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RESUMO DE COMUNICAÇÃO

1- Comunicação e Extensão rural? A reflexão a partir de Paulo Freire.

Paulo Freire foi um grande educador Brasileiro com reconhecimento internacional,


hoje suas obras é uma das maiores referências, devido a sua concepção de educação,
buscando a valorização da cultura do aluno, pois acreditava ser a chave para o processo
de conscientização.
No livro escrito por Paulo Freire no ano de 1968, mas precisamente na época em
que o Brasil passava por um grande fluxo das pessoas do meio rural para o urbano, o
autor faz uma análise profunda sobre as relações de troca de conhecimento que existe
entre as pessoas, explorando termos como a extensão e comunicação.
Ele acreditava que a extensão não é o uso de um extensionista para levar a verdade
absoluta para o produtor, sem ouvir ou discutir, esquecendo-se de dar oportunidade dele
mostrar seus conhecimentos empíricos, pois dessa forma o camponês não consegue
assimilar o conteúdo repassado. Assim, Freire considerava que a maneira mais
adequada de extensão é por meio do diálogo onde o extensionista se adequa a realidade
local, respeitando as limitações daquele meio e trocando experiências. Pra isso o
profissional precisa ter saberes que vai muito além dos acadêmicos, é preciso se
questionar, criticar-se, comunicar e escutar, a fim de edificar uma relação harmoniosa
entre técnico e agricultor.
O autor persiste em afirmar que ninguém aprende nada sozinho, ou que edifique um
mundo culturalmente de conhecimentos próprios, é essencial que sujeitos pensantes
conversem e compartilhem, construindo sabedoria, historias e a se mesmo. Portanto,
como a comunicação impõe ao diálogo, é necessário que haja comunicação e não
extensão.
Logo, deduz que o insucesso da extensão no Brasil não está relacionado à falta de
conhecimento científico, mas a incapacidade do diálogo entre os dois grupos.
Dificultando a aceitação do conhecimento cientifico no campo.

2- Comunicação e Extensão rural: Em busca da ressignificação.


A Extensão Rural surgiu nos Estados Unidos, em um período de transformação,
quando a agricultura americana passava da estrutura escravista para a capitalista,
enfrentando uma concorrência com as grandes empresas agrícolas.
Devido a isso, veio à necessidade do produtor adquirir conhecimento para
produzir em alta escala, então a extensão rural mostrou-se como meio de ligação.
Esse modelo foi implantado no Brasil anos depois, porém sem sucesso,
decorrente da falta de planejamento e adaptação a condições distintas. Em
consequência disso um novo modelo foi construído, ou seja, a ressignificação da
extensão rural.
O modelo buscava o desenvolvimento no campo com a modernização, isto é,
inserindo as tecnologias, máquinas, insumos e custos. No entanto, essas tecnologias
trouxeram uma forma de produção que deixava o agricultor dependente, criando
dois extremos, os agricultores que tinham capital para adquirir e os que não tinham,
tirando assim, os pequenos a sua capacidade de produção.
A ciência foi se apropriando da extensão e tornando o mecanismo falho, sem se
preocupar com os níveis sociais e ambientais. Poucos agricultores conseguiram se
adaptar a este novo modelo ou resistir a está mudança, causando o êxodo da
população rural para o meio urbano.
A partir disso veio à urgência por mudanças, surgindo uma nova proposta de
extensão rural, com um objetivo transformador, desde ao perfil do extensionista,
redução da força tecnológica e modernista, a importância do produtor, até a
valorização dos pequenos produtores. As objeções de Paulo Freire desperta nesse
momento uma visão mais aberta, trazendo a importância do pequeno produtor,
homogeneizando o método de produção de permiti-la uma competição justa entre
grandes e pequenos.
Nessa perspectiva, o PNATER (Política Nacional de Assistência Técnica e
Extensão Rural) assume junto ao setor primário, como um apoio na agricultura
familiar, construindo conhecimento e consolidando a agroecologia.
Nos últimos anos o que se pode inferir da atual extensão rural, é que ela tem
buscado se reinventar para atender as necessidades reais dos agricultores, hoje o
extensionista não pode se preocupar apenas com a preparação técnica, ele tem que
acima de tudo ser humanístico, visualizando a realidade do local em que seu
trabalho está inserido e se adequando a este. Dessa forma, espera-se que a extensão
rural seja realmente efetiva, conseguindo ultrapassar e superar velhos traumas.

