientes de cursos de engenharia das antigas escolas militares da Bahia, Pernam-
buco, São Paulo e Rio de Janeiro. Estes profissionais participaram de importantes
projetos nas cidades e foram responsáveis por viabilizar grande parte da infraes-
trutura urbana. Os principais campos de trabalho foram nas ferrovias e obras de
infraestrutura das cidades, como: saneamento, abertura e regularização do sistema
viário e projetos urbanísticos para áreas centrais.

Já o segundo período (entre 1930 e 1950) é marcado pela elaboração de


planos urbanísticos mais organizados, que tinham por objetivo o conjunto global
da área urbana. Ou seja, com uma visão de totalidade, planos que propunham a
articulação entre os bairros, o centro e a extensão das cidades através de sistemas
de vias e de transportes. Assim, era a forma mais pura e inicial do urbanismo nas
cidades brasileiras.

Esse período, no Brasil, foi altamente marcado por fortes discussões e preo-
cupações no que diz respeito ao planejamento, conformação e estruturação do

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espaço urbano. O grande personagem da época foi o arquiteto e urbanista Charles-
-Edouard Jeanneret-Gris, mais conhecido como Le Corbusier.

Um dos aspectos mais trabalhados e desenvolvidos pelo urbanista é de tratar a


cidade como algo funcional, prático e orgânico. Assim, em 1933, Le Corbusier
se destaca, juntamente com outros profissionais, na proposição da Carta de Ate-
nas, resultante do IV Congresso Internacional de Arquitetura Moderna (CIAM).
Tal documento é um manifesto urbanístico que teve como tema a cidade funcio-
nal, que traçava diversas diretrizes vinculadas a um planejamento urbano racional
e prático. A Carta considerava a cidade como um organismo a ser concebido
de modo funcional, no qual as necessidades do homem devem estar claramente
colocadas e resolvidas. Veja na Figura 1 a seguir o croqui esquemático elaborado
por Le Corbusier.

Figura 1 – Croqui de Le Corbusier para o Rio de Janeiro


Fonte: lib.ncsu.edu

Assim, nesse período, são formuladas as primeiras propostas de zoneamento


com visão de totalidade para as cidades, sobretudo pelos planos elaborados com
base no sistema viário. Obviamente, os deslocamentos já eram aspectos de estudo
e preocupação de engenheiros, arquitetos e urbanistas, uma vez que as cidades se
adensavam cada mais, assim como os conflitos em deslocamentos no espaço urba-
no. As cidades de São Paulo, Porto Alegre e Rio de Janeiro, por exemplo, foram
as primeiras cidades a receberem planos urbanísticos mais elaborados e sofreram
grandes alterações em suas dinâmicas urbanas. A última cidade mencionada, Rio
de Janeiro, teve o Plano Agache como ferramenta de desenvolvimento urbano,
tendo, assim, acrescentada à estrutura viária, antiga e precária, uma efetiva melho-
ra na circulação de pessoas, bens e serviços, para melhor atender a uma demanda
futura, que viria nas décadas seguintes.

Assim, o terceiro período (1950-1980) chega com fortes propostas no que tan-
ge às questões de organização espacial, urbanização e planejamento do espaço.

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Novas teorias são abordadas em conjunto com o modernismo e a funcionalida-


de das edificações, bem como as tratativas projetuais do urbanismo nas cidades.
Ademais, esse período se caracteriza por fortes influências regionais, ampliando o
conceito para diversas regiões do país. Assim, houve uma grande migração campo
– cidade, crescente processo de urbanização, bem como o aumento da área urbana
e consequente conurbação entre cidades.

Você Sabia? Importante!

Conurbação é um fenômeno urbano, muito caraterizado em regiões metropolitanas,


que ocorre quando duas ou mais cidades se desenvolvem conjuntamente, uma ao lado
da outra, te tal forma que acabam se unindo como se fossem apenas uma.

