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Material Teórico
Reforma Agrária e Lutas no Campo no Brasil
Revisão Técnica:
Profa. Dra. Vivian Fiori
Revisão Textual:
Profa. Esp. Kelciane da Rocha Campos
Reforma Agrária e Lutas
no Campo no Brasil
• Introdução
• A Modernização Conservadora
• Reforma Agrária e Lutas no Campo
OBJETIVO DE APRENDIZADO
· Tratar da questão da reforma agrária e as lutas no campo no Brasil.
· Destacar a violência e os movimentos sociais no campo.
Orientações de estudo
Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem
aproveitado e haja uma maior aplicabilidade na sua
formação acadêmica e atuação profissional, siga
algumas recomendações básicas:
Conserve seu
material e local de
estudos sempre
organizados.
Aproveite as
Procure manter indicações
contato com seus de Material
colegas e tutores Complementar.
para trocar ideias!
Determine um Isso amplia a
horário fixo aprendizagem.
para estudar.
Mantenha o foco!
Evite se distrair com
as redes sociais.
Seja original!
Nunca plagie
trabalhos.
Não se esqueça
de se alimentar
Assim: e se manter
Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte hidratado.
da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e
horário fixos como o seu “momento do estudo”.
No material de cada Unidade, há leituras indicadas. Entre elas: artigos científicos, livros, vídeos e
sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você também
encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua
interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados.
Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discussão,
pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o contato
com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e aprendizagem.
UNIDADE Reforma Agrária e Lutas no Campo no Brasil
Introdução
Nesta unidade, vamos tratar da questão das desigualdades e da modernização
conservadora existente no Brasil, pois apesar das transformações empreendidas na
agricultura as condições sociais no campo continuam com vários problemas, com
a expropriação de trabalhadores e concentração de terras nas mãos de poucos.
A Modernização Conservadora
Nas últimas décadas houve profundas transformações dos usos agrícolas do ter-
ritório brasileiro. Essas mudanças estão diretamente associadas ao amplo processo
de modernização do país, que se acelerou na segunda metade do século XX.
É o caso, entre outros, dos indígenas e das comunidades quilombolas que, com a
modernização da agricultura e o avanço das fronteiras agrícolas nas últimas décadas,
vêm tendo seus direitos territoriais sistematicamente negados. É constante, na
história do território brasileiro, a expulsão desses grupos de suas terras, com o uso
de intensa violência, por latifundiários e grileiros, além dos contextos de realização
de grandes projetos de infraestrutura, como a construção de hidrelétricas.
Todos esses agentes sociais, porém, vêm se organizando com o intuito de resistir ao
avanço da modernização conservadora que vem ocorrendo no país. São os casos dos
posseiros, dos arrendatários, dos sem-terra, dos seringueiros da Floresta Amazônica,
dos atingidos por barragens, dos indígenas e dos quilombolas, entre outros.
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Como comenta Fernandes (2007, p. 141):
Essas resistências têm duas motivações principais: se contrapor à expulsão
das terras que esses grupos ocupam e buscar obter a posse de parcelas
de terra para a produção camponesa, como é o caso dos sem-terra.
As lutas camponesas para ficar na terra – principalmente a resistência dos
posseiros na Amazônia, através dos sindicatos de trabalhadores rurais – ou
entrar nela – especialmente as ocupações no Nordeste e no Centro-Sul –
compõem as diferentes formas de resistência do campesinato brasileiro.
Essas lutas, que vêm ocorrendo há décadas em todo o território brasileiro, estão
na origem de diversos movimentos sociais que se opõem ao modelo dominante de
expansão e modernização da agricultura do país, voltada para o aprofundamento
da lógica do agronegócio, e defendem a realização de uma verdadeira reforma
agrária no Brasil.
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UNIDADE Reforma Agrária e Lutas no Campo no Brasil
Veja o gráfico a seguir, elaborado por Eduardo Paulo Girardi (2008, p. 32),
evidenciando a questão de trabalhadores escravos no Brasil. Como explica o autor:
Outra forma de violência contra o trabalhador rural brasileiro é a
escravidão. Em sua forma contemporânea, a escravidão no campo
brasileiro usa como principal instrumento de controle a dívida impagável
e crescente, a coação física e psicológica, a apreensão de documentos e
o isolamento geográfico. Os trabalhadores escravizados são aliciados em
regiões distantes do local de trabalho. Não há caráter racial. A duração da
escravidão do trabalhador é indeterminada, mas geralmente temporária. Os
trabalhadores são submetidos a longas jornadas de trabalho e a condições
subumanas de alimentação, moradia e salubridade. O trabalho escravo é
empregado principalmente em tarefas pesadas como o desmatamento,
limpeza de pastos (arrancar tocos), produção de carvão e corte de cana.
