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Algumas Concepções Teóricas sobre o Espaço Rural e Urbano
Revisão Técnica:
Profa. Dra. Vivian Fiori
Revisão Textual:
Profa. Ms. Luciene Oliveira da Costa Santos
Algumas Concepções Teóricas sobre o
Espaço Rural e Urbano
• Introdução
• O Espaço Geográfico
• Conceitos Básicos do Espaço Rural e Urbano
• A Questão Agrícola e Agrária
OBJETIVO DE APRENDIZADO
· Tratar das concepções teóricas sobre o rural e o urbano;
· Discutir a concepção de espaço;
· Tratar das diferenças entre as questões agrária e agrícola.
Orientações de estudo
Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem
aproveitado e haja uma maior aplicabilidade na sua
formação acadêmica e atuação profissional, siga
algumas recomendações básicas:
Conserve seu
material e local de
estudos sempre
organizados.
Aproveite as
Procure manter indicações
contato com seus de Material
colegas e tutores Complementar.
para trocar ideias!
Determine um Isso amplia a
horário fixo aprendizagem.
para estudar.
Mantenha o foco!
Evite se distrair com
as redes sociais.
Seja original!
Nunca plagie
trabalhos.
Não se esqueça
de se alimentar
Assim: e se manter
Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte hidratado.
da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e
horário fixos como o seu “momento do estudo”.
No material de cada Unidade, há leituras indicadas. Entre elas: artigos científicos, livros, vídeos e
sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você também
encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua
interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados.
Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discussão,
pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o contato
com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e aprendizagem.
UNIDADE Algumas Concepções Teóricas sobre o Espaço Rural e Urbano
Introdução
Nesta unidade, vamos tratar sobre a categoria espaço geográfico e, principal-
mente, algumas concepções sobre os espaços urbano e rural.
O Espaço Geográfico
As diferentes disciplinas acadêmicas possuem sistemas de categorias e conceitos
que oferecem coerência e operacionalidade às pesquisas realizadas em cada área
do conhecimento.
Como afirma Milton Santos (2008b, p. 12): “Falar sobre o espaço é muito
pouco se não buscamos defini-lo à luz da história concreta. Falar simplesmente do
espaço, sem oferecer categorias de análise, é também insuficiente”.
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Esse autor se inscreve no movimento de renovação da Geografia, iniciado
na década de 1970, que refuta as práticas científicas da Geografia Tradicional e
propõe uma teorização para a disciplina pautada nas teorias sociais críticas, como
o marxismo.
Figura 1
Fonte: iStock/Getty Images
Milton Santos propõe que o espaço geográfico seja entendido como “[...] conjun-
to indissociável, solidário e também contraditório, de sistemas de objetos e sistemas
de ações” (2006, p. 63). Nessa concepção, o espaço geográfico é entendido como
um híbrido entre as formas espaciais e os conteúdos sociais que lhes dão sentido. As
formas espaciais correspondem à materialidade do espaço geográfico: edifícios, cida-
des, rodovias, ferrovias, redes de energia elétrica e telecomunicações, entre outros.
O conteúdo social, por sua vez, diz respeito aos fatores político-jurídicos,
econômicos e culturais que condicionam o uso das formas espaciais. Como
exemplo, é possível pensar em uma região especializada na produção de uma
commodity agrícola, como a soja.
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Caso a análise fique restrita ao sistema de objetos, o resultado será uma descrição
da configuração territorial dessa região, isto é, um retrato estático da distribuição
espacial de objetos e pessoas. Sem levar em consideração os conteúdos sociais
dessa região, não é possível compreender os processos históricos e as dinâmicas
atuais que comandam a evolução regional.
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A valorização excessiva de um aspecto em detrimento de outro pode comprometer
a avaliação de como os aspectos específicos influenciam na peculiaridade de cada
lugar ou região.