Nessa época houve forte incentivo à indústria automobilística, assim como a


grande produção de bens duráveis, que mudou completamente a noção de espaço
e deslocamento nas cidades. Assim, ocorreram mudanças significativas no modo
de vida das pessoas, com os inúmeros produtos de elevado valor agregado, como
eletroeletrônicos, automóveis e também na habitação.

O que acontece, em caso de conurbação, se a principal cidade entrar em colapso urbano?


Explor

A conurbação pode apresentar efeitos negativos caso não ocorra um eficiente planejamento
urbano, pois os problemas de uma cidade podem ser transferidos para as vizinhas.

Segundo Maricato (2013), o Brasil, como os demais países da América Latina,


apresentou intenso processo de urbanização, especialmente na segunda metade do
século XX. Em 1940 a população urbana era de 26,3% do total, o que represen-
tava cerca de 18,8 milhões de habitantes. Já nos anos 2000, a população urbana
era de 81,2% - 138 milhões de habitantes.

Se houve esse aumento populacional no meio urbano, também houve a necessi-


dade de moradia, transporte, saúde, energia e água. E a resposta do rumo tomado
por esse crescimento não foi satisfatório, diante do cenário observado nas cidades
desde então.

Atreladas a esse cenário, por meio de intervenção do Banco Nacional de Habita-


ção (BNH), integrado ao Sistema Financeiro de Habitação (SFH), criados pelo regi-
me militar a partir de 1964, que as cidades brasileiras passaram a ocupar o centro
de uma política destinada a mudar seu padrão de produção (MARICATO, 2013).
Assim, houve uma injeção de recursos financeiros para o setor habitacional, mu-
dando o perfil das cidades. Nessa época as grandes cidades tiveram suas manchas
urbanas aumentadas em proporções nunca vistas antes. Obviamente, o mercado
imobiliário mudou, bem como os interesses e a especulação da terra. Com isso o
uso do solo acaba por tornar-se, de vez, personagem central nas questões de pla-
nejamento do espaço urbano.

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Importante! Importante!

Uso do solo: transformação do espaço que gera movimentação nos deslocamentos. Au-
tomaticamente tem ligação com os meios de transportes, sejam públicos ou privados,
que têm como variáveis a oferta e a demanda. Isso faz com que haja um apelo forte e a
necessidade de primeira ordem em acessibilidade e mobilidade, culminando, assim, em
uma valorização do solo.

Ademais, o mercado habitacional recebeu investimentos que ocasionaram a mu-


dança no perfil das grandes cidades, principalmente no que diz respeito ao uso e
ocupação do solo.

Sobre esse assunto, confira leis de parcelamento, uso e ocupação do solo – Lei 6766
da Constituição Federal.

Nesse viés, houve uma massificação do uso do solo de forma predatória, com
intensa verticalização promovida pelos edifícios de apartamentos. Houve também
planos específicos para criação de conjuntos habitacionais periféricos financiados
pelo SFH, ampliando a mancha urbana e posicionando grandes aglomerados urba-
nos em áreas muito distantes.

Esses problemas ganharam força, principalmente com o advento do automóvel


e seu uso irracional dentro das cidades. Ou seja, tornaram-se problemas também
relativos ao trânsito e à circulação urbana, que, de certa forma, caminhavam no
sentido contrário à Lei de Mobilidade. Esta, por conseguinte, tem como objetivo
contribuir para o acesso universal à cidade, por meio do planejamento e gestão do
sistema de mobilidade urbana.

Todo esse panorama que se desenhava em nossas cidades se intensifica cada vez
mais, como um processo automático e irreversível, tanto pela falta de serviços urba-
nos, o escasso acesso à terra, quanto pela saturação de espaço viário e de articulação
para habitações e edifícios públicos. Dessa forma, ocorreu um desenvolvimento de-
sestruturado, falho, que acabou sobrecarregando uma infraestrutura existente.

Diante disso, é de grande importância que haja um controle em relação ao


espraiamento urbano - por exemplo, reduzindo-se as distâncias de deslocamentos
e os custos do transporte, inserindo-se, juntamente com o planejamento urbano,
princípios que inibam o crescimento desordenado.