Figura 1
Fonte: uff.br
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Como se evidencia no gráfico, no começo dos anos 1990 o número de
trabalhadores escravos denunciados pela Comissão de Pastoral da Terra (CPT) era
bastante alto. Como as normas governamentais passaram a coibir e fiscalizar mais
estes casos os números foram diminuindo, mas ainda são elevados nos dias atuais.
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Figura 2
Fonte: mst.org.br
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O movimento utiliza duas estratégias principais de atuação: os acampamentos,
normalmente às margens de rodovias, que concentram famílias sem-terra com o
intuito de evidenciar a precariedade das condições de vida desses trabalhadores e
pressionar o poder público a realizar desapropriações e assentamentos para essas
famílias; e as ocupações de latifúndios, com o objetivo de denunciar o desrespeito à
função social da propriedade e a concentração fundiária brasileira, além de buscar
reverter essas terras para as famílias do movimento.
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Por outro lado, o caráter punitivo aos latifundiários foi abandonado nas
formulações posteriores ao PNRA. De acordo com Medeiros (2003), o debate
passou a se centrar na produtividade dos estabelecimentos, e não mais no tamanho
exacerbado das propriedades. As implicações sociais e territoriais perversas da
existência de latifúndios – e a consequente concentração da estrutura fundiária –
perderam espaço no debate sobre a questão agrária.
A influência dos ruralistas, por outro lado, se fez presente de forma ainda mais
incisiva, e a Constituição de 1988 tratou a reforma agrária de forma relativamente
tímida. Para Ariovaldo Oliveira (2001, p. 192), os latifundiários, representados
pela UDR, “ganharam, e fizeram do capítulo da Reforma Agrária um texto legal
de menor expressão que o próprio Estatuto da Terra”, lei aprovada no início da
ditadura militar. Várias medidas constantes na Constituição de 1988 se opõem
às concepções dos defensores da reforma agrária. Medeiros (2003) cita que as
desapropriações passaram a ser realizadas com indenizações a partir do valor de
mercado das propriedades e se incorporou a necessidade de uma regulamentação
posterior, que só ocorreu cinco anos mais tarde, para que pudessem ser realizadas.
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A Lei Agrária ainda manteve alguns pontos controversos, tornando as desapropriações
passíveis de discussões judiciais. O mais significativo deles diz respeito à tensão existente
entre os requisitos para o cumprimento da função social e a definição de que terras
produtivas não poderiam ser desapropriadas. Além disso, ao contrário das desapropriações
por utilidade pública, em que o proprietário só tinha condições de discutir na Justiça o valor
fixado para o ressarcimento, no caso das terras para fins de reforma agrária o proprietário
poderia levar aos tribunais o julgamento do mérito.
(Fonte: MEDEIROS, 2003, p. 42.)
Oficialmente, nove pessoas foram mortas, mas há relatos de que houve dezenas
de execuções sumárias, além de torturas físicas e psicológicas. Em 1996, a violência
explodiu em Eldorado dos Carajás, no Pará. Mil e quinhentos trabalhadores do
MST estavam acampados na Fazenda Macaxeira, exigindo a desapropriação da
propriedade e sua destinação para a reforma agrária, quando policiais militares
cercaram o acampamento e começaram a atirar em direção aos sem-terra. Dezenove
trabalhadores foram assassinados e sessenta e nove ficaram gravemente feridos.
Figura 3
Fonte: anistia.org.br
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Entre outras medidas, destaca-se a Portaria MDA nº. 62, de 2001, que exclui
dos possíveis beneficiários da reforma agrária todos aqueles que participem da
ocupação de imóveis rurais (OLIVEIRA, 2001, p. 202). O Banco da Terra foi
o programa agrário de maior destaque na gestão FHC e buscou concretizar, no
Brasil, uma “reforma agrária de mercado”.
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Para Sérgio Sauer (2010), o discurso que buscava legitimar a “reforma agrária de
mercado” tinha três bases principais. A primeira era uma crítica às desapropriações
de imóveis rurais: os defensores do modelo afirmavam que essas desapropriações
eram extremamente caras e demoradas e, portanto, a negociação direta entre
proprietários fundiários e sem-terra seria mais eficiente.