3- Relação ciência, pesquisa e Extensão Rural: desafios para a emergência de


um novo paradigma.

O modelo de ciência tradicional o agricultor é visto como um ser sem


conhecimento, apenas o meio acadêmico é digno de sabedoria. Esse modelo
apostava no desenvolvimento de novas tecnologias, necessitando do financeiro pra
investir nesse instrumento de poder, excluindo assim, quem não tinha acesso a ela.

Os pequenos agricultores donos de seu próprio conhecimento do campo, não


veem a necessidade de uso de tais tecnologias, já que sua produção é voltada para o
mercado de subsistência. Por outro lado, os agricultores maiores de grande
comercialização e exportação buscam por esses recursos.

Os grandes impactos agrícolas negativos sobre a sociedade e a natureza, abriu


espaço para uma nova perspectiva agroecológica. Com isso, chegaram ao Brasil, no
final da década de 1980, os conceitos e princípios da Agroecologia. Iniciando um
modelo de reconhecimento de saberes locais, racionalidade ecológica e uma
produção camponesa, o APL (modelo do agricultor em primeiro lugar).

Os cientistas passaram a compreender que as famílias agricultoras tinham suas


limitações de acordo com o ambiente ocupado, sendo ajustada a elas. Considerando
individualmente cada unidade. Para isso, é feito uma avaliação de acordo com a
situação que os agricultores se encontram, identificando os problemas e as
necessidades, com isso desenvolver a pesquisa.

O vínculo entre produtor e cientista torna o processo de aceitação mais fácil, no


entanto como os cientistas não são tão preparados para esse modelo ainda há muitas
dificuldades.