Os problemas de baixa renda da população, somados ao desemprego, acabam


expulsando as camadas mais pobres para as zonas mais longínquas e periféricas da
cidade, provocando, dessa maneira, o fenômeno de dispersão urbana.
Explor

Veja o fenômeno de dispersão urbana no link a seguir: https://goo.gl/NXKjGo.

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As cidades, que estão em constantes transformações, que são obras inacaba-


das, foram objetos de extrema intervenção e exploração do homem. Dentro dessa
perspectiva de organização espacial de uma cidade, seja ela grande ou média,
é necessária e fundamental, num processo de complementação e qualificação
intraurbano da estrutura territorial, a estrutura de transportes, de equipamentos
urbanos, de infraestrutura e de serviços. Toda essa organização é entrelaçada,
inter-relacionada num processo simbiótico, que se comunica entre si de tal forma
que a alteração de um elemento ou de uma relação altera os demais elementos e
todas as demais relações. Nota-se o forte deslocamento de pessoas, tanto como
portadoras de força de trabalho (deslocamento casa-trabalho), quanto como con-
sumidoras (deslocamento casa-compra, casa-lazer, casa-escola). Villaça (1998) ex-
prime que esses atores também influenciam no processo estruturador do espaço
intraurbano, pois acumulam deslocamentos.

Planejamento Urbano
O planejamento urbano nasce das preocupações do desenvolvimento e cresci-
mento dos núcleos urbanos, das novas oportunidades de trabalho – aumento da
população urbana (Êxodo Rural) e das novas tecnologias para infraestrutura das
cidades: energia, transporte, acesso, etc.

Planejar é antes de tudo a noção de clareza dos objetivos a serem alcançados, os


quais só poderão ser atingidos se interferirmos nas regras e maneiras como a terra
é urbanizada, infraestruturada e ocupada. Planeja-se para identificar, coletivamen-
te, objetivos a serem atingidos para problemas e desafios que se apresentam para
uma cidade ou comunidade (MINISTÉRIO DAS CIDADES, 2001).

Esse provento de ideias e ações visa barrar ou limitar o crescimento desordena-


do do espaço urbano, que gera, entre outras preocupações:
• necessidade de moradia perto do trabalho (rural para urbano);
• meio urbano como oportunidade de mudança de qualidade de vida;
• poucos recursos para construção;
• aglomeração de pessoas com cultura, recursos e necessidades diferentes;
• nova concepção de produção.

Assim, pode-se culminar em uma qualidade de vida da população comprometida


pela inexistência de salubridade das moradias e espaços públicos. Ademais, o pro-
cesso de planejamento urbano e as consequentes inquietações dos profissionais da
área perante a urbanização são:
• nova realidade exige novas estratégias;
• saúde e qualidade de vida – detritos/insalubridade;
• crescimento demográfico e índice de mortalidade;
• exploração: dominados/dominantes;

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• dirigentes públicos;
• médicos sanitaristas;
• tecnologia X falta de infraestrutura;
• padrão habitacional insalubre.

Devidas soluções podem ser adotadas para solução de problemas por falta de
planejamento. Para alguns itens pontuados anteriormente, pode-se, por exemplo,
estabelecer:
• Regras de salubridade para construção de residências:
» dimensões mínimas para janelas e portas;
» obrigatoriedade de recuos e áreas permeáveis.
• Regras de salubridade para as cidades:
» dimensões mínimas para vias e calçadas;
» infraestrutura mínima (drenagem, detritos, mobiliário urbano, etc.);
» aumentar a segurança urbana (iluminação e circulação).

Quais seriam as possíveis soluções para os demais itens listados anteriormente? Faça uma
Explor

reflexão com base nas referências e nos conceitos tratados no material.

Assim, um novo planejamento urbano se configura diante das novas necessidades


impostas pelas cidades. Desse modo, o desenho urbano passa por novas transforma-
ções, ou seja, a morfologia urbana das cidades precisa ser reinventada e restruturada.