Essa visão de que o espaço geográfico seria um mero receptáculo das ações
da sociedade levou a um questionamento sobre a importância da Geografia como
disciplina científica. Na década de 1990, costumava-se afirmar que a globalização
teria eliminado a importância do espaço geográfico, já que os fluxos financeiros
prescindiriam dos territórios nacionais, das regiões e dos lugares.
Essa proposta trata o espaço geográfico como uma instância social, isto é, como
uma dimensão que condiciona o futuro das sociedades. Como dissemos, o espaço
geográfico é produzido a partir de intencionalidades de projetos sociais e se realiza
por meio da técnica e do trabalho. Ao mesmo tempo, o espaço produzido participa
ativamente do movimento social do presente, influenciando a evolução histórica
das sociedades.
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Figura 3
Fonte: Wikimedia Commons
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• E o processo, o movimento histórico que transforma continuamente todas as
dimensões do espaço geográfico.
Figura 4
Fonte: iStock/Getty Images
De acordo com José Eli da Veiga (2006), há duas hipóteses centrais nessa
discussão. A primeira, formulada pelo filósofo Henri Lefebvre, defende que o par
industrialização-urbanização promove uma ruptura nas relações historicamente
constituídas entre campo e cidade, trazendo como consequência o avanço inexorável
das áreas urbanas sobre as áreas rurais.
Para esse autor, a principal tendência é que o campo seria submetido às cidades
pela difusão de sistemas técnicos e valores culturais eminentemente urbanos.
Além da expansão das cidades sobre o entorno rural, o campo teria suas
características originais esvaziadas, já que a rápida urbanização da sociedade e do
território disseminaria o modo de vida urbano. O campo perderia a possibilidade
de decidir sobre seu próprio futuro, já que as racionalidades que comandam seu
desenvolvimento estariam localizadas nas cidades.
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Outros autores, por sua vez, defendem que há um “novo rural” em consolidação,
marcado por atividades não agrícolas, como é o caso do economista José Graziano
da Silva (1999). A divisão entre ‘urbano e rural’ e entre ‘cidade e campo’ é fundada
em divisões técnicas, sociais e territoriais do trabalho. Historicamente, o campo
deteve a centralidade do processo produtivo, enquanto a cidade abrigava as funções
religiosas, administrativas e militares.
No Brasil, o campo foi responsável pelo dinamismo econômico até o século XIX
aproximadamente. Nesse período, “tratava-se muito mais da geração de cidades, que
mesmo de um processo de urbanização” (SANTOS, 2008, p. 22), já que a economia
agroexportadora não permitia o desenvolvimento expressivo de áreas urbanas.
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Figura 5 – Plataforma petrolífera P-51 da Petrobras, a primeira 100% brasileira
Fonte: Wikimedia Commons
Quais critérios podem ser utilizados para diferenciar urbano e rural, cidade e campo?
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Figura 6
Fonte: iStock/Getty Images
Alguns autores questionam a real parcela das cidades que podem ser consideradas
urbanas, já que muitas das pequenas cidades do país ainda têm dinâmicas econômicas
essencialmente rurais.
Ângela Endlich (2006) coloca que há quatro critérios empregados para distinguir
áreas rurais de áreas urbanas:
• Leis e normas nacionais que definem cidade e campo, como citado anteriormente;
• Patamar demográfico, ou seja, a cidade é considerada de acordo com uma
aglomeração populacional, sendo o campo marcado pela dispersão de pessoas;
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• A concentração urbana ou a dispersão rural aparecem em relação à área
ocupada pelas cidades ou pelo campo;
• O campo concentra as atividades primárias, sobretudo a agricultura e a
pecuária, e na cidade há as atividades secundárias e terciárias.
No entanto, o campo acolhe cada vez mais atividades não agrícolas, como
serviços dos mais variados segmentos. Há, dessa forma, uma dificuldade cada vez
maior em conceituar o campo a partir dessa definição de atividades econômicas,
já que a modernização agrícola leva para o campo um conjunto de atividades
tipicamente industriais, além dos serviços que caracterizariam o “novo rural”.