Por conta dessa suposta restrição orçamentária, seria mais vantajoso contrair
empréstimos internacionais do Banco Mundial para implantar a “reforma agrária
de mercado”.
Por fim, defendia-se que os movimentos sociais do campo sempre haviam ditado
as regras das políticas agrárias brasileiras: suas pressões definiriam as realizações de
assentamentos e, dessa forma, as ocupações de propriedades privadas ganhariam
força crescente.
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Figura 4
Fonte: socioambiental.org
Para termos uma ideia do alcance dos problemas agrários brasileiros, podemos
citar o número de pessoas assassinadas em conflitos agrários no país: de acordo
com a Comissão Pastoral da Terra, foram 331 mortos entre 2004 e 2013, a
maioria trabalhadores sem-terra que lutavam pela reforma agrária.
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Mortes no campo no Brasil
Só em 2017, contando as últimas vítimas, foram mortas 36 pessoas, segundo cálculos da
CPT, um terço delas no Pará. Em abril, nove trabalhadores rurais foram assassinados por
pistoleiros encapuzados num acampamento em Mato Grosso, acendendo, mais uma vez,
o alerta de conflitos por terra no Brasil. A região, no meio da floresta Amazônica, estava
ocupada por cerca de 100 famílias desde os anos 2000 e é alvo de madeireiros e disputada
por fazendeiros, que buscam áreas para a criação de gado.
“Os latifundiários estão cada vez mais querendo ampliar essa concentração de propriedades
porque o agronegócio e as corporações multinacionais estão muito interessados em
arrendar essas terras, com o beneplácito do Governo. A fronteira amazônica que pega Mato
Grosso, Rondônia e Pará é a fronteira agrícola do Brasil, para onde os latifundiários querem
se expandir, e onde mais assassinatos de posseiros, camponeses e indígenas estamos vendo.
Se eles resistem são eliminados”, lamenta Mançano.
O relatório de violência de 2016 da CPT revelou uma média de cinco assassinatos por mês
com 61 mortes de quilombolas, indígenas, líderes e integrantes dos movimentos sem-terra.
É um aumento de 22% das mortes em comparação com 2015. O informe também denuncia
a criminalização dos movimentos do campo. Houve um aumento de 86% nas ameaças de
morte, de 68% nas tentativas de assassinato e de 185% das prisões. Entre 1985 e 2016
1.834 pessoas perderam a vida em conflitos no campo, mas, segundo a organização, apenas
31 mandantes desses assassinatos foram condenados.
Fonte: Texto literal extraído de MARTIN, Maria. Chacina no Pará escancara escalada da barbárie
em conflitos agrários no Brasil. Jornal El Pais (online), 27 de maio de 2017. https://goo.gl/MqEbXi
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Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
Sites
Brasil tem Recorde de Assassinatos em Conflitos por Terra nos Primeiros Meses de 2017
GLOBO. G1. Brasil tem recorde de assassinatos em conflitos por terra nos
primeiros meses de 2017, segundo a CPT. Política, Jornal Online, G1, 2017.
https://goo.gl/M6ytju
Leitura
Conflitos no Campo
COMISSÃO PASTORAL DA TERRA (CPT). Conflitos no campo – 2015. Goiânia:
CPT, Centro de Documentação Dom Tomás Balduino, 2016.
https://goo.gl/jJEe6b
Atlas da Questão Agrária Brasileira: Uma Análise dos Problemas Agrários Através do Mapa
GIRARDI, Paulo. Atlas da questão agrária brasileira: uma análise dos problemas
agrários através do mapa. UFMT, 2008.
https://goo.gl/35T8VQ
Reforma Agrária e Lutas no Campo
MEDEIROS, Leonilde. Reforma agrária e lutas no campo. Carta Maior, Colunista,
07 de março de 2006.
https://goo.gl/Una7Ps
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Referências
FERNANDES, Bernardo Mançano. Formação e territorialização do MST no Brasil:
1979-2005. In: MARAFON, Glaucio; RUA, João; RIBEIRO, Miguel. Abordagens
teórico-metodológicas em Geografia Agrária. Rio de Janeiro: EdUERJ, 2007.
PIRES, Murilo José Souza & RAMOS, Pedro. O termo modernização conservadora:
sua origem e utilização no Brasil. Revista Econômica do Nordeste, v. 40, nº. 3,
jul/set 2009.
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