4- Políticas Públicas para a Comunicação e Extensão rural: entre o ideal


pensado e o real praticado.
O modelo de extensão praticado no Brasil na década de 1960, sofria forte
influência do modelo norte americano. O objetivo era a inserção de novas
tecnologias na produção visando alta produtividade através de pacotes
tecnológicos (revolução verde).
Nem todos os agricultores conseguiram se adequar a este modelo de
produção, e muitos deles foram buscar novas fontes de renda na zona urbana, os
poucos que resistiram a revolução se viram esmagados pelas grandes empresas
agrícolas. O novo modelo de agricultura praticado, não respeitava e
descaracterizava as produções camponesas, o saber do agricultor rural não
caberia no novo modelo, e era considerado equivocado a luz da ciência, verdade
absoluta na época.
A partir da insatisfação com os rumos da extensão, surgiu uma nova
corrente, que objetivava resgatar o modelo de agricultura participativa, do
extensionista e do agricultor, respeitando o conhecimento empírico do
agricultor, e atendendo de forma eficaz aqueles que não foram contemplados
pela revolução.
No final da década de 70, surgia então uma nova corrente, a agricultura
alternativa. Nesse mesmo contexto, a formação acadêmica do extensionista
passa por uma transformação. Nessa época deu-se início a vários movimentos
sociais, o mais famoso MST, buscava a reforma agraria. Sob forte pressão, o
governo criou o programa de reforma agraria, surgindo, a partir daí os projetos
de assentamentos e, uma nova assistência técnicas destinadas a estes novos
agricultores, projeto Lumiar, com o objetivo de assessorar as famílias
assentadas pelo INCRA.
Posteriormente, o Lumiar foi substituído pela Assistência Técnica e
Extensão Rural – ATER, baseada no princípio de democratização entre
extensionistas e agricultores.
As políticas atuais de assistência rural, sofrem forte influência
governamental, ou seja, a ATER real praticada modifica de acordo com os
interesses do governo vigente. Somente, a partir da pratica da ATER ideal é que
os agricultores familiares e assentados poderão garantir seus interesses. Porém
ainda existe um grande abismo entre a ATER ideal e a ATER praticada. Isso
devido a fatores burocráticos envolvidos na contratação e uma demanda
sobrecarregada.
5- Políticas em interface com a Comunicação e Extensão Rural: o significado
do crédito e as experiências do PRONAF e PNAPO
A busca do povo por seus direitos levou ao surgimento das políticas
públicas, fazendo com que o governo tome conhecimento das reais dificuldades
enfrentadas no campo.
Os movimentos sociais e as associações trabalham pressionando e
tentando encontrar caminhos alternativos para que soluções sejam postas em
práticas com eficiência. Nesse sentindo que as políticas públicas foram
ganhando espaço no meio rural.
Em 1965, foi criado o Sistema Nacional de Crédito Rural (SNCR) que
por sua vez, é um dos grandes responsáveis pela inclusão social de muitos
agricultores, onde antes eram esquecidos pelo sistema financeiro tradicional.
Apresenta com propósito a oferta de taxas de juros subsidiadas aos produtores e
cooperativas ou associações, dando assim, condições de pagamento
diferenciadas e beneficiando as pequenas e médias propriedades. Dessa forma,
estimula o produtor a investir na atividade, favorecendo custeio da produção,
aumentando a produtividade, qualidade de vida e também a comercialização dos
produtos.
Na década de 90, o Brasil passou a fazer parte do Mercosul com o intuito
de promover o livre comércio entre os países da América do Sul. A partir disso,
houve a entrada de inúmeros produtos dos mais diversos setores da economia,
entre eles os agropecuários, que possuíam um baixo preço de mercado quando
comparado ao local, o que interferiu negativamente no consumo dos produtos
nacionais.
Diante disso, houve uma debilitação no meio rural. Então, sindicatos
rurais juntamente com os agricultores foram às ruas em busca dos seus direitos,
exigindo que houvesse uma política pública que os amparassem.
O PRONAF (Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura
Familiar) entra em vigor, com o objetivo de fortalecer a agricultura familiar,
levando ao fortalecimento técnico e financeiro das unidades produtivas, de modo
a promover o desenvolvimento sustentável e gerando emprego, renda e bem
estar social, além de fixar o homem no campo.
Na preocupação de produzir alimentos para uma população que só cresce
e se torna cada vez mais exigente por alimentos saudáveis e livres de
agrotóxicos, surgiu à necessidade de criar uma política pública que fosse capaz
de atender essas exigências, assim foi implantado o plano nacional de
agroecologia e produção orgânica (PNAPO). Que busca manter as pessoas no
meio rural, construindo um ambiente sustentável e mantendo os recursos
naturais.
Portanto, para garantir a funcionalidade do plano nacional foi construída
uma gestão, o grupo gestor interministerial (GGI), com o objetivo de planejar e
monitorar o alcance das metas e o nível de integração alcançado. Apesar do
plano ser bem elaborado e apresentar vários benefícios, ele mostra muitas falhas
de execução, com a gestão e dificuldades financeiras.
6- Políticas em interface com a Comunicação e Extensão Rural: segurança e
soberania alimentar e nutricional.
Na década de 70 o mundo estava afundado em uma crise, nesta época
emergia uma nova forma de cultivar alimentos, adepta de novas tecnologias,
aplicadas desde a forma de plantio até a semente, era uma agricultura voltada
para produção em massa de alimentos. A revolução verde era vista como a
exterminadora da fome naquele momento, e o modelo de agricultura praticada
até então, agricultura de subsistência, foi perdendo espaço.
O que muitos desconheciam ou faziam questão de ignorar, era que a
fome não era causada apenas pela falta de alimentos, mas à outras questões,
como má distribuição do que era produzido. A falta de emprego também era
decorrente, assim não tinha como comprar os alimentos produzidos pelas
grandes indústrias.
Neste período, o Brasil começa a iniciar seu programa de políticas
públicas para exterminar a fome. Nos anos seguintes vários programas foram
surgindo, PRONAN, PROAB, PNAE, etc. O sistema de produção de alimentos
em massa, também foi ganhando espaço no Brasil, causando êxodo rural das
populações rurais, que antes se alimentavam daquilo que produziam.
Na década de 90, o foco da segurança alimentar muda, e agora o conceito
está voltado para questões como: fornecimento de alimento seguro, livre de
contaminação biológica ou química; qualidade do alimento e balanceamento da
dieta.
No entanto, todas essas iniciativas ainda não têm sido suficientes para
amenizar os efeitos desastrosos da revolução verde, ficando evidenciado que o
atual modelo de produção de alimentos, através do abastecimento de gêneros
altamente processados, acomete cada vez mais a população a problemas de
saúde sendo um dos principais a obesidade de adultos e crianças, tornando difícil
pensar em soberania alimentar em um país que sofre transformações contínuas
de produtos agrícolas em commodities.
Diante deste contexto, surge a necessidade de que para uma nação
alcance a soberania alimentar um fator imprescindível é que seu modo de
produção seja sustentável, o que no Brasil pode ser conseguido através da
agricultura familiar de base agroecológica.
7- Construindo Metodologias alternativas: da persuasão à participação dos/as
agricultores como sujeitos.
A partir da década de 1980, o que se observou foi uma busca pela
ressignificação da extensão no Brasil, para sua adequação a realidade brasileira.
Nessa nova perspectiva, buscava-se o trabalho em conjunto do extensionista
junto com os agricultores, para atender da melhor forma suas necessidades, isso
deve ser realizado a partir das metodologias participativas.
Nas metodologias participativas o que se busca é a resolução de
problemas através de um conjunto de ideias que respeite as particularidades
locais. Dois exemplos de trabalho metodologias participativas é o a Articulação
Nacional de Agroecologia (ANA) e a Articulação no Semiárido Brasileiro
(ASA).
A ANA foi criada num momento onde, pequenos produtores se viram
endividados pelas tentativas sem sucesso, em se adequar ao novo modelo de
produção em grande escala. O ANA visa o desenvolvimento rural, baseado em
estratégias para o fortalecimento da agricultura familiar, promoção da
agroecologia, buscando alternativas de se desenvolver de forma sustentável.
A ASA é voltada para uma população especifica, garantindo o acesso
água da população residente no semiárido brasileiro. Além disso, essa frente
busca estratégias para convivência com o semiárido, e leva a bandeira da
sustentabilidade. A ASA possui vários projetos para solucionar problemas
inerente a população da região assistida, entre eles, a construção participativa de
cisternas, para armazenamento de água para utilização no período de seca.
Tanto o ASA como o ANA trazem uma característica nova no modelo de
realizar a extensão rural, o produtor deixa de ser um objeto, e passa a ter
participação efetiva nas decisões, fazendo a aproximação da extensão com a
comunicação. Outro ponto importante na nova forma de ser fazer a extensão é
proporcionar ao produtor a garantia de que suas ideias poderão ser ouvidas e
colocadas em prática, tornando-o cientista, e trazendo de volta o velho modo de
praticar agricultura.