Segundo Holanda et al (2000), falar em forma urbana ou espaço urbano reme-


te, necessariamente, à abordagem dos processos de organização social na cidade a
partir de suas características configurativas. Sendo assim, surge uma nova realidade
urbana, com novas leis para atender à constante expansão das cidades, atrelada a
novos locais para equipamentos urbanos, bem como normas rígidas para edifica-
ção e estruturação de planos urbanísticos.

Essa dinâmica do espaço que deve ser ordenada por meio do planejamento ur-
bano possui algumas vertentes metodológicas, as quais Vasconcellos (1999) divide
da seguinte maneira:
• Planejamento Urbano: as formas como o solo será ocupado. É uma atividade
coordenada pelo Estado com o objetivo de interferir no crescimento da cidade;
• Planejamento de Transporte: processo cujo objetivo, no sentido amplo, é de-
senvolver um sistema de transporte que vai permitir às pessoas e mercadorias
trafegarem com segurança e, além disso, as viagens devem ser confortáveis
e convenientes. É um processo dinâmico, no sentido de que deve responder
a tempo às mudanças no uso dos solos, às condições econômicas e padrões.

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UNIDADE Introdução aos Estudos Urbanos

• Planejamento de Circulação: ordenação do espaço, cuja divisão deve ser feita


entre base física (vias, leito carroçável, calçadas etc.), base operacional (estru-
tura administrativa) e sua apropriação propriamente dita.

Os autores pontuam também os conceitos de macro acessibilidade, micro aces-


sibilidade, fluidez e segurança, itens que são fundamentais na ordenação do espaço
e no estudo de projetos urbanos.

Importante! Importante!

Equipamentos urbanos: definição perante a NBR 9284: “Todos os bens públicos e priva-
dos, de utilidade pública, destinados à prestação de serviços necessários ao funciona-
mento da cidade, implantados mediante autorização do poder público, em espaços
públicos e privados.”

Problematização das Cidades Brasileiras


O grande desafio para os gestores e profissionais da área de planejamento, além
de tratar de inúmeros entraves preexistentes em nossas cidades, está no difícil pro-
cesso de trabalhar com a movimentação de pessoas e no deslocamento das mes-
mas. Esse fato deve, ou deveria, ser sempre orientado em projetar as cidades para
as pessoas, visando, assim, alcançar soluções otimizadas para minimizar as conse-
quências dos atuais problemas com o crescimento das cidades.

Segundo Maricato (2013), são inúmeras as fontes de limitações à elaboração de


propostas alternativas (democráticas ou igualitárias) para as cidades brasileiras. Isso
vale desde a impossibilidade de tomar o ambiente construído independentemente
de quem o constrói, até na grande dificuldade em lidar com os processos de admi-
nistração pública. (MARICATO, 2013)

Essas inúmeras complicações perpassam diversos setores da área de planeja-


mento urbano, sendo que todos eles têm forte relação entre si, ou seja, toda essa
organização espacial de uma cidade é entrelaçada, inter-relacionada num processo
simbiótico, que se comunica entre si de tal forma que a alteração de um elemento
ou de uma relação altera os demais elementos e todas as demais relações.

De fato, a problematização das cidades brasileiras é reflexo de falhas no sistema


e de incertezas de ações. Essas ações estão vinculadas aos setores de mobilidade
urbana (equalização do espaço viário, transporte público, acessibilidade); infraestru-
tura urbana (água, luz, esgoto, drenagem); equipamentos urbanos (escolas, postos
de saúde, lazer); habitação (ocupações irregulares, especulação imobiliária, con-
trole de adensamento); meio ambiente (áreas de preservação, controle ambiental);
uso e ocupação do solo (impactos em meio urbano, tipos de empreendimentos,
verticalização, vetores de crescimento orientados pelo transportes).

Fica claro que os problemas se processam de forma aleatória, randômica, em


qualquer setor, independentemente da situação. Dessa forma, é ainda mais notório

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que o planejamento seja algo estruturado e não improvisado para atender apenas
inicialmente a uma falha. Ou seja, não pode ser uma ação meramente paliativa.