Os limites entre urbano e rural, campo e cidade são cada vez mais tênues no
atual período. De acordo com Ariovaldo Oliveira (2008, p. 474-475), “o processo
de industrialização da agricultura tem eliminado gradativamente a separação entre
a cidade e o campo, entre o rural e o urbano, unificando-os dialeticamente”. É
preciso, portanto, compreender os usos do território a partir da ideia de totalidade,
isto é, perceber que os processos territoriais não se realizam apenas em áreas
urbanas ou áreas rurais.
Toda cidade tem um entorno rural que é sua área de influência. Enquanto esse
entorno rural desempenha um conjunto de atividades – agrícolas e não agrícolas – é a
cidade que acolhe as funções de decisão, comando e cooperação com outras escalas.
O campo poderia ser visto, então, como a área polarizada por uma cidade,
que participa de redes urbanas com características mais ou menos hierárquicas, a
depender da situação geográfica em questão. Para exemplificar, podemos voltar
à região especializada na produção de soja: são as cidades dessa região que
oferecem os serviços necessários à realização dessa produção, como encomenda
de maquinário agrícola, recrutamento de trabalhadores especializados, acesso ao
crédito por meio de agências de instituições financeiras, bem como um conjunto
de atividades cotidianas que o campo não dispõe (residências, comércios,
supermercados, restaurantes, atividades de lazer e entretenimento, entre outros).
Essas cidades locais – denominadas dessa forma por responderem aos ritmos de
produção desse entorno mais restrito – estão em permanente contato com cidades
médias, que oferecem serviços com maior nível de sofisticação, e metrópoles, que
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A questão agrária, por sua vez, está relacionada às “relações de produção: como
se produz, de que forma se produz” (idem). Dessa forma, uma crise agrária estaria
relacionada a questões como disputas pelo acesso a terra, a concentração fundiária
por poucos latifundiários, o rendimento dos trabalhadores do campo, entre outras.
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A estrutura agrária – a distribuição social das terras – é um dos temas fundamentais
dessa questão. O autor chama a atenção para o fato de que, se as duas questões
não forem consideradas, as crises do campo podem se agravar, mesmo quando há
políticas para solucionar uma das questões.
Em suma, o percurso das políticas brasileiras para o campo nas últimas décadas
primou pela resolução da chamada questão agrícola, mas aprofundou ainda mais
os problemas referentes à questão agrária.
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Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
Livros
Boletim Geográfico
GOMES, Ivair. O que é rural? Contribuições ao debate. Boletim Geográfico. Maringá,
v. 31, n. 3, p. 81-95, set.-dez., 2013.
Leitura
Revista Mercator
HESPANHOL, Rosangela A. de Medeiros. Campo e cidade, rural e urbano no Brasil
contemporâneo. Revista Mercator. Fortaleza, v. 12, número especial (2), set. 2013,
p. 103-112.
https://goo.gl/3o9XwA
Revista de Pesquisa Fapesp
IZIQUE, Cláudia. O novo rural brasileiro. Revista de Pesquisa Fapesp. Humanidades,
Economia, 2000.
https://goo.gl/g6WgTE
São Paulo em Perspectiva
SILVA, Ligia Osório. As leis agrárias e o latifúndio improdutivo. São Paulo em
Perspectiva (online), 11(2) 1997.
https://goo.gl/PVUBCQ
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Referências
BERNARDELLI, Maria Lúcia Falconi da Hora. Contribuição ao debate sobre o
urbano e o rural. In: SPOSITO, Maria Encarnação Beltrão; WHITACKER, Artur
Magon (orgs.). Cidade e campo: relações e contradições entre urbano e rural. São
Paulo: Expresso Popular, 2006.
ENDLICH, Ângela. Perspectivas sobre o urbano e o rural. In: SPOSITO, Maria En-
carnação & KAYSER, Bernard. La renaissance rurale. Paris: Armand Colin, 1990.
SILVA, José Graziano da. O que é questão agrária. São Paulo: Brasiliense, 1980.
VEIGA, José Eli da. Cidades imaginárias. Campinas: Autores Associados, 2002.
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