8- Construindo Metodologias alternativas: da persuasão à participação dos/as


agricultores como sujeitos.
A partir do uso de metodologias participativas haverá uma valorização de
potencialidades locais como um resgate a autoestima das pessoas, fortalecendo a
produção familiar e construindo alternativas sustentáveis de desenvolvimento
rural, assumindo como uma importante ferramenta para construção de capital
social e empoderamento de pessoas excluídas das decisões políticas.
O Programa de Assessoria Técnica e Ambiental tem por propósito
realizar estratégias comunicativas voltadas a projetos de mobilização social, que
têm como principal objetivo gerar e manter vínculos entre os públicos e o seu
movimento, construindo assim, uma corresponsabilidade, dependendo ainda de
outros fatores para que a experiência possa se tornar exitosa, tais como, a
capacidade de difundir informações, de promover a coletivização dos sujeitos,
de registrar a memória e de fornecer elementos de identificação com a causa e o
projeto.
O ATES coloca na perspectiva de contribuir para a implantação de um
modelo de desenvolvimento que seja mais sustentável, tanto do ponto de vista
ambiental com do ponto de vista social e econômico. A assessoria fornecida
pelas equipes de ATES para as famílias assentadas deve ser
interdisciplinar/transdisciplinar; contínua e presente junto às famílias; o assessor
precisa ter uma boa capacidade de escuta e de diálogo. O diálogo deve ser a
principal preocupação do extensionista-educador. Permitem a construção
coletiva de conhecimentos acerca da realidade (social, econômica, cultural e
ambiental), além de fortalecer a organização das comunidades na gestão e
controle do processo de desenvolvimento local, otimizando também as ações das
instituições que atuam no meio rural.

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