Assim, os problemas vinculados às cidades brasileiras têm relação direta com


infraestrutura, ou com a falta dela em certos casos. Na organização espacial de
uma cidade, seja ela grande ou média, é necessário e fundamental, num processo
de complementação e qualificação intraurbano da estrutura territorial, a estrutura
de transportes, de equipamentos urbanos, de infraestrutura e serviços.

Infraestrutura Urbana
Conceitualmente, infraestrutura urbana é um conjunto de sistemas técnicos de
equipamentos e serviços necessários ao desenvolvimento das funções urbanas.
Zmitrowicz e Angelis Neto (1997) definem estas funções sob os seguintes aspectos:
• aspecto social: visa promover adequadas condições de moradia, trabalho,
saúde, educação, lazer e segurança;
• aspecto econômico: deve propiciar o desenvolvimento de atividades de pro-
dução e comercialização de bens e serviços;
• aspecto institucional: deve oferecer os meios necessários ao desenvolvimen-
to das atividades político-administrativas da própria cidade.

Esses sistemas técnicos são compostos por: sistema viário, abastecimento de


água potável, sistema de esgotamento sanitário, drenagem urbana, rede de energia
elétrica, telefone e/ou comunicações. Obviamente, toda essa infraestrutura é abar-
cada por um planejamento que está diretamente ligado às formas de intervenção
conectadas aos deslocamentos dentro das cidades. Segundo Vasconcellos (2000),
esse planejamento da infraestrutura urbana pode ser identificado através do pla-
nejamento urbano (que define a forma como o espaço deve ser ocupado), plane-
jamento de transportes (que define a infraestrutura de circulação, que permitirá a
mobilidade das pessoas e mercadorias) e, por fim, planejamento da circulação (que
define como a estrutura viária será utilizada pelas pessoas e veículos).
Explor

Veja os elementos de infraestrutura urbana no link a seguir: https://goo.gl/RALGXp

Abordando especificamente cada sistema técnico, nota-se a peculiaridade em


cada um deles. Vejamos:

Sistema Viário
Espaço destinado à circulação de veículos, pessoas e bens, desde que devidamente
segregados. Fazem parte desse sistema: rede de esgotamento, águas pluviais e
pavimentação. O sistema de vias pode ser compreendido entre leito carroçável –
local onde os veículos automotores circulam, passeio público (pedestres), ciclovias
e ciclofaixas, bem como espaços destinados à vegetação e mobiliário urbano.

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O sistema viário é objeto de divisão hierárquica, ou seja, as vias possuem clas-


sificações, sendo elas: expressas, artérias, coletoras e locais. Cada uma com suas
características operacionais, quanto à localização e diversidades do tráfego, confor-
me Figura 2 a seguir:

Figura 2 – Hierarquia viária


Fonte: Velázquez, 2018

Um sistema de abastecimento de água caracteriza-se pelas seguintes etapas:


• remoção;
• adequação;
• transporte;
• fornecimento.

Assim, cada etapa possui sua especificidade, como: retirada da água da nature-
za, adequação de sua qualidade, transporte até os aglomerados humanos e forneci-
mento à população em quantidade compatível com suas necessidades.

Todo esse sistema constitui-se no conjunto de obras, instalações e serviços des-


tinados a produzir e distribuir água a uma comunidade, em quantidade e qualidade
compatíveis com as necessidades da população, para fins de consumo doméstico,
serviços públicos, consumo industrial e outros usos (Manual de Saneamento, 2004).

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Sistema de Esgotamento Sanitário
Compõem suas atribuições coletar, afastar e tratar os esgotos sanitários, sem
comprometer o meio ambiente. Vale reforçar que a Estação de Tratamento de
Esgoto (ETE) remove as cargas poluentes do esgoto através de processos físicos,
químicos ou biológicos, devolvendo ao ambiente o produto final, efluente tratado,
em conformidade com os padrões exigidos pela legislação ambiental.

O tratamento de esgotos domésticos é dividido em tratamento preliminar (onde


são utilizadas grades, peneiras ou caixas de areia para reter os resíduos maiores e
impedir que haja danos às próximas unidades de tratamento); tratamento em nível
primário (sedimentados os sólidos em suspensão que vão se acumulando no fundo
do decantador, formando o lodo primário, que depois é retirado para dar continui-
dade ao processo); secundário (podendo ser aeróbio e anaeróbio) e terciário (onde
são removidos poluentes específicos como os micronutrientes fósforo e nitrogê-
nio). (SABESP, 2018)

Drenagem Urbana
Seu principal objetivo é realizar adequado escoamento das águas pluviais, não
comprometendo a segurança de quem trafega em espaço público, seja por meio de
locomoção automotiva ou corporal.

Rede de Energia Elétrica


Tem por objetivo, por meio de energia primária (represas, por exemplo), reali-
zar a conversão em energia elétrica, através de conexões, e transmiti-las a cidades,
bairros e residências de forma eficiente e segura, bem como para indústrias e de-
mais fins.

Rede de Comunicações
Rede de telefonia, televisão, internet e demais conexões, com o intuito de esta-
belecer facilidade e rapidez no processamento de informações, viabilizando, assim,
melhores condições de interação entre as pessoas.

Diante de todos esses pontos discriminados, fica evidente a importância de cada


um desses vetores no processo de planejamento urbano das cidades, bem como na
organização espacial e na qualidade de vida das pessoas. A infraestrutura é peça
chave nesse processo e quando bem definida e implantada, resulta em satisfação
em todos os entes envolvidos numa dinâmica urbana cotidiana.

Leia mais sobre infraestrutura no processo de planejamento para cidades mais eficientes e
Explor

inteligentes: https://goo.gl/y7ggmN

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UNIDADE Introdução aos Estudos Urbanos

Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:

 Livros
A rede urbana
CORRÊA, Roberto L. A rede urbana. São Paulo: Ática, 1989.
Espaço intraurbano no Brasil
VILLAÇA, Flávio. Espaço intraurbano no Brasil. 2ª ed. São Paulo: Studio Nobel,
FAPESP, Lincoln Institute, 1998.
O processo de urbanização no Brasil
SCHIFFER, S. R; DEÁK, C. O processo de urbanização no Brasil. 2ª ed. atualizada.
São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2010.
Primeira lição de urbanismo
SECCHI, B. Primeira lição de urbanismo. 1ª ed. São Paulo: Perspectiva, 2016.

 Leitura
Subsídios à caracterização e tendências da rede urbana do Brasil: configuração e dinâmica da rede urbana
https://goo.gl/SB8A5Q

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Referências
BRASIL. Fundação Nacional de Saúde. Manual de saneamento. 3ª ed. rev.
Brasília: Fundação nacional de Saúde, 2004. Disponível em: <http://bvsms.saude.
gov.br/bvs/publicacoes/manual_saneamento_3ed_rev_p1.pdf>. Acesso em: 14
jul. 2018.

HOLANDA, F; KOHLSDORF, M. E; FARRET, R. L; CORDEIRO, S. H. C.


Revista Brasileira de Estudos Urbanos e Regionais. Ano 2, nº 3, out. 2000.
Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Planejamento Urbano e
Regional (ANPUR), Editora Norma Lacerda, 2000.

MARICATO, Ermínia. Brasil, cidade: alternativas para a crise urbana. 7ª ed.


Petrópolis: Vozes, 2013.

SANTOS, Milton. Técnica, espaço, tempo: globalização e meio técnico-científico-


informacional. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2008.

VASCONCELLOS, Eduardo A. Circular é preciso, viver não é preciso: a história


do trânsito na cidade de São Paulo. São Paulo: Annablume, 1999.

VASCONCELLOS, Eduardo A. Transporte urbano nos países em


desenvolvimento: reflexões e propostas. 3ª ed. São Paulo: Annablume, 2000.

ZMITROWICZ, Witold e ANGELIS NETO, G. de. Infraestrutura urbana. Escola


Politécnica da USP. São Paulo, 1997.

Website:

Ministério das Cidades. Capacidades. Disponível em: <www.capacidades.gov.


br/>. Acesso em: 14 jul. 2018.

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